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Os Lusíadas, Luís de Camões

Os Lusíadas, Luís de Camões


1. Narrativa épica
Os Lusíadas são um poema épico, que imita os modelos da Antiguidade, presentes em grandes
epopeias como a Ilíada e a Odisseia, de Homero, e a Eneida, de Vergílio.
A epopeia é uma narrativa em verso que louva os feitos extraordinários de heróis, reais
ou ficcionais, usando um estilo literário elevado.
Sendo uma narrativa, Os Lusíadas apresentam os seguintes elementos.

Ação A ação central da obra corresponde à viagem de descoberta do caminho


marítimo para a Índia.
Narra-se também a História de Portugal.

Narradores Os Lusíadas têm diferentes narradores:


•o próprio poeta (que é o narrador principal);
•Vasco da Gama (que narra grande parte da História de Portugal e a pri-
meira parte da viagem marítima);
•Paulo da Gama (que narra momentos da História de Portugal);
•narradores pontuais, como Fernão Veloso ou o Monçaide.

Personagens Personagens humanas:


•os marinheiros, presentes em toda a ação central, com destaque para
Vasco da Gama;
•personagens pontuais, que surgem apenas num dado momento ou epi-
sódio.
Personagens mitológicas:
•os deuses da mitologia greco-latina;
•outras figuras mitológicas, como o gigante Adamastor.

Espaço A ação central tem como espaço o oceano e os barcos da viagem, com
e tempo idas pontuais a terra.
O tempo corresponde à duração da viagem (a viagem real decorreu entre
8 de julho de 1497 e 19 de agosto de 1499).
Teremos de considerar também outros espaços e tempos em função
da ação narrada.
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2. Estrutura externa de Os Lusíadas


Canto A obra divide-se em 10 cantos.
Estância Cada uma das 1102 oitavas (estrofes de oito versos) que compõem a obra.
Métrica Todos os versos do poema têm 10 sílabas métricas.
Ex.: “Na/que/le en/ga/no/da al/ma,/le/ do e/ce/[go]”
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Rima Ao longo de todas as estâncias, a rima é cruzada nos seis primeiros versos
e emparelhada nos dois últimos.
Ex.:
Já no largo Oceano navegavam, a
As inquietas ondas apartando;

b Rima cruzada
Os ventos brandamente respiravam, a
Das naus as velas cô ncavas inchando;

b Da branca escuma os mares se mostravam a Rima emparelhada


Cobertos, onde as proas vã o cortando

b As marítimas á guas consagradas, c


Que do gado de Pró teu sã o cortadas, c

3. Estrutura interna de Os Lusíadas


Os Lusíadas dividem-se em quatro partes, seguindo as regras do género épico.

Proposição Apresentação dos assuntos do poema – "o peito ilustre lusitano", ou seja, os heróis portugueses
(Canto I, est. 1 a 3).

Invocação Pedido de inspiração às ninfas do Tejo para a escrita do poema (Canto I, est. 4 e 5).
Dedicatória Dedicação do poema a D. Sebastião (Canto I, est. 6 a 18).
Narração Narração da ação iniciada in medias res, ou seja, a meio da ação, num momento em que as naus
se encontravam já em pleno oceano Índico (podes observar na página 81 uma ilustração representativa da viagem
de Vasco da Gama).

No interior da Narração, encontramos episódios, que correspondem a pequenas narrativas indepen-


dentes, como são exemplo:
•episódio de Inês de Castro (Canto III)
•episódio do Adamastor (Canto V)
4. Planos de Os Lusíadas
•episódio da Tempestade (Canto VI)
A narração de Os Lusíadas organiza-se em quatro planos.

Plano da Viagem Relato da viagem de Vasco da Gama, de Lisboa a Calecute.


Plano Mitológico Narração das ações dos deuses mitológicos. Este plano também é designado
Plano dos Deuses.
Plano da História de Portugal Relato de episódios e de factos da História de Portugal.
Plano das Considerações Reflexões do Poeta sobre vários temas (têm lugar sobretudo em finais de
do Poeta canto).
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Quadro-síntese de Os Lusíadas
1. Proposição
Estrutura externa: Canto I, est. 1-3 Estrutura interna: Proposição

a
1. PARTE Apresentação da matéria do canto: os heróis portugueses
(est. 1-2) O poeta diz que cantará/louvará os heróis portugueses que são:
•os homens de grande valor que
- navegaram para além dos mares conhecidos – “Por mares nunca de antes
navegados” (est. 1);
- venceram perigos e guerras – “Em perigos e guerras esforçados” (est. 1);
– construíram um Reino novo no Oriente – “E entre gente remota edificaram /
Novo Reino” (est. 1).
•os Reis que expandiram o Império e difundiram a Fé cristã
– “foram dilatando / A Fé, o Império” (est. 2), nas terras de homens infiéis
(não crentes) de Ásia e de África.
•aqueles que se imortalizaram pelos seus feitos, ou seja, que se libertaram
da “lei da morte” (est. 2). A lei da morte é o esquecimento a que é votado
quem morre.

a
2. PARTE Afirmação da superioridade de Os Lusíadas face às epopeias da Antiguidade
(est. 3) O poeta afirma a superioridade do seu canto porque:
•o valor dos heróis portugueses que ele canta é superior aos
- dos heróis fantasiosos (Ulisses e Eneias) – “sábio Grego e do Troiano”;
- dos heróis reais, cujos feitos foram suplantados pelos dos portugueses
(Alexandre Magno e o Imperador Trajano).
•o herói português venceu os próprios deuses, “eu canto o peito ilustre
Lusitano, / A quem Neptuno e Marte obedeceram”, destacando-se:
- na guerra (venceu Marte, o deus da guerra);
- no mar (venceu Neptuno, o deus do mar).

Características •herói coletivo: o povo português;


do herói – “peito ilustre Lusitano” (est.
de Os Lusíadas 3);
•homens reais (e não ficcionais);
•superior aos heróis das epopeias da Antiguidade;
•os seus feitos nunca foram praticados por nenhum outro ser humano
– “mares nunca de antes navegados” (est. 1);
– “Passaram ainda além da Taprobana” (est. 1);
– “Mais do que prometia a força humana” (est. 1);
– “outro valor mais alto se alevanta” (est. 3).

RECURSO
EXEMPLO INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVO

Usa-se a parte (a praia) pelo todo (Portugal) de


modo a aludir à praia de onde saíram os portugueses
“ocidental praia
Sinédoque (Belém) para a conquista marítima; serve também
Lusitana” (est. 1)
para fazer referência à própria localização de Portugal
na Europa (o país é uma praia do Atlântico).
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2. Início da viagem | Consílio dos deuses


Estrutura externa: Estrutura interna: Narração
•Início da viagem – Canto I, est. 19
Plano: Viagem e Mitológico
•Consílio dos deuses – Canto I, est. 20-41
Narrador: Poeta

INÍCIO DA VIAGEM Imediatamente após


o início da Viagem,
(est. 19) Início do relato da viagem segue-se o Plano
A narração tem início in medias res: os navegadores encontram-se já no oceano Mitológico. Desta
Índico (no canal de Moçambique). forma, fica bem
claro que os dois
CONSÍLIO DOS DEUSES planos
funcionarão em
a
1. PARTE Convocação do consílio paralelo ao longo da
(est. 20-21) Por intermédio de Mercúrio, mensageiro dos deuses, Júpiter, pai dos deuses,
convoca os deuses, que vêm de todas as partes, com o objetivo de decidir
o futuro dos marinheiros portugueses – “sobre as cousas futuras do Oriente” –,
nomeadamente se serão ajudados a chegar à Índia.
a
2. PARTE Descrição de Júpiter
(est. 22-23) •A reunião realiza-se no Olimpo, morada dos deuses.
•Os deuses sentam-se segundo uma hierarquia, do mais importante para
o menos importante, estando Júpiter acima de todos
– “Precedem os antigos, mais honrados, / Mais abaixo os menores se
assentavam” (est. 22).
•Caracterização de Júpiter:
- superior: destacado pelos adjetivos “soberano” e “alto” (est. 22);
- divino: encontra-se envolto numa áurea divina – “ar divino” (est. 22);
- poderoso:
>poder de lançar trovões, vibrando “os feros raios de Vulcano” (est. 22);
>simbolizado pela coroa, pelo cetro e pelo próprio “assento de estrelas
cristalino” (est. 22).
a
3. PARTE Discurso de Júpiter
A intervenção de Júpiter
(est. 24-29) O discurso de Júpiter tem como objetivo convencer os deuses de que a melhor é apresentada por meio
decisão é a de ajudar os portugueses. Organiza-se em vários momentos. de discurso direto, o
•1.o momento: Júpiter afirma que os Fados (o Destino) já determinaram que que assinala a
importância do que vai
os portugueses chegariam com sucesso à Índia
ser dito.
– “é dos Fados grandes certo intento / Que por ela se esqueçam os humanos /
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos” (est. 24). Argumentos usados
•2.o momento: Júpiter começa por lembrar as glórias passadas dos portugueses, por Júpiter em defesa
que venceram os Mouros e Castelhanos e, recuando a um passado ainda dos portugueses:
mais longínquo, recorda as figuras de Viriato e Sertório, que venceram os 1. A decisão dos
Romanos (est. 25-26). Fados, que é
inalterável, está
•3.o momento: Júpiter refere-se à viagem que os portugueses estão a realizar tomada.
e, realçando a pequenez do homem perante a força dos elementos da Natureza 2.Os portugueses
– “cometendo / O duvidoso mar num lenho leve” –, mostra que o povo são, desde a sua
português vai além da própria fragilidade humana / pois enfrenta as forças origem, um povo
da Natureza e, se necessário, “a mais s’ atreve” (est. 27). de heróis, tradição
que os
•4.o momento: Júpiter apresenta a profecia de que o “Fado eterno”
marinheiros
determinou que os portugueses tivessem o domínio do Oriente continuarão.
– “o governo / Do mar que vê do Sol a roxa entrada” (est. 28). 3.Os portugueses
•5.o momento: Júpiter apresenta a decisão de que os marinheiros possuem as
deverão ser “agasalhados / Nesta costa Africana como amigos”, para, de características de
seguida, concluírem a viagem até à Índia (est. 29). um herói ao
conseguirem vencer
forças sobre-
-humanas.
4. A profecia prova
que os portugueses
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CONSÍLIO DOS DEUSES


a
4. PARTE Reações ao discurso de Júpiter
(est. 30-34) O discurso leva à formação de dois grupos de opinião: aqueles que concordam
com o pai dos deuses e aqueles que discordam da sua decisão.
1. Intervenção de Baco
Baco, deus do vinho e adorado na Índia, afirma-se contra a decisão de Júpiter.
O grande receio de Razões para a posição contrária de Baco:
Baco tem a ver •perderia a importância que tinha nesse local e seria esquecido caso
com o
os portugueses chegassem à Índia;
esquecimento a
que estaria votado. •teme deixar de ser cantado pelos poetas, porque a glória dos portugueses
Se deixasse de ser encobriria a sua.
recordado, adorado e
cantado, desapareceria,
2.Intervenção de Vénus (est. 33-34)
ou seja, “morreria”
(perderia a sua Vénus, deusa do amor, coloca-se do lado de Júpiter, a favor dos portugueses.
condição de deus). Razões para a posição favorável da deusa:
•os portugueses têm qualidades semelhantes às dos Romanos, o povo
de Vénus, em particular no espírito guerreiro;
•a língua que falam é semelhante ao latim, a língua do seu povo;
•os portugueses celebrarão a deusa por onde passarem, pois são um povo
protetor do amor.
a
5. PARTE Consequências das intervenções de Baco e de Vénus
(est. 34-35) As posições de Vénus e de Baco provocam uma grande agitação entre
os deuses, que começam a tomar partido.
a
A descrição que é feita 6. PARTE Descrição de Marte
de Marte aponta para (est. 36-37) Marte, deus da guerra, interrompe a discussão e toma partido por Vénus, por
um deus associado à uma de duas razões – “Ou porque o amor antigo o obrigava, / Ou porque
força, à coragem e à a gente forte o merecia” (est. 36).
determinação, pelo que
se trata de uma figura Marte é caracterizado como:
que impõe respeito. •guerreiro forte e determinado, trazendo consigo um elmo, um “forte
escudo” (est. 36) e um bastão. Surge, pois, “armado e forte” (est. 37);
•zangado, “medonho e irado” (est. 36).
O discurso do deus é antecedido de uma “pancada penetrante” (est. 37), dada
com o seu bastão, que termina bruscamente o tumulto que se vivia no Olimpo.
a
Marte será o segundo 7. PARTE Intervenção de Marte
deus a ter direito ao (est. 38-40) O discurso de Marte, que aborda vários aspetos, dirige-se a Júpiter:
discurso direto neste
•recorda o valor dos portugueses e pede a Júpiter que não tenha em atenção
episódio, o que mostra
que as suas palavras,
os argumentos de Baco;
tal como as de Júpiter, •refere que, se Baco não fosse interesseiro, deveria proteger os portugueses,
vão ser decisivas. uma vez que estes são descendentes de Luso, fundador mitológico da
Lusitânia e suposto companheiro ou filho do próprio Baco; acrescenta
que aquele deus não quer proteger os portugueses, pois tem inveja da
glória
e das conquistas deste povo;
•afirma que Júpiter não pode voltar atrás na decisão já tomada de ajudar
os portugueses, “pois é fraqueza / Desistir-se da cousa começada” (est.
40).
a
8. PARTE Decisão final de Júpiter
(est. 41) Júpiter encerra o consílio dos deuses e mantém a sua decisão de proteger
os portugueses na costa africana.

O episódio termina com a partida dos deuses “Pera os determinados


apousentos”.
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RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Qual Austro fero ou Bóreas na Os sons, em crescendo, evocam todo o ruído e


espessura De silvestre arvoredo agitação produzidos pela discussão que tinha lugar
abastecida, Rompendo os ramos vão no Olimpo.
Aliteração da mata escura Com impeto e braveza
desmedida,
Brama toda montanha, o som murmura,
Rompem-se as folhas, ferve a serra
erguida” (est. 35)
“ceptro rutilante, / De outra pedra mais A comparação evidencia o ambiente divino
clara que diamante” (est. 22) e de grandeza que se associa a Júpiter.
Comparação “Qual Austro fero ou Bóreas na A violência da discussão é comparada à violência
espessura De silvestre arvoredo da Natureza numa tempestade.
abastecida”
(est. 35)
“O Céu tremeu, e Apolo, de torvado, Permite engrandecer o ruído produzido pelo bastão
Hipérbole Um pouco a luz perdeu, como enfiado” de Marte e as consequências desta atitude em quem
(est. 37) o ouviu.
“lenho leve” (est. 27) A expressão aponta para a fragilidade da
Metáfora embarcação num mar forte e poderoso e, por
extensão, para a fragilidade dos próprios marinheiros
que nela navegam.
“Pelo neto gentil do velho Atlante” (est. 20) Expressão utlizada em vez de Mercúrio, que permite
identificá-lo.
“U˜ a gente fortíssima de Espanha” (est. 31) Expressão utilizada para referir os portugueses,
Perífrase
destacando a sua força.
“quem parece que é suspeito” (est. 38) Expressão utilizada para referir Baco, destacando
as razões interesseiras que o movem.
“Tomar ao Mouro forte e guarnecido Mouro e Castelhano são utilizados em lugar do plural
Toda a terra que rega o Tejo ameno. Mouros e Castelhanos.
Sinédoque Pois contra o Castelhano tão temido:
Sempre alcançou favor do Céu sereno”
(est. 25)
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Planisfério português anônimo “Cantino”, 1502 (adaptado).


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3. Inês de Castro
Estrutura externa: Canto III, est. 118-135 Plano: História de Portugal e do Poeta
Estrutura interna: Narração Narrador: Vasco da Gama
Narratário: Rei de Melinde

a
Embora seja narrado 1. PARTE Apresentação da narrativa (introdução)
por Vasco Gama, este (est. 118-119) •Descrição da narrativa que é apresentada como um “caso triste, e dino
episódio tem algumas da memória” (est. 118), expressão que confere ao episódio um tom negativo.
“interferências” do
poeta (Plano do •Apresentação da personagem principal, Inês de Castro, que é introduzida
Poeta), a quem o caso com notas negativas: ela é a “mísera e mesquinha” (est. 118) e aquela que
de Inês de Castro “despois de ser morta foi Rainha” (est. 118).
sensibiliza •Invocação do Amor como uma entidade superior, que retira as suas forças
particularmente. do sofrimento dos Homens e que é capaz de os levar à fatalidade; o Amor,
O poeta toma a palavra
enquanto força independente do ser humano, é apresentado como
para:
• criticar a situação e
o responsável poético pela morte de Inês de Castro (est. 119).
os algozes; a
2. PARTE Vida de Inês de Castro
• defender a
(est. 120-121) Descrição da vida de Inês como feliz e equilibrada e apenas manchada pelas
personagem feminina,
que é apresentada saudades de Pedro, as quais, durante o dia, a traziam pensativa, e, durante
como inocente. a noite, a faziam sonhar.
Associado aos sonhos surge, de novo, um apontamento negativo quando se
dá a entender que o Destino não permite que a felicidade dure – “a Fortuna
não deixa durar muito” (est. 120).
a
3. PARTE Justificação para a morte Inês de Castro
(est. 122-123) •D. Pedro não queria casar com outra mulher
– “De outras belas senhoras e Princesas / os desejados tálamos enjeita”
(est. 122).
•Preocupado com esta atitude do filho, D. Afonso IV decide mandar
matar Inês, com a firme convicção de que assim terminaria o amor que
dominava
D. Pedro
– “Tirar Inês ao mundo determina, / Por lhe tirar o filho que tem preso, /
Crendo co sangue só da morte indina / Matar do firme amor o fogo aceso.”
(est. 123).
a
4. PARTE Inês perante o Rei
(est. 124-125) •Os algozes trazem Inês à presença do Rei, que sentindo piedade
dela, pondera alterar a sua decisão. Porém, é impedido pela pressão
exercida pelo povo.
•Inês é caracterizada de forma negativa como uma mulher triste
Argumentação de Inês. e atormentada pelo destino dos filhos que ficarão órfãos.
a
o
1. argumento – 5. PARTE O discurso de Inês
mostra ao Rei que a (est. 126-129) Inês dirige ao Rei um discurso que tem como fim persuadir o “avô cruel”
decisão de a
(est. 125) a não a matar. Este discurso divide-se em quatro momentos:
mandar matar
é desumana. •1.o momento: Inês começa por recordar ao Rei que ele é humano e
o
2. argumento – que os sentimentos são próprios dos seres humanos. Por isso, pede-lhe
apela ao espírito de que aja como tal e que tenha piedade dos seus filhos, salvando-a. Para
justiça do Rei. reforçar a sua argumentação, Inês recorda casos em que os animais
o
3. argumento – selvagens tiveram
apresenta alternativas piedade de crianças: a loba que salvou Rómulo e Remo, fundadores de
à sua execução. Roma, e as aves que alimentaram Semíramis.
o
4. argumento – •2.o momento: Inês caracteriza o Rei como justo por saber dar aos
invoca o amor Mouros a morte merecida, justiça que ele deveria exercer de novo,
maternal e conjugal percebendo que ela não merecia a morte por não ter cometido erros.
e a situação de
orfandade dos •3o momento: Inês apresenta alternativas à sua morte: o desterro num
território gélido ou tórrido ou mesmo entre animais selvagens.
•4.o momento: Inês invoca o amor de mãe e de mulher e a orfandade
futura dos seus filhos.
Os Lusíadas, Luís de Camões

INÊS DE CASTRO
a
6. PARTE Reação do Rei
(est. 130) Após ouvir Inês, o Rei queria perdoar-lhe, mas os algozes, “peitos
carniceiros”, e o “pertinaz povo” não deixam que o monarca altere a decisão
tomada.
a
7. PARTE Morte de Inês
(est. 131-132) Apresenta-se uma comparação entre duas figuras que tiveram uma
morte injusta: Policena, morta por Pirro, e Inês, assassinada pelos “brutos
matadores”.
a
8. PARTE Intervenção do Poeta (conclusão)
(est. 133-135) O poeta mostra-se revoltado com a morte de Inês.
•Invoca o Sol (est. 133), que, segundo ele, não deveria ter brilhado naquele
dia trágico, considerando a execução de Inês tão trágica como a história
de Tiestes, que comeu os próprios filhos sem o saber.
•Invoca os “côncavos vales” (est. 133), que prolongaram o eco dos
gritos de Inês.
•Compara a morte de Inês ao desfalecimento de uma flor “cortada / antes
do tempo” (est. 134).
•Refere a Natureza, que chora a morte da sua confidente.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“linda Inês”, “doce fruto”, “saüdosos A expressividade da adjetivação enriquece


Adjetivação campos”, “fermosos olhos” (est. 120) a descrição de Inês de Castro e da vida que
ela levava enquanto era feliz com D.
Pedro.
“puro Amor” e “fero Amor” (est. 119) O amor é caracterizado de forma contrastiva:
é “puro” e atrai os homens, mas também é “feroz”
e “cruel”, capaz de provocar sofrimento nos
corações humanos.

“engano da alma, ledo e cego” (est. 120) A antítese introduz uma nota trágica na felicidade
de Inês, pois tratava-se de um “engano de alma”,
que lhe trazia felicidade, mas impedia-a de ver
Antítese a verdade.

“doces sonhos que mentiam” (est. 121) A antítese destaca a oposição entre a felicidade
e a tragédia eminente, apontando para uma ilusão
pouco duradoura.

“furor Mauro […] / fraca dama delicada” A antítese apresenta um contraste entre a
(est. 123) violência usada contra os Mouros, ferozes, e contra
Inês, delicada e frágil; esta oposição marca a
injustiça da decisão tomada pelo Rei.

“Qual contra a linda moça Policena […] / Compara-se a fragilidade de Inês à de Policena face
Tais contra Inês” (est. 131-132) à brutalidade dos seus assassinos.
Comparação “Assi como a bonina […] / Tal está, morta, A comparação mostra que Inês, tal como uma flor,
a pálida donzela” perde a cor e o perfume por ter sido cortada/morta
antes de tempo.
“Tirar Inês ao mundo determina” (est. 123) Expressão que apresenta de forma mais suave
Eufemismo a decisão do Rei de mandar matar Inês de Castro.

“puro Amor […] deste causa à molesta A personificação do amor permite apresentá-lo
Personificação morte sua” (est. 119) como uma força superior ao ser humano e como
responsável (poético) pela morte de Inês de Castro.
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4. Praia das lágrimas


Estrutura externa: Canto IV, est. 84-93 Plano: Viagem
Estrutura interna: Narração Narrador: Vasco da Gama
Narratário: Rei de Melinde

a
Identificação do papel 1. PARTE Os preparativos da viagem
de Vasco da Gama (est. 84-87) •Localização da ação em Belém, Lisboa – “no porto da ínclita Ulisseia” (est. 84).
como narrador através
da utilização do •Caracterização dos marinheiros: corajosos e determinados
pronome pessoal me – “não refreia / Temor nenhum o juvenil despejo, / Porque a gente
“pera marítima e a de Marte / Estão pera seguir-me a toda parte” (est. 84);
seguir-me” (est. 84) e – “E não menos de esforço aparelhados / Pera buscar do inundo novas
do recurso à partes” (est. 85).
primeira pessoa do
•Cerimónia religiosa, que prepara a “alma pera a morte” (est. 86),
singular “Certifico-
te” (est. 87).
ouvindo missa, comungando e pedindo a Deus proteção
– “Implorámos favor que nos guiasse, / E que nossos começos aspirasse”
O interlocutor de Vasco
(est. 86).
da Gama, o Rei de
Melinde, é assinalado •Entrada nas embarcações.
pelo recurso ao •Confissão de dúvida de Gama
pronome pessoal te e – “se contemplo / Como fui destas praias apartado, / Cheio dentro de
A confissão final dúvida e receio, / Que apenas nos meus olhos ponho o freio” (est.
de Gama 87).
contribui para a
2. PARTE A despedida
engrandecer
(est. 88-92) A descrição da despedida tem vários momentos:
os portugueses que,
para além dos feitos •Plano geral (est. 88-89)
grandiosos, venceram
- Descrição da multidão, “A gente da cidade” (est. 88), que assiste na praia
também o próprio
medo que os
à partida dos nautas. São amigos ou familiares de quem parte mas
também meros curiosos que foram “por ver somente” (est. 88). Todos
partilham sentimentos de tristeza e de saudade, marcados pelo forte
receio da morte.
- Descrição das mulheres que sofrem com um “choro piadoso” (est. 89) e dos
homens que suspiram.
- Descrição das mulheres, “Mães, Esposas, Irmãs” (est. 89), ligadas por laços
familiares estreitos aos nautas e unidas pelos sentimentos de
tristeza
A mãe e a esposa são e de medo de não os tornar a ver.
duas figuras coletivas •Plano de pormenor: a mãe (est. 90)
que representam todas
as esposas e mães que A mãe diz-se incapaz de compreender a atitude do filho, que era o seu único
ficam na praia a ver “emparo”. Deixa uma questão final que sublinha a injustiça do abandono
os seus entes queridos – “Porque de mi te vás, ó filho caro, / A fazer o funéreo enterramento /
partir. Onde sejas de pexes mantimento?”.
•Plano de pormenor: a esposa (est. 91)
Também exprimindo a sua mágoa, a esposa censura o marido por ir
para o mar aventurar uma vida que devia ser vivida a dois, destruindo um
amor que faria deles um só ser.
•Plano geral (est. 92)
Descreve-se a multidão com os sentimentos de “amor e de piadosa
humanidade”, destacando-se agora os velhos e os meninos que também
ficam na praia. Estes sentimentos contagiam a Natureza envolvente, que,
personificada, entra em sintonia com o sofrimento que domina a multidão
– “Os montes de mais perto respondiam, / Quási movidos de alta piedade”,
e a “branca areia” chora com quem fica na praia.
a
3. PARTE A partida
(est. 93) Vasco da Gama decide que a partida se fará “Sem o despedimento
costumado”, como forma de impedir que os marinheiros sofram ou alterem
a sua decisão
– “Por nos não magoarmos, ou mudarmos / Do propósito firme começado”.
Os Lusíadas, Luís de Camões

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RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Que nas praias do mar está assentado, O narrador refere-se a Belém, que se associa à
Que o nome tem da terra, pera exemplo, terra de nascimento de Jesus, para evocar também
Perífrase
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.” a proteção divina concedida aos portugueses.
(est. 87)

“As mulheres cum choro piadoso, Através da hipérbole, é assinalada a força dos
Hipérbole Os homens com suspiros que sentimentos e a dor extrema que ali se vivem.
arrancavam.”
(est. 89)
“Nosso amor, nosso vão contentamento, A repetição do som /v/ recorda o som do vento
Aliteração Quereis que com as velas leve o vento?” que levará os barcos para longe das mulheres.
(est. 91)

“Os montes de mais perto respondiam, A atribuição de características humanas à Natureza


Personificação Quási movidos de alta piedade” permite ampliar a força dos sentimentos
(est. 92) de tristeza que dominavam a multidão.

5. Adamastor
Estrutura externa: Canto V, est. 37-60 Planos: Viagem e Mitológico
Estrutura interna: Narração Narrador: Vasco da Gama
Narratário: Rei de Melinde

a
1. PARTE Preparação do aparecimento do gigante A figura do gigante
(est. 37-38) •Aparecimento de uma nuvem “que os ares escurece”, entendida como sinal constitui uma
de algo ameaçador que se aproxima. personificação dos
perigos e castigos do
•Agitação do mar. mar. Condensa em si
•Caracterização dos marinheiros que estão dominados por um sentimento os medos do
de terror desconhecido que
– “pôs nos corações um grande medo” (est. 38). dominavam os homens
da época.
a
2. PARTE O gigante A descrição do gigante
(est. 39-40) •Descrição física do gigante: é desenvolvida com
- tamanho espantoso (é comparado ao Colosso de Rodes, estátua base nas sensações
visuais e auditivas
gigantesca de Apolo, considerada uma das sete maravilhas do Mundo
e culmina no efeito
Antigo); de terror que
- rosto com barba desgrenhada, olhos encovados, cabelos crespos e cheios provoca nos
de terra, boca negra, dentes amarelos e o tom de voz “horrendo e marinheiros.
grosso”.
•Descrição psicológica do gigante:
- ira do Adamastor, justificada pela ousadia dos portugueses que navegam
os mares que lhe pertencem.
a
3. PARTE Primeiro discurso do Adamastor
(est. 41-48) Este primeiro discurso do Adamastor divide-se em dois momentos.
•1.o momento: elogio da coragem dos portugueses como “gente ousada” (est.
41) e referência a um povo de grandes feitos, incansável, disposto a Este segundo momento
quebrar os limites, “pois os vedados términos quebrantas” (est. 41); constitui uma das
profecias de Os
•2.o momento: anúncio dos castigos a sofrer pela ousadia de navegar Lusíadas. A morte
os mares do gigante. trágica da família
- Castigos em geral: a morte dos tripulantes de “quantas naus fizerem esta Sepúlveda
viagem” (est. 43). é o episódio a que o
- Castigos em particular: morte de Bartolomeu Dias, que dobrou pela Adamastor presta maior
primeira vez o Cabo, de D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da atenção porque se trata
Índia, e de Manuel de Sousa Sepúlveda e sua família. de um amor infeliz e
trágico, tal como seu.
Educação Literária
12

ADAMASTOR
a
A interpelação de 4. PARTE Interpelação de Vasco da Gama
Gama afeta (est. 49-59) •Interrupção do discurso do gigante por Vasco da Gama que lhe pergunta
profundamente “Quem és tu?” (est.49).
o Adamastor, pois
vai obrigá-lo a Segundo discurso do Adamastor no qual se apresenta a sua história
falar de si próprio. •Apaixonou-se por Tétis num dia em que a viu sair nua da praia.
Daí a
•Abandonou a luta em que estava envolvido em conjunto com os irmãos.
inesperada mudança
que se produz nele: de •Por ser feio, decidiu conquistar Tétis à força
um tom de voz – “Pola grandeza feia de meu gesto / Determinei por armas de tomá-la” (est.
ameaçador passa para 53).
•A ninfa marcou um encontro com o Adamastor.
•No local, perdido de amor, julgando encontrar-se frente a Tétis,
beijou um penedo.
“Já que minha
presença não te
•Sentindo-se enganado, pois a ninfa não aparecera, deixou-se dominar
agrada, / Que te pela desilusão e pela dor e transformou-se num penedo, que deu origem ao
custava ter-me neste Cabo que ele é hoje.
engano, / Ou fosse •O seu sofrimento perdura, uma vez que continua rodeado por Tétis
monte, nuvem, sonho, – “por mais dobradas mágoas, / Me anda Tétis cercando destas águas” (est. 59).
ou nada?” (est. 57): a
momento de maior 5. PARTE Desaparecimento do gigante
intensidade do (est. 60) •Terminada a história, o gigante desaparece, soltando um profundo grito
sofrimento do gigante de sofrimento
Adamastor, que se – “cum medonho choro, / Súbito d’ ante os olhos se apartou; / Desfez-se
dirige à ninfa. A a nuvem negra, e cum sonoro / Bramido muito longe o mar soou”.
gradação final,
“monte, nuvem, sonho, •Vasco da Gama agradece a Deus e pede-lhe que retire os castigos que
ou nada”, é Adamastor tinha profetizado.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Bramindo, o negro mar de longe brada” A repetição expressiva do som /r/ evoca os sons
Aliteração
(est. 38) do mar agitado.
“Tão grande era de membros que bem posso A comparação do Adamastor à estátua de Rodes
Certificar-te que este era o segundo destaca a sua estatura desmesurada/grandiosa.
Comparação
De Rodes estranhíssimo Colosso”
(est. 40)

“Nunca arados d’ estranho ou próprio lenho” A metáfora sugere a fragilidade de um barco


(est. 41) no mar face à força dos elementos da Natureza.
A palavra “arados” é também uma metáfora
extraída do contexto agrícola, que permite
Metáfora associar a navegação dos barcos no mar
ao sulcar da terra por alfaias agrícolas.
“as almas soltarão / Da fermosa e misérrima A metáfora associa o corpo a uma prisão
prisão” (est. 48) da alma, pelo que a morte corresponderá
à libertação da alma.
Os Lusíadas, Luís de Camões

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6. Tempestade e Chegada à Índia


Estrutura externa: Estrutura interna: Narração
•Tempestade – Canto VI, est. 70-91
Planos: Viagem e Mitológico
•Chegada à Índia – Canto IV, est. 92-94
Narrador: Poeta

TEMPESTADE
a
1. PARTE A tempestade A repetição dos verbos
(est. 70-79) •Anúncio da tempestade por uma “nuvem negra que aparece” (est. 70). “Amaina” (est. 71) e
“Alija” (est. 72) expressa
•Agitação, confusão e desorientação a bordo.
a desorientação e o
Descrição da violência da tempestade nervosismo dos nautas.
•Movimentos violentos das naus no mar revolto O realismo descritivo
– “Agora sobre as nuvens os subiam / As ondas de Neptuno furibundo; / está associado às
sensações visuais e
Agora a ver parece que deciam / As íntimas entranhas do Profundo” (est.
auditivas, que evocam
76).
os barulhos do mar
•Referência hiperbólica à tempestade e do vento.
– “Nunca tão vivos raios fabricou / Contra a fera soberba dos Gigantes / A expressividade dos
O grão ferreiro sórdido” (est. 78). adjetivos ajuda a criar
e a descrever todo o
•Influência da tempestade nos animais marinhos, que, tristes e aterrorizados, ambiente de agitação –
fogem “grande e súbita
– “As Alciónias aves triste canto / Junto da costa brava levantaram,/ procela” (est. 71),
Lembrando-se do seu passado pranto, / Que as furiosas águas lhe causaram. “ventos indinados”
/ Os delfins namorados, entretanto, / Lá nas covas marítimas entraram, / (est. 71), “súbito temor
Fugindo à tempestade e ventos duros, / Que nem no fundo os deixa estar e desacordo” (est.
seguros.” (est. 77). 72), “gritos vãos”
(est. 75), “Neptuno
•Consequências destruidoras na Natureza envolvente furibundo” (est. 76).
– “Quantos montes, então, que derribaram / As ondas que batiam denodadas!
/ Quantas árvores velhas arrancaram / Do vento bravo as fúrias
indinadas!” (est. 79).
a
2. PARTE Súplica de Vasco da Gama O objetivo do discurso
(est. 80-83) Vasco da Gama dirige uma prece a Deus (“Divina guarda”). O seu discurso de Gama é persuadir
organiza-se em vários argumentos. Deus a ajudar os
portugueses que se
•1.o momento: Vasco da Gama recorda o poder imenso de Deus, que,
encontram em grandes
em momentos passados, já libertara outros homens de grandes dificuldades.
dificuldades e perigos.
•2.o momento: Gama diz a Deus que abandonou os portugueses que vão em
missão religiosa, ao Seu serviço
– “Mas antes teu serviço só pretende?” (est. 82).
•3.o momento: Vasco da Gama louva aqueles que tiveram a sorte de
morrer lutando pela fé cristã
– “Oh ditosos aqueles que puderam / Entre as agudas lanças Africanas /
Morrer, enquanto fortes sustiveram / A santa Fé nas terras Mauritanas”
(est. 83).
a
3. PARTE Crescendo da tempestade
(est. 84) Aumento da violência da tempestade: os ventos gritavam como “touros
indómitos” (est. 84) e os “Relâmpagos medonhos” (est. 84) não paravam.
a
4. PARTE Intervenção de Vénus
(est. 85-91) •Aparecimento de Vénus, que acusa Baco de ser responsável pela tempestade.
•Decisão de reunir as “ninfas amorosas” (est. 86), que, com o intuito de
dominarem os ventos, se embelezam e lhes dirigem palavras certeiras:
- a ninfa Oritia dirige-se ao vento Bóreas e diz-lhe que não poderá voltar
a amá-lo se este mantiver a ferocidade, pois o amor não é compatível com
o medo;
- Galateia utiliza os mesmos argumentos junto do vento Noto.
•Os ventos deixam-se seduzir pelas ninfas e a tempestade acalma.
•Vénus afirma que os protegerá, pois estes foram devotos do amor, por ela
defendido.
Educação Literária
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CHEGADA À ÍNDIA

(est. 92-94) Na manhã seguinte, já num ambiente calmo, os marinheiros avistam Calecute.
Gama agradece a Deus por ter livrado os portugueses dos perigos da
tempestade.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Os ventos eram tais que não puderam A hipérbole evidencia a violência dos ventos, dos
Mostrar mais força d’ ímpeto cruel, trovões, em particular, e da tempestade, em geral.
Se pera derribar então vieram
A fortíssima Torre de
Babel.” (est. 74)

“Nunca tão vivos raios fabricou


Hipérbole Contra a fera soberba dos Gigantes
O grão ferreiro sórdido que
obrou” (est. 78)

“Feros trovões, que vêm representando


Cair o Céu dos eixos sobre a Terra,
Consigo os Elementos terem
guerra” (est. 84)
“Agora sobre as nuvens os A anáfora “Agora / Agora” destaca a oscilação
subiam As ondas de Neptuno violenta a que eram submetidas as naus, ora
Anáfora furibundo; Agora a ver parece elevadas até às “nuvens” ora descendo ao
que deciam “Profundo”.
As íntimas entranhas do Profundo.”
(est. 76)
“Noto, Austro, Bóreas, Áquilo” A enumeração permite engrandecer a noção de
Enumeração (est. 76) fúria violenta da tempestade, para onde acorrem
todos os grandes ventos.
A noite negra e feia se alumia A antítese realça a oposição entre o negrume
Cos raios, em que o Pólo todo ardia” da noite e o brilho intenso dos raios que rasgavam
Antítese
(est. 76) o céu e que tinham a capacidade de iluminar
o escuro, mostrando a violência da tempestade.
“os ventos, que lutavam / Como touros Compara a força dos ventos à de touros indomados
Comparação
indómitos” (est. 84) para realçar a força com que sopravam.
Os Lusíadas, Luís de Camões

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7. Preparação da Ilha dos Amores


Estrutura externa: Canto IX, est. 18-29 Plano: Mitológico
Estrutura interna: Narração Narrador: Poeta

a
1. PARTE A decisão de Vénus
(est. 18-20) Decisão de Vénus de premiar os portugueses pelas vitórias alcançadas e pelo
sofrimento que padeceram.
a
2. PARTE O prémio
(est. 21-22) •Decisão de preparar uma ilha divina que será colocada na rota de regresso
dos marinheiros.
•Na ilha, encontrar-se-ão “aquáticas donzelas” (est. 22), escolhidas entre
as mais belas e as mais devotas do amor, que aguardarão pelos
marinheiros e recebê-los-ão com cânticos e danças, para despertarem
neles “secretas afeições” (est. 22).
a
3. PARTE A ajuda de Cupido (deus do Amor, filho de Vénus)
(est. 23-24) •Decisão de pedir ajuda a Cupido, seu filho, que já a ajudara noutra
situação similar: tinha levado a que Dido se apaixonasse por Eneias.
•Viagem ao encontro de Cupido num carro puxado por cisnes e rodeado
de pombas que se beijam.
a
4. PARTE A missão de Cupido
(est. 25-29) Cupido encontrava-se em Idália, cidade da ilha de Chipre, famosa pelo culto
de Vénus, com o objetivo de reunir um exército de cupidos para fazer uma
expedição com o fim de emendar os erros dos humanos, que se preocupam
mais com os bens materiais do que com os sentimentos, ou seja, não sabem
amar.
Estes exemplos vêm
São apresentados exemplos de situações em que os homens amam mal: justificar a expedição
- o caçador Actéon, que não soube amar a “bela forma humana” (est. que Cupido está a
26), é apresentado como metáfora daqueles que não sabem amar; organizar, pois, entre
- os homens que se amam a si próprios (est. 27); os Homens, “ninguém
- os aduladores, ou seja, aqueles que elogiam o outro com um interesse em ama o que deve” (est.
mente (est. 27); 29), o que leva Cupido a
- aqueles que amam as riquezas, o que os leva a deixar de lado a juntar os “seus
ministros” para ajudar
“justiça e integridade” (est. 28);
a “mal regida gente”
- os tiranos (est. 28); (est. 29) a
- as leis feitas a favor do Rei e contra o povo (est. 28). aprender a amar.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Dar-lhe nos mares tristes, alegria” (est. 18) Destaca o contraste entre a dureza e o sofrimento
da vida do mar e o prémio que Vénus
pretende dar aos marinheiros, como
Antítese recompensa pelas dificuldades passadas.
“Os Deuses faz decer ao vil Alusão ao poder de Cupido, aliado à força do amor,
terreno E os humanos subir ao que é capaz de vencer todas as barreiras.
Céu sereno” (est. 20)
“No carro ajunta as aves que na vida A descrição aponta para o facto de os cisnes
Vão da morte as exéquias celebrando” cantarem mais suavemente quando estão
Perífrase
(est. 24) próximos da morte.
(As “aves” referem-se aos cisnes”).
Educação Literária
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8. Aventura de Leonardo
Estrutura externa: Canto IX, est. 75-84 Plano: Mitológico
Estrutura interna: Narração Narrador: Poeta

a
1. PARTE Caracterização de Leonardo
(est. 75-76) “bem disposto / manhoso, cavaleiro e namorado” (est.
75). Sem sorte no amor.
a
2. PARTE Discurso de Leonardo para convencer Efire
(v. 6 da Enquanto persegue Efire, Leonardo usa os seguintes argumentos:
est. 76 – - ainda que ela esperasse, a má sorte de Leonardo faria com que ele
est. 81) não a alcançasse;
- ele gostaria de saber que estratégia usaria a sorte para que ele não
conseguisse apanhar a ninfa (caso ela pare);
- se ela abrandasse, já estaria a alterar a má sorte de Leonardo;
- ela estava a colocar-se do lado da má sorte do marinheiro, quando
se deveria colocar do lado do mais fraco;
- ela levava, com ela, a alma de Leonardo, que até ao momento tinha
sido livre;
- ele continuava a persegui-la apenas porque tinha esperança de que ela
mudasse o destino dele, apaixonando-se.
a
3. PARTE Descrição de Efire
(est. 82) A ninfa já não corria para fugir de Leonardo, mas apenas para ouvir as suas
belas palavras. Por fim, parou e entregou-se ao marinheiro.
a
4. PARTE A união amorosa
(est. 83) O narrador descreve o enlace amoroso e termina afirmando “Milhor é
exprimentá-lo que julgá-lo; / Mas julgue-o quem não pode exprimentá-
lo.” (est. 83)
a
5. PARTE O casamento
(est. 84) Os marinheiros são coroados como heróis, recebendo louro e ouro. Por fim,
celebra-se uma cerimónia de casamento com as ninfas.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Oh, que famintos beijos na floresta, As exclamações reforçam a emoção associada


E que mimoso choro que soava! à relação entre a ninfa e Leonardo, união que
Frases
Que afagos tão suaves! Que ira honesta, representa o clima amoroso vivido em
exclamativas
Que em risinhos alegres se tornava!” toda
(est. 83) a ilha.
“Oh, não na creias, porque eu, quando a cria, As interjeições marcam o sentimento forte
Mil vezes cada hora me mentia.” de Leonardo, que expressa, com
Interjeições (est. 77) convicção, o desejo de conseguir parar a
ninfa.
“Oh! Não me fujas!” (est. 79)
Os Lusíadas, Luís de Camões

17

9. Reflexões finais do Poeta


Estrutura externa: Canto X, est. 145-146, 154-156 Plano: Considerações do Poeta

Est. 145 •O poeta afirma que não precisará mais da inspiração das ninfas porque
não consegue continuar o seu canto: a lira está “destemperada” e a
“voz enrouquecida”.
•Diz que o cansaço deve-se não à dureza da elaboração de um poema
épico mas à consciência de que está a cantar para uma “gente surda e
endurecida.
•Afirma que a sua pátria “está metida / No gosto da cobiça e na rudeza
/ Du˜a austera, apagada e vil tristeza”.
•Os portugueses contemporâneos de Camões, que vivem dominados pela
cobiça e pela tristeza, são diferentes, negativamente, dos heróis que
o poeta louvou ao longo do poema.
Est. 146 •O poeta não compreende a falta de alegria, de vontade de trabalhar e
de enfrentar os novos desafios que caracteriza os homens do seu tempo.
•Dirige-se a D. Sebastião, apelando a que este se rodeie de “vassalos
excelentes”, ou seja, de portugueses que ainda sejam capazes de grandes
sacrifícios e que não estejam dominados pela tristeza, pela preguiça ou pela
cobiça.
Est. 154 •Dirigindo-se a D. Sebastião, o poeta autocaracteriza-se de forma humilde,
mostrando a sua pouca importância.
•O poeta oferece os seus serviços ao rei, destacando o seu valor: o honesto
estudo, a experiência e o engenho.
•Declara-se pronto para servir D. Sebastião tanto na guerra como enquanto
poeta. Se D. Sebastião o aceitar, o poeta cantará de forma gloriosa
todas as grandes vitórias que terão lugar, num nova epopeia.

RECURSOS
EXEMPLO(S) INTENCIONALIDADE
EXPRESSIVOS

“Pera servir-vos, braço às armas feito, A anáfora permite elencar as características


Anáfora Pera cantar-vos, mente às Musas dada” pessoais que o poeta coloca ao serviço do rei
(est. 155) D. Sebastião.
“Lira tenho / Destemperada e a voz O poeta pretende referir a produção poética,
Metáfora enrouquecida” (est. 145) feita de voz e musicalidade, associando a
lira, instrumento musical, à voz que
canta.
“Nô mais, Musa, nô mais” (est. 145) O poeta repete que não necessita da musa, o que
Repetição
expressa o seu desânimo.
Educação Literária
18

Exemplo OS LUSÍADAS

Lê a estância 2 do Canto I de Os Lusíadas.

E também as memó rias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De Á frica e de Á sia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vã o da lei da morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Luís de Camões, Os Lusíadas, ed. de A. J. da Costa Pimpão,
4a. ed., Lisboa, IC/MNE, 2000, p. 1.

Escreve um texto breve em que:


– indiques o momento da estrutura interna em que se integra a estância;
– assinales o que o poeta se propõe cantar;
– relaciones a matéria que o poeta afirma que cantará com o plano em que se integrará.

Para responderes adequadamente ao que te é solicitado, respeita os seguintes passos:


1. Sublinha a(s) palavra(s)-chave em cada tópico.
2.Sublinha no excerto os momentos que esclarecem os tópicos solicitados.
3.Toma notas à margem do texto que funcionem como tópicos de resposta. Observa o exemplo:

E também as memó rias gloriosas O poeta propõe-se cantar:


Daqueles Reis que foram dilatando •os reis na sua ação de difundir a fé e
A Fé, o Império, e as terras viciosas o território;
De Á frica e de Á sia andaram •os que por ação dos seus feitos
devastando, E aqueles que por obras gloriosos ficarem na memória dos
valerosas Homens.
Se vã o da lei da morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte, Proposição: apresentação da matéria do poema.
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Plano da História de Portugal.

4. Redige a resposta respeitando os tópicos solicitados e seguindo a sua ordem de apresentação.


Observa o exemplo.
A estâ ncia apresentada pertence à Proposiçã o, momento em que o poeta apresenta a
matéria que se propõ e cantar. Nesta estâ ncia em particular, o poeta afirma que louvará nã o
só a açã o dos reis que difundiram a fé cristã e aumentaram o territó rio do império como
também aqueles que por terem realizado obras gloriosas ficaram na memó ria dos Homens,
libertando-se da lei da morte.
A referência à açã o dos reis aponta para o Plano da Histó ria de Portugal. Com efeito,
Vasco da Gama narrará e louvará as campanhas de alguns reis da nossa Histó ria.

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