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PROPOSIÇÃO- I (1-3)

• A Proposição funciona como uma


apresentação geral da obra, uma
síntese daquilo que o Poeta se propõe
fazer.

• Propor significa apresentar, expor,


anunciar, mostrar
1 Homens cheios de coragem,
As armas e os barões assinalados, ilustres, navegadores que
descobriram e conquistaram
novas terras. barões=varões
Que da ocidental praia Lusitana, PORTUGAL (ponto
de partida)

Por mares nunca de antes navegados, viajaram por mares


até aí desconhecidos
Antigo nome do Sri Lanka, no
oceano Índico; metaforicamente,
Passaram ainda além da Taprobana, representa o limite do mundo
conhecido até então. (ponto de
chegada)
Em perigos e guerras esforçados, Enfrentaram inúmeros perigos e
travaram duras guerras.

Mais do que prometia a força humana, Herói cujos feitos


grandiosos o eleva ao
estatuto de divindade

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram; Construção do Império português


2 Aumentaram o território
E também as memórias gloriosas português e espalharam a fé
cristã pela África e Ásia.
Daqueles Reis, que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas


De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles, que por obras valerosas Por terem realizado


Se vão da lei da morte libertando; grandes obras se tornam
imortais, ou seja,
conhecidos para sempre.

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte


Na “Proposição”, o poeta pretende cantar (exaltar,
enaltecer, celebrar):

“As armas e os barões assinalados”


Homens cheios de coragem (homens ilustres, guerreiros, marinheiros)
que descobriram, “por mares nunca dantes navegados”, novas terras,
indo mais longe do que aquilo que alguém podia esperar de seres não
divinos (“Mais do que prometia a força humana”);

“… Reis que foram dilatando”


Os reis que contribuíram para que a fé cristã se espalhasse por terras
“infiéis” que foram sendo descobertas, alargando assim o Império
Português;

“E aqueles que por obras valerosas”


Todos os que são dignos de serem recordados pelos feitos heróicos
cometidos em favor da pátria e que, por isso, nem mesmo a morte os
pode votar ao esquecimento (“Se vão da lei da Morte libertando”), pois
tornaram-se heróis imortalizados.
O Poeta vai cantar “o peito ilustre lusitano”

• Os guerreiros, os homens
ilustres e os navegadores
que foram mais além.

• Os Reis que espalharam


a Fé cristã e o Império.

• Os heróis que já morreram,


mas merecem ser relembrados,
ou seja, serão conhecidos para
sempre, tornando-se, assim,
imortais.
Os feitos dos heróis da
3 Antiguidade Clássica são
Cessem do sábio Grego e do Troiano evocados para destacar a
superioridade dos feitos dos
As navegações grandes que fizeram; Portugueses.

Cale-se de Alexandro e de Trajano


A fama das vitórias que tiveram;
Herói coletivo – o povo português
O verbo obedecer é utilizado para
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, engrandecer os feitos dos
A quem Neptuno e Marte obedeceram: Portugueses sugerindo
submissão do Deus da Guerra
a

(Marte) e do Mar (Júpiter).

Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Entidade mitológica que inspirava
Que outro valor mais alto se alevanta. os poetas, escritores, historiadores
da Antiguidade; logo, tudo o que foi
Porque os feitos dos portugueses são superiores a escrito na Antiguidade devia ser
todos os cantados na Antiguidade. esquecido.

Esqueçamos os heróis do passado


porque EU tenho uma história mais
grandiosa para cantar.
Condição para o Poeta levar a
cabo a sua missão:

“ Se a tanto me ajudar o engenho e arte”

Se tiver talento (eloquência)


e inspiração.
O Poeta ordena que se deixe
de falar de…

Ulisses Eneias Alexandre Magno Trajano


NAVEGAÇÕES GUERRAS

…porque os portugueses são mais importantes!

“Cesse tudo o que a musa antiga canta


Que outro valor mais alto se alevanta”
“A quem Neptuno e Marte
obedeceram”

deus do Mar deus da Guerra


os portugueses sempre venceram nestes domínios

os deuses “curvam-se” perante


a importância dos portugueses,
porque sempre cometeram grandes feitos
O Poeta sente orgulho na pátria
portuguesa e quer espalhar a glória
dos portugueses por todo o mundo.

“Que eu canto o peito ilustre Lusitano”


(herói coletivo)

“Cantando espalharei por toda a parte”


(Este verso sintetiza a intenção do poeta)

carácter universal e intemporal da obra


Os 4 planos narrativos presentes na
“Proposição”
• Plano da viagem: “Por mares nunca dantes
navegados”

• Plano da História de Portugal: “Daqueles Reis que


foram dilatando”

• Plano do Maravilhoso: “A quem Neptuno e Marte


obedeceram”

• Plano do Poeta: “Que eu canto o peito ilustre Lusitano”


“Se a tanto me ajudar o engenho e a arte”
Análise formal
• A Proposição é constituída por três estâncias* de 8 versos
(oitavas);

• os versos são decassílabos heróicos com acentos na 6.ª e 10.ª


sílabas:
• As-ar-mas-e os - ba- rões -a -ssi -na - la- (dos). Estes versos dão
ao poema um som alto e sublimada, de tuba canora e belicosa, isto
é, assinalam, no seu ritmo, um compasso de marcha;

• a rima é cruzada e emparelhada, conforme o esquema rimático


ABABABCC, esquema que se repete invariavelmente em todas as
estâncias do poema.

*estância e não estrofe, porque todas têm 8 versos (regularidade)


Recursos expressivos
Recursos expressivos Exemplo Explicação/ Expressividade

Sinédoque e perífrase “Que da ocidental praia Esta expressão é uma perífrase, uma vez que o poeta diz por
Lusitana” (est. 1, v.2) muitas palavras o que poderia ser dito apenas por uma
(Portugal). Além disso, encontramos também uma sinédoque,
porque Portugal (o todo) é aqui designado por uma das suas
partes. Camões alude à localização de Portugal na Europa.
Desta forma, sublinha o quão importantes foram a localização
geográfica e a extensa linha de costa para os Descobrimentos.

Hiipérbole “Mais do que prometia a Com este exagero, o Poeta reforça a vocação marítima dos
força humana” (est.1, v.6) Portugueses e as suas capacidades como marinheiros.

Enumeração “A Fé, o Império, e as terras


viciosas” (est.2, v.3)

Antonomásia “Cessem do sábio grego e Identificação de alguém através de um adjetivo qualificativo ou


do Troiano” (est.3, v.1) de qualquer outro termo que não seja o seu nome próprio.
“sábio grego” Ulisses, “Troiano” Eneias

Metonímia “...tudo o que a Musa Substituição de um termo por outro com quem está ligado.
antiga canta” (est.3, v.7) Aqui, o Poeta refere-se a todos os heróis cantados pelas
epopeias da antiguidade)
A PROPOSIÇÃO DIVIDE-SE EM 2 PARTES:

1ª Parte: (tema) O Poeta enuncia os heróis que vai cantar;


2ª Parte: (propósito do poeta e da obra) O Poeta estabelece um
confronto entre os portugueses e os grandes heróis da Antiguidade,
afirmando a superioridade dos primeiros sobre os segundos.

Desse confronto resulta uma exaltação do herói da epopeia portuguesa, no


âmbito do ideal renascentista. De facto, nesta época, o homem era considerado
tão poderoso, física e intelectualmente, que se aproximava dos próprios deuses.
Assim, o poeta pretende enaltecer os feitos dos portugueses porque
merecem ser sublimados mais do que aqueles que foram cantados nas
epopeias clássicas.
De que modo podemos ver espelhada, na Proposição,
a dimensão épica da obra e o início da elevação do
homem português à condição de mito?

Camões pretende, logo na Proposição, transmitir a


dimensão épica da obra, valorizando as façanhas dos
portugueses que ultrapassaram a sua condição de
homens. Assim, estes marinheiros vão ascendendo de
homens aparentemente frágeis e pouco capazes a heróis
que igualam os deuses. Deste modo, assistimos a uma
mitificação do herói da obra.

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