Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
→ os anos 20 na Alemanha: Benjamin, Arendt, Weber, Mies van der Rohe, Gropius, Fritz Lang, Paul
Klee, Martin Heidegger, Kandynski, Chagall, Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin, Wilhem Reich, Carl
Jung, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Edmund Husserl, e também os três protagonistas desta aula:
Nem todo mundo dessa galera era marxista (Heidegger e Jung foram mesmo colaboradores
do nazismo), mas todo mundo de alguma maneira entrou em contato com o marxismo, que
tinha raízes fundas na alemanha e estava na época impulsionado pelo triunfo da Revolução
Bolchevique na rússia, em 1918. O movimento comunista se expressava politicamente na
alemanha através do KPD (partido comunista alemão). A revolução alemã
→ A partir de 1933, com a chegada de Hitler ao poder, eles vão pro exílio em diversas partes do
mundo.
→ O que nos interessa aqui é que, nessa revista, vai se expressar uma importante questão interna do
marxismo: a diferença brutal de perspectiva entre os marxistas que então ocupavam o poder e estavam
concentrados na instauração e gestão de um estado (a URSS) e aqueles que estavam fora do poder,
buscando formas de alcançar a revolução.
→ Essa querela atravessa uma outra, que me parece estar mal digerida pelo marxismo até hoje: de que
maneira o movimento revolucionário do proletariado deve olhar para a herança cultural burguesa?
Não que naquela década de 1930 fosse relevante na europa ou na rússia uma posição, entre a
intelectualidade comunista, de que o marxismo devesse ser tão iconoclasta a ponto de fazer tábula
rasa da cultura burguesa, para reconstruir uma cultura proletária do zero. Essa posição, na URSS tinha
sido representada por grupos como o prolekult e os futuristas, surgidos no âmbito do processo
revolucionário e atuantes de maneira independente do partido
O poeta proletário Vladímir Kiríllov lançou o desafio: "Em nome do amanhã vamos
atear fogo em Raphael, destruir os museus e esmagar as flores da arte... Nós
respiramos um tipo diferente de beleza". Vladímir Maiakóvski, o principal poeta da
Revolução, autor de "À esquerda" e "Ordem ao Exército da Arte", ecoa esses
sentimentos: "É chegada a hora de balas perfurarem os muros dos museus!".
https://www.scielo.br/j/ea/a/yPjrxSGWGGnqxGZ3QChkndd/?lang=pt
Mas, enfim: em 1930 que juízo o marxista deve fazer do passado? O que é joio e o que é
trigo, entre as manifestações culturais da burguesia?
- Inútil tentar recuperar a história da polêmica com os registros que tenho dela. O livro
do João Barrento e o do Jameson discordam loucamente em dados objetivos.
LUKÁCS:
Argumento de Lukács: Lukács defende a tradição artística clássica e o primeiro realismo (de
Balzac) contra o expressionismo. O expressionismo seria problemático ao apresentar a
realidade de modo fragmentário, descontínuo e confuso. Na sua perspectiva, contudo, (e aí
está a originalidade) o problema não está numa suposta falta de fidelidade do
expressionismo no seu retrato do real, mas sim – ao contrário – no caráter imediato dessa
representação. Representa-se imediatamente a impressão afetiva que se tem do real.
Assim, o expressionismo e outros modernismos seria fragmentários, descontínuos e
confusos porque a nossa percepção imediata e cotidiana da realidade também é assim.
Segundo Lukács, devido ao poder do capitalismo de dar uma aparência autônoma às suas
instituições e elementos super-estruturais, “a consciência”do indivíduo que vive sob o
regime capitalista vai perceber os elementos realidade autonomamente, sem atentar para a
relação estrutural que eles teriam entre si. O expressionismo seria a expressão dessa
autonomização
O momento de crise, no capitalismo, seria aquele em que se revela seu caráter inteiriço, de
totalidade composta por partes articuladas. Totalidade é um conceito fundamental em
Lukács, que aqui aparece dessa forma.
O papel da arte: tornar essa totalidade articulada, a partir do qual é composto o capitalismo,
perceptível mesmo fora dos momentos excepcionais de crise. “realismo”, aqui, significa
portanto mostrar a realidade dos fenômenos por trás da sua aparência. Tem um caráter de
desvelar!
Esse desvelar é fruto de uma dialética: a arte recupera elementos da vida que o leitor
percebe em sua experiência cotidiana, mas não mais na voragem descontínua com que ele
costuma percebê-los, e sim “elaborados” em uma articulação que revele seu nexo lógico.
Contra o argumento (de Bloch) de que o expressionismo é deformado porque revela uma
sociedade burguesa deformada, Lukács afirma que muito melhor é o Thomas Mann, que
também representa a mesma sociedade, mas colocando “a descoberto a essência, as
causas, as mediações da imagem deformada”.
Aqui é importante desmistificarmos o primeiro mito sobre Lukács: o argumento dele aqui
não é “conteudista”, não iguala arte e propaganda ideológica, nem pode ser reduzido à uma
defesa da arte panfletária que “denuncia” os males do capitalismo. Não. Para ele, qualquer
romance realista seja que obedeça às regras da composição clássica e seja escrito por uma
pessoa arguta – quer isso esteja ou não nas intenções do autor – vai desvelar a totalidade
do capitalismo, porque essa é a propriedade do estético.
CENTRALIDADE DO ESTÉTICO NO PENSAMENTO DE LUKÁCS.
Balzac (monarquista) e Dickens (liberal) não eram marxistas, mas eram “argutos” e
desvendavam os mecanismos sociais por trás das ações de seus personagens. O mundo
de suas obras representado como uma teia de relações, tornada visível pela ação dos
personagens.
O trabalho do artista:
→ Muito importante! Bloch (com Eisler) reivindica o expressionismo não como uma oposição à
tradição, mas como um herdeiro da poesia épica medieval germânica, do sturm und drang e do
Romantismo alemão. é uma tentativa de recuperar o legado alemão das mãos do nazismo. Uma
apropriação produtiva e atualizada da tradição, longe da louvação estéril
→ o expressionismo como auto-investigação subjetiva utilizada como motor para desvelar os campos
de possibilidade no real, ainda confusa, ainda sem os amparos que o marxismo poderia oferecer. Por
isso, em última instância, algo que falhou e degenerou no subjetivismo sem objeto. (o argumento
implícito: o marxismo deve amparar e fortalecer essas experiências, para que não falhem novamente)
Existe um “excedente poético” no trabalho do artista. Existe, por outro lado, um “excedente
de tendência e latência”, além dos fatos, na realidade (seria uma condição ontológica). O
marxismo é por ele reivindicado como a melhor forma relacionar o primeiro excedente ao
segundo, de modo que ele seja revelado.
Para Bloch, o marxismo abre as portas da percepção da realidade. O que para o indivíduo
inserido no capitalismo aparece como monotonia e solidão, o capitalismo desvela como um
drama repleto de violência e possibilidades utópicas. Ao revelar a complexidade e o
dinamismo da realidade, torna-a perceptível como “uma quase infinidade de problemas”.
Isso vale inclusive para olhar o passado, a história (aqui ele antecipa o argumento da
história à contrapêlo), mas o ponto mais importante do argumento do Bloch é sobretudo o
futuro (seu conceito mais importante é o de Utopia).
Para ele, o marxismo compreende a realidade como algo “aberto e objetivamente
fragmentário”, oposição fundamental a Lukács).
então se aproveitará do discurso poético para não ser a mera mentira, e sim uma força
produtiva da realidade (Brecht já seria isso). Sobre Brecht;
BRECHT
Brecht discorda
Ele recoloca a questão: o artista burguês tem um papel, que é o de tornar a vida do homem
possível no “mundo árido” do capitalismo.