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DRAMATIZAÇÃO DA OBRA MORTE E VIDA SEVERINA

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Autores: Alana Caroline Sargim; Beatriz de Paula Ramos; Claudio; Fernanda; Géssica; Jonathan;
Patrícia; Renato.
Ano: 7º Ano.
Objetivo: Compreender os aspectos econômicos, sociais, culturais e naturais da região nordeste
através da dramatização e interpretação da obra Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto.
Tempo Estimado: 45 minutos, incluindo arrumação do local e a realização do teatro.
Conteúdo: Região Nordeste, aspectos econômicos, sociais, culturais e naturais.
Músicas: Saga de Retirante – Socorro Lira; Louvação – Gilberto Gil; Asa Branca – Gilberto Gil.

1) SÍNTESE DA OBRA

João Cabral de Melo Neto nasceu no dia 09 de janeiro de 1920 em Recife,


Pernambuco. De tradicional família de senhores de engenho, João Cabral passou a infância
em engenhos de cana-de-açúcar.
O livro foi escrito entre os anos de 1954 e 1955 e publicado somente em 1955. No
poema usa preferencialmente o verso heptassilábico ou redondilho maior, verso sonoroso e
facilmente obtido. Está dividido em 18 partes, da parte 1 a 9, compreende a ida de Severino
até o Recife, seguindo sempre o Rio Capibaribe. Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife e
sabe que para ele não há nenhuma saída, a não aquela que presenciou no percurso, a morte.
Morte e Vida Severina tem como subtítulo Auto de Natal pernambucano, espelha-se na
cultura popular nordestina. Chamada auto, pois se assemelha às composições de caráter
religioso ou moral dos séculos XV e XVI, cuja representação teve origem nos Presépios,
encenações do nascimento de Cristo, típicas também em Pernambuco, estado em que corre a
obra de João Cabral de Melo Neto.
O nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem, encontrando
miséria, morte, pobreza, como partes da vida em oposição à morte. Pois este apresenta um
poema dramático, que relata a dura trajetória de um migrante nordestino em busca de uma
vida mais fácil no litoral.
Severino cansado de como vivia em Serra da Costela, nos limites de Paraíba, resolve seguir
caminho para o Recife, no caminho ele acaba encontrando dois homens (irmãos das almas)
que levam um defunto, havia morrido por ter levado um tiro em uma emboscada, por ter uma
pequena terra onde plantava. Severino seguiu o seu trajeto com o defunto e os dois homens.
Severino ia seguindo o Rio Capibaribe, mas ele havia sido cortado pelo verão.
Chegando a uma cidade, ele encontra um homem sendo velado e mais tarde resolve
interromper sua jornada para ali tentar encontrar um trabalho. Ele vê uma mulher na janela e
pensa em pedir a ela notícias sobre um trabalho qualquer. Mas Severino só sabia plantar e
pastorear, e a única fonte de trabalho e renda na região é a morte. Profissões como
enfermeiros, coveiros, farmacêuticos e benzedeiras são beneficiadas pela indústria da morte.
Ao longo de sua trajetória ele assiste a enterros e cortejos fúnebres.
Chegando à Zona da Mata, ele ouve a conversa de amigos de um morto recém
enterrado e resolve seguir mais rápido para chegar logo ao Recife. Severino apenas seguia
para tentar escapar da velhice que chegava mais cedo na sua terra.
Ao chegar a Recife, o sertanejo ouve a conversa de dois coveiros que falam sobre os
retirantes que chegam para morrer na capital. Severino se surpreende e vê que migrara
seguindo o seu enterro, mas já que não viajou esperando grandes coisas segue o rio,
chocado e ciente da sua miserabilidade resolve se suicidar, que segundo os coveiros faria um
enterro melhor.
Andando por aquelas bandas, ele se encontra com um morador da beira do rio,
chamado José, o mestre carpina. Eles conversam sobre a fome, a vida e a respeito da
profundidade do rio Capibaribe. Exatamente nesse momento, José recebe a notícia de que
seu filho nascera, fato que trás muita alegria a todos. Severino fica de fora sem tomar parte
em nada, os vizinhos, amigos e parentes chegam, cumprimentam os pais, vão levar presentes
que a sua pobreza permite e adorar como à Cristo. Falam sobre o menino e ainda duas
ciganas prevêem o futuro dele, sendo uma boa e a outra má. Uma delas, a má, dá ao menino
a leitura de um destino trágico, ser pobre. Mas a cigana boa prediz-lhe um futuro melhor, o
que ela vê é graxa de alguma fábrica, o que vale a dizer que ele terá uma vida socialmente
boa.
Por fim, José fala a Severino que a pergunta dele sobre a vida ele não sabe responder,
mas que apenas deve-se viver a vida. Mesmo a vida sendo frágil, é uma prova da resistência
desse povo e de todos os outros Severinos do Nordeste do Brasil que lutam pela
sobrevivência. Há uma quebra na trajetória do desconsolo ao nascer uma criança,
representando a fé, a esperança que ressurge a cada vida que brota.

2) Adaptação da obra para teatro:


(Será iniciado com uma breve síntese pelo narrador, sendo logo apresentado o nome da obra
e algumas imagens da caatinga – Temas musicais: Chico Buarque de Holanda).

3) Apresentação:

Narrador: Severino mostra-se como um tipo comum: o homem nordestino. Sua


densidade humana e psicológica vai surgindo com o transcorrer da obra. Mais que um
indivíduo, pelo menos no início da peça, Severino iguala-se a milhares de outros homens
humildes e miseráveis, desprovidos de identidade - daí parece decorrer a dificuldade do
protagonista em definir-se ou individualizar-se de outros tantos "Severino", provindos da
mesma serra. Durante o decorrer do teatro o protagonista Severino, será demonstrado por
vários integrantes, demonstrando os vários Severino existentes.
4) Teatro

Cena 1:
(A peça é aberta com a explicação de Severino que se apresenta e diz a que vem)

— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria, como há muitos
Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se
chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria
do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos
de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma
cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas
pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte
severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos
vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em
qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra
sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza. Mas, para que me
conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo
a ser o Severino que em vossa presença emigra.

(Apagam-se as luzes e Severino se retira, para a entrada do cortejo fúnebre, na qual


envolverá o dialogo entre as duas pessoas que carregam o corpo, dois retirantes os
encontram e começam com as falas – pode ser intercalado).
Cena 2
Narrador: O Severino encontra dois homens carregando um defunto numa rede, aos
gritos de "ó irmãos das almas! Irmãos das almas! Não fui eu quem matou não!"

— A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado nessa rede? dizei que eu
saiba.
— A um defunto de nada, irmão das almas, que há muitas horas viaja à sua morada.
— E sabeis quem era ele, irmãos das almas, sabeis como ele se chama ou se chamava?
— Severino Lavrador, irmão das almas, Severino Lavrador, mas já não lavra.
— E de onde que o estais trazendo, irmãos das almas, onde foi que começou vossa jornada?
— Onde a caatinga é mais seca, irmão das almas, onde uma terra que não dá nem planta
brava.
— E foi morrida essa morte, irmãos das almas, essa foi morte morrida ou foi matada?
— Até que não foi morrida, irmão das almas, esta foi morte matada, numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada, irmão das almas e com que foi que o mataram, com faca
ou bala?
— Este foi morto de bala, irmão das almas, mas garantido é de bala, mais longe vara.
— E quem foi que o emboscou, irmãos das almas, quem contra ele soltou essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer, irmão das almas, sempre há uma bala voando desocupada. (..)
— E era grande sua lavoura, irmãos das almas, lavoura de muitas covas, tão cobiçada?
— Tinha somente dez quadras, irmão das almas, todas nos ombros da serra, nenhuma
várzea.
— Mas então por que o mataram, irmãos das almas, mas então por que o mataram com
espingarda? (..)
— E agora o que passará, irmãos das almas, o que é que acontecerá contra a espingarda?
— Mais campo tem para soltar, irmão das almas, tem mais onde fazer voar as filhas-bala.(..)
— E poderei ajudar, irmãos das almas? vou passar por Toritama, é minha estrada.
— Bem que poderá ajudar, irmão das almas, é irmão das almas quem ouve nossa chamada.

Narrador: Nessa passagem temos a denúncia da ganância humana. Os irmãos das almas
contam a Severino que o morto possuía uns hectares de terra, "pedra e areia lavada", que
alguém ambicionava. Plantava entre as pedras umas dez quadras de palha.
Cena 3
(Após a saída dos “irmãos das almas” e de um dos retirantes, um se encaminha mais para o
centro e começa a fala).

Narrador: O retirante tem medo de se extraviar por seu guia, o rio capibaribe, cortou com o
verão. Antes de sair de casa aprendi a ladainha das vilas que vou passar na minha longa
descida. Sei que há muitas vilas grandes, cidades que elas são ditas; sei que há simples
arruados, sei que há vilas pequeninas, todas formando um rosário cujas contas fossem vilas,
todas formando um rosário de que a estrada fosse linha ..........................................
Pensei que seguindo o rio eu jamais me perderia: ele é o caminho mais certo, de todos o
melhor guia. Mas como segui-lo agora que interrompeu a descida?”

Narrador: O elemento da seca faz parte da paisagem, denunciando um dos maiores males
vividos pelo homem sertanejo: os leitos secos dos rios. A confusão causada no personagem
decorre do fato de que ele acompanhava o leito do Capibaribe que, agora seco, se mistura
com o cenário desolador.

Cena 4

(Neste momento Severino se ajoelha, espera o narrador falar e então começa sua fala, com
aspecto de cansado e desacreditado).
Cansado da viagem o retirante pensa interrompê-la por uns instantes e procurar
trabalho ali onde se encontra.

Narrador: O retirante cansado interrompe a viagem e procura trabalho. Em solilóquio,


Severino retoma os motivos que o fizeram partir: está à procura da vida, de certa maneira,
tenta estendes a sua própria vida, ultrapassar os trinta, catando migalhas que lhe permitem a
sobrevivência. Neste momento, ele percebe que está em busca de vida, mas só encontra
mortos:

-Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva;
só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de
vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o
homem que retira).
Penso agora: mas por que parar aqui eu não podia e como o Capibaribe interromper minha
linha?
Cena 5
(Depois de se levantar e seguir o seu caminho, Severino encontra em uma janela a figura de
uma mulher, na qual, entra com um diálogo).
Dirige-se à mulher na janela que depois, descobre tratar-se de quem se saberá

—— Muito bom dia senhora, que nessa janela está sabe dizer se é possível
algum trabalho encontrar?
—— Trabalho aqui nunca falta a quem sabe trabalhar o que fazia o compadre
na sua terra de lá?
—— Pois fui sempre lavrador, lavrador de terra má não há espécie de terra
que eu não possa cultivar.
—— Isso aqui de nada adianta, poucos existe o que lavrar mas diga-me, retirante,
o que mais fazia por lá? (..)
—— Mas isso então será tudo em que sabe trabalhar? vamos, diga, retirante,
outras coisas saberá. (..)
—— Essa vida por aqui é coisa familiar mas diga-me retirante, sabe benditos rezar? sabe
cantar excelências, defuntos encomendar? sabe tirar ladainhas, sabe mortos enterrar?
—— Já velei muitos defuntos, na serra é coisa vulgar mas nunca aprendi as rezas,
sei somente acompanhar.
—— Pois se o compadre soubesse rezar ou mesmo cantar, trabalhávamos a meias, que a
freguesia bem dá.
—— Agora se me permite minha vez de perguntar: como senhora, comadre,
pode manter o seu lar?
—— Vou explicar rapidamente, logo compreenderá:como aqui a morte é tanta,
vivo de a morte ajudar. (..)

Narrador: O protagonista percebe que a mulher da janela é remediada, nem rica, nem pobre.
Interrogado por ela sobre suas habilidades, Severino declara ser agricultor de roças cabíveis
àquela região e estar acostumado a lidar com aquele tipo de terra, além de saber cuidar de
gado e trabalhar no engenho. Sua interlocutora diz que são profissões inúteis na região,
porque os bancos não financiam mais agricultura, não há gado na região e as usinas
substituíram o engenho. Lá só há profissões ligadas à morte, como coveiros, cantadores de
excelências e rezadores, como ela. Sugere que o retirante associe-se a ela, pela abundância
de mortes e pelo lucro imediato.
Cena 6
Narrador: O retirante chega à zona da mata que o faz pensar, outra vez, em interromper a
viagem.

(Apagam-se as luzes, após a conversa com a mulher da janela, entra Severino que observa
de longe outro cortejo fúnebre, escutando o que os parentes do falecido comentavam e
cantavam)

Narrador: Os trabalhadores levam um morto ao cemitério, um trabalhador eito (da roça).


Severino observador ouve o que dizem os amigos do finado. Uma raiva até então contida vai
crescendo, acompanhada do ritmo da poesia que salta de versos

—— Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida.
—— é de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio.
—— Não é cova grande, é cova medida, é a terra que querias ver dividida.
—— é uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.
—— é uma cova grande para teu defunto parco, porém mais que no mundo
te sentirás largo.
—— é uma cova grande para tua carne pouca, mas a terra dada não se abre a boca. (..)
—— Viverás, e para sempre na terra que aqui aforas: e terás enfim tua roça.
—— Aí ficarás para sempre, livre do sol e da chuva, criando tuas saúvas.
—— Agora trabalharás só para ti, não a meias, como antes em terra alheia.
—— Trabalharás uma terra da qual, além de senhor, serás homem de eito e trator.
—— Trabalhando nessa terra, tu sozinho tudo empreitas: serás semente, adubo, colheita.
—— Trabalharás numa terra que também te abriga e te veste: embora com o brim do
Nordeste.(..)

Narrador: Essa belíssima e dolorosa passagem parece conscientizar o personagem não


apenas da existência da morte também nos latifúndios canavieiros, mas também da reforma
agrária. O lavrador só recebe depois da morte a mínima parte que lhe cabe, uma cova rasa,
medida em palmos.
Cena 7

(Logo após o fúnebre velório, se apagam as luzes e o narrador entra com a fala abaixo para
logo começar a cena, na qual, Severino escuta a conversa de dois coveiros)

Narrador: Severino se apreça para chegar a Recife mais rapidamente, pois, as esperanças
vão se rareando, porque em qualquer lugar, a morte é sua sempre companheira.

Narrador: Severino chega ao Recife e ouve a conversa de dois coveiros que exaltam os
privilégios dos coveiros que trabalham nos cemitérios dos ricos.

(A) —— O dia hoje está difícil não sei onde vamos parar. Deviam dar um aumento, ao menos
aos deste setor de cá. As avenidas do centro são melhores, mas são para os protegidos: há
sempre menos trabalho e gorjetas pelo serviço e é mais numeroso o pessoal (toma mais
tempo enterrar os ricos).

(B)—— pois eu me daria por contente se me mandassem para cá. Se trabalhasses no de


Casa Amarela não estarias a reclamar. De trabalhar no de Santo Amaro deve alegrar-se o
colega porque parece que a gente que se enterra no de Casa Amarela
está decidida a mudar-se toda para debaixo da terra.

(B)—— é que o colega ainda não viu o movimento: não é o que se vê. Fique-se por aí um
momento e não tardarão a aparecer os defuntos que ainda hoje vão chegar (ou partir, não
sei). As avenidas do centro, onde se enterram os ricos, são como o porto do mar não é muito
ali o serviço: no máximo um transatlântico chega ali cada dia, com muita pompa, protocolo, e
ainda mais cenografia. Mas este setor de cá
é como a estação dos trens: diversas vezes por dia chega o comboio de alguém.

Cena 8
(Severino segue a viagem, cabisbaixo, se centra no palco e começa sua fala)

Narrador: Influenciado pela conversa dos dois coveiros, Severino perde as esperanças e
começa a desejar a morte, pois sente que veio acompanhando seu próprio enterro. E
chegando, aprendo que, nessa viagem que eu fazia, sem saber desde o Sertão, meu próprio
enterro eu seguia. Só que devo ter chegado adiantado de uns dias o enterro espera na porta:
o morto ainda está com vida. A solução é apressar a morte a que se decida e pedir a este rio,
que vem também lá de cima,
que me faça aquele enterro que o coveiro descrevia: caixão macio de lama, mortalha macia e
líquida.(..)
Cena 9

(Apagam-se as luzes e nesta cena Severino encontra José mestre capina sentado e começa
o dialogo)

—— Seu José, mestre carpina, que lhe pergunte permita: há muito no lamaçal apodrece a sua
vida? e a vida que tem vivido foi sempre comprada à vista?

—— Severino, retirante, sou de Nazaré da Mata, mas tanto lá como aqui jamais me fiaram
nada: a vida de cada dia cada dia hei de comprá-la.

—— Seu José, mestre carpina, e que interesse, me diga, há nessa vida a retalho
que é cada dia adquirida? espera poder um dia comprá-la em grandes partidas?

—— Severino, retirante, não sei bem o que lhe diga: não é que espere comprar
em grosso tais partidas, mas o que compro a retalho é, de qualquer forma, vida.

—— Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar


tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida?

Narrador: Severino, desanimado, aproxima-se de um cais do Rio Capibaribe e reflete sobre


sua futura, que será causada pela miséria e não mais pela seca. Nesse momento,
aproxima-se de um morador de um mocambo, o senhor José, e estabelece um diálogo com
ele. Nesta conversa Severino demonstra seu pessimismo e desânimo e acaba por perguntar
se vale a pena viver essa vida severina. Mestre Carpina, um ex-retirante experiente, pois
mora ali há mais tempo, não sabe o que responder a Severino. Diz que sua vida é severina,
dura, mas ainda é vida. Severino demosntra desejar o suicídio.
Cena 10

(Apagam-se as luzes e após a narradora dizer o texto acima, José Mestre de Capina
responde o que Severino havia perguntado – demonstrar confiança na fala, de que nada esta
acabado, a vida continua)

Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que
fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida nem conheço essa resposta, se quer
mesmo que lhe diga é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta
que vê, severina mas se responder não pude
à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva.
E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se
chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há
pouco em nova vida explodida mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina mesmo quando é a explosão de uma vida severina.

Obs: as duas últimas frases Severino deve citá-la duas vezes!

Narrador: A própria vida pareceu responder a Severino sobre suas dúvidas, já que as
palavras do mestre carpinteiro, não conseguiram convencê-lo de que a vida vale a pena. Esse
final, de rara beleza, consegue unir as duas pontas da peça, justificando seu título.

(Apagam-se as luzes e todos que participaram do teatro aparecem)

Fim..

Postado por Profª Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira às 10:50

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