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Jan Springer

Tiamat World A Pousada de Peppermint Creek Inn

Jan Springer
A Pousada de Peppermint Creek
Sara quer esquecer seu passado e por isso vive sozinha em um canto isolado e selvagem do
Canadá. Uma noite de tormenta, um fugitivo ferido que sofre de amnésia se mete em sua casa e
entra totalmente em seu coração. É perigoso, tem sabor de maldade e a sexo delicioso, e
termina provocando em Sara uma ânsia luxuriosa que esta jamais teria pensado que poderia
chegar a sentir. Em que pese que não possa ter nenhum futuro com um homem sexy acusado de
assassinato, Sara está mais que disposta a fazer o que ele queira contanto que não saia de sua
vida… nem de sua cama.

Disponibilização em Esp: Passionate


Envio e Tradução: Gisa
Revisão Inicial: Lu Avanço
Revisão Final: Le Poles
Formatação: Gisa
Logo e Arte: Suzana Pandora
Tiamat - World

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Tiamat World A Pousada de Peppermint Creek Inn

Comentário da Revisora Lu Avanço: Ele é lindo pense um homem lindão com amnésia na
porta de vocês, ele tem os mais lindos olhos verdes, e você não consegue parar de molhar as
calcinhas kkkkkkk, esse é o nosso mocinho e ainda por cima é bem dotado kkk, tudo de bom, as
meninas vão amar essa historia bjs lu

Prólogo

O ronronar do motor de um carro penetrou através da névoa matutina, produzindo uma


sacudida febril. Imediatamente se lançou de bruços e caiu sobre o ombro na profunda sarjeta
cheia de barro, onde se esmagou como um camaleão contra a terra fria como o gelo. Gemendo
pela dor insuportável que lhe produziram a ferida das costas e o batimento das têmporas, colocou
a mão no bolso da gasta jaqueta de couro negro e seus dedos intumescidos e inchados se
deslizaram junto ao gelado cabo da arma para apertar o papel com a nota.
Sabia que corria um risco ao levar a nota no bolso, mas esta era sua única pista. Era a única
forma de protegê-lo.
Sentiu que aumentavam as vibrações do chão. O suave ronronar do motor se aproximava.
Quis fechar os olhos. Desejou rezar para que não lhe vissem. Mas só pôde olhar para cima da
sarjeta. Olhar para cima e enfrentar à morte cara a cara.
O patrulheiro passou a seu lado a toda velocidade, causando-lhe enjôo com seus gases
picantes. Conteve o fôlego quando o olhar de raio laser do oficial passou justo por cima dele,
observando o bosque próximo e logo o caminho encharcado mais adiante. Em um abrir e fechar
de olhos o patrulheiro desapareceu na ponte coberta que ele acabava de cruzar.
Lançando um comprido suspiro de dor, o fugitivo caiu de barriga para baixo na terra fria e
molhada.
Esta vez tinha estado muito perto. A próxima vez possivelmente não tivesse tanta sorte.
A dor lhe aguilhoou a cabeça, que pareceu partir-se em dois. O pulsar ensurdecedor do
coração confirmou que ainda estava vivo.
Mas necessitava um pouco de descanso. Um minuto somente. Um fodido minuto e logo
voltaria a procurá-la.
Fechou os olhos, rendendo-se ao sono.
O estalo de um ramo soou como um disparo no quieto ar noturno. Abriu os olhos de
repente. O coração pulsava disparado, saiu apressadamente da bolsa de dormir. O casaco de
couro emitiu um ruidoso rangido e ele blasfemou ao ouvi-lo. Devia ter tirado, mas não conseguiu
se esquentar depois do ferimento.
Lutou com a amargura do medo que subia a garganta. O silêncio o envolvia como uma capa.

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Entretanto, havia algo ou alguém escondido fora da cabana em que se escondeu até agora.
Lançou um olhar pela janela aberta sem cristal, notou que a noite obscureceu ao
desaparecer a lua atrás de um grupo de nuvens negras. Os raios cintilavam no céu.
Foi então quando a viu. Uma silhueta que se aproximava sigilosamente do edifício. Para ele.
A ansiedade fez um nó no estômago, apertando-o. O medo subiu pela coluna e aninhou em
sua nuca como uma serpente enroscada.
De repente, uma tábua do chão rangeu justo detrás dele.
“Merda!”
De repente, estalaram brilhantes luzes prateadas diante dos olhos. O mundo se inclinou e
tudo começou a girar a seu redor.

Gemeu surpreso quando uma terrível dor atravessou a cabeça. Os joelhos cederam e
instintivamente alargou a mão para segurar-se.
Duras lascas de madeira cravaram nas mãos. Fez uma careta de dor e seu cérebro tentou
compreender a insuportável dor que percorria o seu crânio.
—Achei, achei! —proferiu a excitada e aguda voz masculina a seu lado.
Merda! Como tinham conseguido encontrá-lo? Tinha tido tanto cuidado… se assegurou de
que ninguém o seguisse.
Um suor frio banhou o rosto. Sentiu que um abismo cedia sob seus pés. Tinha que sair dali
agora, antes que fosse muito tarde!
Algo golpeou a parte de trás das coxas. As pernas cederam e caiu de joelhos.
Teve náuseas e não pôde conter o vômito.
Trêmulo, tentou ficar de pé.
Quis mover-se, correr, mas nada aconteceu. As pernas se negaram a responder. A
intensidade da dor se fez intolerável.
Agarrou a cabeça com as mãos trêmulas e uma maldição estrangulada brotou de sua
garganta seca.
A verdade morreria com ele, deu-se conta com demolidora consciência.
A verdade morreria…

Piscou e seus olhos abriram.


O sol atravessava o denso bosque, cegando-o. A boca seguia tendo sabor de vômito. A
cabeça ainda doía um montão.
Tentou mover-se, mas a dor que o atravessava nas costas o fez proferir um grito de dor e o
impediu de mover-se.
Merda, sim que estava metido em confusões!
Dando um segundo para recuperar o fôlego, voltou a tentá-lo. Esta vez conseguiu ficar de
pé. Cravando os dedos feridos no barro, subiu como um caranguejo e conseguiu sair da sarjeta,
cambaleando como um bêbado ao subir o molhado caminho de terra.
Blasfemou ao ver as recentes marcas de pneus. O carro da policia não tinha sido um

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pesadelo, tal como teria desejado, era realidade.


Tinha que seguir. Tinha que seguir a frente deles, do contrário era homem morto.
Forçando a suas pernas a que movessem, dirigiu-se de onde tinha vindo o patrulheiro,
mantendo apertada a nota que tinha metido no bolso.
O céu azul que brilhava entre os gigantescos pinheiros foi ficando de uma cor cinza
resistente, preparado para disparar frios projéteis de chuva. Caía o sol e trazia consigo uma
tormenta da primavera.
Bateu os dentes incontrolavelmente quando o vento o envolveu e entrou pelo nariz,
baixando pela garganta ardente e os pulmões roídos pelo fogo.
“Que puto frio.”
Fosse onde fosse, o frio o encontrava. Estava tão ocupado tentando manter-se quente que
não viu o prado envolto na névoa até que tivesse dado dez passos e ficado ao descoberto.
Levou-lhe uns minutos piscando até dar-se conta de que sim, que era verdade, que na
penumbra do entardecer e atrás de uma enorme árvore podia ver a silhueta de uma gigantesca
cabana de troncos de dois andares, erguendo-se orgulhosa no meio do prado.
Tinha que ser o lugar dela.
Invadiu-lhe a excitação, fazendo que a necessária adrenalina corresse por suas veias.
Seguiu arrastando-se adiante.
A casa estava feita à mão, com as paredes de troncos de pinheiro e o telhado novo de metal,
do que apareciam várias chaminés de rocha. Ao aproximar-se, deteve-se em seco quando viu um
acolhedor sofá rede balançando-se no alpendre que rodeava toda a casa. Seu olhar percorreu o
maravilhoso refúgio e logo se dirigiu às bonitas janelas de cortinas de renda. Invadiu-lhe a
desesperança e sentiu que o coração sobressaltar-se.
Não havia nenhuma luz acesa na casa. E, o que era pior, uma das janelas da frente estava
quebrada, dando a clara impressão de que o lugar se achava deserto. Para confirmar suas
suspeitas, divisou os restos queimados de uma sólida estrutura de troncos entre um bosque de
pinheiros a umas centenas de metros.
O desespero o alagou com um calafrio gelado e, frustrado, passou a mão pelo comprido
cabelo escuro, fazendo uma careta de dor.
Agora sim que estava fodido. Aquele lugar era sua última esperança. Maldição, sua única
esperança! E parecia que ela não estava em casa.
Seria melhor que decidisse o que fazer, do contrário converteria-se em presa fácil da
manada de lobos mais próxima, dos ursos pardos e da polícia. O pânico o invadiu por um instante
ao pensá-lo.
Rapidamente tirou a nota do bolso. Levou-lhe um minuto inteiro obter que suas mãos
trêmulas estivessem o bastante quietas para poder ler as palavras rabiscadas nela: A Estalagem de
Peppermint Creek. E debaixo: Sara Clarke.
Quem era? Teria dado a nota ela ou teria sido alguém mais? Quando? Por quê?
Não lhe surgiram respostas. Sua memória seguiu sendo uma obcecada página em branco.
Tinha olhado as palavras da nota dezenas de vezes depois de escapar dos dois tiras a noite

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anterior. Tinha a esperança de que a nota fosse algum tipo de pista. Nada despertou a memória,
nem sequer o número 28 que aparecia no canto de baixo à esquerda.
Em um abrir e fechar de olhos, uma gota enorme de chuva caiu sobre o papel e rabiscou os
dois números, convertendo-os em uma mancha de tinta azul. Seguiu-a outra gota, voltando a
molhar o papel. Sem titubear, dobrou a nota e voltou a meter no amparo do bolso.
Lançou um olhar de rogo ao céu que se obscurecia por momentos, e naquele momento um
feroz raio ziguezagueou através das cheias nuvens cinza. Precisava refugiar-se, rápido!
Chegou ao alpendre um segundo antes que se desabasse o céu.

Capitulo 1

Sarah Clarke secou as ardentes lágrimas que corriam pelas bochechas e lançou um suspiro
de alívio quando os faróis do carro atravessaram as fortes correntes de água, iluminando apenas
sua cabana de troncos de dois andares aquela meia-noite. Quando entrasse acenderia um enorme
e alegre fogo na chaminé de seu dormitório, se enrolaria sob as mantas e tomaria uma infusão de
hortelã para acalmar seus nervos.
Faria um esforço por deixar de pensar no uivar do vento que ameaçava fazendo-a sair
correndo como uma louca para o bosque isolado e esqueceria-se do estrondo que causavam as
duras gotas de chuva golpeando contra o pára-brisa da caminhonete.
E, além disso, apartaria a lembrança do disparo que passou outra escura noite de tormenta,
um disparo que tinha trocado sua vida para sempre…
Tentando controlar as lágrimas, centrou sua atenção em esquivar com seu veículo os
enormes buracos do estacionamento. Um momento depois o deteve em seu lugar favorito, sob a
árvore do amor na Estalagem de Peppermint Creek, o gigantesco disco que oficiava de sentinela
de seu lar. Deixou as luzes da caminhonete acesa e através da água que caía a torrentes olhou
automaticamente os corações de diferente forma e tamanho esculpidos na grossa e lisa casca
cinza da árvore. Quando viu seu coração, um sorriso especial se desenhou nos lábios rosa.
“Jack ama a Sara. Para sempre.”
Seu marido tinha rodeado a promessa com um coração e uma flecha que esculpiu com o
canivete suíço no mesmo dia em que tinham comprado a Estalagem de Peppermint Creek.
Sara mordeu o lábio inferior e os olhos alagaram de ardentes lágrimas. Não queria chorar.
Outra vez não. Se o fazia, possivelmente esta vez não pudesse parar nunca mais.
Fez uma profunda inspiração para tranqüilizar-se e abriu a porta da caminhonete. Um vento
molhado a golpeou com crueldade quando saiu à furiosa tormenta primaveril.
Os joelhos trêmulos quase cederam sob seu peso e ao pisar no chão um lodo frio, espesso e
perigoso manchou os sapatos e se meteu nas meias três - quartos. A chuva caiu como um balde de
água sobre seu corpo, empapando-a instantaneamente.
Como um raio, agarrou a bolsa e fechou a porta de trás. Guiando-se pela luz dos faróis do

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carro, correu pela rampa escorregadia de madeira para cadeira de rodas e atravessou com um
suspiro o amplo alpendre.
Desejou acreditar que era somente a fúria da tormenta o que causava que seus dentes
batessem incontrolavelmente e o corpo tremesse como uma folha quando abriu com a chave a
porta principal. Ou possivelmente fosse que os cabelos da nuca se arrepiaram com a aterradora
sensação de que alguém a agarrava por detrás.
Meneou a cabeça, sacudindo aquele pensamento inquietante.
A tormenta a tinha assustado. Uma vez que entrasse, estaria bem.
Uma rajada de ar frio a recebeu quando abriu a porta. A luz dos faróis do carro penetrou
pela porta iluminando a acolhedora cozinha estilo francês e povoando de sombras os móveis do
salão contíguo.
Entrou e deixou a bolsa e as chaves sobre a bancada e sorriu apesar de todos seus
problemas.
Estava em casa. Lar doce lar. E isso era somente o que importava.

Deslizou a mão pela parede da cozinha e seus dedos tocaram a chave da luz para acendê-la.
Não aconteceu nada.
Uma sensação de inquietação a invadiu e ficou quieta escutando se por acaso havia algum
som raro, mas só chegaram a seus ouvidos o ruído do vento que ululava e sacudia as janelas, e o
da chuva que tamborilava insistentemente no chão do alpendre.
Não era algo raro que cortasse a luz quando começavam as tormentas primaveris no norte
de Ontário. A três por quatro caía algum fio elétrico devido a quedas de árvores ou de raios nos
transformadores. Então, por que seu instinto chiava que retrocedesse, subisse à caminhonete e
fosse voando dali? E por que não o fazia?
Deixando a porta totalmente aberta atrás de si, Sara deu de ombros e entrou audazmente à
cozinha. Voltou a cheirar o frio ar noturno, enrugando o nariz enojado ao sentir um aroma
pestilento.
Haveria algo podre no congelador?
Abriu a porta da geladeira. Dentro, o ar cheirava fresco e limpo. A eletricidade se foi fazia
muito pouco, mas, de onde provinha o horrível aroma?
Imediatamente se deu conta de que as cortinas de renda branca ondulavam com o ar,
mostrando o buraco do cristal.
E foi então que viu. Sobre a bancada da cozinha.
Torcido e asqueroso. Olhos negros como contas olhando-a sem ver.
Que porcaria!
O espantoso aroma procedia daquele rato gigante morto! Não precisava perguntar quem
tinha quebrado a janela e atirado dentro o roedor putrefato.
Sabia perfeitamente.
Era a sombra! Andava incomodando-a com atos de vandalismo em sua propriedade desde a
morte do marido de Sara.

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Fez uma profunda inspiração tratando inutilmente de tranqüilizar um pouco o coração, mas
foi o pior que pode fazer. O aroma asqueroso lhe revolveu o estômago.
Tinha que denunciá-lo à polícia. Provavelmente ririam dela, dariam um golpezinho na cabeça
e falariam:
—Vá, vá, querida, só é a sombra outra vez.
Tinha ouvido rumores sobre ela. A senhora solitária que vivia no mais profundo do bosque e
destroçava sua casa de vez em quando para chamar a atenção.
Que fossem ao inferno! Alguém tinha invadido sua casa. Uma vez mais. E não deixaria que
saíssem com a sua. Por muito que a incomodasse fazê-lo, tinha que chamar à polícia. Agarrou o
telefone e todo seu corpo se esticou.
Merda, a linha estava morta!
De repente, invadiu-a uma raiva tão grande como o vento que ululava fora e pendurou o
telefone com um golpe.
Estava tão furiosa que poderia retorcer alguém…
Uma sombra se refletiu no chão de pinheiro.
Sara ficou petrificada.
Merda!
Levantando o olhar, distinguiu a figura alta e ameaçadora contrastada pela luz dos faróis da
caminhonete que entrava pela porta.
A sombra!
Tinha que sê-lo!
Abriu a boca para gritar, preparou-se para correr, mas ele foi mais rápido. Em questão de
segundos esteve a seu lado. Um braço forte e musculoso rodeou a magra cintura, estreitando-a
contra seu corpo, duro como uma rocha. Uma mão grande e quente tampou sua boca.
Era uma mão poderosa, o bastante forte para quebrar o pescoço como se fosse um ossinho
de frango.
Ela tentou lutar contra aquela força, mas se deu conta de que quão único conseguiria seria
desperdiçar sua energia. Parou de debater-se e ficou rígida como um cadáver nos braços dele.
—Não grite — disse-lhe, e sua voz resultou grave e rouca. Áspera, como se tivesse uma
terrível gripe.
— Não vou fazer mal a você, compreende?
Sara assentiu fracamente, desejando poder acreditar.
Tirou a mão da boca, mas seguiu segurando-a pela cintura.
Estreitava-a com força. Oh, com muita força. O calor de seu corpo a penetrava como uma
forja e sua bochecha áspera se esfregava, erótica, contra o lado do rosto dela, fazendo-a sentir
que estavam encadeados em uma sedutora dança mortal.
Através do mágico feitiço que aquele homem tinha arrojado, ela sentiu algo duro que
apertava contra as costas, por onde a segurava.
Uma arma? Sim, levava uma arma!
Somente o que pôde sentir foi um pânico paralisante que a endureceu com um terror tão

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espantoso, mesmo assim tentou sair correndo, mas o braço firme dele em sua cintura a manteve
sujeita.
Fez um esforço por respirar, concentrar-se no que faria à sombra para que pagasse todo o
sofrimento que a tinha submetido. O filho da mamãe finalmente retornava. Voltava para a cena do
crime.
E sabia que ela estava sozinha!
Tragou a bílis que tinha subido à garganta. O sangue que tinha subido à cabeça a fazia
pensar em só uma coisa: confrontar aquele filho da puta antes que a matasse. Ao menos assim
morreria em paz.
Deu um salto de susto quando aquela voz anônima lhe disse:
—Quem é?
—Não faça joguinhos comigo! Espetou Sara. Sabe perfeitamente quem sou. Faça o de uma
vez!
—O que? —exclamou ele surpreso, uma perigosa tensão percorrendo o corpo.
—Acabe com o trabalho. De uma vez. Termine com minha miséria! —gritou.
—Escute, senhorita. Não… não sei ao que se refere. Eu disse que não lhe faria mal.
Ela desejou golpear com seus punhos aquele peito musculoso e tirar os demônios de ódio e
raiva que levava dentro tanto tempo, mas ele seguia mantendo-a cativa.
Sentiu um torvelinho de emoções quando o aroma masculino a rodeou. Merda, que bem
que cheirava. Uma delicada combinação de couro, sabão pungente e penetrante fumaça de
madeira.
Quase lançou uma gargalhada. O cara estava a ponto de assassiná-la e gostava de seu
aroma?
Estava totalmente louca!
—Por onde gostaria de começar? Um disparo nas costas? — espetou.— Aperte o gatilho,
venha — a histeria afinava a voz, mas não podia conter-se. Levava muito tempo esperando aquela
confrontação. — Ou possivelmente prefere um tiro limpo entre os olhos. Essa é sua especialidade,
verdade? Justo entre os olhos, para poder ver a dor uma fração de segundo antes que o cérebro
se espalhe contra as paredes.
Ele não respondeu. Seu quente fôlego chegou a seu rosto. Soltou-a um pouco, fazendo que
uma leve esperança surgisse em seu coração. Inspirou para controlar seu coração desbocado. E se
o assassino tinha consciência depois de tudo? E se podia lhe convencer de que não a matasse? E
de que se entregasse?
De repente, a sombra a soltou e o medo a atendeu, acelerando mais o pulso ainda quando
quão único viu foi o revólver que tinha na mão, seu único olho negro apontando-a. As esperanças
recém-nascidas morreram.
Ia disparar lhe!
Justo entre os olhos, mas não morreria tão facilmente.
Preparou-se para cravar as unhas onde não pegava o sol quando o estranho baixou a arma e
dirigiu a forte luz que entrava pela porta.

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—Tranqüila — sussurrou. — De verdade, não farei mal a você.


Durante um momento breve e doce o tempo se deteve e Sara olhou diretamente aos olhos
cor verde esmeralda mais maravilhosos que tinha visto em sua vida. E nesse momento lhe ocorreu
algo totalmente amalucado: por fim tinha encontrado a sua alma gêmea, o homem de seus
sonhos.
Mas algo o turvava. Uma dor insuportável. Não estava segura se tratava de dor física,
emocional ou espiritual, mas decididamente dava a impressão que estava passando pelo mesmo
inferno que ela tinha passado, e que tentava desesperadamente encontrar a saída.
Pensar que tinha algo em comum com aquele louco a tranqüilizou e abruptamente avaliou a
seu oponente, recolhendo toda a informação que poderia resultar útil.
Era um homem corpulento. Forte. Bem constituído. Uma gasta jaqueta de couro negro
manchada de barro cobria seus largos ombros. Uns ajustados jeans vestiam como uma luva a seus
quadris estreitos e musculosas pernas.
Parecia ter uma idade similar a dela. Uma barba inteira de mais de uma semana cobria a
maioria de seu pálido rosto como uma camuflagem escura e desalinhada. O resto estava cheio de
marcas roxas e arranhões.
Ficou olhando-o silenciosamente o sangue quase seco que procedia do matagal de cabelo de
sua têmpora, cobria-lhe o olho, um pouco inchado, jorrava pela arroxeada bochecha e desaparecia
no espesso arbusto de sua barba.
Mau, mau.
Como qualquer animal ferido, era extremamente perigoso. E imprevisível.
—Conhece-me? —a voz agora era tensa e áspera, e Sara se assustou.
Rapidamente retrocedeu daquela figura ameaçadora.
A bancada da cozinha cravou dolorosamente nas costas, fazendo-a deter-se. Alargou as
mãos trêmulas para trás, desesperada por agarrar-se à mesa porque temia que cedessem os
joelhos.
—Certamente que sim - disse, e tragou o amargo medo que ameaçava comendo as poucas
forças que ficavam.
—Quem sou? Como me chamou? —perguntou ele, com uma faísca de esperança nos olhos.
Brincava? Estava confuso? Louco?
Sua voz estava coberta de desespero e ela percebeu o medo que lhe dominava. A compaixão
foi mais forte que o medo, mas a controlou rapidamente quando viu o revólver que pendurava da
mão tremente.
Começou a maquinar planos imediatamente.
—Sei quem é — espetou enquanto seus dedos desesperados percorriam a bancada
procurando as facas de cozinha que guardava no bloco de madeira. Oxalá pudesse agarrar algum
deles. Usaria-o para tirar-lhe os olhos ou cravar-lhe no ouvido.
Seus dedos roçaram algo frio e peludo. O rato! Poderia atirar o rato. Surpreender e com isso
conseguir um segundo para sair correndo. Com um segundo bastava.
Tragou com força e fez um esforço por agarrar o animal morto. Mas a mão não respondeu.

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Continuou procurando desesperadamente atrás de si e rogou que a escuridão ocultasse sua busca.
—Dei-lhe sua descrição à polícia — mentiu.— Buscarão se me acontecer algo.
Ele retrocedeu horrorizado, com aspecto de desespero.
—Já lhe disse que não farei mal a você, só… — se deteve bruscamente e apertando a arma
contra seu peito se inclinou, emitindo uma tosse áspera e rouca. Sara voltou a sentir uma
momentânea compaixão por aquele homem.
Fazendo a um lado a compaixão, correu como um tiro pela porta aberta e saiu ao alpendre e
à fúria da tormenta. A chuva entrava por debaixo do telhado, cravando seus dedos gelados.
De repente, um raio se desenhou na escuridão do céu, fazendo-a deter-se em seco. Caiu
sobre a árvore do amor como se fosse um míssil na terra e fez uma explosão incrível.
Faíscas brancas saltaram em todas as direções fazendo-a conter a respiração. Por cima do
uivar do vento e o ruído da chuva, logo que ouviu o estalo da árvore que se rompia.
Subiu-lhe pelas costas um comichão que pôs os cabelos da nuca como ganchos. Girou a
cabeça violentamente para cima. Viu com horror que a enorme árvore se cambaleava. Logo se
inclinou precariamente e começou a cair. Dirigia-se a sua casa.
E para ela!
Ficou totalmente paralisada, hipnotizada pela imensidão da árvore. Seria aquela a forma em
que apresentaria a morte? Esmagada pela árvore do amor da Estalagem de Peppermint Creek?
Deus, como sentia falta do Jack. Sentia falta da forma em que ele tinha rido, a forma em que
havia sentido tão segura e amada em seus braços. Possivelmente fosse melhor assim.
Possivelmente…
Duas fortes mãos a agarraram pelos ombros e puxou ela para trás através da porta como se
fosse uma boneca de trapo, fazendo que caísse no chão da cozinha.
Logo ele a puxou em cima, gemendo quando caiu. Esmagando-a sob seu grande peso.
Naquele momento, a casa se sacudiu e ouviu-se um tremendo rangido. Ela gritou para ouvir
o cristal que fazia pedacinhos e a madeira que estilhaçava. Automaticamente fechou os olhos e
cobriu a cabeça com as mãos.
Tudo acabou em um segundo.
Seguiu-se um silêncio horripilante.
Quando abriu os olhos, estava rodeada de uma escuridão total.
A luz dos faróis de sua caminhonete tinha desaparecido e certamente a caminhonete
também. Com uma opressão no peito, deu-se conta de que seu único meio rápido de escape tinha
esfumaçado.
Ele rodou, apartando-se com um gemido.
Um relâmpago iluminou através das janelas e o viu sentado a seu lado. O lado direito do
rosto voltou a sangrar. Os lábios moviam. Estava-lhe falando. O coração pulsava tão forte a ela,
que logo pôde distinguir suas palavras.
—Encontra-se bem?
Sonhava? A teria degolado e agora se encontrava jogada no chão sangrando e perguntava se
se encontrava bem?

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—Deus santo! Está ferida? —a voz rouca parecia mais forte, mais insistente segundo o ruído
de seus ouvidos se acalmava.
Mentalmente percorreu seu corpo para ver se sentia alguma dor, mas não encontrou nada.
—Não… acredito que não.
—Está segura?
—Sim, sim disse, lutando contra as lágrimas que surgiram de repente pelo susto.
—Certamente que tem boa sorte. Venha, me deixe que a ajude a levantar; dentes brancos
reluziram quando ele sorriu à luz intermitente dos relâmpagos estendeu a mão.
Sara titubeou só um momento antes de deslizar sua mão na palma que ele estendia. Ele a
ajudou a levantar-se de um puxão.
Sem nenhuma advertência, deram-lhe os tremores. De repente, com toda sua força.
Cederam as pernas.
Alargando a mão para apoiar-se, agarrou-se com força do antebraço dele. Tinha uns
músculos fortes, enormes, firmes.
Apesar da fria e grossa jaqueta de couro, sentiu-os. Merda, que músculos tinha.
Algo quente e impetuoso despertou no profundo do ventre. Um desejo sexual que fazia
tempo que não sentia. Algo que pensou que não voltaria a sentir nunca.
Imagens explosivas passaram pela sua mente, imagens daquele homem perigoso abraçando
o corpo nu, beijando seu rosto e seus lábios, fodendo-a até deixá-la sem sentido.
Sacudiu a cabeça para desfazer-se daqueles pensamentos. Permitir que aqueles
maravilhosos sentimentos fluíssem por seu corpo estava mau. Muito mal.
—Ouça, tome-lhe com calma. Eu disse que não faria mal a você, seriamente. Tranqüila.
A forma suave em que a olhou fez que acreditasse… até ver o brilho metálico de algo que
pendurava do pulso.
Tentou ver o que era naquela escuridão e ficou tensa novamente. Um terrível
estremecimento percorreu a coluna.
Merda, o cara levava algemas! Voltou a sentir que a invadia a histeria.
Pelo amor de Deus, era um criminoso fugitivo!
—O que é o que deseja de mim? Por que está aqui?
—Necessito sua ajuda.
Estava totalmente louco aquele cara?
—Minha ajuda? De qualquer jeito? Aponta-me com uma arma, dá-me um susto de morte e
agora me pede ajuda? De maneira nenhuma! Já basta. Parto-me.
Passou correndo junto a ele pela porta aberta.
O fulgurar de um relâmpago iluminou os destroços que tinha causado a queda da árvore.
Deu-se conta instantaneamente de que não poderia passar, mas sim precisava voltar a
entrar na cozinha, passar junto a ele e sair pela porta traseira. E agora não queria voltar a entrar.
Voltar para ele.
O raio tinha partido o gigantesco disco como se o mesmo Deus tivesse pego uma tocha e
atravessada os céus com ela para cortar a árvore em duas metades perfeitas. Uma metade tinha

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caído sobre o estacionamento e sua caminhonete tinha ficado totalmente coberta de ramos e
folhas. A outra metade tinha esmagado as escadas, a rampa para deficientes, parte do corrimão
de madeira e um grande ramo acabou de romper o vidro da janela que já estava quebrada.
Todo isso no lugar exato onde momentos antes ela olhava com horror como a árvore caía
em cima.
De repente, a força do que acabava de acontecer a golpeou, penetrando suas alteradas
emoções.
Horror. Raiva. Finalmente, confusão. Se ele não a tivesse agarrado e atirado a um lado,
estaria morta.
Dar-se conta disso foi como receber um murro no estômago, que contraiu com violência.
Um suor frio cobriu a frente.
Inalou profundamente o fresco ar primaveril. Seus pulmões receberam com prazer o doce
aroma da madeira recém partida enquanto seguia olhando os restos do que uma vez fora a
formosa árvore do amor de Peppermint Creek, que parecia estender seus ramos para ela, lhe
pedindo socorro.
Deu-se conta que ela não seria quão única sentiria pena, porque a árvore, mostrava as
numerosas iniciais de toda a gente que vinha a ficar na Estalagem de Peppermint Creek.
Bebeu uma lágrima e sentiu que o coração pulsava feliz no peito. Um estranho
formigamento de excitação se fez presa de seu corpo frio e tremente. Uma risada surgiu de seus
trêmulos lábios quando lhe veio à mente um pensamento mais agradável.
Estava viva. Tinha enganado à morte. Sobrevivido outra tragédia. Com a mesma rapidez com
que tinha surgido, a risada morreu em sua garganta.
O estranho! Fazia uns momentos que a tinha ameaçado com uma arma. E logo a tinha
salvado a vida. Não era a sombra depois de tudo. A sombra a teria matado, ao menos isso era o
que ela imaginava.
Então, quem era? Que tipo de ajuda pretendia dela? Conteve as ardentes lágrimas e rodeou
o corpo trêmulo com os braços enquanto esperava que passassem os tremores. E rebuscou em
seu interior procurando a coragem que sabia que necessitaria para enfrentar-se novamente
aquele atraente desconhecido.

Capitulo 2

Fazendo uma careta pela dor que subia pelas costas e a impressionante dor que partia a
cabeça, deixou-se cair pesadamente na cadeira mais próxima.
Merda!
Não devia assustá-la daquela forma com o revólver. Teria bastado golpeando a porta e
entrar com a maior naturalidade possível.
Antes, ao ver a casa, quando começou pôs a chover, tinha procurado refúgio no balanço do

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alpendre. Dormiu, ou melhor dizendo, desacordado. Tinha dormido profundamente, muito


profundo, alheio totalmente à água que caía no telhado do alpendre.
Finalmente um ruído tinha penetrado as tranqüilizadoras capas de sonho e despertou-se e
viu os longínquos faróis que aproximavam na chuva. Temendo que a polícia tivesse encontrado,
rapidamente tinha deslocado a esconder-se no lado da casa. Logo tinha visto a bonita mulher
sentada atrás do volante da caminhonete.
Deu-lhe a sensação de que a observava durante uma eternidade, hipnotizado por sua beleza
natural. Seus instintos disseram que a tinha visto antes. Em algum lugar.
Mas, onde? Quando?
Não podia recordar nada anterior desde a noite passada.
Resultava um mistério que não invadisse o pânico ao não recordar nada, mas por algum
motivo, sentia que possivelmente fosse melhor que não recordasse de seu passado.
O que sim recordava era que a mulher desceu da caminhonete e a forma fantástica em que
o vento levantou o comprido cabelo cor mogno ao redor do rosto de forma de coração. À luz dos
relâmpagos parecia uma deusa saindo do céu para buscar-lhe e quase tinha saído a seu encontro,
mas a silenciosa advertência de que tivesse muito cuidado o deteve em seco. Evitando correr
riscos, tirou a arma e a seguiu.
Quando a viu pendurar o telefone com uma careta de fúria no rosto, desejou agarrá-la em
seus braços, acalmá-la, beijá-la até fazê-la esquecer o aborrecimento, mas logo o viu a soleira e o
pânico se refletiu em seus olhos. Deu-se conta que ela estava a ponto de gritar, de sair correndo, e
a tinha detido, capturando seu maravilhoso e doce corpo com aroma de hortelã. Havia-se sentido
hipnotizado por aqueles olhos faiscantes e entretanto foi a curva sedutora de seus lábios de rosa o
que o enviou um golpe de ânsia primitiva diretamente a seu membro, produzindo desejos de
afundar seus dedos naquela cascata de sedoso cabelo e beijá-la até que lhe rogasse mais. Quase o
tinha feito, mas graças a Deus ganhou o autocontrole, como um idiota deixou que escapasse e
permitido que quase a matasse aquela maldita árvore.
Quando caiu o raio, foi como se o tempo houvesse literalmente detido. Logo a árvore
começou a cair para eles e ele ficou totalmente paralisado de medo. Não por sua segurança, mas
sim pela dela.
Felizmente algo o havia feito reagir e sentiu como se dirigia para ela.
Tinha desejado chiar. Gritar-lhe que se movesse. Mas as palavras tinham permanecido em
sua garganta paralisada.
Ela tinha ficado ali, rígida contra o corrimão. Hipnotizada pelo tronco que se aproximava
girando em espiral. Como se tivesse estado esperando que chegasse a morte.
O que ela havia dito antes de surgiu na escuridão da mente como uma nuvem escura.
Termine com minha miséria, havia dito ela. Tinha estado de verdade esperando que as garras da
morte a levassem?
Tinha-a agarrado com violência. Com muita violência, merda. Mas tinha tanto medo, que a
tinha afastado das feias garras da morte. Pondo-a em segurança. E, o melhor de tudo, para sua
vida.

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—Obrigado.
O som da suave voz feminina o fez dar um salto. O inesperado movimento fez que um raio
de terrível dor percorresse as costas. Praguejou. Não a tinha ouvido voltar, embora por algum
motivo soubesse que o faria.
Ela se encontrava na soleira. O vento enredava as mechas de cor mogno. A curta jaqueta de
esqui não era suficiente casaco contra aquela tormenta.
—Obrigado por quê? Perguntou-lhe arqueando uma sobrancelha ironicamente.
—Por me salvar a vida! Disse ela, subitamente zangada, como se sentisse surpreendida de
que ele se esqueceu já o que havia feito por ela.
—Foi um prazer.
—Seriamente? — espetou ela.
A voz dela estava arrepiada como um porco espinho, mas ainda tinha fresco a lembrança das
suaves e cálidas curva de seu corpo debaixo do dele no chão da cozinha. O intenso fogo que o
atravessou enquanto a cobria fez que seus ovos e seu pau se pusessem dolorosamente rígidos
contra a prisão de seu jeans.
A intermitente luz dos relâmpagos permitiu vê-la entrar cautelosamente. Ela olhou ao redor,
como se procurasse algo.
—A arma está ali — disse ele, fazendo uma cabeçada para a pistola que se encontrava nas
sombras onde ele a tinha deixado cair ao correr atrás dela.
—Não a necessita mais?
—Não. Fique com ela.
Lançou-lhe um olhar de curiosidade como se não acreditasse na sua imensa sorte. Fez-lhe
pensar que era um menino que se aproxima sigilosamente ao pote das bolachas e que ele era o
mau que ia fazer uma má jogada, trocando de opinião em qualquer momento e arrancando o
tesouro das mãos. Mas não era um menino. Longe disso. Era uma mulher. E seu corpo o indicava
nos lugares precisos.
Tentou concentrar-se nas pernas dela quando se agachou com graça para agarrar a arma.
Pôde ver seus quadris cheio e bem formadas e seu traseiro maravilhosamente redondo. Deus, não
lhe importaria colocar seu pau até o fundo por detrás em sua vagina quente e úmido. Cravar-lhe
uma e outra vez, ouvir suas exclamações de prazer enquanto a fodia toda a noite.
Apoiando-se cansado contra a cadeira lhe causou prazer ver a careta de satisfação que
esboçaram os formosos lábios dela, como se ela fosse o gato e ele o rato indefeso. Logo contraiu
um pouco o estômago quando ela elevou a arma em suas mãos trêmulas e apontou a seu rosto.
A pistola estava descarregada, mas ela não sabia. Pensar em que ela apertaria o gatilho o
desencantou um pouco. O que tinha pretendido? Que o abraçasse por lhe salvar a vida, apesar do
que havia feito passar?
Sentiu-se enjoado, feito pó. As poucas forças que ficavam tinha usado para lhe salvar a vida.
Sentiu que se fechavam as pálpebras, como se fossem incrivelmente pesados.
A cabeça caiu sobre os ombros.
Tinha acabado o tempo. E lhe dava igual.

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Ela falava. Tentou concentrar-se no que dizia. Tentou-o seriamente, mas ouvia a voz dela de
longe.
O perfume de hortelã dela envolveu seu corpo febril, lhe excitando, lhe persuadindo a que
se movesse. A estirar-se e beijá-la, mas estava totalmente feito pó.
Os frescos dedos femininos percorreram a frente ardorosa.
—Venha, desperte. Abra os olhos, merda. Não vá fazer a tolice de morrer aqui, homem.
Ele levantou as pesadas pálpebras e o formoso rosto que dançou frente aos olhos entre uma
névoa negra. Franzia a sobrancelha em uma expressão de preocupação.
Estava preocupada com ele? Invadiu-lhe uma cálida sensação que gostou realmente.
—Onde está seu carro? Está perto?
—Carro, não. Vim caminhando — conseguiu gemer.
—O que? Como?
—A pé.
Ela ficou de pé olhando como se estivesse louco. Ele começou a pensar que possivelmente
estivesse. Por que ia ter à polícia o perseguindo, uma pistola vazia em sua posse e uma mulher
formosa o olhando como se estivesse louco?
—Vale. O primeiro que temos que fazer é o colocar na cama.
—Só se for comigo para me manter quente.
Fez uma careta quando uma chama se acendeu frente a seus olhos. Durante um segundo
pensou que se equivocou com a arma, que estava carregada. Pensou que tinha disparado como
resposta a seu comentário. Até que o desagradável aroma de enxofre chegou ao nariz. Só tinha
aceso um fósforo.
—Estou segura de que seu senso de humor lhe vai manter bem quentinho.
Ai, tentou dizer ele, mas as palavras não lhe saíam.
A chama amarela separou-se de seus olhos rapidamente e se uniu a outra mais longe. Uma
vela.
Fechou os olhos e seu estômago relaxou. Ficou transposto, mas sentiu em seguida que ela o
puxava.
—Venha, desperte. Jogue os braços ao meu pescoço.
Em qualquer outro momento teria dado um banquete com aquela sugestão, mas estava
muito cansado, assim fez o que lhe pedia.
Sara sentiu seus quentes dedos que aferravam aos ombros. A forte fragrância masculina
alagou seus sentidos e acendeu um lento fogo que a percorreu novamente.
Enquanto se dirigiam cambaleando pelo frio corredor, ao sentir apoiar-se pesadamente nela,
Sara se deu conta de quão débil ele se achava. Resultaria impossível subir a uma das habitações de
cima e nem pensar no sofá do salão; o ar gelado entrava pela janela quebrada da cozinha. O
melhor seria levá-lo a seu dormitório na parte traseira da casa, que tinha chaminé.
Quando chegaram a sua habitação ele estava tremendo. Segurando com uma mão, colocou
a vela na mesinha junto à cama e rapidamente abriu o edredom de plumas.
Um momento depois, meteu-lhe na cama. A cabeça dele se afundou imediatamente na

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suavidade dos travesseiros femininos e apertou as pálpebras com força, como se fosse preso da
dor.
Não demorou nada em acender dois abajures de azeite que estenderam sua dourada luz
sobre a cabeceira esculpida à mão da cama que agasalhava a seu fugitivo; um alegre fogo
chispando na chaminé.
—Certamente que não é o mesmo acolher a um gatinho perdido que a uma pessoa. O que
vou fazer com você, senhor? —disse-se, olhando ao homem que dormia.
Delicadamente agarrou uma de suas grandes mãos entre as dela e fez uma careta de dor ao
ver que estavam inchadas por uma enorme quantidade de pequenas lascas que tinha cravadas nos
dedos e as palmas calosas.
Tinha-lhe salvado a vida com aquelas mãos feridas? O que tinha acontecido? Onde tinha
pegado aquelas lascas? E as marcas roxas de seu rosto? E as algemas que levava postas?
Tinha um pulso machucado e cheio de desagradáveis arranhões vermelhos onde as algemas
tinham pegado. O outro pulso estava igual. O alarme contraiu seu estômago. Para que um
prisioneiro tivesse aqueles grilhões, ali tinha que haver algo estranho.
Quando tocou o pescoço, a pele dele se achava fresca e ligeiramente úmida. Comoção.
Necessitava que esquentasse rapidamente. Baixou o zíper da jaqueta de couro e viu que debaixo
ele tinha a roupa molhada. Rapidamente pôs o edredom de plumas em uma cadeira junto ao fogo
para que se esquentasse.
Deslizou as mãos pelos largos ombros que agora sacudiam tremores, apalpando seus
músculos com a habilidade adquirida em numerosas classes de primeiros socorros. Percorreu o
robusto peito, as costelas e por debaixo de seu corpo, ao longo da coluna, procurando ossos
quebrados ou sangue e desfrutando de uma vez com a sensação da pele masculina na gemas de
seus dedos.
Não passou por cima o grande vulto entre as pernas masculinas que empurrava
ansiosamente os ajustados jeans.
Bem, ao menos isso parecia que funcionava perfeitamente!
Caramba, que calor começava a fazer ali. Tirou a jaqueta de esqui, atirou-a a um lado e
seguiu o explorando o nascimento das costas.
De repente, ele gemeu e ela sentiu a cálida umidade.
Sangue.
Merda!
Puxando as mangas da jaqueta de couro conseguiu tirar e a jogou sobre uma cadeira
próxima. Logo levantou o molhado pulôver de lã negra, a camisa empapada e a camiseta que
alguma vez foi branca. Com a maior delicadeza possível a fez subir pelo lado.
—OH, Meu Deus — sussurrou, tentando não fazer caso aos horríveis calafrios que
percorreram a coluna quando viu o buraco da ferida que ele tinha nas costas.
Não coube nenhuma dúvida. Soube imediatamente o que a tinha causado.
Um disparo.

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Uma hora mais tarde, com a tormenta aumentando fora, Sara deixou cair a bala
ensangüentada no prato das Cataratas do Niágara que tinha comprado durante sua lua de mel.
Depois de ter tirado a puxões a roupa daquele corpo machucado e ferido, tinha fervido água
e procurada todo o necessário para extrair o projétil. A ferida não era muito profunda. Por sorte,
segundo o que ela tinha podido apreciar, a bala não tinha afetado nenhuma parte vital, já que se
tinha alojado no músculo. Entretanto, tinha perdido muito sangue, o que justificava sua condição
debilitada.
Rapidamente aplicou à ferida um cataplasma de anti-séptico a base de hortelã que ela
mesma fazia e o enfaixou.
O estranho se moveu ligeiramente quando Sara apalpou brandamente o galo que tinha na
têmpora. Alguém o tinha golpeado. Com força. Com muita força.
Lançando um profundo suspiro, o cansado olhar feminino percorreu a cama de pinheiro. Seu
marido a tinha fabricado e certamente que havia feito um magnífico trabalho, disse-se.
Lentamente, alargou a mão e passou com carinho a mão pela suavidade da cabeceira. Tinha
desfrutado vendo como Jack, com os braços cobertos de serragem, escovava a madeira
perfumada. Seus braços se moveram ritmicamente até que os nós apareciam brilhantes, como
gemas acabadas de lustrar. O suor cobria a frente e os músculos que se contraíam orgulhosos em
seus braços. A cauda seca aparecia por onde tinha unido as juntas da madeira, apesar do muito
que tinha passado a lixa.
O único que ficava de seu marido era seus móveis feitos à mão e as lembranças. Lembranças
de dias de muito trabalho e alguns de diversão. Nunca lhes ocorreu pensar nas tragédias que
poderiam ter acontecido. Nunca se deram conta do pouco tempo que ficava.

Durante toda a noite e o dia seguinte o corpo do desconhecido, que permanecia


inconsciente, ardeu de febre. Sara se ocupou de banhá-lo com água fresca de hortelã. De tanto em
tanto vigiava ansiosamente se tinham arrumado as linhas telefônicas.
Não.
Mas algo bom tinha resultado que aquele homem irrompesse em sua vida. Estava alegre.
Tão excitada e alegre que se esqueceu do que se sentia sendo uma mulher. Cada vez que retirava
os lençóis daquele corpo maravilhoso e ferido e o havia tocado a pele ardente, deram-lhe desejos
de subir em cima dele e permitir que seu semi ereto pau deslizasse dentro.
Fazia tempo que não se sentia assim de excitada… pois, nunca. Nem sequer com seu marido.
Com ele tinha sido um tipo de amor doce, uma relação de carinho entre duas pessoas que
queriam envelhecer juntas.
A vida com Jack tinha sido… bonita.
Mas com apenas olhar o corpo firme daquele tipo, com seus braços musculosos e o maior
pau que tinha tido o prazer de ver em sua vida a fazia sentir… amalucada, cheia de vida,
totalmente carnal. Produzia-lhe desejos de o tocar… ali abaixo.
Fazendo uma profunda inspiração, afundou os dedos no refrescante ungüento de hortelã
que usava como tratamento para as abrasões do corpo do desconhecido. A maioria de seus

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machucados e cortes era em seu firme abdômen e seu peito, seu magnífico e largo peito
recoberto com suave pêlo encaracolado que não pôde evitar acariciar.
Sentiu o pulsar do coração dele abaixo de suas mãos enquanto massageava o ungüento nos
duros músculos. Sentiu os mamilos masculinos ficarem rígidos sob suas palmas. Sentiu a forma
descontrolada em que a respiração masculina se acelerou quando o tocava.
Pela extremidade do olho notou o movimento entre as pernas dele.
Conteve a respiração, excitada, quando o enorme pau respondeu. Com as grandes veias
cheias, o pau pulsou entusiasmado e a gigantesca cabeça cor púrpura com forma de cogumelo
emergiu de sua capa, tal como o havia feito todas as outras vezes que lubrificou o peito com o
ungüento enquanto ele permanecia inconsciente.
Algo quente e grosseiramente formoso se desenroscou no profundo de seu ventre enquanto
olhava como aumentava sua ereção. Fazia um montão de tempo que não estava com um homem.
Nem sequer tinha tido desejos de estar com um desde aquela horrível tormenta fazia já mais de
dois anos.
Nem sequer o fino vibrador que tinha comprado fazia sete meses tinha conseguido tirá-la de
sua estancada e inexistente vida sexual. Tinha-o usado umas poucas vezes tentando recuperar o
suave desejo que tinha sentido com seu marido. Frustrada, tinha abandonado convencida de que
isso de sexo não era o seu.
Pois estava claro que o era.
Deram-lhe os calores quando viu que os ovos dele se inchavam, o pau se punha duro e na
pequena fresta brilhava a umidade.
Lançou um olhar ao rosto do desconhecido e viu que tinha os lábios cheios entreabertos sob
a incipiente barba enquanto dormia. Tinha os olhos fechados e sua respiração parecia lenta e
profunda.
Ao massagear os robustos músculos com o ungüento, seus dedos formigaram de desejo de
tocar aquele pau tão duro. Morria por rodear aquela suave pele e sentir as grossas veias contra
sua mão. Colocar o rígido pau em sua solitária boceta e sentir os palpitantes jorros de seu quente
esperma encher seu ventre vazio.
Aquilo era o que mais sentia falta do sexo, a sensação do pau de um homem lançando sua
fonte de vida dentro dela, a esperança de ficar grávida, de ter um bebê, uma família a que amar.
Levantou os dedos cobertos de nata do peito dele e rodeou a grossa base de seu largo pau.
Sacudiu-se contra seus dedos.
Deteve-se um momento o coração ao pensar que ele poderia despertar e encontrá-la
fazendo algo que não devia estar fazendo. Mas não pôde evitá-lo. Nunca tinha visto um pênis tão
grande.
Felizmente, ele não despertou.
Contendo seus nervos, acariciou o suave pau palpitante. O tocar daquela forma tão íntima
produziu um súbito desejo que a fez mais atrevida ainda.
Mais alegre.
A ardente nata molhou a roupa interior enquanto acariciava a longitude de seu cheio pau.

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Era muito maior que o do Jack, e ele era o único homem com o que se deitou em sua vida.
O pau pôs se mais duro e mais grosso, e o ventre dela respondeu com um desejo feroz. O
frustrado ardor que percorria a vagina a fez gemer. Fê-la desejar deitar-se com ele.
Deitar-se com ele enquanto dormia?
Como se percebesse a direção que tomavam os pensamentos femininos, ele gemeu
eroticamente e rapidamente soltou o pau, que ficou erguido. Sara se ruborizou ao encontrar-se
olhando o rosto para ver se ele se deu conta de quão duro se tinha posto.
Não a olhava, dormia. Só que esta vez um leve sorriso formava nos lábios que agora tinha
fechados. O coração pulsou alarmado ao perguntar-se se possivelmente ele deu-se conta de que
tinha estado brincando com seu pau.
Deus, esperava que ele não tivesse estado simulando que dormia. Não tinha nem idéia de
como lhe explicar por que seus dedos rodeavam sua enorme ereção enquanto ele jazia indefeso
na cama. Não sabia como reagiria ele ante aquela invasão íntima. Por isso sabia, possivelmente a
agarrasse, atirasse-a sobre a cama e a foderia de maneira brutal para poder aliviar o que lhe tinha
causado.
A verdade é que não importaria que aquele desconhecido tão sexy a fodesse, algo que
acalmasse a excitação que a fazia arder de desejo.
Seu olhar posou- se sobre a algema que rodeava o seu pulso e sua excitação se abateu um
pouco. Um homem com algemas não significava mais que problemas. Queria dizer que havia feito
algo mau e pelo que ela sabia, poderia ser um violador louco ou um assassino.
Tinha que manter as mãos separadas dele. Tinha que começar a pensar o que faria com ele
se não arrumavam a linha telefônica logo.
Mas primeiro de tudo, tinha que ter uma larga sessão com seu vibrador.

Uma semana mais tarde, Sara tomou seu primeiro descanso livre de preocupações. Sentia-se
como um dos mortos vivos quando passou junto aos retorcidos ramos da árvore do amor que
tinha caído sobre seu terraço e o parte dianteira. Ao final do alpendre, apoiou-se cansada no
corrimão de madeira e inspirou o suave ar do entardecer.
O estranho a tinha mantido afastada de seu vibrador, já que a febre tinha subido, fazendo
que ele balbucia-se incoerências sobre policiais tentando lhe matar. Ela tinha alternado os banhos
com água fresca de hortelã com o truque secreto de seu marido para tirar as algemas.
Finalmente a febre tinha baixado, as algemas soltaram, as feridas pareciam secar-se e por
muito que tentasse não prestar atenção, Sara tinha começado a acreditar nas histórias
inverossímeis que ele resmungava enquanto dormia.
Sussurros sobre venda de droga, perseguições com armas e, o que era pior, subornos a
oficiais de polícia. Suas confissões enfebrecidas causaram não poucas perguntas a Sara, perguntas
que a penduravam do pescoço como o nó de um enforcado, ameaçando lhe partir a cabeça.
Mordendo o lábio, levou-se um dedo à têmpora. Pelo que havia dito em seu delírio, dava-lhe
a sensação de que era um criminoso metido até o pescoço em atividades ilegais.
Colocou a mão no bolso da bata e tirou a enrugada nota que tinha encontrado na calça de

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couro. O nome dela e o da estalagem se achavam escritos no papel. Quem o mandaria ali? E por
quê?
O que aquele homem necessitava de verdade era um advogado criminalista. Seu sogro era,
mas agora vivia na cidade de Nova Iorque.
Meneou a cabeça frustrada e olhou as águas negras de Peppermint Creek que passava
rugindo pelo meio do prado. O curso de água, normalmente tranqüilo, tinha multiplicado por três
seu tamanho normal durante o de gelo da primavera; retorcendo-se como uma serpente fora de
controle, arrasava com tudo o que encontrava a seu passo.
Partes de gelo cinza passavam flutuando e ficavam às vezes entupidos nas margens para ser
liberados logo por algum outro resto que arrastavam as águas. Alguns saíam do leito e iam morrer
na ribeira, derretendo-se lentamente.
Ao chegar à casa a outra noite tinha conseguido atravessar rapidamente a ponte dos beijos a
uma milha dali, o único modo de entrar e sair de sua propriedade, mas sabia que já estaria
alagado pelas rápidas e geladas águas. Acontecia todas as primaveras. Com um pouco de sorte,
dentro de uns dias resultaria seguro cruzar, mas antes então seria um suicídio tentar atravessá-lo.
A não ser que pudesse encontrar alguma forma de subir por suas paredes de tábuas de madeira,
subir ao íngreme coberto e descer pelo outro lado. Depois disso, teria outra caminhada de uma
milha pelo caminho até chegar à auto-estrada onde poderia deter alguém para que a levasse ao
povo em busca de ajuda.
Mas embora o desconhecido estivesse bastante bem para ficar sozinho, ela estava muito
cansada para tentá-lo. Estava totalmente esgotada, da ponta dos dedos dos pés até o último fio da
cabeça, que partia de dor.
A chamada da doce e cálida primavera fez que se perdesse nos relaxantes sons da noite que
aproximava. O longínquo grito de um pássaro solitário, o ulular distante de uma coruja cinza e
para sua delícia, o ocasional coaxar das rãs do lago próximo que despertavam de sua larga sesta
invernal.
Uma formação de gansos do Canadá passou por cima de sua cabeça, roçando as taças das
árvores e tagarelando trabalhados em excesso enquanto se dirigiam ao norte e tentavam decidir
onde descansar suas cansadas asas e passar a noite.
As sombras se fizeram mais escuras, cobrindo de névoa os restos carbonizados de sua
estalagem em ruínas e as pequenas cabanas que se agrupavam no bosque próximo. Sara suspirou
e sorriu com melancolia ao recordar a primeira vez que tinha visto o grupo desolado das duas
dúzias de cabanas de madeira entre os enormes pinheiros. E a fantasmagórica aparição da enorme
casa de troncos deserta, presidindo o prado coberto de flores.
Um olhar ao rosto sério do Jack, outra às expressões de horror de seus sogros e finalmente à
dúvida refletida no rosto de sua irmã Jo fazia que Sara mexesse as costas, arregaçasse as mangas e
dissesse a eles que havia muito que fazer e que seria melhor que não perdessem mais o tempo.
Não tinha resultado fácil fazer tudo em um ano. Utilizando os gigantescos troncos de sua
propriedade, aquele verão tinham levantado com a ajuda dos artesãos locais uma estalagem de
dois andares com sessenta habitações. Tinha posto um telhado novo de metal e sólidas janelas

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novas à cabana de troncos, reparado as desmanteladas cabanas durante o outono e mobiliado


tudo durante o verão. O ano seguinte tinham aberto as portas para começar a funcionar.
O negócio tinha ido bem, com uma lista de espera de menos um ano. Estavam pensando em
expandir-se quando…
Não pense nisso, Sara. Não caia nisso novamente.
Sara se estremeceu quando a brisa primaveril roçou os braços nus e atravessou a bata e o
pijama de algodão. Estava-se fazendo tarde. Tinha que dormir um pouco, ao menos um par de
horas ou o desconhecido teria que cuidar dela em vez dela a ele.
Meteu-se a nota no bolso e nesse momento ouviu o grito estrangulado que procedia da
casa. Lançou um suspiro de cansaço. Outro pesadelo.
Rapidamente se meteu na casa.
No prado próximo, Sara não viu a chama de um fósforo nem o brilho de um cigarro que se
afastava lentamente da linha de árvores a umas centenas de metros dali. Se o tivesse feito,
provavelmente teria pensado que se tratava de algum vaga-lume.
Não viu a alta figura que saía aos tropicões para prado para deter-se e observar a casa
durante uns compridos cinco minutos. E não ouviu a sombra lançar uma silenciosa praga para si,
nem viu jogar a bituca ao estacionamento e afastar-se zangada pelo caminho cheio de buracos. Se
o tivesse feito, teria se dado conta de que seus problemas não haviam de fato mais que
começado.

Capitulo 3

Uma ferroada na bochecha, acompanhado de uma seca ordem de que abrisse os olhos
atravessou a escura névoa que obliterado os sentidos. A intensa sensação de correr para salvar
sua vida correu pelas suas veias, despertando com um sobressalto.
Durante um momento se sentiu ligeiramente enjoado enquanto cinzas fragmentos de cor se
esconderam em sua nebulosa mente. Visões imprecisas de mãos suaves que banhavam o corpo
ardente. Ou quentes dedos femininos que lhe acariciavam a pau rígido.
—Tranqüilo.
Era sua voz, suave e rouca. O envolvendo, lhe andando.
Abriu os olhos de repente e viu um tênue abajur de azeite na parede próxima. Emitia
suficiente luz para ver o bonito rosto de forma de coração emoldurado em cabelo mogno que caía
em sedutores cachos sedosos até a cintura. As olheiras que rodeavam os fascinantes olhos
castanhos não apagavam o trêmulo sorriso que lhe lançou.
Olhou-a com curiosidade. Sorria-lhe? Depois de que ele entrasse a força, ameaçasse-a com
um revólver, e…?
Tinha-lhe salvado a vida.
Tinha sido um sonho? Impossível.

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Recordava cada um dos detalhes, cada deliciosa curva do suave corpo dela sob o seu quando
ele se atirou em cima rogando que a árvore não caísse sobre o telhado da casa. Minutos mais
tarde havia lhe trazido ali e ele desmaiou .
Despertou de tudo. Com um sobressalto se deu conta das conseqüências do que lhe tinha
feito.
Apontar com uma arma tinha sido um comportamento inadmissível. Que imbecil.
—Bem-vindo. Como se sente? —disse ela, com voz quase alegre. Ou era uma mulher que
perdoava fácil ou era amável com ele porque se encontrava em seu leito de morte. E pela forma
em que se sentia, era decididamente o segundo.
Tinha a boca pastosa, não podia formular as palavras.
—Sinto-me como a m… quebrou-lhe a voz e não pôde prosseguir.
—Como a maravilha que é, verdade?
Isso não era precisamente o que queria dizer, mas por agora valia.
O sorriso dela se ampliou.
—Para te tranqüilizar, direi-te que a febre cedeu e que leva um par de horas sem tossir.
Tinha medo de que tivesse pneumonia, mas acredito que posso dizer com certeza que superaste o
pior. Que tal algo para beber? Acredita que pode fazê-lo?
Ele umedeceu os lábios ressecados e tentou assentir, mas a dor que partia a cabeça
aumentou com o rápido movimento. Assim simplesmente lhe dirigiu um olhar suplicante.
—Volto em seguida — disse ela.
Observou os tentadores quadris femininos menear-se deliciosamente quando ela partiu. O
pulso acelerou, por não mencionar o pau, que se pôs dolorosamente rígido. Ao menos seus
instintos básicos permaneciam intactos.
Seu instinto de sobrevivência também funcionava bem. Sem necessidade de mover a cabeça
percorreu com a vista a habitação rústica e acolhedora e em um segundo descobriu a via de
escapamento mais rápida. Uma janela com uma cortina de renda, que se abria ligeiramente para a
noite escura. Perfeito.
E a arma? O olhar percorreu a enorme chaminé de pedra, por cima da qual pendurava um
velho mosquete. Muito antigo, provavelmente carregava munições em vez de balas. Sobre a
prateleira de pedra, um punhado de interessantes bules antigos nos que tinham arrumado alegres
Ramos de flores secas. Surpreendeu-se quando se deu conta de que reconhecia algumas delas.
Peônias cor rosa, Artemisa perene, trevo rosa, candela e manjerona. A que mais gostou foi
uma cesta de vime cheia de pequenas rosas delicadamente intercaladas com musgo.
Os velhos bules lhe fizeram pensar em vaqueiros, café recém feito em um fogo ao ar livre e
largas jornadas poeirentas levando gado. Seu passado? Ou alguma série de vaqueiros que tinha
visto na televisão? Tentou pensar, mas sua mente seguia confusa. Retalhos de lembranças,
imagens que não tinham nenhum sentido.
Tentando controlar o pânico nascente ao dar-se conta de que seguia com amnésia, seguiu
procurando uma arma. De repente, viu-a e sorriu apesar de seu rosto machucado. Uma mulher só
tinha que ter mais cuidado, pensou, quando seu olhar se deteve na reluzente folha de vinte

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centímetros de uma faca para carnes na mesinha de noite. Estava claro que com a pressa de
buscar a bebida tinha esquecido de levar a arma com ela.
Com uma faca à mão, estava claro que não tinha chamado à polícia. E se o tivesse feito, os
dois tiras estariam esfriando-se no necrotério local. Não sabia como mas sabia, que era assim.
Satisfeito de estar em boas mãos ao menos por uns momentos, relaxou na deliciosa
suavidade do travesseiro, onde o recebeu um doce aroma. Estava em todos os lados: os
travesseiros, o edredom, os lençóis, até ele cheirava assim.
Ficou olhando fixamente as madeiras verde pálido do teto, logo ao bonito papel cor verde
musgo com pequenas flores rosadas, algo com tal de resistir à deliciosa fragrância.
Mas era inútil negar o doce aroma, e deixou que lhe invadisse em ondas refrescantes,
calmas, permitindo que fosse parte dele.
Hortelã.
Doce infusão de hortelã.
Tenros fragmentos de lembranças titilaram delicadamente no cérebro.

Bastões de hortelã.
Retos como soldados vestidos com uniformes verde e brancos. Apinhados em um dos frascos
de cristal maior que tinha visto em sua vida.
Com os olhos exagerados pela espera e com toda a delicadeza que podia ter um menino de
nove anos, levantou a tampa de cristal do frasco. A boca fazendo água tirou uma pegajosa
bengala de hortelã. Antes de voltar a pôr a tampa, lançou-lhe um olhar de súplica a sua mãe, que
se achava ante o balcão, conversando com o senhor Lapp, o dono da loja. Sua mãe lançou um
severo olhar e ele abandonou a idéia de agarrar dois.
Às vezes, quando ela estava de bom humor, permitia fazê-lo. Mas hoje não estava contente,
notava no cenho franzido. Fragmentos da conversação chegaram a seus jovens ouvidos.
—Muito obrigado por nos estender o crédito, senhor Lapp, estamos muito agradecidos.
O senhor Lapp, o amável Amish que levava a loja, sorriu a sua mãe e lhe deu uns tapinhas na
mão, consolando-a.
—Todos os granjeiros da zona sofreram os efeitos do granizo. Não é a única, já?
Gostava da forma em que o senhor Lapp olhava a sua mãe. Todos a olhavam da forma. Era
porque era tão bonita. Seus faiscantes olhos riam e tinham a mesma cor do trigo dourado que
rodeava sua granja durante a época da colheita.
Tinha o cabelo longo Mais longo que o das mães de seus amigos. Sentia-se super orgulhoso
quando todos seus amigos comentavam como o cabelo dela brilhava quase azul ao sol e mais
negro que o carvão os dias nublados. Às vezes lhe deixava penteá-la. Quando estava de bom
humor. Mas não, hoje não o estava.
Pôs a tampa ao frasco rapidamente e meteu a ponta da bengala na boca. A fresca doçura
explodiu contra suas papilas gustativas e novamente se sentiu no céu.

A lembrança se fundiu nos profundos cantos do abismo negro. E sua dor de cabeça voltou

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com vontade, fazendo ficar tenso. Fez uma profunda inspiração.


A dor atravessou o lado direito de suas costas e chegou ao ventre. Outra lembrança saltou
do negro vazio como petróleo que sai de um poço.
Era de noite. Corria por um prado. De repente, por detrás dele, um policial gritou: "Pare ou
disparo!". Sua voz lhe pareceu longínqua. Correria o risco. Seguiu correndo.
Um ferro candente o cravou nas costas, seguido pelo áspero som de um disparo. Cambaleou-
se pela força do impacto, mas seguiu correndo. Penetrou as árvores próximas. Os ramos
quebraram sob seus pés. Ramos maiores golpearam o rosto. Os pulmões ardiam. A ferida de bala
de suas costas exigia atenção, mas ele seguiu correndo, lançando-se de cabeça de noite.

Uma ferida de bala!


Sua mão direita deslizou por debaixo dos cobertores e tocou com os dedos a cálida pele até
que tocou um esparadrapo que cobria uma zona que palpitava no nascimento de suas costas.
Sim, estava claro que lhe tinham disparado.
Retirou a mão, levando-a diante, e roçou o pênis, semi ereto.
Seu pau nu!
Sentiu que se ruborizava.
Que caralho…?
Levantou as mantas e se olhou com curiosidade. Exceto por umas vendagens amarela pálida
de linho que lhe rodeavam a cintura, os pulsos e as palmas, não havia nenhuma dúvida de que se
encontrava totalmente nu, e seu pau palpitante levantava os cobertores.
Surgiram em sua mente nas difusas lembranças da mulher lhe tocando o pau intimamente.
Seu pau pulsou mais forte, pôs-se mais dura. Os ovos incharam dolorosamente. Outras visões
apareceram na mente. Lembranças de um urinol e também do brilhante cabelo feminino cor
mogno fazendo cócegas no peito quando se inclinava sobre ele, o rosto concentrado pela decisão
com que soltou as algemas.
Demônios, as algemas!
Uma considerável parte de medo soltou dentro, caindo como um iceberg contra seu peito
quando a realidade levantou novamente sua feia cabeça. Enquanto ele estava descansando
prazerosamente naquela cômoda cama, atendido por uma mulher preciosa, a tormenta de fora
tinha acabado.
Voltariam a seguir lhe caçando.
Logo alguém apareceria farejando. E quando o encontrassem…
Deu-se um susto de morte quando a mulher entrou na habitação com uma bandeja cheia.
Lançou-lhe um olhar de preocupação quando cruzava a estadia para ele. Deu-se conta de que ao
pôr a bandeja sobre uma mesinha ela lançou um olhar por cima do ombro para ver se estava a
faca de cozinha.
Não a culpava por ser cuidadosa. Qualquer mulher que vivesse tão isolada se sentiria
nervosa. Por isso os dois sabiam, ele poderia ser um lunático perigoso de uma instituição mental
para criminosos loucos, ou, Deus não o quisesse, pela forma em que seu pau crescia e pulsava tão

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dolorosamente ao vê-la, possivelmente fosse um violador em série que se aproveitava das


mulheres indefesas.
Mas ela não parecia indefesa absolutamente. Terei que ser um pioneiro de uma raça muito
especial para poder suportar a solidão de um lugar tão isolado como aquele.
A menos que não estivesse sozinha? O olhar masculino se dirigiu rapidamente ao dedo
anelar da mão dela, onde uma brilhante aliança de ouro riu dele.
Saber que estava casada não amorteceu o desejo carnal que o percorreu quando ela,
hesitante, encarapitou-se ao colchão junto a ele, deslizou-lhe a suave mão debaixo do pescoço e
levantou-lhe a cabeça com delicadeza até que os lábios secos dele beijaram levemente o liso
bordo da taça de cerâmica.
Ela cheirava de forma muito agradável, mas a infusão não.
Instantaneamente enrugou o nariz enojado pelo aroma e apartou a boca da taça.
—Bom, era hora riu ela, encantada. O som musical de sua voz foi como um ungüento para
seu corpo torturado. — Até agora não tinha protestado nunca quando te dava esta asquerosidade
sua voz se tornou séria: Quando um paciente se queixa por fim, sei que vai se melhorar.
O que disse ficou bem claro. Se ele não se queixou nunca, certamente estiraria a pata. Assim
tinha sorte de estar vivo.
Olhou-a aos olhos com um sorriso.
—Tome - disse ela, agarrando outra taça fumegante da bandeja—, isto prova.
Novamente levantou-lhe a cabeça. Esta vez um refrescante vapor a hortelã umedeceu as
bochechas e bebeu ansiosamente a bebida quente. Queimou-lhe a garganta, que estava seca
como um pergaminho, e não teve dúvidas de que aquela era a famosa infusão de hortelã que os
turistas iam procurar dos Estados Unidos.
Como sabia aquilo? Outra lembrança?
Seguiu bebendo o delicioso líquido e depois de havê-lo acabado, tentou falar.
—Quem é você?
—Sou a senhora Sara Clarke - disse ela, apoiando a cabeça dele novamente no brando
travesseiro.
A mulher da nota. Tinha-a encontrado. E estava casada.
Por que estava tão surpreso e desiludido de que ela estivesse casada? E falando de
matrimônio, qual seria seu estado?
Olhou as avultadas vendagens que lhe envolviam as mãos mas não pôde ver aliança neles.
Pensar que não estava comprometido com ninguém nem ter ninguém que lhe quisesse fez o sentir
uma estranha tristeza.
—Minhas mãos?
—Tinha-as cheias de lascas. Consegui tirar todas.
Recordou alargar as mãos tentando agarrar-se a algo, tentando não cair depois que alguém
o golpeasse na cabeça.
—Lembro de estar em um edifício. Um edifício velho. Abandonado.
Ela assentiu com a cabeça, pensativa.

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—Há vários edifícios abandonados dispersados por aí. Podemos falar disso mais tarde.
Primeiro que tal um pouco mais de chá?
—Por favor.
Olhou-a servir outra taça, e sentiu-se invadido pela curiosidade sobre aquela formosa
mulher.
—Como me tirou as algemas?
—Meu marido era polícia. Dava muitos seminários. Um deles era sobre as algemas e quão
fácil era tirar-las com uma chave improvisada.
Agarrou algo da mesinha. Surpreso, viu que era uma caneta.
— Ele fazia uma fenda aqui —assinalou a ponta da caneta —, e tirava um pedacinho de
metal, o qual fazia um entalhe, lhe permitindo enganchá-lo. Utilizando-o alternadamente com um
clipe e muita paciência, espetáculo de maravilha.
—Engenhoso — disse ele com assombro.
—Sim, serve — riu ela, deixando a caneta novamente sobre a mesinha.
—Diz que era policial?
Deu-se conta de que ela titubeava um segundo antes de responder.
— Deixou a corporação e viemos aqui para seguir nossos sonhos.
—E seus sonhos se fizeram realidade?
O relâmpago de dor nos olhos cor chocolate o fez sentir-se mau. Havia tocado uma zona
muito sensível e imediatamente viu o sinal de "proibido entrar". Rapidamente trocou de tema.
—Essa infusão dali — disse, lançando um olhar à taça que continha o líquido horrível e disse
com uma risada—: O fez a propósito para vingar-se pela forma em que me apresentei?
A expressão de dor do rosto feminino se converteu em um gesto de frieza.
—Muito intuitivo — respondeu ela secamente.
Levantou-lhe a cabeça novamente, com menos delicadeza que a vez anterior, e levou a taça
com firmeza aos lábios.
—Bebe — lhe ordenou.
Ele não bebeu. Em vez disso, abriu a boca com surpresa ao ver a súbita frieza.
—Ouça, dizia-o de brincadeira.
—Eu não.
De repente, tudo começou a encaixar com respeito À Estalagem de Peppermint Creek e de
sua proprietária.
Uma janela quebrada. Um rato morto. Restos de um incêndio recente.
—Ouça, não acreditará que eu tive algo que ver com a ruptura de sua janela! Estava
quebrada quando cheguei aqui. E vi que havia um rato morto na bancada. Juro-lhe que não tive
nada que ver com isso.
Ela não respondeu e a confusão semeou em seus olhos escuros.
—Parece que teve problemas por aqui. Quanto faz que estão passando?
—Desde que você apareceu faz uns dias. Bebe! —ordenou-lhe.
Mas ele não pôde beber. Olhou-a surpreso, sem poder assimilar o que lhe havia dito.

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—Há dito uns dias? Quantos dias?


Ela certamente viu um relâmpago de advertência nos olhos dele porque rapidamente
apartou a fumegante taça da infusão dele e a pôs sobre a bandeja antes de responder.
—Dois dias. Está chegando à terceira noite.
—OH, Meu deus, tenho que partir! —tentou incorporar-se mas uma dor penetrante e aguda
lhe perfurou através das costas até chegar a sua tripa, o fazendo lançar uma exclamação.
— Dá-se conta? —disse-lhe ela preocupada—, é um buraco de bala. Não irá a nenhum lado
durante um tempo, assim sente-se e relaxe-se, quer? Não quero que se repita o que passou
durante estes dois dias — seus grandes olhos castanhos reluziram maliciosos e suas feições se
suavizaram. Assinalou uma porta entreaberta. — Se tiver que ir, o banho está ali. Estou-me
cansando um pouco de esvaziar seu urinol.
A brincadeira não conseguiu aliviar a ansiedade que o invadia. Se ele ficava ali, ela corria
perigo.
—Não compreende, tenho que partir. Agora mesmo!
Apertando os dentes para conter a dor que atravessava as costas e o aríete que lhe
martelava dentro da cabeça, fez uma segunda intento de apartar os lençóis.
—OH, não, certamente que não — exclamou ela e com um rápido movimento sua cálida
mão lhe roçou o peito como um ferro candente, produzindo uma sacudida tremenda que o
percorreu por todo o corpo. Ele se deteve de repente, desfrutando profundamente a sensação
erótica daqueles dedos afundados no cabelo de seu peito nu, o impedindo de mover-se.
Suave, mas firmemente, o empurrou contra os travesseiros e instantaneamente retirou as
mãos. Ele se deu conta de que as bochechas femininas se tingiram de rosa antes que ela apartasse
o rosto. Com os magros dedos trêmulos, ela tentou alisar uma imaginária ruga do edredom.
Estaria imaginando o tremor de seus dedos? O maravilhoso rubor? Sentiria ela também a
atração que havia entre os dois?
Levou-lhe um momento recuperar a voz. Quando o fez, tentou que não tremesse.
—Olhe não posso ficar aqui, é importante.
—Claro — disse ela, sua cabeça erguendo-se com súbita raiva—, por outro lado, se morresse
sangrando não poderia seguir movendo-se, não é assim?
—Todos temos que morrer algum dia — disse ele.
—Bem, então você fica fora. Somente os bons morrem jovens.
Um leve sorriso entreabriu seus lábios rachados.
—Então, é por acanhamento ou não tem nome? —perguntou-lhe ela brandamente.
—Eu… — de repente, teve o nome na ponta da língua. E logo se retirou com a velocidade de
um relâmpago, metendo-se no profundo abismo negro onde suas lembranças teriam que ter
estado guardados.
Elevou a vista e surpreendeu-se ao ver a genuína preocupação daqueles olhos profundos.
Preocupada com ele? Ao pensar nisso sentiu uma estranha calidez.
Mas por bonitos que fossem aqueles pensamentos não trocariam o fato de quem lhe
ajudasse acabaria morto. Não tinha nem idéia de quem era, por que tinha chegado ali, e por que o

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perseguia a polícia que o queria morto. Simplesmente sabia que era assim, especialmente depois
de recordar ao tira disparando- lhe nas costas.
—Serei brutalmente sincero com você, senhora Clarke.
—Não desejaria que fosse de outra forma.
—Será melhor que não saiba quem sou. Melhor ainda, para sua própria segurança, simule
que nunca me viu.
Ela arqueou os olhos, uma expressão divertida nos olhos.
—Refere-se a que é só minha imaginação?
—Exato.
A expressão de seus olhos desapareceu rapidamente e ela franziu o cenho.
—Sinto muito, mas para ser brutalmente sincera, como diz você, eu não minto.
—Nem sequer por sua própria segurança?
—Não.
—Genial — disse ele, lançando um suspiro de frustração.— Genial.
—Por que é tão sério?
—Porque eu não sei quem… — se interrompeu ao dar-se conta de que quase se delatou.
—Não sabe quem é verdade? Isso é o que estava por dizer?
—Como demônios sabia?
—Não foi difícil adivinhá-lo. A forma em que atuava a noite em que nos conhecemos.
Exigindo que desse seu nome. Foi um pedido estranho. Enquanto delirava, pedia-me uma e outra
vez que o ajudasse a averiguar quem era. Recorda algo?
—Tudo está muito impreciso. Aqui e ali. Imagens. Nada que possa identificar claramente.
Ela franziu o cenho.
—Ouvi que a perda da memória é bastante comum depois de uma ferida na cabeça e um
trauma importante. Na maioria dos casos a gente começa a recordar aos poucos dias.
—Na maioria dos casos? —perguntou com um nó no estômago.
—Em outros leva mais tempo.
—Quanto mais?
—Não sou médica titubeou antes de acrescentar: Mas pelo que tenho lido, poderia ser
meses, possivelmente anos. Embora seja estranho.
Merda!
—Não acredito que tenha muito tempo. Alguém me segue. E querem algo que posso lhes
dar ou não. De qualquer das duas formas, sou homem morto.
Ela se estremeceu a seu lado. —Tem idéia de quem quer lhe matar? E o que querem?
Ele decidiu lhe contar a verdade. —Não sei o que é o que querem, mas sei que a polícia me
quer morto.
Sara olhou ao estranho atentamente. Seu perfil era desafiante. Parecia que esperava que
dissesse que o golpe na cabeça o tinha afrouxado mais de um parafuso e que não acreditaria por
nada do mundo. O curioso era que lhe acreditava, porque quando encaixava todas as peças, tinha
sua lógica.

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Tinha chegado golpeado, com uma bala nas costas e algemas pendurando de um pulso.
Quando delirava havia dito coisas. Coisas que a levavam a pensar que a polícia não tinha uma
opinião muito boa dele.
Sara lançou um suspiro profundo.
Ainda tinha uma terrível enxaqueca e desejou poder meter-se na cama e cobrir a cabeça
com as mantas. Mas isso não resolveria nada.
—Que mais sabe?
—Crê-me? —olhou-a com expressão surpreendida.
—Não se surpreenda tanto. Diga-me o que recorda.
Um muito breve sorriso de alívio lhe desenhou um instante nos lábios.
—Ouça, não quero carregá-la com meus problemas. Já está em perigo por me haver
ajudado.
—Terá que confiar em alguém e neste momento à única pessoa que tem sou eu.
Ele não disse nada. Entretanto, ela notou que seguia parecendo tenso. Precisava fazer algo
que levantasse a moral. Algo que o fizesse confiar nela.
—Sabe? —disse, com um pouco mais de entusiasmo de que sentia.
— Necessita um novo apelido.
—Um apelido?
—Um nome. Qual é seu favorito?
Ele deu de ombros solenemente.
—Não sei. Você escolhe.
Um nome lhe veio à mente em seguida, e entretanto duvidou em usá-lo. Depois de tudo, o
tinha dado a alguém mais. Alguém igual de indefeso que dependia totalmente dela, como aquele
estranho. E tinha falhado. De uma forma horrível.
Sara tragou com esforço e apartou os pensamentos que a turvavam. Apertou-os em um
canto de sua alma, como uma imprensa flor querida entre as cobertas de um livro pesado para
guardar a lembrança. Ela os meteu no profundo das ágeis páginas que levavam os medos, a dor e
as esperanças feitas pedacinhos dos dois últimos anos e meio.
Piscando para controlar as ardentes lágrimas, ela fez uma profunda inspiração, enfrentou-se
ao estranho e tento esboçar um sorriso, mas seus lábios não quiseram responder. Notou a
expressão rara do rosto masculino.
—Passa algo? —o suave tom masculino quase obteve que ela se abrisse.
Durante um segundo ficou olhando os brilhantes olhos cor esmeralda e a invadiu a estranha
necessidade de lhe falar de seus mais profundos temores e compartilhar seu segredos. Nunca
havia sentido antes aquele impulso. Agora, sem nenhuma razão, desejava contar-lhe aquele
homem tudo. Despachar-se com o que tinha acontecido a seu marido. Contar da sombra que a
atormentava.
Sara se conteve.
Estava louca? O que passava? Teria que fazer-se examinar a cabeça. Nem sequer o conhecia.
E, entretanto, não importaria chegar a lhe conhecer melhor. Muito melhor.

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Não importaria agarrar entre suas mãos essa pau grosso que tinha. Possivelmente meter
aquele órgão de aspecto tão delicioso na boca e passar a língua naquele casulo com forma de
cogumelo.
Roçar com seus dentes a acetinada pele que cobria o rígido pau.
Observar-lhe sacudir e retorcer quando o fizesse entrar profundamente, até a garganta.
—Senhora Clarke?
Piscou rapidamente e apartou a vista para que ele não pudesse ver que tinham ruborizado
as bochechas.
—Thomas. Tudo bem?
Ele não disse nada e lhe lançou um rápido olhar para ver sua reação. Seu sorriso lhe indicou
que gostava do nome.
—Thomas — o nome saiu com naturalidade.— Tom. Mmm. Parece-me bem. Tem um som
especial, não crê? —arqueou uma sobrancelha com curiosidade. — por que o escolheu? Algum
antigo namorado, possivelmente?
A pergunta quase demoliu a Sara. Durante uma fração de segundo, novamente desejou lhe
contar todas suas intimidades, como não havia fato com ninguém nunca. Mas o instante passou e
se recuperou rapidamente.
Impulsivamente, alargou a mão para puxar brandamente da desordenada barba. O cabelo
dele era áspero embaixo de seus dedos. Duro. Sexy.
Notou que uma suave exclamação escapou dos lábios masculinos e com a velocidade do raio
retirou a mão.
—Porque recorda a um gato guia de ruas. Os bigodes e tudo replicou, trêmula.
Ele esboçou um sorriso irresistivelmente sexy. Logo afundou a cabeça um pouco mais nos
travesseiros.
—Melhor dizendo a algo que o gato arrastou - resmungou e suas pálpebras começaram a
fechar-se de sono.
—Você o há dito, não eu — riu enquanto colocava as mantas para que se mantivesse
quente.
Desejou lhe fazer mais pergunta, mas teriam que esperar até que ele se sentisse melhor.
—Senhora Clarke? —disse ele, dormitando, piscando para que não fechassem os olhos.
—Sim?
—Obrigado por me cuidar.
—Obrigado por não morrer. Haveria-me sentido muito mal depois de toda minha dedicação.
—Por que me ajuda?
—Salvou-me a vida. E porque me pediu ajuda.
—Terei que ver alguma forma de lhe pagar.
—Pode me pagar descansando um pouco para recuperar-se, Tom.
—Tenho tão mau aspecto? —disse ele com uma careta que se desenhou naquela boca
maravilhosa.
—Horrível.

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Suspirou e se afundou mais profundamente nos travesseiros.


—Não estou disposto a discutir com você. Ao menos por agora.
Os olhos fecharam finalmente com uma piscada e pelo rítmico movimento de seu muito
bonito torso nu, ela soube que dormiu.
Sara franziu o cenho.
Amnésia. O homem tinha amnésia.
O que daria ela por esquecer-se de seu passado, esquecer aquela noite de tormenta.
Esquecer toda a dor que tinha dentro do coração.
Houve um momento em que quase tinha conseguido eliminar a dor para sempre tomando o
caminho fácil. Mas agora estava melhor.
Ao menos pensou que estava melhor até que a árvore tinha caído em cima.
Estaria morta se Tom não tivesse estado ali para puxar ela? Teria ficado de pé ali, e aceito
simplesmente a morte?
Não sabia. O que sim sabia era que quando viu a árvore caindo em cima, por uma fração de
segundo quis esquecer a dor.
Mas ele a tinha ajudado.
Encontrou-se observando o rosto pela centésima vez desde fazia dois dias.
Surpreendeu-a o muito que gostava daquelas ruguinhas que saíam como patas de galo aos
lados dos olhos. E adorava as doces rugas ao redor de sua boca.
Enquanto dormia, uma inocência juvenil invadia as facções, fazendo muito atraente. Foi
aquela inocência que a levou a alargar a mão e apartar um cacho escuro da frente masculina.
Quando o tocou, por seus dedos subiu uma corrente elétrica que causou um desejo
instantâneo de beijar-lhe.
Lentamente, sem pensá-lo, inclinou-se, o cabelo caindo pelo rosto dele. O delicioso fôlego a
hortelã lhe roçou as bochechas, fazendo-a aproximar-se mais.
Brandamente, quase sem dar-se conta, tinha-lhe roçado com os lábios a boca quente. O
bigode e a barba fizeram cócegas no rosto eroticamente. Os lábios cheios e doces tremeram sob o
beijo feminino, ligeiro como uma pluma e, de repente, ele resmungou algo.
Horrorizada, Sara se apartou, segura de que os olhos dele abririam em qualquer momento.
Felizmente, não o fizeram e ele permaneceu profundamente dormido.
Enquanto o olhava dormir, uma miríade de emoções a invadiram, o medo possivelmente
fosse o que mais prevaleceu. O medo de ter a um estranho metido em sua cama. Pelo que
aconteceria quando ele se encontrasse melhor. E certamente que se encontrava melhor já.
Seu rosto tinha recuperado um pouco de cor e ela notou a forma intensa em que ele a tinha
olhado. Deu-se conta do anseio sexual daquele olhar alerta e brilhante.
Ela também sentia desejo. Um anseio em sua vagina que ele enchesse. Ao pensar nisso,
emocionantes espirais de prazer a percorreram como um tornado e tentou as deter recordando-se
que aquele homem, aquele estranho, provavelmente passaria o resto de sua vida no cárcere, ou
certamente teria uma morte muito trágica. Mas não cabia em sua mente pensar em uma
possibilidade assim.

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Seu coração desejava acreditar que era um homem honesto e que tudo se devia a algum
estranho mal-entendido. Entretanto, não podia evitar perguntar-se o que aconteceria quando ele
recuperasse a memória.
Voltaria a cometer um crime? Usaria suas poderosas armas contra ela, acrescentando
assassinato à larga esperta de atividades criminais que havia descrito em seus sonhos?
Sara olhou a seu Tom adormecido. Ele voltou a murmurar algo e logo ficou em silêncio. O
que aconteceria se seus perseguidores lhe alcançavam? Voltariam a disparar?
Mordeu-se os lábios, lutando contra a gélida onda de terror que a fez temer por sua
segurança.
Disse-lhe que simulasse não havê-lo conhecido alguma vez, mas, como podia simular ? O
simples contato com ele tinha acendido fogo a seu corpo, lhe abrindo um mundo novo.
Um mundo cheio de emocionantes desejos sexuais que não estava segura de poder ignorar.
Era o primeiro homem que tinha beijado desde…
Involuntariamente se estremeceu.
O que a teria levado a fazer algo tão horrível? E com a aliança de matrimônio ainda no dedo!
E, entretanto, o beijo do Tom tinha sido perfeito.
Mágico.
Fê-la esquecer da dor de cabeça, embora mais não fosse por um instante. Recordou-lhe que
ainda ficava vida por viver, e que não tinha por que vivê-la da forma em que o estava fazendo.
De repente, a culpabilidade foi mais forte que aquele beijo sensual.
O beijo maravilhoso que ela prensou como a preciosa e frágil flor entre as delicadas páginas
de seu livro. Outra recordação para acrescentar a sua coleção de esperanças perdidas e sonhos
sem fazer realidade.

Capitulo 4

Sara sabia aonde a levava seu sonho, e entretanto foi incapaz de detê-lo.

Chegava tarde a um exame de sua classe de arte. Dormiu porque a tormenta tinha cortado a
luz de seu bairro e por isso não tinha tocado o alarme de seu radio-relogio.
Agora, enquanto rapidamente conduzia seu carro pelo centro de Nova Iorque, viu pelo
retrovisor as luzes intermitentes de um patrulheiro. Ao princípio acreditou que não eram para ela,
depois de tudo muita gente cometia infrações sem que os agarrassem.
Mas o patrulheiro se aproximou da velocidade do raio. Aos poucos segundos a tinha
alcançado.
—Merda! —exclamou frustrada, golpeando o volante. Agora sim que chegarei tarde.
Mordendo-os lábios com nervosismo, deteve-se contra o meio-fio. O carro de polícia fez o
próprio e estacionou atrás dela, que olhou pelo retrovisor como um oficial alto e forte saía dele e

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se dirigia lentamente para o lado do condutor. Baixou rapidamente o guichê. O pulso acelerado
quando elevou a vista e se encontrou com aqueles maravilhosos olhos azul céu.
Tranqüila, Sara, disse-se. Este poderia ser o homem de sua vida. De não estar segura que o
oficial lhe daria uma multa por falta de respeito à autoridade, teria arrojado uma gargalhada.
—Bom dia, senhora — disse ele lentamente.
Tão educado. Provavelmente tinha que sê-lo, dado o trabalho que fazia. Mas certamente que
não era necessário que para isso fosse tão lindo como era.
—Permite-me ver sua carteira de motorista, por favor?
Sara tragou com esforço e rebuscou em sua bolsa com dedos trementes; encontrou a
permissão rapidamente. Tentou dizer-se que o tremor se devia aos nervos de que lhe daria uma
multa, mas no fundo de seu coração sabia que não era assim. Aquele homem a faria desmaiar.
—Sinto muito, oficial. Chego tarde a minha classe de arte. Ontem à noite ficamos sem luz
pela tormenta e não soou o despertador e agora chego tarde a meu exame final.
Alcançou-lhe a permissão.
O rosto dele adotou uma expressão perplexa ao olhar o cartão plastificado.
—Sara Brady?
Sara assentiu com a cabeça. Reconheceu a expressão de seu rosto muita gente reagia da
mesma forma quando descobriam com quem falavam.
—Sara Brady, a pintora de vida silvestre?
Novamente Sara assentiu com a cabeça. De repente, sentiu um choque tremendo.
—A mesma.
Agora sim que chegaria tarde.
—Olá! Vi suas pinturas. As que doou ao Baile de Caridade da Polícia no sábado passado.
Parecem de verdade. Eu adorei.
—Me alegro, oficial…
—OH, sinto muito, que grosseiro. Jack, Jack Clarke.
—Encantada, Jack Clarke.
—Encantado, senhora Brady.
Estava-a tentando ligar? Decidiu seguir o jogo. Até as últimas conseqüências.
—Senhorita — respondeu.
—Seriamente? —um sorriso de satisfação lhe desenhou nos lábios e lhe devolveu a
permissão.
— Já sabe que não deveria fazer isto, senhorita Brady.
—Fazer o que?
—Escoltá-la até sua classe. Onde é?
Sara o disse e logo lhe perguntou:
—Não vai dar-me uma multa?
—O que vai. Depois do que fez você pelo leilão, certamente que não. Siga-me bem perto,
vale?
Sara riu, sem poder acreditar em sua boa sorte.

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—Vale.
Atravessaram rápido e eficazmente os atalhos. Aos poucos minutos entravam no
estacionamento da universidade com uns minutos de sobra.
—É incrível — disse Sara excitada, tirando a pastas do carro e fechando a porta. Girando-se
para o oficial de polícia, novamente se sentiu atraída pelos olhos azul céu e o sorriso maravilhoso.
—Agradeço-lhe muito sua ajuda, oficial Clarke. Devo-lhe uma.
—Por favor, me chame Jack. Não foi nada.
—Me acredite, foi muito. Fecham as portas às oito em ponto. Se chegar tarde,
automaticamente me desqualificam para o exame.
—Nesse caso, me alegro de ter resultado de ajuda, senhorita Brady.
A cálida forma em que a olhou fez que Sara se ruborizasse.
—Muito obrigado por sua ajuda, Jack. Foi muito amável, seriamente. Suponho que será
melhor que vá agora.
Deu-se a volta, hesitante, porque não queria lhe deixar, mas sabia que tinha que entrar na
sala de exame.
—Senhorita Brady?
—Sim? —disse, dando-a volta tão rápido que quase perdeu o equilíbrio.
—Não deveria estar fazendo isto, mas, dá-me seu número?
O coração lhe pulsou loucamente no peito e os joelhos se fizeram de água.
—Já tem meu número.
Uma expressão perplexa lhe cruzou pelo rosto, que um momento mais tarde se iluminou:
—Ah, sim, tinha-o esquecido. Nos documentos que acompanhavam às pinturas — a saudou
com a mão.
— Boa sorte no exame. Chamarei-a.
E o fez.
Aquela mesma noite.
Seu romance foi rápido. No fim do ano estavam casados. Logo, decidiram formar uma
família. Jack deixou o corpo de polícia e partiram de Nova Iorque para dirigir-se ao Canadá e
comprar a parcela do Peppermint Creek de um amigo que Conhecia uma viúva que a oferecia a um
preço fantástico.
E logo trataram de ficar grávidos. Não aconteceu nada.
Voltaram a tentá-lo.
Nada.
Finalmente, ambos foram ao médico. Más notícias. Jack tinha uma concentração de
espermatozóides extraordinariamente baixa. As possibilidades de ficar grávida de forma natural
eram escassas, por não dizer nulas.
Incentivados pelo médico, provaram a inseminação artificial. Depois de numerosas tentativas
sem êxito, finalmente se resignaram a esperar possivelmente vários anos até poder adotar. Pouco
tempo depois Sara descobriu que estava grávida.
Recordou a reação dele quando o doutor havia dito aquele ensolarado dia do verão.

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—Gêmeos? Vamos ter gêmeos? —tinha exclamado Jack.


O doutor assentiu lentamente e sorriu a ver suas expressões de incredulidade.
—Um bebê. Não, dois bebês! Não posso acreditar isso! —passou-se a mão pelo cabelo cor
trigo.
—Como acredita que me sinto? Acreditava que tinha gripe.
—Bonita gripe. É maravilhoso — aparou o bigode.
Aquele era um gesto adorável que sempre fazia quando estava assombrado.
Inesperadamente, lançou um uivo que fez dar um susto ao médico e rir para ela. Agarrou-a entre
seus braços, fazendo-a dar voltas e voltas até enjoá-la.
—Jack, baixa me! —rogou-lhe.
Ele se deteve e a deixou com delicadeza no chão. Seus braços a estreitaram pela cintura e a
olhou amorosamente aos olhos.
—Quero-te, Sara. Quero-te tanto que me sinto desfalecer.
De repente, uma sacudida tremenda sacudiu e Jack ficou tenso em seus braços. E logo
começou a cair. Brotava-lhe sangue de um buraco de bala entre os olhos. Sara gritou. E gritou.

Sara despertou banhada em frio suor, o alarme percorrendo cada um de seus nervos. Uma
gélida sensação de apreensão a invadiu, fazendo-a estremecer-se a cinza luz do amanhecer.
O horrível pesadelo havia retornado.
Por favor, rogou, enxugando as lágrimas que corriam pelas bochechas, não deixe que o
sonho comece outra vez. Que não comece outra vez!
Sara se passou o dia inteiro tentando esquecer o horrível pesadelo enquanto se ocupava dos
pedidos de produtos de hortelã para a loja do povo. Por muito louca que a considerassem seus
vizinhos, seguiam comprando seus produtos.
Ao cabo da manhã, Tom despertou e tomou uma substanciosa terrina de sopa de verduras
acompanhado de uma enorme parte de pão caseiro para logo voltar a dormir um inquieto sonho
infestado de pesadelos. Ao cair a tarde estava muito melhor.
Os olhos brilhavam de curiosidade e o estômago estava disposto a comer outra terrina de
sopa de verdura, um pouco de purê de batata e de sobremesa, gelatina. Apesar do muito que
protestou ela e lhe advertiu que podia ser pesada, conseguiu convencê-la de que lhe desse uma
grossa fatia de bolo.
Ela ficou aos pés da cama e desfrutou ao lhe ver comer as últimas migalhas. Logo decidiu lhe
fazer a pergunta que levava momento querendo fazer.
—Quem lhe deu a nota com meu nome?
Ele deixou de mastigar e lhe lançou um olhar de desconfiança.
—Não estava farejando — disse Sara, sentindo-se subitamente culpada.
— Procurava algo com que lhe identificar. Encontrei a nota em seu bolso.
—Eu haveria feito o mesmo — assentiu ele com a cabeça.
—Recorda algo com respeito ao motivo pelo que alguém o teria enviado aqui?
A desilusão a invadiu quando ele negou com a cabeça.

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—Não, a nota é a única pista que tenho. Nem sequer sei se tem algo que ver comigo.
Possivelmente a recolhi em algum lado.
—Me ocorre uma idéia.
Para ouvi-la, a cabeça dele se levantou tão rápido que fez uma careta de dor, mas seus olhos
brilharam com entusiasmo.
—Mas não vai gostar dela — acrescentou ela.
—Diga-me isso assim mesmo. —disse ele, franzindo o cenho.— Algo com tal de não ter este
horrível buraco negro na mente.
—Quando estava delirando, disse coisas.
—Coisas? —perguntou ele, cauteloso.
—Deu-me a sensação de que a polícia não tem uma boa impressão de você.
Ele franziu o cenho e ela sentiu pena por ele.
—O que quer dizer é que sou um criminoso.
—Vejo que chegou à mesma conclusão — se aproximou do lado da cama e se sentou.
— Alguma idéia que queira compartilhar?
Ele se mordiscou o lábio, pensativo, como se tentasse decidi a lhe dizer algo ou não.
—Senhora Clarke…
—Por favor. Meu nome é Sara.
—De acordo, Sara — tentou um sorriso incerto.
— Eu temo que possivelmente te resulte perigoso. Refiro-me à forma em que te ataquei
com a arma — titubeou um momento e prosseguiu. — E tive sonhos também. Sonhos de coisas
ilegais, como pagar a alcoviteiras e comprar drogas e…
—Já sei. —A cara de surpresa que pôs fez que Sara estalasse em gargalhadas.
—Como lhe disse, estiveste falando em sonhos. Quão único me ocorre é que lhe tenham
mandado aqui para pedir ajuda a meu sogro. É um advogado criminalista e minha cunhada é
investigadora privada. Podemos-lhe pedir que investigue o que te aconteceu.
Uma fugaz expressão de medo passou pelo rosto masculino o tentou trocar de tema.
—Seu sogro e seu marido estão de viagem de negócios?
—Em realidade, não vive mais aqui.
—Seu marido?
—Garry, meu sogro — optou por não mencionar a seu marido, possivelmente se ele pensava
que ela tinha marido não lhe ocorriam idéias estranhas sobre levar-lhe à horta em quando tivesse
a oportunidade.
E ela podia deixar de pensar o levar ele à horta a ele, particularmente depois de lhe haver
tocado daquela forma tão intima o fantástico pau. Depois de tudo, ele era um estranho e um
criminoso. Tinha-o confessado.
—Garry vive em Nova Iorque. O fato de que ele seja um advogado criminalista e que você
seja um… — se conteve antes de dizer a palavra "criminoso"—…possível cliente. É o único motivo
pelo que acredito que alguém te pudesse enviar aqui.
—Possivelmente o que queriam era que provasse sua deliciosa infusão de hortelã — brincou

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e de repente os olhos começaram a fechar-se de sono.


—Possivelmente — disse ela brandamente e sorriu quando os olhos masculinos se fecharam
e aos poucos minutos o peito começou a subir e baixar ritmicamente.
Merda. Tinha-lhe perdido novamente.
Não tinha mais informação agora que antes, salvo que ele parecia cômodo com a idéia de
ser um criminoso, mas não gostava absolutamente da idéia de ver um advogado criminalista.
Possivelmente ela fosse ingênua, mas depois da forma em que o tinha tratado a polícia, não
era lógico que desejasse ver um advogado? A menos que…
Sara franziu o cenho quando uma idéia nova lhe ocorreu, A menos que tivesse medo do que
pudesse descobrir um investigador privado e que nem sequer um bom advogado o pudesse salvar.
Em Nova Iorque, a cinza luz de lua se refletiu no cabelo branco do Chefe da Polícia do NY,
fazendo que resultasse fácil que a detetive Pauline Brown o identificasse. Achava-se em um
espaço aberto perto de um enorme carvalho na zona norte do parque.
Desejou que não tivessem eleito aquele parque para reunir-se. Era o mais próximo à
delegacia de polícia e havia muitas possibilidades de que alguém estivesse lhes espiando. Do
desafortunado incidente a semana passada em que o parvo do Matt os tinha pegado com as mãos
na massa, ela estava nos nervos. Durante uma semana tinham esperado ansiosamente, mas não
tinha passado nada.
Esta noite ela tinha recebido a chamada que estavam esperando. Desgraçadamente, eram
más notícias. Muito más notícias. Não queria ser a que tivesse que dizer ao chefe, mas não tinha
outra opção. Não ia gostar daquilo nem um fio.
Franziu o cenho e se dirigiu para o Chefe Jeffries com passo vivaz, os saltos repicando nos
paralelepípedos. Uma fria rajada de vento lhe despenteou o comprido e liso cabelo loiro platino. O
frio a fez ajustar a jaqueta de meia-estação contra o peito enquanto se aproximava do homem de
cabelo branco
Instantaneamente lhe viu o alegre sorriso desenhado no rosto. Odiava a atitude positiva que
ele tinha. Um excesso de confiança, especialmente em um momento como aquele, era
verdadeiramente perigoso. Fazia que se cometessem enganos. Enganos estúpidos.
—Espero que me traga boas notícias, Pauline.
—Vim o mais rápido possível — disse Pauline com um sorriso curvado lhe dando um beijo na
bochecha.
— O que tem descoberto sobre nosso homem?
—Tinham-lhe.
—Onde?
—Uma cidade fantasma chamada Perca, a umas milhas do povo de Rainbow Falls, a umas
horas de Thunder Bay. Soa-te?
—Em Ontário, Canadá? Onde vive Justin?
Ela assentiu.
O rosto dele esboçou um amplo sorriso e se esfregou as mãos, entusiasmado.
—Então, foi ao Canadá, né? Um momento… o que quer dizer com "tinham-lhe"?

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—Escapou.
Pauline piscou um par de vezes. Não esperava aquilo. Escapou-se um homem que sabia tudo
sobre eles e todos os que se achavam envoltos, e o chefe estava alegre? Não podia compreendê-
lo.
Ele a olhou com desconfiança.
—Venha, fala, que mais?
—Tinham-lhe prendido no povo fantasma, esperando que chegasse Scout para o interrogar
e escapou. Um policial local desapareceu. A última vez que o viram estava perseguindo a nosso
homem no rastro. Justin acredita que nosso homem o matou.
O sorriso dele se fez mais amplo.
—Seriamente? Teremos que acrescentá-lo à esperta do homem que procuramos. Quero que
te dirija ali e que controle ao Justin. Necessitamos que nosso homem siga vivo até que consigamos
o que queremos.
—Há mais.
As hirsutas sobrancelhas se arquearam com surpresa.
—Ainda mais?
Pauline assentiu com a cabeça.
—Justin diz que nosso homem tem amnésia.
—Que interessante.
—Não te parece uma coisa muito conveniente, Chefe?
—É um cara inteligente, mas não inventaria um truque tão estúpido como esse a menos que
fosse verdade. Você deveria lhe conhecer mais que ninguém — lhe passou um braço pelos
ombros, reconfortando-a.— Não se preocupe, logo será sua viúva.
—O que é que devemos fazer a seguir? —perguntou-lhe ela, estremecendo-se de repente na
fresca brisa. Ou era pelo frio contato dele?
—O encontrar, lhe reter para submetê-lo a um interrogatório e logo, com qualquer
testemunha que houver, terá que ser eliminar.
Pauline se estremeceu violentamente quando recebeu aquelas palavras. Desejou que tudo
tivesse acabado, em vez de começar.

Escuros e estreitos becos, bares cheios de fumaça, engarrafamento nas ruas cheias de
poluição, noites povoadas de prostitutas e vendedores de drogas, algo do que se sentia insensível,
estranhamente alheio.
E entretanto ali estava, falando e rindo com as profissionais da noite, convidando a beber a
seus fanfarrões, aceitando convites para ser sociável. Subornando a policiais corruptos com
quantidades astronômicas de dinheiro como retribuição a favores, dançando com uma loira
espantosa que nem sequer gostava.

Outra noite escura lhe atraiu ainda mais…

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Achava-se apanhado em uma opressiva habitação fria, escura e úmida. Alguém se inclinava
sobre ele para ver se ainda estava vivo depois da violenta surra que lhe tinham dado. Ondas de
fumaça de cigarro subiam na brisa noturna e se perdiam pelas pequenas ranhuras do teto podre,
fundo e coberto de musgo.
Desejou poder escapar do frio e daquelas algemas dos caralho, merda lhe tinham
descascado os pulsos, produzindo uma dor terrível. Morria por montar-se a uma panícula de
fumaça e utilizá-la como tapete mágico para partir rapidamente daquele lugar de morte.
A fumaça de tabaco ficou aderida à roupa, ficou pela pele. Ficou no nariz o aroma de puta,
ardia-lhe o nariz, deixou-lhe um rastro ardente até a garganta.
Até sentia o sabor!

Os olhos do Tom se abriram de repente.


A luz cor laranja do sol lhe causava uma dor aguda nos olhos. Entretanto, não podia piscar.
A sombra permanecia ali. Uma silhueta negra.
Ali mesmo! Olhando-lhe pela janela. Vendo-o dormir.
Durante uma fração de segundo imaginou que seguiria dormido, mas a inconfundível nuvem
de fumaça do cigarro atravessou o mosquiteiro da janela, chegando ao rosto com seu
desagradável aroma. Conteve uma tosse. A frente se encheu imediatamente de frio suor.
A sombra se moveu ligeiramente, como se tivesse dado conta de que a tinha visto.
Logo desapareceu.
Desejou rir. Subtrair importância ao que acabava de ver. Atribuir-lhe a alguma fantasia
estranha, um efeito secundário do golpe que invadia a têmpora direita. Mas o ar com aroma de
fumaça não lhe permitia esquecer-lhe tão facilmente.
Sara!
Estaria em perigo?
Endireitou-se de repente e teve que morder os lábios para conter um gemido quando a dor
o atravessou as costas e o ventre, embora o esperasse. Agradeceu-o. Ajudava-lhe a manter a
mente centrada em Sara, e não no pânico paralisante que o atendia por dentro. Virou na cama e
tirou as débeis pernas, apoiando os pés no chão.
A habitação se inclinou precariamente durante uns segundos e logo se voltou a endireitar.
Apertando os dentes, saiu da cama.
Não tinha podido ver bem à pessoa, mas não era Sara. Não sabia como mas sabia que Sara
não fumava.
A adrenalina o alagou nas pernas, lhe urgindo a correr, a encontrá-la, a protegê-la do perigo.
E, entretanto, não podia sair cegamente daquela habitação para certamente topar-se de cheio
com o inimigo. Se o agarravam, resultaria totalmente inútil.
E Sara morreria.
Apesar do pânico que o invadia, sabia que precisava manter-se calmo. Avaliar a situação.
Proceder com calma.
Totalmente preparado para o perigo, sentiu que os cabelos da nuca se punham como

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ganchos enquanto se cambaleava nu para a janela aberta onde tinha visto a sombra fazia uns
momentos.

Apoiando as mãos enfaixadas na beirada da janela, apoiou o rosto contra a janela para ver
fora. Não se movia nada. Só a alta erva do prado se balançou com a carícia do vento.
Se tinha havido alguém ali, tinha dado a volta à casa.
Agarrando o primeiro que encontrou, uma toalha cor rosa que havia sobre uma cadeira, a
ajustou aos quadris. Se tinha que sair correndo, ao menos estaria apresentável para entrar no
bosque que os rodeava.
O inconfundível aroma de pão recém feito assaltou. O estômago respondeu com um rugido,
mas a boca se encheu do acre sabor do medo enquanto se dirigia rapidamente pelo corredor até o
confortável salão. Logo que viu o sofá-cama com a cama tirada e feita antes de dirigir-se à cozinha,
Deteve-se de repente ao ver a enorme placa cobrindo a janela quebrada. A teria arrumado Sara,
ou teria pedido a alguém que fosse arrumar e possivelmente isso era o que tinha visto pela janela.
Um trabalhador que estava tomando um descanso para fumar um cigarro.
Mas, e ela, onde estava?
Teria partido? A teria assustado sua confissão de que era um criminoso tanto como para que
decidisse correr à auto-estrada e ir procurar a policia? Teria-lhe deixado ali para ir procurar aos
policiais para que acabassem a tarefa?
Possivelmente tinha uma boa relação com eles. Havia dito que seu marido tinha sido tira. E o
policial que o tinha seguido no carro? Era o mesmo que o tinha detido no porão? Que fazia na
estrada que levava a estalagem? Buscaria a ela em vez dele? Iria advertir ela da essência dele?
Passando a mão pela incipiente barba, negou com a cabeça.
Não!
De maneira nenhuma. Ela nem sequer se encontrava ali quando o policial chegou. Além
disso, tinha acreditado quando disse que queriam lhe matar.
Então, onde estava?
O familiar pânico voltou a percorrer mas se forçou a cortá-lo e riu. Empurrou a porta de
mosquiteiro apenas um pouco e fez uma careta quando esta produziu um chiado agudo.
Hesitante, saiu à galeria e conteve o fôlego ao ver aquele desastre.
Parecia que uma bomba tivesse estalado na parte dianteira. Havia partes da árvore por toda
parte.
Uma coruja ululou de um pinheiro longínquo, assustando ao Tom. E logo ouviu um ruído
estranho. Um som metálico, como algo que caía em direção ao celeiro. Fez-se um silêncio.
Lançando uma maldição, apertou os dentes e se deslocou devagar pela ruidosa escada de
madeira.
As frias lajes de cimento do atalho produziram estremecimentos enquanto corria descalço
para o celeiro, um segundo antes que chegasse ao descampado entre a casa e o celeiro,
fragmentos de lembranças o assaltaram e estiveram a ponto de lhe fazer perder o pé.
Imagens de uma parcela grande de terra lavrada, rodeada de uma bonita cerca branca de

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madeira. Uma bomba de água manual grafite de brilhante cor vermelha presidia orgulhosamente
o jardim. Olhou a sua esquerda e ali estava. O jardim arado. A cerca branca. A bomba de água de
cor vermelha.
Que caralho passava? Como sabia aquilo e também que no celeiro encontraria uma
motocicleta? Até aquele momento não havia sentido aquela sensação de ter estado ali antes. Mas
possivelmente se devia a que a casa e o celeiro estavam envoltos na escuridão quando chegou
fazia várias noites.
Ou possivelmente lhe tinha vencido o cansaço. Aquela noite tinha investido até o último
ápice de energia que ficava para subir a escada e meter-se no alpendre antes que se
desencadeasse a tormenta.
Aquela estranha sensação certamente queria dizer que tinha estado ali antes. Certamente
Conhecia Sara. Por isso lhe tinha resultado tão familiar. Por que disse ela que não lhe conhecia?
Mas logo ela tinha reconhecido que tinha dado sua descrição ao tira. Havia-lhe dito aquilo na
noite em que ele tinha chegado. Logo tinha trocado a história, inclusive lhe havia, posto um nome
novo.
Por quê? O que escondia?
Com uma repentina impaciência, fez caso omisso aos furiosos protestos de seus músculos
cheios de agulhadas enquanto prosseguiu cautelosamente, disposto a encontrar à sombra, a Sara,
e a respostas para o arsenal de perguntas que tinha.
Resmungando zangada, Sara recolheu um dos dois cubos de metal que lhe tinham caído ao
chão. Merda, que torpe estava! Primeiro tinha derrubado um pouco de tinta vermelha no colorido
tapete navajo que cobria o chão de pinheiro de seu estúdio de pintura, e agora lhe caiu o balde.
Desde que tinha acordado se achava tensa, irritada, como esperando que acontecesse algo. O que
a surpreendeu foi que com o sonho surgiu o desejo de pintar outra vez, algo que não fazia desde
que aconteceu aquilo.
Mas quando agarrou o pincel e o afundou no pote de pintura, a mão tinha tremido tanto
que tinha derrubado a pintura sobre a mesa e o chão.
Tinha sido uma imbecil ao pensar que poderia recomeçar onde o tinha deixado. Que idéia
mais boba. Não entendia por que se incomodou em tentá-lo novamente.
A paixão se perdeu. Acabado. Ido para sempre.
De repente, um raio de luz dourada subiu pela escada que levava ao atelier, lhe chamando a
atenção instantaneamente.
Uma gélida advertência se iniciou em sua nuca e desceu por suas costas, alojando-se como
uma cobra entre suas omoplatas. O coração lhe deu um tombo, fazendo-a agarrar uma faca que
havia na mesa próxima.
O raio de luz se dissolveu e ela ouviu que a porta se fechava sigilosamente.
Fez-se um silêncio.
Tinha que ser o vento. Certamente não tinha fechado a porta corretamente.
Deus, qualquer coisinha a sobressaltava! Que forma de viver. Tinha que relaxar.
Deixando a faca sobre uma cadeira, colocou o balde de metal sob o grifo e o encheu pela

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metade de água para voltar para o tapete, onde começou a limpar a mancha vermelha,
resmungando todo o tempo enquanto tentava convencer-se de que não tinha entrado ninguém.
Para distrair-se, começou a pensar em tudo o que tinha que fazer antes de abrir o camping e
as cabanas para o verão. Pela manhã finalmente se aventurou a afastar-se da casa. Durante o
passeio tinha descoberto que um par de árvores tinha caído na zona de acampamento e que uma
das cabanas mais velhas tinha uma enorme goteira no telhado.
Tinha-lhe levado horas limpar o que a água tinha prejudicado. Quando funcionasse o
telefone teria que fazer algumas chamadas para limpar os restos do incêndio e logo chamar os
carpinteiros para ver se poderiam reconstruir a estalagem.
E logo estava a pobre árvore do amor. Terei que cortar toda a madeira e guardá-la, e…
A porta do celeiro voltou a chiar. Outra vez a luz dourada se verteu sobre as escadas que
levavam o seu atelier.
Seguiu esfregando e amaldiçoando-se por estar tão nervosa.
Era somente o vento. Nada mais que o vento.
O primeiro degrau rangeu.
OH, merda!
Não era o vento.
Ficando de pé de um salto, agarrou novamente a faca e o segurou com força.
Outro degrau rangeu.
Maldição, não havia tempo para uma arma decente! Tinha que esconder-se! Mas, onde?
Seu olhar posou sobre a estante que havia junto à escada. Rapidamente atravessou nas
pontas dos pés a pequena estadia e se colocou apoiando o ombro contra o pesado móvel que
continha todos seus materiais de pintura.
Se empurrasse com suficiente força, ele cairia em cima do intruso quando subisse a escada e
certamente lhe mataria. Sara conteve a respiração e esperou.
O intruso estava chegando acima já, ouvia-lhe a ofegante respiração. Ouvia o suave som de
seus pés nos degraus.
Em parte, desejou lhe advertir que partisse ou que o mataria, mas precisava contar com o
elemento surpresa. Atuaria primeiro e logo faria as perguntas.
Antes que pudesse empurrar a biblioteca, um forte braço nu apareceu, agarrando-lhe o
pulso. Outra mão apareceu e nela brilhava a folha de uma faca.
Ela gritou quando ele a tirou facilmente de seu esconderijo.
Desesperada, chutou-lhe. Seu pé deu contra algo brando e ouviu que a faca caía com
estrépito escada abaixo.
O intruso praguejou
Ela reconheceu a rouca voz instantaneamente e deteve o segundo chute que estava por dar.
—Sou eu! Exclamou ele,enquanto lhe segurava o pulso.
—Deu-me um susto de morte! —gritou ela.— Não pode entrar em uma habitação como
uma pessoa normal, sem levar uma arma? Pelo amor de Deus, pensei que fosse… — se
interrompeu, lhe olhando.

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O primeiro que viu foi seu musculoso peito nu. O segundo, a toalha cor rosa que tinha atada
à cintura. E a terceira, as adagas de fúria que aqueles olhos verdes lhe dirigiam.
—O que acontece?
—Está aqui sozinha? —disse ele, lhe soltando o pulso. Disse-o em voz baixa e controlada.
Muito controlada para o gosto dela.
—É obvio que estou sozinha. O que acontece?
Ele não disse nada enquanto percorria com o olhar seu estúdio. Seus ferozes olhos se
entrecerraram com desconfiança, sem perder detalhe enquanto via o sofá e o velho escritório no
que ela desenhava e pintava.
Os músculos de seu abdômen se esticaram e seus olhos se converteram em apenas duas
fendas quando observou as duas pinturas que ela tinha pendurado nas paredes brancas.
Primeiro se concentrou na aquarela de uma enorme ursa negra flanqueada por dois filhotes
de urso brincalhões entre um grupo de framboesas. Logo viu outra aquarela de uma cria de
guaxinim , a carinha com a máscara aparecendo com curiosidade entre a alta erva, para olhava a
uma rã verde que tomava sol em uma folha de nenúfar.
Logo o olhar dele se dirigiu a uma porta fechada depois da qual ela armazenava suas
provisões.
—Tom, que buscas?
Ele não respondeu, em lugar disso, seu olhar se voltou a posar nas pinturas, observando
cada detalhe delas.
—Estou recuperando algumas lembranças, lhe respondeu friamente sem retirar o olhar do
quadro.
Recordando? Exatamente, o que recordava? Voltava para suas andadas criminais? Por isso
tinha aquele aspecto furioso? O coração começou a pulsar loucamente no peito.
—Por que não me disse a verdade, Sara?
—A verdade? Sobre o que?
—De quem sou.
Mãe do amor formoso. Estava delirando outra vez? Por isso se comportava de forma tão
estranha?
Automaticamente, alargou a mão para lhe tocar a frente.
Com a velocidade do raio, a mão direita dele se moveu, capturando o pulso feminino com
uma força descomunal.
—O que faz? —perguntou ela, sem fôlego. Ao ouvir-se falar se deu conta de que sua voz
transmitia medo e que ele também teria dado conta disso. Endireitou-se rigidamente porque não
queria lhe demonstrar seu medo. Levantou o olhar e o cravou no dele.
—Não jogue comigo, Sara. Quero que me diga quem sou.
—Já te disse isso. Não sei quem é.
—A outra noite disse que sabia quem era. Disse que lhe tinha dado minha descrição à
polícia. Por quê? Quem sou? O que tenho feito? Por que me tem tanto medo agora?
—Normalmente quando aparece alguém por detrás tem motivos para sentir medo. Além

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disso, a porta se abriu e fechou justo antes que viesse. Pensei que era o vento. Deu-me um susto
de morte. E eu estava aterrorizada a outra noite. Tinha uma arma. Naturalmente, supus que foi…
se interrompeu ao dar-se conta de quão equivocada tinha estado. Ou não? Seu olhar se dirigiu à
mão que lhe apertava o pulso com força.
—Quem? Quem pensava que era? —urgiu-a ele, desesperado.
—Não… não sei —respondeu ela fracamente. Aquele não era o momento de colocar à
sombra na sua conversação. Tom precisava usar suas energias para relaxar-se e melhorar em vez
de estar preocupado por alguém que rondava sua estalagem rompendo janelas e atirando ratos
dentro de sua cozinha. Poria-lhe nervoso e o impediria de descansar.
Ele meneou a cabeça ligeiramente. Estava claro que não acreditava em nenhuma palavra do
que lhe dizia.
—Então, me diga como sei que há uma moto antiga coberta com uma lona em um canto do
celeiro. E que há um lago e uma enorme zona de acampamento a uns poucos minutos
caminhando pelo atalho que sai por detrás, assinalou a porta com a cabeça. Ou como sei que tem
um punhado de pinturas sobre a vida selvagem guardadas nesse armário. Como sei tudo isso se
não estive alguma vez aqui?
—Como pode saber de meus quadros? Essa porta está sempre fechada com chave —disse
ela, assombrada.
—Se souber quem sou, por que não me diz isso? Conhece-me? Por que me resulta tão
familiar, merda? —apertou-lhe mais o pulso e Sara fez uma careta de dor.
—Não te vi nunca em minha vida. Hei-te dito tudo o que sei, tentou apartar-se. Por favor,
me solte, faz-me mal.
O olhar furioso desceu até o pulso dela e seus olhos refletiram espanto. Praguejando, soltou-
a imediatamente.
—Perdoa, não queria te fazer mal.
Ela se apartou rapidamente, o coração pulsando desenfreado no peito ante o estranho
comportamento masculino. Deu com as pernas contra um cavalete o fazendo cair e o barulho
produziu um barulho. Viu que Tom fazia uma careta por ouvir o ruído e levava a mão ao galo que
tinha na têmpora.
—Estive aqui recentemente, Sara, sei.
—Ouça, estive fora uns dias dando uns recados. Voltava para casa à noite em que me
atacou. Possivelmente estava aqui enquanto eu estive fora? A verdade é que não te conheço.
Embora desejaria fazê-lo, disse uma vozinha em sua cabeça.
Viu que um músculo se contraía ritmicamente na tensa mandíbula masculina.
—Dói-te a cabeça? —perguntou-lhe.
—Não —resmungou ele, apartando o olhar.
—Mente. O que passa é que não quer voltar a beber minha infusão de casca de salgueiro
brincou.
A sombra de um sorriso passou pelos lábios dele.
—Certamente que não.

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—Tenho algo mais para a dor na casa —lhe tocou a frente e seus dedos ficaram ali um pouco
mais do necessário.
O olhar ardente que lhe dirigiu fez que ela esclarecesse a garganta seca.
—Não tem febre, o qual é um bom sinal. Por que perguntava se eu me encontrava sozinha?
Ele deu de ombros.
—Nada, um pesadelo, despertei sobressaltado e… —titubeou, dirigindo os olhos à janela que
dava a casa.
Uma ligeira inquietação a percorreu. Teria visto a sombra?
—E o que?
—Nada, não era importante.
—Vale, então voltemos para a casa antes que caia aqui.

Uns minutos mais tarde, ele se achava de pé olhando a Sara enquanto fazia a cama. A forma
em que se pôs seu pênis ao ver os quadris arredondados moverem-se sedutoramente enquanto
ela acomodava os travesseiros lhe demonstrou que decididamente estava melhorando.
Desejou lhe rodear a cintura com os braços, apertar seu ansioso pau contra o adorável
traseiro feminino e fazê-la sentir quão atraído se sentia por ela.
Deixaria-lhe que desfizesse a formosa trança que caía pelas costas? Permitiria-lhe afundar os
dedos nas brilhantes mechas cor mogno?
Desejou beijar aqueles quentes lábios. Inundar-se em seu doce perfume a hortelã e logo…
—Necessita muito descanso — as decididas palavras dela o arrancou de sua fantasia a
tempo para vê-la dar uns tapinhas no colchão e dizer—: Porque tenho idéia de te pôr a trabalhar.
Ele quase lançou uma gargalhada quando as bochechas dela se acenderam ao dar-se conta
de repente do que acabava de insinuar com suas palavras e seu gesto.
—Eu gosto desse tipo de trabalho —disse ele brincando, metendo-se sob as mantas que
segurava.
—Refiro-me a cortar lenha —disse ela, sorrindo nervosa.
— Se quer fazer algo enquanto averiguamos por que está aqui.
—Pensar em uma tarefa tão nobre já me faz sentir melhor.
—Precisava recuperar suas forças o antes possível. Que melhor maneira que rachando
lenha?
—Começarei amanhã a primeira hora.
—Eu serei quem dirá quando começa — disse ela com firmeza. Possivelmente em um par de
dias. Enquanto isso, procurarei um remédio para sua dor de cabeça. Gostaria de comer algo?
—Possivelmente um pouco dessa infusão de hortelã se não for muito incômodo?
—Nenhum incômodo —disse Sara, voltando-se para partir.
—Um momento! Esqueceu isto!
Por debaixo dos lençóis tirou a toalha cor rosa e a atirou.
Ela a agarrou facilmente e ele riu ao ver que ela se ruborizava ainda mais ao dar-se conta de
que era a toalha que ele tinha tido atada à cintura.

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—Como já te disse antes, não tem nada que não tenha visto já —disse ela, e com a toalha
agarrada firmemente na mão deu a volta rigidamente e se dirigiu à porta do dormitório.
Tom lançou uma risada entre dentes e relaxou nos travesseiros perfumados de hortelã.
Sentia-se bastante depravado pela primeira vez desde sua chegada. Mas não podia entreter-se
com a companhia daquela formosa mulher muito tempo. Sua presença ali a punha em grave
perigo.
Havia algo naquele lugar que o inquietava. No atelier, as aquarelas de vida silvestre lhe
tinham captado a atenção imediatamente. Por que as pinturas pareciam tão familiares? Por que
aquela intensa beleza suscitava aqueles sentimentos estranhos e incômodos? E por que acreditava
que tinha estado em seu estúdio antes? Como sabia que o armário do atelier continha mais
aquarelas? Ela disse que sempre mantinha aquela porta fechada com chave, como se tinha metido
ele dentro?
Mais perguntas o assaltaram. Abriu-se e fechou a porta do celeiro devido ao vento, tal como
havia dito Sara? Ou tinha sido a mesma pessoa que ele tinha visto antes a janela do dormitório de
Sara? Ou possivelmente aquela pessoa tinha sido um sonho? Ou uma lembrança? Se não tinha
sido um sonho, por que ia haver uma pessoa de pé ali fumando tranqüilamente? Alguém com
maus propósitos não estaria de pé ali, não? Certamente foi algum delírio. A fumaça ardente lhe
penetrando nos pulmões teria sido uma lembrança? Possivelmente recuperaria a memória
daquela forma? Estranhos fragmentos de um quebra-cabeças. Um quebra-cabeças que não estava
seguro de querer resolver. Tanto se era sonho como realidade, não podia deixar Sara ali, no meio
de um nada, com um possível vagabundo azucrinando. Por agora, não lhe diria nada sobre o
fumante. Não tinha sentido preocupá-la se tinha sido somente um sonho. Quando se sentisse um
pouco mais forte, faria algumas averiguações, até então, guardaria silêncio.
Totalmente exausto, custou-lhe trabalho manter-se acordado e fechou os olhos.
Sara se achava frente à janela do salão. A escuridão a protegia enquanto seu olhar percorria
a negra noite procurando algum movimento. Tom tinha estado dormindo quando ela voltou com o
remédio para a dor.
Alegrou-se disso. Daria-lhe tempo para pensar, imaginar por que ele tinha subido ao atelier
empunhando uma faca, os olhos cheios de pânico.
Teria tido um pesadelo que o tinha confundido?
Não acreditava assim. Estava procurando a alguém.
Teria visto a sombra? A teria visto alguém mais além dela? Pensar nisso não lhe causou
nenhum alívio.
Durante mais de dois anos, os cabelos de sua nuca a tinham alertado quando a observavam.
Quando tinha começado, ao pouco tempo da morte de seu marido, ela pensou que possivelmente
o inquieto espírito dele estava apanhado entre este mundo e o outro. Tinha temido que seu
espírito havia retornado para persegui-la porque ela tinha sido incapaz de lhe salvar.
Numerosas vezes tinha permanecido acordada toda a noite, lhe esperando. Mas nunca viu
ninguém até uma noite fria do outono passado, pouco depois de fechar, ao acabar a temporada,
algo tinha acontecido que a fazia acreditar que não estava louca. Estava sentada dentro do

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estúdio, junto à janela olhando fora.


Com sua branca luz de laser, a lua iluminava o prado . Eram três e quinze da manhã quando
viu a sombra atravessar tranqüilamente o prado e subir ao alpendre. E tinha visto o brilho da brasa
de um cigarro.
Correndo, dirigiu-se ao prado a enfrentar-se à sombra, mas quando chegou tinha partiu.
Seus temores de estar ficando louca, do espírito atormentado de seu marido apanhado
neste mundo se esfumaram instantaneamente. Seu marido não fumava e um morto não deixava
rastros no cascalho de um estacionamento.
Após isso, tinha estado em guarda.
Sara se endireitou e dirigiu o olhar ao telefone. Hoje tinha esquecido de ver se já funcionava.
Alargou a mão, aproximou o auricular a seu ouvido e sorriu ao ouvir o tom.
Marcando os números rapidamente, tentou pensar como explicar ao Garry que tinha em sua
casa a um homem que tinha aparecido ferido, com algemas, e que necessitava que lhe ajudasse.
O telefone chamou do outro lado.
Uma vez.
Dois.
Por favor, responde, Garry.

Apertou o auricular com força enquanto o telefone soava e soava. Finalmente, a secretária
eletrônica ficou em marcha.
Titubeou um momento e logo lhe deixou uma mensagem discreta. Não havia forma de saber
quanto demoraria ele em escutá-lo. Por isso ela sabia, possivelmente se encontrava na Flórida
com seu irmão, em sua excursão de pesca anual. Não tinha nem idéia aonde iriam esta vez, mas
um amigo dele possivelmente soubesse onde poderia encontrar ao Garry.
Procurou o número na agenda e não teve que esperar muito até que uma voz nasal lhe
respondesse:
—Detetive Dan Rawlings, Departamento de Polícia de Nova Iorque.
Sara titubeou um momento, logo fez uma profunda inspiração.

Capitulo 5

—Então, viu-lhe pressionar o gatilho?


Garry Clarke se moveu incômodo na cadeira de rodas quando a pergunta da irmã da Sara, a
detetive privada Jocelyn Brady, rompeu o silêncio da sala de interrogatórios.
Tinham-lhes levado ali rapidamente, como se o chefe de polícia, uma das testemunhas do
tiroteio fatal de seu irmão gêmeo Robin, não quisesse que soubesse que alguém estava fazendo
perguntas sobre o que tinha acontecido. E, entretanto, o olhar penetrante de Garry, cravado nos
olhos azul pálido do chefe, percebeu o estremecimento do oficial por ouvir a pergunta.

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Foi um movimento quase imperceptível em um rosto que permanecia impassível como o de


um jogador de pôquer, mas aquilo para Garry foi um sinal. Um sinal que indicava que o Chefe
Jeffries não havia dito toda a verdade sobre a morte de seu irmão.
Reuniu-se com o chefe em duas ocasiões mais sem Jocelyn. As reuniões tinham sido formais
e amáveis. O certo é que o chefe tinha estado muito amável. Até o ponto de fazer todo o possível
para mostrar ao Garry muito claro a evidencia que tinham contra o suspeito. E, entretanto, algo
falhava. Desejou com desespero saber o que era aquilo.
Como último e patético esforço por desconcertar ao chefe, tinha pedido a Jocelyn que fosse
com ele. Jocelyn, uma mulher muito bonita, despertaria o interesse do chefe, um inveterado
mulherengo, que não poderia resistir. A distração permitiria ao Garry lhe observar desde certa
distância. Parecia que a idéia tinha funcionado.
—Já o hei dito, senhorita Brady —disse o chefe da polícia respondendo à pergunta.
— O assassino estava tão perto como eu estou de você quando voou os miolos do Robin. Eu
o vi e, como você sabe, a própria esposa do suspeito o viu.
De repente, Garry sentiu náuseas. Em vez de estar ali falando sobre seu irmão morto, teria
que estar na Flórida pescando com ele, como tinham planejado. Mas o cancelamento no último
momento de Robin lhe tinha surpreendido. Até o último momento Robin tinha mantido um
obsessivo secretismo sobre o trabalho que fazia.
Finalmente, durante a última conversa telefônica que tinham mantido, Robin lhe revelou uns
dias antes de sua morte que se tudo saía bem, ia se armar um rebuliço e dos grandes, quando
revelasse certa informação a respeito de uma delegacia de polícia de Nova Iorque.
Estava muito claro que as coisas não tinham saído nada bem, porque seu irmão estava
morto e enterrado, supostamente assassinado à mãos de um oficial de polícia corrupto.
O minúsculo nervo voltou a mover-se sob o olho direito do chefe de polícia, chamando
imediatamente a atenção do Garry. Seus olhares se cruzaram e por uma fração de segundo Garry
viu refletido o medo naqueles frios olhos. Medo a que? O que escondia?
Mas aquela expressão se apagou dos olhos do chefe em seguida e este apoiou as mãos
sobre a mesa, ficou de pé e voltou sua atenção a Jocelyn.
—Se isto for tudo, tenho que dirigir uma delegacia de polícia —disse o chefe com suavidade.
Atuava como se não tivesse acontecido nada fora do comum.
Jocelyn agarrou a indireta, ficou de pé e se inclinou por cima da mesa para estreitar a mão
do chefe.
—Agradeço-lhe, senhor, que tenha encontrado uma vaga em sua apertada agenda para nos
ver. Foi de muita ajuda.
O chefe esboçou um fulgurante sorriso dirigido a Jocelyn. A maioria dos homens o faziam. E
com razão.
Jo era uma moça muito atraente com o cabelo liso e castanho até os ombros. Seus olhos azul
violeta eram alegres e faiscantes, mas Jo nunca parecia interessada em comprometer-se. Sempre
se comportava de uma forma muito profissional quando falava com os homens, e assim que eles
mostravam algum interesse nela, sua famosa pátina de gelo a cobria, e os homens se deslizavam

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por ela e se afastavam. Um a um.


Pareceu-lhe que algo teria acontecido no passado para fazê-la afastar-se dos homens e as
relações. Nunca tinha contado nada e ele nunca tinha feito indagações, mas era muito diferente
com ele, sempre amistosa e disposta.
Possivelmente porque não o considerava uma ameaça. Levava mais de trinta anos, era seu
amigo e uma figura paterna, e considerava Jocelyn e a sua irmã Sara, as filhas que teria desejado
ter. O projétil que lhe tinha destroçado a medula e paralisado da cintura para baixo tinha
impedido que tivesse mais filhos além de seu único varão.
A atenção do Garry voltou para o chefe e Jo.
—Volte quando queira, senhorita Brady.
Jo sorriu. Uma adorável covinha lhe marcou na bochecha direita.
—Por favor, meus amigos me chamam Jo.
Garry se surpreendeu por ouvi-la. Considerava-lhe um amigo? Sentindo que se desanimava,
aferrou-se aos braços de vinil de sua cadeira de rodas. Teria que lhe haver falado de suas suspeitas
sobre o chefe, haver dito o verdadeiro motivo pelo que lhe tinha pedido que o acompanhasse.
—E eu adoraria vir de visita —disse Jo, brincalhona.— Possivelmente possamos tomar um
brunch alguma vez?
Brunch? Deus, tinha vontades de vomitar.
—Seria maravilhoso, Jo, por mim, encantado.
Garry saudou o chefe com uma rígida cabeçada enquanto sentia uma pontada de fúria. Logo
que sentiu o suave movimento da cadeira quando Jo lhe deu a volta e o empurrou pelo corredor.
Quando se tinham afastado o bastante, Garry se girou na cadeira e lançou um olhar de
aborrecimento a Jo. Um doce sorriso de auto-complacência se desenhava nos lábios femininos.
O aborrecimento se tornou imediatamente em curiosidade. Jo tinha metido suas garras de
porco espinho por algum motivo. Trazia-se algo entre mãos.
—O que há, Jo?
—O que te faz pensar que há algo? —respondeu ela com naturalidade.
—Já sabe por que.
Jo baixou a velocidade da cadeira de rodas e se inclinou para aproximar-se ao Garry.
—Me deixe que te pergunte algo, Garry —disse, lançando um precavido olhar por cima do
ombro. O corredor estava vazio. Se uma pessoa disparar a outra a pouca distância, mas não se
encontra tão perto—…por exemplo, como disse o chefe: o assassino estava tão perto da vítima
como eu o estava dele, vale?
Garry assentiu.
—Bom, pois, me diga isto, Garry, porque tinha no relatório da autópsia , por que Robin tinha
queimaduras de pólvora no rosto? Não seria assim quando alguém dispara a queima roupa em vez
da uns metros?
Garry meneou lentamente a cabeça. Acreditava que ela tinha encontrado algo, mas se tinha
equivocado.
—Não prestes muita atenção a isso, Jo. Dizia-o como um exemplo.

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Jo se mordeu os lábios pensativa.


—Possivelmente.
—Mas…? O que? —Garry franziu o cenho. Não gostava da sensação de desconforto que
deslizava entre as omoplatas.
— Venha, Jo, você tem um instinto especial, no que pensa? —Quem duvidaria de uma
testemunha como o chefe de polícia? —Sim —disse Garry brandamente quando por fim se deu
conta do que ela queria dizer. Satisfeita de que ele a tivesse compreendido, Jo começou a
empurrar a cadeira do Garry ao longo do corredor vazio.

O ardente sol se achava alto no céu, e seus raios caíam sobre a rica terra. Uma rajada de
vento percorreu a alta erva do prado próximo. Grandes nuvens brancas atravessavam o céu de
horizonte a horizonte, permitindo um momento de alívio do sufocante calor amarelo.
Com o pé, Sara cravou a pá na rica terra negra, tirou a pazada e a jogou a um lado à volta,
como se tivesse sido uma omelete. Logo secou o suor que lhe corria por debaixo do andrajoso
chapéu de palha.
—Merda —balbuciou zangada, enquanto dava a volta a outro vaso para que lhe desse o sol.
Poderia havê-lo feito com o rotor, mas necessitava uma vela nova. O velho não tinha servido de
nada o ano passado. A quem queria enganar. O rotor não era o problema, o problema era que não
queria despertar ao Tom.
O que menos precisava era um homem semi-desnudo perambulando pela casa. E menos um
homem que somente levava uma toalha cor rosa pendurada nos quadris que ela quase teve uma
erupção de combustão interna. Quanto antes partisse dali, melhor. Era muito perigoso.
Muito sexy.
A noite anterior ela tinha tido o mesmo sonho novamente. Sobre o dia em que tinha
conhecido Jack e o dia em que tinham descoberto que estava grávida. Esta vez uma volta nova se
acrescentou. Tudo aconteceu na mesma seqüência, até a parte em que Jack a fazia girar e girar até
fazê-la enjoar-se.
Naquele momento o rosto do Jack se desintegrou e foi Tom quem a tinha em seus braços
fortes e quentes de uma vez.
E esta vez não houve um disparo. Somente Tom frente a ela, lhe desabotoando
delicadamente o vestido. Levantando por cima da cabeça. Olhando sua nudez com olhos de desejo
e um pau enorme, enquanto a fazia deitar-se na cama e lhe colocava entre as pernas abertas.
Ela lançou um suspiro de desejo ao pensar naquela visão e secou o suor que cobria sua
frente, franzindo o cenho quando os pelinhos da nuca de repente arrepiaram.
De repente teve a muito claro sensação de que alguém a vigiava.
Deu-se a volta rapidamente e viu um homem junto à porta branca da grade de seu jardim, os
braços cruzados com naturalidade sobre o peito. Ele a observou atentamente sem dizer nada.
Uma onda de alarme a percorreu enquanto olhava ao recém-chegado. Estaria procurando o
Tom?
Apertou o cabo da pá, seu instinto de proteção fazendo-a pensar em como separar o perigo

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do Tom. Se aquele homem tentasse fazer algo, atacaria-lhe mais rápido que uma loba a um
coelho.
Logo notou o conhecido sorriso que se desenhava nos lábios cheios e surpresa e desejo a
invadiram.
—OH, Meu deus! Tom?
Era muito bonito. Um Mel Gibson mais jovem.
—Merda —disse, trêmula por dentro, a xoxota úmida de excitação.
O sorriso do Tom se ampliou e ela sentiu que ficava sem fôlego.
Sem dizer nada, ele abriu a porta e entrou no jardim, andando com confiança pelo atalho
central.
Sara se apoiou pesadamente na pá, os joelhos débeis ao lhe ver aproximar. Bem sabia o céu
que necessitava uma muleta, porque o fresco aroma de sabão combinado com seu erótico aroma
masculino chegou ao seu nariz de repente, fazendo-a reagir ante sua virilidade.
O olhar ardente dele lhe percorreu o corpo e dentro de seu abdômen fizeram erupção
intensos desejos.
Merda, ela não necessitava aquilo, seriamente que não. Mas estava muito bonito recém
barbeado. A terrível palidez anterior tinha desaparecido, substituída por uma cor saudável que
fazia que os machucados que se estavam desvanecendo já, apenas se notassem. Havia-se atado o
cabelo em um rabo na nuca e pôs uma velha boina de beisebol que tinha pertencido ao Jack.
—E? O que te parece? Passei na revista? —perguntou ele roucamente.
—Tem um aspecto… diferente —tinha o rosto avermelhado e não era devido ao sol. Deixou
que seu olhar apreciativo descesse do bonito rosto masculino para a camiseta cor cinza clara que
se ajustava perfeitamente a seus amplos ombros e peito musculoso e logo desceu mais ainda até
os maravilhosos jeans ajustados que ela mesma tinha lavado.
A camiseta era de seu marido e ao Tom ficava realmente bem.
Sim, muito bonito.
Inconscientemente, Sara umedeceu os lábios.
O rosto acendeu mais ainda quando ele devolveu o olhar penetrante. Havia algo que vibrava
naquelas verdes profundidades. Algo ardente, perigoso, sexy. Algo erótico que ansiava liberar-se
de repente.
Era algo que ela desejava.
—Não tinha reconhecido.
—Bem. É meu novo disfarce. É surpreendente o que um pouco de saliva e brilho podem
fazer. Espero que não se incomode que tenha pego a boina? —tocou a viseira da boina.— Mas o
sol está um pouco forte para meus olhos depois de passar tanto tempo dentro.
—Isso está bem, mas está seguro de que deveria estar levantado?
Possivelmente em um par de dias. Mas agora não. Não estava preparada para defender-se
das maravilhosas sensações que a percorriam.
—A verdade é que me sinto bastante bem hoje. Pus-me um pouco de seu anti-séptico de
menta na ferida de bala. E decidi me ventilar as mãos um pouco, se o doutor der sua aprovação.

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Levantou as mãos para lhe mostrar que tirou as bandagens. As pequenas feridas das lascas
se estavam curando muito bem, deixando somente umas marcas vermelhas.
Sara conteve um suspiro de alívio ao ver que ele estava em processo de recuperação.
—Está bem. Sempre que as mantenha limpas.
—Senhora, sim, senhora! —disse em brincadeira, saudando-a militarmente.
—Descanse, soldado —lhe seguiu o trem.
Tom relaxou e logo disse:
—Tem fome?
Ela assentiu com a cabeça.
—Genial. Tenho-o tudo preparado. Levarei-te ao piquenique.
Um piquenique? Um súbito acesso de lágrimas a assaltou, fazendo arder as pálpebras.
Pigarreou, tentando esclarecer a opressão de sua garganta. Fazia muitos piquenique quando Jack
vivia. Poderia fazê-lo com um completo desconhecido?
Ele notou sua hesitação, porque moveu os pés como um menino que tem feito algo mau e
não sabe o que.
—Espero que não se importe que pegasse umas coisas e as metesse em uma cesta que
encontrei na despensa. Imaginei que como faz tão bom tempo e faz tempo que trabalha no
jardim…
—Não estou vestida para isso —disse ela, porque foi a primeira desculpa que lhe ocorreu.
Fez uma careta de desgosto quando recordou o que pôs para trabalhar no jardim aquela manhã.
Levava um velho par de calças curtas feitos com um jeans cortados, uma camiseta negra dos
Rolling Stones e tinha o cabelo solto por debaixo do chapéu de palha de ampla aba. Oxalá a
tragasse a terra.
Além disso, não podia ir ao piquenique com ele. Era muito… íntimo.
—O que tem de mau o que leva? —perguntou-lhe Tom com curiosidade.
—P… p… pareço um espantalho —gaguejou, procurando uma resposta.
—Um espantalho, né? Pois, certamente, é o espantalho mais bonito da comarca.
Bonita? Acreditava que era bonita? A excitação lhe correu pelas veias para ouvir seu
comentário.
Tirou-lhe a pá das mãos, subitamente nervosas, cravou a folha profundamente na terra e
deslizou sua cálida mão na dela.
OH, céus.
Agarrados das mãos. Muito íntimo.
O rubor piorou. E, entretanto, não se atrevia a lhe soltar. Era genial que lhe agarrasse a mão.
Sentir os dedos de um homem entrelaçados com os dela uma vez mais.
—Venha, vamos. Que tal te parece lá? —assinalou o bordo do prado, onde a escura sombra
do bosque oferecia sua frescura tentadora.
—Certo.
Fê-la sair do jardim e atravessar a porta. Ali se inclinou para agarrar a cesta e o cobertor feito
a mão que ela não tinha podido acabar.

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Mordeu-se o lábio inferior ao ver o pedaço branco de renda. Era uma parte de seu vestido
de noiva. Assaltou-a a dúvida.
Como podia ir ao piquenique com um total desconhecido? Atuar como se não lhe tivesse
acontecido nada trágico na vida. E, entretanto, aquilo era exatamente o que fazia.
Andaram pela alta erva do prado em silêncio. Sara não tirava os olhos da colcha. Tinha-a
escondido na despensa com a cesta depois… bom, depois de que o mundo veio abaixo.
Reconheceu o pedaço de tecido azul marinho do uniforme de polícia do Jack. Recordou o dia
em que lhe havia dito que deixava o corporação. Deus, que feliz que se pôs.
Nunca gostou que ele fosse tira. Que lhe disparassem. Sem saber nunca se a seguinte
chamada seria para lhe avisar que morreu, assassinado pela bala de algum louco. Mas, tinha
acabado acontecendo, não?
Ali mesmo, em um lugar perdido da mão de Deus. Um lugar no que tinham pensado que se
encontraria a salvo. Um lugar no que criar a seus meninos. Com raiva enxugou uma lágrima que
lhe corria pela bochecha. Por sorte Tom não o notou.
Sara não se deu conta de que tinham chegado ao extremo do prado até que a sombra, fresca
e deliciosa, cobriu-lhe o corpo acalorado. O forte aroma de pinheiro e o vento atravessando os
ramos por cima de suas cabeças começaram a acalmar seus nervos alterados.
Tom lhe lançou um olhar de preocupação.
—Encontra-te bem?
—Só cansada —sorriu Sara.
—Precisa comer —lançou ele uma risada enquanto lhe soltava a mão a contra gosto.
Estendendo a colcha feita a mão sobre a erva, deixou cair a cesta no centro, tirou-se os sapatos e
se sentou com as pernas cruzadas. Logo lhe sorriu, dando uns tapinhas no chão junto a ele.
—Venha, que não mordo.
Sara ficou ao bordo da colcha, olhando-a, sem vontades de pisar em seu passado. Viu o
tecido de algodão os quadros azuis e brancos da cozinha de seu primeiro apartamento em Nova
Iorque. Reconheceu o gasto tecido de um par de calças velhas do Jack, o mesmo que tinha levado
na consulta do médico o dia que lhe haviam dito que tinham poucas possibilidades de que ficasse
grávida.

A vida continua, disse-se severamente. Assim tem que ser.


Tirou-se os sapatos e pisou na colcha e no seu passado.
Olhou ao Tom tirar a comida da cesta com cuidado. Seu sorriso era tão intenso e inocente.
Como ia arruinar aquele entusiasmo porque não podia superar seu passado? Sentou-se para não
ver as distintas partes de tecido que compunham a colcha.
—Espero que você goste. Preparei uma festa digna de um rei, uma rainha e a corte inteira.
Fervi um montão de batatas e fiz uma salada e mais coisas. Olhe, comprove você mesma.
Passou-lhe algo envolto em papel alumínio. Ela o desembrulhou devagar e ficou sem fôlego
ao ver que era um sanduiche enorme.
—Não era necessário que te incomodasse, Tom —disse, sem apartar o olhar daquela criação

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com aspecto tão delicioso. Fez-lhe água a boca. Não se tinha dado conta de que tinha tanta fome e
sem duvidá-lo deu um grande bocado.
—Mmm. Está muito bom —murmurou entre bocados.— Minhas felicitações ao cozinheiro.
—Parece surpreendida.
—A verdade é que sim. À maioria dos homens que conheço não gostam de cozinhar. Dizem
que é trabalho de mulheres.
—Então, será que ainda não terá encontrado o homem ideal.
O homem ideal? O que insinuava?
Ele continuou servindo um prato cheio de salada de batata, salada de feijões, a conserva
dela de cenouras e beterrabas com hortelã. Havia-lhe dito que era bonita, e agora lhe dizia que
ainda não tinha encontrado o homem adequado? Possivelmente estava dando muita importância
a suas palavras.
Certamente não lhe interessava. Era viúva, vivia perdida em um lugar escondido, vestia-se
como um espantalho e nem sequer levava maquiagem. Eram seus hormônios acelerados os que
estavam fazendo imaginar coisas.
Passou-lhe um prato a transbordar de embutidos e salada. Sara negou com a cabeça, lhe
indicando com um gesto da mão que o levasse.
—OH, não, não posso comer tanto.
Mas suas papilas gustativas disseram o contrário. Um pouco mais e lhe cairia a baba.
—Venha, pegue-o. Meu formoso espantalho precisa preencher um pouco esses ossos. Além
disso, o que não coma o daremos às formigas.
Os olhos verdes brilhavam alentadores e de repente ela começou a sentir-se melhor.Muito
melhor. Aceitou o prato e lançou uma risada entre dentes.
—Logo teremos umas formigas como elefantes brincando de correr por aqui.
Ele serviu dois copos de gengibre fresquíssimo e lhe deu um enquanto elevava o seu.
—Pela boa comida, a boa bebida, a excelente companhia e o formoso dia. Saúde!
Sara riu de boa vontade enquanto entre chocava o copo com o dele.
—Bom proveito! —murmurou entre enormes bocados de comida.
Comeram e conversaram. Falaram de diferentes temas até devorar quase toda a comida.
Logo ela recordou a chamada telefônica da noite anterior.
—Me esqueci de dizer que o telefone funcionou durante um momento ontem à noite, assim
tentei me pôr em contato com o Garry. Não tem celular e não estava em casa, assim chamei um
amigo dele que está no Departamento de Polícia de Nova Iorque.
Tom a olhou boquiaberto, pálido de surpresa. A expressão relaxada e inocente de seus olhos
verdes se permutou em aberta desconfiança.
—Delatou-me?
—Não, por Deus, não! —disse Sara, incômoda ante a idéia de que ele pensasse que lhe tinha
traído.
— Não te mencionei absolutamente, só disse que pedisse ao Garry que me chamasse em
seguida. E que era urgente.

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—Merda! Deixou uma mensagem na Polícia de Nova Iorque?


—Sério, não se preocupe. Seu amigo é de confiança. Era advogado, trabalhava com o Garry e
eu nem sequer te mencionei.
Tom meneou a cabeça e a sombra de um sorriso lhe passou pelos lábios.
—Sinto muito, deu-me o pânico. Confio em você. Por favor, me diga o que disse.
—Só o disse que precisava falar com o Garry sobre umas questões familiares e se ele sabia a
que parte da Flórida tinham ido Garry e seu irmão pescar. Todos os anos os dois se agarram um
par de semanas de férias e vão pescar. Tudo que disse que Garry estava trabalhando em um caso
pessoal muito importante que tinha aparecido de repente e que lhe passaria a mensagem.
—E sua irmã? Pôde falar com ela?
—O tema é que a linha voltou a cortar-se quando estava marcando seu número, assim não
pude falar com ela. Quando tentei esta manhã seguia sem funcionar. Se for a conexão que vem
para aqui, geralmente não a arrumam até que dou aviso. E se for a da auto-estrada, estou segura
de que estão nisso. Suponho que teria que comprar um celular.
—Possivelmente fosse uma boa idéia.
—Enquanto isso, pode ficar aqui em Peppermint Creek e desfrutar de suas propriedades
curativas.
—E toda esta comida tão sã —disse ele, contente de novo.
Ela relaxou enquanto Tom se servia um pouco mais dos embutidos que ela tinha feito.
Depois de encher o prato novamente, fez-lhe a pergunta que todo mundo fazia quando ia pela
primeira vez à Estalagem de Peppermint Creek.
—Me fale mais deste lugar.
Encantava-lhe que as pessoas pedisse que falasse da Estalagem de Peppermint Creek. Agora
que todos se foram, era seu entretenimento. Acabou o gengibre, apartou uns pratos, cruzou-se as
pernas ao modo índio e começou a lhe contar a história, com o pulso acelerado pela forma intensa
em que ele a olhava novamente.
—Compramos a propriedade de uma viúva. Eram ricos. Ele tinha algo que ver com a
indústria do ouro e da madeira perto daqui, para o leste, e construiu a casa de troncos para que
ela a usasse de lugar de descanso. Ela queria ser escritora e aproveitar a tranqüilidade da casa
para dedicar-se à escritura, mas nunca conseguiu reunir a coragem para mandar seu trabalho a
uma editorial.
—Que trágico —disse Tom, franzindo o cenho.
Sara assentiu com a cabeça.
—Quando se aposentou seu marido, ambos se mudaram aqui. Deram-se conta de que se
sentiam um pouco sós e então; abriram um lugar de acampamento e construíram umas cabanas
rústicas. O marido morreu depois de pouco tempo e durante uns anos ela tentou levar o lugar
sozinha, mas era muito trabalho e durante o inverno estava terrivelmente isolada, assim decidiu
vender. Mas a queria vender a alguém que amasse a natureza de verdade. Um amigo nos
mencionou este lugar. Jack e eu nos apaixonamos por sua quietude imediatamente, mas aos
outros —deu de ombros—, levou-lhes um pouco mais.

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—Aos outros?
—Meus sócios. Meu sogro, Garry, e minha irmã Jo.
—Jo também vive aqui?
—Antes. Durante um tempo, mas voltou para Maine onde cuida da casa de meus pais
quando eles viajam. Mas eles, além de meu irmão e meus pais, ajudam-me quando podem.
Geralmente algum deles está comigo durante a temporada alta.
—E os invernos? Não são muito compridos para que seu marido e você estejam sozinhos
aqui?
Sara se mordeu o lábio inferior e acariciou a aliança de matrimônio com um dedo. Devia
dizer-lhe ou não? Poderia confiar em que aquele desconhecido não lhe fizesse mal uma vez que se
desse conta de que ela vivia sozinha ali? Seria capaz de lhe dizer que não havia mais marido?
Antes que pudesse decidir o que lhe dizer, lhe respondeu a pergunta.

—Seu marido não vive aqui, verdade? Tem medo de me dizer isso porque não confia de tudo
em mim. Por agora não, —disse crédulo.— É normal, Sara, especialmente porque te revelei que
sou um criminoso.
—Não sabemos isso certo —disse ela rapidamente, surpreendendo-se de repente ao dizer
essas palavras. Começava a perguntar-se por que a polícia lhe quereria morto. A polícia não se
dedicava a matar criminosos, ao menos não a propósito.
Ele assentiu, pensativo. Seus olhos permaneceram inexpressivos enquanto dirigia o olhar ao
próximo lago no que brilhava o brilhante sol. Trocando de tema, ele voltou a levar a conversação
para ela. Estava-se convertendo em um hábito irritante que ela desejou poder trocar.
—Então, o que faz aqui perdida nos invernos largos e frios?
—Me acerto para me manter ocupada. Faço meus produtos de hortelã, das folhas que colho
do riacho e quando chega a tristeza do inverno saio e faço as entregas. Ali é onde estava estes
últimos dias.
—Produtos? Colheitas de hortelã de seu riacho? —parecia totalmente impressionado e isso
causou a Sara uma tremenda agitação.
Estreitando as mãos por debaixo de seu queixo, ela disse com saudade:
—Teria que ver o que é isto no verão. O ar cheira a hortelã. Em agosto contrato a uma
pequena equipe de estudantes que ajudam a compilar a hortelã e a secamos pendurada das vigas
do celeiro. Durante o inverno faço de tudo com a hortelã: desde velas perfumadas, azeite para
banho e massagens, sabonetes anti-sépticos, até balas, bolachas, bolos… a lista é infinita.
As sobrancelhas do Tom se arquearam com espera divertida e se umedeceu os lábios com a
língua.
—Bolo de queijo e hortelã?
—Isso é algo que se poderia negociar facilmente, por que não? —disse ela com uma risada.
—Verdadeiramente ama a este lugar. Vejo-o em seus olhos —disse Tom brandamente. A
forma ardente em que a olhou fez que ela se sentisse um pouquinho coibida.
Tocando um pedaço azul turquesa, de repente se deu conta de que não recordava o que

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representava aquela parte de tecido. E naquele momento lhe dava igual.


—Pois claro, é meu lar. É perfeito.
Ele tirou alguns pratos mais da colcha e se estirou ao lado dela.
Ela tentou não lhe olhar, mas não pôde evitar lançar um olhar de vez em quando às largas
pernas, os quadris sexy e os braços cujos músculos se contraíram quando cruzou as mãos sobre o
plano estômago.
—Me fale mais deste lugar —lhe pediu ele, olhando o céu.
—O que quer saber?
—Por que é tão relaxante aqui. Parece que há magia no ar.
Sara riu.
—Haverá muitas coisas no ar dentro de umas semanas, mosquitos, moscas negras…
—Tem uma risada muito bonita. Deveria rir mais freqüentemente.
Seus olhares se cruzaram um momento e a ela lhe cortou a respiração ao ver a forma
ardente e escura em que ele a olhava. Poderia apaixonar-se por esse homem. Muito facilmente.
Pensar nisso a envergonhou e baixou a vista, tentando concentrar-se em outro quadro da colcha.
—E os insetos não espantam aos clientes? —perguntou ele brandamente.
—Queixam-se —brincou ela, evitando lhe olhar aos olhos—, mas todos os anos voltam em
manadas. Tive que cancelar as reservas pelo tema do incêndio da estalagem, mas sigo com as
cabanas e a zona de acampamento do outro lado do lago. Terei que começar a contratar outra vez
às pessoas para quando voltar a abrir. E necessitarei a um temporário que se ocupe da árvore
caída e arrume algumas das cabanas.
—Possivelmente me possa empregar de forma temporária?

Ela tragou o nó que tinha na garganta para lhe ouvir. Virgem Santa, ter a essas pedaço por aí
dando voltas mais tempo; lhe ia resultar difícil. Cada vez que o olhava, ela desejava lhe saltar em
cima.
—Estou segura de que ainda está muito dolorido para fazer esse tipo de trabalho.
—A verdade é que não me dói muito. Joguei um olhar à ferida no espelho e não é muito
profunda. Só um arranhão.
—É mais de um arranhão e acredito que é muito cedo ainda —disse ela com o cenho
franzido, meneando a cabeça.
—Posso começar pouco a pouco. Não quero estar jogado outro dia e me sinto muitíssimo
melhor. Não lhe ofereceria isso se não acreditasse que podia fazê-lo.
Quem era ela para lhe dizer o que devia fazer? Não era um menino, sabia suas limitações.
—Seguimos sem telefone. E se te passa algo?
Deus não o quisesse. Não queria uma repetição dele jogado na cama a sua mercê… lhe
tocando intimamente enquanto dormia.
Envergonhada, sentiu que lhe acendia o rosto.
—Prometo que não passarei.
Tom ficou de barriga para baixo e esperou sua resposta. Os olhos brilhavam iludidos

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enquanto a olhava com antecipação, seu ardente olhar novamente deixando-a sem fôlego…
—Descansei e relaxei para que me dure toda a vida. Além disso, não tenho mais remédio
que estar aqui, não?
Não tinha mais remédio? O que queria dizer… que não queria estar ali?
—De acordo… vale. Mas não passe do limite, vale?
—Você manda.
Deus, estava louca? O contratar para que fizesse as porcarias quando se estava recuperando
de uma ferida de bala? Lhe ter ali na Estalagem de Peppermint Creek, em seu dormitório, com ela
dormindo no sofá na habitação contígua?
E agora pior, porque como já se levantava, seria mais difícil lhe evitar! Além disso, como ia
usar seu vibrador com ele pululando por aí?
Ele assinalou com a cabeça o que uma vez tinha sido o atrativo principal da propriedade, os
restos calcinados da estalagem.
—Suponho que aquilo era a Estalagem de Peppermint Creek.
—Já me pus em contato com os construtores. Dei-lhes os planos da velha estalagem, assim
não resultará muito difícil reproduzi-la.
—O que lhe passou?
—Alguém provocou um incêndio. O inverno passado.
—De propósito? Por quê? Quem? Por que motivo?
—Não sabem. A polícia encontrou latas de diesel vazias atrás do celeiro.
Sara dobrou as pernas contra o corpo e as abraçou. A tristeza a invadiu enquanto olhava os
restos calcinados da estalagem de troncos que tinham construído com árvores de sua
propriedade. Era uma pena terrível que alguém a tivesse incendiado.
—Alguém te rompe as janelas, atira animais mortos dentro, queima seus edifícios… Sabe
quem é? Ou o motivo?
Lágrimas ardentes lhe alagaram os olhos ao recordar as chamas devorando o edifício de dois
andares aquela noite terrível.
—Melhor não falemos disso hoje, vale? Quero desfrutar deste dia formoso, foi um inverno
terrível e é tão agradável sentir o ar morno no rosto outra vez.
Tom não respondeu. Em vez disso, arrancou um comprido caule de erva e o colocou entre os
dentes, mastigando-o pensativo.
Ela fechou os olhos e desfrutou das cigarras cantando nos pinheiros próximos, o vento que
jogava com seu chapéu e a respiração dele, rítmica e profunda. O piquenique tinha saído bastante
bem, pensou. A verdade é que tinha passado bem. Esqueceu-se quão bom é simplesmente
relaxar, mas o seguinte que disse o arruinou tudo.

—Esta colcha é especial para você, verdade? Pela forma em que a olha e a toca, dá-me a
sensação de que não deveria ter pego.
Merda! Manteve os olhos fechados, tentando não franzir o cenho, fazendo como que a
pergunta não lhe atravessava o, coração.

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—Sinto muito, não ter perguntado —disse ele rapidamente.


Ela mordeu o lábio inferior e tentou conter as lágrimas que de repente lhe acumularam nos
olhos e rodaram pelas bochechas.
Deus, que vergonha. Como poderia ter reagido assim?
Em questão de segundos ele estava a seu lado, embalando-a em seus fortes braços e ela
soluçou mais ainda ao notar sua mão que com delicadeza esfregava as costas. Sentiu que com a
outra acariciava o cabelo.
—Tranqüila, não passa nada —lhe disse brandamente.
— Sinto muito.
Para ouvir a doçura de sua voz e o contato reconfortante de suas mãos, ela se fundiu contra
o forte peito masculino. Seu maravilhoso calor atravessou a roupa e acariciou a pele, e logo sentiu
que um dedo levantava seu queixo brandamente.
O aveludado fôlego acariciou delicadamente os lábios, desencadeando espirais de desejo em
sua concha. Abriu os olhos de repente. O rosto dele se aproximou. Deus santo, ia beijá-la!
Os lábios masculinos dançaram sobre as úmidas bochechas, toques sensuais como o contato
de uma pluma contra sua nuca, o qual fez que o corpo ardente dela desse um salto de alegria.
Como um colibri bebendo o néctar de uma saborosa flor, os lábios dela se fundiram e abriram
contra a boca firme e úmida. Aceitou a suave exploração da língua dele e logo o beijo se
aprofundou, passando de ser uma delicada invasão a uma intensa exploração. Do profundo de sua
garganta, surgiu um suave gemido.
Ele respondeu com um rugido sensual e seus braços se dirigiram à cintura dela. Estreitou-a
mais, esmagando os seios inchados contra seu peito musculoso. Sara elevou os braços
automaticamente para rodear o pescoço e aproximar mais o rosto ao profundo beijo. A boina dele
caiu e a borracha que tinha usado para atar o cabelo em um rabo se rompeu abruptamente
quando os dedos dela se afundaram na sedosa juba.
Ela sentiu que seu corpo inteiro se fundia com o dele. Que se faziam um. Nunca a tinham
beijado com tanta intensidade, jamais. Poderia perder-se nos braços daquele homem para sempre
e não voltar nunca para a realidade.
OH, Deus! Precisava inundar-se naquelas sensações! Perder-se dentro dele
—Por favor —sussurrou contra a boca masculina, sem saber o que dizer nem como dizer que
queria que fizessem amor.
Ele se deu conta do que ela necessitava e seus lábios se fizeram mais exigentes,
embriagadores. Um fogo a percorreu e circulou também por ele. Ela sentiu como ele tentava
contê-lo. Podia sentir o corpo masculino tenso com paixão reprimida.
Ela sentiu que a empurrava para trás e gemeu quando ele a jogou sobre a colcha.
Os fortes dedos masculinos agarraram sua camisa e a levantou despindo seu ventre,
elevando-a mais até poder ver seus recatados peitos. Olhou-lhe e viu que o desejo acendia seu
rosto.
Um rugido profundo e erótico surgiu do peito dele quando viu sua nudez.
—Seus peitos são adoráveis. Seus mamilos tão aveludados —sussurrou enquanto passava o

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dedo brandamente pela auréola do peito esquerdo antes de lhe apertar o mamilo com força,
desatando um espiral de desejo atroz no profundo de seu ventre.
Ela se estremeceu quando as palmas dele se apoiaram sobre seus mamilos, abrangendo seus
peitos. A pele dele estava quente, seus dedos incrivelmente suaves enquanto massageava seus
mamilos e os retorcia até que estiveram duros como pedras.

O anseio para fazer amor se incrementou mais! Ainda quando ele inclinou a cabeça e sua
deliciosa boca agarrou um de seus mamilos entre seus quentes lábios.
Ela se estremeceu sob as sensações que a sacudiram. Deus santo! Aquilo era muito
maravilhoso para ser verdade
Alargando as mãos, passou as mãos pelos ombros; explorando com os dedos a firmeza do
corpo masculino Um prazer extraordinário a percorreu e se encontrou gemendo suspirando,
desejando que a amasse.
Lançou uma exclamação cortada quando a boca dele encontrou o outro mamilo e o
mordiscou ligeiramente, lhe produzindo a dor mais deliciosa que tinha experiente em sua vida.
—Quero te lamber os peitos —grunhiu ele, ao interromper o erótico mordisco e aliviar sua
dor com a língua.
—Quero te morder os mamilos. Fazer amor.
Novamente a mordeu, mais forte esta vez, mas resultou doce de uma vez.
Ela desejou lhe dizer que o fizesse, que fizesse amor a seus peitos, que fizesse amor a ela,
mas as palavras ficaram na garganta, paralisada pela ânsia selvagem que viu nos olhos dele ao
olhá-la.
Soltou-lhe os peitos e seus lábios se dirigiram mais abaixo, queimando um rastro de fogo
enquanto lhe beijava o pálido ventre até que ela se estremeceu baixo ele.
Os largos dedos masculinos puxaram o fechamento das calças dela e o som de zíper que se
baixava fez que o coração retumbasse no peito. Puxou as calças e ela elevou os quadris, lhe
permitindo que baixasse as calças e a roupa interior. Ele os baixou com experiência e suas cálidas
mãos lhe abrangeram os quadris.
A boceta dela se agitou loucamente enquanto ele lançava um suave assobio.
—Depila-se.
Ela assentiu. Sempre tinha depilado sua concha . Sempre a mantinha nua e suave como um
bebê para Jack, com a esperança de que ele tomasse quando quisesse, o qual não tinha sido
suficiente para ela.
Depois que ele se foi, tinha seguido fazendo-o por hábito.
—Fá-lo para alguém em particular? —resmungou ele e ela detectou uma matiz de ciúmes
em seus olhos.
—Não, sussurrou. Para ninguém.
—Para mim, então —gemeu ele.
Ela assentiu com a cabeça.
—Quanto faz que não está com um homem?

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—Mais de dois anos.


Ele lançou um palavrão.
Deus santo, não podia acreditar que estivesse tendo aquela conversação com ele! Não podia
acreditar que estava permitindo a um perfeito estranho que a tocasse daquela forma. Que a
olhasse daquela forma.
Mas sentia que estava perfeito.
E sentia que era formoso.
Ele se estava colocando entre suas pernas abertas e a mente lhe gritou que se detivesse.
Mas seu corpo tinha outros planos. Seu corpo lhe necessitava. Necessitava
desesperadamente. Podia sentir a excitação deslizando-se pelo canal para ele, com uma nata
úmida se preparando para ele.
No momento em que o quente fôlego masculino lhe acariciou a face interna das coxas, não
pôde evitar levantar os joelhos e abrir-se mais as pernas, levantando o abdômen para que ele
tivesse uma perfeita visão de sua concha, que se umedecia rapidamente.
Adorava a forma em que ele a olhava, seus olhos brilhantes de desejo, e sua boca úmida
pela rosada ponta da língua que acabava de lhe passar.

—O que quer que faça, Sara?


—Me coma —se encontrou sussurrando ela, o ventre contraído pela excitação.
Os olhos dele se abriram ligeiramente e suas cálidas mãos; agarraram-lhe as bochechas do
traseiro intimamente para inclinar seus quadris mais alto ainda para ele.
A cabeça masculina se afundou entre suas pernas.
Ela lançou um grito quando a deliciosa língua lhe roçou o trêmulo clitóris, cálida e exigente.
Carícias que a fizeram perder o sentido, doces chupões e ardentes beijos fizeram que ela se
sacudisse contra o rosto dele aos poucos momentos.
Puxa, que cálida era! Que receptiva. Que desenfreio sexual.
Céu santo, a forma em que a língua lhe roçava o clitóris era fantástica. Gemeu quando a
percorreram sensuais tremores.
Sua cálida boca ardeu sobre o núcleo do prazer feminino e a chupou com tanta força que ela
viu estrelas de prata e sentiu que a boceta fazia nata e lhe jorrava pelas coxas. Ele a soltou e com
os dentes lhe mordiscou brandamente os lábios até que ela se sentiu arder e gemer de prazer
carnal.
Um dedo se deslizou dentro de sua vagina apertada e úmida e ela se sacudiu contra a boca
dele. Prazeres eróticos lhe percorreram como ondas a mente, o corpo. Um segundo dedo se
deslizou dentro dela. Logo um terceiro.
A pressão de seus dedos grandes e largos a dilataram e os pulmões dela procuraram ar,
desesperado-se.
Ela ofegou quando ele começou a lhe esfregar docemente o cheio clitóris e seus dedos
começaram a penetrá-la lentamente. Dentro e fora da empapada vagina.
O som de seu úmido deslizar se uniu ao das respirações entrecortadas de ambos.

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O corpo dela ficou tenso. O ventre se contraiu, a boceta pulsou.


O feroz calor de sua excitação a invadiu de repente, fazendo-a apertar os dentes por seu
impacto.
OH, sim!
Formoso!
Perfeito!
A tensão sexual explodiu, fazendo-a sacudir-se e retorcer-se enquanto a percorriam com
suas ferozes ondas. Lançou um alarido quando o prazer ardente a envolveu. Deixou-se levar pelo
palpitante orgasmo. O gozo intenso logo a fez esquecer seu passado, mas a fez recordar quão bom
era estar com um homem.
Causou-lhe o desejo de mais.
A pressão sobre seus clitóris se aprofundou, intensificou-se. Os dedos dele se afundaram
mais dentro. Mais rápido.
Mãe do amor formoso!
Mais explosões eróticas acenderam dentro. Respirou procurando ar quando outro orgasmo
a percorreu, envolvendo-a e sacudindo-a.
Gritou seu nome. Aferrou-se a seu suave cabelo, afundando a cabeça masculina em sua
úmida concha.
Com os quadris meneando-se, apertou-se com força, os movendo enquanto aquele prazer
atroz a percorria uma e outra vez.
Torturava-a. Aliviava-a.
Quando o orgasmo se acabou, ela ficou deitada na colcha ofegando, exausta; a perigosa nata
de seu desejo lhe molhando a entre perna, lhe recordava o que acabava de acontecer. Recordava-
lhe que acabava de permitir que um desconhecido lhe comesse a boceta.
Ouviu-lhe lançar um profundo suspiro contra sua trêmula vagina e retirou as mãos que
sujeitavam a cabeça. Ele se apartou.
Abrindo os olhos, encontrou o rosto dele brilhante da umidade de seu desejo.

Ele sorriu, mas o sorriso não lhe iluminou os olhos. Uma série de dúvidas refletiram no rosto,
fazendo que ela tivesse um sobressalto no profundo do ventre. Por que se arrependia do que
acabava de fazer?
Lançou-lhe um penetrante olhar antes de dizer:
—Sinto muito. Suponho que não teria que haver feito isso, —seus olhos, entretanto,
mentiam. Deixava-os escuros, apaixonados.
— Não sei o que é o que me passou.
Ela desejou lhe dizer que não passava nada. Quis dizer que tinha sido ela quem o tinha
pedido. Mas as palavras permaneceram cativas dentro de seu peito enquanto o coração pulsava
descontrolado, ainda presa do efeito de seus intensos orgasmos.
—Preciso dar um passeio —disse ele, agarrando seus sapatos e levantando-se
abruptamente.

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— Te verei na casa.
Viu-lhe afastar-se. Viu as largas pernas masculinas lhe apartar dela.
O quente vento sussurrou contra sua úmida concha nua e seus peitos ao descoberto. Seu
corpo ansiava que ele voltasse. Desejava que fizesse amor. Quando ele desapareceu entre as
árvores, ela ficou olhando a colcha familiar debaixo dela. Lentamente ficou de lado e acariciou o
suave e sedoso tecido branco de seu vestido de bodas.
Lembranças.
Doces lembranças.
Como podia mantê-los no passado, onde pertenciam? Como poderia esquecer seu passado e
seguir adiante?
Essa sim que era a pergunta do milhão.
Se soubesse a resposta, seria uma mulher muito rica.

Tom se amaldiçoou pela enésima vez enquanto seguia o caminho estreito e serpenteado
pelo denso bosque.
Quando Sara pôs-se a chorar, quão único tinha desejado fazer era reconfortá-la, mas isso
tinha levado a outra coisa.
Um pouco desenfreado. Incontrolável. Intenso.
Não tinha podido manter suas mãos separadas dela, tanto desejava beijá-la, tocar seus
peitos, lhe comer a boceta.
Automaticamente, passou-se a língua pelos lábios, saboreando o doce sabor feminino que
ficava nos lábios. Nunca tinha provado algo tão erótico em sua vida.
O pau se pôs duro dentro dos jeans quando recordou o cheio e rosado que estava seus
clitóris quando ele acabou de seduzir a sua boceta.
A poderosa necessidade de cravar o pau na boceta dela dava medo. Nunca se havia sentido
daquela forma com respeito a uma mulher.
Ao menos, não o recordava.
Isso lhe levava a uma pergunta. Estaria casado? Teria uma mulher lhe esperando em algum
lugar? Uma noiva? Não levava aliança. Seria solteiro?
OH, venha já! A quem queria enganar? Casado ou solteiro, não havia forma de que pudesse
atar-se com Sara. Estava fugindo. Um fugitivo que não tinha um futuro que oferecer.
Precisava tirá-la da cabeça, e a qualquer idéia romântica ou sexual que lhe suscitasse.
Precisava concentrar-se em averiguar por que lhe seguia a polícia.
A vereda de repente saiu da fresca escuridão do bosque; e um grande claro, lhe fazendo
deter-se para admirar a paisagem. O prado inteiro estava coberto de pequenas flores azuis.
Margarida. O símbolo do amor verdadeiro.
Seu olhar se levantou para o outro extremo do claro, onde divisou um enorme montículo
rodeado de uma cerca de estacas brancas. O estômago lhe contraiu ao vê-lo e se dirigiu a ele.

Hesitante, subiu os degraus de rocha e abriu a porta com um chiado. Ficou sem respiração

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com o que viu.


Um diminuto cemitério, as datas de algumas das lápides datavam de finais do mil e
oitocentos. Em uma esquina, separada do resto das demais, notou uma rocha irregular de cor
rosa.
Relativamente nova.
Sentiu o sabor amargo da bílis na garganta ao ler os nomes escritos naquela pedra.
Ao compreender, foi como se lhe dessem um murro no meio do estômago. Nem o havia
imaginado. Ficou olhando fixamente os nomes gravados para sempre na gigantesca rocha cor rosa
pálido.
Davine Agnes Clarke. Querida mãe do Jack. Querida Avó.
Jack Richard Clarke. Querido marido e pai.
Os olhos lhe encheram de lágrimas enquanto seguia lendo.
Teresa Mai Clarke. Querida filha e neta.
Tom Jack Clarke. Querido filho e neto.
Todos tinham morrido no mesmo dia.

Capitulo 6

Quando Sara voltou para a estalagem, com a boceta desejando que o enchesse o grosso pau
do Tom, chamavam o telefone.
A excitação se cambaleou de horrível medo quando agarrou o telefone esperando que
aquela fosse a chamada que esperava.
—Estalagem de Peppermint Creek.
—Sara? Sara, é você?
A grave voz masculina do outro lado lhe produziu tal medo que deu um salto e esteve a
ponto de cortar a ligação.
—Olá, olá? —disse a voz.
Logo que pôde ouvir a voz do homem por cima dos batimentos de seu coração. Apertou o
aparelho com força. Teria que desligar, encontrar ao Tom, lhe dizer que partisse.
—Olá? Sou eu, Justin Jeffries.
Justin, o policial local.
Sara fez uma profunda inspiração para acalmar-se. Tinha que relaxar, atuar como se não
acontecesse nada.
—Oh, olá, Justin —disse alegremente, assombrada de que a voz lhe saísse tão firme, embora
a verdade era que sentia que o mundo inteiro se derrubava a seu redor.
—Onde estava? —disse ele, excitado, sem fôlego.— Levo dias tentando te localizar. O que
acontece? Está bem?
—Tudo bem. Não poderia estar melhor.

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Ouviu os passos do Tom no alpendre. Inconscientemente se umedeceu os lábios. Ainda


sentia o ardente beijo dele nos lábios cheios. Sua boceta se contraiu ao recordar a forma em que
lhe tinha comido o clitóris.
—Não passou nada com a tormenta o outro dia?
—Nenhum problema —mentiu ela.
O coração acelerou por ouvir o chiar das dobradiças da porta da cozinha. Tom havia
retornado de seu passeio.
—Alegra-me ouvi-lo —disse ele alegremente.
—Como sabia que havia retornado, Justin? —não havia dito a ninguém que estava de volta
em casa.
—Figurei-me isso que já estaria aqui. Depois de todo o trabalho que tem que fazer. Quer que
vá verte esta tarde, e te dar uma mão?
—Não! Não venha – quase gritou. Tentou se recompor, refiro a que tudo está controlado,
não necessito ajuda agora. Além disso, o caminho está alagado.
—Não é muito problema, poderia ir pelas barreiras de contra fogo. Tenho o 4x4. Posso-te
levar algo. Um file . Vinho?
OH, Deus, outra vez insinuando-se.
—Tenho comida mais que suficiente, não te incomode. Não necessito ajuda, sério.
—Está segura?
—Sim, segura —afirmou ela. Possivelmente com muita firmeza. Fez-se um silêncio do outro
lado. Perguntou-se se ele se teria dado conta dos nervos que ela tinha.
—Chamou por outro motivo —disse ele finalmente.— Topaste com algum desconhecido
recentemente?
Sara ficou gelada. Tensa, lançou um rápido olhar por cima do ombro.
Tom se apoiava contra a ombreira da porta com os musculosos braços cruzados sobre o
amplo peito. Tentava parecer indiferente, mas Sara viu a incerteza refletida em seus olhos e a
tensão de seu corpo. Se soubesse com quem falava ela.
—Um desconhecido? —repetiu em voz baixa.
Tom levantou a cabeça, atento, e lhe fez gestos com a mão de que se aproximasse para
escutar.
—Meu companheiro desapareceu no povoado fantasma de Perca.
—Desapareceu? Sam?
Conhecia o Sam. Era muito prepotente. Um verdadeiro mulherengo. Não tinha perdido
nenhum momento em tentar sair com ela. Durante os dois últimos anos, tanto Justin como Sam se
converteram em dois pesadelos: a três por quatro ambos os apareciam juntos ou de forma
individual sem avisar com a desculpa de conversar um momento ou ficar para jantar.
Sara deu um coice quando Tom a tocou ao aproximar-se. Apartou, o telefone um pouco para
que ele também pudesse ouvir.
—Um ermitão nos estendeu uma emboscada quando estávamos registrando as casas perto
da cidade fantasma.

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Tom fez uma profunda inalação e ela rogou que Justin não lhe tivesse ouvido.
—Apareceu de repente. Agarrou-me despreparado, roubou-me a arma e partiu. Sam e eu
lhe perseguimos, mas nos separamos no bosque. Após não o vi , nem a ele nem ao cara.
—Encontra-te bem? —perguntou ela com a voz afogada, sua confiança feita migalhas.
—Além de meu orgulho ferido por lhe deixar escapar, sobreviverei.
—Que aspecto tem o desconhecido? —perguntou, apertando o telefone com nervosismo.
Tom se aproximou mais, com igual curiosidade.
—É uma descrição normal. Cabelo comprido castanho. Barba e bigode. Aspecto muito
desalinhado. Compleição media . Metro oitenta, mais ou menos. Leva jaqueta negra e jeans.
Jaqueta negra. Desalinhado. Jeans.
As palavras lhe golpearam o estômago como torpedos. E pela forma em que Tom ficava
rígido junto a ela, deu-se conta de que ele tinha a mesma reação.
—Se lhe vir, está armado e é extremamente perigoso. Não quero que te aproxime dele.
Chame-me. Fala somente comigo, que estou a cargo desta investigação. Está segura de que tudo
vai bem?
—Muito bem.
Tom, extremamente perigoso? Por isso a tinha ameaçado com uma arma? Tinha subido a
seu atelier empunhando uma faca?
Sentiu que a mão reconfortante dele lhe deslizava pela cintura e imediatamente relaxou.
Não! Tom estava assustado em ambas as ocasiões. Não mataria nem a uma mosca.
—Um… sabe quem é?
Houve um ligeiro hesitação novamente:
—Quem é?
—Seu nome? De onde vem?
Tom cruzou seu olhar com a dela e ficou olhando. Tinha expressão de medo. Havia tensão
em seu corpo.
—Não. Não há nenhum nome. Não sabemos quem é. Possivelmente devesse ir verte.
Registrar o lugar. Depois de todos os problemas que tiveste, não é má idéia.
—Sério, Justin. Não, por favor. Encontro-me bem. Além disso, não há ninguém em milhas ao
redor e, a que ia vir um criminoso aqui? Não poderia chegar porque o caminho está coberto pelo
rio. Se acontecer algo ou vejo alguém, chamarei-te.
—Me chame, Sara. E tome cuidado. Ah, e, Sara, agradeceria-te que não dissesse nada. Pouca
gente sabe que Sam desapareceu. Produziria um pânico desnecessário.
—Certo —disse ela com o cenho franzido.
— Obrigado por chamar. Até mais tarde.
Cortou.
—Agarra suas coisas! —sussurrou Tom, zangado, passando junto a Sara.
—O que faz? —seguiu-lhe ao dormitório onde ele agarrou a jaqueta de couro que estava
pendurada no respaldo de uma cadeira de vime onde ela a tinha pendurado para que se secasse
fazia dias.

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—Parto-me e você também, mas temos que fazê-lo separado —disse severamente e se deu
a volta de repente para enfrentar-se a ela. Ela tomou ar para tranqüilizar-se ao ver a expressão de
medo que fazia brilhar os olhos. Tinha pânico.
—Não vou a nenhum lugar.
Foi como se não houvesse dito nada. Com os olhos entrecerrados, seu olhar percorreu o
dormitório.
—A arma. As algemas. Onde estão?
—Guardados.
—Necessito-os. É importante que a lei não suspeite que esteve me dando proteção.
Matarão-lhe assim que lhe joguem o olho em cima.
—Não suspeitam nada, Tom —disse Sara, tentando que sua voz se mantivesse o mais
acalmada possível. Com um pouco de sorte, ele se contagiaria de sua tranqüilidade.
Ele a seguiu à cozinha onde ela procurou no armário os ingredientes para fazer o jantar.
—Me escute, caralho! —gritou-lhe, e não gostou de nada que a manipulasse, mas
compreendeu que ele se preocupava com a segurança dela, porque ela sentia o mesmo com
respeito a ele.— Já é hora que me parta. Precisa ir a um lugar seguro até que isto passe. Vá à casa
de sua irmã, a detetive e fica com ela.
—O que te passa? Hei dito que não vou a nenhum lugar. Esta é minha casa. E ninguém sabe
que está aqui. Por que correr então?
—Deus santo, mulher! Está surda? Não ouviste o que disse esse tira? Disse que eu tinha algo
que ver com o desaparecimento de seu companheiro. Não tem medo de que faça desaparecer a
você também?
Ela deu a volta e viu que ele a olhava com as pálpebras entrecerrados e um tique nervoso
movia o músculo da mandíbula. Ele pensava que poderia lhe fazer danifico novamente. Agarrá-la
como a tinha pego ontem no atelier. Pensar nisso a deixou gelada. Entretanto, instintivamente
soube que não lhe faria mal, particularmente depois da forma em que tinha seduzido a sua boceta
aquela tarde, depois do piquenique.
—Relaxe, Tom. Eu confio em você.
Dirigiu-lhe um olhar de desconfiança.
—Como pode estar tão segura de confiar em mim? Virtualmente te ataquei no piquenique.
Não podia manter as mãos afastadas.
—Fez o que eu te pedi que fizesse. Por favor, não dê mais importância da que tem.
Uma expressão de dor lhe escureceu o rosto e desapareceu tão rápido que Sara se
perguntou se em realidade a teria visto.
—Além disso, há algo raro no que Justin me disse.
—A que te refere?
—Justin disse que você roubou sua arma.
—Sim, ouvi-o. Quer dizer que a poderia ter utilizado contra seu companheiro.
—A arma, essa não é regulamentar.
—Como sabe?

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—Meu marido era tira. Justin e Sam são tiras. A polícia não leva esse tipo de armas. Além
disso, é antiquada e está toda acabada. Muito velha.
—Então é minha.
—Possivelmente.
—Talvez estava vazia e por isso agarrei a arma do Jeffries.
—Talvez —disse Sara, pensativa.
—Você sabe algo —disse Tom, franzindo o cenho.
—Por que foi tirar a arma do Justin?
—Terá caído quando corria.
—Possivelmente
Passou uma mão pelo cabelo, irritado.
—Por que não aceita que sou um criminoso? Agarrei a arma de um tira. Matei a seu
companheiro e logo a atirei.
—Por que foste jogar uma arma carregada e ficar com a vazia?
—Porque a tinha na mão. Caiu-me. Não tem nada de sinistro. Sou um criminoso.
—Se fosse um criminoso, por que quer te matar a polícia?
Tom fez uma profunda inalação.
—Certo, vejo aonde quer chegar. Há algo mais.
—Me alegro de que comece a vê-lo como eu —lhe sorriu mas o cenho dele seguiu intacto.
— Além disso, este é o último lugar no que a polícia pensaria que ia se esconder um
criminoso.
—Por que de repente me dá a sensação que não quero saber por que este é o lugar no que
não se esconderia um criminoso?
—Porque o que não quer saber é que A Estalagem de Peppermint Creek é um centro privado
para… forças de segurança do estado e suas famílias.
Esperava que ele explodisse, mas não foi assim. Logo que piscou, como querendo analisar
aquela informação nova. Logo ele assentiu com a cabeça e lançou uma risada entrecortada e
colocou a jaqueta.
—Certo, se não quer partir, irei antes que apareça o tira —disse por cima do ombro
enquanto se dirigia à porta.
—Espera! —alcançou-lhe e lhe agarrou o braço tentando o deter. Uma descarga de
eletricidade surgiu entre os dois e o soltou instantaneamente.
Ele pareceu senti-lo também porque olhou a zona que lhe havia tocado e logo seu olhar se
elevou até o rosto dela. Todos os nervos do corpo dela se esticaram, jogando faíscas, quando ele a
olhou. Ficou quieto um momento e logo disse lentamente.
—Não queria dizer isso mas acredito que chegou o momento. Ontem vi alguém que espiava
pela janela de seu dormitório. Tentei me convencer de que era só um sonho, mas não o era.
—O que diz!
—Pela expressão de seu rosto diria que sabe do que falo. Quem é?
O coração acelerou no peito dela. Suas suspeitas de que Tom tinha visto alguém eram

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corretas.
Teria retornado a sombra?
—Não seja ridículo. Não há ninguém em milhas à volta. Tem razão, provavelmente tenha
sido um sonho.
Não era isso o que ela levava dois anos vendo, sombras escondidas em todos os cantos?
—Também senti o aroma de fumaça.
—Fumaça? —repetiu ela como uma boba. Sentiu que se enjoava e quase lhe cederam os
joelhos.
—Fumaça de cigarro. Você não fuma, verdade?

Tom não esperou que ela respondesse. Tirou algo do bolso posterior dos jeans e estendeu a
mão aberta para mostrar-lhe
—Encontrei isto faz uns minutos. No estacionamento. Acabavam de atirar.
Ela ficou olhando a bituca, boquiaberta.
Tom franziu o cenho e a olhou com expressão estranha.
—O que acontece?
Ela tentou livrar do temor que a assaltava. Era uma estupidez estar assustada de uma
sombra. Uma tolice ter medo de uma bituca. Mas, por que tinha tanto medo? Estava aterrorizada.
—Como é possível? —sussurrou.
—Como é que possível?
Tom tinha visto a sombra. Alguém que não fosse ela tinha visto a sombra, fisicamente.
Esta vez a sombra tinha aparecido à plena luz do dia. E Tom tinha cheirado a fumaça do
cigarro. Tinha encontrado uma bituca, uma bituca recente.
—Não posso te ajudar se não me disser o que é o que acontece, Sara —disse ele em voz
baixa, doce.
Ela mordeu o lábio inferior e permaneceu calada. Desejava dizer-lhe, Deus, como desejava
dizer-lhe tudo, mas não sabia por onde começar.
—Faz uns minutos me disse que confiava em mim.
Filho da puta, tinha razão. Ela o havia dito.
Lançou um suspiro de frustração e sussurrou.
—Às vezes, quando uma coisa realmente trágica te acontece na vida, é tão doloroso que o
coração se fecha. Não pode compartilhar sua pena com ninguém.
—É por isso que deixaste de viver? —suas palavras não foram duras, disse-as brandamente.
Mas lhe doeram o mesmo.
— Sara, quando fechamos nossos corações à dor, permanecem fechados. Não podemos
experimentar as outras coisas que a vida nos oferece. As alegrias, as tristezas, o amor… —
assinalou com a cabeça o céu que se obscurecia.
— A beleza de um entardecer.
Ela seguiu seu olhar e viu pela janela do dormitório os pedacinhos de rosa e lilás pálido que
rodeavam às enormes nuvens cinza.

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Antes ela sentia que a retirada do sol era um espetáculo maravilhoso, algo que esperava
com ilusão todas as tardes durante a temporada baixa. Agora não sentia nada. Sentia-se presa das
garras de uma espécie de intumescimento.
Ele lançou um suspiro de frustração, cedendo ante o desejo da Sara de permanecer em
silêncio e logo disse:
—Começarei a recolher o desastre do alpendre. Avise-me se quiser falar.
Ela assentiu com a cabeça e o olhou partir do dormitório. Momentos mais tarde ouviu o
chiado e o golpe suave da porta mosquiteiro da cozinha.
Sara fez uma profunda inalação e franziu o cenho.
Tom tinha razão. Tinha deixado de viver. Abandonado a seus velhos amigos, tampouco havia
feito novos, e perdido sua paixão pela pintura. O único que ficava era uma cabana queimada.
E suas lembranças.
O certo era que se converteu em uma morta viva.
Tom atirou brutalmente dos ramos, fazendo uma careta de dor quando a dor lhe percorreu
as mãos feridas. Mas não permitiu que a dor o detivesse. Continuou arrastando os ramos para o
prado dianteiro. Se as empilhava de certa forma, permitindo que o ar circulasse entre elas para
secar a madeira, estariam prontas para quando chegassem os campistas no verão.
Aquela árvore daria muita alegria aos veranistas quando se sentassem ao redor de suas
fogueiras de noite para torrar nuvens e cachorros quentes, cantar e compartilhar contos de
fantasmas.
Com um pouco de sorte, o trabalho físico manteria apartados seus horríveis pensamentos.
Pensava no que o tira havia dito a Sara por telefone, no companheiro que tinha desaparecido.
Teria tido algo que ver com o desaparecimento do oficial de polícia?
A têmpora direita começou a lhe pulsar com um pouquinho de dor e as costas doíam
muitíssimo. Recordou a promessa que havia feito a Sara de tomar com tranqüilidade, baixou o
ritmo enquanto continuava cortando os ramos.
Se recuperava a memória, converteria-se em um homem com prioridades diferentes? Um
homem sem escrúpulos, que mataria a outro ser humano sem ter remorsos por isso?
Seria por isso que os tiras lhe tinham algemado? Dado uma surra? Por que se tinha
comportado de uma forma tão selvagem que somente tinham podido reduzir daquela maneira?
Tentou recordar, mas nada lhe veio à mente, só um espesso e negro vazio. Meneou a
cabeça, frustrado. Para que perder valiosa energia tentando recordar? Precisava centrar-se no
trabalho que estava fazendo. Para recuperar suas forças. E ficar o mais afastado da Sara que
pudesse.

Horas mais tarde, Sara se achava na cozinha, olhando ansiosamente através da porta
mosquiteiro o prado da frente, brilhantemente iluminado. Havia um silêncio estranho naquela
noite. As rãs não coaxavam. Não se ouvia o ulular das corujas. Tampouco os longínquos gritos das
gaviões. Nem sequer a brisa para lhe fazer companhia.
Tom se tinha ocupado de quebrar todos os ramos menores que poderiam ser utilizadas para

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acender o fogo e logo cortou a árvore com a moto serra em troncos, empilhando-os para poder
parti-los em outro momento. Quando escureceu, lhe tinha chamado para jantar, mas ele tinha
declinado o convite dizendo que queria trabalhar um pouco mais. Assim que ela tinha aceso as
luzes exteriores para que pudesse seguir.
Isso tinha sido fazia mais de três horas.
E agora, eram quase as nove e Tom não aparecia por nenhum lugar. A moto serra fazia
quinze minutos que não se ouvia e tinha estado esperando, mas ele não tinha entrado.
Estava ali fora, naquela escuridão negra como tinta. E ela estava dentro, torturando-se com
um pensamento horrível atrás de outro. Possivelmente se tinha partido sem despedir-se? Ou
possivelmente a sombra o tinha pego? Ou possivelmente lhe tinha feito dano o exercício?
Não teria que haver feito tanto trabalho, era muito cedo para ele. Devia lhe deter. O que
pouco julgamento tinha tido ele, cabeçudo que era. O velho dito ia como anel ao dedo: "quanto
maiores, mais obcecados".
Lentamente, empurrou um pouco a porta e ficou paralisada quando as dobradiças chiaram
como um animal selvagem na fresca noite. Outra vez se esqueceu de engraxar. Fá-lo-ia amanhã.
Um longínquo relâmpago iluminou o horizonte pelo oeste e um frio lhe correu pelas costas.
Uma sensação de pânico muito conhecida a percorreu.
—OH, Deus. Meu Deus! —sussurrou.
Outra tormenta não. Esta noite não.
Deu a volta, disposta a voltar a entrar quando a suave voz do Tom procedeu da esquina do
alpendre, agora em sombras.
—Possivelmente se sinta melhor se falas, Sara.
—Tom, merda! —espetou-lhe zangada ao lhe ver sentado o mais alegre no balanço do
alpendre. Tinha estado ali todo o tempo enquanto ela, a uns metros, morria de preocupação por
ele.
—Estará cansado. Teria que estar na cama.
—Você também —disse ele apaixonadamente. Ela não perdeu a doce insinuação de sua voz,
que a pôs mais furiosa ainda.
—Eu não sou a que passou uma terrível experiência —lhe espetou ela. Abrindo a porta de
repente, preparou-se para fugir da tormenta que se aproximava.
—A mim parece que sim. Por que esta tão assustada de uma singela tormenta?
Precipitando-se dentro, deixou que a porta fechasse com um golpe tão forte que a baixela
tilintou na despensa. Carcomia-a a irritação e agarrando uma caçarola, deixou-a cair com força na
cozinha.
—Igual a todos os homens! —balbuciou. Jogando água de manancial na caçarola, acendeu o
fogo. Sempre colocando o nariz onde não devem.
Ao momento ele entrou na cozinha e se sentou à mesa. Pela extremidade do olho ela viu
que tirava as luvas de tarefa que certamente encontraria no celeiro. Ao menos tinha tido a
sensatez de proteger-se. Olhou-lhe silenciosamente enquanto ele se esfregava as mãos.
Seu aborrecimento desapareceu, substituído por preocupação pelo bem-estar dele. Parecia

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coberto de pó. Tinha o cabelo enredado, o rosto manchado de terra, e entretanto fazia tempo por
preocupar-se pela reação que produzia nela a tormenta.
—Quer ungüento para as mãos? —perguntou-lhe ela depois de um minuto.
—Não, obrigada. Posso pôr isso mais tarde.
—Uma infusão de hortelã?
—Aceito.
Tinham tido seu primeiro par de brigas hoje e ao acabar o dia podiam sentar-se como dois
seres humanos civilizados e desfrutar de uma infusão quente de hortelã antes de ir à cama.
—Não pude salvar seu coração. Sinto muito. A árvore o rompeu quando se partiu.
Referia-se ao coração que Jack e ela tinham esculpido na árvore. A pena ante sua perda lhe
chegou muito dentro e teve que morder os lábios para evitar tornar-se a chorar outra vez como
uma imbecil.
Seu coração se quebrado e não podia arrumar. Ao igual a seu próprio coração. Limitou-se a
assentir com a cabeça e manteve o olhar na caçarola que havia ao fogo.
—Mas consegui salvar à maioria dos outros. Estão no celeiro.
—Estou segura de que fará felizes a seus donos —tentou manter a voz alegre. Era uma tática
desesperada para esconder que um pedaço de madeira pudesse ter um efeito tão devastador
nela.
Ele permaneceu silencioso outro minuto e logo o mundo dela explodiu.
—É uma bonita vista.
Ela deu um salto para ouvir suas palavras. Instintivamente soube a que se referia.
Tinha encontrado o cemitério. Tinha-lhes encontrado.
A caçarola do fogo se nublou. Lágrimas de raiva e amargura lhe correram pelo rosto e as
enxugou com o dorso da mão, mas seguiam brotando. Odiava que a vissem chorar. Tinha chorado
tanto nos dois últimos anos. E se imaginava que já teria que ter acabado seu duelo, mas sempre
surgia algo que desencadeava um ataque de lágrimas.
—Sinto-o —sussurrou ele em voz baixa. Seus braços afetuosos lhe rodearam a cintura e seu
corpo magro se apertou, quente, contra as costas dela. Seu fôlego lhe acariciou o pescoço de
forma sensual.
—Não pode fugir da dor para sempre. Algum dia terá que te pôr de pé e voltar a lutar.
Ela se recostou contra ele. Sentia-se segura pela primeira vez em muito tempo.
—Ok, lhe contarei —dizer as palavras lhe causou um enorme alívio.
Uns minutos mais tarde, foi Tom quem lhe pôs diante uma taça de fumegante infusão de
hortelã. Quando ele se sentou frente a ela com um enorme tigela entre as mãos, Sara brincou
nervosamente com a aba da sua.
—Não sei por onde começar —disse simplesmente, olhando o fundo da fumegante taça.
—O melhor é começar pelo princípio, doçura.
Fechando os olhos, ela lançou um profundo suspiro. Quando os abriu outra vez, os verdes
olhos dele estavam tão doces e calmos que ela sentiu que o dique que tinha dentro explorava e as
palavras começavam a brotar.

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—Aconteceu a pouco mais de dois anos. Justo antes do inverno tivemos uns dias de um calor
incomum. A brisa noturna que entrava no quarto dos meninos era agradável. Eu estava dando os
últimos toques à habitação. Tinha decorado as paredes com uns personagens de desenhos muito
bonitos. Falava com os meninos, já sabe, isso que fazem as mulheres quando estão grávidas. Quão
único faltava era pendurar o móbile feito à mão. Havia-o feito eu mesma com retalhos de tecido
do mesmo material que tinha usado para as cortinas. Eram rostos alegres. De todas as cores. De
cores brilhantes e alegres. Tinha-me dirigido a uma das janelas da habitação para pendurá-lo
quando olhei fora…

Sara olhou a enorme construção de troncos da Estalagem de Peppermint Creek apenas visível
à branca luz da lua. Tinha todas as portinhas fechados para protegê-la do severo frio do inverno.
Tinham esvaziado as tubulações e haviam feito todo necessário para encerrar no inverno.
Seu olhar se dirigiu a alegre luz amarela que provinha das janelas da pequena cabana de
uma habitação que estava colocada entre os enormes pinheiros. O escritório parecia uma casinha
de conto, totalmente devorada pela imensidão da estalagem contígua.
Dentro do pequeno edifício sabia que seu marido trabalhava a toda pressa para terminar a
papelada e poder dedicar-se ao que realmente adorava: seu hobby da carpintaria. Tinha começado
algo novo durante o verão, esculpir um pôster novo para pendurar na porta principal que dava à
estrada. Muitos dos campistas se queixaram de que o letreiro antigo estava muito gasto pelos
elementos e quase não se via o que punha.
Um som rouco e profundo lhe chamou a atenção e elevou os olhos ao céu.
—Caramba —disse aos gêmeos—, parece que se acaba a sério o verão.
No horizonte ocidental justo por cima da linha de árvores, umas geladas nuvens cinza se
dirigiam para a lua a velocidade do raio. Um trovão ensurdecedor a fez dar um salto e riu ante sua
reação. Logo lançou uma risada ante o maravilhoso rugido do trovão.
O trovão foi uma desculpa. Quão único necessitava para fazer que Jack deixasse a papelada.
A tormenta era uma boa desculpa. As tormentas sempre punham brincalhão ao Jack. Era quando
melhor faziam amor. Começavam com lentidão logo chegavam ao clímax com umas ruidosas
sacudidas e logo ficavam abraçados, os desejos dele satisfeitos por um tempo e os dela nunca
satisfeitos de tudo.
Agora, com pressa e uma deliciosa antecipação, Sara levantou o móbile por cima da cabeça
para pendurá-lo no gancho quando o ouviu.
Um som estranho. Algo raro. Um grito afogado?
Uma estranha premonição, uma horrível sensação de medo fez que deixasse o brinquedo e o
coração começasse a pulsar descontroladamente. Um suor frio cobriu a frente e uma onda de
medo a percorreu de cima abaixo.
Deu um salto quando um raio relampejou e um som ensurdecedor lhe seguiu. Um ar gelado
entrou pela janela aberta, fazendo-a, correr por toda a habitação fechando as janelas. Sob as
escadas correndo presa de uma inquietação incontrolável. Na cozinha, colocou precipitadamente
as botas de borracha e o impermeável amarelo enquanto tremia dos pés a cabeça.

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Nunca se havia sentido tão assustada. Por que sentia tanto medo? Por que não parava de
tremer? Por que tinha a sensação de que estava acontecendo algo terrível?
Acendeu a luz do alpendre e abriu a porta, lançando um grito quando uma cruel rajada de
vento a arrancou das mãos, golpeando-a contra a parede com tanta força que Sara teria jurado
que era um disparo.
Tragando o incômodo sabor do medo que lhe atendia a garganta, observou com surpresa o
raio que se desenhou nas nuvens de tormenta a uns trezentos metros dali. Um novo trovão
retumbou sua ameaçadora advertência. A chuva começou a aumentar do prado e se aproximou,
lhe banhando o rosto. Sara piscou apartando seus olhos, fez das tripas coração e se internou na
violenta tormenta esperando que em qualquer momento Jack aparecesse correndo para ela.
Ele não apareceu.
Suas botas se afundaram no lodo quando procurou um atalho pelo jardim dianteiro, mas
com passos decididos seguiu para a luz que provinha das janelas do escritório. Teve que lutar
contra o vento a cada passo, mas finalmente ganhou a batalha ao empurrar a porta do escritório
para dentro. O incrível vento a empurrou junto com um montão de folhas outonais dentro da
estadia.
Sem fôlego, ela fechou a porta, estava convencida de que encontraria ao Jack sentado atrás
de seu gigantesco escritório, mas quando se deu a volta atrás para fechar a porta seu marido não
estava ali. Sara franziu o cenho e a inquietação ao não encontrar ao Jack se intensificou.
A estadia parecia normal. A maltratada mesa de carvalho transbordava de papéis e uma
estante cobria parte da parede detrás dela. À margem uns papéis caídos no chão, provavelmente
devido ao ar que entrou com ela, nada parecia raro.
Exceto…
Havia um particular aroma a fumaça de cigarro no ar. Visitas inesperadas? Não tinha visto
nenhum carro fora.
Um lento calafrio começou a lhe baixar pelo pescoço, indicando que a estavam observando.
Percorreu a estadia com o olhar. Uma luz se acendeu fora da janela, lhe chamando imediatamente
a atenção.
—Jack! —gritou à efêmera sombra.
—Sara —um sussurro em voz baixa e trêmula a fez deter-se, petrificada. Parecia provir de
muito longe.
Ficou quieta, escutando. Um formigamento percorreu seu couro cabeludo enquanto o vento
sacudia as janelas em seu marco. As folhas ficavam pegas aos cristais. Os relâmpagos iluminavam
o céu. O trovão rugiu novamente. Mas não ouviu outro sussurro.
Possivelmente tinha imaginado a voz e o movimento fora da janela. Sara se dirigiu para a
porta. Jack estaria na casa, procurando-a.
Apoiou a mão no trinco.
—Deus…. Sara —a voz era um sussurro áspero que a encheu de um medo horrível. Aquela
chamada não provinha de sua imaginação.
Sara se deu a volta de repente.

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Seus olhos, alertas, percorreram a estadia e ficou paralisada o ver a mancha cor vermelha
brilhante em uma folha de papel que havia no chão.
Sangue?
Teria se cortado Jack e voltado para a casa? Teriam se cruzado e não lhe viu? Certamente
isso era o que tinha acontecido. Não era nada raro. Só sua imaginação, exagerando as coisas, não?
Então, quem a chamava?
Novamente sua inquietação aumentou. Sentiu uma dolorosa opressão no peito. Algo
passava. Pressentia-o.
Aproximando-se lentamente à mesa, Sara se sentiu ainda mais inquieta ao ver o rastro de
sangue até que…
Um grito brotou de sua garganta e se levou as mãos à boca ao ver alguém desabado de
barriga para baixo no chão atrás da mesa de trabalho. Uma mancha de sangue se estendia pelas
costas da camiseta branca sem mangas do homem.
Por favor, Deus. Não!
Jack não levava essa camiseta hoje, verdade? Não, não a levava, disse-se com severidade.
Não era Jack. OH, Deus, por favor. Não é Jack.
Fechou os olhos para não ver, negando-se a confrontar a possibilidade; de que aquilo
estivesse acontecendo de verdade. Era só um sonho, um terrível pesadelo. Dentro de um minuto
despertaria.
Mas seu afogado gemido de dor fez que Sara abrisse os olhos e corresse para o homem.
Antes de chegar a seu lado já sabia que era Jack. Agachou-se junto a ele, lhe tocando a pele fria
para sentir o pulso. Seu pulso era muito débil, mas lhe pulsava.
—Jack? Jack, ouve-me? —lhe respondeu com um gemido afogado. Imediatamente, Sara
agarrou o telefone da mesa.
O telefone.
Sua conexão com a vida. Ajuda. Uma ambulância. Marcou o 911.
Chamou uma vez. Dois.
Um raio iluminou com sua branca luz as janelas e ela se estremeceu quando um terrível
trovão atravessou a estadia.
Instantaneamente se viram inundados na total escuridão.
O telefone chamou uma vez mais.
De repente, o tom se cortou.
—Me ouve? Me ouve? —gritou ela no telefone, desejando poder meter-se dentro dele e
correr pelas linhas a toda velocidade para encontrar ajuda.
Chorando, pendurou de repente.
À luz intermitente dos relâmpagos acreditou ver movimento na janela. Os ramos de uma
árvore próxima ou uma pessoa? Um fraco gemido brotou do Jack, reclamando sua atenção
imediata. Caiu de joelhos junto a ele e lhe secou o suor frio da frente.
—Estou aqui. Estou aqui. OH, Deus, o que aconteceu? —perguntou, histérica. Esperou não
lhe assustar.

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—Sara, tenha cui… —disse Jack com um gemido. Tentava lhe dizer algo, mas ela não sabia o
que.
—Cala, Jack. Cala. O telefone não funciona. Tenho que te levar até a porta. Logo aproximarei
a caminhonete e o levarei ao hospital. Tudo sairá bem, já verá.
Agarrou-lhe pelas axilas enquanto ardentes lágrimas lhe corriam pelo rosto. Deus, como
pesava. Mas conseguiu o mover lentamente, lhe arrastando para a porta.
Tentou não ver com a extremidade do olho o escuro rastro de sangue que fora deixando
detrás de si. Quando chegou à porta, levantou-lhe rapidamente a camiseta e tragou ao ver o
líquido vermelho que saía a fervuras pelo meio de suas costas.
Deus, tinha que deter a hemorragia. Devia fazê-lo antes, assim que lhe encontrou. E agora
tinha perdido todo esse sangue, desperdiçado sobre o tapete.
Merda!
Estava-se deixando levar pelo pânico. Não usava a cabeça.
Se acalme!
Imbecil! Imbecil! Imbecil! As palavras ressonaram em sua cabeça enquanto examinava a
ferida das costas dele.
Uma faca?
Uma bala?
Automaticamente, seus olhos se elevaram para olhar as diferentes janelas. Não havia nada
ali. Não havia nenhum movimento, mas o vento seguia aferrando-se desesperado aos marco das
janelas, como se tentasse chegar até eles. Como se tentasse acabar a tarefa.
Por que fariam uma coisa assim? Um roubo? Era o único que lhe ocorria.
—Sara, prometa-me isso ouviu a trêmula voz do Jack, lhe interrompendo os pensamentos.
Novas lágrimas lhe alagaram os olhos, apagando a visão. Logo que podia ver o movimento
de seu bigode tentando falar, os maravilhosos olhos azul céu abertos sem ver.
Estava-lhe perdendo.
Sentiu desejos de gritar e gritar.
Controle-te, Sara. Espera. Este não é momento para perder a calma.
Mas as lágrimas ardentes não deixavam de correr por seu rosto.
—Silêncio, não fale agora. Conserva sua energia.
Tirou-se o impermeável e o pulôver. Fez um curativo com este e o apertou contra a ferida,
parando o sangue que fluía. —me prometa que encontrará a alguém… a alguém mais —
resmungou ele fracamente. Alargou a mão trêmula, apoiando-a na tripa dela—. Um pai… para os
meninos. Alguém para você.
Mãe do amor formoso!
Horrorizada pelas palavras dele, Sara lhe tranqüilizou:
—Porá-te bem. Cala agora.
A mão dele caiu sem forças a seu lado.
Atirando com força de seu pesado corpo, ela conseguiu lhe apoiar as costas contra a parede.
Apertou assim o pulôver, agora vermelho de sangue, entre os omoplatas de seu marido e a parede.

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Com doçura lhe secou o suor da frente.


—Vou pela caminhonete. Não demoro nada.
—Não… parta… prometa isso primeiro —a voz dele se fez mais débil.
—Não diga tolices. Sairemos desta.
—Prometa-me isso, a voz lhe falhava.
Ela se deu conta de que falar lhe estava deixando sem forças, assim acessou.
—Está bem. Prometo-lhe isso. Mas sei que não terei que cumpri-lo.
Alegrou-se de ver que um sorriso sereno relaxava as angustiadas facções masculinas e disse
rapidamente:
—Em seguida volto.
Inclinou-se para beijar os lábios secos e frios, sentindo que a urgência por encontrar ajuda se
intensificava por instantes.
Abriu a porta de um puxão e lançou uma exclamação quando o vento frio lhe penetrou a
pele. Com um último olhar ao Jack fechou a porta, hesitante, atrás dele.
Estaria fazendo o correto? Deveria ficar com ele?
Não! Tinha que ir por ajuda!
A chuva aumentou contra ela enquanto corria apressadamente, presa do terror. Um,
relâmpago iluminou sua casa.
Subiu apressadamente as escada do alpendre e caiu, dando com os joelhos na dura madeira.
Soluçando, apertou os dentes para suportar a dor e se levantou. Deteve-se de repente frente à
porta da cozinha com a respiração entrecortada, o olhar fixo nas pegadas de barro que marcavam
o chão.
O coração lhe deu um tombo.
Pegadas e se dirigiam para dentro da casa.
O ladrão se encontrava dentro!
Mordendo o lábio, baralhou rapidamente as alternativas que tinha. Podia surpreender ao
criminoso e lhe dar com um abajur na cabeça, mas levaria tempo lhe encontrar. E se o intruso a
agarrava primeiro, o que aconteceria ao Jack?
Precisava ver se funcionava primeiro o telefone.
Na escuridão, abriu lentamente a porta mosquiteiro. Uma vez dentro se dirigiu a examinar
ao telefone. Agarrou-o e lançou uma exclamação de raiva por ouvir que não dava tom.
Merda!
As chaves da caminhonete! Tinha que agarrar as chaves.
Esperou trêmula a que houvesse outro relâmpago. Quando chegou, rapidamente dirigiu o
olhar ao lugar onde se penduravam as chaves dos edifícios e da caminhonete. Faltava a chave que
procurava! Sempre a deixavam ali!
Uma nova onda de pânico a invadiu.
Tentando acalmar-se, fez duas inspirações profundas. De repente, recordou a chave de
emergência.
Movendo-se sigilosamente pela cozinha, o ouvido alerta por qualquer som incomum, foi nas

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pontas dos pés até a geladeira. Suas mãos mediram desesperadas na escuridão e encontraram
aliviadas o pote de cerâmica onde guardava a cópia das chaves. Levantou a tampa e agarrou as
chaves. Abriu uma gaveta próxima e agarrou uma faca de cozinha.
Logo saiu correndo para a porta.
Fora havia começando o granizo.
O granizo a atacou, lhe golpeando o rosto, forçando-a a levantar os braços para proteger-se
enquanto baixava as escadas cegamente.
Quando se achava em meio do prado, uma dor insuportável lhe atravessou o abdômen.
Lançando um alarido ao vento, Sara caiu de joelhos. A faca lhe escapou das mãos.
Deus santo, tinham-lhe disparado!

Em seguida, seus piores temores se viram confirmados. Os bebês! Algo acontecia a seus
meninos.
A terrível dor na tripa piorou. Mordeu-se os lábios para conter um grito e sentiu o sangue
neles. Ardentes lágrimas correram por suas geladas bochechas.
—Perdi aos meninos… disse Sara, mas não reconheceu sua própria voz. Parecia morta,
carente totalmente de emoção…

Um estremecimento a sacudiu.
As cálidas mãos do Tom lhe estreitaram as suas para reconfortá-la.
—Não sei quanto tempo estive ali, naquele chão gelado. Mas logo, apesar da dor que sentia,
ouvi outro disparo. Supus que tinha morrido. Não recordo muito mais daquele momento, nem do
que aconteceu depois. Só retalhos confusos. Minha sogra… morreu de um ataque do coração
aquela mesma noite quando lhe deram a notícia. O assassino acabou com meu marido lhe
disparando a queima roupa na testa. E para piorar as coisas, nunca encontraram aquele último
projétil.
Tom se estremeceu violentamente, mas ela prosseguiu:
—Se não lhe tivesse deixado… se não tivesse tentado lhe mover…
—Não pense isso. Não tinha outra opção. Tinha que deter a hemorragia e o deixar para
procurar ajuda, não te dá conta?
Docemente lhe agarrou o queixo, obrigando-a a olhar seus olhos cor verde esmeralda.
—Não te culpe. O assassino é o culpado. Por isso é que temos que lhe encontrar —de
repente, sua voz agarrou um tom profissional.
— O que quer dizer com que o tiro se perdeu?
—Não puderam encontrar a bala. Atravessou diretamente…
Merda!
Não pôde seguir. Não pôde dizer em voz alta que o segundo disparo tinha atravessado a
cabeça do Jack de lado a lado, lhe matando instantaneamente.
—Ok, já compreendo —disse ele, tranqüilizando .
—Sei quão difícil resulta. Não é necessário que responda a mais pergunta.

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—Por favor, quero fazê-lo. Necessito-o.


Ele tomou ar lentamente e logo assentiu com a cabeça.
—Certo. Disse que as luzes se cortaram de uma vez que o telefone?
—Sim, assim é.
—E viu algo na janela.
—Vi algo que se movia e algo que reluzia —Sara, meneando a cabeça.,
— Nem sequer estou segura de que fosse uma pessoa. Era muito alta. Possivelmente era um
estranho reflexo de um raio no cristal.
—Que janela?
—A do oeste, é a única desse lado do edifício.
—E a fumaça do cigarro? Falou com a polícia do aroma de tabaco?
—Sim, mas não puderam encontrar provas de que alguém fumasse. Não havia bitucas, nem
fósforos, nem nada que demonstrasse que tinha havido um intruso. E então, começaram os
rumores. As pessoas começaram a dizer que eu inventei o da fumaça e o do reflexo na janela para
que não suspeitassem de mim.
—As pessoas dizem as coisas mais incríveis quando tem medo, Sara. Mas o primeiro que
farei pela manhã será jogar um olhar à cabana e às ruínas da Estalagem de Peppermint Creek para
ver se posso encontrar algo que lhe tenha escapado à polícia. Enquanto isso, quero que durma em
sua habitação esta noite. Eu o farei no sofá.
—Não, por favor, fica em minha habitação. Já acendi um fogo bem quente ali e pus lençóis
limpo. Além disso, falta-me fazer algumas coisas antes de me deitar. Não te deixaria dormir, e está
caindo de sonho.
—Há relâmpagos ainda. Está segura de que tudo está bem?
—Sim, obrigado. Não se preocupe.
Parecia que ele queria dizer algo mais, mas não o fez.
—Boa noite, então —lhe sorriu e se dirigiu pelo corredor até a habitação dela.
—Boa noite —sussurrou ela para ouvir a porta que se fechava brandamente.

Capitulo 7

Por volta das duas da manhã se desencadeou finalmente a tormenta. Houve um terrível
estalo de trovões que despertou ao Tom de um profundo sono. A cama se sacudiu ante a
tremenda força da natureza. De um salto, saiu da cama. Com o medo que tinha às tormentas,
certamente Sara estaria assustada. Precisava ver como se achava, tranqüilizá-la.
Rapidamente colocou a roupa interior e se dirigiu ao salão.
A chuva golpeava contra os cristais e a branca luz dos relâmpagos iluminava
intermitentemente a estadia.
Ante sua surpresa, ela não se achava acordada, tal como o tinha imaginado.

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Estava profundamente dormida.


E totalmente nua.
Tom expulsou o ar com um suspiro entrecortado.
Era um sonho úmido? Quase se beliscou para certificar-se, mas decidiu não fazê-lo. Se o era,
queria que continuasse.
Estremecido de desejo, percorreu com seu olhar ofegante cada sedutora curva do
maravilhoso corpo feminino. Desejou percorrer com suas mãos a suave curva de seus peitos,
acariciar seu estômago plano, beijar o ventre ligeiramente redondo…
Lançou uma leve maldição.
Ela tinha os lençóis e mantas enredadas aos pés, mas suas pernas largas estavam o bastante
abertas para lhe dar uma maravilhosa visão de sua boceta nua. Um golpe de fogo lhe percorreu o
pau, ficando duro como o aço, e se moveu, incômodo.
Não estava bem olhá-la enquanto dormia.
Além disso, possivelmente ele estivesse casado, e aquilo não era o correto. Mas em seu foro
interno estava seguro de que Sara era a única mulher em que estava interessado, a única mulher
que desejava.
Apesar do que sentia, devia partir.
As pernas permaneceram cravadas em seu lugar.
Não podia apartar seus olhos dela enquanto seu desejo aumentava até as alturas
inesperadas.
Deus santo, queria lhe fazer tanto aquele corpo esbelto, coisas que a fariam gritar de prazer
e apagar aquela expressão de tristeza de seus olhos.
E desejava perder-se em sua cálida beleza. Precisava esquecer seus problemas. Esquecer-se
de tudo menos dos dois.
Seguiu olhando-a com a respiração entrecortada. Os ovos se puseram tensos, tão cheios de
sêmen que teve que morder os lábios para não subir à cama, meter-se entre as pernas dela e
afundar seu pau rígido naquela suculenta boceta.
Perguntou-se como reagiria ela se despertasse com ele fodendo-a. Gritaria dizendo que a
estava violando ou sorriria com alaridos de prazer como quando lhe tinha comido a boceta
durante o piquenique?
Aproximou-se lentamente, olhando-a, observando cada um de seus movimentos. Esperando
que ela despertasse e visse quão rígida tinha a pau contra a prisão de sua cueca.
Assustaria-se ao lhe ver tão excitado? Ou aceitaria que a colocasse e lhe rodearia com suas
largas pernas enquanto ele a penetrava desenfreadamente?

Inconscientemente alargou a mão e agarrou um de seus formosos cachos entre seus dedos
feridos, suspirando quando a deliciosas mechas aliviaram as ampolas que se havia feito ao romper
os ramos da árvore do amor com as mão nuas. Estava tão furioso porque não lhe tinha aberto seu
coração que fez caso omisso à dor enquanto cortava com a moto serra os troncos e os empilhava
no estacionamento perto da caminhonete. Por sorte, ela tinha acreditado nele mais tarde quando

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tomavam uma taça de infusão de hortelã.


A dor refletida nos olhos femininos enquanto falava sobre o que lhe tinha acontecido a seu
marido tinha sido tremendo. Desejou consolá-la, agarrá-la em seus braços, fazer amor, fazê-la
esquecer a seu marido.
Ensinar-lhe o prazer sexual que podia lhe causar. Ensinar o muito que a necessitava.
O muito que a desejava, de uma forma que o fazia perguntar-se se seria normal desejar
fodê-la cada vez que a olhava. O desejo dele tinha aumentado mais ainda quando lhe tinha
permitido que chupasse os peitos aquela tarde durante o piquenique e logo abrindo as pernas, lhe
permitindo dar um banquete com sua deliciosa boceta.
Estava fogosa. Fogosa e saída.
E ele também.
Mas não tinha direito a aproveitar-se dela da forma em que o havia feito durante o
piquenique. Ela tinha estado em uma situação de vulnerabilidade. A colcha de quadrados era uma
espécie de herança familiar, deu-se conta disso. Tinha sido idiota de sua parte tirá-la do armário
onde estava escondida sob a cesta. Mas não tinha nem idéia de que isso fizesse mal a ela.
Parecia que o fazia muito. Muito dano. Tinha apontado com uma arma, logo com uma faca
no atelier, e logo se aproveitou de seu maravilhoso corpo. Não tinha direito a estar ao seu redor.
Não tinha futuro que lhe oferecer, era um criminoso. Um homem procurado pela polícia, que lhe
queria morto.
Embora pensasse nisso, sabia que estava mentindo. Apesar de seus problemas, seu instinto
lhe dizia que a necessitava em sua vida. Havia algo nela. Tinha algo que lhe indicava que ela era a
chave de sua identidade. Embora ela negasse lhe conhecer, havia uma estranha inquietação
flutuando no fundo de sua mente. Tinha-a sentido ao ver as pinturas da vida silvestre no atelier.
Era algo que não sabia se desejava explorar.
O aroma sexy a hortelã chegou ao fundo dos pulmões, respirando a que soltasse o cabelo
feminino e acariciasse delicadamente na maçã do rosto. Seu dedo seguiu o perfeito arco de sua
sobrancelha e com um muito ligeiro contato lhe tocou as largas e espessas pestanas.
Esteve a ponto de inclinar-se a lhe dar um beijo nos vermelhos lábios entreabertos quando
um terrível trovão sacudiu a casa.
Ela abriu os olhos de repente e o medo escureceu seu rosto ao lhe ver.
—Tranqüila. Somente desejava me assegurar de que estivesse bem com a tormenta —
explicou ele, apartando-se para não curvá-la, embora era quão último desejava fazer no mundo.
Obviamente, tinha-a assustado ao aproximar-se tanto.
A expressão de medo dela se intensificou.
—Será melhor que me parta —disse ele, e se deu a volta para ir-se.
—Não —disse ela em um sussurro, lhe fazendo deter-se em seco.
Ao voltar-se a vê-la, encontrou-a olhando pelas janelas. Seguia tendo medo e sua testa se
enrugava preocupada. Oprimiu-lhe o coração ao vê-la. Soube que ela pensava na noite de
tormenta em que tinha encontrado a seu marido na cabana com um buraco de bala nas costas. A
noite em que tinha perdido a seus gêmeos.

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—É uma tormenta terrível —disse ela.


Ele detectou o tremor de medo em sua voz, viu o estremecimento do corpo feminino.
—Tanto, que despertou de um sono muito profundo —disse ele, sem poder evitar percorrer
o corpo dela com o olhar. Não pôde deixar de respirar entrecortadamente nem deter o sangue
que pulsava no pau rígido.

Naquele momento ela apartou o olhar das janelas e o pilhou olhando-a. Os olhos
exageraram ao dar-se conta de que estava despida e se ruborizou. Rapidamente agarrou uma
manta e a pôs por cima.
—Muito tarde, doçura. Sua maravilhosa nudez estará desenhada para sempre em minha
mente.
Ela sorriu com nervosismo, incapaz de lhe olhar.
—Obrigado por ver como estava. Se não estivesse aqui, estaria morta de medo.
—Não passa nada —disse ele, e lhe quebrou a voz. Novamente os relâmpagos iluminaram as
janelas e viu que ela voltava a estremecer-se.
—Acenderei uma vela e avivarei o fogo. Assim te alegrará um pouco.
—Quer dizer para que me ajudem a esquecer… —disse ela em voz baixa.
Ele assentiu com a cabeça.
—Obrigado —sussurrou ela timidamente, e pareceu afundar-se mais sob a manta quando
outro barulhento trovão fez vibrar as janelas.
Ele se dirigiu à chaminé, e encontrou o que necessitava. Aos poucos momentos, a vela
começou a emitir uma luz dourada. Deixou-o na prateleira da chaminé e atirou nas brasas umas
pinhas que encontrou em um cubo. Um agudo crepitar se ouviu quando as pinhas se acenderam
rapidamente, produzindo uma onda de calor que lhe acariciou as bochechas. Acrescentou-lhes
umas lascas e um par de troncos.
—Suponho que é uma tolice ter tanto medo às tormentas, particularmente quanto antes eu
adorava —disse ela um momento mais tarde, quando o fogo crepitava com força na chaminé.
—Quando estiver esperta para desfrutar das tormentas novamente, o fará. Leva seu tempo
poder resolver as questões da vida. Dizem que o tempo sempre cura as feridas.
—Mas sempre deixa uma cicatriz —disse ela meneando a cabeça com o cenho franzido.—
Está sempre ali para lhe recordar o que aconteceu.
—É verdade —assentiu Tom com a cabeça.— A cicatriz sempre fica. Mas a diversão que
desfrutou antes também está ali, dentro de seu coração. Se encontrarmos uma forma de tirá-la ela
reluz…
Deixou que as palavras ficassem suspensas no ar e ela esboçou um sorriso cálido.
—Está seguro de que não é poeta ou algo pelo estilo? Lhe dão bem as palavras.
—Possivelmente em outra vida —disse ele, com um encolhimento de ombros.
Ele conteve a respiração ao ver que ela dirigia seu olhar ao lugar onde seu pau empurrava
ansioso o calção. À luz das trêmulas chamas, viu os olhos femininos obscurecer-se de desejo
carnal. Obscurecer-se de ardente desejo. Viu a forma em que ela se umedecia os lábios cheios.

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Golpes elétricos percorreram seu largo pau, bombeando mais pressão em seu testículo
cheios. Gemeu e se encontrou dirigindo-se a ela como se fosse uma vítima de sua perseguição.
Ela não se moveu ao lhe ver aproximar-se. O ofegante olhar feminino se dirigiu a sua ereção.
Ele viu que tinha baixado um pouco a colcha, que agora lhe chegava por debaixo dos mamilos
erguidos, lhe permitindo desfrutar de seus deliciosos peitos.
Conteve a ofegante respiração.
Os ovos se puseram tensos, ardentes. Sua ereção exigiu ser satisfeita, desejou afundar-se na
boca dela.
—Sara? —sua voz se ouviu quebrada e urgente quando se entrelaçou com a chuva que
golpeava as janelas.
Ela não respondeu, olhando simplesmente como hipnotizada seu enorme pênis.
Merda, a forma ansiosa com que o olhava fez que o coração lhe pulsasse desesperado.
Parecia que desejava devorá-la. O sangue correu pelas veias, enfebrecidas, e eróticas sensações
lhe invadiram o escroto e o pau.
—Faz tanto que… —sussurrou ela.
Fazia mais de dois anos que não chupava um pau? A isso referia?

Os olhos femininos se abriram, excitados e brilhantes de desejo, e os joelhos estiveram a


ponto de ceder. E sua boca… Merda, os lábios cheios e formosos se entreabriam, esperando que
seu grosso membro colocasse dentro.
Não soube como ela chegou ali, mas de repente a viu no bordo da cama,de joelho os
generosos peitos lhe pendurando, a curva de seu traseiro levantada e o sensual fôlego
esquentando o membro rígido.
—Quero… quero comer- lhe .-sussurrou ela.
Vai!
Não podia acreditar. Não podia acreditar que ela estivesse tão disposta… Merda, que fazia
perdendo o tempo. Rapidamente agarrou o elástico da cueca e os baixou.
O fino tecido se deslizou por seu pau tenso e ela lançou uma exclamação ao vê-la saltar do
tecido que a oprimia. A boca dela se abriu e logo ele colocou sua rígida carne entre aqueles lábios
formosos, gemendo quando a cálida cavidade se fechou sobre seu grosso casulo.
Olhou assombrado a forma em que a boca feminina agarrou sua carne e a sentiu chupar com
força seu pau. A sensação abrasadora fez que quase perdesse a cabeça, a ponto de estalar naquele
mesmo instante. Mas se controlou rigidamente. Custou-lhe trabalho, um esforço desonesto não
gozar quando ela explorou sensualmente a ponta de seu pau com sua língua ardente.
Fechou os olhos e se apresentou a seus olhos a imagem dele lhe comendo a boceta durante
o piquenique.
Abriu os olhos de repente quando ela se separou de seu pau para lamber um de seus ovos
cheios. Tragou convulsivamente quando ela mordiscou sensualmente sua pele. Umas sensação
incrível fizeram perder a compostura.
—Não há tempo para explorar, mulher, necessito-te agora —sussurrou.

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Agarrando ambos os lados da cabeça, guiou-a novamente para seu pau.


Deus, não pôde conter-se quando ela abriu a boca. Penetrou-a com força.
Ela respondeu com ânsia. Demonstrou-o pelo modo frenético no que seus lábios se
estiraram pela carne rígida, suas bochechas atirando fora e dentro quando lhe chupou com força.
Mamou-lhe com tanta força que ele rugiu quando o prazer contraiu o abdômen.
A língua feminina lhe percorreu docemente a zona inferior do pau, fazendo que uma pressão
incrível se acumulasse ao longo de toda sua ereção.
Começou a empurrar.
A boca suculenta lhe percorreu com perícia. Agora as mãos femininas lhe acariciaram os
ovos e apertou os dentes ante a forma em que lhe massageou e apertou.
Merda, que bem o fazia.
A boca úmida continuou lhe seduzindo o pau duro.
O corpo se pôs mais tenso. Tenso e disposto a saltar em qualquer momento.
Mamou-lhe com mais força, levando sua ereção mais e mais para dentro de sua boca cada
vez que ele empurrava.
OH, sim! Sentia que estava a ponto de gozar. Sentia que perdia o controle.
—Estou a ponto de gozar.—disse com um sussurro entrecortado.
Um trovão explodiu em cima deles. Faíscas saltaram em seus olhos quando os fechou e se
deixou levar pelas sensações que o invadiam.
E logo seu ventre se contraiu ainda mais, teve um espasmo com uma força carnal incrível
que lhe fez estalar.
O clímax lhe fez explodir.
Fez-lhe lançar um alarido. Fez-lhe foder mais profundamente, mais rápido, procurando a
liberação.
Seguiu o ritmo com suas carícias. Mamou-lhe até a garganta, dando tudo o que seu
veemente membro lhe pedia. Chupou-lhe com força. Tão forte que um profundo gemido de
prazer surgiu a ele da garganta.
—Doçura! —exclamou.

A respiração se fez ofegante e estreitou entre suas mãos a cabeça feminina. Os cachos
sedosos o acariciaram eroticamente os pulsos e os joelhos. Seus entrecortados gritos
atravessaram o dormitório enquanto quentes jorros de esperma penetravam a garganta feminina.
Incríveis tremores lhe percorreram.
Uma e outra vez.
Passaram-lhe através dos ovos e comprimiram seu pau. A boca feminina espremeu todo seu
cremoso sêmen e bebeu até sua última gota, suspirando e gemendo com cada gole que dava
enquanto o palpitante membro seguia esvaziando-se.
Quando ele terminou, as ardentes mãos seguravam intimamente os ovos e os apertava tão
forte que ele imaginou que o fazia para não cair de bruços.
Soltou-lhe a cabeça e o quente fôlego feminino lhe acariciou o escroto e o pau. Estava tão

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formosa à dourada luz do fogo com seu rosto aceso, os lábios cheios e vermelhos de mamar-lhe
até o fazer perder o sentido….
Algo quente e íntimo cobrou vida no profundo da alma masculina. Floresceu e atravessou a
escura eternidade onde deveriam achar-se suas lembranças. Apartou as capas de imagens
misteriosas de noites infestadas de prostitutas com as que sonhava, atravessou as cenas nas que
ele depositava dinheiro nas mãos de tiras com caras lascivas.
Instintivamente se deu conta de que jamais havia sentido daquela forma tão intensa com
uma mulher em sua vida. Se o tivesse feito, certamente recordaria aquela incontida paixão, aquela
assustadora necessidade de estar com uma mulher, ou não?
Meneou a cabeça lentamente, sem poder acreditar na profundidade do que sentia pela Sara
Clarke. Embora tampouco era muito surpreendente, considerando o incrível tombo que lhe tinha
dado o coração a primeira vez que a tinha visto aproximar-se na tormentosa noite em que ficou
dormido no balanço do alpendre.
Franziu o cenho quando ela se apartou e se deixou cair na cama, cobrindo-se com as mantas.
Não, não podia permitir que aquilo prosseguisse.
Ela era uma estranha. Ele um fugitivo. Um homem sem passado. Um homem sem futuro.
Quão único via ela nele era um homem perdido que necessitava uma mamada. Tinha sido
seu instinto feminino o que a havia feito responder quando lhe viu seu pau cheio de desejo.
Somente isso. Só instinto feminino.
Ante sua surpresa, ela esboçou um sorriso brincalhão.
—Suponho que não devia fazer isso.
Repetia as palavras que lhe havia dito depois de comer sua vagina depois do piquenique.
Obviamente se sentia brincalhona, desejava que ele se metesse na cama com ela. Que lhe fizesse
amor.
Merda, tinha metido os pés de novamente!
Voltou-se a pôr as cueca.
Outro trovão percorreu a habitação, fazendo que o medo exagerasse os olhos femininos
novamente.
—Por favor, fique.
Ele assentiu com a cabeça.
Não lhe convidou a que se metesse na cama com ela, e entretanto ele o desejava com
desespero. O ardor das bochechas femininas lhe indicou que ela também o desejava. Mas se o
fazia, acabaria montando-a. E certamente a foderia. Estava voltando a juntar-se, a mente cheia
das imagens do que desejava lhe fazer.
Mas não podia aproximar-se a ela. Se o fazia, não poderia partir logo. Tinha que cortá-la ali
mesmo. Deter-se antes que as coisas saíssem de controle e ela se apaixonasse por ele, não
desejava que aquilo acontecesse. Ela ainda não acabava de recuperar-se da tragédia do
assassinato de seu marido e a perda de seus gêmeos não podia acrescentar mais pena para saciar
seu desejo.
Acabaria naquele momento lhe enviando uma mensagem; inconfundível. Faria-lhe mal, mas

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um pouco de dor agora seria muito melhor que muita dor mais tarde.
—Ficarei, mas… na cadeira.
Surpreendida pela exclamação dele, lhe atravessou o coração, desejou poder abraçá-la e
consolá-la como o havia feito no piquenique. E olha no que tinha acabado tudo.
Apertou os dentes, frustrado, e se sentou em uma poltrona, olhando-a. Viu a forma em que
o sorriso brincalhão foi substituída por uma careta triste.
—Não posso permitir que isto vá mais longe —tentou lhe explicar.
Ela pareceu disposta a protestar, mas logo trocou de opinião e se afundou mais
profundamente nas mantas sem dizer nada.
Ambos permaneceram em silêncio enquanto a tormenta aumentava ao redor da casa.
Finalmente, os olhos dela começaram a piscar de cansaço e dormiu.
Ele ficou até que passou a tormenta e começou a esclarecer. Logo partiu a tomar uma ducha
muito longa e muito fria. Depois de vestir-se, encontrou a chave mestra em seu lugar junto à porta
da cozinha. Lançando um último olhar a Sara que dormia profundamente no sofá cama, sorriu
sentiu um calor no coração e logo se dirigiu fora.
Tudo jorrava, molhado pela recente tormenta, quando ele saiu ao alpendre que rodeava a
casa. A luz era cinza e fria e o ar se sentia úmido, lhe produzindo um calafrio. Deveria entrar e
agarrar a camisa de flanela de quadros que tinha pego emprestada e que deixou sobre uma
cadeira na cozinha a noite anterior, mas decidiu não fazê-lo. Já entraria em calor assim que
começasse a registrar o interior do escritório e a estrutura de troncos. Mas primeiro se dirigiu à
caminhonete.
A noite anterior tinha tirado todos os ramos. E agora, com a luz do dia, podia ver o dano que
tinham causado à caminhonete da Sara. A árvore tinha caído sobre o veículo, rompendo o vidro
traseiro e uma lateral e lhe produzindo uma profunda amassado no teto.
Mas se podia arrumar a chapa e trocar o vidro. Isso era uma mera questão estética.
Subiu ao veículo e ligou. Não aconteceu nada. Puxou da alavanca do capô, desceu do carro e
levantou a tampa. Depois de olhar um pouco descobriu que um dos cabos da bateria se soltou.
Tirou uma chave de fenda da caixa de ferramentas que encontrou na caixa da caminhonete,
rapidamente ajustou a dobradiça. Ao não encontrar nada mais solto nem perda de líquido visível,
voltou a girar a chave e esta vez lançou um suspiro de alívio quando a caminhonete ficou em
marcha com um rugido. Possivelmente, no profundo de seu coração estava desejando que a
caminhonete não pudesse reparar, lhe permitindo assim ficar naquele pacífico lugar um tempo
mais.
A pequena cabana escritório onde tinham assassinado ao marido da Sara era o primeiro de
sua busca. Aparentemente o edifício não tinha sido usado desde o assassinato de seu marido,
porque a mesa e as prateleiras estavam vazias e o lugar, depois de havê-lo esfregado bem, ficou
vazio para acumular dúvidas por aqui e ali.
Encontrou a zona onde Sara tinha apoiado a seu marido contra a parede para que não
sangrasse mais. Havia um ligeiro entalhe na parede de pinheiro, certamente onde se alojou o
projétil que faltava. Arrancou a prancha de madeira com um pouco de dificuldade e o inspecionou.

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O projétil não a tinha atravessado. Rebuscou entre as fibras de isolamento dentro da parede
para assegurar-se disso. Resultou-lhe óbvio que alguém, certamente as autoridades, tinha
registrado as fibras, porque o isolante estava aberto e escancarado. Quem tinha estado ali
certamente que havia feito um trabalho consciente.
Certamente que já não ficava nada ali. Voltou a colocar o painel de pinheiro e saiu fora, ao
oeste do minúsculo escritório. Sara disse que tinha visto algo reluzir pela janela a noite fatídica do
assassinato de seu marido. Pouco tempo depois as luzes e o telefone tinham deixado de funcionar.
Tom assentiu com a cabeça ao compreender quando localizou as linhas elétricas que
entravam na cabana justo por cima da janela oeste. A meio metro de distância viu a linha
telefônica.
Depois de examinar cuidadosamente as duas linhas, dirigiu-se lentamente para o que ficava
do enorme edifício da Estalagem de Peppermint Creek.
O ar úmido se formava redemoinhos a seu redor enquanto revolvia os restos carbonizados
procurando algo que resultasse suspeito, que parecesse não pertencer aquilo. Meticulosamente,
procurou entre os troncos calcinados, o metal e os esqueletos de móveis queimados. Explorou
cada pedacinho de fibras, tapete queimados, cabos, algo reconhecível.
Justamente quando estava a ponto de abandonar, descobriu algo incomum. Algo que lhe fez
perguntar-se por que a polícia não o tinha descoberto, porque de fazê-lo, aquilo certamente
seriam as provas de um julgamento, não se achariam dispersadas na cena de um crime.
Sara ouviu o alegre gorjeio de um pássaro azul. Lentamente, muito devagar, conseguiu
despertar e abriu os olhos. O sol enchia o salão, que tinha uma agradável temperatura. Bocejou e
se estirou como um gato enquanto se perguntava como tinha conseguido dormir tão bem. Fazia
anos que não dormia tão profundamente.
Sem sonhos, sem preocupações. Paz. Ao ver o relógio que tinha sobre uma mesinha, lançou
uma exclamação de surpresa. Quinze para dez . Como era possível? Sempre despertava antes das
seis.
Sentindo-se cheia de energia, Sara se levantou do sofá cama. Estava genial, absolutamente
fantástica. Como se flutuasse em uma das gigantescas nuvens que tinha visto passar ontem
durante o piquenique, enquanto Tom lhe comia a boceta.
Pensar no Tom lhe produziu ainda mais felicidade. Compreendia que duvidasse em lhe fazer
amor ontem à noite. Temia fazer mal a ela. Tinha medo de que a atração sexual que sentia levasse
a algo mais. Um homem com semelhante compostura tinha que ter uma alma boa.
Esta manhã pensava dizer que queria que fizesse amor. Que o desejava com todas as fibras
de seu ser. Ao caralho com as conseqüências. Quão único desejava era que a voltassem a querer.
A alegria que a invadia seguiu aumentando e sentir-se tão feliz a assustou um pouco, porque
fazia muitíssimo tempo que não experimentava aquilo. Entretanto, gostava daquela sensação
despreocupada. Gostava muito.
Um brilhante sol entrava pelas janelas causando um alegre calor quando se atou o cinturão
de sua bata e entrou na cozinha. O aroma de café recém feito enchia o ar, fazendo-a sorrir. Fazia
muitíssimo que um homem não fazia o café e era um prazer. Cruzando-se de braços, perguntou-se

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onde estaria Tom. Tinha entrado na habitação, mas estava vazia, com a cama feita.
Inclinou-se sobre a bancada da cozinha e espiou pela janela. Lá estava, cortando lenha.
Levantou a vista e a saudou com a mão, esboçando um maravilhoso sorriso que a deixou
estupefata, para seguir logo com sua tarefa. Levava uma camiseta branca e Sara viu com
admiração como lhe marcavam os bíceps quando levantava o machado para deixá-lo cair com
força, partindo a lenha com um golpe fantástico.
Um segundo mais tarde, de repente, apareceu a sombra ameaçadora. Correu diretamente
para o Tom, hasteando uma faca comprida e reluzente.
Gritando, ela golpeou com as mãos o cristal da janela, tentando lhe alertar, desesperada. A
janela vibrou com tanta força que se perguntou como ele não poderia ouvir o ruído que fazia, nem
tampouco seus gritos de alerta. Seguiu cortando lenha, alheio totalmente à sombra escura que se
achava justamente detrás dele.
Ela golpeou mais forte com os punhos. Gritou quando a reluzente faca se elevou, preparado
para cravar-se…
Despertou com um sobressalto.

Uma premonição a invadiu, afogando-a, lhe impedindo que respirasse. Estava empapada de
suor e tremendo incontrolavelmente. O salão se achava silencioso e quase tão escuro como uma
tumba. Com os olhos exagerados pela ansiedade olhou o relógio na penumbra. As sete e vinte e
cinco.
Lançou um suspiro de alívio. Um pesadelo. Só tinha sido um pesadelo. Ou se tratava de uma
premonição?
O coração acelerou de repente ao pensar naquilo. Apartou as mantas apressadamente e
com as pernas tremendo colocou uma bata e se dirigiu à janela mais próxima. Uma vez ali, olhou
nervosamente o prado dianteiro. A madeira que Tom tinha cortado se achava ali, e felizmente não
se achava rachando.
Abrindo a janela, inspirou o ar fresco e úmido e tentou dominar os nervos que seguiam lhe
oprimindo o estômago. Ficou tensa ao detectar movimentos nas ruínas calcinadas da estalagem,
mas se relaxou instantaneamente.
Era Tom. Ele desapareceu atrás de uma das paredes carbonizadas da Estalagem de
Peppermint Creek, mas antes que o fizesse, ela viu a expressão decidida de seu rosto.
Pensar em que tinha um aliado lhe encheu os olhos de lágrimas. Tinha estado virtualmente
só em sua luta por encontrar quem tinha matado a seu marido. Sua irmã Jocelyn e seu sogro
haviam feito todo o possível sem conseguir nada.
Inconscientemente seu olhar percorreu os arredores procurando mais movimentos, sombras
estranhas, mas felizmente não viu nada mais.
Meneando a cabeça por ser tão boba de permitir que um pesadelo a deprimisse, dirigiu-se
ao quarto de banho. Tinha empapelado as paredes da pequena habitação com um desenho de
rosinhas de Pitiminí sobre fundo cor nata e ficava muito bonito.
Encontrou a toalha cor rosa pendurando na ducha e lhe acelerou o pulso. Estava molhada,

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indicando que ele acabava de tomar banho. Agarrando-a entre suas mãos inalou o fresco perfume
a sabão misturado com o aroma masculino do Tom.
Imaginou ao Tom nu na ducha com brilhantes gotas lhe jorrando pelos músculos de seus
braços e seu largo peito enquanto se ensaboava o ventre. Logo ele agarrava o pau rígido e se
puxava do prepúcio para trás para lavar a cabeça. Sentiu uma espiral de desejo ao recordar a noite
anterior, quando lhe fez a mamada.
Tinha sido um impulso desmandado fazer sexo oral. No momento que lhe viu olhando-a ao
despertar com o ruído do trovão com aquela expressão de desejo nos olhos, excitou-se tanto que
haveria feito o que fosse com tal de que fizesse amor.
Enquanto ele reavivava o fogo lhe tinha estado olhando o traseiro que marcavam a ajustada
cueca e teve um impulso incontrolável de lhe arrancar a roupa do traseiro para lhe acariciar
aquelas curvas tão masculinas.
Logo tinha visto o maravilhoso pacote e um feroz desejo a consumiu. Desejava tanto ver seu
pau que esteve a ponto de lhe arrancar a cueca com suas próprias mãos. Ao ver sua carne
palpitante e as grossas veias pulsando ao longo daquela impressionante ereção e dos duros
testículo, teria comido tudo.
E quando o chupou, que sabor maravilhoso.
Sabia como fazer uma boa mamada. A havia feito no Jack, mas o pênis do Jack era pequeno
comparada com o do Tom.
Era enorme!
Lançou um suspiro de desejo ao recordar a firmeza com que seus lábios se deslizaram pelo
pau quente e duro, quão maravilhoso tinha sido senti-la deslizando-se dentro de sua garganta. O
sabor de seu sêmen era embriagador. Os jorros de porra salgada que se verteram em sua boca a
tinham posto a mil enquanto imaginava que Tom colocava o pau profundamente em sua vagina
empapado e trêmulo.
Ele tinha fechado os olhos com força ao sacudir-se de prazer até o tutano. Um prazer que lhe
tinha dado livremente.
Tinha esperado que ele se metesse logo na cama com ela. Que a agarrasse em seus braços a
beijasse, fizesse-lhe o amor…
Sara apagou aqueles pensamentos imediatamente. Uma terrível nuvem de culpabilidade a
rodeou. No que tinha estado pensando? Como podia fantasiar com aquele perigoso desconhecido,
aquele fugitivo sem memória, de forma tão íntima e com a aliança de seu marido ainda no dedo?
O mero feito de que não tivesse tido contato com um homem durante mais de dois anos não
queria dizer que se metesse na cama com qualquer que lhe causasse estremecimentos de paixão.
O só olhar de seus olhos profundos verde esmeralda fazia que se encontrasse flertando com todo
tipo de fantasias e desejos proibidos.
Pensou que nenhum outro homem poderia fazê-la sentir-se tão desejável outra vez.
Resultaria muito fácil meter-se nisso com o Tom. Facilíssimo.
Tinha visto o mesmo desejo, a mesma ânsia nos olhos que a olhavam.
Mas, o que passaria quando ele partisse? O que aconteceria se ficava e ela se apaixonava

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por ele e logo chegava os tira ou outra pessoa e lhe matava? Ficaria feito pó.
Tom tinha tido razão ao deter o que acontecia entre eles a noite anterior. Ela tinha que
enfrentar à realidade. Ele era um estranho. Um homem perigosamente sexy que precisava manter
bem longe dela.
Longe, bem longe.

Tom revolvia o celeiro procurando suas luvas e um recipiente limpo para guardar a evidência
quando decidiu jogar um olhar à motocicleta antiga que se achava no canto mais longínquo. Se
adivinhava bem, aquela máquina vermelha e coberta de pó era uma Buch 55. O cromado estava
bastante bem. O certo é que a moto inteira parecia em excelentes condições. Possivelmente ainda
funcionasse.
Desenroscou-lhe a tampa do tanque e cheirou. O aroma desagradável da gasolina produziu
uma careta de asco. De repente, a adrenalina lhe correu pelas veias. Brilhantes brilhos de luz
piscaram frente a seus olhos e quando quis dar-se conta estava deslizando-se sobre uma moto…

O vento frio lhe esmurrou, lhe envolvendo em sua fria capa. Tremeu violentamente ao
recebê-lo. Oxalá estivesse mais abrigado. Mas não tinha havido tempo. O céu cinza escuro se
esclareceu quando o sol ameaçou aparecendo pelo horizonte. O tráfico matutino se havia feito
mais denso conforme conduzia pela linha reta da auto-estrada para a liberdade. Se a sorte seguia
lhe acompanhando, cruzaria a fronteira e entraria em Québec sem problemas. Esperava que a
documentação da moto que acabava de roubar servissem para isso.

A lembrança desapareceu tão rápido como tinha surgido.


Deixou-lhe obstinado ao assento da motocicleta. Tinha o rosto suado, a mente corroída pelo
medo que seguiu a lembrança.
Documentação roubadas? Estava claro que fugia da lei. Por que então roubaria a
documentação?
Passando uma mão tremente pelo cabelo, fechou os olhos e fez uma inspiração profunda
tentando acalmar seus temores crescentes.
Por que outro motivo ia aparecer por ali e apontar a Sara com uma arma e logo estar a
ponto de atacá-la com uma faca? Certamente era um louco que fugia, por isso se dirigia ao Canadá
com documentação roubada.
Pensar nisso fez que se sentisse chateado. Se não partia agora, certamente que Sara seria
sua próxima vítima. Preso de um pânico cego, Tom se dirigiu para a porta aberta do celeiro.

Sara cantava a voz em sua garganta quando ouviu o claro som de um motor que se
aproximava. Um grito lhe escapou dos lábios ao aparecer pela porta da cozinha. O oficial Justin
Jeffries se sentava ao volante de um 4x4 coberto de barro que entrava em estacionamento.
Virgem santa!
Tom!

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Onde se encontrava? Teria ouvido o motor? Teria se escondido? Ou lhe teria visto Justin
Jeffries de longe e se dirigia a lhe prender?
Ela sentiu que se enjoava, vítima do pânico, e imediatamente fez uma série de rápidas
inspirações para acalmar seu coração acelerado. Levou-lhe uns segundos mais acalmá-lo suficiente
para poder mover as pernas.
Tremendo incontrolavelmente em seu foro interno, esboçou um sorriso e abriu a barulhenta
porta da cozinha a tempo de ver o Justin inclinar-se para tirar do todo terreno duas grandes bolsas
de papel de compra cobertas de barro.
Ontem por telefone lhe havia dito que não necessitava comida e aí lhe tinha. Teria que ter
imaginado que se imporia daquela forma. Sempre fazia o mesmo e aparecia sem convite.
Devia lhe advertir ao Tom que tentasse passar despercebido. Quão único podia fazer era
rezar e esperar que tivesse ouvido chegar ao Justin. Só lhes faltava ter a um policial rondando por
sua estalagem em seu dia livre.
Tentou conservar a calma quando Justin se aproximou tranqüilamente pelo atalho para ela.
Levava um macacão coberto de barro e uma boina de beisebol lhe cobria o cabelo negro como o
peixe. O bigode negro, o nariz aquilino e os penetrantes olhos azuis detrás dos grossos óculos
fizeram que Sara se estremecesse um pouco ao ter a impressão de que ele era um abutre e ela sua
presa. Não era a primeira vez que a assaltava essa sensação durante os últimos anos.
—Bom dia, Sara! —gritou ele alegremente, e todo o tempo seus estreitos olhos percorreram
centímetro a centímetro o lugar, lhe dando a Sara a muito claro sensação de que estava
registrando sua propriedade.
Repassou mentalmente o lugar para assegurar-se de que não teria esquecido algo
pertencente ao Tom que pudesse fazer pensar ao Justin que havia um homem por aí. Não lhe
ocorreu nada.
—O que te traz por aqui tão cedo pela manhã? —disse, o mais agradável que pôde,
tentando como louca evitar que os nervos refletissem na voz. Deu-se conta de que ele tinha
detectado seu nervosismo porque lhe lançou um olhar de curiosidade e rapidamente assinalou
com o queixo as duas bolsas que levava.
—Saudações da viúva McCloud. Mencionei-lhe que estava isolada pela água e que tinha
suficiente comida para subsistir mas ela disse que recordava bem como era na primavera por aqui.
E como tinha desejado às vezes ter comida fresca enquanto estava incomunicável. Assim insistiu
que viesse a te entregar isto.
Seus olhos azuis a olharam procurando sua aprovação.
—Que delicadeza por sua parte. E que amável havê-lo trazido, Justin. Pelas pintas que leva,
resultou-te bastante difícil vir pelos corta fogos.
—Reconheço que não foi fácil. Encaixei-me um par de vezes. Levou-me duas horas, mas a
comida fresca tinha que chegar.
Lançou-lhe um olhar à gigantesca pilha de madeira e a rampa para deficientes e o alpendre
quebrados.
—Parece que tiveste problemas. A árvore do amor caiu, né? Uma pena. A muita gente

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gostava dessa árvore. Muitas iniciais. Muita história.


Sara detectou seu tom de desgosto. Sabia que não gostava de sua árvore do amor. Uma vez
lhe tinha ouvido dizer a um de seus clientes masculinos que era uma tolice marcar um coração
com as iniciais de um casal em uma árvore porque assim que quer recordar a noiva ela procurou a
outro cara. Sara se perguntou por que teria tão pouca fé no casal. Nunca lhe tinha visto com uma
garota, nem tampouco falar de nenhuma.
Não era tão feio, mas sua atitude altiva era o que espantava às mulheres.
Ele moveu incômodo as bolsas de papel, obviamente esperando que lhe convidasse a passar.
Ela fez de tripas coração e finalmente disse:
—Passa, passa. Acabo de fazer uma infusão de hortelã. Já estará preparada.
Sentiu que ficava sem fôlego quando ele aceitou. Embora, em realidade, não tinha por que
sentir-se tão molesta. Ele sempre aceitava um convite dela, e quando não a fazia, convidava-se
sozinho. Além disso, tinha que atuar como se não passasse nada.
Atuar como se não estivesse dando refúgio a um fugitivo da lei.
No alpendre, ele deixou as bolsas no balanço e rapidamente tirou as botas e o macacão
cheios de barro antes das agarrar novamente. Sara segurou a porta para que passasse e antes de
lhe seguir jogou um rápido olhar ao redor para ver se podia localizar ao Tom. Não pôde lhe ver.
Com um suspiro de alívio, deu-se a volta e entrou.
Justin Jeffries tinha depositado as duas bolsas sobre a bancada e se serviu uma taça de
infusão. Fazia anos que lhe conhecia. Ele tinha sido amigo do Jack de toda a vida e quando se
mudaram a Ontário, Canadá, Justin lhes tinha acabado seguindo e aceitou um posto na Polícia
Provincial de Ontário.
Nunca lhe tinha caído muito bem, não sabia por que. Nunca tinha dado motivos para não
gostar dele, mas recordou as palavras de sua irmã Jo: Segue sempre seus instintos, tia. Nunca lhe
falham.
Da infância Justin e Jack tinham sido amigos inseparáveis, mas vá ou seja Deus por que. Eram
totalmente distintos. Jack era depravado e de trato fácil, enquanto que Justin era excessivamente
amistoso e nervoso como um camundongo de campo cruzando uma auto-estrada transitada.
Olhou-lhe silenciosamente sentar-se ante a mesa da cozinha. Um grande sorriso elevou os
extremos de seu bigode negro quando bebeu um generoso gole da infusão de hortelã.
—Ahh, está muito bom. Realmente vale a pena percorrer esses quilômetros cheios de
buracos por sua infusão, Sara.
Ela assentiu sua cortês aprovação e se sentou no bordo da cadeira frente a ele. Por dentro
lhe gritava que se desse pressa, acabasse a infusão e partisse. Em qualquer momento Tom podia
entrar sem saber que havia visita, uma visita da pior.
—Que tal foi com a tormenta de ontem à noite? —perguntou ele tomando gole. Seus olhos
incansáveis percorreram sua cozinha.
—Bem —disse Sara, franzindo o cenho ao recordar o horrível sonho daquela manhã, quando
a sombra esteve a ponto de matar ao Tom. E agora se deu conta de que seu pesadelo tinha sido
uma retorcida premonição.

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—Certamente que foi uma catástrofe —riu Justin.— Um raio lhe deu ao campanário da
igreja. O relógio se deteve. Deixou de funcionar às 3.15 da madrugada. Muitas zonas rurais ficaram
sem eletricidade, e várias linhas telefônicas. A quem contrataste para que cortasse e empilhe a
árvore do amor? Também vieram pelos corta fogos?
A pergunta a agarrou despreparada e lhe produziu um gélido calafrio pelas costas.
—Sim…se forçou a manter contato visual com ele. O que te faz pensar que contratei a
alguém?
—Por começar, a camisa de flanela que pendura dessa cadeira.
OH, Deus santo! Tentou manter o rosto inexpressivo enquanto internamente se amaldiçoou
por esquecer-se da camisa do Tom.
—O certo é que a camisa era do Jack. Ponho-me isso quando vou caminhar um momento
pela tarde. E a madeira tenho feito eu.
—Você? Perguntou-lhe, surpreso. Usou essas luvas?
Ela seguiu seu olhar e viu as enormes luvas de trabalho do Tom sobre a bancada. Sentiu uma
dolorosa opressão no ventre.
—São um pouco grandes, devo reconhecê-lo. Mas não queria que fizesse bolhas as mãos.
O inquieto olhar masculino se dirigiu às mãos que ela entrelaçava sobre a mesa enquanto
tomava outro gole de infusão.
—Certamente que lhe engenhaste isso para mover esses troncos tão pesados. Suponho que
tem que fazer muito trabalho físico agora que Jack não está.
Ela ficou rígida para ouvir seu comentário.
—Me acerto.
Alargando a mão, ele a apoiou sobre seus punhos apertados lhe causando um enorme
desconforto.
—Sara, o caso do Jack segue aberto. Sei que passou tempo e não há muitas possibilidades,
mas… —deu de ombros—, possivelmente a alguém lhe escape algo ou nos dêem uma pista, ou
inclusive encontremos o projétil que falta.
As três últimas palavras ficaram suspensas no ar como uma guilhotina em cima de sua
cabeça. Não gostou de onde se dirigia a conversação.
—Não perco as esperanças, Justin. Agarrarão ao assassino. Certamente que sim!
O olhar dele se voltou rapidamente para rosto dela.
—Parece muito segura. Sabe algo novo?
Ela desejou dizer ao Justin que se havia algo ainda em relação com o assassinato do Jack,
que Tom o encontraria.
Algo com tal de lhe apagar essa expressão de pena do rosto, mas conteve suas palavras.
—Não —respondeu por fim, docilmente.
— Nada novo.
—Que pena. Mas se recordar algo, embora seja o mais mínimo, avisa-me, ok?
Sara assentiu com a cabeça.
Aparentemente satisfeito, ele apartou sua mão e acabou a infusão. Ela respirou com maior

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tranqüilidade quando ele ficou de pé e se dirigiu à porta de entrada. Ficou de pé para lhe seguir.
Ele colocou rapidamente o macaco e as botas e assim que desceu do alpendre perguntou
rapidamente:
—Importa-te que jogue uma olhada?
Sara sentiu que o coração lhe falhava.
—Uma olhada? Por quê?
—Para ver se tudo está bem —disse ele e sua resposta pareceu normal, mas Sara se deu
conta de que o olhar dele percorria com desconfiança os edifícios.
—OH, não se preocupe. Tenho tudo sob controle.
Ele baixou a voz e os magros lábios esboçaram a sombra de um sorriso.
—Eu disse, Sara, me chame se necessitar uma mão. Diz-se que sou um ás do martelo e o
serrote.
—Não o esquecerei —replicou ela com fingida alegria.
O olhar dele voltou a percorrer os edifícios.
Ela decidiu que o melhor seria lhe manter ocupado com conversação enquanto
delicadamente lhe guiava até o carro sem que ele fosse consciente disso.
—Já encontraste ao Sam?
—Suspeito que foi vítima dos jogos sujos desse ermitão. Está segura de que não quer que
jogue um olhar? —voltou a perguntar quando chegaram a seu veículo.
—Seguro. Desde que chamou ontem levo os olhos bem abertos. Não vi ninguém exceto a
você, é obvio. Além disso, seguro que faz tempo que se foi já. O mais provável é que esteja em
uma grande cidade próxima tentando passar despercebido para que ninguém lhe reconheça. Não
é isso o que fazem a maioria dos criminosos? —acrescentou inocentemente.
Justin assentiu gravemente enquanto subia ao 4x4.
—Será melhor que parta. Tenho que ir trabalhar. Estou fazendo muitas horas livres esta
semana, organizando partidas de busca para o suspeito e procurando o Sam.
—Nesse caso, certamente que te direi se alguém suspeito aparece por aqui.
—Obrigado.
Estreitou as pálpebras olhando para o celeiro.
—Tivesse jurado que a porta do celeiro estava aberta quando vim.
Sara sentiu que o medo lhe atendia a garganta.
—Move-se com o vento —disse rapidamente.
— Certamente não a fechei bem quando fui ali pintar um pouco —não tinha por que lhe
dizer que o havia feito ontem, e que era muito possível que o homem que procurava estivesse
dentro do celeiro naquele preciso momento.
—A pintar? Voltou a pintar?
Havia conseguir captar toda sua atenção. Deu de ombros.
—Rabiscando papel, nada sério.
—Deixa-me ver no que está trabalhando?
—Já sabe perfeitamente, Justin —disse ela com um doce sorriso.— Ninguém vê meu

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trabalho até que esteja terminado. Sou supersticiosa a respeito disso. Venha, melhor que parta
antes que chegue tarde ao trabalho.
Obedecendo sua insinuação, ele pôs em marcha o motor. Deixou-o esquentar um momento
enquanto seu olhar desconfiado voltou para a porta fechada do celeiro. Logo se posou nela.
—O que te parece se venho jantar na sexta-feira de noite? —gritou por cima do rugido do
motor.
—Melhor o deixamos para outro momento. Estou dedicando todo o tempo que me sobra a
pintar —mentiu.
— Preferiria não ter visitas durante um tempo. Espero que o compreenda.
Justin apertou os lábios em uma careta de desgosto e assentiu rapidamente com a cabeça.
—Está certo. Chame-me se necessitar.
—De acordo —lhe gritou Sara.
Ele a saudou ligeiramente com a mão, fez rugir o motor várias vezes e saiu do
estacionamento como se tivesse sido o mesmo Fernando Alonso. Sara lançou o suspiro maior de
sua vida ao ver Justin Jeffries afastar-se pelo prado para as torres de alta tensão na longínqua
neblina.
Uns momentos mais tarde, quando entrou no celeiro, Tom baixou as escadas do estúdio de
três em três. Sara se preocupou ao lhe ver a expressão do rosto.
—O que acontece?
—Volta a sair —a voz era muito baixa e calma para seu gosto. Imediatamente sentiu alarme.
—Entra na casa como se nada tivesse acontecido. Joga o ferrolho a todas suas portas e
janelas. Espere-me ali.
Deus, estava-a assustando!
—O que acontece?
—Não partiu. Está aí fora vigiando —disse Tom escondendo-se nas sombras do celeiro.
—Como está tão seguro?
—Vi um reflexo de algo na colina. Quem é?
—O policial com quem falei por telefone ontem.
—Terei-lhe vigiado —disse Tom lançando uma maldição pelo baixo.
—Não! —Sara lhe agarrou pelo braço para lhe impedir que partisse.
—Sara! Fá-lo, faz o favor! —espetou-lhe Tom, e ela tremeu ao ver o temor refletido em seus
olhos.
— E se algo me acontecer você não sabe nada. Esconde minhas coisas onde ninguém as vá
encontrar.
Antes que ela pudesse responder, ele soltou da mão que lhe colhia com força e desapareceu
como um fantasma na escuridão do celeiro. Um momento mais tarde, ela viu sua silhueta
recortada em uma das janelas traseiras quando saía por ela.

A adrenalina circulava pelo corpo do Tom, lhe urgindo a que se desse pressa. Ouvia sua
respiração entrecortada quando saltou do lado do celeiro e correu à linha de árvores. Indo de

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árvore em árvore, mantendo-se agachado e precavido, tentou não emprestar atenção à dor aguda
que sentia nas costas onde tinha a ferida de bala.
Esteve-se dirigindo à porta aberta do celeiro quando ouviu o motor de um veículo que se
aproximava. Espiando por uma fresta, logo que viu um homem alto que tirava duas bolsas de
papel do carro.
Embora as grandes bolsas da compra ocultavam as facções do homem e ele levava uma
boina de beisebol encasquetada, Tom sentiu uma contração no estômago ao lhe ver dirigir-se à
porta. Fez um nó apertado no estômago ao ver algo nele que lhe resultava familiar.
Observou-lhe enquanto Sara o saudava. Ela parecia o conhecer e não lhe tinha medo, pelo
contrário, parecia estar em bons términos com ele. Perguntou-se se possivelmente o recém-
chegado não fosse Garry, mas desprezou a idéia instantaneamente. Aquele homem era jovem, da
idade da Sara, provavelmente.
Praguejou quando Sara abriu a porta e fez passar ao homem. Elevou a vista e viu as escadas
que subiam até o atelier. De ali acima poderia ver as janelas da cozinha e vigiar à visita.
Rapidamente passou junto à porta aberta do celeiro e subiu as escadas de três em três. Quando se
achava a metade caminho, pareceu-lhe ouvir que se fechava a porta do celeiro.
Quando chegou acima, escondeu-se a um lado da enorme janela mantendo-se nas sombras
para que não lhe vissem. Sorriu ao apreciar a excelente vista do lado leste da casa e lançou um
suspiro de alívio ao ver Sara passar rapidamente junto a uma das janelas da cozinha. Por outra das
janelas se via a auto imposta visita sentado à mesa da cozinha.
Infelizmente as facções do homem seguiam ocultas de sua vista devido a que o sol se refletia
no cristal da janela. Mas Tom seguia tendo aquela sensação rara de familiaridade.
Tinha esperado nervosamente até fazia uns minutos, quando Sara e o recém-chegado
finalmente se dirigiram ao estacionamento. Conversaram junto ao carro durante uns minutos e
quando o homem dirigiu a vista ao celeiro Tom se separou da janela perguntando-se se teria sido
tão observador para dar-se conta de que a porta do celeiro se encontrava fechada. Merda! Quem
caralho seria aquele tipo? Um minuto mais tarde ouviu o rugido do carro quando partiu. Logo se
atreveu a voltar a aparecer.
Sara se encontrava no estacionamento vendo como o homem se afastava para as linhas de
alta tensão à distância. Ela levava os pés nus, um par de ajustadas calças curtas negros e um
pulôver cor rosa de manga curta. Havia-se atado o cabelo em uma larga trança que lhe caía pelas
costas.
O primeiro impulso dele foi baixar correndo as escadas e sair ao estacionamento para
agarrá-la em seus braços. Alargar as mãos e lhe soltar o cabelo. Pentear as brilhantes mechas cor
mogno com as mãos e lhe segurando a nuca, beijar os lábios cor rosa e lhe dizer quão aliviado se
encontrava de que ela se desfez daquele cara. Mas um segundo mais tarde tinha olhado as colinas
pelas que este tinha desaparecido, Tom viu o relampejo de um reflexo no topo da colina e correu a
reunir-se com Sara na planta inferior do celeiro.
Agora Tom tinha as costas empapada de suor quando se aproximou da zona onde tinha visto
o relampejo no topo da colina. Não lhe surpreendeu ver o homem entrincheirado na ladeira do

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promontório olhando com um par de binóculo a casa da Sara.


Esta vez podia ver a cara perfeitamente. Assim que o olhar do Tom se posou nele, sentiu que
enfraquecia-se.
Era ele!
Era o mesmo tira que tinha visto na patrulha que passou lhe buscando o dia em que se caiu
na sarjeta quando se dirigia à Estalagem de Peppermint Creek. O mesmo cabelo negro, o fino
bigode…
Deixou de ouvir o alegre falatório de uns esquilos listrados quando uma terrível dor lhe
atravessou a cabeça. Aferrou-se ao tronco de uma árvore para não cair enquanto brilhos de luz
branca surgiram de repente, lhe cegando.
As imagens apareceram…

O gélido frio parecia penetrar cada um de seus músculos enquanto se achava no chão,
ofegante. Uma onda de dor invadiu cada um de seus movimentos, de seus pensamentos. Mas
lutou contra ela enquanto escutava as vozes dos dois homens do outro lado da parede. Estavam
discutindo o que fazer com ele. Merda, por que não lhe deixavam ir? Problema solucionado.
Sentia-se terrivelmente débil. Logo que podia apertar o punho. Mas apertou os punhos
fazendo caso omisso à dolorosa mordida das algemas e ignorando as cãibras de seus músculos
enquanto movia suas pernas acima e abaixo para as manter esquentadas e dispostas.
Tinha que manter-se consciente esta vez. Tinha que escapar, manter-se com vida porque era
o único que ficava que sabia a verdade candente. O único que podia deixar as coisas em claro…

A lembrança desapareceu abruptamente, lhe deixando esgotado.


Muito cansado para voltar para a estalagem e muito cansado para ficar de pé, deixou-se cair
sobre um lado e deixou que a erva alta e úmida lhe escondesse do tira. Inquieto, massageou as
têmporas, tentando compreender o que acabava de recordar.

Era o único que ficava que sabia a verdade. O único que podia deixar as coisas em claro…

Possivelmente depois de tudo não fosse um criminoso! Talvez alguém lhe quisesse morto
porque sabia muito. Os dois tiras tinham estado discutindo sobre o que fazer com ele.
Se era um criminoso, por que não lhe prender? Por que não o colocar no cárcere em vez de
lhe encerrar em uma espécie de masmorra para ver o que fazer com ele logo?
Uma esperança surgiu nele e se aferrou com força a sua nova teoria. Possivelmente depois
de tudo não fosse um cara mau?
Permaneceu escondido na alta e perfumada erva e seguiu vigiando ao tira enquanto o tira
vigiava a casa de Sara. Depois de um momento, aparentemente satisfeito, o tira partiu.
Mas Tom permaneceu no mesmo lugar até que o rugido de seu estômago lhe fez voltar para
a Estalagem de Peppermint Creek.

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O sol entrava pelas janelas da cozinha, iluminando ao Tom com o brilho do fim da manhã.
Desde que havia retornado, seu aspecto estava trocado.
Tinha as bochechas mais rosadas, parecia mais são que nunca e seu apetite…
Sara sorriu quando ele se meteu o quarto pão-doce da viúva McCloud na boca, coberto de
manteiga e geléia de arándanos1. Estava bebendo-a terceira taça de café negro, devorou-se um
prato transbordante de tortinhas de arándano. Fê-la pensar em um urso preparando-se para
hibernar.
—E o único que fez foi vigiar a casa? —perguntou ao Tom.
Ele assentiu com a cabeça enquanto sua maravilhosa boca mastigava o pão-doce.
Deus, que bonito que estava. Tão masculino. Tão sexy, um homem do que não lhe custaria
nenhum trabalho apaixonar-se.

O delicioso sabor de café queimou a garganta quando tomou um gole muito grande e quase
se afogou, mas conseguiu manter o rosto indiferente quando Tom lhe lançou um olhar de
curiosidade.
Amor?
De nenhuma forma. O que vai!
Desejo possivelmente, mas amor não.
—Que olha?
—O que? —perguntou Sara, piscando.
—Que —olha sorriu ele.
—O que acontece? —disse, atordoada. Deus, o que lhe passava de repente? Não podia tirar
os olhos de cima. Sentiu calor no rosto. Era só o sol que entrava pela janela. Isso. O sol.
—Que me está comendo com os olhos! —riu Tom de boa vontade.
— O que te passa esta manhã, Sara? Está muito calada. Não se preocupe pelo Jeffries. Não
acredito que volte. Você mesma disse que estava ocupado organizado partidas de busca para a
semana. Por que está tão… preocupada?
—Preocupada?
Uma ruga de preocupação lhe marcou a testa.
—Não estará doente, não?
—Não. Não. Acaso teria fome se estivesse doente? —faminta em mais sentidos que um.
Teria que lhe haver feito partir. Já teria ido e ela estaria inundada em seu trabalho. Sem nenhum
homem sexy perambulando pela casa. Sem desejos de que fizesse amor. Sem problemas.
Mas já que estava ali, seria melhor que lhe fizesse a pergunta do milhão, que a tinha
preocupada desde que o viu revolvendo entre as ruínas.
—Não terá encontrado nada no edifício que tenha que me contar, verdade?
Ele deixou de mastigar de repente.
—Pode esperar um segundo até que coma outro pão-doce?
1
Arbusto da família das Ericáceas que mede entre 10 e 40 cm de altura, com folhas alternadas, ovaladas e serrilhadas,
flores solitárias de cor branco esverdeado ou rosado e frutos em preto ou azul.

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—Por sua cara, não são boas notícias, assim que quanto antes melhor, Tom.
Ele se meteu a última parte que ficava na boca e ficou de pé.
—Está bem, em seguida volto.
Ela esperou uns minutos, ansiosa, até que ele voltou com um envelope de papel pardo
tamanho lanche.
—Foste comprar comida? —tentou brincar ela enquanto deixava a taça sobre a mesa com a
mão um pouco trêmula. Pelo esvaído sorriso que ele esboçou, não se achava muito satisfeito com
o que havia na bolsa.
—Fui às compras mas não trouxe comida. Tem um pouco de papel filme?
—Claro.
Um momento mais tarde Tom arrancava um pouco de filme da caixa que Sara lhe tinha
dado. Apartou a baixela e pôs a parte sobre a mesa. Logo, agarrando outra parte, envolveu-se a
mão com ele e a colocou dentro do envelope de papel pardo.
—Não vai gostar do que encontrei —sua voz séria acelerou o pulso dela. Olhou
ansiosamente enquanto ele tirava umas lascas de vidro e as pôs uma por uma sobre o filme. Logo
tirou o que parecia uma garrafa de vinho verde com um cordão de sapato amarelo aparecendo
pela boca.
—Que diabos é? —perguntou ela, presa da curiosidade, alargando a mão para agarrar a
garrafa.
—Não a toques —advertiu ele.
— Possivelmente ainda tenha impressões digitais. Não é muito provável, mas não terá que
correr nenhum risco.
—O que é?
—Uma bomba caseira.

Capitulo 8

Sara não dava crédito ao que ouvia.


—Há dito uma bomba?
Ele assentiu e ela se inclinou adiante para olhar com fixação a garrafa de vinho.
Tão inocente.
Tão enganosa.
Estava cheia de líquido. Na boca tinha um plugue feito com massa. Da boca lhe saía um
barbante com aspecto de plástico de uns quinze centímetros com o extremo enegrecido.
—Havia mais ali. Esta foi quão única não se rompeu. Revisei quatro das habitações
calcinadas. Havia fragmentos de vidro verde em todas exceto uma. E em que não havia lascas,
estava esta garrafa, justo fora, sob uns escombros, frente ao que provavelmente teria sido a
janela, imagino que quem provocou o incêndio rompeu as janelas, pôs as garrafas sobre o beiral

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das janelas junto às cortinas, acendeu as mechas e, bam! — assinalou a garrafa de vinho com a
cabeça.
— Pelo que parece com esta apagou a mecha antes que pudesse explodir, ou se deslizou
para fora do edifício Quando foi o incêndio? Faz quanto, três, quatro meses?
—Véspera de ano novo —sussurrou ela.
—Faz uns cinco meses. Provavelmente rodou e caiu fora, enterrando-se na neve, por isso o
investigador dos bombeiros não a viu.
—Não temos um investigador. Os bombeiros são voluntários por aqui.
—Quem esteve a cargo da investigação? —perguntou Tom.
—Justin e Sam.
Tom estreitou as pálpebras com desconfiança.
—Vá, não me surpreende! Foram eles quem disseram que tinha sido provocado?
—Foram eles os que encontraram as latas vazias —assentiu Sara. Retiraram-nas do celeiro.
—A gasolina das latas é certamente o que os suspeitos utilizaram para encher as garrafas.
Não mantém jogado o ferrolho do celeiro com todas essas provisões ali?
—Sim, geralmente sim.
—Quem mais tem acesso às chaves do celeiro?
—Virtualmente todo mundo. Todo o pessoal do verão. A família. Tudo o que necessite as
chaves do celeiro e da caminhonete facilmente. As chaves das cabanas e da estalagem estão
guardadas sob chave em uma das habitações de cima, mas durante a temporada em que estamos
abertos se mantêm detrás do balcão de recepção na estalagem.
—Assim que qualquer que entrasse pela porta principal poderia ter pego a chave durante a
temporada, feito uma cópia e devolvido a chave antes que alguém se desse conta, para logo voltar
no inverno, agarrar as latas de gasolina e as usar —disse Tom e ficou um momento com o cenho
franzido.
— Ou possivelmente outra possibilidade é que agarrasse a chave o mesmo dia do incêndio.
Por acaso veio alguém esse dia? Ou possivelmente durante essa mesma semana?
—Jo ficou uns dias por essas datas. Não me ocorre ninguém mais.
—Está segura? Foi por fim de ano. Ninguém veio a te saudar?
Sara meneou a cabeça lentamente.
—Não… OH, Deus santo! Cran Simcoe passou a ver-me. É o bêbado do povo, mas é
impossível que fosse ele.
—Por que não?
—Não lhe deixamos entrar. Estava bêbado quando veio e Jocelyn lhe disse que se fosse a
passeio.
—Vale, então ele está eliminado —disse Tom com um suspiro.
— E Jeffries e esse Sam?
—Sim, eles sim que vieram.
—E os dois entraram na casa? Sem que ninguém lhes acompanhasse?
—Claro, é obvio. São policiais. Confio neles.

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Tom meneou a cabeça com incredulidade.


—Por que será que as pessoas confiam nos policiais automaticamente? São humanos, são
iguais a todos nós, Sara. Cometem enganos e alguns são corruptos também —o disse sem raiva
nem ódio, mas sim como se estivesse afirmando algo que era uma realidade.
— A que distância se encontra o povo mais próximo? —perguntou baixando a voz, com
maior doçura.
—A trinta minutos de carro se respeitas o limite de velocidade —brincou Sara.
Mas Tom não sorriu. Sua expressão séria causou inquietação a Sara.
—Não notou nada aquela noite? Estranhos na zona? Marcas na neve? Aromas
desconhecidos? Ruídos?
—Chamamos os bombeiros assim que viram… —Sara se interrompeu de repente quando de
repente se deu conta de algo.
— Sabe uma coisa? Ouvi algo estranho aquela noite agora que o penso. Ouvi como umas
explosões. Um par delas, algo que fez pum, pum. Estava semi dormida e pois já sabe como é
quando a gente está meio dormido, que não registra bem o que acontece.
—Jo alguma vez mencionou ter ouvido nada?
—Não. Dorme como um tronco, e mais ainda quando está aqui. Diz que é o ar puro do norte.
Não baixou até que eu comecei a gritar. As explosões me tinham despertado. Dirigi-me ao salão e
nesse momento vi uma luz estranha piscando através das cortinas. Quando olhei fora, vi que a
estalagem estava em chamas. Chamamos os bombeiros e vieram bastante rápido.
—Como de rápido?
—Eu diria que uns dez ou quinze minutos. Não acredito que respeitassem o limite de
velocidade, se a isso é ao que vai.
Tom esboçou um tenso sorriso.
—Ao que vou é, como conseguiram reunir aos bombeiros voluntários tão rápido na
delegacia, e logo chegar aqui aos dez ou quinze minutos de que chamasse, se o povo estivava a
trinta minutos?
—Em realidade não fui a primeira que chamou os bombeiros aquela noite. Justin estava
patrulhando pela auto-estrada quando viu um veículo suspeito sair do caminho à auto-estrada a
toda velocidade. Ao chegar ao caminho, viu o reflexo cor laranja no céu e chamou os bombeiros.
—Que oportuno —sussurrou Tom sarcasticamente pelo baixo.
— Posso te fazer uma pergunta com respeito ao assassinato de seu marido?
Sara assentiu com a cabeça, mordendo-os lábios.
—Como recebeu ajuda aquele dia ?
—Felizmente Sam e Justin estavam fazendo uma patrulha de rotina e me encontraram.
—Encontraram-lhe antes ou depois de que ouvisse o disparo?
Sara ficou boquiaberta pela surpresa para ouvir aquela pergunta horrível.
Tom franziu o cenho e apoiou sua mão na dela, acalmando-a.
Seu contato delicado e carinhoso não se parecia absolutamente ao da mão fria e úmida do
Justin. Sua mão era cálida reconfortante e, de repente, Sara se sentiu a salvo.

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—Não estou segura. Como te mencionei, está tudo misturado.


—Sinto-o —disse ele, esboçando um débil sorriso.
— Não teria que ter sido tão insensível. Mas o tema é que alguém assassinou a seu marido e
bombardeou sua estalagem, e em ambas as ocasiões os tiras chegaram bem a tempo para te
ajudar. Encontro que tudo é um pouco muito conveniente.
—Compreendo por que possivelmente queira suspeitar deles. Provavelmente sabem como
fazer bombas. Mas, por que ia um policial querer bombardear minha propriedade e matar a meu
marido?
—Possivelmente não foram eles. Virtualmente qualquer pode fazer uma bomba. Os
ingredientes estão em nossas casas, em nossas lojas, na Internet. Por todos os lados. Uma garrafa,
um fio, gasolina, um pouco de massa. É tão simples que um menino de três anos pode fabricar
uma bomba se lhe disserem como —lhe lançou um olhar tão sério que de repente a fez pensar
que era algum tipo de profissional.
— Quanto ao motivo pelo que querem que vá, não sei. Não parece que tenha muitos
competidores por esta zona. Tem que ser algo mais. Temos que encontrá-lo.
—Né, acredito que está saindo do contexto, Tom. O que vai! —disse Sara, meneando a
cabeça.
—Diz que Jeffries desconfiou e chamou os bombeiros. Como ocorreu lhes chamar? Sua
propriedade se encontra em um vale rodeado por montanhas altas e muito longe do caminho.
Como viu a fumaça? E as chamas? Ou a luz laranja quando está tão perto do caminho que as
árvores lhe bloqueiam a vista? Não é possível.
Segundo Tom falava, Sara começou a dar-se conta de que tinha razão. Tudo parecia
coincidir.
—Vale, então, se Justin causou o incêndio, por que ia chamar aos bombeiros para que o
apagassem?
Tom deu de ombros. A pergunta parecia lhe haver pego por surpresa.
—Boa pergunta.
—E por que não me mataram depois de matar a meu marido se queria o lugar?
—Outra boa pergunta —disse Tom com uma risada afogada.
— Possivelmente tenha razão. Possivelmente me saí do contexto completamente. OH, antes
que me esqueça, estive registrando o escritório também.
Sara tragou o nó que tinha na garganta.
—Encontrou algo?
—Tenho uma teoria. Quando viu o relâmpago e o movimento na janela, as luzes e o telefone
se cortaram em seguida, verdade?
—É certo.
—O batente da janela é bastante largo. Poderiam havê-lo usado para subir em cima dele e
de ali desconectar a linha do telefone. Os cabos da eletricidade estão ali mesmo.
Sara se estremeceu.
—Disseram algo os tiras dos cabos?

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—Não.
—Então, se minha teoria for correta, quem desconectou os cabos os voltou a conectar antes
ou durante a investigação. Sara levantou a cabeça de repente.
—Quer dizer que o assassino pode ter ficado por aí, me olhando enquanto eu perdia a meus
bebês? Deus, que desagradável.
—Quem matou a seu marido é desagradável, e você está em perigo aqui só se não lhe
agarrarem. E, Sara, o reflexo na janela pôde ser o reflexo da fivela de um cinturão de alguém ou de
uns óculos. Possivelmente inclusive os óculos do Jeffries.
Sara não pôde formular palavra enquanto digeria aquela informação. Tom se inclinou
adiante e disse brandamente:
—Sinto muito, mas, como já disse, é só uma teoria. Possivelmente não foi ele. Pôde ter sido
algo que se refletiu. Uma faca, um botão. O que passa é que esta manhã, quando algo cintilou me
advertindo de sua presença, recordei o que havia dito do reflexo na janela.
Sara assentiu, tentando conter os calafrios que a percorriam. Não lhe tivesse ocorrido nunca
que Justin pudesse fazer mal ao Jack. Eram amigos íntimos.
—Compreendo o que me diz, mas não posso acreditar que Justin fizesse algo tão sinistro —
voltou a olhar as partes de vidro verde e a garrafa de vinho.
— O que fazemos com isto, então?
Tom retirou a mão, agarrou a taça de café e pensativo, dava-lhe um gole antes de
responder.
—Daremos estas provas ao Jo e Garry.
—O que fazemos até então?
—Esperamos e vemos se aparecerem mais sombras.

Três dias mais tarde, Tom bocejou, deixando cair em uma das poltronas do salão. Tinha
trabalhado todo o dia e seus músculos pediam a gritos um descanso. Felizmente os dias tinham
transcorrido sem nenhuma visita inesperada e tinha passado a maioria do tempo trabalhando
sozinho enquanto Sara preparava os pedidos de seus produtos derivados da hortelã.
Tinha olhado constantemente por cima do ombro enquanto se ocupava das diferentes
misturas que terei que fazer. Arrumou os telhados das cabanas que tinham goteiras, fez um pouco
de encanamento, arrumou o alpendre e a rampa para deficientes e substituiu o vidro da janela da
cozinha.
Surpreendeu-lhe encontrar tudo o que necessitava no celeiro. O marido da Sara tinha sido
um homem prevenido.
Tinha aprovisionado sua oficina com todo o imaginável, desde pregos para telhados e vidros
para as janelas até o tamanho exato dos pingente para substituir-lhe aos grifos. E quando tinha
comprado algo, tinha-o comprado em quantidade, aproveitando os descontos.
Tom levava mais de uma semana ali e como as linhas de telefone seguiam cortadas, não
tinham podido falar com as pessoas que Sara acreditava que poderiam lhe ajudar. Começava a
perguntar-se se alguma vez poderiam chamar a Sara, embora não tinha nenhuma pressa por

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inteirar-se de sua verdadeira identidade. Tudo o contrário.


O intenso trabalho físico que fazia durante o dia parecia ser o que necessitava para conter o
desejo que lhe produzia Sara. Depois de jantar estava tão cansado que não tinha forças para ligar
com ela.
As noites, entretanto, eram outra história.
Tinha sonhos. Montões de sonhos. Alguns despertavam ficava na cama banhado de suor e
medo, torturando-se, tentando pensar, tratando de recordar o que queriam significar aqueles
sonhos. Havia sonhos que recordava, sonhos eróticos com a Sara que lhe deixavam o corpo
ardendo de desejo, seu pau duro e ansioso e desejando satisfazer seu desejo.
Deus, sabia o efeito que tinha nele? Sabia que cada vez que lhe olhava com aqueles olhos
cor chocolate seu pau recordava quão bem se deslizou sua boca por toda sua longitude? Ou a
forma em que a boca e o fazia água ao pensar lhe chupar a umidade de seu prazer novamente?
Tinha-lhe enfeitiçado assim que a viu, e ele não sabia como desfazer-se daquele feitiço.
Pois, o certo é que não desejava desprender-se dele.
Oxalá não tivesse aquela nuvem negra pendente sobre sua caça. Então, não duvidaria em
estar com ela. Beijá-la. Fazer amor. Mas até que se esclarecesse tudo aquilo e fosse um homem
livre, tinha que procurar-se desculpa para permanecer afastado dela.
—Em seguida estará o chá. Quer uma parte de bolo? —chamou ela da cozinha.
—Certamente! —respondeu.
Seu olhar vagou pelo rústico salão. Não se cansava nunca de olhar aquela casa, rústica e
romântica de uma vez, cálida e cômoda. Um lugar onde podia tirar os sapatos e relaxar-se depois
de um dia duro de trabalho lá fora.

A maioria dos móveis eram de nodoso pinheiro, feitos pelo marido da Sara, Jack. O pinheiro
ia bem com as paredes, de painéis de madeira cor canela. Havia mantas navajo de bonitas cores
sobre o corrimão da escada e os sofás, dando um toque alegre à estadia.
Havia também casa para pássaros feitas com ramos, cestas de pesca de vime transbordantes
de flores silvestres e mais desses bules de latão. Das paredes penduravam raquetes para a neve,
remos de barco e varas de pescar. Muito acolhedor, a verdade.
Tom voltou a bocejar.
Merda, que cansado estava. Tinha passado todo o dia com a moto serra percorrendo os
diferentes atalhos, recolhendo lixo e ramos caídos dos caminhos.
Com um gemido, inclinou-se para jogar outro tronco ao fogo e a dor das costas lhe advertiu
que tomasse com mais calma. De repente, com a extremidade do olho percebeu um álbum de
fotos. Estava debaixo de uma pilha de revistas sobre uma mesinha feita com ramos. Agarrou-o de
uma esquina e atirou dele, para olhá-lo.
Sara estava gordinha, não muito feminina. Levava o cabelo semi comprido, os cachos lhe
emoldurando o rosto com forma de coração. E era adorável.
Seu marido Jack era um homem alto com o cabelo loiro platino e um grande bigode que lhe
caía pelos lados dos lábios. Um homem enorme e bonito que levava a Sara uma cabeça e meia.

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E a forma em que se olhavam… havia tanto amor em seus olhos… Tom desejou que Sara
olhasse a ele daquela forma.
Seguiu passando as páginas lentamente, desfrutando das fotos da Sara e seu marido fazendo
diversas tarefas na estalagem. Umas férias nas cataratas do Niágara. E algumas das pinturas da
Sara. Ela sempre estava com expressão alegre.
Tão feliz. Tão apaixonada.
Passou outra página. Um retrato de família. Cinco pessoas. Três mulheres e dois homens
frente à casa de troncos. Estavam Sara e seu marido Jack, uma mulher muito bonita que se parecia
muito a Sara. Certamente era Jo, sua irmã, a investigadora privada. Junto a Jo havia uma mulher
maior, muito bonita, que Tom imaginou seria a sogra da Sara, e também havia um homem maior
em uma cadeira de rodas. Garry? O sogro. Por isso havia uma rampa para deficientes na entrada.
Por que parece que lhe perseguem mil demônios?
A voz rouca surgiu de repente, golpeando ao Tom como um torpedo. Antes que pudesse
localizar de onde provinha, violentos brilhos de luz lhe cegaram.
Está perdendo faculdade, menino!
Era a mesma voz e Tom tentou desesperadamente ver quem lhe gritava. Mas só havia luzes
brancas, dor em suas têmporas e a voz rouca do homem.
Os brilhos de luz pararam tão abruptamente como tinham começado, lhe deixando
tremendo. O álbum de fotos caiu ao chão. A habitação bamboleou. Sentiu que se fazia um nó no
estômago.
Merda, vinham mais imagens!
A cabeça lhe partia. Afundou-a nas mãos enquanto outra ronda de brilhos lhe cegava.

Achava-se sentado em uma das numerosas lojas de circo, frente a uma velha cigana
desdentada. Tentou decifrar a expressão do escuro rosto enquanto ela atirava as cartas do Tarot,
mas esta permanecia insondável. Fazia uns meses teria rido se alguém lhe tivesse sugerido que
devesse ver a um vidente ou a que lhe lessem as cartas, mas ali estava. Entusiasmado.
Desesperado. Esperançado.
A velha deu a volta à última carta.
Franziu o cenho e meneou a cabeça.
Ele se estremeceu e sua cabeça se afundou.
Sobre a mesa havia uma carta com um esqueleto.
Era a morte.

A imagem desapareceu e antes que pudesse recuperar o fôlego voltaram as luzes, fazendo
que quase caísse de lado.
Mais dor.
Mais vozes.
Merda, outra vez!

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—Aqui tem o bolo e o chá —disse Sara, entrando no salão com uma bandeja. Deteve-se
bruscamente quando descobriu que a habitação estava vazia.
Uma expressão de ligeiro temor se refletiu em seu rosto.
—Tom?
Não obteve nenhuma resposta.
Possivelmente tinha ido à cama. Tinha aspecto de parecer cansado quando entrou para
jantar. Mas não partiria sem dar boa noite, não?
—Tom? —voltou a chamar, esta vez mais forte. O medo lhe atendeu a alma.
—Aqui fora.
Assim que saiu à galeria exterior, soube que algo passava. Ele se encontrava contra o
corrimão, o corpo tenso como uma mola, massageando-a têmpora direita. Havia um frasco de
aspirinas no balanço. Um copo de água meio cheio lhe tremia descontroladamente na mão.
—Está…?
—Estou bem —disse ele, trêmulo, olhando-a.
Havia algo na sombria expressão de seus olhos que a assustou. Tinha-os cheios de dor. Uma
dor terrível. Tinha perdido a alguém muito próximo e muito querido.
—Recordaste algo.
—Não é nada —resmungou, irritado e dirigiu sua atenção novamente ao céu, que se estava
obscurecendo.
Um relâmpago piscou por cima das árvores.
Sara se estremeceu. O coração começou a lhe pulsar desaforadamente.
—Entremos.
—Contarei-te o que recordei se fica aqui uns minutos. Pode partir em qualquer momento
depois.
Ela dirigiu um olhar nervoso ao céu quase negro. Sua inquietação se incrementou um pouco.
O medo ameaçou lhe cortando a respiração.
—A única forma de que supere seu temor às tormentas é confrontando-o e passando por
isso —sua voz era cálida e confiada.
Sara meneou a cabeça e retrocedeu um passo.
—Quero ir dentro.
—Vêem, aproxime-se —disse ele docemente.
A expressão de ternura de seus olhos cor esmeralda a atraiu como as abelhas ao mel. Tirou-
lhe a bandeja, deixando-a sobre o balanço. As mãos dela se apertaram automaticamente aos lados
do corpo. A solitária chamada de um mergulhão proveniente do lago a sobressaltou. Sentiu que o
medo lhe comprimia o estômago.
Quando Tom abriu os braços, ela não titubeou nem um segundo e se tornou a eles. As mãos
dele acariciaram o nascimento das costas. Foi maravilhoso.
Instintivamente, ela apoiou sua cabeça no robusto peito e ouviu o palpitar de seu coração. O
som tinha um ritmo delicioso, firme, reconfortante, e pela primeira vez em muito tempo se sentiu
verdadeiramente a salvo.

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—Tranqüila —sussurrou brandamente—, que estou aqui contigo.


Outro raio atravessou a aveludada noite negra. Esta vez, Sara não deu um coice. Seu rosto
estava a uns centímetros do dele e a expressão intensa de seus olhos a fascinou.
Havia necessidade. Ânsia. Carinho.
Ele estava tão perto. Tinha sido muito fácil lhe rodear o pescoço com os braços e atirar de
sua cabeça para lhe beijar os lábios. Seu aroma era embriagador, tão masculino. Teve que apelar a
todas suas forças para não render-se ante esse desejo.
—O que recorda?
Ele fez uma inspiração profunda e ficou rígido junto a ela.
—Mamãe —disse a palavra em um sussurro ansioso.
— Recordei a minha mãe, como o câncer foi comendo. Sofria muitíssimo. Depois de um
tempo os médicos nos disseram que não podiam fazer nada mais. Queria ir a casa a morrer, assim
que nos levamos ela a casa.
—OH, Deus —disse Sara.
— Fechando os olhos um momento, sentiu a pena das palavras do Tom. Quando os abriu
novamente, ele a olhava diretamente. Procurava algo. Compreensão? Alguém com quem
compartilhar sua pena?
—Nossa casa cheirava a morte. Pouco a pouco, dia a dia, ela foi piorando. Rogava-nos que
acabássemos com sua dor. Voltamo-nos loucos tentando procurar ajuda. Tentamos tudo. Até fui
ver uma velha cigana que lia as cartas para que me ajudasse, mas saiu a carta da morte.
Tremia como uma folha.
Sara alargou a mão e lhe acariciou o rosto.
—Sinto-o muito. É muito duro perder a alguém querido.
O primeiro trovão da tormenta que se aproximava retumbou nas montanhas que lhes
rodeavam. Sara apenas o ouviu.
—O tempo cura a ferida da perda, dizia minha mãe —sussurrou Tom com voz afogada. Ela
sentiu o quente fôlego masculino em sua bochecha.
— Não se esquece nunca. O luto é parte do processo de cura. Mas não se esquece nunca.
—Como conseguiu superá-lo?
Ele fez uma trêmula inspiração e lançou o ar lentamente. Apertou a mandíbula com força
um momento antes de responder.
—Foi duro. Para todos. Mas me centrei em minha crença de que há uma força superior, um
grande desenhista, alguém que sabe o que faz e por que o faz. Minha mãe se foi daquela forma
por algum motivo. Ainda não pude averiguar por que. Possivelmente sou ingênuo por sequer
tentá-lo. Repetia-me todo o tempo, uma e outra vez: "superarei-o, superarei-o". Logo, um dia,
dava-me conta de que o tinha superado.
—Eu quase não pude fazê-lo.
—Deu-me essa sensação —disse ele, lhe secando as lágrimas; brandamente com os dedos.
— Há muita tristeza em seus olhos. Pode falar disso?
Sara titubeou um momento, sentindo-se inquieta e assustada, Nunca o tinha falado com

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ninguém. Nem sequer com seu confidente mais íntima, sua irmã Jo. Nem a uma alma. Sentia-se
envergonhada por tentar procurar a saída mais fácil.
—Aconteceu umas semanas depois de que morressem. Justo depois do Natal —começou
Sara. Foi a primeira vez que me deixavam sozinha. Meus pais tinham voltado para sua casa. Garry
precisava sair. Tinha o coração quebrado. Tinha perdido a sua mulher, a seu único filho, a seus
únicos netos e também me estava perdendo . Seu irmão lhe convenceu de que fosse visitar lhe em
Nova Iorque. Jessie, meu irmão, que é um encanto, queria vender seu negócio de cultivo de maçãs
para vir me cuidar. Mas eu fiz das tripas ao coração e disse a todos que estava bem. Mas Jo
pareceu dar-se conta de que não me encontrava tão bem. Não me podia liberar dela. Por muito
que o tentasse. Por muito que chutasse, gritasse ou chorasse. Ela sempre estava ali, me vigiando.
Como se desse conta do que eu queria fazer.

Sara provou a porta do dormitório de Jocelyn, a ver se esta tinha jogado o ferrolho. Sempre
se tinha sentido segura na habitação . Possivelmente por todos os bate-papos que tinham tido
quando vinha de visita, ou talvez pela habitação em si, e a forma em que Jo a tinha decorado.
Papeis de renda branco. Sossegados verde escuros. Quentes amarelos. Tão reconfortantes. Tão
seguros.
Mas hoje não se sentia segura. Quão único sentia era um enorme vazio. Um buraco negro
sem fundo.
Seu terapeuta lhe disse que se encontrava deprimida. Se aquilo era depressão, porque ficasse
com isso. Ela já não tinha motivos para viver. Sua família se acabou. Apagada do mapa. Quão
único desejava era ir-se com eles.
Sara se dirigiu sigilosamente ao armário onde Jo a guardava. Depois de procurá-la
desesperadamente uns segundos, encontrou-a escondida. Sua irmã a tinha trocado de lugar.
Jo desconfiava. Todos desconfiavam.
Seus dedos tocaram a lisa caixa de madeira da prateleira mais alta. Com dedos que
começaram subitamente a tremer, lentamente a desceu do armário e se sentou na cama. Ficou
olhando a caixa um momento, logo depois do que lhe pareceu uma eternidade, abriu-a e tirou a
arma lentamente. Estava fria e era mais pesada do que ela recordava.
Faz anos, Jo lhe tinha ensinado como carregá-la, limpá-la e dispará-la. Mas a Sara não tinha
interessado disparar para consternação de sua irmã pequena, que acreditava que as mulheres
tinham que aprender a defender-se. No caso de Sara se sentia distanciada de sua vida agora,
depois da terrível experiência das últimas semanas: enterrar a seu marido, a seus bebês e a sua
sogra.
E além disso, estavam os olhares de curiosidade, os dedos assinalando-a, os sussurros
apressados da gente do povo. Durante as duas últimas semanas se esteve preparando para este
dia. Jo não a deixava nem a sol nem a sombra, como se sentisse que Sara explodiria em qualquer
momento.
Mas todas as segundas-feiras pela manhã Jo ia ao povo a comprar a especialidade das
segundas-feiras da viúva McCloud: donuts de canela. A Jo adorava seus donuts. Quantas vezes

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tinha sentido Sara inveja de sua irmã pequena? Abarrotava-se de donuts e não engordava nem um
grama. Se ela comia mais de um donut, aos dois dias parecia uma foca.
Mas Sara já não se preocupava mais por seu peso. Não tinha família. Não tinha apetite. Não
tinha mais problemas.
Perguntou-se como reagiria Jo quando descobrisse seu corpo. Sabia que Jo se sentiria
culpada durante certo tempo. Depois de tudo, Jo tinha tido que lutar com seus próprios demônios.
Mas os tinha superado e seguido com sua vida.
Sara desejou ter podido fazer o mesmo, mas sua pena era muito grande.
Pensou em seu sogro, Garry, em como reagiria. Em seus pais. OH, Deus, não podia pensar
nisso agora. Agora não, quando já estava tão perto disso.
Ao fim e ao cabo, todos se aliviariam por ela. Tinha sido uma carga para todos eles. Alterado
suas vidas para cuidá-la porque ela não tinha podido superá-lo.
Sim, gostava da habitação de Jo. Tão relaxante, tão segura.
Era o lugar perfeito para fazê-lo.
Seus dedos trementes agarraram hesitantes o projétil que notava para fazê-lo. Carregou a
arma. Pensou no Jack, nos gêmeos, na forma em que tivesse sido.
Desejava que seus últimos pensamentos estivessem dirigidos ao Jack
Martelou a arma.
O som atravessou a tranqüila manhã como um disparo, sobressaltando-a. Em questão de
segundos tudo teria acabado.
Logo se reuniria com eles. Seriam a família feliz que sempre tinham planejado.
Perguntou-se se teria a coragem para fazê-lo. Olhou pela janela. Tudo estava coberto de
resplandecente neve. As árvores, os edifícios, o estacionamento. Como se alguém tivesse
polvilhado açúcar por cima de tudo. Sabia que devia encontrá-lo bonito, mas já nada lhe parecia
bonito. Nada.
Imaginou ao Jack fazendo uma enorme bola de neve. A seus gêmeos, com dois anos, lhe
seguindo, abrigados até as orelhas, os rostos avermelhados pelo frio, desfrutando com excitação
do que fazia seu pai. E quando Jack pôs a bola menor em cima das duas maiores e lhe pôs seu
chapéu e seu cachecol, os meninos riram ao ver o boneco de neve. O doce som como sinos
natalinos.
Ouvia as risadas dos meninos claramente.
Uniria-se a eles. Seria feliz com eles. As estrondosas gargalhadas do Jack com a de seus
meninos.
Já vou, meus céus, lá vou.

Elevou a arma lentamente.


A risada do Jack retumbou fora. Os meninos riram excitados.
Sua família a esperava. Pressionou o frio barril da arma até que lhe beijou a têmpora
esquerda.
Seu dedo se apertou contra o gatilho.

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De repente, a voz do Jack interrompeu seus pensamentos.


—Prometeu-me isso, Sara, prometeu-me isso.
—Jack?
Deu-se a volta esperando ver seu marido na porta do dormitório.
Não havia ninguém ali.
Durante um segundo, acreditou que tinha apertado o gatilho e se reuniu com sua família.
Mas estava sozinha. Desesperadamente sozinha.
Logo se deu conta de que não era verdade. Não estava sozinha. Jack estava ali com ela, para
ela. Havia ouvido sua voz. Ele tinha estado ali
Era tempo. Teria que sentir-se aliviada ao dar-se conta disso, e o estava. Ele a havia feito
sentir-se culpada. Culpada por não cumprir com a promessa que lhe tinha feito.
E logo se deu conta. Aquele não era o momento de ir-se com eles. Algo a esperava. Podia
encontrar-se à volta da esquina, Ao dia seguinte. Ou mais adiante. Havia algo mais para ela. Uma
enorme curiosidade começou a apoderar-se dela. Perguntou-se o que lhe proporcionaria Jack. Por
que se não lhe teria aparecido naquele triste momento para lhe oferecer uma esperança?

—A promessa que lhe fez de encontrar a alguém —a voz do Tom interrompeu suas
lembranças. Sara fechou os olhos e mordeu o lábio inferior para não chorar. Os braços dele a
estreitaram com mais força, reconfortando-a.
— E após tinha estado fugindo. Tentando escapar da promessa que lhe fez. Tentando que a
pena da perda não te invadisse. Tentando não recordar a forma em que morreu sua família. E
quando finalmente permitiu entrar em seu coração, viu-lhes, experimentou a risada de seus
meninos, ouviu a risada do Jack. Surpreende-te que Jack, o homem que tanto te queria, que
provavelmente te queria mais que a sua vida, desejasse que vivesse? Quisesse sua felicidade?
Suas palavras chegaram ao coração feminino e Sara sentiu que, recuperava o ânimo. Olhou-
lhe, arqueando uma sobrancelha:
—Está seguro de que não é psiquiatra?
Tom riu.
—Possivelmente não saiba o que sou, nem quem, mas certamente que não sou psiquiatra —
de repente, ficou sério.
— Suponho que isso é o que aprendi de minha mãe. Ela nos tentou ensinar isso nos preparar
um pouco sobre como lutar com a vida e a morte. Tomá-lo como vem, o bom com o mau.
—Por que falas em plural?
—Não recordo nomes, mas sei que tenho dois irmãos menores. Um pai. Não posso ver seus
rostos, mas sei que estão ali. Sinto muito. Igual a lembrança que nos ensinava minha mãe. Rituais
curativos. Algo que possivelmente te ajude.
—Rituais?
—Recorda aquilo de "algo novo, algo velho, um pouco emprestado e algo azul"?
Sara assentiu com a cabeça.
—Um ritual de bodas, um símbolo de transição. Quando uma mulher se casa, fica algo velho

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para lhe recordar seu passado, o que deixa atrás. Também leva algo novo, um símbolo de seu
futuro. Assim que o que diz é que teria que procurar algo que simbolize meu passado, minhas
perdas. Criar algo que me recorde o que perdi.
Tom assentiu.
—Então tem um ritual de cura. Quando faz um ritual de sua perda: enterrá-la, destruí-la, te
desfazer dela ou mostrar de uma forma ou outra que já não pertence a sua vida.
—Fá-lo parecer muito simples.
Ele franziu o cenho e a estreitou mais.
—Me acredite, não o é.
De repente, ela se sentiu melhor. Melhor do que se sentiu em muito tempo. Dar-se conta e
compreendê-lo foram como encontrar-se com um velho amigo que alguém faz muito que não vê.
—Por isso é que a gente faz funerais e visita os túmulos de seus entes queridos. Para fechar
o tema.
—E por isso as sociedades constroem monumentos, com o afã de curar traumas sociais, já
sejam milhares de vítimas de uma guerra ou uma pessoa que significou muito. Mas recorda lhe
advertiu, não pode solucionar tudo em um segundo. Isso será uma experiência do longo caminho
à recuperação. Tem que examinar e processar seu trauma, passar o luto pelos que perdeste,
solucionar os sintomas, e logo reconstruir seu ser ferido para finalmente te reintegrar à sociedade.
—Está seguro de que não é psiquiatra?
—Não acredito —disse Tom com uma risada entre dentes.
— Mas, sabe uma coisa?
—O que?
—Parece que me foi a dor de cabeça. O que te parece se entrarmos, sentamo-nos junto ao
fogo, e tomamos o chá com o bolo?
—Vamos lá.
Antes que Sara se pudesse mover, o corpo do Tom se carregou de tensão e a mão que lhe
rodeava a cintura a apertou com força. E de repente, Sara foi consciente de tudo o que a rodeava.
A fria brisa no rosto. O doce aroma da tormenta que se aproximava. A sensação
inconfundível de que lhes olhavam. Antes que pudesse dizer nada, ele a agarrou pelos ombros e
puxou. Com força. Ela caiu de bruços sobre o chão de madeira e ficou sem ar, esmagada pelo peso
dele, que se tinha arrojado em cima dela. Muito parecida com a forma em que o havia feito a
noite em que se conheceram.
Uma fração de segundo mais tarde ela lançou um grito quando um disparo desintegrou a luz
do alpendre que havia sobre a cabeça deles, lhes rodando de pedaços de vidro.

Capitulo 9

—Céu? Sussurrou Tom, nervoso.

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—Estou bem. Quem acredita que é? —perguntou Sara, tremendo violentamente enquanto
olhava por entre as tabuas do alpendre.
—Fica agachada! —foi a áspera resposta dele, que saiu de cima dela. Vai dentro. Fecha tudo
com chave.
Antes que ela pudesse lhe deter, ele tinha desaparecido na densa escuridão.
Embora os olhos do Tom não estavam acostumados a repentina escuridão, correu reto para
frente. Agachando-se, com as pernas e os braços movendo-se violentamente, dirigiu-se na direção
de onde acreditava que tinha vindo o disparo. A estrada.
Alguém tinha disparado à luz do alpendre. A propósito? Ou possivelmente tinham apontado
muito alto e errado o disparo. O tiro lhe produziu uma nova dor de cabeça e mais visões. Colocou-
se no alpendre uns segundos preciosos. Totalmente inútil. Sem saber onde estava. Sumido em
suas lembranças.
Tinha conseguido sair-se deles o bastante como para assegurar-se de que Sara estava
segura. E agora corria de noite como um louco. As imagens de um imbecil que lhe dava de murros.
Um após o outro, os murros caíam.
Vermelho.
O sangue jorrava.
Gritos.
O ruído de cristais quebrados.
Um disparo.
Certamente que lhe punham difícil concentrar-se em tomar cuidado.
Adiante podia ouvir alguém que corria pela estrada. As pernas do Tom se moveram a mais
velocidade. A adrenalina correu por suas veias como um fogo arrasador. Na seguinte curva um
relâmpago iluminou ao intruso tentando subir a uma caminhonete.
Instantaneamente Tom deu um salto. Caiu sobre o homem alto e gordinho. Uma exclamação
de surpresa escapou dos lábios do agressor enquanto os dois caíam contra a porta aberta da
caminhonete com uma força tremenda. Tom agarrou os ombros do homem e lhe fez dar a volta. O
aroma insuportável a whisky produziu uma careta de asco.
Levantou o braço e estava a ponto de lhe dar um murro na cara quando se deteve. Tinha
suposto que seria Justin Jeffries. Aquele homem não tinha visto nunca antes em sua vida. Um cara
de aspecto desarrumado de idade similar a do Tom que enrugou o rosto, esperando o golpe.
Em vez disso, Tom agarrou ao homem do pescoço da camisa com ambas as mãos.
—Por que nos disparas? Quem te contratou?
—Contratado? —havia surpresa genuína nas palavras arrastadas do homem. Ta tirando
sarro? Venha, me solte, que me vai rasgar a roupa!
Tom apertou mais o pescoço do homem e lhe sacudiu com força.
—Vou romper te algo mais que a roupa se não me responder!
—Pensei que fosse Jeffries! —espetou o bêbado com medo.
—Jeffries? —surpreendeu-se Tom.
—O tira. Queria lhe assustar um pouco.

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—Por quê?
—Para lhe manter afastado de você e da Sara.
Tom não soube por que, mas lhe acreditou. Os bêbados e os meninos sempre diziam a
verdade e certamente que aquele homem estava como um tonel. Soltou-lhe e o homem se
segurou à porta da caminhonete para não perder o equilíbrio. Tom imaginou que era mais pela
bebida que pelo ataque de surpresa do Tom.
—E você quem é? —perguntou o bêbado com curiosidade.
—Dá igual. Quem é você?
—Cran Simcoe. Vai me entregar ?
—Só se não responder minhas perguntas.
—O que quer saber? Assustou-se o homem.
—Por começar, por que queria disparar ao Jeffries?
—Porque —o bêbado titubeou.
— Está seguro de que não me vais entregar?
—Responde ao que lhe perguntou —disse Tom com firmeza.
—Sara já teve muitos problemas já. Não necessita a um tipo de pessoa como ele perto.
—Que tipo de pessoa?
—Um trapaceiro isso é o que é, um trapaceiro como a taça de um pinheiro.
—Por que acredita que é assim?
—Porque o é —deu de ombros o bêbado.
—Venha, terá algum motivo. Não me disparou acreditando que era ele sem um motivo,
não? Venha, fala.
O homem permaneceu calado olhando ao Tom, provavelmente perguntando-se se poderia
confiar nele. Decidiu provar outra tática para tentar conseguir uma resposta.
—Você fuma?
—Não tenho tabaco se o que quer é que te dê um cigarro.
—Me responda —rugiu Tom, dando um passo ameaçador para o Cran Simcoe.
—Claro que fumo. Cigarros. Puros. Cachimbo. O que me dêem.
—Estiveste aqui antes. Foi o cara que fumava —era uma afirmação, não uma pergunta. O
perfil do homem era o mesmo que tinha visto recortado na janela aquele dia quando se
despertou.
O homem não respondeu, mas Tom soube, pela careta de seu rosto, que se tinha dado conta
de que Tom sabia a verdade.
—Viu-me no dormitório da Sara o outro dia, assim, por que acreditava que era Jeffries hoje?
Não seria lógico que estivesse com ela no alpendre?
—Ouvi coisas —disse Cran simplesmente.
Tom lançou um suspiro. Por fim dizia algo.
—Que coisas?
—Eu estava no cárcere faz uns dias, acusado de alterar a ordem. Ouvi o Jeffries falando por
telefone. Disse que estava vigiando a casa da Sara para a pessoa com quem falava o melhor que

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podia, mas que o cara que procurava não tinha aparecido ainda. Imagino que você é o cara ao que
se referia Jeffries.
—Por que não falou com o Jeffries de mim?
O homem ficou nervoso, zangado.
—Por que caralho ia fazer ? Já te hei dito…!
Tom lançou uma risada e lhe deu uma palmada no ombro para lhe acalmar.
—Já sei que você não gosta dele —lhe dava a sensação de que tinha um aliado naquele
bêbado. Sentiu-se reconfortado.

—É você quem esteve rondando os dois últimos anos a propriedade da Sara, destroçando-o
tudo?
Um relâmpago iluminou a expressão de horror no rosto do homem.
—Estive cuidando a propriedade, não destroçando-a —disse o homem, ofendido de
verdade.
—Ou seja que se elegeu seu protetor.
—Seu marido era meu bom amigo. Fez-me me apartar da bebida —sua voz se endureceu—.
Logo seu antigo companheiro apareceu e Jack já deixou de me ajudar.
Distraiu-se com seu velho amigo.
—Que antigo companheiro? Perguntou Tom, lhe olhando com desconfiança.
—Jeffries, é obvio. Não sabe nada?
—Aparentemente, não. —Aquilo era algo que Sara se esqueceu de lhe dizer.
O bêbado se zangou mais, elevando-a voz.
—Logo vem um filho da puta e carrega ao Jack. Senti que o devia, por me ajudar. Imaginei
que podia lhe retribuir cuidando de sua viúva.Passar de vez em quando, já que os tiras não fazem
o que devem e permitem que os vândalos incomodem a Sara todo o tempo.
—Alguma vez lhes viu?
—O que vai! —Cran meneou a cabeça.— Quem o faz sabe fazê-lo bem.
—Por que acredita assim?
—Sempre o fazem quando ela não está. Mas eu? Eu não tenho nem idéia de quando ela não
estará por aqui. Ela e eu não nos levamos muito bem. Não gosta que beba.
—Resulta-me difícil acreditar que Sara se leve mal com alguém.
O homem deu de ombros.
—Me parece que alguém recebe informação, dão-lhe o sopro de quando ela não vai estar,
vem, faz o trabalho, e se vai.
—Então, Jeffries e o marido da Sara tinham sido companheiros na Polícia de Nova Iorque? —
disse Tom e ficou pensativo digerindo aquela informação. Os companheiros dependiam
mutuamente. Tinham uma relação muito estreita. Confiavam um no outro. Salvavam-lhe a vida a
seu companheiro e matavam por ele. Inclusive possivelmente se matavam mutuamente.
O homem se cambaleou perigosamente.
—Isso é o que acabo de dizer, não?

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Ouviu-se o crepitar do um trovão e grossos gotas começaram a cair, forçando ao Tom a


pensar em procurar proteção logo.
—Fica a passar a noite, Simcoe. A esperar que se vá a tormenta. Possivelmente a que seque.
Depois de tudo, deve ao Jack e a você mesmo permanecer sóbrio.
Não queria que aquele tipo conduzisse por aí naquela condições. Além disso, seria muito
melhor se o homem ficasse perto para assim lhe ter vigiado. Depois de tudo, era a única pessoa
que sabia que Tom estava na estalagem. Não havia dito nada ao Jeffries ainda, mas se tomava
mais uísque possivelmente desse com a língua o suficiente para assinar os certificados de
falecimento do Tom e Sara.
—Não —disse o homem, voltando a cambalear-se. Levantou o braço a modo de saudação de
despedida.
— Eu não gostaria de interferir.
Grande deixou cair o braço e começou a subir a sua caminhonete. Tom estava a ponto de
protestar quando o bêbado de repente se cambaleou perigosamente e começou a cair para trás.
Agarrou-lhe rapidamente. O homem estava totalmente inconsciente. Um súbito pensamento fez
estremecer-se ao Tom: graças a Deus que o homem desmaiou agora e não atrás do volante na
auto-estrada para acabar matando-se ou, o que é pior, matando a alguém mais.
Agarrou as chaves do Simcoe onde este as tinha deixado cair no assento e as meteu no
bolso. Levantou o homem e lhe deitou no assento duplo como se fosse em uma cama, e lhe
fechou a porta. Penduraria as chaves da porta de entrada da casa da Sara esta noite assim quando
Cram Simcoe despertasse com ressaca e fosse as buscar as encontrasse facilmente.

A chuva gelada lhe corria pelas costas e os dentes tocavam castanholas incontrolavelmente
quando subiu a rampa para deficientes e entrou no alpendre. Tudo estava escuro, exceto pelos
ocasionais relâmpagos.
—Sara —chamou, alargando a mão para abrir a porta mosquiteiro.— Sou eu, já retornei.
Nenhuma resposta.
Um calafrio de medo lhe percorreu.
Merda! Onde estava? Lançou uma maldição em voz alta, zangado ao dar-se conta de que
tinha sido um estúpido deixando a Sara só ali depois do disparo.
Deu um salto quando a uns poucos metros o balanço do alpendre chiou na escuridão como
se alguém se movesse. Em um momento de terror pensou que havia outro intruso em meio deles
e levantou os braços automaticamente para defender-se, quando uma voz gélida surgiu da
escuridão.
—Tem passado bem?
A raiva dela logo que turvou o incrível alívio de encontrá-la bem.
—Acreditei que disse que fosse para dentro!
Ele ficou calado quando um relâmpago atravessou o céu tormentoso. Sara nem se
estremeceu e lhe olhou com frieza. Estava realmente furiosa.
Ele a olhou, envergonhado.

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—Sinto me haver partido assim, não pensei…


—Não! —espetou ela.
— Não pensou. Não pensou absolutamente.
Ele se estremeceu para ouvir seu aborrecimento.
—É a segunda vez que parte assim pelas boas, a te enfrentar a um perigo. Não te dá conta
de que poderiam te haver matado? Tão pouco respeito tem por sua própria vida?
—Minha vida? —ele pensava que ela estaria molesta com ele porque a tinha deixado
sozinha e em perigo.
—Sim, sua vida. Já que não te importa um pingo sua vida, por que ia importar a minha? —
ficou de pé abruptamente.
— Vou à cama. Acabe a infusão.
Tinha entrado e fechado a porta com um golpe antes que ele tivesse a oportunidade de lhe
explicar que Cran Simcoe era sua sombra.
—Genial —resmungou Tom, agarrando a taça de infusão de hortelã fria que estava na
bandeja.
— Genial.
Tomou um gole do líquido e tremeu involuntariamente quando os calafrios lhe percorreram.
De repente, uma luz lhe cegou. Lutou contra a necessidade de gritar. Não podia assustar a
Sara.
Não podia permitir que lhe visse daquela maneira.
Cegamente se deixou cair no balanço do alpendre e afundando a cabeça profundamente nas
brandas almofadas, lutou desesperadamente contra a dor que lhe comprimiu a cabeça quando
apareceram as imagens.
Vermelho.
Gritos.
Cristais quebrados.
Um disparo.
Sangue que brotava e brotava e brotava.

Nova Iorque…

Jocelyn Brady morria por lhe dar as notícias das que se acabava de inteirar ao Garry. Chamou
rapidamente e esperou a resposta dele antes de entrar na habitação de hotel contígua.
Encontrou-lhe olhando pela janela pela que corria a chuva o negro abismo que se estendia do
outro lado, um gesto severo em seu rosto sulcado por rugas.
Ela sentiu que seu coração estava com ele. Garry tinha estado esperando iludido que seu
irmão acabasse com um assunto pendente para poder fazer sua viagem anual de pesca na Florida,
mas em lugar disso, tinha ocorrido aquela tragédia.
—Sua irmã esteve tentando entrar em contato contigo —disse ele quando ela entrou.
—Sara? Está bem? —não gostou da expressão preocupada dele. Inquietava-lhe que Sara

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vivesse sozinha no norte do Canadá, particularmente depois do que lhe tinha acontecido a seu
filho Jack e logo o incêndio da Estalagem de Peppermint Creek no inverno.
—Não sei. Um companheiro da Polícia de Nova Iorque me chamou, disse que lhe havia dado
uma mensagem faz uns dias. Não lhe disse nada do Robin, pensou que seria melhor que eu
dissesse . Meu amigo saiu com pressa e se esqueceu de me dizer isso assim recebi a mensagem
hoje quando voltei. Disse que ela queria que lhe chamasse. Também me deixou uma mensagem
na secretária eletrônica de casa. Dizia que era importante. Parecia… estressada. Tentei chamá-la,
mas parece que caíram as linhas telefônicas.
Jo não pôde evitar sentir-se um pouco alarmada.
—O que quer dizer com que parecia estressada?
—Não sei. Algo em sua voz… não parecia encontrar-se bem.
Merda! Decididamente tinha que comprar um telefone móvel a sua irmã para seu
aniversário. Embora não fosse evitar se sentir-se desesperada cada vez que não podia ficar em
contato com ela porque as malditas linhas telefônicas caíam a três por quatro.
—De acordo, chamarei a meus pais mais tarde para ver se eles ouviram algo e logo a
chamarei eu também. Mas enquanto isso, tenho algo para você, Garry —disse Jo, tirando
rapidamente uma nota do bolso.
—Pedi a um amigo meu que trabalha para o FBI que procurasse nos arquivos informáticos
do suspeito. Já sabe, número de segurança social, nif, esse tipo de coisa. Ela recorreu a alguns
favores que lhe deviam e um de seus contatos lhe deu um número de telefone para chamar e usar
a contra-senha o que apontei no papel.
—Provaste o nome já? —perguntou Garry.
—Ainda não. Imaginei que quereria fazer as honras.
—Conhece-me muito bem, Jo. Tentamos? —disse Garry, aproximando a cadeira de rodas ao
telefone. Jo lhe passou o papel com a informação.
Garry arqueou uma sobrancelha ao ver o número.
—Um número de Washington DC?
—Imaginei que te arderia a curiosidade —disse Jô.
— Se tirou a gabardina cor violeta e se sentou com as pernas cruzadas sobre a cama.
Garry sorriu ao agarrar o telefone e marcar o número. Assentiu com a cabeça para indicar
que alguém tinha respondido. Disse seu nome e franziu o cenho.
Instantaneamente, Jo se deu conta de que algo passava. Possivelmente sua amiga lhe tinha
dado a informação equivocada?
—Não é este o telefone de… —percorreu com o olhar o papel procurando o nome que o
confidente do FBI lhe tinha dado a casa dos Turdus? —Garry apertou com força o auricular e
repetiu desesperadamente—: me diga? Me diga? Está ali?
Lançou a Jo um olhar de interrogação e ela se inclinou ansiosamente adiante vendo que o
suor cobria a testa masculina. Estava claro que lhe tinha causado muita esperança ao Garry, até
um nível perigosamente alto. Não tinha sido aquela sua intenção, quão único tinha querido fazer
era que ele se encontrasse melhor.

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Jo deu um salto quando Garry pendurou o auricular com estrépito.


—O que aconteceu?
—Uma mulher respondeu com toda naturalidade. Assim que mencionei meu nome, seu tom
de voz trocou. Alterou-se completamente, mas logo se recuperou com rapidez e me disse que eu
tinha o número equivocado e cortou a olhou com expressão de desconfiança. Esconde algo, Jo.
Tenho a sensação de que ela sabia quem eu era.
—Deixe que eu tente.
Garry lhe deu o telefone com reticência.
—está certo, possivelmente tenha mais sorte.
Jo marcou. Pigarreou e levantou um dedo para indicar que alguém tinha respondido.
—Olá. Meu nome é Jo Brady. Sou detetive privado e estou investigando o assassinato do
detetive Robin Smith. O FBI me deu seu número junto com a contra-senha Turdus.
A mulher que respondia fez uma pausa momentânea para logo responder com o mesmo
tom natural com o que havia dito "me diga":
—Sinto muito, mas se equivocou de número, senhorita Brady.
Antes que a mulher pudesse cortar, Jo respondeu em tom zangado:
—Se não colaborar comigo, irei diretamente a New York Times e lhes direi tudo o que sei. E,
acredite, é muito. Terá-os em cima em menos do que canta um GA…
—Tome-lhe com calma, senhorita, por favor.
—Não me diga que me tome com calma! —espetou Jô.
— Meu amigo acaba de ser assassinado e vocês têm as respostas. Vai-me dar ou vou aos
meios?
Jo podia ouvir a respiração ansiosa da mulher. Deu-se conta de que a mulher estava confusa
e assustada. Precisava atacar antes que a mulher pudesse recuperar a compostura
—Não me faça esperar, senhorita —exclamou Jo, desfrutando com o sorriso que se
desenhou no bigode do Garry.
— Exijo falar com seu superior agora!
Houve um som afogado quando a mulher cobriu o telefone com a mão para falar com
alguém. Logo disse, com voz doce e profissional:
—Um momento, por favor, em seguida o passo.
—Está-me passando —sussurrou Jo ao Garry, que se espremia as mãos ansiosamente no
colo. Endireitou-se quando ouviu a voz de outra pessoa.
—Boa tarde, senhorita Brady. No que posso ajudá-la?
Jo se deu conta de que tinha dado com a pessoa adequada. A voz daquela mulher
demonstrava autoridade e confiança.
—Poderia começar por me falar cara a cara em vez de esconder-se atrás de um telefone —
viu que Garry fazia uma careta e conteve a respiração. Possivelmente não devia exigir uma reunião
cara a cara. Havia-a fodido. Talvez…
—De acordo —suspirou a mulher, dando-se por vencida.
Jo piscou, surpreendida. A mulher tinha acessado de boas a primeiras. Por quê?

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—Senhorita Brady? Segue ali?


—Sim. Esta noite. Em um lugar público.
—Sinto muito, mas não pode ser. Estou muito longe de onde se encontra você. Terei que
voar a uma zona segura e ainda assim está muito afastado de onde se encontra você para chegar à
uma hora segura.
Jo ficou boquiaberta. Como sabia aquela mulher onde se alojava ela?
—Amanhã pela manhã será mais conveniente encontrar-se. Pode trazer o senhor Smith
como escolta, mas não poderei lhes revelar minha identidade a nenhum dos dois. Qualquer
informação que proveja será inteiramente anônima. Está claro?
Jo meneou a cabeça, incrédula. A mulher sabia que ela se encontrava com o Garry. Tinham
as linhas grampeadas ou a estavam seguindo? Seu olhar se dirigiu à janela. Quão único podia ver
era uma cortina negra de chuva. Voltou sua atenção à mulher.
—Sim, de acordo —alargou a mão para agarrar papel.
—Esta é uma linha segura, senhorita Brady. A direção que vou lhe dar é estritamente
confidencial. Por favor, não deixe um rastro sobre papel.
Jo deteve a mão no ar, surpreendida. Novamente seus olhos se dirigiram a janela e à
negrume que se via através dela.
—E se decide apontar esta direção, o processo que deverá seguir é memorizá-la
rapidamente e logo destruí-la, preferivelmente atirando-a pela privada
—Como em "Missão impossível" —brincou Jo.
A mulher lançou uma risada entre dentes.
—Alegra-me que goste da idéia, senhorita Brady. Por sua reputação, estou segura de que
posso confiar em você.
—Conhece-me?
—Permita-me lhe dizer que sua reputação a precede.
Jo notou que Garry estirava o pescoço para ver a direção que ela apontava. Jo se girou
ligeiramente para tampá-la. Se ele ficava com a direção, possivelmente tentasse ir mais cedo sem
levá-la com ele. Tinha a sensação de que ele desejava não havê-la metido naquela ofensa,
particularmente agora que as coisas não pareciam o que eram.
Quando a mulher acabou de dar-lhe Jo amolgou o papel na palma de sua mão.
—Obrigado lhe disse à mulher.
—De nada, senhorita Brady. Até manhã, então —disse a mulher, cortando.
Jo depositou brandamente o telefone em seu lugar, e meneou a cabeça lentamente,
surpreendida.
—Ficamos para reunimos amanhã às oito da manhã. Em um lugar em Queens. Conheço a
zona. E fixa lhe uma coisa: parece que sabe onde nos encontramos. E me conhece —viu que as
sobrancelhas brancas do Garry se franziam. Prosseguiu—: E sabe que estamos juntos. Disse-me
que memorizasse a direção e atirasse o papel pela privada.
—Sério?
—Totalmente.

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—Um momento, Jo. Possivelmente seja uma armadilha. Possivelmente quem matou a meu
irmão e encontre esperando ali. Acredito que você já há feito o suficiente. Preferiria que você se
retirasse disto.
Estava claro que a intuição que tinha tido de que Garry quereria que ela se retirasse da cena
era correta.
—Nem o pense, Gar. Já estou até as orelhas nisto. Vamos logo à cama esta noite para estar
bem alerta amanhã na reunião. Baixarei ao restaurante do hotel a agarrar uns donuts antes de
chamar a meus pais e tentar me pôr em contato com a Sara. Vem?
—Claro. Vou contigo —disse Garry, dirigindo a sua cadeira de rodas para a porta.
—Um segundo, Gar. Quero provar algo.
Jo agarrou o telefone e apertou a tecla de repetição de chamada. Depois do segundo tom,
saiu uma mensagem gravada dizendo que o número estava fora de serviço. Tentou o número duas
vezes mais com o mesmo resultado.
Como tinham trocado o número tão rápido? Nem sequer o governo se movia tão rápido. Era
como se a mulher tivesse estado esperando a chamada de Jo. Mas isso era ridículo.
Ou não?
Antes de sair da habitação, Jo memorizou rapidamente a direção, fez migalhas o papel e o
atirou pela privada .

Ao dia seguinte, pela manhã cedo, chovia muito e Sara conduziu ao Tom, que se tinha
disfarçado, aos subúrbios do povo. Tinha-lhe dado um sobressalto ao encontrá-lo bebendo infusão
de hortelã ante a mesa da cozinha ao levantar-se. Cortou o cabelo ao corte de barba e o tinha
tingido de loiro com um tintura de quando Jo era loira que tinha encontrado no quarto de banho.
Seguia estando melhor que um queijo com seu novo aspecto e ela desejou poder mantê-lo
encerrado na Estalagem de Peppermint Creek, mas agora que poderia usar o caminho ele tinha
insistido em acompanhá-la a distribuir seus produtos derivados de hortelã e comprar provisões.
Tinha-lhe rogado que ficasse na estalagem, mas lhe havia dito que estava dando claustrofobia. Seu
outro argumento era que possivelmente tinha estado no povo antes e algo que visse poderia
desencadear alguma lembrança que lhe ajudasse a recuperar sua memória.
Deu-lhe um pouco de dinheiro e ficaram de encontrar-se junto à estrada dentro de duas
horas. Com o coração oprimido lhe viu subir o zíper do impermeável de seu marido e colocar o
capuz sobre a cabeça loira antes de saudá-la com a mão e desaparecer na cortina cinza da chuva.
Cataratas do Arco íris era um velho povo madeireiro de rústicas casas e lojas de grandes
tábuas. Uns homens vagabundeavam no alpendre da loja de ferragens quando Sara estacionou a
caminhonete. O estacionamento frente à loja de tábuas de madeira estava quase cheio de
caminhonetes àquela hora, a maioria dos quais se achavam em condições similares a dela: velhas,
maltratadas e danificadas depois de anos de uso.
A vida não era fácil naquele pequeno povo. A fábrica de polpa e papel, a fonte de trabalho
mais importante em milhas a volta, levava anos trabalhando a meia parte. Com a ajuda de um
grupo de cidadãos preocupados com o meio ambiente liderado pelo marido de Sara, o governo

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tinha implantado restrições à contaminação e a fábrica tinha optado por reduzir a produção em
vez de investir em melhorar seus controles.
Corria-se a voz de que a fábrica estava a ponto de fechar e que em questão de meses o resto
dos operários estaria na rua.
Quando passou o grupo de homens, sentiu os olhares de desconfiança lhe perfurando as
costas. Conhecia- todos, mas nenhum deles a saudou quando se dirigia ao edifício de tábuas de
madeira que vendia material de construção.
O ar cheirava a doce feno e sementes e os sarrafos do chão rangeram sob seus pés ao
entrar. Dentro, um comprido balcão de madeira separava aos clientes da caixa. Umas cinco
pessoas faziam fila e todas as conversações se interromperam para olhá-la passar.
Sara se moveu lentamente, devolvendo as olhadas que lhe lançavam. Por sorte ninguém
disse nada hoje. Era como se todos se dessem conta de que ela estava disposta à briga.
Depois de passar junto aos clientes, agarrou um carrinho e circulo pelos corredores
agarrando o que Tom lhe tinha pedido. Com o olhar percorreu as estantes de madeira a
transbordar de sacos, garrafas, potes e garrafões de mercadorias.
Por volta do fundo da loja se viam as enormes pilhas de sacos de cem quilogramas de feno e
sementes que os granjeiros necessitariam logo.
—Conseguiste-te um homem novo, Sara?
Sara ficou petrificada por ouvir a voz rouca de uísque de Cran Simcoe. Antes tinha sido um
bom amigo de seu marido e dela, mas se tinha convertido em um de suas piores torturas. Depois
do que Tom lhe tinha revelado aquela manhã sobre o Cran vigiando-a, havia-se sentido mais
assombrada. Certamente, suas intenções tinham sido boas, ou ao menos isso era o que havia dito
ao Tom de noite, mas lhe tinha tirado o sono muitas noites e até acreditar que se encontrava
louca.
Instintivamente desejou lhe insultar de cima abaixo, mas tinha que pensar em proteger ao
Tom. Tentando não lhe emprestar atenção, alargou a mão para agarrar da prateleira algo que
necessitava e logo lhe dar as costas com a intenção de partir dali o antes possível.
—Falo com você, garota —disse Cran, arrastando as palavras.
— O que passa, comeram-lhe a língua os ratos?
Merda!
Vai-te a porra!
—Espero que seu novo cara seja melhor que, seu anterior marido, fodido traidor.
Seu comentário a acendeu.
Filho de puta! Não podia permitir que falasse do Jack daquela forma.
Agarrou ar, frustrada, e contou até três antes de dar a volta lentamente para encontrar-se
ao Cran lhe lançando um penetrante olhar do final do corredor. Cambaleava-se ligeiramente. Logo
que eram às oito da manhã e já estava bêbado.
—Se tiver que dizer algo de meu marido, Cran Simcoe, será melhor que me diga isso à cara.
Ele enrugou a frente, surpreso, quando ela se dirigiu rapidamente para ele. Obviamente não
estava acostumado a vê-la tão atrevida. Quando ela chegou a seu lado, retrocedeu ao sentir o

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ácido fôlego a uísque. Detrás dele havia uma meia dúzia de homens maiores que se formavam
redemoinhos em uma esquina. Todos se deram a volta para lhes observar.
Segundo Tom lhe havia dito a noite anterior, aquele homem pensava que tinha uma dívida
com o Jack por lhe ajudar a deixar a bebida. Durante um tempo se manteve afastado da garrafa,
mas quando lhe despediram da papelaria, havia tornado a agarrá-la. Sara finalmente
compreendeu por que Cran levava todo aquele tempo atormentando-a.
Evidentemente era o tipo de homem que tinha que atuar em grupo, em vez de defender-se
só e lutar pelo que acreditava, o qual obviamente a protegia. De repente, deu-se conta de que o
ódio refletido nos olhos masculinos não ia dirigido a ela, a não ser a si mesmo por utilizar a ela
para impressionar a seus colegas.
—O que te fez perder o trabalho foi tua culpa, Cran. Jack não teve nada que ver com isso.
—Seu marido ajudou a que a papelaria se reduziste, Sara —gritou um do grupo.
—Uma papelaria que estava poluindo a zona, Mel Roberts —replicou Sara com calma ao
homem que tinha falado.
— Sabe perfeitamente que avisaram à fábrica de que logo haveria maiores restrições. Eles
escolheram limitar a produção em vez de melhorar. Não teve nada que ver com meu marido.
Quão único fez Jack foi dirigir aos representantes do governo à origem da contaminação e lhes dar
uma mão nos julgamentos.
—Ele foi quem nos mandou à puta rua —resmungou Mel zangado.
—É melhor que estejam na rua que morram os peixes e a vida silvestre, Mel. Ah, esquecia-
me que você também é caçador, Mel, assim possivelmente não te interessa muito a vida silvestre.
Sabia que aquilo não era verdade, que todos os caçadores da zona o faziam dentro dos
limites da lei. Mas não gostava que matassem aos animais. Às vezes, quando um animal estava
ferido, os caçadores não se incomodavam em lhe seguir o rastro e eliminar seu sofrimento. Voltou
sua atenção a Grande.
—Quanto a você, Cran, Jack era mil vezes melhor que o que você possa chegar a ser na vida.
Se aprendeu algo dele quando te ajudou a que deixasse a bebida, será melhor que comece a
recordá-lo e usá-lo para seu bem. Busca a ajuda de um profissional. Certamente Jack estará te
olhando e meneando a cabeça desiludido ao verte como está.
Do grupo de homens da esquina surgiu uma gargalhada.
Cran a olhou com os olhos entrecerrados perigosamente e sua voz descendeu até que
somente os dois a ouviram.
—Será melhor que olhe por onde vai nesses bosques, menina, nunca se sabe o que pode
acontecer quando a gente está só.
Ela controlou o desejo de dizer a todos que Cran era quem a tinha estado atormentando.
Seria melhor que não o fizesse, já que ele o negaria tudo e, de todos os modos, ninguém
acreditaria.
—Será melhor que deixe de beber, Cran, ou possivelmente tenha que te enfrentar a
acusações de caçar em época de vedação e de tentativa de assassinato. Tenho a bala de seu rifle
na parede de meu alpendre como prova disso.

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A mensagem dela foi alto e clara e ele assentiu com a cabeça lentamente. Ante a surpresa
dela, um sorriso se desenhou nos lábios masculinos. Abruptamente, ele se girou e partiu da loja de
ferragens entre um coro de risadas dos velhos.

Capitulo 10

Sara ainda se sentia zangada por seu enfrentamento com o Cran quando uns minutos mais
tarde entrou na agência de correios levando nos braços uma enorme caixa de cartão envolta em
plástico cheia dos produtos de hortelã que a viúva McCloud lhe tinha encarregado para o mês.
—Tudo bem, Sara?
Deu um salto quando a viúva McCloud apareceu atrás do balcão da agência de correios. Ao
vê-la, a gente pensava que a viúva era um homem por seu cabelo curto, penteado como um halo
de plumas, e seu nariz de bruxa. Mas sua atitude era tão afetuosa que compensava com acréscimo
seu estranho aspecto.
—Faz muito que não te vejo, querida.
Toda a raiva da Sara se evaporou por ouvir a carinhosa saudação da viúva McCloud. A
mulher era uma das poucas pessoas que seguiam sendo amigas delas apesar de que Jack
pertencesse ao grupo de ecologistas e os rumores de que ela poderia estar envolta em seu
assassinato.
Sara riu quando a mulher levou as mãos ao peito e seu rosto expressou alegria ao vê-la
depositar a caixa de cartão no balcão.
—Trouxeste a mercadoria! Já quase não ficava nada. Os clientes estavam zangando —
exclamou a viúva McCloud, fazendo uma rápida inspiração antes de prosseguir—: Espero que
desfrutasse da comida que te mandei com o Justin.
—Obrigado, Hilda. A inundação durou um pouco mais do normal este ano e foi uma bênção
que tivéssemos comida fresca.
—Tivéssemos? —perguntou a mulher, surpreendida.
Merda!
Um jorro de adrenalina gelado entrou nas veias da Sara ao dar-se conta de seu engano.
Recuperou-se rapidamente.
—Fiz ao Justin o café da manhã para lhe agradecer a viagem —mentiu.
— Tem carta para mim?
A mulher não emprestou nenhuma atenção à pergunta da Sara. Em vez disso, perguntou:
—Inteiraste-te que Sam desapareceu?
—Ouvi isso —disse Sara sem inflexão na voz.
A senhora McCloud era uma casamenteira muito ruim. Fazia tempo que tentava que ela
ligasse com o Justin e logo com o Sam e obviamente não esperava aquela resposta indiferente da
Sara. Mas Sara nunca tinha tido nenhum interesse nem no Justin nem no Sam, e o havia feito

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saber bem claramente à senhora McCloud em várias ocasiões, mas a mulher seguia insistindo.
Não lhe tinha interessado nenhum homem, ao menos até que Tom se apresentou em sua
casa.
A proprietária da loja franziu o cenho, intrigada, e logo se inclinou e desapareceu atrás do
balcão para reaparecer com uma caixa de sapatos cheia de cartas, que deslizou sobre o balcão e
deixou junto à que Sara lhe tinha levado.
—Levará-me só um minuto procurar suas cartas, querida. Por que não joga um olhar? —
disse-lhe enquanto começava a revisar as cartas.
Sara perambulou pela loja, acabando frente à gôndola de farmácia, onde agarrou um frasco
de analgésicos, se por acaso Tom voltava a ter dor de cabeça. Ao dar-lhe a volta, ficou petrificada.

Frente a ela, a nível da vista, tinha ordenadas pilhas de camisinhas.


OH, Deus santo!
E se levava uma caixa?
Espiou a senhora McCloud, mas esta seguia revisando o correio. Seu olhar voltou para
prateleira.
Quais deveria agarrar? Nunca tinha comprado em sua vida. Jack sempre se ocupou daquilo.
Mordeu-se os lábios quando uma intensa excitação lhe correu pelas veias. Em questão de
segundos, alargou a mão, agarrou uma caixinha que esperava fosse apropriada e rapidamente a
pôs sob o braço.
Girando-se para olhar para a senhora McCloud, lançou um suspiro de alívio ao ver que
seguia ocupada com sua improvisada caixa de correio.
Sara já podia ouvir os rumores! Hoje, Sara Clarke comprou uma caixa de camisinhas.
Possivelmente devesse devolver a caixa. Em realidade, não necessitava camisinhas. Não
conhecia o Tom. Só que era doce e carinhoso e bonito e sexy e que sabia fazê-la chegar ao
orgasmo com a língua.
Abatida, agarrou a caixa e estava a ponto de pô-la novamente na prateleira quando se deu
conta de que a senhora McCloud a olhava. A expressão de seu rosto indicou a Sara que a tinha
descoberto.
Merda. Seria melhor que ficasse com a caixa.
A contra gosto, dirigiu-se novamente ao balcão onde, hesitante, deixou cair os barbitúricos e
a caixa de camisinhas junto à pequena pilha de cartas que a viúva McCloud lhe tinha separado.
Sentiu que avermelhava quando o curioso olhar da outra mulher se posou nas camisinhas.
—Alegra-me muito que volte a agarrar tranqüilo às coisas —disse com uma risada quando
somava os preços de ambas as coisas.
—São para uma amiga —replicou Sara rapidamente.
Em realidade não mentia. As camisinhas eram para um amigo. E se com um pouco de sorte
tudo saía bem, Tom seria algo mais que um amigo.
Pela expressão do rosto da senhora McCloud e seu semi-sorriso, deu-se conta de que a
mulher não acreditava. O rosto lhe ruborizou mais ainda.

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Sentiu que morria da vergonha quando a senhora McCloud exclamou de repente:


—Ah, quase me esqueci! Veio outro pacote para o Garry. Em seguida volto.
A mulher se foi apressadamente e Sara quase deu um salto quando a campainha da porta
tilintou atrás dela indicando a entrada de um cliente. Seus olhos se dirigiram à caixa de camisinhas
que estava à vista de todos. Naquele momento, a senhora McCloud surgiu da porta com uma
pequena caixa envolta em papel marrom na mão.
Sara fez um gesto de exasperação quando viu o pacote. Outro envio de coleção do Garry! A
passava encarregando fitas cassetes e livros de vários clubes. Obviamente, esqueceu-se de dar a
esta empresa sua nova direção.
—Isto chegou por mensageiro a semana passada. Sue disse que o cara estava muito bom.
Um pouco rude, mas nada que não pudesse se melhorar. Recorda a Sue, verdade?
Sara assentiu com a cabeça. Como podia esquecer Sue? Tinha a vida feita com um marido
maravilhoso e uns adorável trigêmeos que já tinham dois anos. Sara não podia entender por que
Sue deixava a seus formosos meninos umas horas todas as sextas-feiras de noite para trabalhar na
loja.
—Sue disse que se ela não estivesse ocupada já, teria recolhido ao cara e a Harley na rede de
pescar de seu marido e os tivesse levado a casa sem pensar-lhe duas vezes —riu a senhora
McCloud, agarrando um envelope de papel pardo. Por sorte, colocou tudo dentro dela. —Disse
que o homem lhe fez um pedido do mais raro: pediu-lhe que fizesse uma cópia de um vídeo. Até
lhe pagou cinqüenta dólares americanos pela moléstia.
Agradecendo que as camisinhas tivessem desaparecido dentro da bolsa, Sara a agarrou
rapidamente. Mas pela expressão do rosto da senhora McCloud, deu-se conta de que esta não
tinha acabado com ela ainda. Suas seguintes palavras confirmaram suas suspeitas.
—Sabe quando virá Garry de visita? Faz tempo que não lhe vejo.
A viúva McCloud lhe tinha jogado o olho ao pobre Garry. Ele havia feito todo o possível para
desalentá-la. Embora não era seu estilo ser grosseiro, Sara imaginava que aquela seria a única
forma de livrar-se da mulher.
—Possivelmente venha logo. Por certo, posso usar seu telefone para fazer uma chamada a
cobrar ? —talvez podia dar com o Jo.
—Sinto muito, céu, mas seguimos sem telefone em todo o povo. Segundo Justin, as
tormentas causaram muito dano às linhas. Deixaria-te meu celular mas o dei a Sue. Seu marido
está de viagem de negócios e ela está sozinha com os bebês. Mas acredito que Justin também tem
celular. Estou segura de que lhe emprestaria isso com gosto.
A mulher sorriu com doçura, mas Sara não pôde evitar ficar tensa ao pensar em voltar a ver
o Justin.
—Obrigado. Verei se posso dar com ele —mentiu.
—Então, quando acredita que possa vir Garry? Algum dia em particular?
—Sinto muito, não sei com segurança —quanto antes, melhor.
— Mas a próxima vez que lhe chame lhe direi certamente que perguntaste por ele. Bom,
tenho que ir agora. A próxima vez convido a uma taça de chá e nos pomos ao dia com as notícias,

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vale?
O rosto da senhora McCloud se iluminou.
—Será genial, querida. Mas, não pode esperar um momento até que conte o que me
trouxeste?
—Já o faremos a próxima vez. Até mais tarde —disse Sara, saudando com a mão. Quase se
levou por diante ao casal de anciões que tinham entrado na loja fazia uns minutos.

Tom colocou o diminuto presente que tinha comprado para Sara no bolso de seu
impermeável e cobriu a cabeça com o capuz antes de sair à loja de hobbies à chuva gelada.
Passou-se a noite levantado, passeando-se pela casa enquanto tentava decifrar o que
significariam aquelas visões de sangue e luzes picantes. Também tratava de imaginar uma saída
daquela animação sem que Sara saísse ferida, quando encontrou a caixa de tintura loira no quarto
de banho do andar superior e rapidamente cortou e tingiu o cabelo.
Tinha que reconhecer que com o cabelo loiro e o rosto totalmente barbeado seu aspecto era
totalmente diferente ao do cara desalinhado de bigode e barba que tinha chegado à casa de Sara.
Apesar disso, melhor era que não chamasse a atenção e agarrasse o que necessitava antes
de voltar para o lugar em que tinham ficado de reunir-se aos subúrbios do povo o antes possível.
Sorriu ao ver a caminhonete da Sara estacionada fora da loja de ferragens. Estava
comprando o que lhe tinha pedido na espera para repor o que tinha usado e assim manter os
fornecimentos da estalagem para qualquer emergência que surgisse. Enquanto caminhava,
manteve o olhar cravado na porta da loja de ferragens com a esperança de ver sair a Sara. Quase
se levou por diante a um homem alto e de cabelo escuro que se achava frente à porta da loja.
—Desculpe —disse Tom cortesmente, tentando lhe esquivar.
—Não lhe vi nunca por aqui.
Conhecida-a voz fez que ficasse gelado. Através da chuva pôde distinguir os óculos do
Marcos escuros, o bigode.
Merda!
—Meu nome é Jeffries. Oficial Justin Jeffries.
Já sei quem é, desejou lhe espetar à cara, mas isso não resolveria nenhum problema. Estava
claro que o tira não ia deixar ir. Acabava de apresentar-se e Tom se deu conta de que tinha duas
opções. Ser tolo e cortês e enfrentar-se a ele. Ou ser preparado e sair correndo.

Optou pelo primeiro. Depois de tudo, tinha o capuz lhe cobrindo o cabelo curto e loiro e se
barbeou a barba e o bigode.
Deu-se a volta lentamente preparando-se a defender-se, mas ante sua precavida surpresa, o
tira estendeu a mão. Piscando para apartar a chuva dos olhos, Tom estreitou a mão que lhe
alargava o outro.
—O que há —disse Tom com naturalidade, esperando que o tremor que percorreu a
velocidade do raio não lhe notasse na voz.
— Me chamo Smith, Tom Smith.

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O homem lhe olhou fixamente.


—Parente do Garry Smith?
Moveu-se incômodo sob o olhar curioso do Jeffries.
—Não.
—De visita? —a voz fria do tira fez que lhe percorresse calafrio pelas costas ao Tom.
—De passagem —replicou.
Os olhos do Jeffries se entrecerraram detrás de seus óculos manchados de chuva e Tom de
repente se deu conta de que Jeffries possivelmente não lhe visse com claridade nem soubesse
com quem falava. Por outro lado, Tom se deu conta de que a mão direita do Jeffries se deslizava às
escondidas para a capa de sua pistola.
—Sua cara me soa. Conhecemo-nos?
Aquelas palavras gelaram o sorriso do Tom.
—Acredito que não. Nunca tinha estado por esta zona.
A resposta pareceu satisfazer ao Jeffries e este sorriu e apartando a mão de sua pistola, fez-
lhe uma saudação e se deu a volta.
Tom lhe seguiu com o olhar, sem confiar-se muito dele, enquanto o tira passeava pela
calçada. Tinha tido sorte de que Jeffries não lhe reconhecesse. Tinha-lhe salvado a chuva hoje.
Mas, quanto tempo demoraria Jeffries em dar-se conta de por que lhe resultava familiar? Uma
hora? Um dia? Quanto antes que Cran Simcoe decidisse dar com a língua e dizer a um amigo que
Sara tinha a um estranho vivendo com ela?
Praguejou.
Tinha sido uma loucura pensar sequer em deixar a Sara. Teria que tentar novamente
persuadi-la de que se fosse a um lugar seguro. E se seu obcecado orgulho se interpunha e ela se
negava a ir, então teria que ficar e protegê-la ele mesmo, porque de maneira nenhuma a deixaria
sozinha.
—Quais são as causas da amnésia?
A doutora Smokey McKay a olhou com curiosidade refletida em seus olhos cinza ao inclinar-
se em sua poltrona de pele e se meteu detrás da orelha a pluma que tinha estado utilizando para
apontar algo na história clínica de um paciente.
—Por que te interessa a amnésia de repente, Sara? Tem algo que ver com suas lembranças
confusas do assassinato do Jack? Ou se trata de algo mais?
Sara tragou o nó que tinha na garganta sob o olhar fixo de Smokey. A doutora conhecia a
Sara perfeitamente. Esteve a ponto de lhe confessar tudo sobre o Tom, mas logo decidiu não fazê-
lo. Sabia sem lugar a dúvida que podia confiar na psiquiatra, mas era melhor não envolvê-la
naquilo.
—Em realidade, sim, estava pensando em escrever um artigo sobre minha experiência, nada
mais.
—Nada mais, né? —disse Smokey, dúbia.
— Te conheço perfeitamente, Sara. Passa-te algo, não é verdade?
—Por Deus —disse Sara com uma risada nervosa—, só te hei feito uma pergunta. Como

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pode estar tão interessada em uma miserável pergunta?


—Porque, Sara, está radiante. Aconteceu-te algo durante o inverno? Conheceste a alguém?
Sara se moveu inquieta. A pergunta a agarrou despreparada.
—Vou fazer uma investigação para o Garry, nada mais. Não tem nada de suspeito, não?
—Escrever ou investigar? Qual dos dois? Além disso, eu não disse que houvesse nada
suspeito em sua pergunta —respondeu Smokey brandamente.
— Por que te põe à defensiva?
Sara agarrou sua bolsa da mesa.
—Possivelmente não seja uma boa idéia, Smokey. Esquece que te hei feito a pergunta, vale?
—Espera! —urgiu-a Smokey.
— Sou sua médica. Se tiver perguntas, estou obrigada às responder, não tem por que me
dizer o motivo. Me perdoe por ser tão prepotente. O que passa é que trocaste tanto, Sara… está
cheia de vida, de saúde. Estou surpreendida, isso é tudo. Por favor, sente-se, não te farei mais
perguntas.
Sara lançou um suspiro e se deixou cair na cadeira novamente. Se tivesse sabido que Smokey
se mostraria tão curiosa, não teria vindo nunca a lhe pedir ajuda. Sabia que devia dizer-lhe tudo
sobre o Tom. Sua amnésia. O quão atraída que se sentia por ele. O quanto desejava que lhe fizesse
o amor. Para ouvir falar com o Smokey eliminou os pensamentos que lhe invadiam a cabeça.
—A memória é um tema muito difícil —disse a doutora—, e cada caso de amnésia é único. O
que quer saber exatamente?
Sara apertou a bolsa.
—Quais são as causas da amnésia?
—Ainda não sabemos tudo sobre ela, mas as causas da amnésia são variadas: uma
enfermidade séria, um golpe na cabeça ou como bem sabe alguns traumas mentais podem fazer
que uma pessoa bloqueie certos aspectos de sua vida. Que perguntas quer me fazer?
—É uma questão totalmente hipotética, é obvio.
—É obvio —sorriu Smokey, urgindo a Sara a que continuasse.
—Se alguém, por exemplo, matasse a alguém e não o recordasse ou não recordasse nada,
que possibilidades tem que recupere a memória?
—Depende. Se a pessoa está bloqueando deliberadamente uma lembrança porque é muito
doloroso para recordá-lo, por exemplo, matar a alguém, chama-se amnésia psicológica ou
defensiva, enquanto que a memória se suprime inconscientemente, não deliberadamente. Pode
dizer que quer recordar, mas em realidade não o faz porque sua vida é tão agradável neste
momento e teme que o que recorde possa arruiná-la. Agora, na amnésia causada por um golpe na
cabeça, as lembranças podem voltar com o tempo ou possivelmente nunca retornem,
dependendo da severidade do caso. Em qualquer dos dois casos, quanto mais tempo dure a
amnésia, menor é a possibilidade de que recupere a memória.
—E o que acontece quando recuperam a memória? Recordará o que lhe aconteceu durante
o tempo em que estava perdido?
—Quando uma pessoa tem amnésia, está no que chamamos "estado de fuga". A pessoa não

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recorda nem quem é nem de onde procede. Certos aspectos de sua vida se retêm, como a comida
que gostam, o código de circulação, como se caminha, como se fala, coisas pelo estilo. A pessoa
que tem amnésia seguirá vivendo, criando novas lembranças e às vezes o "estado de fuga"
dissolve-se, permitindo à pessoa que recorde quem é e de onde procede. Logo podem voltar para
a vida normal outra vez. Mas, recordam o que lhes aconteceu durante sua estado de fuga?
Depende do indivíduo e novamente depende do que tenha durado sua amnésia. Quanto mais
dure, menores serão as possibilidades de que recorde no estado de fuga.
Tinha a resposta que queria. Havia uma possibilidade de que Tom não recordasse quem era
ela quando recuperasse a memória. A horrível idéia lhe deu desejos de chorar. Mas não o fez. Em
vez disso, quadrou os ombros com determinação. Não pensaria nisso. Não podia.
Smokey se inclinou adiante em sua poltrona, pensando.
—Tive um caso quando vivia na Flórida. Podê-lo-ia usar em seu artigo ou em sua
investigação, se está interessada.
—Claro, me conte.
—Uma mulher foi com sua família ao México de viagem. Um dia o marido decidiu levar aos
meninos de compras e ela ficou sob uma palmeira com um livro. Estava lendo quando de repente
lhe caiu um coco na cabeça. Não recordava quem era nem de onde procedia. Afastou-se
caminhando do hotel e a deram por desaparecida. Oito anos mais tarde apareceu no mesmo hotel
com as lembranças anteriores totalmente intactos. Acreditava que acabava de voltar de estar
sentada sob a palmeira. Para sua surpresa, sua família não se achava ali.
Foi a sua casa e descobriu que seus dois filhos eram quase adolescentes e que seu marido a
tinha declarado morta e se tornou a casar. Para complicar mais as coisas, casou-se com a melhor
amiga dela —disse Smokey meneando a cabeça. Seu cacheado cabelo marrom avermelhado se
balançou com sua surpresa.
— De mais pode dizer que suas vidas deram um tombo terrível. Com o tempo, o marido
voltou com sua primeira esposa. E aos poucos meses um homem bateu na porta da mulher
dizendo que era seu marido. Parece ser que ela se casou durante seu estado de fuga e tido dois
filhos mais.
—Quer dizer que não recordava haver-se casado nem tido meninos quando recuperou a
memória?
—Não recordava nada absolutamente. Como lhe disse: acreditava que havia retornado de
suas férias. Fizeram provas para determinar se os filhos eram dela e todos os resultados indicaram
que era sua mãe. Mas não pôde ocupar-se deles porque tinha perdido todo o instinto maternal
para eles.
Sara mordeu o lábio inferior tentando não mostrar nenhuma emoção enquanto Smokey a
olhava com curiosidade.
Se Tom recuperava a memória, cabia uma possibilidade de que nem sequer soubesse quem
era ela. E possivelmente tivesse outra família lhe esperando em um lar. Uma família que lhe
queria.
E se havia uma família por aí, ela poderia deixar ir?

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Poderia simular que ele alguma vez tinha existido e seguir com sua vida? Ou voltaria para
esses meses terrivelmente deprimentes que tanto lhe havia flanco superar depois da destruição
de sua família?

Queens, Nova Iorque…


Garry e Jo olharam fixamente através do alambrado de dez metros que rodeava ao edifício
de tijolo a vista com aspecto de abandonado que se achava no meio da zona industrial de Queens,
Nova Iorque.
—Decididamente, esta é a direção —disse Jô.
— Pode que minha memória não seja nada do outro mundo, mas estou cem por cento
segura de que este é o lugar.
Piscou o olho ao Garry e lhe mostrou a palma da mão, onde tinha escrito a direção.
—Acreditava que a tinha atirado pela privada!
—Fi-lo, mas antes a escrevi em outro lugar —deu de ombros.
— Ouça, a gente nunca sabe. Possivelmente desperta um dia com amnésia ou algo pelo
estilo.
Garry sorriu enquanto seguia olhando o edifício.
—Parece deserto. Dá um pouco de medo. Não lhe dá desejos de estar aqui, nem sequer em
plena luz do dia —aproximou a cadeira ao alambrada.
— Acredita que nos enganaram?
Jo meneou a cabeça.
—Para estar abandonado, este lugar certamente tem um sistema de segurança do mais
sofisticado —assinalou o batente em cima da porta de entrada,
— É uma câmara de vigilância de última geração.
Garry arqueou uma sobrancelha com curiosidade ao ver a reluzente câmara que lhes
apontava.
—Por que não fica sentado um momento, Garry, enquanto vejo um pouco isto? —com um
repentino impulso, Jo deu um salto e se encarrapitou no alambrado, agarrando-se com os dedos
como um macaco.
—O que vais fazer, Jo? —gritou-lhe Garry.
—Tento ver se há alguém em casa —gritou ela, subindo a toda velocidade e descendo pelo
outro lado.
Levou-lhe um minuto chegar à porta de entrada e colocar o olho no painel numérico que
havia junto a ela.
—Para que iam querer algo tão sofisticado por aqui? —resmungou, tirando a carteira.
—Tome cuidado, Jo —gritou Garry.
— Já sei o que está pensando fazer.
Jo lhe piscou os olhos enquanto tirava o cartão de crédito.
—Isto vai produzir um pouco de ação. —Com um rápido gesto passou o cartão pela ranhura
e pulsou uns números a bolada.

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Instantaneamente começaram a soar sirenes e timbres por todos os lados.


Bingo!
Garry lançou uma maldição do outro lado do alambrado.
A porta se abriu de sopetão e três homens vestidos de negro empunhando armas a
rodearam.
—Devem ser o comitê de bem-vinda —disse ela, lhes olhando com expressão inquisitiva.
Pela extremidade do olho viu outro "comitê de bem-vinda" que rodeava ao Garry.
—Tranqüilos, moços, sou detetive privada. Minha identificação está em minha carteira —
segurou sua carteira para que pudesse vê-la.
-Além disso, estou armada. A pistola está na capa em meu ombro direito, para que saibam.
Uma mulher alta e muito bonita de juba castanha avermelhada até os ombros que levava
um pulôver azul marinho e uma saia curta saiu precipitadamente do edifício. Seguiam-na dois
homens mais vestidos de negro.
—Sei quem são —disse a mulher cortantemente. — Entrou em um edifício de alta segurança
do estado. Se não responder a umas perguntas rapidamente, você e seu cúmplice irão ao cárcere.
—Será melhor que nos mostre uma ordem de prisão federal rapidamente ou vamos partir.
—gritou Garry do outro lado do alambrado.
Jo pilhou a sugestão do Garry e deu a volta para partir.
—Não! Espere! —gritou-lhe a mulher alta.
Jo esperou e girou para a mulher.
—Você tem perguntas. Nós temos resposta —mentiu.
— Que tal se nos disser o que sabe e nós fazemos o mesmo? Parece-lhe um bom trato?
—Trato feito —resmungou a mulher.
— Entre.
—Perdoa que te gritasse ontem à noite. Quando te partiu daquela maneira, Fiquei
preocupadíssima por sua segurança —disse Sara quando se dirigiam de volta à casa na
caminhonete com a chuva tamborilando no teto como mil dedos impaciente. Desde que recolheu
ao Tom aonde tinha ficado, ele permanecia calado. Ruminando. A verdade é que estava assim de
manhã cedo. Quase não tinha tomado o café da manhã e apenas disse umas palavras a ela exceto
quando insistiu em acompanhá-la ao povo.
Quando finalmente falou com ela, havia-lhe dito só que Cran Simcoe era sua sombra e que
ele opinava que era inofensivo.
Tom não reagiu ante sua desculpa. O certo é que fez caso omisso dela e seguiu olhando sem
ver pelo guichê.
—Tom? Ouviu-me? Ou simplesmente não vai responder me?
—Não sinto desejos de falar, isso é todo —um músculo lhe movia compulsivamente na
mandíbula.
Não era necessário ser um gênio para dar-se conta de que tinha dor de cabeça.
—Farei-te outra infusão de casca de salgueiro quando voltarmos.
—Agradeço.

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Sara franziu o cenho. Certamente que a dor de cabeça seria terrível para não protestar pela
horrível infusão.
—Há uns analgésicos extra fortes no saco - no assento entre os dois e de repente se deu
conta de seu engano.
Merda, as camisinhas! Estavam na bolsa!
Sara alargou a mão para agarrar a bolsa, mas se deu conta de que era muito tarde.
Ele já a tinha aberto e olhava dentro.
Olhou-lhe paralisada enquanto o rosto dele de repente ficava pálido como a de um
fantasma. Seu pé já tinha pisado no freio quando ele gritou sua advertência. Tom logo que pode
saiu da caminhonete.
Tom fez uma careta de asco quando Sara lhe pôs a segunda taça da amarga infusão em
frente e se sentou a seu lado.
—O que acontece? —perguntou Sara.
—Que a dor de cabeça está cedendo. Um pouco.
—Não te faça de bobo. Digo-lhe isso a sério. Por que reagiu dessa forma na caminhonete?
Foi…? —titubeou.
Desejava saber se ele tinha visto as camisinhas escondidas sob o correio. Acreditava que
não, mas gostaria de saber se a idéia de fazer amor com ela causava tanta repulsão para lhe fazer
vomitar e quase desmaiar.
Em vez disso, seguiu seu instinto e lhe perguntou:
—Teve outro flash de cor?
Ele franziu o cenho como resposta e agarrou a bebida de horrível aroma, fez uma profunda
inspiração e bebeu um gole enorme. Fez outra careta de asco, esta vez devido ao espantoso sabor.
—Sim, tive um flash de cor. Tive mais durante os últimos dias.
—Ah, que bem. Obrigado por dizer .-disse Sara, cruzando-se de braços, zangada.
Tom assentiu, franzindo o cenho outra vez e enrugando todo o rosto.
—Perdoa que não lhe dissesse isso. Teria que havê-lo feito.
A raiva dela se converteu rapidamente em compaixão ao dar-se conta de que ele sentia
seriamente não haver-lhe dito.
—São sobre sua família? Recorda seus nomes?
—Nada de minha família —suas palavras estavam tão cheias de terror que Sara teve um
calafrio ao ver a expressão turvada dos olhos masculinos.
—O que… o que recorda?
Sentiu-se invadida pela ansiedade. Recordou o que Smokey a psiquiatra, havia-lhe dito, que
se recordava seu passado possivelmente se esquecesse dela.
—Não pude ver seu rosto, mas era um homem mais velho. Estava atirado no chão. Havia…
— fechou os olhos com força, como tentando não ver aquela imagem— muito sangue.
Sara tragou com esforço ao ver a expressão de dor que se refletia no rosto masculino de
uma vez que tentava dissipar o medo que lhe subia pelas costas. Havia perguntas que fazer,
perguntas que não queria formular, mas tinha que fazê-lo.

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—Era ruivo? Levava um bigode fino?


—Não, tinha o cabelo branco.
—Graças a Deus —disse Sara, lançando um suspiro de alívio.
—Não é o tira que desapareceu?
—Não. Viu a você mesmo matando a esse homem?
Ele negou com a cabeça com gesto de frustração.
—Bem. Isso está bem.
Surgiu outro obstáculo:
—Mas não me vi não lhe matando —disse, tenso.
—Sejamos positivos. Recorda, "inocente até que se prove o contrário".
—Ok, ok —sussurrou ele, assentindo com a cabeça.
— Positivo, terá que ser positivo.
—Há algo mais que não me esteja contando?
—Não, sempre é o mesmo. Tentei ver quem é, mas não posso lhe ver o rosto. Só cabelo
branco e muito sangue.
—Já o recordará com o tempo —disse Sara brandamente.
—Não sei se quero recordá-lo —apertou as mandíbulas e ficou de pé. Suas pernas fortes e
musculosas o levaram até o impermeável que pendurava do cabide junto à porta e ela ouviu ruído
de papel enquanto ele procurava algo no bolso. Quando voltou para a mesa, sentou-se e deixou
cair um pequeno saco sobre a mesa de frente a ela. Durante um instante terrível, Sara pensou que
era a bolsa que continha as camisinhas.
Logo relaxou quando se deu conta de que era uma bolsinha da loja de hobbies.
—Abre-a, é para você. Comprei-o com um pouco do dinheiro que me deu —disse Tom, com
uma expressão doce e tenra.
Ela sentiu uma cálida opressão no peito e a curiosidade a corroeu enquanto olhava dentro
da bolsa. Assim que viu seu conteúdo, o estômago lhe deu um tombo. Meneando a cabeça,
apartou o presente como se este estivesse poluído.
—Não posso.
—Sim que pode —replicou Tom brandamente.
Ele tirou a caixa branca de lápis-carvão e uma tira de quatro fotos . As mostrou a Sara e
tentou sorrir da mesma forma em que o havia feito quando se sentou na máquina de fotografia
instantânea da loja onde as tinha tirado. Sara não pôde evitar sorrir da palhaçada.
—Pensei que sou um sujeito imparcial para que desenhe —riu ele entre dentes.
— E não diga que não faz retratos, porque vi os que pendurou nas cabanas. E especialmente
o dos gêmeos fazendo um boneco de neve. Assim é como imaginava que seriam?
Sara assentiu com a cabeça. Tinha dado no prego. Eram seus gêmeos, ou como se imaginou
que seriam a diferentes idades.
Olhou a caixa de lápis-carvão como se esta contivesse ao mesmo diabo.
—Não posso te desenhar. Já não posso desenhar nada mais. Desapareceu.
—Um talento como o teu nunca desaparece. Tem que afundar, tirá-lo a superfície. Eu sou

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um sujeito seguro, não te parece? Venho com o quadro-negro em branco, por assim dizê-lo. Quer
tentá-lo? Por favor? Fazê-lo por mim? —insistiu, os olhos brilhantes de cálida confiança, tentando
persuadi-la.
Sara cedeu e agarrou a tira de fotos, as examinando com cuidado. Seria agradável desenhar
seu atraente rosto, aquelas pestanas largas e adoráveis, as doces linhas que lhe rodeavam a boca,
a maravilhosa inclinação de seus olhos verdes.
—Claro, posso provar.
Aquele delicioso sorriso de lado se refletiu no rosto masculino, agarrando-a de surpresa.
Acelerou-lhe o pulso e a vagina se umedeceu de antecipação.
—Bem, isso é tudo o que peço, Sara. Mantém seus gêmeos vivos com seus quadros.
Mantêm vivo.
Sara se sobressaltou.
—Por que falas desta forma? Parece que… —meneou a cabeça lentamente—. Não sei, como
se fosses partir . Vai ?
O pomo de Adão dele subiu e baixou ao tragar. Estava claro que não queria dizer-lhe mas
não tinha mais remédio que fazê-lo.
—Topei-me com o Jeffries.
—O que?? —Exclamou, presa do terror. Justin Jeffries tinha visto o Tom. Tinha que o tirar
dali. Tinha que levá-lo a algum lugar seguro até que recebesse notícias de Jo e Garry.
—Falei com ele.
—Reconheceu-te? —tragou convulsivamente.— Não, claro que não, que boba, se tivesse
reconhecido, estaria no cárcere ou… Não, não sabe quem é.
—Tinha os óculos empapados e não me via bem, mas disse algo que me fez pensar que
possivelmente seja questão de tempo até que de repente se lembre. Perguntou-me se nos
tínhamos visto antes. Acredito que deveríamos partir hoje.
—De acordo.
Tom a olhou piscando incrédulo. Era óbvio que não esperava que ela estivesse de acordo.
—Mas com uma condição —acrescentou Sara rapidamente.
—Diga?
—Começaremos a procurar respostas.
Sara notou que os olhos dele se iluminavam de interesse quando se inclinou para ela.
—A que te refere?
—Gosta de ir a um povoado fantasma?

Capitulo 11

A névoa do declive apagava os contornos da Baía de Perca. Tinha descampado pela tarde e o
céu se mostrava de um azul brilhante e quente.

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Tinham conduzido pelo estreito e serpenteado caminho até o povoado fantasma e


estacionado a caminhonete em um claro perto das vias de trem. Agora Tom se achava nas vias,
olhando as águas do Lago Superior e seu olhar se viu atraído pela grande ilha rochosa que se
achava a uns quarenta metros da costa. Uma estranha sensação de ter estado ali antes lhe
golpeou o estômago como se tratasse de um murro e, de repente, custou-lhe trabalhar a
respiração.
Aquela ilha. Por que lhe chamava tão poderosamente a atenção?
Fechando os olhos, centrou-se em respirar a brisa fresca do lago e tentou que lhe viesse a
lembrança à mente. Não demorou para aparecer em questão de segundos.

Durante um segundo, Tom se encontrou na ilha. O suave som das ondas do lago na praia não
o tranqüilizaram enquanto olhava as casas da cidade fantasma na costa em frente. Uma gaivota
passou voando. O sol caiu sobre seu corpo nu, mas apesar disso, tiritou.
Sentia-se gelado, merda. Os dentes tocavam castanholas. Olhou as águas negras e geladas.
Poderia sair da ilha? Atreveria-se a tentá-lo?

A visão se desvaneceu, deixando muitas perguntas atrás de si.


Teria entrado na água? Naquela época do ano? Por quê? Por que tinha ido à ilha? Qualquer
um em seu são julgamento podia ver que fazia muito frio para nadar.
Possivelmente tinha estado ali no ano anterior? Mas quando seu olhar percorreu a ilha
rochosa, teve a sensação de que não fazia muito que tinha estado ali.
A paz da zona se fez pedacinhos quando Sara o chamou, excitada, de um lugar mais adiante.
Acomodando a mochila, lançou um último olhar temeroso à ilha antes de partir rapidamente das
vias de trem. Seguiu o atalho que levava até um topo. Do outro lado da elevação coberta de erva,
viu que ela acenava.
—Aqui —lhe chamou.
Caminhou pela erva alta para reunir-se com ela.
—Aqui é —disse Sara, indicando com um amplo arco dos braços
- Nossa querida Perca.
Tom ficou olhando a vista.
Muitas das estruturas de madeira se desabaram com o tempo. Algumas se mantinham em
pé, embora torcidas em ângulos insólitos. Outros edifícios permaneciam orgulhosamente de pé, as
vazias janelas negras abertas como bocas que bocejavam.
—Já esteve aqui antes, verdade? —disse Sara.
Ele assentiu com a cabeça, lhe devolvendo seu ansioso olhar.
—Não sei exatamente quando nem como, mas tenho a sensação de que estive antes aqui. E
o que me pergunto é por que. Por que ia vir a um lugar tão isolado?
—Terá tido um motivo. E se o que sente é verdade, isto confirma o que disse Justin, que
esteve aqui com o Sam e ele. São quem pôs as algemas em você e lhe machucaram.
—Possivelmente me defendi quando tentaram me prender.

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—Perdoa, mas não me convence. Justin não tinha nenhuma marca no rosto e não parecia
estar ferido. Golpear a um prisioneiro é ilegal, Tom. Disparar-lhe pelas costas tampouco é um
procedimento correto. Agora mais que nunca temos que demonstrar sua inocência. A única forma
que temos é seguir olhando e ver se pode recordar algo.
Antes que ele pudesse dizer algo, começou a descer pelo atalho. Seus braços e pernas se
moviam com ritmo decidido, urgindo-o a que a seguisse.
Uma fria sensação de medo começou a subir lentamente pela coluna quando a seguiu pelo
atalho que beirava as vias do trem. Ela assinalou diferentes edifícios abandonados, dizendo o que
tinham sido.
Finalmente chegaram a uma casa asilada encarapitada a um escarpado. Junto à casa estava
a carapaça de um edifício torcido. O nome "Perca" estava escrito em um pôster de madeira
pendurado da ruína, um anúncio para qualquer que se atrevesse a entrar nos limites da cidade
fantasma.
—Em 1884 a ferrovia chegou aqui, deixando atrás de si uma cidade. Este era o hotel para os
operários —assinalou Sara o edifício.— Tinham um cais que já desapareceu e em uma época
houve três fábricas para fazer dinamite com a que voar a rocha para fazer o leito de pedregulho
dos trilhos do norte de Ontário.
Tom tentou imaginar-se trabalhando na ferrovia, com Sara de esposa. Um montão de
meninos. Uma casa com uma cerca de tábuas brancas. Deixá-la durante semanas para trabalhar
nas vias teria sido um inferno, mas voltar para casa a sua adorável Sara teria sido como tocar o céu
com as mãos.
Lançou-lhe um olhar enquanto ela examinava o edifício vazio. A expressão triste e
angustiada que tinha quando se conheceram tinha desaparecido e em seu lugar os olhos
brilhavam de excitação.
Parecia tão viva, tão formosa que teve que fazer um esforço para não estreitá-la entre seus
braços e beijar aqueles lábios cheios e sensuais, para não agarrar os pesados e sedosos peitos
entre suas mãos e lhe apertar os mamilos.
O pau de repente levantou, empurrando os jeans, despertando, alerta. Tom quase lançou
um delator gemido de desejo.
—Tom? Ouve-me?
—Perdoa?
—Hei dito que ficam umas duas horas de luz. Há alguma zona em particular que quer
examinar? Algo que te chame a atenção?
—Tudo me chama a atenção —especialmente você, acrescentou mentalmente.
— Você escolhe.
Sara esboçou um bonito sorriso e ele sentiu o desejo que lhe percorria o corpo, sentiu que o
ventre se punha tenso, a pau crescia e se fazia mais grosso, mais duro, mais largo.
—De acordo, por aqui.
Seguiu os sedutores quadris femininos meneando-se diante dele pelo atalho enquanto se
dirigiam a uma relíquia de edifício com o telhado terrivelmente fundo. Subiram umas escadas

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cobertas de musgo e se encontraram no alpendre,


—Ooooh, queeee meedo —riu Tom ao inclinar-se ligeiramente para passar pelo vão da
porta e entrar na cabana. Recebeu uma bofetada de ar frio e úmido.
— Não estará por aqui o Gasparzinho, o fantasminha
—Cala, que despertará —sussurrou Sara enquanto olhava com os olhos muito abertos os
amassados potes de latão e outros objetos que tinha dispersados pelo chão coberto por estranhos
ladrilhos.
Tom a olhou com curiosidade.
—Que buscas?
—Antiguidades.
Ele não pôde evitar que lhe escapasse uma gargalhada.
—Antiguidades, este lixo?

Sara fez caso omisso a seu comentário e com um grito de alegria que lhe surpreendeu
momentaneamente, revolveu entre os escombros e se inclinou. De um ninho de papéis
amarelados tirou uma velha e oxidada cafeteira esmaltada em branco e um pouco escangalhada.
—É perfeita. Absolutamente formosa —disse ao levantá-la e olhá-la com olhos faiscantes.
—Formosa? —aquilo parecia um traste impossível de arrumar. Olhou-a com expressão
sarcástica, tentando averiguar o que ela via naquela parte de sucata oxidada.
—"Contam de um sábio que um dia…". De a volta —disse ela.
Ele a obedeceu.
—O que vais fazer com esse caco oxidado, se pode saber? —perguntou, sentindo que ela
levantava a lapela da mochila.
—Para que se inteire, muitos de meus arranjos de flores secas; que faço no que você chama
"caco oxidado", ganharam primeiro, segundo e terceiro prêmio nas feiras de outono.
—Prêmios? —resmungou, incrédulo.
Logo recordou aos velhos bules cheios de todo tipo de formosas sempre-vivas que havia
sobre a chaminé na habitação da Sara. E também no salão. Bules e cafeteiras que lhe recordavam
filmes de vaqueiros.
—Exato. Muitos prêmios —disse ela, com uma confiança que lhe fez sorrir.
Conteve a respiração ao sentir que o delicioso calor corporal feminino lhe chegava por
detrás quando ela colocou seu tesouro na mochila. O corpo se pôs tenso e alerta. Secou a boca de
repente quando se imaginou quão úmida estaria sua concha quando deslizasse sua língua
profundamente pelo estreito canal. A força com que seus aveludados músculos vaginais
apertariam seu pau enquanto a cravava até os ovos, duros e trêmulos.
—A próxima vai em minha mochila —riu ela, lhe tirando de seus sensuais pensamentos.
Inclinando-se ela seguiu procurando e encontrou uma jarra esmaltada. Tom lançou uma
silenciosa praga quando a ajustada calça apertou as sedutoras curvas do delicioso traseiro
feminino e se perguntou se lhe permitiria que a fodesse pelo cú.
Conteve o fôlego ao pensá-lo.

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Faria-a ficar de quatro com o rosto fundo no travesseiro e o traseiro nu levantado.


Acariciaria-lhe as aveludadas nádegas até que ela gemesse pedindo mais. Logo deslizaria um cone
anal dentro, um cone grande, que a preparasse para ele.
Ela teria o rosto ruborizado, seus gemidos eróticos se elevariam quando o plástico deslizasse
por suas escuras carnes. Ele faria que ela o levasse. Faria-a esperar. Faria que ambos tivessem que
esperar. O anseio de fodê-la pelo traseiro enlouqueceria a ambos de desejo. Quando ela estivesse
preparada por fim, o tiraria e a colocaria por detrás com força. Encantaria-lhe a pressão de seu
pau deslizando-se por seu traseiro. Desfrutaria com aquela mescla de dor e prazer, sua respiração
seria ofegante enquanto ele a fodia uma e outra vez até que ela gritasse basta.
Ela devia notar a expressão de desejo de seu rosto porque de repente ficou olhando com tal
ânsia que o coração dele se deteve.
Logo que ouviu as palavras femininas, absorto como estava naquela expressão do rosto
ruborizado.
—Já terá outra opinião de meu tesouro quando vir o produto terminado —sussurrou ela
brandamente enquanto levantava uma nova vasilha oxidado.
— Uma boa lixada —acrescentou—, uma mão de pintura antioxidante, seguida
possivelmente por uma cor rosa velho ou ao melhor amarelo pioneiro ou azul turquesa… —Vale —
a interrompeu, e sua voz soou excitada—, já me faço uma idéia. Essa é tua. De a volta. Sara
entregou a asquerosa antigüidade cheia de dúvidas e ele levantou a lapela e a deixou cair dentro
de sua mochila. —Olhe se os sanduíches não se esmaguem.
—Muito tarde —brincou Tom.
Ele soltou a lapela e ela se deu a volta rapidamente para lhe olhar de frente. Seus olhos
ardiam de desejo e ele viu como os mamilos marcavam contra a fina camiseta que levava. Deu-se
conta de que o desejava da mesma forma que ele desejava a ela.
A frente se encheu de suor enquanto se controlava. Poderia tomá-la ali mesmo, naquele
mesmo lugar. Apertá-la contra aquela parede decrépita, lhe baixar a calça e a calcinha e afundar
seu grosso pau na boceta quente e úmida, o rosto dela se contorsionaria de prazer e ele afogaria
seus gritos com beijos cheios de paixão.
De improviso, ela ficou nas pontas dos pés e lhe plantou um beijinho brincalhão no nariz.
Antes que ele pudesse agarrá-la, ela se girou e saiu saltitando como uma Náiade(ninfa), deixando-
o só e juntado, morrendo de desejos de lançar um grito de frustração.
Nesse momento perguntou se ela teria planejado ir aquela rústica e romântica cidade
fantasma para não ter que preocupar-se de que aparecesse a polícia pelo caminho da estalagem e
lhes agarrasse a qualquer momento.
Aqui poderiam relaxar-se.
Poderiam passá-lo bem.
Desfrutar do desejo que ambos tinham ido acumulando e que suplicava que o liberassem.
—Venha, a ver o que outros tesouros encontramos — chamou ela desde fora.
—Você é o único tesouro que eu necessito, doçura —sussurrou ele pelo baixo enquanto a
seguia fora.

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Duas horas mais tarde, o crepúsculo lançou a advertência de que tinha chegado o momento
de executar o plano que havia elaborado enquanto rebuscavam tesouros entre as ruínas da cidade
fantasma de Perca. Deixando Sara só enquanto esta examinava com a lanterna um tamborete de
três pés em outra casa vazia, saiu ao fresco ar da noite.
Junto à Baía de Perca iluminada pelos últimos raios do sol viu o pequeno e acolhedor abrigo
onde passariam a noite. Agarrou as duas mochilas e se dirigiu para o romântico crepúsculo com
um sorriso nos lábios.
Com exceção da brisa que balançava as folhas das árvores fora da cabana semi destruída e o
suave cheiro que rompia na praia da baía próxima, Sara foi consciente do silêncio. Muito silêncio.
Mas o silêncio não era algo novo para ela. Com ajuda de sua psicoterapeuta, Smokey,
finalmente tinha conseguido aceitar a idéia de que agora se achava sozinha e que Jack e os
gêmeos se foram. Depois de dar-se conta daquilo, adaptou-se a uma existência relativamente
acalmada na Estalagem de Peppermint Creek, mantendo-a aberta com a ajuda de alguns
estudantes e donas de casa desejosas de fazer algo mais que ocupar-se de suas casas. Também
levava seu negócio de produtos derivados da hortelã. Mas desde que Tom entrou em sua vida com
seu aspecto tão sexy, lhe produzindo ardentes desejos de que a fodesse, deu-se conta de que não
podia voltar a viver sozinha.
Pensativa, mordeu o lábio inferior. Hoje, ao sugerir que partissem da estalagem e fossem a
cidade fantasma onde lhe tinham visto pela última vez, ela tinha planejado secretamente uma
sedução, algo que com um pouco de sorte ele recordaria se recuperava a memória de sua outra
vida. O fazia também de forma egoísta, porque ela também desejava conservar lembranças. Se
chegado o acaso lhe passasse como aquela mulher do golpe na cabeça e se esquecia totalmente
do tempo que tinham compartilhado, ao menos ela teria desfrutado de uma noite de paixão com
ele.
Morria de vontades de saber que tipo de amante seria. Doce e tenro ou agressivo e
selvagem? Possivelmente uma adorável combinação de ambas as coisas? Pelo prazer que a boca
masculina lhe tinha produzido nos peitos cheios e a boceta durante o piquenique, estava claro que
ele não era tímido quando queria agarrar o que desejava. E sua experiência na noite em que lhe
tinha mamado o grosso membro demonstrava que não lhe dava vergonha sua sexualidade
tampouco.
Os ardentes olhares que lhe dirigiu durante o dia, apesar de simular não dar-se conta delas,
tinham-na posto totalmente quente, mais do que o tinha estado nunca em sua vida. Em um
momento, quando chegaram, deu-lhe a sensação de que ele a agarraria e a empurraria contra a
parede mais próxima, arrancaria-lhe a roupa e começaria a fodê-la.
Deus, como tivesse querido que o fizesse.
Mas não o fez.
O anseio sexual refletido em seus olhos era inconfundível.
Sara fechou os olhos e fez uma profunda inspiração para acalmar-se. Cheirou a chuva no ar.
Era fresco e úmido, com o claro aroma a ozônio. Recordou-lhe outra vez aquele dia horrível, o dia
em que Jack tinha sido assassinado e ela tinha perdido a seus meninos. As tormentas

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provavelmente lhe recordariam sempre o que tinha acontecido.


Um trovão retumbou ao longe.
Sara abriu os olhos de repente e olhou bem a tempo para ver o raio piscar brevemente
através da janela sem cristais. Sentiu a adrenalina em suas veias, seguida por algo novo.
Uma sensação de poder. Uma nova esperança. Um sentimento de força. Um instinto que lhe
permitia acreditar que com o passar do tempo conseguiria superar seus temores.
O medo a uma relação. O pânico que tinha às tormentas.
E agora era bom momento para começar a desfazer-se dessas dúvidas.
Procurando nas profundidades de seu ser a coragem que necessitava para isso, apertou a
lanterna na mão e se dirigiu lentamente em busca do Tom.
Não precisou procurar muito. Baixando, junto à praia da Baía de Perca viu rapidamente a
dourada luz de uma vela que saía da janela de um solitário abrigo. Tragando sua excitação, dirigiu-
se pela erva até chegar à estreita calçada de madeira que rodeava o edifício, ligeiramente
inclinado. Estava chegando quando a porta do abrigo se abriu de repente.
Ele ficou ali, de pé.
Na crescente escuridão ela distinguiu os tensos músculos que marcavam o contorno do peito
nu masculino, o ligeiro pêlo do peito que descendia pelo ventre e desaparecia por debaixo dos
jeans ajustados, dirigindo sua atenção ao enorme pacote em seu entre pernas.
Ela tragou ante aquela visão tão erótica.
Ele pigarreou e ela levantou a cabeça de repente. Seus olhos se cruzaram com o ardente
olhar cor verde. Havia anseia neles e Sara sentiu a resposta de seu corpo com incrível rapidez.
Seus peitos se incharam, seus mamilos se endureceram. O clitóris pulsou malicioso e sua
concha se umedeceu de desejo.
—Acabaste com sua busca de cacos ? —perguntou ele, sua voz um ronrono sensual.
Ela respondeu com um movimento de cabeça, incapaz de falar.
—Preparei nosso ninho para esta noite. Quer passar revista?
A contra gosto ela rompeu o contato com aquele ardente olhar e lhe seguiu dentro, dando-
se conta de que ele tinha adiantado na sedução. Uma única vela titilava na suave brisa no batente
de uma janela, pulverizando uma dourada luz sobre seus sacos de dormir, que ele tinha aberto e
estendido um em cima do outro no chão do vazio abrigo.
O coração lhe pulsou violentamente no peito. Uma mescla de excitação e medo a percorreu
ao ver as gastas cordas atadas às oxidadas argolas da parede próxima.
Tinha amarrado ele aquelas cordas ali, ou estariam desde antes? , Queria atá-la? Era esse o
tipo de amante que seria?
—Passou na inspeção?
Ela sentiu que tremia quando ele se aproximou por detrás a boca lhe secou quando ele se
apertou contra seu traseiro. A boceta lhe umedeceu quando sentiu o comprido pau masculino
apoiada contra a fina roupa.

O que devia dizer? Perguntar-lhe se planejava atá-la e fodê-la? Queria que ele o fizesse?

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Apenas lhe conhecia. Nunca havia feito algo assim com o Jack, embora tinha tido muitas fantasias
a respeito. Tinha fantasiado que um estranho a atava e fazia amor. A fodia uma e outra vez até
fazê-la chiar de paixão desenfreada.
Encontrou-se apoiando-se contra ele, respirando, desejando que ele começasse a lhe tirar a
roupa.
—E? O que te parece? —sua voz parecia escura, sensual.
—Parece-me que possivelmente deveríamos tirar a roupa —sussurrou ela.
Os batimentos lhe aceleraram para ouvir a afogada exclamação dele.
Gemeu quando os quentes lábios masculinos lhe roçaram a nuca. Beijou-a ali e seu fôlego
causou calafrios que desceram pelas costas. Os largos dedos se entrelaçaram com os dela e a
levou até os sacos de dormir. Nesse momento ela viu o maravilhoso e oxidado bule de latão com
um brilhante ramo de narcisistas amarelos que ele tinha colocado no chão perto da improvisada
cama.
Não pôde evitar sorrir.
Novamente ele lhe aproximou por detrás, apertando sua enorme ereção contra o traseiro
dela. Os quentes braços rodearam a cintura e apoiou o queixo sobre o ombro feminino.
—Já sei que é tudo um pouco primitivo, mas as flores e a vela são para você. Para criar
ambiente e despertar as vontades —sussurrou.
—Tenho vontades desde que te conheci.
—Não sabia que queria que lhe… —beijou isso brandamente a curva do pescoço—…fodesse,
depois da forma em que me comportei a outra noite.
Falava do que tinha acontecido depois de que ela se meteu seu maravilhoso pau até a
garganta.
—Entendo. Não está seguro de nada. Eu tampouco. Não tem por que haver nenhuma
atadura. Sei que não nos conhecemos muito, mas você é o primeiro homem… —se excitou com o
que estava a ponto de confessar—…é o primeiro homem pelo que me sinto atraída sexualmente
desde que Jack morreu … o primeiro com quem quis me deitar. Necessito…
Preciso te sentir dentro de mim. Preciso me sentir viva outra vez
—Quer te sentir mulher —lhe roçou sensualmente o lado da bochecha com a língua,
enviando um golpe de sensação a sua boca.
Ela assentiu com a cabeça.
Apertando-se mais contra ela, começou uma lenta dança sensual esfregando sua ereção
contra as curvas do traseiro feminino. Ela meneou contra o corpo dele e com cada girou sedutor o
ardor de seu interior se intensificou mais ainda.
—E eu quero te dar prazer, Sara.
Ela conteve o fôlego quando a mão dele apoiou no ventre, o calor de seus dedos afundando-
se por debaixo do cinturão, ardendo contra seu abdômen.
OH, Deus! Dê pressa, me faça amor. Estou mais que pronta para que me foda.
Os dedos dele se deslizaram por cima de sua boceta nua, separaram seus lábios já
empapados e acariciaram brandamente seus clitóris. Ela apertou os dentes e conteve um alarido

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quando seu ventre se contraiu com as sensações eróticas que a sacudiram.


Outro dedo se afundou na úmida boceta e ela se estremeceu de desejo.
—O que sei é que te desejo. Necessito foder sua boceta e colocar isso por detrás quando
estou na cama. Por que acredita que estive trabalhando tanto? Para me manter afastado de você.
Por detrás? Tinha-o provado um par de vezes com o Jack e não tinha gostado muito, mas se
perguntou como seria com o Tom.
Os dedos deixaram sua boceta e as grandes mãos se deslizaram sensualmente pelas curvas
dos quadris femininos para lhe dar a volta e fazê-la lhe olhar.
Tinha os olhos entrecerrados, o nariz abertos de desejo e o aspecto de prazer puro daquele
rosto a deixou sem fôlego.
—Quero estar dentro de você, Sara.
Olhou-o desabotoar o jeans. O coração lhe acelerou por ouvir o zíper que baixava. Advertiu
que ele não levava roupa interior ao ver seu tenso abdômen e o escuro pêlo púbico. De repente,
seu grosso pênis, de aspecto selvagem, saltou fora enquanto ele baixava as calças e os tirava.
—Se dispa para mim, Sara. Tire a roupa enquanto lhe olho —sussurrou, mantendo-se
orgulhosamente de pé frente a ela.
OH, Deus, estava muito bonito.
Percorreu-a um ardente fogo enquanto olhava o dilatado peito que se movia com cada
inspiração. Seus bíceps marcaram quando ele estendeu os braços por diante de seu corpo e com
uma mão se agarrou a base do duro pau, os largos dedos da outra mão massagearam seu
testículo.
Ele assentiu com a cabeça e ela tomou como uma indicação de que começasse a despir-se.
Sentiu um espasmo nas paredes da boceta ao ver Tom masturbar-se e um fluxo quente e
espesso umedeceu a calcinha. Tremeram-lhe os dedos quando levantou a barra da saia por cima
de sua cabeça. Sentiu os peitos pesados, enormemente cheios quando desabotoou o sutiã e o
deixou cair.
Ele lançou uma maldição em voz baixa, sua respiração estremecida, quando os peitos dela
estiveram livres. O coração feminino pulsou desesperadamente quando ela se agachou e tirou a
calcinha.
Quando se ergueu novamente, Tom se achava frente a ela, lhe percorrendo o corpo com o
ardente olhar. Um rouco grunhido de aprovação surgiu das profundidades de seu peito. Era um
som selvagem e erótico que fez que seus mamilos se apertassem e a boceta contraísse.
—É tão sexy que não posso tirar os olhos de cima.
As mãos masculinas se elevaram e os dedos trêmulos tocaram ambos os lados da boca. Uma
estranha tristeza brilhava nos olhos masculinos além disso do brutal desejo sexual.
—Desde que te vi a primeira noite tenho a sensação de que te vi antes. E essa sensação se
foi acentuando com cada dia que passa —lhe roçou a bochecha com os dedos e desceu por seu
pescoço, chegando até a curva de seus peitos e os escuros mamilos que acariciou ligeiramente,
roçando suas pontas até fazê-los arder de desejo, suas formigantes sensações chegando em ondas
até a boceta.

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— Tenho a sensação de que me apaixonei por você antes de te haver conhecido. Acredita
que será uma reencarnação ou algo assim?
Apoiou-lhe as mãos nos estreitos quadris sem acreditar em tudo o que ele dizia. Como podia
um homem apaixonar-se por ela antes de conhecê-la?
—Não nos conhecemos. Acredite-me, recordaria-o se o tivéssemos feito, e acredito na
reencarnação, assim possivelmente seja isso.
Ele assentiu com a cabeça e continuou brincando com seus mamilos. Sentindo o calor do
corpo masculino, ela desejou aproximar-se mais ainda a ele.
Espetadas de sensações eróticas irradiavam de seus mamilos, estendendo-se rapidamente.
Quando lhe abrangeu os peitos apertando-lhe a paixão ardeu como um relâmpago, lançando uma
flecha de fogo para sua boceta e saturando sua entre perna com o fluxo.
As mãos enfebrecidas apertaram seus peitos e os lábios se abriram, a cálida boca
capturando rapidamente um trêmulo mamilo. Os brancos dentes a mordiscaram, fazendo-a lançar
um gemido. A úmida ponta da língua masculina lambeu a doce dor e ela apertou seu peito contra
a boca dele com impaciência.
As tenras lambidas se interromperam e começou a chupá-la com força, o que a fez retorcer-
se ante aquela súbita mudança.
Primeiro tenro, logo feroz. Uma combinação muito agradável.
Se entrecerrou os olhos quando ele chupou o outro mamilo e torvelinhos de prazer a
percorreram.
Sentia o comprido e duro pênis apoiado contra sua coxa e experimentou a necessidade
desesperada para que aquele pau lhe beijasse os úmidos lábios da boceta. Que lhe deslizasse
dentro.
A boca masculina finalmente deixou seus peitos e subiu para assaltar sua boca. Tinha os
lábios quentes e úmidos de ter chupado, a respiração entrecortada pela excitação.
Ela gemeu pelo prazer que percorria seu ventre.
Uma mão se deslizou entre suas pernas abertas e lhe acariciou a boceta, esfregando com
ternura o cheio clitóris e enviando ardentes espasmos pulsantes por ambos os canais.
Sua boceta chorou enquanto seus músculos vaginais apertavam o ar.
—Tom, foda-me —gritou ela, interrompendo o beijo embriagador.
Ela ouviu a exclamação afogada dele, sentiu que os dedos que exploravam sua boceta.
—Espera um momento —sussurrou ele. Agachando-se, colocou a mão no bolso de seu jeans
e tirou uma tira de preservativos. Agarrando um, endireitou-se e a viu menear a cabeça.
— Não estava fuçando nem nada pelo estilo. Estava procurando loção de barbear e os
encontrei onde os tinha posto na prateleira do banho —explicou enquanto rapidamente deslizava
uma camisinha sobre seu pênis.
—Não te escapa nunca nada —riu ela.
Quando ele acabou de colocar a camisinha, rodeou-lhe o pescoço com os braços e seus
dedos desfrutaram do contato suave dos músculos de suas costas. O aproximando dela, olhou aos
olhos.

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—Faça amor comigo, Tom.


Sorriu-lhe e o coração se estremeceu de desejo no peito feminino.
—Minha intenção é te fazer amor toda a noite, doçura. Oxalá fosse em melhores condicione.
Vinho, música, luz de velas…
—Sua boca é meu vinho, amor. As rãs coaxando são a música e já te ocupaste da luz das
velas.
—Merece-te muito mais.
—Silêncio —disse, roçando com seus lábios os quentes lábios masculinos.
— Isto é absolutamente ideal. Temos nosso formoso abrigo particular e eu tenho a você.
Não pode ser mais perfeito que isto.
O olhar ardente dele desceu a olhar entre os dois e ela inalou ao sentir a dura cabeça de seu
pau empurrar contra a abertura de sua boceta. Ele ficou ali, fazendo-a retorcer-se de impaciência.
Parecia não notar que ela se achava afligida.
—Sabe? É maravilhosa. A maioria das mulheres me teriam entregue na primeira mudança.
Mas você foste tão bondosa, me salvando a vida e me dando um lugar onde viver.
Empurrou seu pau, metendo-lhe na boceta.
OH, Deus, que grande era. Maravilhosamente enorme. Esperou com ansiedade que a
penetrasse mais.
Ele não se moveu.
Em vez disso, começou a falar outra vez.
—E agora até me permite que lhe fodesse.
A frustração sexual começou a aumentar.
—Permite-me que te faça amor.
—Podemos falar disso em outro momento?
—Por quê? Você se aborrece que fale?
Nesse momento ela se deu conta de que ele brincava e que o suor o cobria a frente.
—Bode, está-me tirando sarro —gemeu. Não só seria um amante feroz e tenro de uma vez,
além disso a levaria a uma morte cheia de frustração sexual.
Para ouvi-la, a cálida boca masculina desceu sobre a dela com uma ternura tão urgente que
a maravilhou. Falhou-lhe o pulso enquanto ardentes torvelinhos de prazer surgiam de sua boca.
O forte aroma masculino assaltou seu nariz, enjoando a de desejo. Seu aroma a voltava
louca. Os joelhos afrouxaram quando o pau dele penetrou sua úmida boceta, dilatando-a como
nunca se dilatou antes.
Merda, que sensação mais maravilhosa!
A ereção dele ardia, pulsando quando sua cálida dureza a penetrava lentamente.
Ai, que maravilhosa lentidão.
O fazia com cuidado. Com cuidado de não lhe fazer dano e ela o agradeceu. Logo seu duro
membro a tinha penetrado por completo. A segurou pelos quadris com força, com firmeza.
—Está bem?
—Sim.

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—Você gosta?
—OH, sim.
—É formosa.
—Deixa de falar e começa a foder-me de uma vez.
—Digo-lhe isso a sério —seu quente fôlego lhe roçou os lábios.
—Eu também.
—Sabe algo? Acredito que nunca hei fodido de pé.
De repente, ela abriu os olhos de repente, o medo penetrando seu desejo.
—Recordaste algo?
—Não. Mas não cria nem por um instante que esqueci que como se faz amor.
Um prazer líquido a banhou por lhe ouvir.
—Graças a Deus.
—É realmente formosa, Sara. Tão maravilhosamente escura.
Lentamente retirou seu pau e logo a voltou a penetrar. As paredes bem lubrificadas de sua
boceta lhe permitiram uma entrada apertada e entretanto indolor, e esta vez ele a penetrou mais
rápido, com mais força.
As sensações se acumularam, vibrações eróticas que dançavam ao som daqueles trancos
que se faziam cada vez mais profundos, mais ferozes.
Dentro dela, o membro masculino pulsou com cada profundo impulso.
Ela recebeu cada tranco com entusiasmo. Os músculos de sua boceta começaram a
estremecer-se. A força de sua penetração a abrasou e seu prazer foi in crescendo.
—OH, sim! —soluçou.
Nunca lhe tinham expandido a boceta tanto. Sentia cada uma das veias inchadas do pau dele
roçando as paredes de sua boceta. Sentia seus músculos aferrar-se com frenesi a cálida longitude
daquele maravilhoso pênis.
A palpitante carne masculina entrou e saiu dos abertos lábios de sua boceta uma e outra
vez. Eróticos gemidos brotaram do peito dele, acrescentando seu som ao crescente prazer.
Ofegando contra o pescoço dele, ela sacudiu os quadris com mais e mais força contra ele,
aproximando-se cada vez mais ao clímax.
Cada um dos músculos de seu interior se esticou enquanto ele bombeava sua boceta sem
piedade. Um torvelinho de sensações girou, aumentou, explodiu.
Sara lançou um alarido quando o desejo se fez presa dela.
Sacudiu-se com mais ímpeto contra ele. Afundou os dedos em seus braços com força.
Sacudiu-se até que se deixou ir e não sentiu mais que prazer.
Puro prazer.
Sensações maravilhosas que a sacudiram de cima abaixo.
OH, Deus, que formoso!
O orgasmo chegou, golpeando-a durante uns momentos com seu delírio e afastando-se.
Seguiu penetrando-a uma e outra vez até lhe fazer dar alaridos de prazer. I
Até que as pernas quase não a puderam sustentar.

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Até que ele gozou.

O ar fresco entrava pela janela aberta do abrigo e lhe acariciou o traseiro nu onde Tom lhe
tinha indicado que se virasse nas bolsas de dormir com o traseiro nu levantado e o rosto de
barriga para baixo.
Tinham descansado depois de fazer amor.
Mas não tinha passado muito tempo antes que Tom voltasse a procurá-la.
Ela ouvia sua respiração excitada enquanto lhe deslizava as cálidas palmas das mãos
sedutoramente por cada centímetro quadrado de sua ávida pele.
—Tem o traseiro mais bonito que eu tenha visto jamais, doçura —sussurrou Tom.
—O teu tampouco está mal —replicou ela, meneando-se, desejando que ele penetrasse sua
boceta por detrás. Os rígidos mamilos formigaram quando esfregou seus cheios e ansiosos peitos
contra o áspero tecido do saco de dormir sobre o que se achava.
—Tenho algo aqui na mochila que quero que ponha. Encontrei-o na gaveta de seu quarto de
banho.
OH, mãe de Deus, teria encontrado seu vibrador? Que vergonha! Esqueceu-se totalmente de
escondê-lo. Contendo o fôlego, olhou-lhe rebuscar na mochila e tirar um cone anal.
Merda, tinha encontrado o vibrador! Jack a havia feito levá-lo em uma época em que
tentava lhe dar um pouco de movimento a sua vida sexual.
—Quero que comece a usar isto para te preparar para mim —ela se ruborizou por ouvir e ele
a olhou com a cabeça de lado, os olhos brilhantes de curiosidade.
— Você gostava de ter relações anais com seu marido?
Ela deu de ombros.
—Foi algo que ele quis que eu provasse uma vez.
—Somente uma vez?
—Em realidade, duas —disse ela, e o pulso lhe acelerou quando ele deixou o cone sobre o
saco de dormir e começou a lhe acariciar as curvas do traseiro novamente.
Deus, seu contato era tão doce, tão carinhoso, tão excitante! Um golpe de prazer a
atravessou quando um quente dedo masculino se deslizou entre os lábios de sua concha para lhe
acariciar o volumoso clitóris. A íntima massagem se intensificou até que ela, com uma exclamação
afogada, desejou que lhe penetrasse a boceta de um tranco.
—Queria algo?
Ela titubeou. E se lhe dizia a verdade? E se lhe dizia que não tinha gostado? Que só o tinha
levado para dar prazer a seu marido. Renunciaria Tom a fazê-lo se lhe dizia que não gostava? Mas
ela também queria lhe dar prazer. Não queria que ele pensasse que ela era uma retrógrada e que
ao menos não provava com ele.
E realmente queria prová-lo com ele.
—A verdade, Sara.
—Só o fiz porque ele queria. A verdade é que eu não gostei muito.
—Acariciou-te o clitóris assim? Antes de foder seu bonito traseiro?

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As coxas dela se esticaram quando o dedo dele afrouxou a pressão e lhe acariciou o pulsante
núcleo.
Ah, sim, o que gosto.
Não podia evitar que os quadris se mexessem, ansiosas de que ele acelerasse as carícias
eróticas.
—Não, não o fez —disse, dando-se conta de repente que Jack em realidade nunca tomou o
tempo para dar prazer a ela quando faziam o amor. Possivelmente por isso ela sempre havia
sentido tantos desejos de deitar-se com ele quando vinha uma tormenta. Era quase a única vez
que ele se excitava.
—Seu fetiche era me fazer amor quando havia tormenta —confessou.

—Isso sim que é novo para mim —o dedo masculino se deteve momentaneamente sobre o
ofegante clitóris para recomeçar a acariciá-lo logo. Ela sentiu que o quente fluxo de sua boceta
descia pelo canal e lhe jorrava entre as coxas.
— E agora odeia as tormentas.
—E você gosta de fazer de psiquiatra —disse ela brandamente, empurrando com a boceta o
dedo dele, tentando aumentar as sensações eróticas que criava seu contato.
—A que sim? —disse ele com a voz tinta de humor.— Te está pondo bem quente e úmida aí
abaixo. Por desgraça é o buraco equivocado o que estou lubrificando.
Ela lançou um grito de frustração quando o ardente dedo abandonou seus clitóris. Girando a
cabeça, viu que ele rebuscava novamente na mochila, o pau largo e duro surgindo de entre suas
pernas. Tirou o ungüento de hortelã que ela fabricava.
Sara se estremeceu ao vê-lo.
Ele estava novamente excitado, seu pênis de uma raivosa cor vermelha, quase púrpura, sua
cabeça totalmente fora da capa e preparado para penetrá-la.
—Isto é o que precisamos —disse ele, voltando para o traseiro nu dela.
Um fogo a percorreu quando lhe abriu a raia do traseiro.
Lançou um alarido ao sentir que um dedo generosamente lubrificado se metia no traseiro
apertado e seus sensíveis músculos o apertavam enquanto ele a explorava.
Ele voltou a meter-lhe no escuro ânus várias vezes mais, lubrificando-a com o refrescante
ungüento de hortelã, relaxando seus músculos anais e penetrando-a cada vez mais.
—Farei que troque de opinião sobre a penetração anal, Sara. E um dia colocarei isso por esse
bonito traseiro que tem. Não há nada como ver como seu pau se afunda no traseiro de uma
mulher — tirou o dedo do orifício feminino e os olhos dela saíram de suas órbitas quando sentiu
que a lisa e bem lubrificada ponta da flecha se pressionava contra seu anus.
— Quando um homem sabe como fazê-lo corretamente, a mulher lhe roga que o faça uma e
outra vez —disse ele com voz segura, erótica. Seu dedo continuava massageando o clitóris
ofegante.
OH, por todos os Santos! Uma surpreendente excitação a invadiu ao pensar na penetração
anal do cone e esfregou seus mamilos com mais força contra o saco de dormir.

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Lançou um alarido quando ele apertou o esfíncter e o deslizou dentro. A pressão era
enorme, estirando-lhe ardente.
Ele o colocou com lentidão mas com confiança.
Enquanto o plástico a penetrava, um dedo masculino lhe massageava o volumoso clitóris,
esfregando-o sensualmente até que ela sentiu que o pegajoso fluxo do desejo lhe jorrava pela face
interior das coxas.
—OH, sim, doçura, venha, traga isso tudo —disse ele.— Deus, que erótico resulta ver como
desaparece dentro de seu traseiro!
Uma insuportável dor-prazer lhe subiu do ânus enquanto o deslizava para dentro. Era um
ardor agradável, algo que nunca tinha experiente antes. Nem sequer quando o tinha inserido
aquelas poucas vezes ante a insistência do Jack. De repente, o cone se deteve e o traseiro pulsou,
ansioso.
—Já está em seu lugar —sussurrou ele, aumentando com seu dedo a fricção em seus
empapado clitóris.
A invasão do cone a atormentou de uma forma formosa e ela descobriu que adorava a
sensação que lhe produzia, empalando-a pelo traseiro.
O dedo que se achava sobre seus clitóris acelerou seus movimentos, levando-a até o bordo
de um gozo inimaginável.
E logo seu grosso pau lentamente se afundou na boceta empapada e ultra tensa,
empurrando dentro até que ela se encontrou trêmula de desejo.
—Encontra-te bem?
—Muito —vaiou ela apertando os dentes.— Endemoniadamente bem.
Ele lançou uma risada afogada e começou a tirar seu pau quente de novo. Ela lançou um
alarido quando ele voltou a colocar, lhe acariciando todo o tempo o clitóris ultra sensível.
Tinha o traseiro que era uma maravilha de quente e o clitóris palpitante.
Ambas as ações se complementavam perfeitamente.
Encontrou-se movendo os quadris para trás, respondendo aos impulsos rítmicos e parecidos
dele.
Logo se achou ardendo.
Sentiu a boceta inflamada enquanto lhe acariciava o clitóris e empalava sua boceta,
empurrando uma e outra vez, levando-a ao êxtase, empurrando-a a que tivesse um clímax incrível
que explodiu a seu redor em um caleidoscópio de sensações que ameaçaram fazendo-a migalhas.
—Doçura, sim, assim, assim —gritou ele quando ela se sacudiu contra seus impulsos,
empalando-se nele.
Ela sentiu que o pênis se alargava, pulsava, ardia dentro dela com cada apaixonado
movimento.
Sim, ele sim que sabia o que estava fazendo!
Golpes de desejo a percorreram. Rasgaram-na. Fizeram-na dar alaridos.
Soltou-lhe o clitóris e a boceta dela teve violentos espasmos, seus músculos apertaram
ansiosamente o pênis dele. O traseiro oprimiu grosseiramente o cone anal.

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Ele continuou bombeando com seu pau de aço.


Com força e rapidez.
Enchendo-a maravilhosamente.
Calor. Pressão. Tanta pressão.
Encantou-a a forma em que ele a enchia. Adorou o modo em que ele rugiu quando os
músculos vaginais lhe apertaram.
Brilhantes faíscas de prazer a envolveram. Deixou-se levar pelas ondas, subindo a cada
cúspide eletrizante enquanto o gozo do clímax estalava a seu redor. Convulsionou-se ao redor
dele. Ardentes tremores voluptuosos a cegaram.
Ele gemeu, um som carnal que chegou a ela ao coração. E logo começou a gozar. Espessos
jorros de sêmen a orvalharam por dentro, gotejando para fora e correndo por suas coxas,
mesclando-se com seus sucos.
Voltaram a fazer amor durante a noite, o som de seus gritos de êxtase se combinou com o
das ondas que golpeavam o abrigo das barcos.
Quando os primeiros raios do dourado sol penetraram pelas janelas se encontravam
exaustos.
Tom se desmoronou sobre a bolsa de dormir e ela atirou da outra para cobri-los a ambos.
Céus, que bonito que era.
Um amante apaixonado.
A boceta lhe doía de tanto foder. Mas era uma sensação prazenteira.
Uma dor que desejou experimentar uma e outra vez, tal como ele havia dito.
Rodeou-lhe o quente ombro com um braço e se amassou contra ele, apertando o ventre
contra a cálida curva do traseiro masculino.
Sorriu e fechou os olhos, sabendo instintivamente que nunca haveria outro homem em sua
vida.
Só Tom.
O sol desaparecia detrás da ilha da baía quando Tom caminhou pelos arredores de um claro
frente a uma casa abandonada que ainda não tinham inspecionado.
Tropeçando-se na erva enquanto se dirigia ao edifício, seus pensamentos se dirigiram para a
noite anterior e a hoje, ao intenso dia de sexo que tinham compartilhado.
Recordou a forma ardente em que Sara sempre olhava a seu pau antes que ele o metesse na
trêmula boceta. Recordou os maravilhosos e sensuais alaridos com que ela gozava.
Merda, era extraordinária! Apaixonada. Sexy.
Intempestivamente, um rangido brotou sob seus pés e em uma fração de segundo caiu
dentro de um profundo buraco.
Dentro do abrigo, Sara ficou imóvel por ouvir o ruído que rasgou o quieto ar do crepúsculo.
Parecia madeira que se quebrava.
Seguiu-o um silêncio de morte.
Um estremecimento de inquietação a percorreu e se dirigiu descalça à porta justo quando
um relâmpago iluminou o outro extremo da baía. Estremeceu-se ao vê-lo e tentou conter sua

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ansiedade ante a idéia de que se aproximava outra tormenta. Cobrindo-os peitos nus com as
mãos, rapidamente percorreu com o olhar as colinas circundantes procurando o Tom. Só viu as
silhuetas das casas abandonadas.
Ele disse que queria jogar outro olhar antes que fossem dormir. Tinham decidido que
voltariam para a estalagem pela manhã a procurar provisões e ver se o telefone funcionava.
Desejou ter um telefone móvel. Teria resultado mais fácil contatar com sua família e ver se tinha
mensagens. Como não tinham encontrado ali nada que resultasse útil ao Tom, deu-se conta de
que sua irmã e seu sogro eram sua última esperança. Certamente que eles poderiam ajudar.
Sorrindo na penumbra, apertou os braços sobre seus peitos e sentiu as pontas de seus
mamilos doloridos roçar contra sua pele. Todas as maravilhas que havia feito a seu corpo a noite
anterior tinha estado a ponto de enlouquecer de desejo. Por ser um homem que não recordava a
maioria de seu passado, certamente que sabia como dar prazer a uma mulher.
E agora teriam outra noite inteira de sexo por diante naquele adorável abrigo.
Merda, sentia-se a mulher mais afortunada do mundo. A intensa sensação de felicidade
quase lhe causava medo. Estava a ponto de fazê-la sentir a mesma incerteza que tinha causado o
sonho que tinha tido fazia uns dias. O sonho no que tinha visto o Tom partindo lenha e uma
sombra que aparecia por detrás com uma faca.
Sara teve um calafrio quando uma rajada de ar fresco roçou sua nudez e de repente lhe
pareceu que algo ia mal.
Muito mal.
Tom sentiu que seus dedos chegavam à fria e escorregadia erva e lançou um profundo
suspiro.
Graças a Deus tinha podido chegar até acima!
Dentro de uns minutos teria saído do poço no que caiu e Sara não teria por que inteirar-se
do que ele tinha encontrado ali abaixo. Fez uma careta quando um raio de luz lhe iluminou o rosto
e uma mão suave e cálida estreitou a sua.
Um delicioso aroma a hortelã rodeou.
Merda, não resultava difícil adivinhar quem lhe tinha encontrado!
Sara não disse nada quando deixou cair a lanterna e atirou com força dos braços dele, lhe
dando o impulso extra que necessitava para subir. Para ser uma mulher tão magra, possuía uma
força física insuspeitada. Por Deus, sim que necessitaria aquela força se ele decidia lhe contar o
que tinha descoberto no fundo do poço.
Em questão de minutos se achava junto a ela e começou a tirar a terra dos jeans. Teve que
fazer um esforço para não olhá-la aos olhos, porque se o fazia, ela adivinharia a verdade.
—Tem que olhar por onde vai —brincou ela, lhe percorrendo o torso e os braços com as
mãos para ver se tinha feridas. Mas não encontrou nada importante. Ao menos nada físico. Levava
outras metidas na profundidade de seu ser e instintivamente soube que estavam vivas para lhe
emboscar em qualquer momento.

Mas tinha ao tempo contra.

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Ficou tenso quando Sara olhou dentro do buraco que lhe tinha cuspido à superfície. Não
veria nada porque estava muito escuro para isso, mas se agarrava a lanterna e iluminava o fundo
do poço com ela…
O estômago masculino se contraiu e Tom teve que tragar a amarga bílis que lhe subiu à
garganta.
Felizmente a brisa da baía lhe refrescou o acalorado rosto. Inspirou profundamente para
acalmar seus alterados nervos, mas não conseguiu dissipar o violento tremor que lhe sacudiu.
Franziu o cenho e apartou o olhar daquele abismo.
—Encontra-te bem? —a voz feminina soava doce e preocupada.
Não lhe respondeu. Em vez disso, recolheu a lanterna caída entre as más ervas.
—Venha, vamos entrar. Aproxima-se outra tormenta esta noite.
Agarrando a mão, puxou dela para apartá-la do perigo que se escondia nas profundidades
daquele buraco.

Era tarde e a tormenta passou sem que chovesse. A lua cheia brilhava como um refletor
através da janela aberta do abrigo.
Sua luz e uma terrível dor de cabeça impediam que Tom dormisse.
Ele teria desejado fazer amor com Sara e sabia que ela também o desejava, mas bastou um
olhar ao rosto masculino para que lhe desse um par de analgésicos e lhe dissesse que o sexo se
acabou até que ele se sentisse melhor.
Além disso, o sexo era o último em que tivesse pensado naquele momento.
A frustração lhe assaltou e remexeu na mochila que usava de travesseiro tentando ficar mais
cômodo. O grosseiro chão de madeira sob sua bolsa de dormir era muito duro. Mas não era aquilo
o que lhe incomodava. Sentia-se inquieto. Desejoso de seguir seu caminho.
Mas, em que direção?
Desde sua queda ao poço se sentia diferente. Um pouco mais crédulo agora que sabia que
estava recuperando a memória lentamente. Muito mais assustado pelo que suas lembranças lhe
revelariam.
Fechou os olhos e inspirou o frio ar noturno. Cheirava a madeira podre, pescado e Sara. Seu
maravilhoso perfume a hortelã era como um afrodisíaco. Penetrava cada um de seus poros. Ficava
pego à pele como puro veludo. Chamava-lhe. Fazia-se um com ele.
Tentou fazer caso omisso ao calor e a suavidade que sentia no flanco pela mulher que jazia
feito um novelo contra ele. Mas o doce calor do corpo lhe recordava a feroz paixão a que se
entregaram a noite passada e hoje.
Depois de experimentar aquilo, queria mais dela.
Queria ter uma relação com ela.
Uma vida de amor.
Um futuro que possivelmente não estivesse disponível para eles, cedo ou tarde poderiam
lhe matar ou encarcerar. E não voltaria a vê-la nunca mais.
Um frio horrível lhe invadiu ao pensá-lo e seus olhos se abriram novamente. Girou-se para

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olhá-la. Adormecida era como um anjo, com os lábios esboçando um sorriso irresistível. Com o
que estaria sonhando?
A respiração dela era constante e rítmica lhe induzindo lenta mas certamente ao sono.
Fechou os olhos e a escutou como se tratasse de uma canção de ninar. À distância, ouviu os ruídos
das criaturas noturnas que se moviam lentamente pela alta erva, ouviu o chapinho ocasional de
um peixe na água.
O sono começou a nublar a mente. Não tenho que dormir, disse-se.
Tinha que permanecer acordado. Se dormia, recordaria.
Tentou levantar as pesadas pálpebras, mas não o obteve. Muito tarde! Muito tarde, merda!
Não queria recordar o que tinha encontrado no poço…

Flutuava no ar, o estômago contraído como se estivesse em um elevador que caía. A


escuridão o envolvia. Um ar frio e úmido recebia sua queda. Roçou as pedras redondas que
formavam as paredes quando instintivamente alargou as mãos para agarrar-se a algo que
detivesse sua queda.
O lado direito de sua cabeça golpeou contra a parede de rocha e lhe fez ver as estrelas.
Amaldiçoou sua má sorte e seguiu tentando agarrar-se a algo com desespero. Algo duro lhe
golpeou a perna. Alargou as mãos e se aferrou a algo frio, redondo e feito de madeira.
Uma terrível dor ardente lhe percorreu os ombros e por um segundo pensou que se
deslocariam. Entretanto, deteve-se sua queda. Balançou-se durante um momento do que se
imaginou seria um tronco que atravessava horizontalmente o buraco ao que tinha caído.
Tentou recuperar o fôlego e logo fez força para subir ele, os braços trêmulos pelo esforço.
Conseguiu sentar-se sobre aquela viga.
Alargando as mãos, afundou os dedos na parede e arrancou uma pedra redonda. Deixou-a
cair. Um chapinho se ouviu naquela cova. Supôs que tinha caído no poço de água da antiga cidade.
Lançou um olhar para cima. Não teve que esperar muito. A luz de um relâmpago iluminou
toda a abertura.
Dois metros e meio. Tinha caído ao menos uns dois metros e meio e lhe tinham parecido uma
eternidade.
Inalou profundamente o fresco ar pútrido e exalou lentamente. O ar úmido penetrou a
roupa, atravessou sua pele e lhe colocou pelos ossos. Tremeu violentamente. Outro relâmpago lhe
iluminou.
Caralho! Resmungou quando viu algo no fundo do poço.

Pela manhã, Sara despertou feito um novelo contra Tom, como um gato que se amassa
contra seu amo procurando calor. O forte braço lhe suportava a cabeça protetoramente.
Conteve o fôlego e ficou quieta, desfrutando da sensação exótica do quente corpo dele.
Desejou que despertasse, que a agarrasse entre seus braços. Quis sentir sua boca ardente e dura
apertar-se contra seus lábios ansiosos. Desejava sentir o robusto corpo masculino em cima dela.
Ser uma com ele. Seu largo e grosso pau deslizando-se dentro de sua quente boceta.

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Empurrando. Fincando-se profundamente nela.


Um estalo de desejo a percorreu pela coluna e se apertou mais contra ele. Ele afundou o
rosto contra o pescoço feminino. Seu outro braço lentamente lhe rodeou a cintura e a aproximou
de si, mas seus olhos permaneceram fechados e sua respiração rítmica.
Ela permaneceu envolta em seus braços e desfrutou com o comichão que lhe produzia a
barba dele contra a bochecha. Olhou-lhe dormir durante comprido tempo na fresca brisa da
aurora.
Depois de um momento, quando ele não despertou, Sara se desligou a contra gosto de seu
abraço. Colocou a mão na mochila para procurar uma maçã para comer e suas mãos tocaram seu
caderno de esboços.
—O que é isto? —sussurrou, quando seguiu procurando e encontrou que Tom também tinha
metido a tira de fotos e a caixa dos lápis que lhe tinha comprado.
Certamente que queria que ela voltasse a pintar.
Sorriu quando olhou as fotos e logo a ele que dormia profundamente.
Para que usar fotos se tinha um modelo de carne e osso? E se lhe surpreendia com um
desenho? Mostraria-lhe o bonito que era quando estava dormia. Assim que seus dedos agarraram
a barra de carvão, começou a sentir a familiar excitação lhe correndo pelas veias. Inundou-se
instantaneamente nos ângulos e as diferentes tonalidades do rosto dormido do Tom.
Achava-se sentada com as pernas cruzadas, desenhando do fundo de seu coração. Até os
detalhes mais mínimos do rosto dele surgiram no papel. Maravilhosas ruguinhas rodeavam seus
lábios sensuais. Alegres linhas de risada surgiam como patas de galo das comissuras de seus olhos
dormidos. E aquelas fantásticas pestanas, largas e escuras. OH, Deus, adorava aquelas sedutoras
pestanas.

No passado ela tinha trabalhado daquela forma. Sentada todo o dia frente ao sujeito.
Desenhando animais selvagens um dia, uma paisagem com um prado outro, e para o final de sua
carreira de artista, seus filhos imaginário se mesclaram com o mundo silvestre do norte.
Seu marido a buscava ao cair da tarde e a encontrava em seu estúdio ou no bosque,
trabalhando até cair rendida, tentando aproveitar o último raio de luz para terminar um esboço ou
uma pintura que queria que estivesse perfeita antes de acabar por aquele dia.
Ao pensar em seu defunto esposo, Sara levantou o olhar do esboço acabado com um
nostálgico sorriso nos lábios. Pela primeira vez em muito tempo voltava a apreciar a beleza da
natureza.
Deu-se conta de por que lhe tinha aparecido o espírito do Jack o dia em que ela havia estado
a ponto de apertar o gatilho. Ele tinha querido que ela experimentasse novamente aqueles
sentimentos de amor e beleza.
Estirou-se prazerosamente e ficou de pé.
Levou-lhe um momento colocar umas calças curtas e um pulôver azul que a protegeria do
frio da manhã. Agarrando o bloco de papel, os lápis e a lanterna, lançou ao Tom um largo olhar de
amor e logo se afastou nas pontas dos pés do abrigo.

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O brilhante sol e as casas abandonadas a receberam enquanto caminhava pela velha cidade,
que cheirava levemente a pescado. Não era algo desagradável, a não ser o que quadrava aquele
lugar.
Ao igual a ela, que pertencia ali, na natureza curativa daquela terra selvagem.
Por algum motivo estranho, as casas abandonadas lhe pareciam pitorescas hoje. E muito
românticas. Cada uma delas com sua própria personalidade.
Seus quebrados alicerces de madeira, gastos pelas inclemências do tempo, erguiam-se
desafiantes. Suas janelas solitárias e vazias a observavam passar. Os suaves tons creme da manhã
reluziam brandamente na pintura descascada e os telhados recobertos de musgo. A terra sob seus
pés parecia escassa e erma e se perguntou como fariam aquelas gente para cultivar suas hortas
naquele paraíso rochoso.
Em um considerável claro, o quente sol a envolveu, afugentando o frio das sombras e a
névoa cinza que pegava nos calcanhares. Deteve-se desfrutar de seu calor e desenhar alguns dos
edifícios próximos.
Algum dia voltaria com suas pinturas e pasteis e capturaria no tecido as românticas cores e a
história daquele povo fantasma chamado Perca.
Ao acabar o desenho, Sara meteu o bloco de papel sob o braço e continuou com seu
tranqüilo passeio pelo povo em ruínas. Pisou em tábuas podres, tomando cuidado de evitar os
pregos oxidados e ficou um momento observando a um par de esquilos que se perseguiam
subindo e descendo de uma árvore.
Logo seguiu andando.
Enquanto atravessava uns matagais, de repente se encontrou com a abertura do poço do
povo.
O mesmo poço ao que Tom caiu a noite anterior.
Sara se deteve frente a ele.
Seria perigoso deixá-lo assim. Alguém mais poderia cair e fazer-se danifico. Procuraria umas
madeiras em um momento, mas primeiro queria jogar uma olhada.
Acendeu a lanterna e iluminou com ela o buraco.
Era profundo. Terrivelmente profundo. E escuro.
Como diabos tinha obtido Tom subir? Com razão tinha estado tão silencioso e distante a
noite anterior. Viu-se perto da morte. Era compreensível que a experiência lhe tivesse sacudido.
E se tivesse feito dano? Ou morto?
Sara se estremeceu ao pensá-lo. O que faria sem o Tom?

Deixou a lanterna quieta. Um golpe de inquietação lhe subiu pelas costas. Havia algo ali
abaixo.
Um pouco de metal prateado reluziu à luz da lanterna.
A fivela de um cinturão? Um cinturão. Calças azul marinho. De jogado de bruços no chão,
iluminando as profundidades.
Estava sonhando. Aquilo era um pesadelo e despertaria aconchegada contra Tom, feliz e

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segura.
A mão lhe afrouxou e a lanterna e caiu no buraco. Seu feixe de luz brilhante deu a Sara uma
momentânea e clara imagem antes de apagar-se ao afundar-se na água barrosa.
—OH, Deus santo!
Levou-se a mão à boca para afogar o grito que lhe surgia da garganta. Percorreram-na
calafrios e lhe descontrolou o pulso. De um salto ficou de pé.
—Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus —disse, as palavras repetindo-se como uma oração
mortuária. Tinha que afastar-se dali. Ir muito longe!
Cegamente retrocedeu, afastando-se dos olhos que olhavam sem vê-la e lançou um grito ao
sentir a aguda dor de algo que cravava no pé. Deu um salto quando a segurança de uns quentes
braços rodearam a cintura para que não perdesse o equilíbrio.
—Encontra-te bem? —sussurrou Tom, preocupado.
—Sam Blake está ali! É o tira que desapareceu. Temos que dizer a alguém.
O corpo do Tom ficou tenso contra o dela.
—Para que? Do que serviria? Está morto.
Sara soltou-se de seus braços, furiosa ao ver a indiferença com que ele olhou o poço.
—Já sabia ontem à noite. Poderia haver dito isso, ao menos. Por que não o fez? Por que me
escondeu isso?
Aquele era o lugar onde lhe tinham retido.
Banhou-lhe um suor frio. Sentiu terror e uma necessidade tão forte de correr que se deu a
volta para partir.
—O que acontece? —perguntou Sara brandamente e ele se deteve de repente, olhando a
cabana de aspecto inocente.
—Nada.
Estava muito perto para fugir. Suas lembranças se achavam ali.
—Venha, entremos —sussurrou. Apertou a mão feminina e a excitação se mesclou com
temor quando subiram ao alpendre de madeira podre. Empurrou a porta de tábuas de madeira
cinza, entrou na primeiro casa, seguido por Sara.
Um aroma de umidade lhes recebeu, junto com estantes deterioradas cheias de teias.
Aranhas gigantes lhes observaram passar. Havia uma velha geladeira semi afundada nos tábuas
podres do chão.
—Bonita cozinha —sussurrou Sara atrás dele.— Parece ser que alguém mais estava
procurando algo.
Tom notou que tinham arrancado as pranchas do chão e que havia buracos nas paredes.
Estava claro que alguém tinha registrado o lugar conscientemente.
Instintivamente se deu conta de que tinham errado. O pulso lhe acelerou quando seguiu
internando-se na casa.

Capitulo 12

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Nas pontas dos pés pelas madeiras podres, Sara observou as largas tiras de pintura branca
que penduravam de qualquer modo do teto cedido e nas esquinas da estadia principal os ninhos
das abelhas que zumbiam entrando e saindo.
—Olhe, por aqui.
Ela se dirigiu onde Tom assinalava e notou um buraco estilhaçado em cima da ombreira da
janela.
—Um buraco de bala?
—Se não me equivocar…
Tom se inclinou a agarrar uma oxidado faca de cozinha e em poucos passos se achava na
janela escavando o buraco. Um momento mais tarde, o projétil saiu da madeira podre. Dando a
volta na mão, examinou-o.
—Parece do mesmo calibre que o que te tirei das costas.
—Possivelmente seja da mesma arma.
Ela sentiu que a invadia a excitação. Ali havia uma possível evidencia de que Tom tinha
estado naquela casa e alguém lhe tinha disparado ao escapar. Esta evidência poderia lhes vir
muito bem.
Rapidamente, ele guardou o projétil no bolso traseiro e a voltou a agarrar pela mão.
—Olhe por onde pisa, doçura. Não quero que se crave mais pregos nesses bonitos pés.
Tenho planos para eles.
—Como o que?
—Por exemplo, te chupar os dedos.
—Nunca um homem chupou os meus dedos dos pés na vida —riu ela.
—Será melhor que acostume a isso.
—É isso uma promessa?
Ele se deteve e ela ficou sem fôlego ao sentir aquele olhar intenso.
—Farei tudo o que esteja em minha mão por limpar meu nome e lavrar um futuro para nós
dois. Mas não posso fazê-lo confiando na polícia. Se Garry e Jo não podem me ajudar, então pode
que tenha que fugir, mas te prometo que voltarei para você.
—Se fugir, irei contigo.
Viu o instante de hesitação nos olhos dele e um calafrio de inquietação a percorreu.
—Sei que lhe disse que não tínhamos ataduras, mas quer que vá contigo, verdade?
—Quero que esteja a salvo, doçura. E comigo não está a salvo.
Ela queria discutir com ele mas agora se encontravam frente à escada.
—Tiveram-me preso aqui embaixo —resmungou ele, lhe soltando a mão e começando a
descender ao escuro porão.
Agachando-se para que não a roçassem as dúvidas, o seguiu rapidamente pelas estreitas
escadas.
O ar estava frio e úmido ali abaixo, lhe recordando instantaneamente o poço e seu

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conteúdo.

Abruptamente, chegou ao último degrau e se deteve detrás do Tom. Exceto por um raio de
sol que se filtrava por uma janela no canto mais afastado, a habitação estava escura como a boca
de um lobo.
—Deveríamos voltar para o abrigo e procurar uma lanterna —disse, inquieta. A escuridão
daquele lugar lhe causava medo. Nesse momento, ouviu um estalo e se acendeu a brilhante
chama de um fósforo.
—Vieste preparado.
—Os escoteiros. —sussurrou ele, assinalando uma solitária porta de madeira na parede.
— Ali é onde estive.
Tom se estremeceu ao acender outro fósforo e observar as sombras que piscavam na porta
de madeira.
Detrás dele, sentia a respiração cálida da Sara e se alegrou seriamente de tê-la ali com ele.
Dava-lhe a coragem de seguir avançando, de averiguar o que tinha acontecido atrás daquela
porta.
E entretanto, de uma vez, não queria abri-la.
Como se soubesse o que pensava, Sara sussurrou com ternura:
—Nunca o averiguaremos se não te anima.
Tinha razão. Era hora de que enfrentasse aquelas lembranças.
Fazendo uma profunda inspiração, deu-lhe um tranco à porta. Chiou ao abrir-se. Um ar
gélido deu ao Tom no rosto, lhe levando ao passado…

Despertou-se, quase gelado, atirado no chão frio e molhado, as mãos atadas com uma
corrente que se enganchava a uma argola da parede de pedra. Uma terrível dor lhe partia a
cabeça e se achava a beira das náuseas. Levantou-se com dificuldade e as mãos lhe doeram pelo
esforço.
Finalmente conseguiu sentar-se e aconchegar-se contra a parede para entrar em calor. Fez
uma careta quando a dor de cabeça se incrementou mais ainda.
Olhando suas mãos, encontrou a origem de sua dor e se surpreendeu ao ver as pequenas
feridas de sua palmas. Não tinha nem idéia do que tinha passado nem de onde se achava, mas não
estava disposto a ficar ali para averiguá-lo.
Estava escuro ali, mas havia uma pequena vela titilando em um canto. À luz de sua chama
pôde distinguir a silhueta de alguém estendido junto a ele.
Esteve a ponto de lhe chamar, mas o coração se contraiu ao ver a roupa que levava aquele
homem. Uniforme de tira. Tinha os olhos fechados e seu peito subia e baixava com um ritmo
regular. Teria dormido enquanto trabalhava? Tom conteve a respiração ao pensar nisso.
Possivelmente fosse aquela sua oportunidade de escapar. Percorreu com o olhar a pequena
estadia, analisando que possibilidades tinha de fazê-lo.
De repente, a pesada porta se abriu, golpeando contra a parede de pedra com estrondo. Tom

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deu um coice, mas o tira do canto seguiu em sua postura escondida. Não se moveu nem abriu os
olhos.
Deu-lhe a sensação de que o tira simulava dormir e esperava. Viu que o recém-chegado se
agachava um pouco para poder entrar no porão. O coração voltou a lhe dar um tombo. Outro tira.
Era ruivo, com bigode.
Sam Blake. O morto do poço. Recordá-lo quase fez que Tom voltasse para a realidade, mas
lutou contra a surpresa para seguir recordando. Precisava recordar tudo.
O recém-chegado lançou um olhar furioso ao outro tira escondido no canto, mas não disse
nada.
Logo se deu a volta e olhou ao Tom fixamente.
Tom lhe devolveu o olhar, desafiante.
Sam Blake media mais de dois metros. Era o cara mais magro que tinha visto na vida. O
cabelo que aparecia por debaixo da boina de tira era de uma cor vermelha óxido, igual ao fino
bigode que lhe pendurava sob o bulboso nariz.
—Quem é? —perguntou-lhe Tom.— Que caralho faço aqui?
O tira esboçou um cruel sorriso.
—Por fim despertou o senhorito! Pareceu-me que tinha ido um pouco a mão com os golpes a
última vez. Estava preocupado.
—O que quer?
—Não vamos jogar esse jogo outra vez, verdade? —disse-lhe ironicamente. Quando não lhe
respondeu, baixou a voz, adotando um tom desumano que encheu ao Tom de medo.
— Esta vez irei diretamente ao grão. Você o tem. Nós o queremos. Nos diga onde está e lhe
deixaremos ir. Assim de simples.
Ele piscou sem compreender. Você o tem? Nós o queremos? O que tinha? As náuseas lhe
invadiram.
—Não sei do que me fala.
—Não jogue comigo, rato. Quero a mercadoria. Agora mesmo —exigiu o ruivo. O sorriso se
evaporou e os olhos negros eram duas escuras ranhuras.
Rato? Chamava-lhe rato? Que caralho nome era aquele? Do que falava aquele tira?
—Escute, tem que haver um engano. Diga-me o que se supõe que tenho.
A mão do Blake se deslizou para baixo. Para sua bota.
Tom tragou nervosamente quando a mão enluvada do tira se meteu na bota e tirou um
trinta e dois. Gelou-lhe o sangue quando Blake levantou a pistola lentamente. Deliberadamente.
Apontou-lhe direto aos olhos. A menos de dez centímetros do rosto.
O estômago lhe fez um nó.
—Não é necessário que faça isto, homem —sussurrou, sem reconhecer sua própria voz.
Parecia totalmente desprovida de emoção.
—Me diga onde está.
Deu um coice quando ouviu o estalo do brilhante projétil entrar na antecâmara e ficou
olhando horrorizado a arma.

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Pensou naquilo de que "a vida te passa frente aos olhos", mas não aconteceu nada. Merda,
nada passou frente a seus olhos. Só um trinta e dois e um louco esboçando um sorriso
desagradável.
Correu-lhe o suor pela frente enquanto sua mente tentava desesperadamente não ser presa
do pânico.
Não tinha nem a mais remota idéia do que falava aquele homem. Não entraria em razão
aquele homem?
—Ouça, cara. Digo-lhe isso a sério. Não tenho nem uma puta idéia do que me fala.
—Resposta equivocada —lhe espetou o outro.
Preparou-se. A arma lhe apontava diretamente ao cérebro. Certamente morreria sem sentir
nada. Tentando centrar-se nesse pensamento, sentiu que um pouco de seu medo se desvanecia.
Uma cálida sensação de paz lhe invadiu e se encontrou sozinho. Em paz e com Deus. Logo, como
em um sonho, viu que sua própria mão ferida se levantava lentamente e apartava a pistola com
suavidade.
—Não pode me matar —disse com naturalidade.
— Tenho algo que quer.
Os olhos do Blake cresceram até converter-se em gigantescos bolas de gude e seu rosto se
contorcionou em uma máscara diabólica.
—É homem morto, rato.
A pistola lhe apontou. Ouviu-se um disparo.
Tom se sacudiu para ouvi-lo. Apertou os olhos e o coração lhe subiu à garganta. Conteve a
respiração esperando que a vida escapasse de seu corpo.
Um silêncio sepulcral invadiu a pequena estadia.
Depois de uns minutos, deu-se conta de que o ar frio seguia lhe entrando nos pulmões.
Assombroso. O projétil tinha falhado e estava vivinho e abanando o rabo. E aterrorizado. Ou morto
de tudo. Mas os mortos não sentiam dor de cabeça, não? Nem tampouco tremiam como uma
folha.
Reticentemente, Tom abriu os olhos. Blake se achava estendido de barriga para baixo no
chão de rocha frente a ele. Uma mancha de sangue que ia aumentando lhe desenhava nas costas.
Horrorizado, girou a cabeça dolorida e viu que o outro tira, que simulava estar dormido,
achava-se de pé no canto. Segurava uma arma fumegante na mão e esboçava um sorriso de
satisfação.

Tom lançou uma praga ao recordar o rosto do tira. Jeffries. Justin Jeffries lhe tinha salvado a
vida.
Uma brisa cálida com ligeiro aroma de pescado surgia da baía, acariciando brandamente o
cabelo loiro do Tom. Estava rígido como um poste, com a mandíbula apertada como se lutasse
com seus demônios internos. Seu olhar esmeralda observava os escarpados próximos.
Parecia extremamente molesto, e entretanto, não havia dito a ela nenhuma palavra desde
que subiram depressa as escadas daquele úmido porão. Ele se tinha dirigido diretamente à costa e

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começado a observar as colinas próximas. Ela desejou lhe perguntar o que procurava, mas
preferiu permanecer em silêncio. A experiência lhe tinha ensinado que ele já diria quando
considerasse oportuno.
De repente, ele estreitou os olhos. Ela seguiu seu olhar. Não viu nada do outro mundo, e
entretanto…
Olhou com maior atenção. Levou-lhe um momento, mas decididamente viu um brilho
metálico em um escarpado rochoso não longe da ali.
—Que tal o pé?
—Bem.
—Gosta de uma pequena caminhada?
Sara assentiu, intrigada ao ver a atitude masculina, subitamente excitada.
—Venha —disse ele lhe agarrando a mão e levando-a pela praia para o escarpado.

Quinze minutos mais tarde se achavam os dois sem fôlego depois de ter subido a levantada
ascensão olhando boquiabertos uma moto flamejante cor verde que se achava apoiada
cuidadosamente do lado em uma saliência da rocha. Mas não era qualquer tipo de moto, não. No
tanque de gasolina escrita em orgulhosas letras douradas: Harley-Davidson.
Havia dois reluzentes capacetes negros atados aos assentos de couro.
—Quem ia deixar uma moto tão formosa aqui neste lugar? —perguntou Sara.
—É minha —replicou Tom excitado, lançando-se para ela.
—Tua? —olhou ela surpreendida levantar a moto com seus musculosos braços e apoiá-la
sobre o suporte.
Um par de bolsas de couro negro e velho penduravam da moto, contrastando com seu
aspecto reluzente. Tom se aproximou para rebuscar nelas.
Sara apartou uma mecha de cabelo de seus olhos e olhou ao Tom melhor. Não tinha aspecto
de motoqueiro, mas, por outro lado, a noite em que chegou a sua casa… claro, levava uma jaqueta
de couro negra! Roupa de motorista.
Tom lançou uma praga, lhe chamando a atenção. Os olhos dela se aumentaram pela
surpresa quando ele tirou de uma das bolsas um grosso maço de dinheiro e começou a contá-lo
com evidente prática.
Havia milhares de dólares ali. De onde sairia todo aquele dinheiro?
Drogas?
Meneou a cabeça. Tinha que haver algum motivo pelo que ele tivesse tanto dinheiro.
—Merda, tem uns dez mil aqui em dinheiro de dez e vinte e cinqüenta.
Voltou a pôr o dinheiro na carteira e a deu a Sara. Imediatamente ela procurou dentro a ver
se havia alguma identificação. Não havia nenhuma.
—São todos dólares americanos —disse, surpreendida.
—E é dinheiro bom.
—Como?
—Não é falso —explicou ele.

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— E as notas não estão numeradas em nenhuma ordem, de modo que não lhe pode seguir o
rastro quando fique em circulação.
Ao dar-se conta do que dizia, ele se interrompeu e olhou a Sara com preocupação.
—Como é que sei tudo isto? E por que ia eu por aí com toda esta grana?
—Possivelmente é banqueiro?

Lançou-lhe um sorriso e passou a mão brandamente pela moto, maravilhando-se por sua
beleza. Olhou os capacetes atados ao assento.
Dois. Um capacete era velho e estava gasto, o outro era novo e reluzente. Alguém montaria
com ele na moto? Pertenceria o outro a sua noiva?
A sua esposa?
Tom tirou da garupa uma bolsa de couro, cujo conteúdo tilintou. Tinha dentro umas
ferramentas, um par de latas de comida, um abridor e um mapa de Ontário. Abrindo o mapa,
viram que a cidade fantasma de Perca estava marcado com um círculo negro.
—Lembro que perguntei a alguém, a uma garota, acredito, onde ficar para dormir. Ela
mencionou um par de hotéis do povo e eu disse que possivelmente jogasse uma olhada a cidade
fantasma de Perca enquanto me encontrava na zona.
—Onde falou com ela? Que aspecto tinha? Possivelmente possamos encontrá-la para que a
interrogue sobre a conversação que teve com ela. Talvez disse algo que lhe desse a pista de quem
é.
Ele franziu o cenho e meneou a cabeça.
—Não sei. Não posso recordar nem seu rosto nem o lugar. Mas… —seu olhar se dirigiu
rapidamente ao chão.
—Que buscas?
Deu dois passos, inclinou-se e deu a volta a uma rocha do tamanho de um punho.
—Isto! —disse, levantando um molho de chaves.
—É óbvio que está recuperando a memória —disse ela, sem saber se teria que estar
contente ou triste.
—Algo. Darei-te os detalhes quando sairmos daqui.
—Um momento! —disse Sara, agarrando as chaves.— Seu chaveiro. Essa chave larga. Parece
a chave de meu celeiro, e esta —disse assinalando a uma menor—, é a de minha casa —Esta é a
do estúdio —olhou interrogante os confusos olhos verdes.
— De onde as tiraste?
—Não tenho nem idéia —disse ele, meneando a cabeça lentamente.
—Isto explica que se metesse no celeiro. Que soubesse o dos quadros do estúdio. E o da
velha moto do celeiro. Tinha estado ali —Sara continuou examinando as chaves com cuidado.—
Estas chaves são as primeiras cópias que fizemos quando compramos a estalagem. Só as demos à
família. Sabe o que isto significa? —levantou o olhar e se surpreendeu ao ver a expressão
torturada dos olhos do Tom.
— Quer dizer que alguém que eu conheço te tem suficiente confiança para te dar as chaves.

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Alguém que sabia que eu não estava e deu as chaves para que ficasse em minha casa.
Tom finalmente assentiu com a cabeça.
—Certo. Suponhamos que foi assim. Alguém me deu as chaves porque sabia que você não
estava. Alguém muito próximo. Mas, por que não chamaram para ver se estive aqui? Ou deixado
uma mensagem em sua secretária eletrônica?
—Quando fui de viagem esqueci de pôr a secretária eletrônica. E as linhas telefônicas
estiveram cortadas a maioria do tempo após, por isso não há mensagens. Vê? Uma explicação
simples.
—Tem razão —instantaneamente a atitude do Tom trocou e montou na moto, rindo como
um menino que se encontra com seu amigo depois de uma larga separação depois das férias do
verão.
Sara ficou sem fôlego ao lhe ver tão feliz. A risada masculina era alegre e acalmada,
contagiosa. Desfrutou vendo como aquele homem novo emergia ante seus olhos.
Colocando a chave na fechadura, ele girou a chave e a moto ficou em marcha com um
rugido.
—Sua carruagem aguarda, senhora —riu, ele e se baixou, fazendo uma reverência e
assinalando com um gesto da mão a moto.
—Não posso subir a isso —exclamou Sara, quando se deu conta do que ele pretendia.
Pondo as mãos na cintura, ele a aproximou de si. O coração feminino se acelerou de
excitação quando lhe apoiou o grande pau na boceta.
—Por quê? Não confia em mim? —disse, com expressão maliciosa.
—Não… é que nunca subi a uma moto —reconheceu ela timidamente.
Ele sorriu docemente.
—Era isso nada mais? Então, dará-me sorte —ao lhe ver a expressão do rosto a tranqüilizou
—: você gostará, já verá soltando o capacete mais novo, o deu.
— Ponha isto, por segurança.
Obviamente não ia aceitar um não por resposta, assim colocou o capacete, que ia perfeito.
Perguntou-se quem o teria usado antes. A noiva ou a esposa?
Percorreu-a uma estranha sensação que não gostou muito. Aborrecimento? Ciúmes?
Ciumenta ela? Nunca tinha sido ciumenta, assim não ia começar agora. Apertando os dentes,
alargou a mão para ajustar torpemente a correia.
—Me deixe que te ajude —ofereceu Tom. Olhou-a aos olhos enquanto ajustava o capacete e
o contato com sua pele fez que a ela lhe acelerasse o pulso e os peitos ficassem tensos.
— Pronta?
Ele a soltou com reticência.
—Um par de conselhos com respeito à moto. Olho com o escapamento, que se esquenta e
não quero que te queime. Usa os apóia pés. Pode te agarrar deste cabo daqui ou me rodear com
seus braços. E tem que te mover comigo quando eu me mova. Vale, acredito que isso é tudo.
Vamos!
Sara passou uma perna por cima do assento de suave e quente couro e se sentou. As

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vibrações a surpreenderam um momento quando subiram por suas pernas, suas coxas, o cone
anal que se tornou a pôr depois do café da manhã e lhe menearam a boceta.
Afogou uma exclamação e se montou no assento, desfrutando com o modo em que sua
boceta se umedeceu de excitação.
—Pronta?
—Sim —disse ela, tentando não ficar nervosa.
Saltou quando ele se sentou frente a ela e pôs a marcha atrás. Automaticamente lhe rodeou
o firme torso, apertando seus peitos cheios contra a cálida costas masculina. Puro prazer a
percorreu ao estar naquela postura tão erótica e gemeu brandamente.
Ele lançou um olhar preocupado por cima do ombro.
—Encontra-te bem?
—Nenhum problema —mentiu ela.
Nada que seu pau não possa curar.
—Te segure forte, doçura — gritou ele por cima do rugido da moto.
Sara apertou suas coxas contra os quadris do Tom desfrutando com as vibrações da moto e
as maravilhosas sensações que lhe percorreram o corpo. Não brincava quando lhe disse que ia
desfrutar daquilo.
—Vamos procurar nossas coisas no abrigo! — gritou — Logo colocaremos tudo na
caminhonete. Você o conduzirá e eu te seguirei até a casa na moto.
Ela sentiu que a invadia um delicioso calor por lhe ouvir chamar "casa" à estalagem. De
repente, ele soltou a embreagem e a moto se lançou adiante,
Apertou-se contra as costas dele.
Estar tão perto do Tom era uma maravilha que não sabia que existia. Cada um dos
movimentos que fazia lhe produzia um formigamento por todo o corpo e desejou que aquele
passeio desenvolto e erótico durasse toda a eternidade.

Capitulo 13

Estavam dispostos a não ficar na Estalagem Peppermint Creek, mas depois de escutar a
secretária eletrônica, Sara descobriu que Jo tinha chamado enquanto se achavam em Perca.
Sua irmã deixou uma mensagem dizendo que Garry e ela trabalhavam juntos em um caso
muito sério. Que tinham recebido suas mensagens urgentes e que Jo a chamaria ou aquela noite
ou ao dia seguinte. Para frustração da Sara, Jo não respondeu a sua chamada ao celular nem a sua
mensagem à busca quando a chamou imediatamente, lhes obrigando a ficar em casa esperando.
Enquanto Tom vigiava se por acaso recebiam alguma visita inesperada, Sara preparou uma
boa comida. Logo se dirigiram ao alpendre traseiro e se sentaram nos degraus bebendo infusão de
hortelã. Então, Tom começou a lhe explicar tudo o que tinha recordado sobre seu encarceramento
no porão da cabana de Perca.

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Sara se esperançou quando se inteirou de que Justin tinha matado ao Sam para salvar a vida
do Tom, mas seu gozo foi parar em um poço quando viu a expressão séria do Tom.
—Falta algo mais, verdade?
Ele ficou olhando a taça antes de confirmar sua pergunta.
—Tudo resulta muito confuso antes da morte do Blake, porque quando Blake morreu,
desmaiei . Quando recuperei a consciência, Jeffries me estava desenganchando as algemas na
corrente. Quando quis voltar a me enganchar, dei-lhe um empurrão que se deu contra uma das
paredes de pedra. Certamente lhe doeu, porque ficou aturdido. Aproveitei para sair correndo.
Tropecei-me com o corpo do Blake e agarrei sua arma para disparar uma bala de advertência, mas
estava vazia.
O sangue gelou a Sara nas veias.
—Foi nesse momento que te disparou?
—Não, quando ouvi que me seguia, atirei-me por uma das janelas —lhe mostrou o projétil
que tinham encontrado na parede.
— Esta bala certamente coincide com a que me tirou das costas. Encontrava-me
atravessando um claro quando me deu uns segundos mais tarde.
—O que não entendo é por que te salvou do Blake para logo tentar te matar quando
escapava.
—Acredito que quando se deu conta do que tinha feito, decidiu me carregar morto . A quem
vão acreditar as autoridades? Em mim ou a um tira? Além disso, está a arma que agarrei…
Tom se interrompeu e fez uma careta de desagrado. Uma expressão torturada lhe
desfigurou o rosto. E aí Sara se deu conta.
—Há dito que quando Blake te apontou com a arma, tinha um projétil na antecâmara. Mas
quando tropeçou com o corpo do Blake e agarrou a mesma arma, estava vazia. Ou está mentindo,
que não acredito, ou está omitindo algo que não quer que eu saiba.
—É desagradável.
—Mas, homem! Por isso vi no fundo do poço, não acredito que nada do que diga vá
assombrar me.
Mas estava equivocada. Deu-se conta disso assim que Tom continuou.
—Quando Sam Blake me apontou à cabeça aquela noite, como te disse, havia somente uma
bala na antecâmara. Arrumado a que encontrará esse projétil entre os olhos do Sam Blake —o
impacto daquela asseveração fez que Sara sentisse que desfalecia.
—O que quer dizer é que Justin matou a meu marido porque Blake morreu da mesma
forma?
Só pensar que tinha recebido em sua casa ao assassino de seu marido fazia uns dias lhe
produziu uma raiva tal que apertou os punhos. A próxima vez que visse Justin Jeffries, mataria-lhe
com suas próprias mãos.
—Jeffries fez ao Blake. É muito provável que fizesse o mesmo ao Jack. Encaixa com o perfil.
Além disso, tem o cacoete de aparecer em lugares justamente depois de que aconteçam as coisas.
Sim, Justin tinha o costume de aparecer onde lhe necessitavam. Bode!

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O degrau rangeu quando Tom se acomodou nele e lhe percorreu o rosto com expressão
preocupada.
—Encontra-te bem?
—É um sobressalto —reconheceu ela.
—Não queria reconhecer que era Jeffries pela relação que tinha tido com seu marido.
—Dependiam um do outro quando estavam no corpo de polícia. Pareciam tão amigos.
Desde que eram meninos. Como se inteirou disso?
—Cran Simcoe.
—E tampouco gosta de Justin —meneou a cabeça, surpreendida.
— É curioso, agora que o penso.
—O que?
—A ninguém gosta de Justin. Jack e eu fomos os únicos com quem se levava bem —se deu
conta de que nos olhos verdes brilhava um olhar de compreensão.
— Te deste conta de algo, verdade?
Ele assentiu com a cabeça.
—O dia em que cheguei aqui vi o Jeffries saindo de sua casa em um carro de patrulha.
—Pedi-lhe que cuidasse da casa enquanto não estava.
—E fazia isso com freqüência?
—Sim. Já sabe que tinha visto sombras, por não mencionar o incêndio da estalagem. E se
minha casa era a seguinte?
—Se estava vigiando a casa, tem que ter visto a janela da cozinha quebrada aquela vez, a
menos que…
—A menos que a tivesse quebrado ele —disse Sara, acabando a frase.
— E por que o rato?
—Isso era uma mensagem para mim. Blake me chamou rato quando estava a ponto de me
voar os miolos. Possivelmente eu lhe tinha traído. Possivelmente o dinheiro que encontramos
pertence a ele ou ao Jeffries. Seja como for, Jeffries sabia que eu viria aqui e deixou o rato para me
espantar. Me apartar de você. Manter-te fora disto.
—Possivelmente encontrou a nota que tinha no bolso e se inteirou por ela.
—Possivelmente, mas não acredito. Eu o encontrei por mera coincidência feito um burro no
fundo do bolso. Se o tivesse encontrado, não teria o tornado a meter no bolso. Se tivessem me
encontrado morto com a nota no bolso, certamente lhe teriam interrogado . Jeffries não quer que
lhe façam mal. E acredito que sei por que tentou te proteger tanto.
—Venha, não me tenha em brasas.
—Está apaixonado por você.
—Venha já! Não seja bobo —riu Sara.
—Acaba de dizer que é a única com quem se leva bem. E por que ia seguir lhes a ambos ao
Canadá de Nova Iorque? E que homem ia conduzir duas horas pelo barro em um 4 x4 para te levar
a compra quando já sabia que se encontrava bem e que se supunha que tinha que estar
procurando o assassino de seu companheiro? E todas as outras vezes que apareceu

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intempestivamente. Quando assassinaram a seu marido. Quando incendiaram a estalagem. Estou


seguro de que apareceu mais vezes.

Sara começou a pensar que o que Tom dizia era verdade. Justin Jeffries tinha estado
insuportável da morte de seu marido. Sempre no meio. Apresentando-se a comer sem convite. Às
vezes, lhe levava o jantar.
—Acredita que matou ao Jack por mim? —perguntou, angustiada. Nunca poderia viver com
aquela idéia tão horrível.
Tom deu de ombros e disse brandamente:
—Não é a primeira vez que alguém mata por amor. E se esse é o caso aqui, merda, não creia
que é por tua culpa. É ele o doente.
Ela era quem se sentia doente.
—Não quero ouvir mais —disse ela, ficando de pé abruptamente.
Com as pressas golpeou acidentalmente a taça vazia que tinha deixado no bordo do degrau.
A taça caiu e antes que pudesse agarrá-la, deu contra o prado de pedra, fazendo-se pedacinhos.
—Merda! —exclamou Sara.
De repente, com a extremidade do olho, viu que Tom estava branco como um papel e se deu
a volta rapidamente ao ver a expressão de seus olhos.
Uma expressão de intenso horror.
A fervuras, carmim.
Molhada e pegajosa. Aroma metálico.

O conhecido pulsado começou a lhe apertar as têmporas.


Jurou para si ao ver o líquido vermelho que seguia brotando. Sangue que empapava o tapete
cor azul céu. Um homem. De uns sessenta e cinco, possivelmente mais velho. Um atoleiro de
sangue que se estendia de onde antes tinha estado sua mandíbula.

Tom meneou a cabeça tentando esclarecer sua visão. Não queria recordar. Nem agora nem
nunca.
O coração lhe tamborilava no peito. Lutou por manter o controle. O sangue continuava
brotando. Tinha que detê-la! Correu ao homem de barriga para baixo no chão, mas era muito
tarde.
Deu-se conta pela palidez mortal de sua pele. Estava quase morto, mas devia tentá-lo de
todos os modos.
Alargou a mão e lhe deu a volta. Lançou uma exclamação de horror. Tinham-lhe disparado
numa parte do queixo e na garganta. Automaticamente pressionou com os dedos contra o que
ficava do queixo e a garganta do homem, em uma tentativa desesperada de conter o sangue.
Espessa. Cálida. Pegajosa.
—Tom, venha, Tom! Está-me assustando!
A voz da Sara. Tinha que voltar. OH, Deus, teria matado ele ao velho? Tinha que descobri-lo.

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Deixou que sua mente voltasse para aquela cena espantosa.


Tinha a mão úmida e gordurenta. Olhou abaixo. Tinha-a coberta de sangue.
—Tom? —a voz feminina lhe chamou. Agarrou-lhe pelo ombros, lhe sacudindo.
As náuseas se fizeram presa de seu estômago. Sentia que lhe explodia a cabeça, como uma
melancia. Igual à do velho.
Tinha a mão úmida e gordurosa.
Coberta de sangue do homem.
—Disparaste-lhe —disse uma voz cortante.
— É um fodido assassino!
—Chama o 911 —gritou Tom, furioso.
— Chama aos 911, caralho!
—Tenho testemunhas —gritou a dura voz, fazendo caso omisso a seu rogo.
— Desta não poderá escapar.
—Merda, Tom, vê-me? —a voz suave da Sara interrompeu as acusações. Sua voz se fez mais
forte. Mais clara. Insistente.
— Tom, me olhe!
Um suor frio lhe correu pelas costas. Por que ia matar a um pobre velho? E quem era esse
que o acusava? Não pense nisso. Não o recorde! Não!
Doíam-lhe todos os músculos e a boca tinha sabor de bílis. Sentia-se como se tivesse a pior
ressaca de sua vida.
—Encontra-te bem?
O bonito sorriso dela apareceu ante seus olhos. Era tranqüilizadora. Olhou a seu redor.
Desesperado, alargou as mãos e a abraçou com força, rogando a Deus que não lhe permitisse que
a matasse.

Sara olhava da porta mosquiteiro ao Tom partir os troncos que tinha amontoado no
estacionamento fazia uns dias com o coração lhe golpeando no peito. Havia por fim aceito a idéia
de que Justin Jeffries pudesse estar apaixonado por ela e começou a analisar a possibilidade de
que fosse Justin quem tinha assassinado a seu marido.
E pensar que ela tinha sido tão amável com ele. Porque tinha pena, nada mais. Apertou os
punhos com raiva. Desgraçadamente, seu marido e seus meninos tinham pago por isso. Estavam
mortos devido ao Justin Jeffries.
Como poderia demonstrá-lo? Não sabia ainda, mas a próxima vez que posasse os olhos nele,
Justin Jeffries ia desejar não havê-la conhecido nunca.
Viu como Tom interrompia um momento para secar o suor da frente e logo seguia rachando.
Quando rompeu a taça, ele havia retornado a ter aquela visão. Mas esta vez com mais
detalhe. Por que quereria estancar o sangue do velho se lhe tinha disparado? E de quem era a voz
que dizia que tinha assassinado ao velho? A psicóloga havia dito que a memória voltava
espontaneamente ou devido a algo. Algo familiar.
O porão de Perca lhe recordou que tinha estado detido ali. A queda da taça fez voltar a

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memória da morte do velho. Mas, por que tinha reagido quando se rompeu o cristal? O que tinha
provocado aquela reação violenta na caminhonete, quando procurava no saco de papel o
analgésico? Meneou a cabeça. Como poderia resolver aquilo antes que chamassem Garry e Jo?
Observou com desejo os braços musculosos do Tom quando ele levantou o machado e a
deixou cair, partindo outro tronco. Pela força com que o fez, deu-se conta de que ele sofria.
Tinha que fazer algo para que ele se desse conta de que estaria a seu lado passasse o que
acontecesse.
Mas primeiro tinha que fazer algo mais. Saiu correndo da cozinha a procurar os elementos
que necessitaria para isso.

Partir a lenha não o fazia sentir melhor, mas ao menos não lhe permitia recordar as
espantosas imagens que invadiam a mente. As lembranças do velho com a metade do rosto voada
por um disparo. Lembranças de medo. De pânico. Terror.
Deixou o machado contra o tronco e secou o suor que lhe molhava o pescoço. Doíam-lhe os
braços de trabalhar durante horas. Também as costas. E a cabeça lhe partia de tantas visões.
Aproveitando para lançar um olhar ao redor, desfrutou da luz do entardecer, que acendia
em chamas as taças das enormes árvores.
Logo seria de noite e poderia estar com Sara.
Mas, era sensato fazer amor sem que tivessem um futuro juntos?
Apertou os dentes quando a dor de seu coração ameaçou lhe fazendo lançar um alarido.
Sensato ou não, não podia permanecer longe dela muito tempo mais. Seu olhar se dirigiu ao
pequeno atalho que levava ao pequeno cemitério através dos escuros pinheiros, envoltos de não–
me-esqueças2 azuis. Tinha-a visto desaparecer por ali fazia horas. Sabia o que ela estava fazendo e
esperava que não lhe resultasse muito doloroso…
Deixando a camisa úmida sobre o corrimão do estacionamento, agarrou o machado e o
balançou com toda sua força, cravando-o no tronco de faia (tipo de arvore) como se em vez
daquele tronco fosse a carne de seu próprio coração.

Deus, aquilo era mais difícil do que acreditava. Fazendo uma profunda inspiração, Sara
deixou sair o ar lentamente enquanto depositava sua aliança de matrimônio na erva que cobria a
tumba.
—Sua morte foi tão súbita, Jack —sussurrou—, que ficaram muitas coisas por nos dizer.
Pensávamos que teríamos todo o tempo do mundo. Cada vez que vejo a luz azul da polícia sei que
te recordarei, e recordarei o dia em que te conheci. Mas acabou o duelo, Jack. Tenho que te dizer
adeus. Seguir com minha vida. Sei que é o que você teria querido. Cuida dos meninos, certo? E por
favor, não se preocupe por mim.
Agarrou o quadro dos meninos que pintava quando aconteceu aquela tragédia. Como
imaginava aos seis anos. Pensava dar-lhe quando nascessem os gêmeos, mas as coisas não tinham
podido ser. Já nunca acabaria aquela pintura, assim melhor seria que a desse agora. Tragando as

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Também chamada de miosótis, é uma flor nativa do Hemisfério Norte, cultivada em jardins de todo o mundo.

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lágrimas que a afogavam, deixou o retrato junto ao anel de ouro.


Pensando nos meninos que nunca tinham nascido, deixou o móbile dos caras alegres na erva
com as outras duas coisas.
—Nunca ouvirei suas vozes nem verei seus rostos —sussurrou—, mas ficarei tranqüila
pensando que estão com seu pai e sua avó. E no seio de Deus.
Alargando a mão, tocou ligeiramente a aliança de matrimônio, o retrato e o móbile com as
rostos alegres, os dedos trêmulos guardando aquela lembrança para sempre.
—Recordem que lhes quero a todos muito e que não os esqueci porque digo adeus. Se
cuidem mutuamente e cuidem de sua avó.
Lentamente, Sara ficou de pé com um suspiro. Tinha sido muito difícil dizer adeus, mas se
sentia um pouco melhor depois de ter chorado um pouco. Depois de um largo olhar final, deu-lhe
as costas a grande pedra cor rosa e partiu do pequeno cemitério.
A pele do pescoço do Tom lhe alertou de sua presença. Girando a cabeça, viu-a ali. Seu
comprido cabelo mogno lhe caía pelos ombros e ondeava na brisa do entardecer. O pau se pôs
rígido de anseio ao ver a curva de seus lábios sedutores. Embora ela tinha os formosos olhos
castanhos inchados e avermelhados de chorar, percorreram-lhe com avidez o torso nu e desceram
por seu abdômen para deter-se na ereção que crescia rapidamente.
Desejou agarrá-la entre seus braços. Beijá-la até que lhe rogasse mais. Meter-se em sua
adorável e escura boceta.
Sabia que o desejava. Lia o desejo desesperado misturado com o delicioso amor que brilhava
como jóias douradas nos olhos femininos. E entretanto não se aproximou dela. Ficou quieto, como
se fosse um animal que sentia a seu casal.
Esperou. Permitiu a ela que tomasse a iniciativa.
Não tinha nem idéia de quanto tempo ficou ali observando seu maravilhoso corpo, mas as
ondas de desejo que a percorriam fizeram a Sara reconhecer que o seguiria onde fosse e que
nunca o deixaria, passasse o que passasse.
Deus, desejava-lhe tanto que sentia até dor física!
Ele levantou a vista e a olhou. Sem apartar os olhos dos dele, Sara se aproximou. Leu a
indecisão em seu rosto. A dor de ter que partir para protegê-la. O desejo de ficar fode-la e amá-la.
—Sem ataduras —sussurrou, sabendo que aquela era a única forma em que ele aceitaria
passar outra noite com ela. Alargando a mão, tirou-lhe o machado que pendurava da mão e a
apoiou contra a pilha de madeira.
—Sem ataduras —replicou ele brandamente e lhe rodeou a cintura com os poderosos
braços, abrangendo o traseiro com as mãos para apertá-la com força contra seu corpo magro e
forte. Afundou a cabeça para apoderar-se dos lábios femininos e o impacto de sua ardente boca
sobre a dela fez que Sara gemesse de prazer.
Elevou os braços para rodear o pescoço masculino com eles. A língua dele roçou o lábio
inferior e ela abriu a boca para lhe permitir a entrada. Ele a colocou dentro e Sara se estremeceu
pelo irresistível prazer que explodiu dentro de sua boca.
As grandes mãos elevaram e enredaram na juba quando a apertou contra si e a beijou mais

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profundamente. Faíscas de fogo dançaram com ferocidade na boca feminina e seu corpo
respondeu violentamente. A boca se fez mais desesperada, insistente. Recordou a forma em que
tinha chupado os mamilos a última vez que fizeram o amor e os peitos incharam de desejo, os
mamilos convertidos em dois rígidos pináculos ansiosos.
Um rugido de desespero surgiu do peito masculino. De repente, sua boca abandonou a dela,
fazendo-a protestar. Sem formular palavra, levantou-a em seus braços e segurando-a contra o
peito úmido a levou através do prado, subiu ao alpendre, abriu a porta e atravessando a cozinha e
o salão a levou pelo corredor até o dormitório.
Um momento mais tarde estava em sua cama, deitado sobre a fresca colcha. Seu corpo
inteiro se estremeceu de ânsia enquanto os dedos masculinos lhe tiravam os sapatos e as meias,
jogando longe. Logo lhe passando os largos dedos por debaixo do elástico das calças, ele os
deslizou pela pele trêmula junto com a calcinha.
—Tire a blusa, em seguida volto —grunhiu ele, dirigindo-se ao quarto de banho.
Os dedos tremeram incontrolavelmente enquanto lhe obedecia. Ouviu uma gaveta abrir-se
no banheiro e logo fechar-se com um golpe. O ruído de um zíper que se baixava soou e Sara
imaginou tirando-os jeans. Lançou um suspiro trêmulo e tirou a blusa e o sutiã, permitindo que
seus peitos se expusessem totalmente.
E logo ele chegou.
De pé junto à cama, olhando-a.
Seu feroz olhar sensual a fez gemer de desejo. Sua boceta se umedeceu e seus mamilos se
endureceram.
Estava nu.
Maravilhosamente nu.
O rígido pau estava levantado para o ventre. Estava muito excitado.
Logo viu o que ele levava na mão.
Tinha encontrado seu vibrador.
Que tinha comprado por correio pouco tempo depois de que sua irmã, adorável, desse de
presente uma assinatura da Playgirl, insistindo que Sara tinha que voltar a tomar as rédeas de sua
vida.
O vibrador que tinha encarregado era magro, como um pau de dois centímetros e meio de
largura e quinze de comprimento.

Sara se tinha perguntado por que não tinha podido deixar-se levar pelas vibrações quando o
tinha metido na boceta alguma vez. E agora, deixava-se levar por vibrações eróticas que a
percorriam.
—Desejo-te, Sara. Necessito-te. Deus, não sabe quanto! É formosa —sussurrou ele.
—Vêem aqui —murmurou ela, alargando os braços.
Ele se deixou cair a seu lado e ela entrelaçou seus dedos no cabelo curto e loiro, puxando ele
para lhe dar outro ardente beijo, de provar seus quentes lábios até que ele emitiu um profundo
gemido.

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O primitivo som a estremeceu, lhe produzindo um intenso desejo no profundo da boceta. O


aroma dele era perigosamente erótico quando se inclinou sobre ela para começar a lhe massagear
os peitos. Um calor começou a estender-se por seus mamilos quando ele os puxou, os beliscou e
os apertou até fazê-la dar alaridos de dor-prazer.
A boca dele se apartou e se deslizou lentamente por seu pescoço, a cálida língua deixando
um ardente rastro sobre seus peitos, enquanto suas mãos se dirigiram a seu ventre, e com a ponta
do vibrador que agora emitia seu elétrico murmúrio lhe roçou o púbis, embora não se aproximou
tudo o que tivesse desejado a seus palpitante clitóris.
A frustração sexual se mesclou com golpes de desejo quando lhe beijou um ofegante mamilo
e logo o outro. Seguiu roçando-a com a barba incipiente e quando ela não pôde suportar mais a
tensão, os lábios masculinos se apoderaram com urgência de seus lábios e ela aceitou seus
ardentes beijos com impaciência.
Não estava acostumada a que ele despertasse nela aquelas sensações de urgência e paixão e
se deixou levar pelas intensas emoções.
—Amo-te —disse contra a ardente boca masculina.
— Que Deus me perdoe, mas te amo muitíssimo.
—Eu também te amo. Desejo-te. Necessito-te. Não quero te deixar nunca —gemeu ele entre
beijos.
Ela sentiu que se fazia um nó na garganta por lhe ouvir e desejou gritar de felicidade quando
lhe ouviu. Abrindo a boca, recebeu com prazer seus ardorosos beijos. A respiração masculina se
acelerou e agora o vibrador lhe roçou a face interna das coxas, incitando-a a que se abrisse as
pernas. Ela lançou um alarido, sacudindo-se maravilhosamente quando o vibrador se apoiou com
força contra seus volumoso clitóris. Ele começou uma estimulação rápida e forte esfregando o
clitóris que a fez perder o sentido.
Sara lhe desejava.
Agora!
Com atrevimento, ela alargou a mão e lhe agarrou o duro pau. Sua grossa ereção palpitou
contra as palmas de sua mão. Sentiu as grossas veias contra seus dedos. Apertou-lhe e girou o
ardente pênis de aço. Os gemidos sexuais dele rugiram o ar, música erótica para os ouvidos
femininos.
O pau se pôs mais duro e seus gemidos se intensificaram.
Grunhindo com paixão, ele a agarrou dos braços e a jogou sobre as costas.
Ela pensou que ele a penetraria, agarrando-a rápida e ferozmente.
Mas ele não o fez.
Em vez disso, ele se separou dela, agarrou-a dos tornozelos e a arrastou pela cama até que
seu traseiro tocou o bordo.
—O que faz? —perguntou ela, rindo.
Ele não disse nada, e a levantou rapidamente os joelhos até apoiar as plantas de seus pés
sobre a cama para logo lhe levantar o traseiro e lhe pôr um par de travesseiros sob os quadris para
poder lhe ver ambos os orifícios.

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Ela se abriu de pernas e se estremeceu ao ver o olhar ardente que lhe dirigia.
—Já está pronta e úmida para mim, Sara.
—Não te surpreenda, meu amor.
—É muito cedo para te penetrar o traseiro, mas…
Ela viu que ele tinha um pote da nata de hortelã na mão e gemeu brandamente quando ele
o colocou entre as pernas. Seu maravilhoso pau estava tão grande e duro, os ovos inchados e
dispostos a verter seus sucos de amor dentro dela.
Ele deixou o pote de ungüento de hortelã sobre a cama e voltou sua atenção às pernas
abertas dela.
Não pôde conter os tremores de excitação quando ele agarrou o extremo do cone anal que
tinha posto e lentamente o tirou. Gemeu quando o aparelho atravessou o anel de seus músculos
anais e saiu de seu corpo. Logo viu excitada que ele se lubrificava os dedos com a nata e o doce
aroma da hortelã chegou ao nariz.
Inalou brandamente quando o delicioso contato de seu dedo lubrificado invadiu a sensível
abertura de seu ânus. Seus músculos internos se fecharam em torno do intruso e ele começou a
massageá-la, abrindo-a.
—Vou provar algo diferente, doçura.
—É um homem com muita variedade —lhe sorriu ela.
—Um homem com muitos talentos, estou seguro. Embora não possa me lembrar deles.
—Já o fará com o tempo.
Ele não disse nada, mas ela notou que um golpe de medo lhe obscurecia um momento os
olhos para desaparecer instantaneamente.
Ele se inclinou mais para ela, lubrificou todo o vibrador e os olhos dela se abriram com
surpresa quando ele deslizou o vibrador para a abertura anal.
Ela tragou com força quando ele o inseriu.
—Têm-lhe feito dupla penetração antes, minha doçura?
Ela negou com a cabeça. Ele sorriu maliciosamente e começou a lhe inserir o vibrador
quando seus músculos anais protestavam ante a intrusão. Ele empurrou mais e logo os músculos
dela cederam, abrindo-se rapidamente.
Gostava das sensações que lhe produziu o vibrador quando ele o ligou no ponto mais baixo e
o colocou mais profundamente. A pressão aumentou e a dor-prazer se intensificou.
Os olhos dele estavam escuros. Escuros e intensos.
Tirou-lhe o vibrador e logo o voltou a colocar com movimentos largos e sensuais que a
fizeram gemer de prazer.
—Você gosta?
—Sim, eu gosto.
—Joga com seus peitos, céu, torce os mamilos. Belisca-os isso para mim.
Os músculos vaginais se contraíram maravilhosamente por lhe ouvir. Fez o que lhe pedia,
passando-os dedos pelos peitos, tocando seus mamilos até que os teve erguidos e rígidos como
dois topos de carne ardente e rosada.

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Sentia o vibrador pulsando profundamente dentro de seu traseiro.


Ele se inclinou para ela e seu olhar se cravou na dela.
—O sexo é formoso, Sara. Muito formoso com a pessoa adequada. O que temos é algo
especial. Muito especial.
Começou a mover o vibrador lenta e voluptuosamente.
—Sei —sussurrou ela, tentando que não a invadisse o pânico. Pânico de que ele estivesse
despedindo-se?
—Deixe ir, doce. Relaxe e te entregue.
Não, não estava despedindo-se. Estava-lhe fazendo um presente. Tinha que ser positiva.
Tudo sairia bem. Não podia permitir que as dúvidas a assaltassem agora.
Ele certamente sentiu sua preocupação, seu medo, porque com a mão lhe abrangeu a
boceta e o calor erótico a penetrou, acalmando-a em seguida.

Um torvelinho de desejo a percorreu a boceta quando lhe deslizou o bordo da mão entre os
lábios e lhe esfregou o clitóris com ele.
Ela beliscou vigorosamente de seus mamilos enquanto massageava o clitóris. Os
movimentos eróticos do grosso vibrador que pulsava em seu traseiro lhe produziu ardor.
Trêmula de luxúria, lhe observou colocar sua virilidade entre suas pernas. Tinha o pau tão
torcida, tão incrivelmente enorme, que quase gozou ao ver-lhe.
Pensou lhe recordar que colocasse uma camisinha, mas rapidamente mudou de idéia. Já
haviam feito o amor desprotegido e queria sentir o delicioso contato de pele contra pele
novamente.
Quis ter outra oportunidade se por acaso ele deixava um pouco de si dentro dela se por
acaso, Deus não o quisesse, algo horrível lhe acontecia. Necessitava desesperadamente conectar
com ele, uma conexão que lhes mantivesse juntos, e se ficava grávida e logo perdia ao Tom, ao
menos poderia manter-se inteira por seu filho.
Sua inchada boceta se abriu a ele com entusiasmo. A pressão erótica aumentou quando sua
enorme cabeça se meteu na úmida boceta. Mordendo o lábio inferior, ela gemeu ao sentir a forma
em que seu grosso pênis lhe estirava os músculos da boceta, despertando deliciosas sensações.
Ele se moveu lentamente para dentro, explorando suas profundidades.
Seu enorme pau pulsou e o desejo se fez insuportável.
Ofegante, ela levantou as pernas e lhe rodeou a cintura, lhe cravando os calcanhares no
duro traseiro. Levantando os quadris, ofereceu-lhe uma penetração mais profunda.
Ah, sim, assim sim.
Os músculos da boceta dela apertaram ansiosamente seu ardente pau.
Ele gemeu, empurrando com força com seus quadris. Bombeando dentro da boceta dela.
Trancos lentos, fortes, deliciosos, que a fizeram perder o sentido. Respondeu com frenéticos
movimentos.
Seus corpos se dirigiram à velocidade do raio ao êxtase.
Ele sussurrou seu nome uma e outra vez. Bombeou mais profundamente, mais rápido, com

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mais força.
O vibrador lhe encheu o traseiro cada vez que o pau lhe abandonava a boceta. Os
movimentos estavam tão perfeitamente sincronizados que ela não podia acreditar as sensações
que ameaçavam rasgando em dois.
Com cada onda, as vibrações sensuais cresceram e cresceram.
Os dedos dela apertaram e retorceram seus mamilos até que a dor-prazer se fez
insuportável.
Ela apertou com as pernas os firmes quadris e tudo explodiu.
Ela abriu a boca em uma exclamação erótica que a deixou sem respiração. Não pôde
acreditar as faíscas brilhantes de prazer que a percorreram.
Um prazer maravilhoso.
Quando se recuperou, seus instintos sexuais reagiram e seus quadris se menearam com
força contra ele enquanto tentava manter aquele nível de gozo.
Lutou por manter a cabeça quando um novo orgasmo a percorreu.
Os espasmos lhe apertaram a boceta à velocidade do raio, pulsantes, ardentes.
Os orgasmos continuaram um após o outro.
Quando já não podia mais, sentiu que Tom gozava dentro dela.
Sentiu seu quente esperma meter-se no profundo de seu ventre e com um pouco de sorte,
enche-la de vida.
O jorro quente da ducha de mão deu ao Tom no rosto, fazendo que gritasse a Sara que iria
dentro da ducha com ele. Seu comprido cabelo estava empapado e enredado e lhe caía pelos
peitos. Tinha o rosto avermelhado depois de fazer amor e várias vezes durante a tarde.
—Queria me assegurar de que estivesse acordado para ver isto —disse ela, dirigindo o jorro
contra seus redondos peitos.
A clara pele se avermelhou com a água ardente. Seus mamilos, de cor rosa escuro,
alargaram-se e se obscureceram mais, rogando que a boca masculina os agarrasse.
Os lábios cheios se abriram um pouco e as pálpebras se entrecerraram ligeiramente.
—Sabe, tive visões de você com essa expressão —Disse ele brandamente lhe olhando os
peitos inchar-se sob a água quente.
—Sim?
—Sim, de você inclinada sobre mim quando pensava que estava inconsciente faz um montão
de tempo.
Os olhos dela aumentaram e os adoráveis lábios esboçaram um leve sorriso.
—Quem só ri de suas malicias se recorda…
—Sim, é verdade, confesso-o. Estive a ponto de te montar quando estava inconsciente. Ver
teu membro tão grande me pôs muito excitada —disse ela, com as pupilas dilatadas de desejo. Ele
logo que pôde ouvir suas seguintes palavras por cima do som da ducha sobre seus peitos.
— Não sabe que fogosa, Tom. Nunca me senti desta forma com o Jack.
—Alguma vez?
Ela negou com a cabeça.

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—O que tinha com o Jack era um amor doce, plácido. O que você e eu temos é… —sua voz
se interrompeu enquanto tentava procurar as palavras adequadas.
—Algo carnal? Erótico?
Ela sorriu sedutora e se apartou uma mecha molhada do rosto.
—Tudo isso e muito mais. Algo profundo e selvagem. Primitivo.
—Como almas gêmeas?
—Acredito que sim.
—Seriamente? Mmm, então possivelmente devesse fazer algo para que esteja segura disso?
Arrancou-lhe a ducha da mão e ela chiou quando lhe agarrou facilmente os dois pulsos.
Segurando-lhe empurrou-a brandamente contra os brancos azulejos.
—Abra as pernas para mim, doçura, e te mostrarei exatamente a forma em que posso te
mostrar o que sente.
—E se disser que não?
—Morderei-te os mamilos. E olhe que mordo forte.
Ela se estremeceu.
—Fá-lo agora, doçura.
Um sorriso sensual se desenhou nos lábios rosados e respirou excitada enquanto pensava
em tentar a paciência dele. Finalmente, abriu as pernas.
—Ponha suas mãos em meus ombros e as deixe ali.
Ela fez o que lhe indicava e ele ficou a quatro patas. O pau lhe pôs ainda mais duro quando
levantou o olhar e viu os pesados peitos dela pendurando como melões amadurecidos por cima
dele. Os olhos dela estavam agora escuros de desejo e ela gemeu quando o olhar masculino se
dirigiu a sua boceta. Os lábios deste estavam preparados, cor rosa e avultadas. O clitóris se achava
cheio e avermelhado de desejo e lhe pendurava mais debaixo dos lábios. A face interior de suas
coxas jorrava de fluxo.
Estava preparada para ele. Úmida, bem lubrificada. Preparada para a penetração de seu pau
grosso e pesado.
Durante um momento lhe assaltou a idéia de ficar de pé e fode-la de repente, deixando de
lado todo o jogo amoroso. Com um esforço conseguiu conter-se e se concentrou em agarrar a
ducha onde esta tinha caído no chão e lhe dar toda a pressão.
Apontando a entre pernas, olhou como o forte jorro de água lhe dava ao suculento clitóris.
Ela chiou ao sentir o impacto, cravando as unhas dolorosamente nos ombros.
Ele manteve a pulsante ducha a uns centímetros de sua palpitante boceta e ouviu os
gemidos eróticos que escapavam de seus generosos lábios.
O corpo dela ficou tenso. As pernas tremeram. As pálpebras se entrecerraram.
Ela arqueou os quadris contra o jorro da ducha, lhe brindando uma visão maravilhosa das
curvas inferiores de seu trêmulo traseiro, o plano extremo do cone anal que havia tornado a pôr.
Aquela erótica visão lhe enviou ardentes ondas de desejo que percorreram seu pau.
Os músculos das coxas dela tremeram e exclamou seu nome quando lhe tampou a boceta
com a mão para que não se excitasse mais. Estava transbordante de desejo já.

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O aroma a canela de seu sexo chegou ao nariz fazendo que seu pau respondesse com uma
pulsação.
Ela lançou um alarido quando lhe tocou o clitóris com os dedos e acariciou o núcleo de seu
prazer com movimentos rápidos e eficientes, fazendo-a menear os quadris.
Quando afrouxou a pressão, ela se cambaleou. Rapidamente ele ficou de pé, deslizando sua
mão pela sensual curva do molhado quadril feminino. Com a outra mão dirigiu seu ansioso pau à
abertura entre os lábios de sua boceta e o deslizou dentro de sua pequena boceta com um tranco
que a empurrou contra a parede gemendo de prazer.
O plugue do traseiro fazia que estivesse estreita, incrivelmente apertada. Os músculos de
sua boceta lhe apertaram de uma forma tal que teve que tirar forças de fraqueza para não gozar.
Queria fode-la lentamente. Queria olhá-la enquanto o formoso rubor lhe subia pelas bochechas.
As unhas dela se cravaram mais em seus ombros, produzindo uma careta de dor.
Caralho!, Certamente que lhe estava fazendo sangue. Agarrando os quadris com força,
começou a empurrar com lentidão e retirar-se tão devagar que a boceta tentou agarrá-lo com
todas suas forças para que não se fosse.
Ela se sacudiu e tremeu enquanto ele continuava com seu ritmo muito lento. Sentia como
lhe enchiam o testículo de esperma, pulsando e pulsando até que a pressão de seus ovos quase
lhe fez cair de joelhos.
Com as coxas fechadas, os músculos vaginais lhe agarraram enquanto ele a fodia. De
repente, deu-se conta de que não tinha uma camisinha à mão.
Merda! Aquilo de não colocar camisinha estava se convertendo em um vício.
—Amparo —disse. Estava a ponto de sair quando as mãos lhe rodearam com força os
ombros, lhe detendo.
—Não —gemeu ela.— O quero assim. Quero que sejamos um. Deus! Desejo-te, Tom. Assim,
sem barreiras.
A voz dela tinha um tom histérico que lhe causou um pouco de temor, mas deu um tranco
com os quadris e cravou a pélvis, espantando seus temores com voluptuosas ondas de prazer.
Já pensaria naquilo mais tarde. Agora, o que precisava era satisfazê-la.
Voltou-lhe a penetrar a pequena racha.
A boceta teve um espasmo apertando todo o pau e liberando algo incrivelmente excitante
lhe fazendo perder a cabeça de gozo carnal.
Agora estava excitado , consumido pelo desejo, pelo prazer, desejando lhe fazer amor,
consumido de ardor.
Meneando os quadris contra ela, respondeu a cada um dos movimentos dela com um
poderoso tranco e a escorregadia boceta apertou mais forte. Cravou-lhe o grosso pau uma e outra
vez até que a pressão de seus ovos explodiu.
Seu pau explodiu como um tubo de dinamite, lançando ardentes jorros dentro do corpo
feminino percorrido por sacudidas incontroláveis.
Parecia que o clímax dos dois não acabaria mais. O suor lhe fez arder os olhos, mas seguiu
fodendo-a.

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Por Deus, aquele clímax foi incrível.


Sua boceta estava lisa, lubrificado, exigente.
Tão exigente que lhe deixou sem uma gota.
Quando finalmente desceram das alturas, levantou o cansado corpo feminino em seus
braços e a levou a cama.
O tentador aroma a café recém feito misturado com o crepitar do bacon e os ovos despertou
ao Tom de um sono reparador. Abriu os olhos e instintivamente alargou a mão, mas em vez da
Sara encontrou o vazio.
Experimentou um pânico momentâneo, mas as maravilhosas lembranças da noite anterior
lhe voltaram, levando um sorriso satisfeito aos lábios. Não precisava recordar já se havia feito
amor a alguma outra mulher em sua vida. Algo lhe dizia que depois da Sara não haveria outra.
E se fossem… almas gêmeas?
O calor que lhe encheu o coração se gelou e um gemido de angústia o percorreu fazendo
sentar-se de repente na cama.
Hoje podia bem ser o último dia que passassem juntos. Quando sua irmã ou Garry
chamassem e descobrissem que ele era um fugitivo, não teriam mais alternativa que o entregar.
A menos que fizesse algo drástico, como tomar as rédeas do assunto. Como sair fugindo e
levar Sara consigo.
Não era o tipo de futuro que queria para ela, mas de momento era a única forma de que
pudessem permanecer juntos. Podiam usar os dez mil que tinham encontrado na moto e montar
na caminhonete e dirigir-se à Baía do Trovão. Uma vez ali, podiam deixar a caminhonete no
estacionamento de um centro comercial e subir a um ônibus ou um trem. O coração acelerou
quando se fez com a idéia. Havia gente que desaparecia sem deixar rastro todos os dias.
Sua excitação aumentou quando se levantou da cama e vestiu rapidamente.
Podiam partir o oeste. Possivelmente a Columbia Britânica? Poderia conseguir um trabalho
nos cais. Poderiam ter meninos.
Havia fodido a Sara sem camisinha mais de uma vez. Um calor desconhecido se estendeu em
seu corpo ao pensar nisso.
Possivelmente a tinha deixado grávida.
Não permitiria que seu filho crescesse sem pai. Nem um caralho que viveria sem a Sara.
O que tinham que fazer era planejar tudo bem juntos, mas primeiro colocaria a caminhonete
no celeiro e subiria a moto à parte traseira.
Quando acabasse com aquela tarefa o café da manhã estaria preparado e deixaria que Sara
desfrutasse de uma última comida em paz antes de dizer as notícias, de anunciar que queria
permanecer com ela para sempre e tinham que sair fugindo. Enquanto faziam as malas, poderiam
planejar como fazer que todos acreditassem que esta era outra viagem para distribuir os produtos
de hortelã. Isso faria que demorassem vários dias em começar para lhes buscar.
Com sorte estariam a caminho em um par de horas. Sim, aquilo poderia funcionar.
Agarrando sua jaqueta de couro, a pôs e tirou as chaves da caminhonete do bolso antes de
dirigir-se à porta traseira. Uma vez que fizessem algumas milhas pela auto-estrada, poderiam

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deixar a moto em uma estrada lateral ou escondê-la em um bosque para que ninguém a
encontrasse,
Caralho, era possível! Por que teria resistido tanto à idéia antes? Tinha sido um idiota ao
pensar que poderia viver sem ela. Um sonhador ao pensar que Jo e Garry poderiam lhe ajudar.
Não havia nenhuma garantia de que acreditassem. Possivelmente lhe entregassem simplesmente
às autoridades. Não voltaria a vê-la nunca mais.
Sim, a idéia de sair fugindo era o que terei que fazer. Talvez quando recuperasse a memória
e soubesse a verdade e fosse inocente, teria meios suficientes para evitar ir ao cárcere. Sara e ele
possivelmente não tivessem que ser fugitivos durante muito tempo.

Levando a moto até o bordo das abertas portas do celeiro, deixou-a ali enquanto se dirigia
ao estacionamento onde se achava a caminhonete. Tinha dado uns passos quando ficou rígido.
Uma sombra se erguia na branca névoa a uns seis metros. Durante um momento pensou que era
Sara mas o revólver que segurava na mão lhe demonstrou que se equivocava.
Antes que pudesse reagir, a decidida voz da mulher rasgou o silêncio.
—Não se mova!

Capitulo 14

Tom ficou de pedra. Um calafrio lhe subiu pelas costas.


—Levante os braços antes que lhe fure os miolos —ordenou a mulher secamente.
Ele titubeou. Se saía correndo, poderia desaparecer nas escuras vísceras do celeiro e escapar
pela janela traseira. Possivelmente Sara ouvisse o disparo e tivesse oportunidade de escapar. Por
outro lado, possivelmente saísse e disparassem a ela também.
—Faça-o! Já mesmo! —outra voz. A voz de um homem.
Caralho, tinham-lhe rodeado! Não havia caso, não poderia fugir. O melhor que podia fazer
para salvar Sara era esperar uma oportunidade para escapar. Reticentemente, elevou os braços.
—Agora, aproxime-se a nós! —ordenou o homem secamente.
Tom tragou os nervos e sentiu que as tripas lhe contraíam de medo enquanto se dirigia
lentamente por volta das duas sombras.
Ao aproximar-se, as sombras tomaram forma. Horrorizado, reconheceu ao homem de suas
visões ou alucinações, ou o que caralho fossem, o mesmo homem cujo sangue tinha tentado
estancar no que uma vez tinha sido sua garganta parecia vivinho e abanando o rabo.
A única diferença entre o homem de suas lembranças e aquele era o bigode branco que
crescia sob seu nariz, o revólver que segurava na mão rechonchudo, e a cadeira de rodas em que
se sentava.
Um enjôo lhe atacou e se cambaleou quando a brilhantes luz produziram imagens.

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Cristais quebrados. Este velho que lhe gritava que corresse. Logo os olhos deste homem lhe
olhando sem lhe ver. O aroma de morte no ar.
—Meu Deus, pensava que estava morto! —exclamou Tom.
—Oxalá pudesse dizer o mesmo de você —rugiu o velho, os nódulos brancos de apertar a
arma.
Outra figura apareceu da névoa. A mulher.
—Você disse que tinha visto alguém escondido na névoa.
A doce voz feminina instantaneamente lhe atraiu a atenção. Uma morena alta e magra com
olhos cor azuis, era muito bonita mas a pistola com que lhe apontava o que ele olhou fixamente.
—Sou Tom Smith —disse a ambos.
Um sorriso de satisfação se desenhou um instante nos lábios da mulher.
O velho lançou uma amarga gargalhada.
—Não jogue conosco, guri. Sabemos quem é.
—Sabem quem sou?
Um alívio agridoce percorreu cada uma das fibras do corpo do Tom.

O afogado som de vozes longínquas se filtrou pela janela ligeiramente aberta da cozinha,
onde Sara fritava o café da manhã, feliz. Sentiu que se afogava. Seria Justin Jeffries? E a polícia?
Espiou pela janela com o coração palpitante. Não viu nada. Teria imaginado as vozes?
Possivelmente. Mas para assegurar-se, melhor seria que saísse e jogasse uma olhada. Apartou a
frigideira do fogo, deixando-a sobre a bancada, e saiu nas pontas dos pés ao alpendre dianteiro.
—Pode-se saber o que acontece? —chiou ao ver Garry e a sua irmã Jocelyn apontando com
suas armas ao Tom.
—Encontramos a este assassino escondido no celeiro. Há-te feito algum dano, Sara? —a voz
fria de Jocelyn assustou a Sara, que olhou ao Tom. Os olhos dele rogaram que lhe desse uma mão
para livrar-se daquele atoleiro.
—Deus santo, apartem suas armas. Não é um assassino.
—Há-te tocado? —exclamou Garry.
Sara deu um coice para lhe ouvir.
—O que acontece aos dois?
—Esse é o homem que dizem que matou a meu irmão.
Sara ficou boquiaberta.
—Robin? —sussurrou, assustada. Logo que ouviu a exclamação afogada do Tom. Não podia
pensar. Sentia que desmaiava.
—Sara, encontra-te bem? —quase não ouviu as palavras preocupadas do Tom. Viu-lhe dar
um passo adiante.
—Não te aproxime dela ou lhe mato de um tiro! —gritou-lhe Garry. Tom se deteve.
Aquilo não era possível. Como podia estar morto Robin? Como podia ser Tom o assassino do
irmão do Garry? Um terrível pensamento lhe golpeou o estômago, fazendo-a lançar uma
exclamação. As lembranças do Tom. O velho das lembranças era Robin. Começou a tremer.

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—Venha, Sara —lhe disse sua irmã.— Vamos dentro —Sara sentiu que sua irmã a colhia com
firmeza do cotovelo.— Pode te ocupar dele, Gar…? —gritou Jo ao Garry.
—Com todo gosto.
Aturdida, Sara foi dentro da casa guiada pela Jo. Na cozinha se deixou cair tristemente em
uma cadeira antes que lhe cedessem as pernas.
Jocelyn se sentou frente a ela.
—Robin morto? Como? Quando?
—Faz um pouco mais de duas semanas.
—Isto é uma loucura —disse Sara, meneando a cabeça com incredulidade.
— Tom não. Não é possível.
Jo lhe deu um tapinha nos punhos apertados.
—Apaixonaste-te por ele, verdade?
—Como…?
—Te vê na cara —disse Jocelyn com um suspiro.
—OH, Jo, estava segura de que não era um assassino. Que o que disse sobre o Justin Jeffries
era verdade.
—O que? —perguntou Jo com expressão curiosa.
—Que Justin matou ao Sam Blake a sangue frio e que o mais provável é que tenha matado
ao Jack também.
—Seu companheiro? Refere-te a que Sam Blake está morto?
—Sim, mas os únicos que sabemos somos Tom, Justin e eu.
—Parece que aconteceram muitas coisas aqui. Eu gostaria de ouvir mais sobre seu menino,
mas não sei se poderemos acreditar.
—Por que não?
—Têm testemunhas em seu contrário, Sara. Um deles é um tira de alta graduação. O outro é
um detetive. Ambos dizem que apertou o gatilho que matou ao irmão do Garry. Encontraram um
contrabando de cocaína na casa do Robin. Dizem que foi um ajuste de contas por drogas.
—Impossível —disse Sara, meneando a cabeça.
Jo sorriu brevemente.
—Isso é o mais raro deste caso. Nem de brincadeira ia Robin a comprar ou vender droga.
Garry acredita que é uma montagem. Estávamos investigando todas as possibilidades. Tentamos
nos pôr em contato contigo, mas os telefones não funcionavam. Quando finalmente consegui me
conectar, teria deixado uma mensagem, mas queria dizer isso a você, não falar com uma máquina.
Sara assentiu, compreendendo.
—Sara, céu, quero que me diga tudo o que sabe sobre este cara.
Ela conteve um soluço e assentiu com a cabeça. Diria a Jo tudo, capítulos e versículos , se
com isso conseguia liberar o Tom.
Tudo.

No celeiro, Tom se sentava em um tamborete de madeira com as mãos algemadas

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novamente, esta vez ao pé de um banco de carpinteiro muito pesado. Um gemido entrecortado


escapou de sua boca ao pensar no que estaria passando Sara ao inteirar-se de que ele era um
assassino. E para o cúmulo do mau, que tinha matado a alguém a quem ela queria.
Deus, sentia-se doente.
O velho da cadeira de rodas lhe olhava fixamente. Seus olhos azuis perfuravam com ódio
puro e seus dedos se moviam com nervosismo no gatilho enquanto os dedos de sua outra mão
acariciavam seu bigode pensativamente.
Novamente, Tom se encontrava em uma situação de vida ou morte e, sinceramente, já
estava fartando-se um pouco do tema.
—Se não trabalhasse para o sistema de justiça, voaria-te os miolos neste momento.
Tom fez uma careta para ouvir a crua emoção na voz do homem. Desejou poder fazer algo
para acalmar a dor de este.
—Por que o mataste?
Suas palavras atravessaram ao Tom como um projétil. Como podia responder à pergunta
quando nem sequer recordava o que tinha acontecido?
—Como sabe que matei a alguém? Tem provas ou sou somente um bode expiatório
conveniente? —as palavras do Tom pareceram sacudir ao velho.
—Umas testemunhas lhe viram apertar o gatilho. Voou-lhe a metade inferior do rosto e o
estampou contra as paredes de sua casa. Montou na moto e partiu como se te perseguisse o
mesmo diabo.
Tom fez uma careta de dor quando um relâmpago lhe atravessou a mente. Apertou-se as
têmporas com os dedos tentando evitar que lhe viesse.

Alguém lhe gritava que partisse. Gritava que se salvasse. Que salvasse a verdade. Uma
imagem efêmera de cristais que se rompiam. Logo o sangue. Tentando desesperadamente conter o
fluxo de sangue. Inclusive quando sabia que era muito tarde. Imagens de conduzir sua motocicleta
através da noite escura.

Tom se sacudiu das redes de suas lembranças.


O ancião olhou lhe fazendo mover-se inquieto. Suas seguintes palavras a sobressaltaram.
—Foi um bom tira. Por que se vendeu?
Tom não dava crédito ao que ouvia.
—Tira? —era polícia?
—Garry!
Os dois deram um salto ante a inesperada interrupção. Era a mulher. A irmã da Sara. Achava-
se na porta do celeiro.
—O que?
—Lhe traga dentro da casa! —indicou ela.
— Sara tem certa informação que precisa ouvir.
—Certo. Agora vamos.

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Garry se inclinou e colocou a chave na fechadura das algemas. Olhou-lhe ameaçador.


—Nem te ocorra fazer um movimento em falso —lhe advertiu gelidamente.
— Te estou vigiando, assim olhe por onde vai.
Uns minutos mais tarde Tom subia a rampa de deficientes com as mãos algemadas pela
frente e a sensação terrível na nuca de que lhe apontava um revólver. Ouviu o ligeiro chiar de uma
das rodas da cadeira que Garry impulsionava com sua mão livre para subir rapidamente a rampa.
Era admirável aquele ancião, pensou Tom. Sua forma de mover-se na cadeira era incrível,
considerando que tinha uma mão ocupada com a arma. Não tinha brindado ao Tom nenhuma
oportunidade para que escapasse.
Ao passar junto a porta aberta do dormitório, viu brevemente a cama desfeita. Embora
nunca o havia dito ainda, a primeira vez que tinha visto Sara subindo pela passarela, seu
maravilhoso cabelo mogno despenteado pelo vento ao redor de seu rosto em forma de coração,
apaixonou-se por ela.
E agora, se o metiam na prisão, provavelmente nunca a voltaria a ter em seus braços. Um
grande vazio se fez em seu peito e quase tivesse preferido que Garry acabasse com suas desgraças
de um disparo.
O ancião lhe ordenou que se sentasse em um dos sofás do salão. Todo o momento lhe
apontava com a arma.
Um momento mais tarde, Jocelyn entrou com um prato de donuts de canela e os pôs frente
a Tom sobre a mesa de café. A este lhe contraiu o estômago ao ver a comida.
—Sei que não é um café da manhã muito são —disse Jo inclinando-se a agarrar dois dos
donuts de canela.
— Mas uma vez ao ano, não faz mal. Se sirva.
Pareceu genuinamente surpreendida quando ele não agarrou um.
—Estão muito bom, venha —lhe insistiu. Quando ele meneou a cabeça, lhe sorriu com
doçura.
— Não se preocupe, já o fará —se dirigiu ao sofá mais perto da chaminé e se sentou.
Tinha o mesmo nariz bonito que Sara, os lábios cheios e o mesmo tipo de rosto em forma de
coração que Sara, mas ali acabava o parecido. Era mais alta que ela e menos magra. E seus olhos,
não tão separados como os da Sara, eram de uma bonita cor azul. Seu cabelo era mais castanho.
—Uma mulher maravilhosa do povo os faz todas as segundas-feiras —lhe seguia falando
como se fosse um velho amigo em vez de um criminoso algemado no salão da casa de sua irmã.
Deu-lhe um enorme bocado ao donut e o açúcar cor marrom lhe acariciou os lábios.
Ele não tinha desejos de conversar, assim não disse nada. Queria que resolvesse tudo de
uma vez para poder seguir com sua vida. Embora fosse atrás de uns barrotes.
Sara entrou com uma cafeteira fumegante, umas taças e um grande saco de papel pardo em
cima de uma bandeja. Sentiu que relaxava quando lhe dirigiu um sorriso alentador ao sentar-se no
sofá junto a ele.
—Não se sente muito perto dele, Sara —advertiu Garry secamente.
Tom se surpreendeu quando Sara se deu a volta de repente para seu sogro. Seus olhos cor

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chocolate escuro reluziram de raiva.


—Não sei que inseto te mordeu, Garry. Ou a você, Jo. Sempre acreditei que vocês dois
acreditavam na inocência de um homem até que se demonstrasse sua culpabilidade.
Jo se recostou no respaldo de sua cadeira, aparentemente contente de observar. A sombra
de um sorriso lhe desenhou nas comissuras dos lábios. Tom teve a sensação de que ela pareceu
alegrar-se de que Sara estalasse, mas os olhos do Garry se obscureceram de desgosto.

—Que lixo te esteve contando este homem, Sara? Há testemunhas, não lhe há dito Jo?
—A merda com suas testemunhas! —espetou Sara.
Garry se surpreendeu um momento mas se recuperou bem rápido.
—Buscam-lhe pelo assassinato de meu irmão. Até que me dê alguma informação que me
faça trocar de opinião…
—Tenho essa informação.
A bandeja dos donuts as taças e a cafeteira que ainda não haviam tocado se sacudiram
quando ela deixou de repente sobre a mesa o saco de papel que continha suas provas com furiosa
decisão. Se o que procurava era a atenção do Garry, estava-o obtendo, pensou Tom ao ver que
Garry olhava a bolsa com a curiosidade refletida no rosto.
—O que é isto?
Ela colocou a mão e tirou outra bolsa.
—Nesta bolsa há uma bomba que Tom encontrou entre as ruínas de nossa estalagem.
Garry ficou boquiaberto e antes que pudesse dizer nada, Sara tirou a nota e as algemas que
tinha Tom ao chegar. Passou tudo ao Garry, que agora alargava as mãos com interesse.
—Esta é a nota que trazia Tom. E as algemas que lhe tirei.
Logo tirou o cinzeiro que tinha dois projéteis. O projétil que tinham tirado da cabana de
Perca e o outro que lhe tinha tirado das costas. Tom se estremeceu ao recordá-lo.
Assinalando os dois projéteis de inocente aspecto, disse secamente:
—E este é o projétil que tentou silenciar a sua testemunha.
—Testemunha? —exclamou Garry, incrédulo.
—Exato. Tom é testemunha. De um assassinato em Perca.
O conhecido palpitar das têmporas do Tom aumentou mais.
—Um assassinato em Perca? É a primeira vez que ouço isto. A quem assassinaram?
—Ao Sam Blake. Quando estava por assassinar ao Tom. Encontramos o corpo do Sam no
fundo de um poço em Perca, onde Justin lhe tinha atirado depois de o matar.
—Que Justin matou ao Sam? —disse Garry, olhando a Sara como se esta estivesse louca.
—Exato —replicou ela desafiante e se cruzou de braços com a respiração agitada.
Garry lançou um suspiro e se inclinou para agarrar a bala que Sara tinha no cinzeiro.
Examinou-lhe atentamente.
—Da polícia. Um modelo antigo —olhou ao Tom.
—Teve sorte, cara. Os modelos novos causam mais dano. Onde lhe dispararam?
—Nas costas.

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—Já vejo —embora permaneceu inexpressivo, Tom se deu conta de que Garry começava a
interessar-se de verdade.
— E o outro projétil?
—Tiramo-lo da cabana onde Jeffries e Blake tinham prisioneiro ao Tom. Quando Tom
escapou, Justin lhe disparou. A primeira vez errou e acertou à parede. A segunda deu ao Tom nas
costas. Posso-o jurar ante um tribunal porque sou quem lhe tirou o projétil das costas.
As hirsutas sobrancelhas brancas do Garry se franziram quando lançou ao Tom um rápido
olhar de preocupação. Quando se deteve na nota que Tom tinha usado para chegar ali, seus olhos
se obscureceram de fúria.
—É a letra do Robin.
Sara exclamou, excitada:
—Tom, onde estão as chaves? As chaves da moto?
—Tenho-as eu, por quê? —disse Garry.
—Olhe-as, Garry.
Com reticência, o ancião colocou a mão no bolso do casaco e tirou as chaves.
—Robin certamente deu ao Tom a nota e as chaves de minha casa porque sabia que eu saio
muito de viajem para repartir os produtos de hortelã —disse Sara rapidamente.
Garry franziu o cenho.
—Deu-lhe isso meu irmão? —perguntou ao Tom secamente ou as agarrou da cena do crime?
Tom deu de ombros. Um suor frio cobria sua frente e lhe umedeceu as costas. Sua dor de
cabeça se fazia já insuportável. Não gostou do tom da voz do Garry.
—Não sei.
—Que caralho de resposta é essa?
—Tem amnésia, Garry—replicou Sara rapidamente.
Garry lançou uma estranha risada, meneando a cabeça com incredulidade. Lançou-lhe um
olhar divertido.
—Não te pôde ocorrer algo melhor que isso? A metade dos criminosos com os que trabalho
usam a amnésia como desculpa.
De repente, fartou-se.
O dique que segurava a raiva contida se rompeu de repente.
—Honestamente, importam-me uma merda os outros criminosos. Vim aqui porque
encontrei esse papel em meu bolso. Era o único que tinha nesse momento. Esperei para sua ajuda
e agora me tratam como um criminoso. Por que não me prega um tiro na cabeça e acabamos com
isto, porque uma vez que os tiras me agarrem, estarei acabado?
Fez-se um tremendo silêncio na habitação.
Depois de um momento, Jo perguntou:
—Alguém quer café?

Uma hora mais tarde, Sara e Jo estavam na cozinha preparando a comida. Garry tinha
tomado um par de aspirinas e se foi com o Tom ao dormitório para poder voltar e vigiar ao Tom ao

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mesmo tempo.
Sara não podia entender como podia fazer ambas as coisas; ao menos poderia ter deixado
que Tom ficasse na cozinha com elas. Por sorte, Garry tinha acessado a não falar com as
autoridades. De momento.
—Não posso acreditar que Garry seja tão obcecado —lhe sussurrou Sara a sua irmã
enquanto adicionava um pouco mais de água ao arroz que fervia na caçarola.
—Bom —disse Jo, tirando pratos do armário para pôr a mesa—, o único que lhe preocupa é
sua segurança e a mim também.
Sara se girou rapidamente para sua irmã menor.
—Faz quase duas semanas que está aqui. Se tivesse querido me fazer dano, já o teria feito.
Jo lhe lançou um olhar de incompreensão.
—Não nos culpe por querer te proteger, vale? Você faria o mesmo se eu estivesse em seu
lugar.
Sara assentiu. O que Jo dizia era verdade. Inspirou profundamente para acalmar-se.
—Acredita que Garry ajudará ao Tom?
Sua irmã ficou tensa.
—Seriamente quer minha opinião? Não vai gostar do que tenho que te dizer, mas com todas
as provas que temos em seu contrário, não acredito que tenha nenhuma oportunidade, mas se
pudesse esclarecer o que aconteceu e recordar o que aconteceu na casa do Robin a noite de seu
assassinato, então trocaríamos de opinião.
Sara deixou de revolver o arroz e se girou a ver Jo, que a olhava intensamente.
—O que diz é que não acredita nas testemunhas?
—Não posso dizer nada, Sara.
—Venha, que sou sua irmã.
Lançando um profundo suspiro, deu-lhe um tapinha no ombro com carinho.
Não quis lhe dar falsas esperanças.
—Então, há algo —murmurou Sara, dando-se conta de que sua irmã duvidava que Tom
fosse culpado.
—OH, Deus, não faça ilusões, por favor. Possivelmente não seja nada. E não diga ao Garry
que te disse nada.
—Tem uma intuição?
—Sara, por favor, não lhe dê muita importância ao que falei.
As palavras de Jo não podiam acalmar o entusiasmo que a percorria. Jo sabia algo e Sara
tinha uma confiança cega em que Jo e Garry provassem a inocência do Tom.
—Não se preocupe —disse, mas não pôde evitar cantarolar enquanto seguia revolvendo o
arroz.
—Quer que faça algo mais depois de pôr a mesa?
—Não, já está —disse Sara, e de repente recordou que se esqueceu de algo.
—OH, Deus. Sobremesa. Não tenho nada para sobremesa. Garry não me emprestará
nenhuma atenção a menos que lhe abarrote de doces.

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—Já me ocupei disso. A viúva McCloud fez seus famosos bolos de arándanos esta manhã.
Acabava-os de tirar do forno antes de abrir a loja. Há um sobre a geladeira junto ao correio do
Garry. E provavelmente esteja ainda quente.
—É o bolo favorito do Garry. Perfeito. Garry faria algo por um bolo de arándanos da viúva
McCloud.
—Certamente que sim e ela sabe. Disse-me que lhe dissesse que passasse a procurá-la na
sexta-feira de noite para ir ao bingo.
—Está-me vacilando.
—Não. E sabe outra coisa? Aí me inteirei de que tinha um homem na casa.
OH, Deus. As camisinhas que tinha comprado na loja.
—Não terá mencionado…
—As camisinhas? Claro que sim —riu Jo—. Povo pequeno, inferno grande. E embora ela não
me houvesse dito isso, vi-os na prateleira do quarto de banho. E como te puseste como um
tomate… —Jo se interrompeu e lançou um chiado excitado e incrédulo.
— Não o terá feito!
Sara assentiu com a cabeça, ruborizada até a raiz do cabelo.
—Quero detalhes, tia. Capítulos e versículos . Luxo de detalhes —riu Jô.
— Mas, nem sequer lhe conhece. E o buscam por homicídio, pelo amor de Deus!
—Já te darei os detalhes… —disse Sara e titubeou antes de acrescentar—: algum dia.
Jo cruzou de braços e se apoiou contra a bancada a fim de lhe lançar um olhar de alívio a
Sara.
—Ao menos teve a sensatez de usar camisinha.
Sara se mordeu o lábio inferior e seguiu revolvendo o arroz. Não tinham usado as camisinhas
todas às vezes e já tinha tido tempo de fazer-se à idéia de que pudesse estar grávida ou
possivelmente um pouco muitíssimo pior.
Mas sua relação tinha sido tão formosa que se negava a acreditar que algo que não fosse
formoso pudesse resultar de haver feito amor com o Tom.

Sentando-se no bordo da cama recém trocada, onde Garry lhe tinha algemado enquanto
jogava uma cabeçada, Tom ouviu a alegre voz da Sara filtrar-se pela porta aberta e se perguntou
do que falariam.
—Faz tempo que não ouço Sara tão feliz —se ouviu a rouca voz do Garry dizer. Os olhos
deste permaneceram fechados quando acrescentou—: Ela ria assim quando meu filho vivia. Mas
quando lhe assassinaram, alguns disseram que tinha sido ela. Mas eu sei que não, embora não
pude prová-lo.
—Quem acredita que o fez?
—Não posso dizê-lo —respondeu Garry. Seus olhos se abriram de repente e olhou ao Tom
com curiosidade.
— Como exatamente morreu Sam Blake?
—Blake me apontava à cabeça com uma arma. Eu fechei os olhos antes que apertasse o

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gatilho. Ouvi um disparo e quando quis me inteirar, Blake tinha caído ao chão. E Jeffries estava ali
com um revólver fumegante na mão. Então desmaiei. Quando tive uma oportunidade de escapar,
fugi do porão e tropecei com o corpo. A lua entrava por uma janela e vi que tinha um buraco entre
os olhos. Agarrei a pistola que estava junto ao corpo do Blake e saí correndo.
—Tem a arma? —perguntou-lhe Garry arqueando as sobrancelhas.
—Sim.
Ele se moveu excitado até conseguir sentar-se.
—Onde está?
—Se me tirar as algemas, a trago.
—Boa tentativa, guri.
—Tinha que tentá-lo, verdade? —disse Tom com uma risada afogada.
—Que tipo de arma é?
—Uma trinta e dois. Não é da polícia.
—Uma trinta e dois?
—A tirou da bota.
—Embora seja ilegal que os tiras levem armas sem registrar, alguns o fazem.
Tom olhou o rosto frustrado. A mandíbula apertada, as mãos trêmulas e os brilhantes olhos
azuis com sua expressão de dor.
—Então, por que quer tanto a pistola do Blake? —perguntou ao Garry.
—Não sei onde está o revólver —reconheceu Tom. Os ombros do Garry se afundaram,
vencidos.
— Mas Sara sabe.
—Bem, bem —disse Garry com tom satisfeito.
— Então, matou a meu irmão?
As palavras golpearam ao Tom como se lhe tivesse dado uma bofetada.
—Honestamente, não sei —mas me estão vindo umas lembranças espantosas acrescentou
para si.
— Antes disse que eu sou tira. Como me chamou?
—Já lhe direi isso logo. Agora quero que me diga tudo o que recorda —disse Garry, subindo
à cadeira de rodas com esforço. Fê-la rodar até uma mesa junto à janela e agarrou um bloco de
papel de notas.
— E quero que comece com o que recorda de sua primeira visita a Perca.

Capitulo 15

—Sara, que comida gostosa, como sempre —disse Garry dando uns tapinhas na barriga.
Apoiou-se no respaldo da cadeira de rodas enquanto todos se sentavam no salão.
— É uma boa cozinheira. Não é uma boa cozinheira?

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Todas as cabeças olharam ao Tom, incluindo Sara, que esperou sua resposta com ansiedade.
—Claro que é. É boa em tudo o que faz —sorriu ao vê-la ruborizar-se.
Jo foi a socorrer a sua irmã.
—Bem, então me toca ajudar a Sara com os pratos.
—Esquece os pratos. Preciso falar com a Sara e… —ficou olhando ao Tom um momento e
logo disse—: e Tom.
—Então, se me desculparem, tenho que fazer umas chamadas.
Tom ficou rígido e Sara agarrou o braço de Jo com desespero.
—Não dirá a ninguém que está aqui, verdade?
—Não se preocupe. Não falarei com as autoridades sem te avisar antes, irmãzinha. Você se
ocupe de responder a todas as perguntas do Garry o melhor que possa —lançou ao Garry um
rápido olhar.
— E estarei no alpendre.
Garry esperou que Jo partisse antes de agarrar o bloco de papel de notas de seu bolso
posterior.
—Sara, quero que me conte tudo. Começa com a noite em que chegou Tom. Não deixe
nenhum detalhe.
E então, Sara lhe explicou como tinha visto o Tom a primeira vez, desesperado, em sua porta
e como lhe tinha salvado a vida…
Tom enquanto recordou a noite anterior, a última vez que haviam feito amor, como ela tinha
gemido em seus braços quando…
—Dinheiro? —a pergunta do Garry o voltou para a realidade. A expressão do deficiente era
de fúria.
— Quanto dinheiro?
—Dez mil dólares americanos —disse Tom com firmeza.
— Por quê?
—É a mesma quantidade de dinheiro depositada por uma fonte desconhecida e logo
retirada da conta do banco do Robin o dia de seu assassinato.
Não gostou do tom de voz do Garry. Depois que lhe confessasse tudo, o velho tinha tirado as
algemas e Tom tinha acreditado que confiaria nele. Mas agora se dava conta de que Garry seguia
sentindo dúvidas. Amaldiçoou-se por ter sido tão idiota de fazer-se ilusão.
—Recorda como fez com dez dos grandes? —perguntou o velho, olhando-o fixamente com a
taça de café nas mãos.
Algo em sua voz fez que Tom recordasse algo. Um pequeno e quente salão.

Um formoso quadro de um guaxinim sentado em um toco de árvore. Uma sensação de paz e


felicidade.

Em questão de segundos, esfumou-se com a ruptura de cristais e o espantoso som de um


tiro.

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De repente se sentiu incômodo e passou uma trêmula mão pelo cabelo.


—Não… não sei. Quero dizer… algumas coisas. Um salão com um sofá cama azul escuro e
bonitos quadros de vida selvagem nas paredes —meneou a cabeça e deu de ombros.
— Não posso recordar nada mais —mentiu.
Sara lhe lançou um sorriso alentador e lhe apertou a mão para lhe tranqüilizar.
—Significa algo o nome TURDUS para você?
Tom sentiu uma incontável gana de sair correndo. Logo que ouviu a exclamação da Sara
quando a habitação começou a girar a seu redor. Teve que agarrar-se à mesa para não cair. Notou
um movimento a seu lado mas não pôde evitar que sua mente se fosse dali.
—OH, Deus! —as palavra surgiram de sua garganta quando viu um velho de barriga para
baixo no tapete. Um atoleiro de cor vermelha se estava formando no tapete azul céu.
—O que vê, guri? —disse Garry brandamente e pareceu a voz do Robin. A confusão o alagou.

Olhou-se as mãos. Tinha-as banhadas em sangue. Molhadas. Pegajosas. Trêmulas. Logo seu
olhar se dirigiu ao velho. Jazia em posição fetal.
Alargou a mão e lhe deu a volta. Um grito afogado surgiu de sua garganta. Robin! Seu
melhor amigo. Tinham-lhe arrancado meia mandíbula. OH, Deus, ainda estava vivo! E tentava lhe
dizer algo.
Tom se agachou mais. Viu um dente no tapete enquanto tentava concentrar-se no que lhe
dizia Robin.
—Quero queee —ferveu Robin. Com dedos trementes, Robin assinalou a maleta que havia no
chão da entrada.
—Compreendo, compreendo —murmurou Tom. Agarrou a fria mão do Robin e se a segurou
com força.
— Compreendo.
Dinheiro. Foge. Vá.

—Tranqüilo, Tom —disse Sara. Tom se aferrou a aquela voz e conseguiu voltar para a
realidade. Trêmulo, cansado e suarento, estremeceu-se ao sentir o suor gelado em suas costas.
—TURDUS é o nome latino do Robin. Era seu nome em chave —disse roucamente. Sentia-se
furioso. Não queria recordar o que tinha acontecido a seu amigo. Queria esquecer.
— O dinheiro era para mim. Para que me pusesse a salvo um tempo.
Garry lançou uma risada. Tom desejou lhe dar um murro, mas a doce voz da Sara lhe
conteve. Seus quentes braços lhe rodearam o pescoço e ele se encontrou olhando as
profundidades de seus olhos cor chocolate.
—Parece que recordaste algo. Agora te darei algo mais —Tom desejou que o ancião se
calasse e se fosse, mas este seguiu.
— Uma semana antes de morrer, recebi uma chamada de meu irmão. Supunha-se que
iríamos a Flórida pescar, como todos os anos —se interrompeu um momento com a respiração
entrecortada. Tom desejou que se calasse, porque não suportava mais, mas apertou as mãos da

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Sara e rígido como um pau se forçou a escutar ao Garry.


— O assunto é que me disse que não iria pescar, que tinha surgido algo. Naturalmente, meus
instintos de advogado cheiraram a podre, assim que lhe perguntei os detalhes. Disse-me que
estava ajudando a um amigo com um caso, que não dissesse nada. Algo que fiz. Até agora.
—Que caso? —perguntou Sara com curiosidade.
Tom desejou que não o tivesse perguntado.
—Disse que era um dos casos mais graves de corrupção em uma delegacia de polícia de
Nova Iorque. Tiras envoltos em acusações falsas. Manipulação de provas. Provas que
desapareciam misteriosamente.
—Tom é um oficial de polícia? —exclamou Sara surpreendida.
Tom se arrancou do abraço da Sara e ficou de pé abruptamente.
—Sim, parece que sou um maldito tira —disse secamente. Já bastava com aquilo.
— Lhe agradeceria que não dissesse nada mais.
Garry assentiu com a cabeça e logo advertiu:
—O passado está te alcançando rapidamente, guri. E será melhor que resolva agora ou do
contrário acabará te atropelando.
Tom se deu a volta para a Sara e esboçou um débil sorriso.
—Necessito um pouco de ar fresco. Viria-me bem um pouco de companhia.
Uma hora mais tarde Sara e Tom se achavam no alto escarpado que dava ao pequeno prado
salpicado de margaridas e ao cemitério familiar.
—Por que não fugimos? Não voltemos. Podemos seguir as vias do trem até a auto-estrada.
Podemos fazer. Ir ao Alaska? Poderíamos ser livres.
—Se fugirmos, fugiremos o resto de nossas vidas. Isso não é liberdade. Não é a vida que
quero para você, Sara. Além disso, não posso abandonar ao Garry agora. Tirou-me as algemas por
um motivo. Confiou em mim para que lhe ajude. Alguém matou a seu irmão. Eu sou quem tem
que recordar se o fiz ou não. E se não o fiz, então estava ali quando aconteceu e devo saber quem
o fez.
Sara o olhou com os olhos arrasados em ardentes lágrimas. Seu olhar se posou no prado
com as margaridas. Cada vez que fosse ali, recordaria ao Tom.
—É sua decisão —disse, apesar de odiar-se por isso, mas soube que ele necessitava que o
dissesse.
— O que você decida, eu te apoiarei. Embora não esteja de acordo com isso.
Ele tomou entre seus braços e ficaram em silêncio olhando um par de garças que passaram
voando.
—Está pronta para o que vai acontecer? —perguntou-lhe ele depois de uns momentos.
—Não. Não o estarei nunca —disse Sara com o cenho franzido.
—Terá que te preparar. O mais provável é que tenhamos que passar o resto de nossas vidas
separados. Garry sabe coisas de mim que não quero ouvir… e quero que me prometa algo… Se as
coisas saírem mal, quero que me esqueça e siga com sua vida. Não quero que me visite no cárcere
e siga atada a mim o resto de sua vida.

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—Deus, está louco? Jamais poderia te esquecer. Não me peça isso nunca. Além disso, se a
intuição de Jo é certa, não teremos que nos preocupar durante muito tempo.
Ele franziu o cenho.
—De que falas? O que sabe Jo?
—Diz que você é a chave. Se recordar o que aconteceu aquela noite. Ela pode nos ajudar.
—Está segura?
—Parece-me que não confia nas testemunhas. E pelo que vejo, Garry tampouco.
—Por que não me disse isso antes?
—Não me perguntou isso.
Tom lançou uma praga, sorriu e a beijou. Seus quentes lábios se deslizaram sedutoramente
sobre os dela até que ela teve que agarrar-se aos braços dele para evitar cair. Foi o beijo mais
explosivo que tinha experimentado em sua vida.
—Perdoem a interrupção — deram a volta de repente. Jo se achava a uns metros deles—,
mas Garry queira falar com o Tom em seguida.
Garry se achava na cadeira de rodas no alpendre dianteiro quando os três subiram as
escadas.
—Vamos ao grão —disse Garry quando se aproximaram dele—. Jo tem um encontro com
um juiz amigo dela em quem confia.
— Possivelmente o juiz possa evitar que isto saia à luz durante um tempo.
—Que rápida que é sua irmã —disse Tom, lhe lançando um divertido sorriso.
—Tenho amigos nas altas esferas, o que quer que te diga?
Sara fez a pergunta que Tom não se atreveu a perguntar.
—Estava Tom envolto na corrupção que mencionou antes?
—Não, fazia uma investigação encoberta —disse Garry com um sorriso pormenorizado.
—Isso explica o rato que atiraram pela janela da Sara —comentou Tom.
—Dá-me a sensação de que sabia que vinha para cá —disse Garry.
— Mas diz que não te reconheceu no povo porque a chuva lhe incomodava a vista?
—Não sei. Houve um segundo em que pensei que poderia ter reconhecido. Imagino que se
tivesse sido assim, me teria apressado então.
—Talvez. Ou possivelmente estava esperando que chegassem reforços.
—A nós também nos ocorreu pensá-lo, por isso estávamos em Perca escondidos procurando
pistas —disse Sara.
—Me conte mais do meu trabalho encoberto, Garry —solicitou Tom. Agora que as coisas
foram melhorando, queria saber mais sobre seu passado.
Garry sorriu, obviamente satisfeito com sua curiosidade.
—Conforme disse nosso informante a Jo, até seis anos tinha um histórico imaculado com a
Polícia de Montana.
—Até seis anos? —perguntou Tom com interesse.
— O que aconteceu para trocar meu histórico?
—Um de seus irmãos se suicidou no cárcere.

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Tom fez uma careta de dor. Tinha sido duplamente terrível. O horror de ver sua mãe
consumir-se dia atrás dia pela dor interminável do câncer tinha sido brutal e logo o horror de
inteirar-se de que seu irmão menor Steve, um jornalista de investigação tinha sido encarcerado
por posse de drogas.
Sara lhe apertou a mão com carinho e lançou um sorriso triste.
—E sua mãe…
Tom levantou uma mão para lhe silenciar.
—Já sei. Disso me lembro.
—Depois disso se converteu no que chamam um tira suicida, correndo riscos desnecessários.
Muitos de seus companheiros se negaram a trabalhar contigo porque temiam por suas próprias
vidas, assim que te deixaram trabalhar sozinho. Logo meu irmão apareceu e te propôs trabalhar
encoberto na cidade de Nova Iorque te fazendo passar por tira corrupto. Robin tinha certas
conexões que lhe permitiriam começar na mesma delegacia de polícia onde teria lugar uma
investigação sobre o chefe de polícia. Robin disse que suspeitava que o chefe era um dos que
tinham acusado a seu irmão falsamente de posse de drogas.
—O motivo era que seu irmão se negou a nomear uma fonte para uma investigação que
levava a cabo e que conectava de alguma forma ao chefe da polícia com um eminente médico que
parecia estar fazendo transplantes de órgãos ilegais em várias cidades dos Estados Unidos. Você
foi a fonte de seu irmão.
—O que?
—Você conseguiu a informação através de um de seus contatos de rua. Assim que passou o
dado a seu irmão. Parece que ele tinha uma habilidade especial para conseguir histórias
impossíveis. Inteiraram-se de que estava farejando, colocaram as drogas e se desfizeram dele
colocando-o no cárcere. Você se propôs a vingar e aceitou a oferta do Robin de trabalhar de
toupeira. Começou mantendo sua imagem de tira suicida e pouco a pouco o chefe começou a
interessar por você seriamente e começou a te utilizar. Ao tempo se converteu em sua mão
direita. Usando a delegacia de polícia como cobertura, trabalhava para o chefe a tempo total. Soa-
te algo disto?
—Não sei… lembrança vagamente algo… —deu de ombros.
— Mas tive muitos sonhos sobre comprar e vender drogas, transportar dinheiro falso, coisas
pelo estilo. Todas as coisas ilegais.
—Era seu disfarce. Obtinha que fosse convincente —lhe tranqüilizou Garry.
— O fazia por uma boa causa.
Tom sabia que Garry somente tentava que se sentisse melhor, mas não o obtinha. Quanto
mais lhe revelava Garry de seu passado, menos gostava de si mesmo. Perguntou-se se Sara tinha a
mesma sensação.
De repente, chamaram o telefone do Jo e ela deu um salto com os olhos brilhantes de
excitação.
—Agarro-o dentro. Alguém mais quer café e donuts?
Todos disseram que não.

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Tom esperou que Jo estivesse dentro antes de perguntar:


—Há dito que faz seis anos eu me converti em tira suicida e que um ano mais tarde comecei
a trabalhar encoberto. Ou seja que levo investigando a um homem cinco anos e não tirei nada a
limpo? Ou este cara é muito bom ou havia algo mais. Suponho que será o último?
—Começou investigando ao chefe, mas seguiu encontrando mais e mais tiras corruptos.
Robin e nossa fonte pensaram que devia seguir encoberto até que encontrasse suficiente
evidencia sobre cada uma das maçãs podres.
Tom franziu o cenho. Robin e a fonte o tinham pensado? Teriam perguntado a ele o que
opinava daquela cruzada? Por que começavam a crescer de repente as sensações de desgosto por
esse trabalho?
—Quem é a fonte?
—Essa fonte guiava a casos duvidosos através de pistas anônimas.
—Pistas anônimas? —perguntou Sara antes que Tom pudesse fazê-lo.
—Exato —respondeu Garry. Dirigiu-se a Tom, é o estranho deste caso. Robin me disse que
você recebia pistas anônimas de duas fontes. Um era um homem, a outra uma mulher.
Encontramos à mulher. Reconheceu que era seu informante e disse a Jo tudo o que você estava
fazendo. Também disse a Jo que de nenhuma forma podia ser você responsável por matar a meu
irmão. Nunca te conheceu pessoalmente, mas Robin tinha grande estima. Parece que se fizeram
muito amigos. Quando chegamos aqui e lhe vimos te dirigir ao celeiro tínhamos que seguir
tomando cuidado. Não tínhamos forma de saber se te tinha deixado comprar ou não. Outro
motivo pelo que será melhor que recupere a memória.
—Falou com essa mulher? —perguntou Tom excitado.
—Em realidade, Jo falou com ela em pessoa. Uma morena bonita. Mas deseja manter-se
anônima. Assim que ela só falou com Jo. Conforme parece, esta mulher é importante.
—Por que o diz, Garry? —atravessou Sara.
—Quando fomos reunimos com ela no lugar que tínhamos convencionado anteriormente,
rodearam-nos guardas armados. Tinha um sistema de segurança incrível. Digo-te que me
impressionou.
Pelo aumento do palpitar de sua cabeça, Tom se deu conta de que se estava aventurando
em território perigoso ao fazer mais perguntas, mas precisava sabê-lo.
—O que disse? Alguma idéia de por que quer permanecer anônima? Por que tão secreto?
—Como já disse, Jo não revelou a identidade da mulher. Se o fizesse, arruinaria sua
reputação e ninguém voltaria a confiar nela, compreende?
Tom assentiu com a cabeça.
—Só posso adivinhar quem é a mulher e como te disse, estava rodeada de medidas de
segurança. Terá acesso a temas de governo importantes. Jo deu com ela depois de tocar a um
montão de gente. Deram-lhe um número de Washington junto com o nome TURDUS. Parece que
Robin e você estavam trabalhando para ela.
—Com o que nos teremos topado? —perguntou-se Tom em alto.
—Perguntávamo-nos o mesmo —disse Garry.

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— Parece que possivelmente nunca nos inteiremos agora. Mas a mulher mencionou um par
de casos que estava investigando.
—Segue —disse Tom com curiosidade.
—Um é um caso que tem cinco anos. Uma jogada a rede em um lugar de venda de crack.
Confiscou-se um grande contrabando de heroína, que chegaria a milhões de dólares na rua. A
droga foi sob custódia da policial para que a destruísse . Mas procurando nos arquivos policiais,
encontrou algo interessante. Não havia nenhum registro de que os armazéns da polícia
recebessem um contrabando de droga.
—Mas, como? Uma batida assim tem que ter saído nos jornais. Ninguém pode ir assim pelas
boas e levar as drogas —disse Sara.
Algo lhe fez clique.
—Foi informação confidencial de dentro, alguém com autoridade. Não havia testemunhas.
Os três traficantes tinham morrido na jogada da rede, de modo que não haveria julgamento. Não
se necessitava evidência. Que preparados.
—Então, recorda? —disse Garry esperançado.
—Quando me diz isso você. Parece que só não me sai. Qual é o resultado deste caso
recente?
—Não havia dito que era recente, vê que recorda mais? —sorriu-lhe Garry alentadoramente.
Tom assentiu. Não sabia se estava contente ou preocupado. Pela expressão do rosto de Sara,
ela se sentia o segundo.
—Faz poucas semanas —prosseguiu Garry—, fez-se outra jogada a rede em um navio que
estava a ponto de abandonar o porto de Nova Iorque. Um golpe contra um conhecido traficante
de armas. A polícia confiscou mais de uma tonelada de armas. Tinham de tudo, pelo que quisesse.
Novamente, no navio não havia virtualmente ninguém, exceto um homem. Supostamente, o
conhecido traficante Scout McMaster morreu na batida. Logo, outra vez não houve julgamento.
Não havia registro de armas. Mesmo cenário que o caso de cinco anos.
—Supostamente morreu? —disse Sara.
—Digo supostamente porque parece ser que foi o mesmo traficante que lhe deu a dica ao
tira de seu carregamento. Já lhes tinha vendido as armas aos iranianos. Tinha o dinheiro no bolso.
—Má sorte para os iranianos.
—Muitas vezes há má sorte. Só basta que falta uma conexão para que se armasse tudo. O
dinheiro que circula muito rápido sempre traz problemas —disse Tom.
Garry assentiu antes de continuar.
—Segundo se diz, um policial de alta fila de sua delegacia de polícia simulou a morte do
traficante. O chouriço delatou ao tira por uma quantidade que não se mencionou. Robin disse que
estava tentando averiguar se havia algo de verdade nisso.
Tom não recordou nada. Somente sentiu um irritante palpitar em suas têmporas.
—Sinto muito, estou em branco. Dê-me o nome do tira.
—Chamam-lhe Whitey. É o chefe de polícia que está investigando. E há algo que deveria
saber antes que prossiga. Sua filha é sua esposa.

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—Esposa? —exclamou Sara afogando-se.


—Casou-te com ela o mês passado. É a detetive de homicídios em sua delegacia de polícia. É
a outra testemunha que te viu matar a meu irmão. Robin disse que as bodas tiveram lugar rápido
e inesperadamente. Diz que ambos agarraram o avião para Las Vegas um fim de semana. Parece
ser que te embebedou e que não podia recordar haver casado. É evidente que meu irmão estava
muito surpreso por isso e conforme parece você também. Digo conforme parece porque não
temos forma de saber se estava mentindo ao Robin. Possivelmente casou com essa mulher porque
a amava de verdade e queria ter acesso ao dinheiro de seu pai. Compreende por que reagimos da
forma em que o fizemos quando lhe vimos pela primeira vez?
A história de que se casou pareceu ao Tom incrível. Um pesadelo. E pela expressão do rosto
de Sara, a ela também.
—Garry, posso falar contigo? —perguntou Jo da porta.
—Em seguida vou. Sinto muito, mas tinha que lhes dizer o das bodas. Os deixo só —lançou
ao Tom o que parecia um sorriso tranqüilizador que não tranqüilizou ao Tom absolutamente.
Garry dizia que estava casado com uma mulher que nem sequer recordava. Sentia que seu
mundo se fez pedacinhos.

Capitulo 16

Sara e Tom permaneceram em silencio um comprido momento depois que Garry partiu.
Finalmente Tom dirigiu seu olhar doído a Sara.
—Não sabia que estava casado —disse.
Sara assentiu tentava controlar as lágrimas. Tom estava casado. Um de seus piores
pesadelos se fez realidade. Embora saíssem daquele atoleiro, estava casado. Deixaria-a pela outra
mulher.
Doía um montão.
—Sinto-o —disse ele e os ombros lhe afundaram, vencido.
Ela alargou a mão.
—Não se sinta culpado. Os dois somos adultos. Sabíamos o que fazíamos. Sem ataduras,
recorda?
Ele assentiu com a cabeça solenemente.
Ela não queria correr o risco de apaixonar-se novamente e agora sabia por que. Merda.
Tinha o coração quebrado de novo.
—Tanto se estou casado como se não, Sara, é uma pessoa muito especial para mim. Muito
especial —seu sussurro chegou a ela ao coração. Estreitou-a entre seus fortes braços.
— Te amo. Amo-te mais que à vida.
—Acredito —disse ela afundando o rosto no quente pescoço masculino.
— Eu acredito de verdade. Fui feliz durante um tempo. Quase tinha esquecido de como era.

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Por isso, muito obrigado.


Ele a abraçou com força. Quando olhou aos olhos, viu que os tinha cheios de lágrimas.
Dolorosas lágrimas do que tinham compartilhado e o que poderia ter sido.
Permaneceram assim muito tempo. Nenhum dos dois queria separar-se.
Interrompeu-lhes o chiar da porta mosquiteiro e o pigarrear do Garry. Tom e Sara se
separaram lentamente.
—Perdoem —resmungou Garry incômodo.
— Não temos muito tempo. Temos que partir novamente. Sara, me traga as provas. Tudo,
inclusive o revólver com o que chegou. Preciso falar com o Tom.
Tom soltou a mão de Sara, hesitante, e ela finalmente partiu a procurar as provas lhe
lançando um profundo olhar.
—O que vamos fazer? —perguntou Tom quando ela já não podia os ouvir.
—Estive pensando. Mudança de planos. Quero que fique aqui com Sara. Mantenha-se bem
escondido. Fica em uma das cabanas se tiver que fazê-lo. Não saia fora. Que não lhe vejam. Não
acenda a luz de noite. Já sabe a rotina.
—Sara tem que ir com vocês. Não quero que ela corra perigo.
Garry continuou como se não lhe tivesse ouvido.
—Quero que mantenhamos isto em silêncio todo o tempo que possamos. Levaria-te a uma
casa segura, mas não tenho em quem confiar. Não posso correr o risco de que alguém te
reconheça. É questão de tempo que seu rosto esteja nos computadores dos tira e na imprensa.
Whitey terá bons contatos para que a notícia não se filtre. Suponho que nós saímos ganhando
com isso. Bom, o tema é que quero que fique aqui. Merda, é arriscado te pedir que fique aqui,
mas necessito de você perto de um telefone. Possivelmente precise me pôr em contato contigo.
Tom tentou assimilar toda aquela informação. Parecia que Garry acreditava em sua
inocência. O alívio era muito para suportar.
Garry continuou rápida e eficientemente.
—E Jo tem um encontro com a balística esta noite. Espero que eles encontrem algo. Além
disso, tenho que encontrar a alguém de confiança para que recupere o corpo do Blake e Jo tem
que falar com o juiz para que ponham amparo. E quero que siga tentando recordar o que
aconteceu. Confio em você. Não me falte.
Tom sorriu, inquieto. Tinha um nó na garganta.
—Tentarei não fazê-lo.
—Não o tente! Fá-lo! —exigiu Garry secamente.
Sara voltou e entregou ao Garry o saco de papel com todas as provas. Logo estreitou com
sua mão a do Tom, lhe fazendo sentir muito melhor.
Olharam ao Garry colocar um par de luvas de borracha e começar a pôr a evidência em
bolsinhas transparentes que tirou de uma caixa que tinha no colo. Parecia que tinha vindo bem
preparado.
De repente, uma nota se meteu em uma bolsinha e algo encaixou.
—A nota, Garry, a nota! —exclamou, excitado.

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— Vê essa mancha de tinta? Como posso me haver esquecido? Haviam duas cifras que
apagou da chuva! O vinte e oito.
—Vinte e oito? —disse Garry, encolhendo-se de ombros. E de repente, seus olhos se
iluminaram e lançou um chiado de alegria.
Tom e Sara deram um salto por lhe ouvir. Em questão de segundos, Jo saiu pela porta com a
pistola na mão e os olhos cor azul grandes como pratos.
Depois de avaliar a situação, voltou a colocar a arma na capa de sua axila.
—Pode-se saber o que acontece? —disse com um sorriso envergonhado.
—Parece que Tom resolveu o caso —riu Garry.
—Então, os números têm algum significado?
—Quando Robin e eu estávamos na academia de polícia, compartilhávamos um armário. A
número vinte e oito. A academia leva anos abandonada. Ali deve estar toda a evidência. Mas a
chave? Onde está a chave? —agarrou as chaves do Tom e as revisou.
— Aqui não está, merda — logo Garry se revolveu excitado em sua cadeira de rodas.—
Possivelmente ainda tenha a minha. Quer ir ver o porão, Jo? Está em meu armário, no fundo em
uma caixinha vermelha.
Jo assentiu com a cabeça e partiu.
—Sara, vem conosco.
—Um momento! Com vocês? E Tom?
—Fica aqui, sozinho.
Dirigiu ao Tom um olhar confuso e logo se deu conta.
—Eu fico aqui com ele.
—Sinto muito, Sara, é muito perigoso para você.
—Então, também é muito perigoso para ele!
—Está bem, Sara, estarei bem aqui. Quero que esteja a salvo com o Garry e Jo —disse Tom
ao ver o gesto obcecado dela.
—Ficam ambos, então. Se Justin se deu conta de quem é, já teria tentado algo. Enviarei a Jo
de volta o antes possível. Possivelmente esta mesma noite, mais tarde, mas o provável é que seja
amanhã pela manhã.
—Encontrei-a! —interrompeu Jo excitada subindo pelas escadas e sacudindo uma velha
chave oxidada.
—Excelente, Jo. Sara e Tom ficam. Nós iremos ver o que há nesse armário. Já te contarei no
carro. Vamos.

Uma expressão de surpresa se refletiu no rosto de Jo, seguida de um sorriso trêmulo.


Rapidamente estreitou a Sara entre seus braços e lhe deu um sonoro beijo.
—Te cuide, Sara. E cuida-a, vale? —piscou os olhos ao Tom, logo tirou a arma de sua capa e
a deu. Era o maior elogio que Jo podia fazer.
—Toma. Nunca sabe quando a pode necessitar.
Ele aceitou o revólver com gratidão. Sentiu-se mais em controle com ele na mão.

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—Obrigado —lhe disse.


—Vêem aqui, Sara —disse Garry. Sara se inclinou e Garry lhe deu um abraço de urso. Logo
estendeu sua mão ao Tom e a estreitou.
— Cuida-a. E se cuidem as costas —advertiu novamente, baixando com a cadeira a rampa de
madeira para o Mustang cor cereja, a bolsa com as provas segura em seu colo.
Jo lhe seguiu apressada.

Olharam através dos binóculos o carro vermelho que se afastava pelo caminho de terra.
Duas figuras, a de uma mulher e a de um homem, ficaram no estacionamento saudando o carro
que desaparecia rapidamente. A mulher se deu a volta e entrou na casa, deixando ao homem
sozinho.
—É —lhe sussurrou ela a seu acompanhante.
—Você disse que o era —lhe deu uma imersão ao cigarro.
— Já é hora de que comecemos a atuar. Quão único estivemos fazendo é esperar que ele
recorde. Por isso sabemos, deu a esses dois a mercadoria e agora eles se dirigem ao povo para
entregá-la.
A loira deixou cair os binóculos no assento do conversível e ficou pensativa. Seus olhos
nunca se separaram da solitária figura. O ódio ardia em seus olhos azuis.
—Se tivesse entregue a mercadoria, ele também iria com eles. Não —meneou a cabeça
lentamente.
— Não recuperou a memória. Mas nos levará a ela, logo. Enquanto isso, vou acelerar um
pouco o processo de recuperar a memória. Fique aqui.
—Mas Paulina…
—Se cale. Sei o que faço. Já voltarei por você. E apaga esse estúpido charuto, quer? —o
comprido cabelo loiro lhe flutuou por detrás como o véu de uma noiva quando se deu a volta
abruptamente.
Saltou dentro do carro que tinham escondido dentro dos arbustos próximos, ouviu o som ao
arrancar o motor. Em um segundo o carro desapareceu detrás de umas árvores.
Ele fez o que lhe havia dito e atirou a bituca ao chão e a pisou, resmungando um pouco
zangado.
—Espero que a puta de minha irmãzinha saiba o que faz, porque se pai se inteira que
deixamos escapar a duas testemunhas potenciais, dará-nos ponta pés no traseiro. Por outro lado,
haverá menos concorrência para mim com a Sara uma vez que tiremos a este cara do meio —
disse, acendendo um novo cigarro.
Tom ficou olhando as luzes vermelhas do Mustang de Jo desaparecer. Oxalá Garry
encontrasse as provas e a balística pudesse identificar os projéteis e conectá-los com o Jeffries.
Inclusive então, teriam que demonstrar que o revólver com o que se apresentou pertencia ao
Sam. Além disso tinha a preocupação do assassinato do Robin. E suas bodas com uma mulher a
quem nem sequer recordava.
Teve a inquietante sensação de que alguém lhe observava. Entrecerrando os olhos para

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protegê-los do sol, observou o bosque que se ia obscurecendo mas não pôde ver nada, só os
pássaros que se moviam entre os ramos.

Lentamente subiu ao alpendre e ouviu Sara lavando os pratos antes que se fizesse de noite.
Ela tentava atuar da forma mais normal possível, simulando que não acontecia nada fora do
normal. Deus a benzesse por isso.
—Sara! —chamou-a.
— Vêem, olhe que pôr-do-sol.
Ouviu-se o repicar de seus saltos no chão de madeira e quando ela chegou a seu lado,
sentiu-se completo de novo.
A brisa do entardecer produziu frio a Sara, fazendo-a estremecer-se. Tom lhe rodeou a
cintura com os braços e a apertou contra seu lado.
Em silêncio olharam as nuvens coloridas. Era uma vista preciosa, reconheceu Sara. Desejou
poder capturá-la no tecido. As rosas, turquesas, e lavandas passavam no céu cor lilás. Mas
rapidamente o fantástico pôr-do-sol se desvaneceu.
—Bonito, verdade? —perguntou Tom.
Sara assentiu com a cabeça.
—Quer entrar?
—Não —disse Sara.
— Fiquemos fora um pouquinho mais.
Ele ficou detrás dela. Abraçou-a e ela se fundiu contra ele, aceitando o calor que dava o
corpo dele, o pacote que lhe apoiava intimamente contra o traseiro.
O céu se obscureceu e os últimos retalhos de cor rosa desapareceram na escuridão
aveludada.
De repente, Sara exclamou encantada quando o que estava esperando atravessou a
escuridão. Tom assinalou emocionado ante o espetáculo.
—Vê-o? Vai! —ouviu-se sua voz exclamando como a de um menino que vê sua primeira
centelha.
—Rápido, pede um desejo! —gritou Sara e fechando os olhos, pediu o seu.
—Já o pedi, Sara —sussurrou com voz rouca.
De repente, os faróis de um carro atravessaram a escuridão.
—O tira? —murmurou ela, puxando dele para que se metesse dentro.
—Não, os tiras não viriam sozinhos. Parece uma mulher —respondeu ele secamente ao ver o
caro carro escuro que entrava no estacionamento.
Ela não reconheceu o carro, mas havia uma mulher atrás do volante. Quando deteve o carro,
a porta se abriu lentamente e uma loira magra de aspecto sexy desceu do veículo.
—Certamente não viu o pôster de "fechado" —disse Sara aliviada, baixando as escadas e
dirigindo-se ao carro desconhecido. Tom a seguiu com expressão preocupada.
—Olá —a voz suave da mulher ia dirigida obviamente ao Tom.
Sara ficou em guarda. Instantaneamente não gostou daquela alta loira explosiva. Não gostou

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da forma em que olhava ao Tom, com aquela expressão doce e inocente. Não gostou nem um
pouco.
—Perdi-me. Poderiam-me indicar como chegar ao rancho Jonson? —sussurrou a mulher
sedutoramente. Sua pergunta se dirigia ao Tom.
Sara franziu o cenho. A inquietação que lhe causava a loira foi em aumento. Tinha uma coisa
conhecida. Algo familiar, mas não a tinha visto nunca.
—Perdeste-te a sério, então —replicou rapidamente aproximando-se à mulher, que
imediatamente retrocedeu, apartando-se do Tom.
— O rancho Jonson está a uma meia hora para o oeste. Quando chegar à estrada
pavimentada, gira à esquerda. Trinta minutos à máxima velocidade, verá um pôster grande à
direita.
A mulher deu uma olhada furioso a Sara.
Sara a devolveu. Aquela loira tinha algo de perigoso e não gostou absolutamente daquela
sensação. Apesar do inocente sorriso da recém chegada, sentiu uma intranqüilidade que lhe
penetrava sob a pele. De repente, desejou que aquela mulher partisse.
—Será melhor que te dê pressa, céu, antes que se faça muito tarde. O bosque dá um pouco
de medo e nunca se sabe. Se tiver um problema com o carro, é uma caminhada muito longa de
noite, porque as casas são poucas e estão muito separadas.
A mulher sorriu friamente.
—Bem, muito obrigado pela informação —respondeu.
— E por sua hospitalidade. Será melhor que eu parta.
Ante a surpresa de Sara, a mulher lançou um beijo ao Tom e rapidamente se meteu no
carro. Com um chiado de rodas, afastou-se, levantando uma nuvem de pó que esteve a ponto de
envolver aos dois.
—Que cara, tia! —exclamou Sara, olhando as luzes vermelhas que se afastavam.
Por que flertaria tão abertamente a mulher com ele? Conhecia-a?
Antes que pudesse lhe perguntar, o olhar de preocupação dele a paralisou. Ele levantou uma
mão trêmula para secar o suor que cobria a frente. Que caralho lhe passava? Tinha o rosto branco
como um papel.
—Conhece essa puta? —exigiu, furiosa.
—Não, não sei, não estou seguro —sussurrou ele, com a frente franzida.
—Pois, não sei como não pode recordar se conhece alguém assim —se deu conta que
passou da raia.
— Eu sinto, não foi minha intenção.
—Tem razão, Sara. Deveria recordar a alguém como ela se a tivesse conhecido.
Ela se deu a volta para enfrentá-lo.
—Bode! —exclamou, ao ver o brilho malicioso dos olhos dele.
Ele a agarrou da mão e a estreitou contra seu quente peito e pressionou seus quadris contra
ela para que sentisse seu pau ardente.
—Está ciumenta? —sussurrou-lhe ao ouvido em som de brincadeira.

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—Nem penso responder a essa pergunta —disse e, apartando o de si, deu-se a volta e se
afastou furiosa pelo alpendre.
Ao subir as escadas, sentiu a mão dele sobre seu braço e uma labareda de desejo lhe
acendeu a boceta.
—Sara, doçura, reconhece que está ciumenta —disse de forma sedutora.
Ela se deu a volta lentamente e o sorriso credo dele a pôs furiosa.
—Jamais estive ciumenta em minha vida e não vou começar agora.
—Pois me parece que está.
—Bode —sussurrou ela, e sorriu.
— Tem razão, estou ciumenta e foi uma tolice que a tratasse dessa forma.
—A verdade que sim —disse ele antes de lhe dar um beijo apaixonado.
Sara aceitou sua doce língua faminta jogando contra seus dentes e se abriu a ele. Fantásticos
golpes de eletricidade lhe afrouxaram os joelhos. Quando ele rompeu o beijo, ela estava
totalmente sem fôlego.
Um momento mais tarde, levantou-a sem esforço em seus braços.
—E os pratos? —sussurrou ela roucamente.
—Te esqueça dos pratos —murmurou ele e subiu as escadas de dois em dois.

Depois de fazer amor ficaram abraçados um momento. Sara tinha muitas coisas que
precisava dizer.
—Tom, está acordado?
—Mmm? —disse ele, com voz de sono.
—Quando fomos a cidade o outro dia, fui visitar uma amiga minha —esperou a que ele
absorvesse a informação.
— É psiquiatra —ficou em silêncio esperando que Tom dissesse algo, mas ele não reagiu,
assim prosseguiu—. Perguntei-lhe o que sabia da amnésia.
—E o que te disse?
—Que a amnésia podia ser causada por diferentes motivos. Um golpe na cabeça ou uma
experiência traumática. Que a memória podia voltar por partes ou de repente. Ou que podia ser
desencadeada por algo.
Tom se incorporou sobre o cotovelo e apoiou a cabeça na mão, voltando-se para ela.
—Como comecei a recordar coisas quando vi Perca. Encontrei as chaves e a moto, e recordei
o que tinha acontecido no porão da cabana. E sei que o que procuram esses tiras está em algum
lugar de Perca, do mesmo modo que sei que o motivo pelo que não fiquei na Estalagem
Peppermint Creek a primeira vez foi porque temia te causar problemas se me agarravam aqui.
—Não pode recordar quem te falou de Perca?
Tom meneou a cabeça.
—Lembro quando a buscava, mas não sei como me inteirei de sua existência.
—E se já encontraram o que procuravam na cabana? Refiro-me a que a destroçaram bem
destroçadinha.

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—Não estava na casa —disse Tom.


— Tenho uma sensação muito clara de que está em um lugar seguro —baixou a voz a um
sussurro carinhoso.
— Oxalá tivesse partido com o Garry e sua irmã a um lugar seguro.
—Quando estou em seus braços me sinto segura —murmurou ela.
— E antes que me esqueça, há outra coisa que preciso te dizer.
—O que? —disse ele roucamente, abraçando-a.
—Smokey disse que possivelmente não me recorde quando recuperar a memória.
—Não te esquecerei nunca —disse, depositando um beijo na cabeça.
— Já recuperei algumas lembranças e não te esqueci, não?
Ela assentiu com a cabeça, aliviada.
Sim, estava recordando seu passado e seguia recordando a ela. Não lhe ia perder. Ao menos
não por isso.

Capitulo 17

Uma brisa fresca outonal soprou no rosto de Matthew McCullen, que se sentava no assento
da colheitadeira vermelha brilhante olhando maravilhado o suave campo de ouro cheio de grão
amadurecido que lhe esperava.
Deu um salto quando seu pai lhe gritou que começasse de uma vez. Hesitante, ligou o motor
da colheitadeira e lentamente a fez avançar, metendo-se nos ricos campos de gordas espigas
douradas. Dava pena as cortar, mas era a época da colheita.
E para ouvir o familiar sussurrou do grão que caía na caixa traseira, não necessitou que lhe
dissessem que aquela era uma colheita recorde. Seus pais tinham estado tensos todo o verão,
esperando aquela colheita, tentando não iludir-se. O tempo tinha cooperado. Agora estava
cortando o último lote, que poria o dinheiro sobre a mesa, que lhe permitiria partir à cidade o ano
próximo.
Tinham-lhe aceito na academia de polícia. Seus pais estavam orgulhosos dele, ao mesmo
tempo tristes de ver partir a seu filho mais velho. Mas ele queria uma vida de aventuras. Desejava
ver a grande cidade. Ajudar às pessoas. O que outra forma de consegui-lo que ser tira?
A academia de polícia de Billings lhe esperava. Partir não lhe produzia muita culpabilidade, já
que seus dois irmãos menores estavam ainda em casa para ajudar. Matt lançou um uivo de
felicidade e conduziu reto aos ondulantes prados de ouro.

Sara chorava de dor horas mais tarde na cinza luz do amanhecer enquanto escutava
acordada a respiração do Tom.
Não queria lhe perder. Não queria nem sequer pensar nisso. Possivelmente pudesse lhe
persuadir ainda que fugissem. Podia-o despertar e partir agora mesmo. Desaparecer como

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desaparece muita gente, sem deixar rastro.


Pela janela semi aberta se filtrou um rangido junto com as cigarras e o coaxar das rãs.
Instantaneamente se sentou na cama, alerta.
Tom ficou de barriga para cima resmungando algo, mas seguiu dormindo. Sara ficou
escutando um momento que lhe pareceu longo, mas não ouviu nada mais. Seria o balanço do
alpendre?
Um relâmpago iluminou o céu.
De repente, uma sombra passou junto à janela. Tão rápido que ela pensou que a tinha
imaginado. Paralisada pelo súbito temor que lhe atendia a garganta, ficou quieta escutando.
Ouviu o inconfundível chiado da porta da cozinha girando em suas dobradiças oxidadas.
Seriam os tiras? Lançou um olhar de susto ao Tom, que se moveu inquieto na cama. Garry
havia dito que Jo possivelmente voltasse pela manhã cedo. Sara olhou o relógio sobre a mesinha.
Eram as seis em ponto.
Seguro que era Jo. Possivelmente trazia boas notícias.
Lentamente, para não despertar ao Tom, saiu da cama e colocou o moletom. Agarrou o
revólver da Jo da mesinha com mãos trêmulas.
Por precaução, disse-se.
Lançando outro olhar rápido ao Tom, optou por deixar dormir. Se Jo tinha más notícias,
podiam esperar para receber.
Ao sair do dormitório, Sara se certificou de que a porta traseira estivesse fechada com chave.
Estava-o.

O corredor estava semi escuro quando começou a andar por ele e uma sensação de
incerteza a invadiu ao atravessar a porta entreaberta que levava aos dormitórios de cima.
Possivelmente devesse voltar e despertar ao Tom. Se tivesse sido Jo, já teria entrado.
Ao dar a volta, viu a sombra sair do corredor, justamente por onde se dirigia ela. Rogou por
um instante que fosse Jo, mas o brilho de cabelo branco lhe indicou que não era assim.
O coração lhe deu um tombo, lhe acelerando o pulso. Um grito lhe afogou na garganta ao
ver o brilho de um revólver na mão do homem. E apontava diretamente à cabeça.
Ficou totalmente paralisada. Que imbecil não haver deixado o revólver ao Tom! Tinha-lhe
deixado desarmado.
—O que quer? —exclamou, tentando que a voz refletisse raiva, não medo.
Um muito breve sorriso se refletiu nos lábios do homem que inclinou a cabeça, resultando
subitamente familiar a Sara.
—Onde está? —disse-lhe com voz seca. Uma voz forte e confiada que era muito difícil de
ignorar.
—Será melhor que parta de minha propriedade antes que chame à polícia.
—Não há necessidade disso, senhorita —disse o homem, arrastando as palavras.
— Já estou aqui.
Sara ficou tensa quando a mão do homem se deslizou lentamente dentro de sua jaqueta e

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tirou uma placa. O coração lhe repicou no peito enquanto tentava ler o que punha à luz do
amanhecer.
Chefe Jeffries da Polícia de Nova Iorque.
Antes que Sara pudesse pensar em uma resposta, ouviu o som de uma pegada detrás dela
que provinha da porta dianteira. Teria despertado Tom? Teria saído pela janela e agora estava
entrando pela porta dianteira para ver com quem falava?
Teria ouvido o ruído o homem de cabelo branco também?
Sara acreditava que não.
—Por que não baixa a arma e eu faço o mesmo? —disse-lhe.
O estalo inconfundível ao lhe tirar o seguro à arma fez que um calafrio percorresse as costas
de Sara. Sentiu que o corpo começava a tremer de cima abaixo quando cheirou o aroma adocicado
da loira que tinha ido antes no carro.
De repente, deu-se conta de por que o homem lhe resultava familiar. Era igual à loira
explosiva.
Merda!
—Deixa cair a arma, neném —lhe ordenou a mulher secamente.
Com o olhar fixo no homem de cabelo branco, Sara replicou:
—Se disparas, levo ele comigo.
—Adiante —disse a outra com frieza—, eu seguirei viva para acabar o trabalho.
Diabos, o que fazer! Se lhe entregava a arma, matariam ao Tom. E se não a dava, matariam-
na. Mas ao menos daria uma oportunidade ao Tom.
—Então, prepare-se a morrer, homem —disse Sara, apertando a arma.
—Está em sua habitação, verdade? —disse a mulher em um sussurro .
O medo paralisou as pernas da Sara e se sentiu desmaiar. Apoiou-se contra o balcão e o
revólver que sustentava se sacudiu.
—Irei dar uma olhada —disse a loira, rindo.
Quando Sara se deu a volta e apontou com o revólver, ela partiu.

O penetrante aroma de ferrugem misturada com o do vinho barato assaltou ao entrar no


beco perto da esquina da Primeira com Maine. O beco estava cheio de lixo. Até havia uma velha
árvore de Natal seca.
Matt sorriu para si. Parecia-se com a árvore que tinha comprado para decorar seu
apartamento e alegrá-lo um pouco, mas não lhe tinha servido de consolo.
Toda sua família se dispersou. Sua mãe tinha morrido. Steve morto. A esposa do Steve, Emily
trabalhava em um farol. Seu pai e Daniel estavam no México, fazendo uma escavação
arqueológica ou algo pelo estilo. E ele se encontrava sozinho naquela cidade, sentindo-se
deprimido.
Bom, não exatamente sozinho. Tinha sua suposta esposa lhe perseguindo todo o tempo. Mas
resolveria aquele problema quanto antes. E tinha ao Robin. Robin, tão bom e confiável. Seu
psiquiatra, confidente e mentor.

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Matt deslizou entre os pneus velhos que se empilhavam contra a parede do edifício de seis
andares. Tomando cuidado de não roçar a câmera na parede, avançou silenciosamente sobre as
agulhas abandonadas por drogados e deteve-se abruptamente para ouvir umas vozes abafadas. A
adrenalina lhe correu pelas veias e acelerou o passo. Seria melhor que não começassem sem ele.
Levava anos trabalhando para chegar ao ponto em que o Chefe Whitey Jeffries e sua filha Pauline
lhe confiassem suas vidas e a segurança da reunião secreta desta noite.
Que lhe permitissem circular pela zona da reunião livremente sem que o seguissem ou
brincassem para ver se tinha armas ou cabos era suficiente prova de que Whitey confiava nele.
Ligando a videocâmara, rápida e silenciosamente se deslizou entre o lixo, detendo-se somente
quando chegou ao final do beco. Este dava a um pequeno prado iluminado pela lua no que se via
perfeitamente um trio a um lado. Uma mulher alta e dois homens.
Também havia dois corpulentos guarda-costas que esperavam pacientemente nas sombras
atrás do trio enquanto Matt supostamente se certificava de que não houvesse ninguém suspeito.
Parecia que a reunião não tinha começado, felizmente. Bem. Se tudo saía conforme o planejado,
esta noite seria quão última teria que fazer este fodido trabalho.
Mantendo-se nas sombras e fora da vista de outros, rapidamente montou a câmara no tripé
e a pôs em marcha. Quando acabou, entrou com naturalidade no pequeno prado e se dirigiu ao
trio.
—Não há nada? —perguntou-lhe seu chefe com curiosidade quando lhe viu aproximar-se.
—Olhei todas as curvas. Estamos totalmente sozinhos.
O chefe sorriu agradecido e se esfregou as mãos.
—Comecemos, então —tirou um magro envelope branco e o deu ao Scout McMaster.
Ao Matt resultava difícil aceitar que o conhecido traficante de armas Scout McMaster
estivesse vivo. Quase tinha desmaiado pela surpresa quando o homem tinha aparecido na reunião
minutos antes que Matt se afastasse a fazer sua suposta ronda de segurança fazia um momento.
Scout tinha morrido pouco tempo atrás em uma batida.
Ele mesmo lhe tinha visto morrer. Tinha visto o sangue estender-se pelo peito antes que
caísse por cima do corrimão do navio. Nunca tinham encontrado o corpo, mas lhe tinham dado por
morto. Ninguém que perdesse semelhante quantidade de sangue poderia ter sobrevivido. E
entretanto, ali estava. Teria que tirar o tema de como havia feito para sair daquilo com vida sem
que resultasse muito óbvio.
Scout lançou uma risada afogada ao ver o envelope. Assobiou feliz.
—É o recibo do depósito de banco —disse Pauline docemente enquanto se aferrava ao Matt
com sua mão enluvada e apertava seu corpo sedutoramente contra o dele. Matt tentou não ficar
tenso ante aquelas manifestações. Não queria que ela suspeitasse de nada. Depois de tudo, já não
eram casal, embora ainda não tinha encontrado o momento de dizer-lhe Ainda precisava utilizá-la
para o caso.
—Sua parte da venda das armas de seu navio. O dinheiro está nas ilhas Caimán , como
indicou. Dividido em três partes.
—O que vais fazer com seus milhões, Scout? –perguntou Matt com naturalidade. Scout

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dirigiu ao Matt um sorriso agradável. Não tinha nem idéia de que à manhã seguinte Matt delataria
a ele e a todos outros. Seus trambiques chegariam a seu fim.
—Comprei uma formosa ilha nas Caimán. Vou retirar-me a dormir a sesta. Quer vir com sua
esposa?
—É um convite muito tentador, Scout —disse Pauline sorrindo docemente. Inclinou-se e deu
ao Scout um inocente beijo na bochecha, mas Matthew se deu conta de que o fazia para lhe pôr
ciumento. Levava um mês tentando que ele consumasse suas apressada bodas, mas ele
permanecia distante e furioso com ela. Não tinha gostado nada que colocassem droga na bebida e
levantar-se com uma aliança de bodas no dedo.
—Aceito a oferta, Scout —riu.
— Tendo em conta que não tivemos lua de mel ainda.
Pauline lançou um alarido de alegria, apertando-se ainda mais contra Matt.
—Venham quando quiser, Matty. O chefe sabe onde —disse Scout, alargando a mão para
estreitar-lhe ao Matt.
— Como certo, parabéns pelas bodas. Pauline é um bom partido.
Scout lançou um sorriso a ela e Matt viu que lhe respondia com uma careta. Tinha ouvido
rumores de que Scout e Pauline tinham estado juntos no passado, mas lhe dava igual. Queria que
se acabasse aquela reunião de uma vez por todas.
—Foi um prazer fazer negócios contigo, Scout —atravessou o Chefe Jeffries—, um verdadeiro
gosto. Se necessitar mais ajuda no futuro, não duvide em contatar com o Departamento de Polícia
de Nova Iorque.
—Terei-o em conta. Mas recorda, de momento estou morto. Obrigado por te ocupar desse
aspecto, Whitey. Se não tivesse eleito um por um os homens que participaram da batida,
realmente estaria morto.
Matt lutou corajosamente por conter a excitação que lhe produziu a inesperada confissão do
Scout, algo que serviria para o julgamento quando Matt apresentar-se cargos contra aqueles três.
Aquilo era muito bom para ser verdade.
—Quando tiver meu novo rosto e identidade, porei-me em contato para que possamos
prosseguir com nossa lucrativa sociedade —se girou para Pauline, esboçando um sorriso cúmplice.
—foi um verdadeiro prazer.
Pauline assentiu com a cabeça, e a careta de seu bonito rosto se acentuou. Matt simulou não
dar-se conta disso.
—Adeus amigos —disse Scout rapidamente e desapareceu com os dois guarda-costas.
—Aí vai um homem feliz —disse o Chefe Jeffries dirigindo-se ao Matt.
— E me alegra ouvir que vai levar a minha filha de lua de mel. Já era hora.
—Não é fantástico, papai? —disse Pauline, deixando o braço do Matt para abraçar a seu pai.
Whitey sorriu afetuosamente e disse ao Matt:
—A lua de mel corre por minha conta.
—Não, senhor, não podemos de maneira nenhuma…
—Não aceito um "não" por resposta. Irão esta noite em meu jato privado.

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Esta noite? Merda! Pensa rápido, Matt.


—De acordo —assentiu.
— Que tal se levar a minha esposa ao apartamento enquanto vou atrás de algo para
celebrar no avião?
Pauline se separou de seu pai e jogou os braços ao pescoço do Matt. Tentou não estremecer-
se de repulsão quando não teve mais remédio que devolver o beijo sedutor de Pauline. Quando ela
acabou, ronronou:
—Não pode me levar a casa você?
—Carinho, darei-me pressa e passarei atrás de você em mais ou menos uma hora —lhe
mentiu.
— Venha, apresse-se ou não terá tempo de fazer as malas.
Por sorte, Pauline aceitou sua sugestão. Agarrou a seu pai do braço e lhe levou pelo beco.
Matt esperou pacientemente que partissem. Logo rapidamente recolheu a câmara e o tripé e
correu pelo beco até chegar a sua moto, que tinha deixado estacionada perto. Colocou tudo nas
bolsas e arrancou a toda velocidade.
O ar fresco lhe refrescava o rosto suarento e sorriu. Sentia-se bem e pela primeira vez em
muito tempo se sentia vivo. Acabou-se. Aquela merda tinha chegado a seu fim.
Agora poderia deixar de trabalhar de forma clandestina e seguir com sua vida. Possivelmente
até pudesse ir ao Canadá e visitar a nora do irmão do Robin, a proprietária da estalagem.
Possivelmente. Seu sorriso se ampliou. Sim, possivelmente.
Havia-se feito de noite quando estacionou sua moto na parte traseira da casinha do Robin.
Um manto de nuvens cobria a lua e não havia luz nas janelas. Era tarde e estaria dormindo.
Certamente que lhe perdoaria por despertar, particularmente quando Matt lhe dissesse que o caso
tinha concluído. Matt bateu na porta traseira e esperou ansiosamente que abrisse.
Robin alucinaria quando descobrisse o que ele tinha gravado. Chamou outra vez. Ninguém
respondeu.
Onde caralho estava?
Chamou mais forte e o cristal tremeu sob sua mão. De repente, teve a sensação de que lhe
vigiavam.
Olhou, mas nada se moveu, somente um cão que ladrou perto. Apesar disso, não pôde
recuperar a alegria que havia sentido antes ao pensar em na Pousada.
Tinha sido fácil. Muito fácil. Como se lhe tivessem apresentado as provas em uma bandeja de
prata. Mas bom, tinha trabalhado muito para obter que confiassem nele. Por que não ia ser fácil?
Era quase incrível que aquilo acabasse finalmente. Quão único lamentava era não ter podido
demonstrar que o chefe era o assassino de seu irmão Steve.
Mas as outras provas que tinha ido juntando através dos anos e tinha dado ao Robin, e logo
o desta noite era suficiente para que o chefe acabasse entre grades.
Deu-se um susto de morte quando se abriu a porta e um homem mais velho apareceu em
camiseta e cueca, arranhando o queixo.
—Olá, obrigado por vir a me visitar, menino.

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—Tenho algo que te mostrar, Robin. E pelo amor de Deus, fecha a porta —quando Robin
jogou o ferrolho à porta e voltou a fechar as cortinas, Matthew lançou um suspiro de alívio.
Seu sócio lhe sorria, seu olhar curioso posou na câmara.
—E? Venha! O que acontece?
Matt tirou a pequena fita de sua câmara e a deu ao Robin.
—Sente-se, guri, antes que caia ao chão —disse Robin sorrindo enquanto colocava a
pequena fita em um vídeo especial e a deslizava dentro do vídeo, ligou a televisão e pressionava o
botão de rebobinar.
Matt se sentou no sofá azul. A exclamação afogada do Robin lhe chamou a atenção.
Olharam as imagens na tela em silêncio. Depois de uns vinte minutos, a tela ficou negra.
—Merda —sussurrou Robin, incrédulo.
Matthew agarrou a pequena fita e a voltou a meter na câmara.
—Já vejo por que está tão acelerado. Não todos nos dias um descobre que sua mulher é uma
criminosa. Bom, em realidade não é uma grande surpresa, verdade? Faz tempo que o
suspeitávamos —Robin ficou de pé e começou a passear-se pela estadia. Era um hábito que tinha
quando estava formulando um plano.
Olhou a seu amigo, esperando que falasse. O silêncio se fez eterno. Finalmente, Robin falou
em voz baixa. Quase muito baixa.
—Esta prova te põe em um grave perigo.
—É algo que pensei, sim —o estômago lhe comprimiu por ouvir as palavras seguintes de seu
amigo.
—Não sabia que Scout estaria na reunião.
—Sabia da reunião? –perguntou Matt alarmado.
— Como? Eu nunca lhe disse.
Robin apertou os lábios como se houvesse dito algo que não devia. Lançou uma risada
nervosa. Merda, que caralho acontecia ali?
—O que acontece, Rob? O que sabia desta noite? Por que não me advertiu? Pensei que
estávamos juntos nisto.
Robin não lhe respondeu durante um momento e se voltou a arranhar o queixo.
—Não vai gostar do que vou dizer, guri. Um calafrio lhe correu pelas costas ao Matt.
Possivelmente devesse dizer ao Robin que o deixasse. Estava-lhe inquietando.
—Quando lhe encontramos, você gostava de viver ao limite. Arriscar sua vida.
Necessitávamos alguém como você. Alguém que não temesse sujar as mãos.
—Por que falas em plural? Acreditava que éramos nós dois sozinhos.
—Isso é o que queria que acreditasse.
—Então, há um terceiro. Não passa nada —disse Matthew encolhendo-se de ombros como
se lhe desse igual. Mas não dava igual. Seu amigo de alma lhe tinha mentido e aquilo não lhe
sentou nada bem.
—Pensa nisso, Matt —disse Robin com carinho.
— Me aproximei de você quando estava em sua pior época. Todos lhe davam o vazio por

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declarado contra uns companheiros que tinham falsificado provas, recorda?


Matthew assentiu com a cabeça.
—Você disse que suspeitava que o chefe Jeffries tinha algo que ver com a morte do Steve —
prosseguiu Robin.
— Queria que o ajudasse a lhe agarrar , fazendo passar por um tira corrupto. Disse que
queria vingar a morte de seu irmão e aceitou.
—Não sei aonde quer chegar com isto —disse Matthew.
—Pensa, guri! —exclamou Robin secamente.
— As pistas anônimas que recebia todos estes anos da mulher enquanto trabalhava de
forma encoberta.
—Sabia quem me passava os dados? É isso o que diz?
—Merda, cara! Como quer que lhe diga isso? Não estamos trabalhando nisto sozinhos. Há
outros mais. Gente do governo. O FBI, recua, gente que te esteve passando informação para que
pudesse agarrar a outros tiras corruptos antes de jogar a luva ao Jeffries. Estavam-lhe usando,
Matt. E eu era o primeiro informante. Eu te enviei a primeira pista. A dos dois tiras que
manipulavam provas. Eu sou quem começou tudo.
Matt deu um salto. Não dava crédito.
—Você?
De repente, começou a compreender todas as conexões. E doía. Robin tinha enviado ao Matt
à sala de provas. A vida tinha sido dura antes daquele dia. Depois daquele dia, sua vida se
converteu em um inferno.
—Utilizou-me? Montou-me uma armadilha?
Robin não respondeu, inclinando a cabeça, aparente envergonhado disso.
—Covarde! —exclamou Matt, logo que notando que Robin dava um salto para ouvir aquela
palavra.
— Te escondeu detrás de mim? Fez-me arriscar minha vida! Arriscar a vida de outras
pessoas. Por que me traíste?
Robin permaneceu em silêncio.
—Me responda, caralho! —gritou, zangado.
— Me cravou uma faca pelas costas, Rob. Não posso acreditá-lo. O único em que confiei
durante todo este caso. O único motivo pelo que não abandonei —disse Matthew, interrompendo-
se para fazer uma inspiração entrecortada—: por que me diz isso agora?
—Prometi-me que te diria a verdade quando acabasse. E com esta evidência, acabou-se.
—Vai-te ao inferno, Robin! Ao inferno com seu trabalho dos caralho! Vou!
Matt não sabia o que pensar quando se dirigiu à porta traseira. Imediatamente se
tranqüilizou quando uma sombra passou junto às cortinas da janela do prado sob a luz do
alpendre.

Capitulo 18

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Sara sentia que a cabeça lhe dava voltas. O que fazer? Não podia ir atrás da mulher. Aquele
homem apontava com uma arma. Mas ela também tinha uma.
De repente, deu-se conta de que aquele homem a observava, o qual a inquietou. Mas tinha
que manter-se calma, fria e concentrada.
Mas, por que lhe sorria? Em qualquer momento lhe podia disparar um tiro. Por que não
tinha medo, não se via intimidado absolutamente por seu revólver?
Tinha que lhe assustar. Quando a gente se assustava, cometia enganos.
E quando ele cometesse um engano, ela estaria preparada.
—Viram-lhe? —sussurrou Robin ao ver a sombra que passou pela porta do prado.
Matt fechou os olhos e praguejou.
—Viram-lhe ou não lhe viram, guri —o cenho do Robin se aprofundou.
—Não vi ninguém me seguir —disse, tirando a arma.
— Rob, decididamente há alguém ali
—Genial, cara. Merda, terão-lhe seguido. Está perdendo qualidades, guri —disse Robin,
dirigindo-se à mesa de trabalho do canto. Matt sabia que ali guardava sua arma. Junto com a
arma, tirou um bloco de papel de notas e começou a rabiscar algo nele.
— Vai. —ordenou.
Matt se aproximou do Robin, mantendo o olhar fixo na porta de trás. Robin deixou sua arma
em uma mesa próxima e agarrou uma foto, colocando a diante dos olhos.
—Olhe isto bem. Memoriza estes dois rosto.
Matthew se atreveu a olhar a foto. Instantaneamente lhe chamou a atenção. Tinha visto
aquela foto muitas vezes.
Cinco pessoas. Dois casais, uma de gente mais velha e outra de gente de sua idade. A quinta
pessoa era uma mulher. Até lhe tinha insinuado que era a irmã da jovem casada e que estava
solteira. Mas os olhos do Tom sempre se dirigiam à mulher casada.
Sara. Uma mulher formosa. Um nome formoso. Robin lhe tinha contado as desgraças
daquela pobre mulher. Deus, quanto teria sofrido!
Alguns dias morria por conhecê-la, falar com ela. Mas a vida de um tira que trabalhava de
forma encoberta não lhe permitia coisas frívolas, como conhecer uma boa mulher.
—Olhe a estas três pessoas —disse Robin, assinalando a seu irmão gêmeo e à irmã da Sara.
— Pode confiar neles.
—Não entendo.
—Leva as provas a este lugar.Diga a Sara que eu lhe envio —lhe deu o papel com a anotação
e Matt agarrou a filmadora e o revólver com uma mão para agarrar o papel com a outra. Olhou
rapidamente a direção apontada no papel.
— A Estalagem do Peppermint Creek? Para que ir ali?
—Fá-lo, merda! —resmungou Robin. Voltou a colocar a mão na gaveta da mesa e tirou umas
chaves.

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— Aqui tem. As chaves da estalagem. Pode que Sara não esteja ali. Viaja muito por negócios.
Fique ali até que apareça. Diga-lhe que entre em contato com meu irmão Garry e tenta não
chamar a atenção.Dê ao Garry esta nota, saberá o que fazer com ela. Aqui está a chave do celeiro.
Joga uma olhada dentro. Há uma velha moto que possivelmente te interesse. Era minha. E leve
essa maleta —disse Robin, assinalando a pequena mala no chão junto ao sofá. Tem dinheiro para
seus gastos. Não use cartão de crédito. Terá que tentar desaparecer uns dias. Quando não correr
perigo me porei em contato contigo.

Parecia que Robin sabia que aquela seria a última noite. Por que se não ia encher uma mala
com dinheiro? Robin lhe deu um golpe nas costas.
—Parece que depois de tudo conhecerá a Sara, né?
De repente, um golpe nas portas corrediças de cristal retumbou por toda a casa.
Como um raio, Robin agarrou a mala e a abriu.
—Jesus —disse Matt assombrado ao ver tanto dinheiro—, quanto tempo quer que
permaneça escondido?
—O que seja necessário. Já te chamarei.
Robin agarrou a filmadora, a nota e as chaves que Matt tinha nas mãos e as meteu na mala.
Logo a deu.
—Vai, guri. Pela janela do quarto de banho. Eu lhes distrairei.
—Não te deixaria aqui—disse Matt, lhe agarrando do braço.
— Eu os trouxe. Eu te coloquei nisto. Vamos juntos.
—Não me meteu nisto, recorda? —disse Robin com um sorriso estranho.
— Fui eu quem colocou a você.
—Não importa quem fez o que, merda. Saiamos daqui.
—Polícia, abram!
Robin se soltou do Mattew.
—Eu te deteria, guri. Não se preocupe por mim, me posso arrumar isso. Mantém a
mercadoria a salvo. Sai pela janela do banho.
Outro estrépito na porta acristalada do prado. Robin lhe empurrou para o corredor e se
voltou para salão.
Para a porta.
Para o perigo.
—Vai, filho da puta! Faz o que te digo! —gritou-lhe Robin.
— Te salve!
A expressão desesperada de seus olhos fez que Matthew fizesse conta. Deu-se a volta e
começou a andar pelo corredor. O ruído de cristais quebrados e o grito de Whitey lhe detiveram
em seco.
—Deixa essa arma —gritou ela ferozmente.
Matt titubeou. Se lhe entregava a arma, eram homens mortos.
Whitey deu um passo adiante, apontando ao Robin. Não havia saída. Tinha que fazer o que

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lhe dissessem.
Deixou cair a arma e Pauline se agachou para recolhê-la. A passou ao Whitey.
—Vá, vá, vá. O que temos aqui?—disse este, e sua vista foi do Robin ao Matthew e logo à
mão do Matt que segurava o revólver.
—Estranho casal.
—Está preso, Whitey. Por corrupção e um montão de coisas mais. Acabou-se.
—Para você —respondeu Whitey com frieza.
Aconteceu em um abrir e fechar de olhos. A pistola da mão do Whitey se elevou a velocidade
do raio. Seguiu-lhe um disparo ensurdecedor. O sangue salpicou a formosa pintura de vida silvestre
da parede junto ao Robin.
A porta do prado se desintegrou com a mesma bala que lhe voou a metade do rosto do
Robin.

Matthew abriu os olhos de repente praguejando. Arranhou-se o queixo barbudo olhando a


seu redor e tentando imaginar onde caralho se encontrava.
Tentando desesperadamente alertar ao Tom, Sara tinha atirado uma pilha de taças da
bancada da cozinha. O estrépito reverberou pela casa tão forte que sobressaltou ao Whitey.
Quando se recuperou do susto, Whitey deu um passo ameaçador para ela.
—Não escapará. Esta vez não —disse, furioso.
—Fique ali! O advirto, ou disparo —gritou Sara. Tinha que proteger ao Tom, tinha que lhe
disparar. OH, Deus, me perdoe. Fechando os olhos, apertou o gatilho. Não aconteceu nada.
Voltou-o a apertar. Nada. Quando abriu os olhos, Whitey se aproximava dela. Desejou correr,
lançar um grito de advertência, mas era muito tarde.
—A próxima vez, tire o seguro —riu malignamente alargando a mão para agarrá-la.
Sara se estremeceu de horror, mas Whitey congelou quando a voz de um homem retumbou
na cozinha.
—Fica aquieto ou te faço um buraco nos miolos!
Sara afogou um grito de desespero. Ele sustentava o mosquete que ela tinha pendurado
sobre a chaminé como adorno. Era totalmente inútil.
Saberia Tom? Daria-se conta Whitey?
Tom lançou um olhar furioso ao homem de cabelo branco.
—Acabou-se, Whitey. Ponha seu revólver brandamente sobre a mesa.
O homem de cabelo branco lançou uma risada afogada.
—Acabou-se? Olhaste a arma que leva?
—Fá-lo agora mesmo! —ordenou Tom. A fria autoridade de sua voz a sacudiu.
Parecia diferente. A fria autoridade daquela voz fez que se desse conta de que o aspecto de
garotinho perdido do que se apaixonou tinha desaparecido para revelar uma magnífica confiança
masculina. Aquela transformação emocional a atraiu.
—Parece-me que não me ouviste, Whitey —disse Tom, lhe apontando com o antigo
mosquete a cabeça.

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— Considera isto um fone.


O sorriso do Whitey se apagou de sua cara. Titubeou um momento. Seria um blefe ou
funcionaria aquela arma?
—Vale, vale. Solte o revólver —lentamente, com muito cuidado, Whitey se dirigiu à mesa da
cozinha. Para ela.
—Senhora, aparte-se dele! —levou um momento a Sara dar-se conta de que Tom falava com
ela. Um suor frio de inquietação lhe correu pelas costas. Por que a chamava "senhora"? A que se
devia aquela frieza, como se não confiasse nela?
Smokey lhe havia dito que poderia acontecer.
Tom lhe tinha assegurado fazia apenas umas horas que não aconteceria. Mas aconteceu.
Sentiu que se enjoava ao dar-se conta: Tom a tinha esquecido.
—Não sairá com a tua, Matt —espetou Whitey, pondo a arma com cuidado sobre a mesa e
olhando com fúria ao Tom.
—Devo te contrariar, Whitey, tenho a evidência que necessita. Seu destino está selado, igual
aos de muitos de seus tiras corruptos.
—Será melhor que pense no que diz, Matt. Posso estalar meus dedos no cárcere e todos
seus seres queridos estarão mortos, inclusive ela —assinalou Whitey a Sara.
—Ela? —Tom a olhou rapidamente. Ela se estremeceu ao ver a frieza nos olhos verdes.
—Não significa nada para mim —disse ele, lhe fazendo tremendo dano. De que caralho fala?
Nunca vi a esta mulher em minha vida.
Sara ficou tão aturdida pela frieza de sua palavra que não se deu conta o que significava o
movimento que viu no corredor por detrás do Tom até que foi muito tarde.
Antes que pudesse lhe advertir, a loira tinha aparecido por detrás do Tom e lhe tinha posto a
boca do revólver nas costas.
—Olá, Loverboy —disse ela arrastando as palavras sedutoramente.
Tom ficou branco como o papel e a fria curva de seus lábios indicou a Sara que ele não
estava feliz de ver a loira.
—Pauline —disse ele com sarcasmo.
— Devia imaginar que apareceria embora ninguém te convidasse.
Sara lhe olhou indefesa enquanto Tom apoiava as mãos contra a parede e separava as
pernas. Deu-se conta de que Tom se movia inquieto quando as mãos de Pauline percorreram seu
corpo mais lentamente do necessário.
—Quão único leva é um bonito pau e uns ovos suculentos —riu Pauline quando acabou de
revistar ao Tom e com a velocidade de um escorpião lhe pôs os braços pelas costas e os atou com
um par de algemas.
Paulina apontou a Sara com o revólver, fazendo-a dar um salto.
—E você! Deveria te matar. Ninguém se salva se dormir com meu marido.
—Não o faça, Pauline —advertiu Tom.
— Seria uma animação. E sei o muito que odeia limpar recolher o que vai sujando.
—Tenta que morda o anzol.Ponha as algemas à garota. Logo sai. Toma um pouco de ar e

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Fique alerta se por acaso vêm mais visita inesperadas.


Sara fez uma careta de dor quando a loira lhe forçou cruelmente os braços para trás e lhe
pôs as frias algemas.
—Agora que tenho sua atenção —disse Whitey ao Matt—, pode-me dizer o que quero saber.
—Vá-se ao inferno! —espetou Sara.
— Não lhe dirá nada!
—Parece-me que vejo de que lado está, senhora —disse Tom com frieza—, mas não
necessito sua ajuda. Fecha a boquinha, quer?
Sara se calou, surpreendida quando Tom voltou sua atenção ao Whitey. Tinha visto algo em
seus olhos. Um brilho de malicia ?
—Então, o que me oferece, Whitey para poder lhe jogar a garra à fita que gravei?
—Que tal se mato aos dois?
—Alguém me disse uma vez: "só os bons morrem logo" —disse Tom, arranhando o nariz—,
assim que me figuro que ainda não chegou a hora.
Era o que lhe havia dito ela quando ele se recuperava da ferida de bala em sua cama! Estava-
lhe enviando uma mensagem para dizer que tudo ia bem, que a recordava. Mas, por que então
simulava não conhecê-la? Para que Whitey não a usasse contra ele?
—O que te faz pensar que quero negociar contigo, Matt? O que me fez me dá desejos de
vomitar: conseguiu minha confiança, meteu-te em meu negócio, permiti-te que se casasse com
minha filha…
—Sua filha me drogou. Era a única forma em que pôde conseguir um cara. Além disso, as
bodas não são legais. Não usei meu nome real.
—Bode! —exclamou a loira do outro lado da porta.
—Silêncio, Pauline —disse Tom à loira. Seu frio olhar se voltou a posar no Whitney.
— Te darei a fita com uma condição.
—Vale, diga.
—Deixa que parta a senhora.
Tom oferecia sua vida pela dela. Não o permitiria. Já tinha aberto umas algemas. Certamente
que a segunda seria mais fácil. Quando se soltasse poderia lhe ajudar.
Whitey olhava ao Tom com genuíno interesse quando ela disse:
—Preciso ir ao quarto de banho.
—Onde está?
—Ao final do corredor. Posso deixar a porta aberta se tiver medo de que escape burlou Sara.
— E necessito que me tire as algemas.
Whitey meneou a cabeça.
—Não. Faça isso com as algemas. Dou-te três minutos. Se não voltar então, darei um tiro ao
Matt na perna. E desfrutarei com isso.
Um calafrio lhe percorreu os ombros ao ver o maligno sorriso do Whitey. Trêmula, dirigiu-se
ao corredor. Deixou a porta aberta e correu à porta contígua de seu dormitório. Formulando um
silencioso "obrigado", agarrou o que necessitava e logo se dirigiu ao banho, puxando da cadeia

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para fazê-lo parecer oficial.


—Venha, Matthew. Como propõe que deixe ir a uma testemunha? —sorriu Whitey
—Parece uma mulher inteligente. Estou seguro de que ela saberia como manter a boca
fechada. Deixa-a livre e eu darei tudo o que Robin foi acumulando através dos anos.
—Não sabíamos que era uma toupeira —disse o chefe, meneando a cabeça ligeiramente.
-Quando acabou a reunião aquela noite e lhe deixamos, voltamos quase imediatamente.
Pauline queria te dizer que a fosses procurar às duas horas em vez de uma. Imagina nossa
surpresa quando lhe vimos sair do beco com algo na mão. Uma filmadora claro. Seguimos-lhe pelo
beco. Vimos você montar na moto com essa expressão de complacência. Chamei meu chofer que
é um gênio seguindo carros. E disse por que rua foi. Seguiu-te até o bairro do Robin, diretamente
até a porta de trás —o chefe sorriu e ao Matt correu um calafrio por sua costas é o bom de ser
chefe de polícia, Matt. Conheço muita gente e sei muitas coisas deles, que posso logo usar a meu
desejo.
Matt tentou conter a dor que lhe causava a confissão do Robin de que lhe tinha estado
usando durante todos aqueles anos em vez de ser os dois sozinhos.
Agora que olhava o que tinha acontecido durante os últimos anos, tinha sido ingênuo ao
acreditar cegamente no Robin porque ele seguia com o tema de que o Chefe Jeffries tinha tido
algo que ver com a morte do Steve.
—Refere-te a que Robin aceitava um salário de mil dólares semanais por evitar que
vigiassem ao Scout Master e seus trambiques com armas? Não se preocupe, sei tudo. Robin me
disse tudo o que fazia para você. Era sua mão direita até que adoeceu de câncer e teve que
conseguir alguém que lhe substituísse. Do contrário te teria pego antes. Tive que trabalhar para
você muito tempo até que confiasse em mim. É um osso duro de roer.
Whitey lançou uma maldição.
—É um verme, Whitey —prosseguiu Matt.,
— Causaste muito dor e sofrimento às pessoas com seus fazer e desfazer, por não
mencionar aos tiras que corrompeu empunhando notas grandes e carros chamativos frente a seus
olhos. Se eu fosse outro tipo de homem, te teria matado faz muito.
—Igual matou ao Robin? —riu Whitey.
Matt ouviu que Sara lançava uma exclamação.
—Sabe perfeitamente a verdade, Whitey.
—Foi um idiota ao tentar lhe salvar, Matt. Era homem morto. Ninguém cruza em meu
caminho. Já vê o que acontece quando o fazem, verdade?
—Então, que tal se deixarmos que a mulher se vá e eu te entrego a evidência.
—Tom! —rogou Sara.
—Merda, não me chame assim! —espetou-lhe Matthew. Odiava lhe gritar daquela forma,
mas precisava fazer acreditar no Whitey que ele não poderia usá-la contra ele.
—De acordo —lhe tranqüilizou Whitey.
— Tome o com calma, Matt. Deixarei-a partir depois que dê a evidência.
Matt sabia que não tinha outra opção. Reticentemente, cedeu.

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—Perca. A evidência está em Perca. Levarei-lhes ali, mas deixem à mulher aqui.
—Levaremos Sara conosco. Logo a deixaremos partir.
De repente, Sara interrompeu.
—Não sei vocês, mas eu tenho muita sede. Importa-lhes? —fez um gesto assinalando o
refrigerador, um tenso sorriso nos lábios.
Matt franziu o cenho. Tivesse jurado que ela estava tramando algo.
—Apresse-se —grunhiu Whitey com impaciência.
Matt viu o rápido olhar que lhe lançou ao dirigir-se ao refrigerador. Levou a ela muito tempo
esvaziar a taça enquanto se achava com a porta do refrigerador aberta, mas finalmente acabou. E
quando se uniu a eles, Matt teve a clara sensação de que a atitude de Sara tinha trocado. Para
melhor.
Foram em dois carros. Sara conduziu sua caminhonete com Pauline sentada no assento do
passageiro apontando-a com uma arma. Tom sentava no assento do passageiro do sedan com as
mãos algemadas à costas. Whitey conduziu.
Se não tivesse tido que pensar na segurança de Sara, teria escapado facilmente levantando
os pés e estampando ao Whitey contra a porta. Mas Whitey provavelmente tinha previsto aquilo e
tinha pego dois veículos para evitá-lo.
Whitey conduzia em silêncio, permitindo que Tom se concentrasse em uma forma de tirar
Sara e ele daquela animação. Um momento depois se tornou adiante ao distinguir um carro
vermelho que se dirigia pela auto-estrada para eles.
Acelerou-lhe o pulso.
Seria Jo que voltava?
Naquele momento os dois veículos saíram da estrada e se dirigiram por um caminho de
cascalho que conduzia a uma levantada ladeira. Lançou um olhar pelo guichê traseiro para ver o
Mustang vermelho que passava zumbindo.
Oprimiu-lhe o coração. Jo ia naquele carro e não lhes tinha visto. Afundou-se contra o
assento. Estavam sozinhos.

Capitulo 19

Depois de uns minutos, o caminho se estreitou. Os ramos raiaram o carro e os altos


pinheiros lhes impediram de ver o céu, iluminado cada vez com mais freqüência pela tormenta. O
caminho se fez desigual, logo liso quando atravessaram um tapete de musgo. Uns minutos mais
tarde, os dois veículos se detiveram.
Tom ficou boquiaberto pela surpresa. Por diante, um patrulheiro bloqueava o caminho. E
apoiado contra ele, fumando, encontrava-se Justin Jeffries.
—Vai, agora sim que estamos em uma boa! —disse Tom secamente.
—Cala, Matt —rugiu Whitey saindo do carro e lhe abrindo a porta do passageiro para que

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baixasse.
O ar estava carregado com a promessa de chuva e um vento fresco jogou com o rosto do
Tom quando este desceu do carro. Seus pulsos puxaram frustrados de sua restrição enquanto
observava que Justin esboçava uma careta maligna.
—Resultou-me familiar quando te vi no povo —disse Jeffries arrastando as palavras.
— Nasceste para te converter em uma silhueta de giz no chão, Matt. Só espero estar ali para
fazer as honras.
—Ah.Ah! O pendente que leva é uma lembrança de suas outras silhuetas de giz? Se mal não
recorda, o pendente é uma bala.
—Cala, filho da puta! —chiou Justin.
Whitey meneou o dedo assinalando a seu filho.
—Controla esse caráter, filho.
—E o pendente? —disse Sara sem fôlego. Tinha mordido o anzol e ele se sentiu mau.
—Não, Sara —rogou Justin.
—Não, quero sabê-lo.
Começava a sentir-se realmente decomposto agora. Usar à mulher que amava como isca de
peixe para aqueles dois era imperdoável. Mas necessitava que Jeffries se inquietasse. Tinha que
conseguir que o pai se zangasse com ele. Sabia que ao Whitey não gostava quando seu filho e filha
se zangavam.
Ver seus filhos zangados era a única fraqueza visível que tinha. Irritava-se. Não gostava que
estivessem perto quando se achavam aborrecidos por algo.
Precisava lhes separar.Dividir-lhes. Divide e vencerá.
—Papai, tire as malditas provas e acabemos de uma vez —se queixou Justin.
—É esse…? Tem o projétil que matou a meu marido pendurado no pescoço?
A incredulidade da voz da Sara fez que Matt quase se ajoelhasse.
Sara puxou da camisa do Justin, abrindo-a. Os dois botões de cima saltaram pelos ares.
Reluzente feliz contra seu peito peludo pendurava o projétil de uma corrente.
—Deus santo. Está louco —gritou Sara, apartando ao Justin de um empurrão.
Deu-se a volta para enfrentar-se ao Matt. Quase morreu ao ver a expressão de dor de seus
olhos. O lábio inferior lhe tremia incontrolavelmente. Desejou poder tomá-la entre seus braços
para acalmá-la, mas não podia mostrar a eles o muito que a amava.
—Tenho uma testemunha que lhes ouviu falar —disse a Sara brandamente.
—Quem? —interrompeu Justin.
— Quão únicos estávamos ali era Sam, você e eu.
—Eu sou a testemunha.
—Isso é impossível. Estava inconsciente.
—Simulei está-lo. Ouvi tudo. Sam te disse o muito que lhe interessava Sara e que devia lhe
dizer que você foi o assassino do Jack. Como tinha visto que matava ao Jack com o último projétil e
logo agarrava seu diário onde ele tinha posto a localização da mina de ametista de sua
propriedade.

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—Basta, por favor, Tom —sussurrou Sara. Estava pálida e tremente.


—Parece que estiveste realmente ocupado, irmãozinho —riu Pauline meneando a cabeça
com incredulidade.
— Me disse que tinha jogado o olho a uma mulher casada mas nunca pensei que chegaria
tão longe. Matar ao marido a sangue frio? E ter pendurado no pescoço a bala que lhe matou? Que
forte. Até para alguém como você.
—Se não te calar, vôo a sua cabeça — gritou Justin a sua irmã. Levou a mão à cartucheira.
— Logo lhe voarei a cabeça. Mente. Não foi assim.
—Basta de brigas —espetou Whitey.
— Volta para a cidade Justin. A ver se pode fazer algumas averiguações e ver que provas
contra nós conseguiram Garry e essa tia, Brady. Mate se for necessário. Matt mostrará a Pauline e
a mim onde escondeu a mercadoria.
—Mas, e Sara? —sussurrou Justin desesperado.
Os olhos do Whitey se estreitaram até converter-se em duas ranhuras.
—Fiz um trato com o Matt sobre ela. Vai a cidade. Consegue um álibi e se acabou. Não há
mais que falar.
Justin pareceu querer dizer algo, mas logo trocou de opinião. Tinha os ombros afundados
quando se voltou a meter no carro de patrulha. Com as rodas girando e levantando pó, Justin
Jeffries partiu.
Matt lançou um suspiro de alívio.
Um a menos.
Ficavam dois.

Sara sentia que cada passo era o último. Não tinha nem idéia de como seguia andando, mas
algo dentro dela a movia a pôr um pé diante do outro. Seguir andando. Estar preparada porque
Tom tinha um plano. Esse era o único motivo pelo que ele a tinha tratado daquela forma.
Justin tinha matado a seu marido e seus meninos. E levava a bala que faltava pendurada no
pescoço. Como se fosse um troféu.
Tom tinha tido razão todo o tempo sobre Justin. E, entretanto, ela duvidava que ele se
envolvesse simplesmente porque Justin e Jack fossem companheiros e aparentemente tão amigos.
Agora que ela tinha visto o projétil que faltava pendurado no pescoço do Justin. Ardia em raiva.
Não se tinha dado conta do desaparecimento do diário do Jack meses depois de que tivesse
sido assassinado, quando começava a pensar com maior claridade, o que lhe permitiu recordar a
estranha conversa que tinham tido na manhã de sua morte.
Estavam na cama, escutando o alegre piar dos pássaros silvestres fora. Jack lhe apoiava a
mão na barriga. Seus olhos azuis tinham tido uma expressão muito séria ao lhe dizer:
—Se me chegar a passar algo, Sara, quero que dê meu diário a papai. Ele saberá o que fazer
com ele.
Ela se amassou contra ele tentando mitigar os calafrios que lhe tinham causado suas
palavras.

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—Não vai acontecer nada, Jack —lhe tinha tranqüilizado.


— Os homens do moinho lançam ameaças de morte porque estão aborrecidos porque
ajudas ao governo. Tudo voltará para seu leito com o tempo.
Tinha-lhe sorrido como resposta, mas o sorriso não tinha chegado aos olhos escuros. Logo
fizeram amor pela última vez.

Sara deu um salto quando Whitey tropeçou no escorregadio atalho diante dela. Os joelhos
lhe tremeram e secou a boca. Com um pouco de sorte Whitey não se daria a volta para ver o que
fazia ela.
Pondo as mãos em uma postura estranha, Sara colocou a improvisada chave no buraco e
começou a trabalhar nas algemas.

Matt olhou o céu encapotado. Ouviam-se trovões no norte. O plano que lhe tinha ocorrido
dependia do tempo. Com um pouco de sorte, se não chovia e seguia a névoa, seria capaz de tirá-
los daquela confusão.
Ao despertar aquela manhã, encontrou que a maioria de suas lembranças estavam intactas.
Recordava ao Whitey apontando com o revólver ao Robin. Recordou o terrivelmente indefeso que
se havia sentido quando ele apertou o gatilho. A forma em que se sacudiu o corpo do Robin
quando o projétil lhe atravessou a garganta.
Recordou que seu companheiro murmurava algo sobre a mala próxima e outras palavras
que ele não tinha podido compreender. Recordava ao Whitey, Pauline e Scout ao redor dele como
abutres, o vidro rangendo sob seus pés quando lhe observavam ferventemente tentar deter o
sangue que escapava do Robin, gritando que chamasse o 911.
—Está virtualmente morto —havia dito Whitey com frieza.
— E você é um policial.
Logo tinha ouvido o estertor da morte do Robin. Um som terrível que nunca esqueceria por
muito que vivesse.
Ao dar-se conta de que não poderia fazer nada pelo Robin, o que implicavam as palavras do
Whitey lhe deu de cheio. Whitey tentava lhe carregar com a morte do Robin. Tinha pego a maleta
com o dinheiro e fugido.
Milagrosamente, seus disparos tinham errado quando se meteu no banheiro do Robin,
encerrou com a chave e logo saltou da janela. Dirigindo-se onde tinha deixado a moto, montou
nela e partiu a toda velocidade.
O atalho torceu bruscamente para a direita. Lançou um olhar rápido a Sara. Pela forma em
que fechava a mandíbula e o sorriso que lhe enviava, ele esperou que ela também estivesse
formulando um plano.
Necessitaria toda a ajuda que pudesse.
Os dedos da Sara apertaram a caneta que utilizava como improvisada chave das algemas.
Quase lançou um alarido de alegria quando as algemas se abriram de repente e ficaram
pendurando precariamente de seus pulsos. Fazendo uma manobra, conseguiu evitar que caíssem.

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Cravou os olhos nas costas do Whitney frente a ela e se manteve alerta, esperando o sinal
do Tom. Deslizou a caneta por entre seus dedos. O suficiente para convertê-lo em uma arma em
miniatura logo se preparou para o que fosse.
Como se a tivesse ouvido, Tom se deteve de repente. Whitey praguejou quando quase se
chocou contra suas costas.
—Por que te detém? —exclamou ansiosamente.
—Já chegamos —disse Tom sem alterar-se.
Sara viu o sorriso cruel que se desenhou no rosto do Whitey. Oxalá funcionasse seu plano.
Tom assinalou ao outro lado do conhecido prado frente à cabana.
—Está dentro daquele tronco.
—Vai pela frente. Mostre- me .-Disse Whitey.
A Sara lhe gelou o sangue nas veias. Não tinha previsto aquele problema. Sua mente
procurou uma resposta. Surgiu de uma fonte inesperada.
—OH, pelo amor de Deus, papai, procure disse Pauline.
Whitey lhe lançou um olhar frio.
—Mantêm cobertos.

Matt e Sara observaram ansiosamente ao Whitey passar entre os arbustos ao redor do


prado, dispostos a entrar em ação assim que fosse necessário. Mas não aconteceu nada. Whitey
chegou ao tronco sem nenhum problema e Sara soube que tinham um problema. O coração lhe
acelerou desesperadamente quando viu que Whitey olhava dentro do oco.
—Está jogando conosco, Matt?
Ele elevou a arma.
Sara se estremeceu quando apontou com ela.
—Pelo bem dela, espero que não o esteja.
—É o outro tronco —disse Sara rapidamente assinalando-o com a cabeça.
— Aquele dali.
Whitey sorriu, incorporando-se.
—Tem uma mulher encantadora ali, Matthew. É preparada.
Dirigiu-se ao outro tronco. De repente, ouviu-se um grito quando a terra o tragou.
À velocidade do raio, Sara se deu a volta. Segurando a caneta com força, cravou-o na mão
com que a loira segurava a arma. Pauline lançou um alarido de dor. Tom se atirou sobre ela,
atirando-a ao chão.
Sara tentou agarrar a arma, mas ficou gelada quando viu voar a terra a uns centímetros de
seus dedos.
—Deus santo —exclamou, confundida quando um homem ruivo e rosto marcado pela
varíola saiu dos arbustos. Segurava na mão uma semi automática de aspecto horrível.
Junto a ela, Matt e Pauline deixaram de lutar.
—O que te reteve? —exclamou Pauline apartando-se do Tom para agachar-se e agarrar o
revólver.

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—Estou aqui, vale? —disse o homem sem alterar-se.


— E bem a tempo, Pauline. Não pode controlar a seu próprio marido? —girou-se para o
Tom, um olhar de ódio nos olhos e um sorriso nos lábios.
— Olá, Matty.
—Olá, Scout —saudou Tom rigidamente.
Aquele cara de aspecto tão desagradável era Scout McMaster, o traficante de armas
supostamente morto?
—Teria que te dar um balaço por haver enganado a todos.
—Adiante —disse Tom ironicamente.
— Entre os olhos. Parece que é a moda por aqui.
—Se disparar ao Tom, será como ir por um rio corrente acima sem remos, não? —disse Sara
com a voz mais sugestiva que pôde obter. Necessitava que a atenção daquele homem espantoso
não se centrasse no Tom.
—E você quem é? —perguntou-lhe , cravando seus olhos azuis nela.
—Não é ninguém —atravessou Matt.
—Scout, quer ver se papai está bem? —assinalou Pauline o buraco do poço no que tinha
caído Tom a outra tarde. Apenas se via na neblina cinza.
Enquanto se dirigia rapidamente ao poço, Scout lançou a Sara um olhar ardente que lhe
produziu calafrios de repulsão.
—Whitey! Está bem aí abaixo? —gritou dentro do buraco.
Não houve resposta.
Sara percorreu com o olhar a erva freneticamente. Tinha caído no chão perto de onde tinha
parado Pauline.
—Buscas isso?
Ficou sem forças ao ver que Pauline levantava a caneta. Sua única arma, sua última
esperança tinha desaparecido.
—Não responde —replicou Scout, olhando dentro do buraco.
— Nem sequer lhe vejo. Está muito escuro. Provavelmente deu um golpe e está
inconsciente.
—Deixe-o agora, já lhe tiraremos —disse Pauline, séria. Voltou-se para o Matthew mas o
revólver que segurava não se separou da Sara.
—Por favor, basta de jogos, Matt. Onde está? —disse, cansada.
—Terá que me soltar as algemas —disse ele com calma. Parecia muito mais calmo do que se
sentia.
—Não acredito —espetou Pauline.
—Não posso nadar sem braços.
—Nadar? —exclamaram Pauline e Sara ao uníssono.
Tom assentiu. Assinalou com a cabeça a Baía de Perca, coberta de névoa.
—Está lá, na ilha.
Uns minutos mais tarde se encontravam na praia.

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Pauline lhe tinha tirado as algemas do Matt e ele ficou em roupa interior.
—Vai com ele, Scout —indicou Pauline.
—Não sei nadar. Você vai com ele. Eu ficarei aqui com esta boneca. Estou segura de que nos
poderemos divertir juntos.
Matt ficou rígido por lhe ouvir. Tivesse-lhe dado com tintura aquela escória, mas tinha que
manter a calma. Se Scout se inteirava do muito que a queria, Matt tremia ao pensar o que
aconteceria com ela. E certamente Scout se ocuparia de que Matt visse tudo.
Pauline fez um gesto de exasperação pondo os olhos em branco.
—Me esqueci o traje de banho —disse.
— Traz as provas, Matt. Todas. E se não voltar, carregamo-nos isso, está claro? —Muito
claro.
Ele deu um passo para as gigantescas ondas negras que rompiam na praia.
—Não! Por favor —exclamou Sara.
— Não pode entrar ali! Aproxima-se uma tormenta. As ondas são muito grandes. Vai
congelar. Possivelmente haja uma barco que possa usar.
—Não se preocupe —replicou Pauline frigidamente.
— Pensará em você. Adiante, Matt.
Antes que Sara pudesse protestar outra vez, Tom fez uma profunda inspiração e mergulhou
nas negras águas.
Geladas gotas de chuva deram a Sara no rosto enquanto olhava os redemoinhos formados
nas águas negras elevar-se mais com o vento. Um trovão explodiu em cima dela, fazendo-a dar um
salto. Um temor frio como o gelo pela segurança do Tom a percorreu como uma cobra. Rogou que
não voltasse. A informação que tivesse acumulado na ilha pertencia às autoridades. Embora a vida
dela tivesse que ser sacrificada, saber que Tom estaria a salvo lhe dava toda a segurança que
necessitava para suportar o que fosse.
—Por que demora tanto? —disse Scout McMaster. Um sorriso desagradável lhe desenhou
no rosto enquanto seus olhos antipáticos lhe percorriam o corpo com um olhar lascivo. Sara
tragou o horrível nó de sua garganta.
—Terá que nadar bastante até a ilha —replicou, tentando parecer calma.
—Se houver uma ilha —sussurrou ele brandamente. Alargou sua mão livre e Sara tentou não
estremecer-se quando lhe acariciou o cabelo. Tinha a boca entreaberta e Sara se estremeceu ao
ver os dentes amarelos. Cheirou seu fôlego nauseante e conteve o impulso quase incontrolável de
levantar o joelho e encaixar-lhe onde mais lhe doesse.
Entretém, Sara. Detenha. Tom necessita mais tempo.
O coração lhe golpeou ferozmente no peito ao pensar no que estava a ponto de fazer.
Sentiu-se desmaiar quando o ar tentou penetrar seus pulmões constrangidos. O revólver lhe
cravou dolorosamente nas costelas e Sara forçou um sorriso sedutor em seus lábios.
A poucos momento a Matthew lhe insensibilizaram os braços e as pernas, mas o temor do
que aconteceria a Sara se ele não voltava lhe propulsou a fazer caso omisso a aquela sensação.
Sara. A mulher de seus sonhos. A mãe de seus filhos. Uma mulher apaixonada e cheia de

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talento. Forte e independente.


Os pulmões lhe ardiam e respirou procurando ar. Os braços e as pernas começaram a ir mais
lentos, a fazer-se mais pesados. O pânico aumentou um pouco. Seu joelho deu contra algo e
golpes de dor lhe subiram até o quadril. Praguejou. Suas mãos roçaram uma rocha. Uma rocha
cheia de arestas. Logo outra.
Merda, tinha chegado à ilha! Uma parede de cor cinza se erguia como um gigante frente a
ele. Tivesse jogado um alarido de júbilo, mas não poderia nem ter falado, do frio que tinha.
Saindo das ondas negras, Matt se estremeceu quando as frias gotas de chuva fizeram
contato com sua pele nua. Sentou-se em uma das rochas junto à água para recuperar o fôlego e
jogar um olhar.
A névoa envolvia tudo. Contraiu-lhe as tripas. Nada parecia conhecido.
Possivelmente se tinha equivocado com respeito a essa ilha? Possivelmente tinha posto as
provas em algum outro lugar? Possivelmente tinha sonhado que estava ali?
Forçou-se a ficar de pé e começar a andar. Tinha que manter-se forte. Tinha que pensar.
Pensa, homem, pensa. Onde teria guardado as provas?
Tão imerso em seus pensamentos ia que passaram uns minutos antes que se desse conta de
que seu avanço era mais rápido. Achava-se em uma praia de areia. Naquele momento viu o
caiaque de barriga para cima e finalmente recordou onde tinha posto as provas e como podia sair
da ilha e resgatar a Sara.
—Quem matou Robin? —fez a pergunta assim que esta lhe ocorreu.
Felizmente, os secos lábios do Scout se detiveram uns centímetros dos dela.
—Certamente que sabe como amassar uma festa, neném —a pistola se separou de suas
costelas e lhe deu um forte empurrão.
— Se cruzou com um projétil —respondeu, zangado.
— Que acredita? Whitey tinha que fazer limpeza.— Não se pode trabalhar com lixo que te
engana.
—Então, Tom não o fez?
—Por que caralho lhe chama Tom? Seu nome é Matthew Brown, ao menos esse é o nome
que tinha em Nova Iorque —acariciou o canhão de sua arma com afeto.— E não vejo o momento
de lhe matar —seus penetrantes olhos azuis se dirigiram a Sara, e percorreram os peitos para logo
deter-se em sua entre perna.
— Mas primeiro faremos que olhe enquanto me divirto contigo. Desfrutarei com seus gritos
quando gozar dentro dessa bonita boceta que tem. A pena é que tenhamos que nos separar logo
para que se reúnas com seu noivo na caminhonete onde ambos sofrerão um desafortunado
acidente quando a caminhonete fique nas vias do trem.
Sara se estremeceu por lhe ouvir. Esteve-se perguntando como o fariam sem chamar muito
a atenção. Que melhor que fazer que parecesse um acidente de carro?
—Dá-te conta quão fácil resultou? Quão único terei que fazer era que o chefe dissesse que
era culpado e todo mundo acreditaria. Matty é um imbecil mais que acredita que pode limpar as
ruas. Não pode fazê-lo sozinho, somos muitos —lançou uma gargalhada.

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— Vêem aqui, que quero passar bem contigo.


Ela lançou um grito de desgosto quando a agarrou novamente e lhe rodeou a cintura com
uma força incrível. Apertou-a muito. Sentiu o vulto de seu pequeno pau lhe roçando a coxa e
controlou o desejo de gritar. Ele voltou a baixar a cabeça e lhe roçou o pescoço com os úmidos
lábios.
Que Deus a perdoasse, mas ia começar a defender-se em qualquer momento. De repente,
viu algo nas águas escuras. Antes que pudesse localizá-lo, tinha desaparecido.
Rapidamente se deu a volta e se forçou a olhar fixamente para a costa.
—O que acontece? —chamou Pauline do tronco onde se achava sentada a uns metros deles.
Ela fez um esforço por aparentar nervosismo, atuar como se tentasse dissimular e esconder
algo. Que era o que fazia.
—Na… nada. Pareceu-me ouvir algo.
Scout, seguiu-lhe o olhar, cravando seus olhos nos arbustos que ela tinha olhado antes.
Tentando parecer o mais natural possível, Sara lançou um olhar por cima do ombro às águas
onde tinha visto o movimento antes. Os olhos lhe saíram das órbitas.
Merda!
Tom sentava em um pequeno caiaque de madeira com um remo cruzado horizontalmente.
As águas ardidas do lago lhe sacudiam como a um brinquedo, mas, milagrosamente se mantinha
na flutuação.
Em uma mão levava um pacote envolto em plástico. Na outra, uma arma. Fez-lhe gestos de
que separasse do Scout, mas antes que ela pudesse lhe obedecer, Scout, que lhe tinha detectado,
agarrou a Sara e a aproximou de seu lado bruscamente.
—Solta a arma, Matty! —gritou ao Tom.
Pauline se deu a volta com um sorriso sinistro nos lábios finos.
—Olhe quem traz a ressaca.
—Solta a arma! Solta-a já! Advirto-lhe isso! —gritou Scout com raiva. Raiva e um pouco de
pânico.
Sara fez uma careta quando a boca da arma do Scout lhe roçou a têmpora.
—Nem morto, Scout — gritou Matthew.— Aqui estão as provas. Solta-a. Fá-lo já ou lhe
Mato!
—Atira —exigiu Pauline.
— Se ficar com a arma, encarregamos disso.
Matthew assentiu com a cabeça e atirou o pacote. Caiu na praia molhada. Pauline não
perdeu nem um minuto. Correndo até a borda, ela o agarrou. Rasgando o exterior de plástico do
envelope de papel pardo, lançou um chiado de alegria. Colocando a mão dentro, tirou uma
pequena fita de vídeo.
—Aqui está! —exclamou, mostrando a minúscula fita.
Scout McMaster afrouxou a pressão sobre Sara e se estirou a olhar.
—É a original, suponho? —gritou ao Matthew.
—Suponha o que queira. Solta a Sara agora mesmo! —ordenou .

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— Tem o que queria e pronto.


—Atira a fita ao lago —disse McMaster a Pauline. Obedeceu-lhe e a jogou longe. O
estômago de Sara se contraiu quando as enormes ondas a engoliram.
—Vêem aqui, Sara —disse Matthew.
Scout assentiu com a cabeça e a soltou.
Sem acreditar na sua imensa sorte, Sara não duvidou. Dirigiu-se rapidamente para a praia.
Para o Tom.
Seus olhos se abriram de espanto quando girou a cabeça e viu que Scout apontava ao Tom
com a arma. Fascinada, viu como McMaster apertava o gatilho. Ouviu-se um tiro.
Lançou uma exclamação por ouvir um horrível grunhido proveniente do McMaster. Pauline
gritou quando o traficante de armas se agarrou a cabeça e caiu de bruços.
Sara se deu a volta. Felizmente, Tom se achava sentado a salvo no caiaque. Mas desaparecia
rapidamente entre a espessa névoa. Nesse momento Sara viu que Pauline levantava a arma e
apontava ao Tom. Sara correu imediatamente para Pauline. Ouviram-se mais tiros. Tom caiu para
trás na água.
Deus santo, desapareceu sob as ondas!
Sara olhou a Pauline e viu um maligno sorriso de satisfação esboçada nos lábios vermelhos
carmim. Sua pistola se dirigia agora a Sara.
Sentiu que se afundava. Esta vez não sairia com vida. Mas seguiu correndo. Enquanto ficasse
ar nos pulmões, teria uma oportunidade.
Ouviu gritos atrás dela.
Seguiu correndo.
Ouviu mais disparos.
Algo lhe raspou o quadril, seguido de uma dor aguda e ardente. Ficou sem fôlego ante sua
intensidade. Tropeçou. Rapidamente recuperou o equilíbrio e começou a correr novamente.
Logo se deteve de repente ao ver o buraco de bala na frente do Pauline. A loira estava morta
antes de cair na areia da praia.
Precisava chegar ao Tom. Precisava lhe tirar dali.
Dirigiu-se à água e ouviu uma voz conhecida que a chamava. Um momento mais tarde se
inundou nas águas frias e negras onde tinha visto afundar-se ao Tom.
—Tom, merda, Tom! Responde, filho da puta! —gritou ao começar a nadar para dentro do
lago.
—Que bonito, né? Assim fala uma dama? —ouviu-se uma voz perto.
—Tom? —exclamou Sara, tentando penetrar com o olhar a espessa névoa branca.
Ouviu que tossia e nadou rapidamente para ele.
E logo lançou uma exclamação de alívio quando lhe viu, seu rosto branco como o leite
contrastando com as ondas escuras quando se dirigia nadando para ela.
—Encontra-te bem? —exclamou ele, cuspindo água.
Ela chorou de alegria ao lhe ver. Uma ferida de bala lhe sangrava no ombro.
—Está vivo, isso é tudo o que importa! —gritou ela.

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—Que caralho aconteceu? —disse-lhe, batendo os dentes. Parecia débil.


—Não sei. Scout morreu. Pauline está morta. Não sei quem lhes matou.
Uma voz desesperada se ouviu através da névoa.
Era Jo.
—Sua irmã —murmurou Tom. Seus dentes batendo mais forte agora. Ou possivelmente
eram os dela?
Ela assentiu. Quando ficaram de pé, ele a abraçou e seus ardentes lábios cobriram os dela.
Quanto tinha esperado aquilo. Sentir a calidez do Tom lhe rodeando o corpo uma vez mais.
Sentir-se completa.
A dor de seu quadril se intensificou. Cambaleou-se.
—Sara? O que te passa?
Ela começou a sentir náuseas.
—Acertaram-lhe —ouviu a voz desesperada de Jo.
—Temos que chamar uma ambulância —exclamou Tom.
—Já lhes chamei com o celular. Há um helicóptero a caminho.
—O que acontece? Há alguém doente?
—Sim, você, minha doçura —disse Tom com ternura. Levantou-a em seus fortes e quentes
braços.
—É minha culpa. Toda minha culpa —lhe sussurrou Tom ao ouvido.
— Devia partir a primeira noite que te vi. A noite em que me apaixonei por você.
—Aah, amor a primeira vista. Não me parece o tipo —murmurou Sara.
O temor se desvaneceu quando se aconchegou contra Tom. Sentia-se tão amada. Tão a
salvo. Tão cálida.
Fechando os olhos, permitiu que a rede de segurança da inconsciente a capturasse.

Capitulo 20

O inconfundível aroma de medicamentos golpeou como um maço o nariz de Sara,


obrigando-a a abrir os olhos. Sentia-se dopada, como em outro mundo.
Viu cortinas cor verde pálida e ouviu sussurros que provinham de longe.
Seu olhar se posou sobre Tom, que se encontrava desabado em uma pequena cadeira de
metal com aspecto incômodo. Uma barba de dois dias lhe cobria o atraente rosto. O rítmico subir
e descer de seu peito indicava que dormia. Levava um braço na tipóia. O outro se alargava por
cima da cama e seus quentes dedos se entrelaçavam com os dela.
Sara sorriu.
Matthew. Seu nome era Matthew, não Tom. Dava-lhe voltas e voltas na cabeça. Tinha mais
aspecto de Matthew que do Tom.
Doce. Honrado.

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Duro. Perigoso. Sexy.


Uma cálida serenidade a percorreu e fechou os olhos para sonhar com prateadas correntes
de chuva e um magnífico estranho de olhos cor esmeralda que fazia o amor de forma deliciosa
sobre sacos de dormir no velho abrigo de uma praia de areia, com uma única vela titilando na
janela.
Sara não soube quanto tempo dormiu, mas a seguinte vez que despertou sentiu um pouco
mais centrada e emocionada de encontrar ao Tom —Matthew, teria que acostumar-se a aquele
nome—, ao Matthew sentado na mesma cadeira com os dedos entrelaçados com os dela.
Esta vez ele se achava acordado, mas tinha o olhar vazio como o de um zumbi. Ela olhou
preocupada as olheiras sob os olhos masculinos, a expressão de cansaço de seu rosto.
Como se ele se desse conta de que lhe observava, ele piscou e se inclinou para frente, lhe
apertando a mão.
—Está acordada? —perguntou-lhe com ansiedade.
—Ah, ah!. Está bem? —perguntou-lhe brandamente ela, o olhar posando-se na tipóia.
—Eu? —disse ele, meneando a cabeça com assombro.
—Sim —assentiu com a cabeça Sara.
— Você. Não tem bom aspecto. Encontra-se bem?
Ele levantou a mão feminina e beijou brandamente cada um de seus dedos. O ligeiro contato
de seus lábios fez que Sara formigasse de excitação.
—E além disso é um homem "de dedos". Que bom. Muito bom.
Ele sorriu, mas a preocupação escurecia seus olhos.
—Dói-te muito o quadril?
—Um pouquinho .
Ele alargou a mão para pulsar o botão da enfermeira.
—Chamarei à enfermeira para que te dê algo para a dor.
—Não, está bem. Estou bem. Seriamente —viu que ele relaxava.
— Então, agarramos aos maus?
—Sim, agarramo-lhes.
—Fizemos uma boa equipe, verdade?
Os dedos dele se apertaram desesperadamente e ela quase protestou pela forma em que
lhe apertava a mão, totalmente diferente à maneira em que roçava os nódulos com a bochecha.
—Claro que sim —a voz masculina se converteu em apenas um suspiro.
—E? O que aconteceu? Lembro que Jo estava ali e logo nada.
—Salvou-te a vida.
Sara tentou sorrir mas sentiu que voltava a dormir. Tinha que fazer que ele seguisse falando.
Manter-se acordada. Não sabia por que, mas havia algo nos tristes olhos do Matthew que a
assustava. Parecia um pouco distante, e entretanto era óbvio que a queria. O que acontecia?
—Conta-me o tudo.
—Está segura?
Sara assentiu com a cabeça.

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—Vai logo.
—Tenho tempo —disse, contendo um bocejo.
—De acordo. Bem… depois de receber sua engenhosa mensagem no refrigerador, Jo saiu
disparada a Perca. Vi-a da água. Fiz-lhe gestos com as mãos de que ela cobrisse a Pauline e que eu
me ocuparia do Scout. Resulta que não podia disparar diretamente a Pauline de onde estava, mas
antes que pudesse dizer isso montou-se o inferno. Meu engano —disse Matthew, meneando a
cabeça, as pequenas rugas que rodeavam sua doce boca aprofundando-se em uma careta.
— Devia sabê-lo, mas eu queria ao Scout. Ele estava muito perto de você. Tive… tive medo
—lançou uma risada afogada, ou ao menos isso pareceu a Sara até que viu as lágrimas que
brilhavam em seus olhos cor esmeralda.
— OH, Deus, Sara —lhe quebrou a voz, fazendo que Sara se assustasse mais por ouvir a
tortura e a aparente culpabilidade que lhe invadia.
— Sinto muito que tudo isto tenha acontecido. Imaginei que não te passaria nada, mas não
foi assim.
—Estou bem —lhe tranqüilizou Sara.
— Você está bem. Tudo está bem. Já acabou tudo — as pálpebras lhe pesavam um montão.
—Está cansada. Deveria dormir.
—Não —conseguiu resmungar ela.
- Fique. Quero ouvir sua voz. Segue me falando. Que mais aconteceu?
Ouviu que ele fazia uma profunda inspiração.
—Pauline está morta. Não era minha esposa. Tinha-me drogado e falsificado minha
assinatura no certificado de matrimônio. O nome que eu usava não é legítimo e o matrimônio
nunca foi consumado.
A idéia de que Matthew fosse um homem livre lhe pareceu incrível. Atreveu-se a esperar
que algum dia estivessem juntos.
—Scout não está morto. Viverá. Será um vegetal. Não irá a julgamento por seus turvos
negócios.
—Ao menos não pode fazer mais dano vendendo armas.
—Suponho que não —titubeou um momento e logo disse—: Garry retornou. Encontrou as
provas em um armário naquela academia de polícia abandonada da que falava. A mesma
academia a que foram Whitey, Robin e Garry. Parece que tinham sido todos amigos até que Garry
recebeu uma bala em vez de Whitey Jeffries.
—O que?
—Garry e Jeffries foram companheiros em uma época. Uma noite, um cara até as orelhas de
droga lhes surpreendeu quando foram patrulhando a pé. Whitey Jeffries utilizou ao Garry como
escudo. Garry recebeu a bala em vez dele.
—OH, Deus. Não sabia que tinha sido Whitey, pensei que era o drogado.
—Garry não o disse nunca a ninguém exceto a seu irmão… anos depois de que acontecesse.
—Mas, por que calá-lo? Não entendo por que Garry ia ocultar algo assim.
—Porque Garry não queria ter que passar a parede azul de silencio pela que vivem os tiras.

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Se tivesse denunciado ao Whitey, teria havido uma investigação. Segundo Robin, não havia provas
físicas contra Whitey. Era sua palavra contra a do Garry. Se Garry tivesse falado então, sua vida e a
de sua família teria sofrido perigo. A alguns tiras não gosta da idéia de que outros tiras dêem com
a língua aconteça o que acontecer. Garry poderia ter morrido. Ou pior ainda, alguém de sua
família poderia ter morrido. Decidiu que a única forma de proteger a sua família era mantendo o
bico fechado.

—Como pôde viver sabendo isso? Como podia ver o Whitey subir até chegar a chefe de
polícia sabendo que era semelhante covarde?
—Segundo Robin, Garry se remoeu durante anos até que finalmente contou a seu irmão.
Robin não era desses que ficam sentados vendo que aconteça algo assim, por isso finalmente foi
pelo Whitey sozinho. Durante um tempo se fez passar por tira corrupto, mas logo adoeceu de
câncer e teve que interromper sua cruzada contra Whitey e me contratou . Justin Jeffries não
matou ao Jack. Eu recordo uma luta terrível entre o Blake e Jeffries quando Jeffries viu o pendente
com a bala que Blake levava no pescoço. Era do mesmo calibre do que tiraram do corpo de seu
marido. A bala que tinha desaparecido, que alguém tinha tirado da parede.
—Mas Justin levava o pendente. Disse que ele…
—Já sei. Recordei que tinha visto o Jeffries agarrar o pendente do corpo do Sam aquela
noite, depois que lhe disparou pelas costas. Sinto muitíssimo haver dito que Justin era o assassino
de seu marido. Naquele momento estava desesperado e tentava encontrar uma forma de
desgostar ao Justin. Whitey se irrita bastante quando um de seus meninos está aborrecido. Mas
funcionou. Whitey se livrou do Justin. Oxalá não tivesse feito você passar aquele inferno.
Ela teria que encontrar-se aborrecida com ele por fazê-la sofrer daquela forma. Mas não
estava. Ele conhecia as fraquezas do Whitey e tinha atuado rapidamente para tentar lhes tirar do
perigo da única forma que podia dadas as circunstâncias.
—Diz que viu o pendente com a bala no pescoço do Blake, perguntou-lhe sobre ele e Blake
riu e se gabou de ter cometido um assassinato e ter saído impune. Aquela foi a discussão que ouvi
enquanto estava semi inconsciente no porão da cabana. Depois daquilo, Blake partiu durante um
momento e Jeffries me vigiou, mas quando Blake voltou e tentou me matar, Jeffries matou a ele
e…
—E tentou te incriminar do assassinato, que estava à mão.
—Uma montagem para me incriminar. Tal pai , tal filho —reconheceu ele.
—Mas, por que Sam mataria meu marido? Disse algo sobre o diário do Jack?
—Depois de ter perguntado às pessoas do povo, a teoria da polícia provincial é a seguinte:
pouco antes que morresse Jack, um topógrafo local confirmou o achado de uma mina de
ametistas em sua propriedade. O topógrafo local e Blake são irmãos. Bate-papo de irmãos. Ao
Blake começou a ocorrer- lhe a idéia. Sabia que Jack e seu companheiro Jeffries eram bons amigos.
Justin diz que pouco tempo antes que Jack morresse Blake começou a lhe interrogar para
conseguir informação. Perguntou-lhe todo tipo de coisas sobre o Jack e sua propriedade. Começou
a fazer-se amigo de seu marido e a vir muito com o Justin.

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—Deus santo, vinham bastante os últimos tempos, mas, por que matar ao Jack pela mina?
Não podiam fazer nada com os minerais. O governo o teria reclamado de todas as formas. Tem
todos os direitos do subsolo aqui, no Canadá.
—Blake e seu irmão, o topógrafo, fizeram desaparecer todos os registros da reclamação.
Sara lançou um suspiro, confusa.
—Não compreendo. Como iam saber da mina se desfaziam dos registros? —embora estava
uma confusão, dava-se conta de que havia muitas perguntas sem resposta.
—Isso é o bonito do plano. Levam mais de um ano trabalhando em uma mina ilegal no norte
de seu terreno. Cran Simcoe acaba de dizer a um dos oficiais que um companheiro de bebedeira
que tinham contratado para que trabalhasse na mina recebia grandes quantidades de dinheiro
para manter o bico fechado deu com as língua faz umas noites quando estava bêbado.
Cran tinha medo de falar com o Jeffries, assim foi à Baía do Trovão e falou com a polícia dali.
Isso foi o que desencadeou tudo. Eles voaram com um helicóptero por cima de sua propriedade e
descobriram a mina. O resto já sabe.
Aquilo era muito para assimilar de repente. Tom não brincava ao dizer que aquilo era uma
longa história.
—Então, por que destroçar minha estalagem?
—Possivelmente Blake desejava que partisse da propriedade. A venderia a ele e ele poderia
controlar o que acontecia ali. Impedir o acesso a intrusos e ficar com os lucros de todas as vendas
ilegais.
—Mas ele não fuma —disse ela quando recordou o aroma de tabaco pouco tempo depois de
ter entrado na cabana à noite em que dispararam ao Jack.
—OH, sim, certamente que o faz. Fuma às escondidas, como Jeffries. Um tira fumante não
dá uma boa imagem hoje em dia.
Deus, aquilo era uma confusão de informação.
—Como se inteiraram de que estava em Perca?
—Jeffries e Blake ouviram a senhora McCloud e a outra mulher que trabalha na loja falar
sobre um cara desalinhado montado em uma Harley reluzente que entrou na loja pedindo
informação para ir à Estalagem de Peppermint Creek, que mais tarde esse dia eu voltei a entrar
para perguntar se havia um lugar barato onde me alojar enquanto você voltava. Ela sugeriu um
par de hotéis mas imaginei que como minha moto tinha documento roubado, melhor seria que
passasse despercebido. Mencionei que não tinha muito dinheiro e se sabia de algum lugar onde
pudesse acampar, e ela mencionou a cidade fantasma. Assim ali foi aonde me dirigi.
—Chama-se Sue. Trabalha na loja as sextas-feiras de noite.
—Exato, Sue. Dei-lhe cinqüenta para que copiasse uma fita. Enviei o original ao Garry, a
cargo da Estalagem de Peppermint Creek. Ainda tenho que e dizer ao Garry que vá recolhê-la.
Sara recordou a conversa da viúva McCloud sobre um motorista bonito que tinha entrado na
loja e logo tinha dado a Sara o correio, incluindo o pacote para o Garry.
—Eu o tenho.
—Seriamente?

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—Sim, não o recorda? Quando voltávamos do povo. Tinha dor de cabeça e olhou dentro da
bolsa, procurando remédios. Certamente viu o pacote e isso desencadeou umas lembranças que
lhe pos doente. Eu acreditava que tinha visto as camisinhas.
—Havia camisinhas na bolsa?
—Estavam no fundo. Eu acreditei que não queria deitar comigo… É uma tolice, mas foi quão
único me ocorreu.
De repente, ele riu. Uma boa gargalhada, que lhe brotou do meio do peito.
Sara lançou uma risada. A risada dele era contagiosa.
—Eu também comprei! Escondi-os no celeiro —ficou sério de repente.
— Mas não usamos camisinhas todas as vezes.
Ela notou o relâmpago de dor ou possivelmente arrependimento em seus maravilhosos
olhos verdes.
—Sem ataduras, recorda? —disse rapidamente, tentando relaxar.
Ele franziu o cenho e se recostou na cadeira, seus dedos soltando finalmente os dela.
Uma sensação desagradável, triste, invadiu o coração feminino. Possivelmente ele não
queria ter um menino com ela? Possivelmente pensava que tudo era um grande engano? Bem, má
sorte. Já era tarde agora, já o tinham feito. Se estivesse grávida, criaria a seu filho sozinha.
—Não tenho nenhuma enfermidade de transmissão sexual. Sempre usei camisinha… até
nós.
Ela sabia que ele era um homem cuidadoso, mas quando ele disse em voz alta uma onda de
alívio a percorreu.
—Onde está Whitey? —perguntou, tentando trocar de tema. Agora não era momento de
falar daquilo. Necessitava que Garry e Jo lhe ajudassem, mas primeiro tinha que saber qual era a
situação do Matt.
—No cárcere com uma perna quebrada e comoção cerebral. Demorará muito em sair, se o
fizer alguma vez. Ao menos, se essa fita valer no julgamento.
—Então, acabou-se. E está livre. Livre para fazer o que quiser. Para estar com quem quer —
fechou os olhos. Estava cansada. Afastava-se. Afastava-se do Matthew.
—Quero-te, Sara —o grave sussurro masculino atravessaram as grossas capas de sono que
lhe cobriam o cérebro e a Sara ouviu com prazer que dizia—: Te quero, Sara. Ouve-me? Quero-te
mais que a minha vida, mais que a minha felicidade. Recorda-o sempre. Aconteça o que acontecer.
Eu também te quero, Tom. Matthew. Eu também te quero.

A seguinte vez que Sara despertou encontrou Jo sentada na cadeira junto a ela com um
enorme sorriso desenhado no rosto, mas o sorriso não se refletia em seus olhos preocupados.
Instantaneamente Sara se deu conta de que algo mau acontecia.
—Bom dia, irmãzinha, como te encontra? —perguntou-lhe Jo alegremente. Um pouco muito
alegremente.
—Melhor.
—Tem melhor aspecto. Muito melhor. Estávamos preocupados.

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—O que passou? —perguntou Sara, passando-a língua pelos lábios secos.


—O projétil se alojou junto a sua pélvis. Tiveram que te operar para tirá-lo. Não é grave.
Poderá te pôr de pé e andar em seguida.
—Não. Refiro ao que aconteceu ao Matt. Onde está? Seu ombro?
Jo franziu o cenho.
Sara sentiu que se fazia um horrível nó no estômago quando sua irmã se aproximou dela
para lhe dar uns tapinhas no ombro.
—Está bem. Ah, toma, deixou-te isto —disse e tirou um envelope cor lavanda de sua bolsa
para passar-lhe. _Disse que te desse isto assim que despertasse. Quer que fique?
—Não, está bem —mentiu ela, lutando com as ardentes lágrimas que lhe apagavam a visão.
—Vou lá fora, se por acaso me necessita.
Ela assentiu silenciosamente e esperou a que Jo saísse antes de abrir o envelope e tirar uma
única folha cor lavanda.
Meu amor:
Desejaria poder te dizer em pessoa novamente o muito que te quero. Mas quanto mais
ficasse mais seria o risco que corria você do que lhe fizessem mal. Não quero que nada te
aconteça, não seria capaz de viver sabendo que te causei mais dor.
Merece a oportunidade de ser feliz. Ser mãe, ser a esposa de algum cara afortunado. Sei que
odiarei a morte, mas você sabe julgar o caráter das pessoas, assim confiarei em seu bom
julgamento. Com tal de que seja feliz, Sara.
A melhor forma de demonstrar o muito que te quero é que esteja a salvo. Longe de mim. Sei
que sou um covarde ao fazer o desta forma, mas se lhe dissesse isso em pessoa, não seria capaz
de ir. É melhor assim. Sempre te amarei.
Matthew. "Tom"
Filho da puta.
Dava-lhe voltas a cabeça.
Covarde.
Como podia lhe fazer aquilo?
Sentia o coração como se o tivesse atravessado uma bala enquanto recordava a forma em
que o sorriso torcido dele a emocionava, a forma em que seu suave contato a fazia fundir-se em
seus braços, a forma triste em que ele a tinha olhado a última vez que tinha visto.
Esteve-se despedindo dela. E ela estava tão sedada que não se deu conta.
"Sara, te amo. Nunca o esqueça. Amo-te mais que a minha vida, mais que a minha própria
felicidade".
Furiosa, apertou os punhos.
Rompeu a carta em pedacinhos e os jogou no chão. Não permitiria que saísse tão facilmente.
Encontraria aquele filho da puta. Enfrentaria-se a ele. Embora levasse o resto da vida o encontrar.
Faria-o.
Garry e Matthew viram como a tela do televisor ficava negra.
—Fez um bom trabalho, Matthew. Robin escolheu um bom homem para que lhe ajudasse.

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O elogio do Garry não conseguiu dissipar a tristeza que oprimia o coração do Matt.
Perguntou-se se Sara teria despertado e lido a carta. Era a única forma que lhe ocorria de mantê-la
a salvo. Teria que submeter-se ao julgamento pelo assassinato do Robin, embora não o tivesse
cometido. Whitey não falava e Pauline e Scott certamente que tampouco.
Jo e Garry não tinham podido encontrar nada que demonstrasse que ele não tinha matado
ao Robin. O feito de que Whitey fosse agora um criminoso certamente que desacreditaria seu
testemunho contra Matthew, mas seguia sendo a arma do Matthew a que tinha sido utilizada e
seu projétil o que tinha matado ao Robin. Por não mencionar que a pistola só tinha suas
impressões digitais. Garry disse que possivelmente obtivesse que o cargo se reduzisse a homicídio
involuntário e Matthew pudesse sair em uns poucos anos, mas não podia pedir a Sara que lhe
esperasse. Não queria lhe fazer isso.
Ficou de pé e atravessou a estadia para rebobinar a fita. Alargou a mão e estava a ponto de
apertar o stop quando a tela da televisão de repente ficou negra e uma voz conhecida se ouviu na
estadia.
—Parte, menino. Pela janela do quarto de banho. Eu lhes distrairei —a voz do Robin. Um
pouco afogada mas era sua voz. E parecia assustado.
—Meu Deus, o que acontece? —ouviu-se a voz quebrada do Garry detrás do Matthew.
—Não te deixarei aqui —era a voz do Matt. De repente, este se deu conta com um
sobressalto do que estavam ouvindo.
— Eu lhes atraí até aqui. Coloquei você nisto. Estamos juntos.
Matthew ficou boquiaberto.
—Não me colocou nisto, recorda? Fui eu quem colocou a você.
—Polícia! Abram! —surgiu um vozeirão da televisão.
—É a voz do Whitey —disse Garry, aproximando a cadeira de rodas ao Matthew.
Matthew meneou a cabeça incrédulo.
—Não sabia que estava gravando. Robin terá apertado o botão da câmara acidentalmente
ao colocá-la na maleta —Matthew apertou o stop ao dar-se conta do que estava ouvindo Garry.
— Por Deus, Garry, não quererá ouvir isto.
—Claro que quero!
—Não, não quer. É…
—Sei perfeitamente o que é. E se for o que acredito, então te exonera. Ponha em marcha.
—Não posso ouvir isto —disse Matthew, meneando a cabeça.
—Fá-lo você ou o faço eu.
—Não posso —disse Matt atordoado. Se tinha gravado tudo naquela fita, não desejava por
nada do mundo revivê-lo.
—Eu o escutarei, Matt —a voz do Garry se suavizou.— Vai agora. Como o planejamos. Eu
escutarei a fita e me ocuparei de tudo.
Matthew assentiu silenciosamente e se dirigiu à porta.
Assim que saiu da estadia se estremeceu quando o inconfundível estalo de um disparo
proveio da televisão.

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A última sexta-feira de noite, fazendo honra à palavra de Jo, Garry levou a viúva McCloud ao
bingo. Garry desfrutou tanto com sua companhia que seguiu levando-a ao bingo as sextas-feiras
de noite e jantando em sua casa os domingos.
O que aconteceu com o Tom? Ou possivelmente devesse começar a referir-se a ele por seu
nome real, Matt. Nem pio dele.
Se Jo e Garry sabiam seu paradeiro, não lhe disseram nada.
Mas a mera idéia de que Matt não teria que ver-se sujeito a um julgamento por assassinato
e que estava vivo e a salvo em algum lado deu a Sara a coragem para conservar sua energia e sua
decisão de lhe ver novamente.
Uma tarde de meados de junho, enquanto voltava de uma viagem ao povo, Sara descobriu
que havia um novo letreiro esculpido à mão pendurado no caminho substituindo ao que tinha sido
motivo de queixa das pessoas.
Ela correu pelo atalho e viu um teixo recém plantado na mesma área em que anteriormente
estava a árvore do amor. Com o coração pulsando a mil, correu ao celeiro e encontrou o letreiro
antigo.
Havia aparas e serragem no chão onde tinham esculpido o letreiro. A respiração de Sara se
acelerou ao ver.
Matt tinha estado ali. Finalmente se tinha aproximado.
Agora tinha chegado o turno dela.
Matthew se sentou de repente no saco de dormir. Um suor frio lhe empapava as costas,
molhava o rosto. Sua respiração era entrecortada e o coração pulsava desesperado no peito.
Tinha tido o sonho novamente. O mesmo sonho que tinha todas as noites, repetindo o que
tinha acontecido o dia em que havia sentido tão impotente nas águas cobertas de névoa da Baía
de Perca quando tinha visto que Scout McMaster agarrava a Sara e lhe apontava a cabeça com
uma pistola.
Ao Matt lhe tinha caído a arma dos dedos quando o projétil de Pauline lhe tinha acertado no
ombro, logo tinha visto paralisado de terror como Pauline apontava o revólver a Sara na praia.
A névoa lhe tinha envolvido, impedindo de ver o que lhe acontecia. Naquele momento, o
som dos disparos retumbou, lhe enchendo de medo. Quase se tinha deixado afundar na água para
afogar-se ao pensar em que Sara pudesse estar morta.
Mas logo tinha ouvido Sara lhe chamando.
Tinha o encontrado na água e tinham voltado para a praia. Ela desmaiou em seus braços e
ele quase deteve o coração ao ver a quantidade de sangue que ela perdia.
Todo aquele sangue.
A mesma pergunta o seguia queimando. Por que não teria disparado a Pauline em vez do
Scout McMaster? Fez contato visual com Jo uns segundos antes que se armasse a de São Quintín 3.
Tinha indicado a Jo que cobrisse Paulina e que ele se ocuparia do Scout. Tinha pensado que Sara
estaria a salvo.

3
Prisão Estadual dos Estados Unidos

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Mas não. Tinham-lhe disparado.


Fez mal os cálculos e quase a tinha matado.
Lançou um suspiro entrecortado. Tinha falhado com Sara. Também falhou com Garry e Jo, a
quem tinha prometido que protegeria a Sara.
E tinha falhado a todos. Genial.
Baixou o zíper do saco de dormir e saiu dele. Ficou de pé nas frias tábuas do abrigo dos
barcos que tinha compartilhado com Sara.
Jesus, jogava muitíssimo de menos!
Agarrou os fósforos e acendeu o pequeno lanterna Coleman que lhe tinha dado Garry.
Sua mão acariciou a Lisa superfície plástica da câmera. A polícia a tinha encontrado dentro
da mala que lhe tinha dado Robin. Aparentemente, Justin a tinha encontrado na cabana em que
Matt se alojava quando o tinham surpreendido e a tinha jogado no poço junto com o Blake.
Tinha conseguido limpar a imundície e a água e agora funcionava perfeitamente. Mas não
sabia se poderia voltar a usá-la. Sempre lhe trazia lembranças da noite em que viu como matavam
ao Robin.
Possivelmente algum dia a voltaria a usar. Por prazer não trabalho. Mas necessitava tempo
para sanar. Muito tempo.
Garry queria que Matthew dissesse a Sara que havia retornado de seu relatório com o FBI e
da CÍA, e até a Segurança Nacional tinha estado metida no tema, mas Matt não queria aproximar-
se a ela.
Era muito perigoso para ela.
O chefe Jeffries não conhecia sua verdadeira identidade, mas havia uma possibilidade de que
a descobrisse. Matt entrou em contato com seu irmão mais novo, Daniel e o pai que estava
ajudando ao Daniel em uma escavação arqueológica no México e lhes tinha advertido das
possíveis represálias do chefe.
Também ficou em contato com sua cunhada Emily, que vivia na Ilha do Príncipe Eduardo e
com os pais da Sara e seu irmão Jessie, lhes advertindo do perigo potencial relacionado com o
caso.
Logo tinha voltado para o Canadá.
Tinha optado por ficar na Baía de Perca. Ao menos estava perto da Sara. Durante uma noite
mais embora fora.
Matthew se dirigiu descalço até o lavabo oxidado que tinha encontrado em uma das casas
da cidade fantasma. Fazendo uma terrina com as mãos molhou o rosto , desfrutando de sua
frescura. Depois daquela noite levaria-se rapidamente a uma casa segura em algum lugar do
mundo. Voltaria para Nova Iorque quando prosseguisse o julgamento. E logo quem sabe o que
aconteceria.
Possivelmente permanecesse escondido para sempre. Ou possivelmente o Chefe Jeffries,
depois de que esfriassem as coisas, seguiria o código de honra da polícia e deixaria de perseguir o
Matthew depois de dar-se conta de que este cumpria com seu trabalho ao desmascarar policiais
corruptos.

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Sem incomodar-se em secar o rosto, dirigiu-se fora.


O coaxar das rãs lhe saudou da costa. Vaga-lumes piscavam com entusiasmo pelo matagal e
a lua, cheia e brilhante, iluminava a Baía do Perca, refletindo-se nela como em um espelho.
Deteve-se na praia de areia onde tinha tido lugar o tiroteio.
Caralho, como sentia falta dela!
Sentia falta com cada célula de seu corpo, cada fibra de sua alma. Mais agora que tinha
visitado A Estalagem de Peppermint Creek e pendurado o letreiro novo na estrada principal para
ela. Tinha plantado a árvore enquanto ela estava no povo hoje. A noite anterior penetrou em seu
dormitório para vê-la dormir. Tinha-lhe acariciado o cabelo, as sobrancelhas, seus lábios. Tinha
memorizado cada centímetro dela.
Tinha tido que recorrer a toda sua força de vontade para não despertá-la, para não lhe pedir
que lhe acompanhasse.
Mas muito perigo a rodeava. Acaso não demonstrou quando a feriram?
Afundou os pés na água fria.
Quatro semanas. Exatamente quatro semanas atrás ele se achava ali na praia, vestido
somente com sua roupa interior, de uma forma muito parecida com a desta noite.
Então, Sara tinha tentado evitar que ele se metesse nas gélidas águas. Desejou que ela
estivesse com ele agora, lhe convencendo para que não se escondesse.
Dirigiu o olhar à ilha da baía onde tinha guardado a cópia da fita. A ilha se via escura e
enorme, surgindo da baía prateada pela lua como uma gigantesca baleia nadando a meia-noite.
Matthew meneou a cabeça para limpar daquelas idéias tão tolas. A falta de sono lhe causava
aquilo. Impedia-lhe que estivesse centrado.
Um raio relampejou no norte e uma brisa fresca se levantou, lhe acariciando a pele nua.
Era agradável. Quase tranqüilizadora.
Teria que estar com a Sara. Ambos deveriam estar ali tombados na praia, abraçados,
observando como se aproximava a tormenta.
Fechou os olhos e fez uma profunda inspiração.
Merda! Sentia seu doce aroma de menta na brisa. O chamando. Levando aos braços
femininos. Seus suspiros reconfortando, dizendo que tudo sairia bem.
Ao pensar em Sara seu pau se pôs rígido e duro contra a prisão de sua ajustada roupa
interior.
Uma ferroada lhe ardeu o cotovelo e lançou uma maldição, dando uma palmada ao
mosquito. Logo voltou a dizer um palavrão quando outro lhe ardeu detrás do joelho esquerda.
Uma doce risada ressonou atrás dele. O coração deu um salto de alegria.
—Doçura? —sussurrou. Surpreendeu-se tanto que não atinava a mover-se.
—Trouxe-te algo —disse ela meigamente.
Lentamente ele se deu a volta com um nó na garganta.
Estava muito bonita. Preciosa com um vestido de flores que lhe marcava as curvas, o cabelo
caindo pelos ombros, lhe cobrindo os peitos. O desejo que fez erupção dentro dele foi tão forte
que quase não se deu conta de que ela levava uma caixa branca nas mãos.

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A ânsia de alargar as mãos e lhe acariciar as sedosas mechas era poderosa. Desejou apartar
o fino tecido que cobria os peitos, tocar sua pele nua, chupar os mamilos. Apertar o corpo nu dela
na areia e afundar seu palpitante pau em sua quente boceta e senti-la menear-se baixo ele
enquanto a fodia uma e outra vez para lhe demonstrar o muito que a amava.
Teve que fazer um esforço sobre-humano para não fazê-lo.
—Fiz para você bolo de queijo com hortelã que sugeriu durante o piquenique.
O maravilhoso piquenique. Ainda recordava o doce sabor de sua nata aveludada lhe
jorrando pelos lábios enquanto comia sua boceta sobre a colcha. Parecia que fazia muito tempo
disso.
As bochechas dela se ruborizaram à luz da lua quando seu olhar se dirigiu a sua enorme
ereção. Deus santo!, Desejava tanto tomá-la em seus braços que o desejo o atravessava como
uma faca afiada.
—Como me encontrou? Disse-lhe Garry?
—Se esqueceu isto —disse ela, levantando um velho louça de lata que ele tinha encontrado
em um dos edifícios de Perca. Estava seguro de que ela se divertiria arrumando-o e participando
de um de seus concursos. Tinha-o deixado no atelier dela, seguro de que ela não subiria por um
tempo ali, ocupada que estava com a construção do novo edifício de troncos da Estalagem de
Peppermint Creek.
Deu-se de patadas por não ter tido mais cuidado. Tinha sido uma tolice, agora que o
pensava. E poderia ter produzido seu certificado de falecimento.
—Seguiram-lhe?
—Não. Tomei todas as precauções. Sabe que ainda faz um pouco de frio para acampar em
um abrigo para barcos. Não te parece que deveria vir a casa? Provar este bolo delicioso?
Mostrou-lhe a caixa.
Matthew tragou o nó que tinha na garganta.
Casa. Comida caseira. Sara.
Que maravilhoso. Tão seguro. Mas se estava ele, a casa dela se converteria em uma
armadilha mortal. Quase tinha obtido que a matassem uma vez. Não voltaria a correr aquele risco.
Fez um esforço para proteger-se do amor que fazia brilhar os olhos dela como gemas. Tinha
que lhe dizer por que tinha que ser daquela forma. Por que não podiam voltar a ver nunca mais.
Por que não podia ir-se a casa com ela.
—Antes que fosse trabalhar em segredo para o Robin, sonhava conhecendo uma mulher
como você. Saí com garotas. Estive a ponto de me casar. Uma vez. Mas ela não pôde suportar o
feito de que eu fosse tira. E eu não estava disposto a deixar meu trabalho. Assim que ela se casou
com um encanador.
Sara ficou quieta. Descalça e muito bonita lhe sorriu. Um sorriso sensual.
—O que quer me dizer com isso?
—Que fui um policial que trabalhava disfarçado. Muitas vezes tinha que levar um microfone
escondido conectado a um gravador. Dormia com os olhos abertos. Levava duas pistolas além da
regulamentar da polícia. Ambas eram pistolas de "usar e atirar", se por acaso tinha que matar a

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alguém em defesa própria. Não podíamos nos permitir nenhuma pergunta que delatasse minha
cobertura. Escondia uma na bota, a outra era o bastante pequena para que pudesse esconder com
o cabo. Tinha o cabo e a pistola pegos com fitas nas virilhas.
—Suponho que não pode ir ao quarto de banho quando está trabalhando —sussurrou ela.
Merda, não entendia nada.
—Tinha outro nome quando trabalhava em segredo. Se descobriam minha verdadeira
identidade toda minha família, todos os que me rodeavam, podiam morrer. Agora todos me
consideram um rato, um tira que tem quebrado o código do silêncio. Atravessei a parede azul
atrás da qual se esconde a polícia e agora tenho muitos inimigos a quem gostaria de me ver
retorcer enquanto racham a minha garganta.
—Não tenho medo.
—Pois deveria —disse Matthew com um suspiro.
— Ao que vou é que não sou feito para o matrimônio. Nem sequer sirvo para ser um bom
pai.
—Já acabaste?
—Não —Matthew tomou fôlego e com um esforço obteve que sua voz parecesse fria,
desapaixonada.
—Foste somente uma diversão para mim, Sara. Um amasso. Merda, dois amasso. Não te
amo —mentiu.— Não há nada entre nós. Por favor, me deixe sozinho.
Não podia seguir. Suas palavras tinham chegado a ela muito dentro. Deu-se conta pela
forma em que ela se havia posto branca como o leite.
Fazia o que tinha que fazer e agora sentia desejos de vomitar.
Rapidamente, para não trocar de opinião, passou junto a ela, que ficou rígida como uma
pedra.
Sara lhe encontrou dentro do abrigo dos barcos. O mesmo no que haviam feito o amor
durante sua estadia em Perca.
Fazia a mala.
—Por que mente?
—Não minto —disse ele, sem levantar a vista.
Olhou-lhe enrolar o saco de dormir. Com mãos trêmulas, ele tentou atar as cordas. Depois
de um par de tentativas o obteve, logo o meteu em sua bolsa.
—Tem medo, verdade? —perguntou Sara.
Matt se deteve em seco. Endireitou-se e a olhou ao rosto.
Os olhos cor esmeralda brilharam de pena, dor e medo.
—Sim —reconheceu.— Cagado de medo —não alargou os braços para aproximar-se a ela,
mas o desejava. Ela o via nos olhos. Desejava-o, morria por fazê-lo.
—Matthew…
—E se acontecer outra vez, Sara? E se um cara que me tem jurado aparece para me matar e
mata a você? —o pânico lhe exagerou os olhos. Passou-se uma mão trêmula pelo cabelo.
— E se isso acontecer e…?

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—Me escute. Está apegado aos "e se…". E se isto acontece? E se acontecer o outro? E o que
passará se não acontecer, Matt?
—E se acontecesse? —lhe quebrou a voz. Sentou-se sobre o saco de dormir enrolado,
elevando os olhos para ela, a boca apertada.
Tremia. Tremia de pés a cabeça.
—Basta! Para já, quer! Não escute esses "e se…"! Porque se o faz, acabará agarrando seu
revólver e te pegando um tiro. Não quer que aconteça isso, verdade?
—Possivelmente seja melhor assim—disse Matthew, lançando um comprido suspiro.
Por ouvir sua resposta, ela sentiu que se desatava sua ira.
—Não, não é melhor, merda! É minha vida também! Ninguém tem direito a me dizer como
vivê-la. Ninguém. Só eu, compreende? —fez caso omisso à expressão horrorizada dele.— Deus
santo, você não é meu dono! Eu já tinha minha vida antes de te conhecer e terei uma vida depois,
se não me quiser. Mas te desejo em minha vida. Perigo. Riscos e o que venha. Porque te quero
pelo que é, não pelo que faz. Então, por que não desfrutamos de nossa companhia mútua e vemos
o que acontece? Mas se não me quer, se realmente não me amar, ao menos me olhe aos olhos
para me dizer isso .Ao menos tenha o valor de fazê-lo!
Durante um longo momento ele não falou. Permaneceu sentado sobre o saco de dormir,
rígido como um pau, as mandíbulas tão apertadas que Sara viu como lhe contraíam os músculos
das bochechas compulsivamente.
Detrás deles, um raio iluminou a janela sem cristal, mas a ela não a assustava a tormenta
que se estava gerando fora.
Assustava-a a tormenta dentro dele.
A resposta dele a aterrorizava. E se ele a olhava aos olhos e lhe dizia que fosse tomar vento
fresco?
Ela tinha ido ali com toda a intenção de lutar com ferocidade por ele. Poderia deixar ir tão
simplesmente como o havia dito? Poderia simplesmente dar a volta e partir?
A chuva começou a tamborilar no telhado de madeira recoberto de musgo. Ela apenas a
ouviu. Não sentiu a fresca garoa que molhava os braços nus ao meter-se pela janela.
O fresco vento não acalmou suas ardentes lágrimas.
Ele não ia dizer nada. Ia deixar a partir.
O corpo começou a tremer, não de frio, mas sim porque se equivocou com respeito ao
Matthew. Tinha-lhe permitido entrar em sua alma. Em seu coração. E agora ele estava partindo.
Sem palavras, com seu silêncio.
Como podia lutar contra o silêncio?
Sentindo que estava a ponto de desabar-se, Sara se deu a volta para partir.
—A vida sem você é impossível. Amo-te, com todo meu coração e minha alma —o rouco
sussurro a fez dar a volta.
Ele estava de pé agora com os olhos cheios de lágrimas. Alargou uma mão trêmula e com
dedos frios lhe enxugou as lágrimas que corriam pelas bochechas. Logo, por surpresa, estreitou-a
na segurança de seus braços amorosos.

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—Lamento te haver deixado —lhe sussurrou brandamente no ouvido.— Parece que perdi
muito tempo.
—Necessitava o tempo, Matthew. Não me deixe nunca mais. Promete-me isso?
—De acordo. Vale. Prometo-lhe —lançou uma risada entre dentes e logo sua voz ficou
novamente séria.— Provavelmente nunca poderemos voltar para casa. Espero que te dê conta
disso.

Viveremos assim. Em barracas de campanha, em casas seguras por todo mundo. Nos
mudando continuamente. Tenho que atestar devido a toda a evidência que fui compilando
durante os anos. Poderia levar muitíssimo tempo. Cairão muitas cabeças.
—Irei onde esteja contigo. O tempo que necessite. Para bem ou para mau.
—Mas, e a Peppermint? Seu negócio de produtos de hortelã?
—Já recrutei ao Garry e Hilda. Estão-se mudando à casa neste mesmo momento. E tornei a
contratar a um par dos ajudantes do ano passado para que lhes ajudem com os meandros do
negócio.
—Pensa em tudo —lhe roçou brandamente os lábios com os seus. Um roce ardente que
produziu ânsia por mais.
—Não quero estar separada de você nunca mais. Quero que me faça amor —sussurrou,
desesperada por lhe sentir dentro dela novamente. Ansiosa por sentir seu amor.
Sem titubear, os trêmulos dedos masculinos se dirigiram aos botões no peitilho do vestido
dela. Aos poucos segundos, suas cálidas mãos se deslizavam pela abertura e agarravam os peitos
dela, que se enchiam rapidamente.
Os mamilos se puseram duros em seguida,a boceta lhe pulsou de desejo.
OH, Deus, que bem se sentia quando ele a tocava.
—Deixei o trabalho secreto. Assim que acabe o julgamento, se for seguro, possivelmente
possamos voltar a nos mudar à estalagem e criar a nossos meninos ali, mas as probabilidades são
verdadeiramente escassas.
—Enquanto estejamos juntos poderemos viver onde seja.
Ele esboçou seu maravilhoso sorriso de lado que a deixou sem fôlego. O olhar dele desceu à
caixa com o bolo que ela segurava na mão.
—O bolo pode esperar —sussurrou ela roucamente. Soltou o barbante e a caixa caiu a seus
pés. Com um pouco de sorte a queda não a destroçaria, mas naquele momento lhe dava igual.
Tinha coisas mais importantes que fazer, como fazer amor com o homem de seu coração.
Seu olhar se dirigiu às cordas que penduravam das amarras. Uma de suas fantasias penetrou
em seus pensamentos. A fantasia de que ele a atava, e que ela era sua refém sexual. Ele fodendo-a
no traseiro por detrás, como havia dito que faria a última vez que estiveram naquele abrigo. Ouviu
que a respiração dele se acelerava ao seguir o olhar dela e seus olhos se aumentavam excitados ao
compreender.
—Eu perdi muito menos —sussurrou ele, seus dedos lhe retorcendo os rígidos mamilos até
quase fazê-la doer. Sua firme boca foi como um afrodisíaco quando seus quentes lábios se

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apoiaram sobre os dela. Estremeceu-se contra ele quando o firme casulo de seu enorme pau se
apoiou contra os lábios de sua boceta, que se umedeciam rapidamente.
OH, sim, quanto tinha sentido falta daquilo!
Permanecia deitada acordada na cama, só todas as noites, o erótico aroma dele
impregnando seus travesseiros. O vibrador nunca era suficiente para satisfazer o desejo que se
desatou nela durante seu breve período juntos.
Agora que lhe tinha recuperado, queria que ele a fodesse até lhe tirar o sentido.
—Levo um mês me pondo de vez em quando o cone anal inflável, me preparando para você.
Tirei-me isso justo antes de vir —disse ela brandamente quando ele apartou os lábios daquele
beijo embriagador e lhe desabotoou o vestido, ajudando-a a que o tirasse.
Ele praguejou baixo por ouvi-la, ou possivelmente foi porque ela não levava calcinhas e
agora se encontrava frente a ele totalmente nua.
Subiu-lhe a temperatura e se estremeceu de um desejo tão feroz e voluptuoso que estava
ponto de gozar ao sentir o olhar masculino percorrendo suas curvas com luxúria. Ele a soltou e se
inclinou para desembrulhar novamente o saco de dormir. Estirando-o sobre o colchão inflável ,
ajudou-a a que se colocasse a quatro patas, lhe indicando como estirar-se como um gato,
baixando a cabeça, elevando os braços por cima desta e abrindo-se de pernas para levantar o
traseiro.
Ela se estremeceu ante aquela postura tão carnal, e sensações bestiais a percorrera quando
atou os pulsos com cordas. Ele se assegurou de que estivessem bem firmes com uns puxões e logo
se aproximou dela a quatro patas.
—Teria gostado de te atar a última vez que estivemos aqui, quando te coloquei o cone anal.
Ela girou a cabeça e viu que ele sorria maliciosamente, seus maravilhosos olhos reluzentes
de desejo.
—Por que não o fez?
—Não quis te assustar.
—Não me teria assustado nunca. Confio em você. E quero que leve a cabo suas fantasias
sexuais comigo da mesma forma em que quero que você desfrute com as minhas.
Franziu o cenho quando viu que ele desatava o barbante da caixa do bolo.
Ansiosa de repente de que lhe dedicasse sua atenção, Sara meneou o traseiro.
Ele não fez conta.
—Tem nata batida neste bolo, por acaso?
—Por Deus, Matt, não me faça esperar!
—Está muito linda quando se sente desesperada por que lhe fodam.
Ela inalou de repente quando os ardentes dedos lhe deixaram um rastro de fogo, ligeiro
como uma pluma, em uma das bochechas do traseiro. Com a outra mão, ele tirou o bolo da caixa.
—Ah, perfeito. Nata batida e molho de hortelã.
Estava louco? Estava ela louca por suportar aquele atraso? Se não a houvesse atado, já
estaria escarranchada sobre ele.
—Por que tem fome agora? —espetou, a impaciência pondo-a mais fogosa. Olhou-lhe passar

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os dedos pela decoração tão bonita que ela havia feito com nata sobre o xarope de hortelã.
Teria que haver-se sentido aborrecida de que ele destroçasse o bolo com tanta indiferença,
mas o certo era que não o estava. Seu olhar se dirigiu ao pau dele, violentamente vermelha, com
as veias palpitantes. Sua cabeça tinha um aspecto delicioso, com a gota pronta para gozar na
racha. O que fosse que ele pensava fazer lhe estava pondo a cem. Não teve que esperar muito
para descobrir o que pretendia.
—Não é para mim, doçura, é para você. Lubrificação.
OH, virgem Santa! Se não estivesse tão quente por ele naquele momento riria ao pensar que
seu bolo de queijo com hortelã acabaria usada nisso.
Ele levou os dedos à boca; sua larga língua rosada lambeu a nata enquanto a olhava.
—Está muito bom.
Com a língua ele agarrou outro pouco de nata. Esta vez não a comeu. O pulso dela se
acelerou quando ele baixou a cabeça para seu traseiro. Seu fôlego lhe acariciou a pele e com os
dedos e a língua lhe lubrificou todo o traseiro ardente de fresca nata batida e perigoso xarope.
Agarrou mais da espessa nata com o dedo, e ela gemeu quando um dedo escorregadio, quente
como uma chama, deslizou-se por seus palpitante clitóris com suaves e firmes movimentos.
Uma onda de prazer a percorreu com aquele contato. Chegou-lhe tão rápido, tão
voluptuosamente, que lhe contraiu o ventre. Fez que um erótico calor invadisse a boceta.
Sensações luxuriosos a consumiram, fizeram-na estremecer-se.
—Dizem que a forma de chegar ao coração de um homem é através de seu estômago, mas
eu sempre digo que o caminho ao coração de um homem é através de seu estômago e seu pau. E
você e seu bolo, doçura, são muito bons para meu pau.
Um gemido escapou dos lábios dela quando o quente dedo se separou de seus clitóris. Girou
a cabeça para protestar e ficou boquiaberta olhando como ele se lubrificava a enorme ereção com
nata batida. Ela se encontrou puxando suas ataduras, porque desejava fazer aquilo ela. Desejava
tocar seu grosso pau, ansiava lhe chupar a nata do pau. Mas comer a lubrificação não seria muito
bom. Uma pau grande e grosso como aquele necessitaria toda a lubrificação possível.
—Sim então o que quer dizer é que seria um problema se não fosse boa cozinheira? —
decidindo falar para poder suportar o desejo que ia aumentando.
—Isso é o que digo, doçura.
—Todos os homens sentem o mesmo?
—Não responderei por eles —lançou uma risada entre dentes.
—Por que não?
—É como se eu perguntasse a você se todas as mulheres fazem bolos de queijo com hortelã
tão bem como você.
Ela riu e de repente lhe ocorreu pensar em sua irmã Jo, em que não gostava de cozinhar e
que merecia ter um homem como Matthew em sua vida. Um homem que a fizesse sentir-se
especial, desejada, segura. E que lhe causasse um prazer tão delicioso como o que Matt produzia a
ela.
—Seu irmão quer uma mulher que saiba cozinhar? —as palavras lhe saíram da boca antes de

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dar-se conta do que dizia.


Aquele erótico dedo ardente se deslizou novamente por seus clitóris palpitante com outra
generosa dose de nata, embora a frescura desta não conseguiu eliminar as quentes sensações que
já tinha suscitado.
—Seria o casal perfeito para sua irmã Jo —reconheceu ele.
—Teremos que encontrar a forma de reuni-los. Tem os mesmos requerimentos que você
sobre uma boa cozinheira e bom sexo? —estremeceu-se quando um dedo lubrificado de xarope
de hortelã lhe meteu no ânus.
—Não sei. Terá que perguntar você.
Seu comprido dedo estirou os músculos dela enquanto explorava e ela recebeu feliz as
caricias eróticas que lhe causava seu contato íntimo. Ele se retirou e logo colocou dois dedos
lubrificados em xarope. Deslizou-se facilmente dentro, suas explorações acendendo um fogo
voluptuoso nela.
—Importaria-lhe muito que ela não cozinhasse?
—Acredito que se poderia dizer sem equivocar-se que se ela o guiar no dormitório com a
mesma paixão que põe a seus aborrecimentos, conectarão de formas em que nunca tinham
sonhado.
—Parece prometedor.
—Seu traseiro também. Doçura, está tão escura que é absolutamente perfeito.
Ela sentiu a primeira dentada de dor-prazer quando lhe colocou três dedos lubrificados de
xarope no ânus. Preparou-a mais lentamente agora. Colocou-lhe os dedos, acariciando seus
músculos, aumentando a pressão erótica, de modo que seus sentidos começaram a turvar-se.
Um frenesi lhe percorreu os nervos; um desejo carnal que nunca poderia ter imaginado
começou a apoderar-se dela. Uma intensa necessidade de que lhe afundasse o pau no ânus. De
lhe sentir bombear dentro dela.
Sentia que literalmente a boceta jorrava de desejo enquanto ele continuava acariciando o
cheio clitóris. Um estranho vazio lhe invadiu a boceta. Havia uma necessidade de que a enchesse
ali também, mas não era tão poderosa como o que lhe acontecia no traseiro.
Um momento mais tarde, ele tirou os dedos e ela sentiu a cabeça de seu pau apoiada em
sua entrada traseira.
Com a pele ruborizada, e o corpo vibrando por inteiro, sentiu o aroma de sua própria paixão.
—Está preparada, minha doçura?
Aferrou-se com os dedos ao saco de dormir, e a invadiu uma mescla de temor ao
desconhecido misturado com excitação de que lhe fizesse amor por detrás.
Assentiu com a cabeça.
Ele não perdeu o tempo em meter-lhe
Era grande, incrivelmente grande.
Os músculos estiraram de forma incrível quando a cálida e dura intrusão a penetrou com
rapidez e confiança, queimando-a com seu ardor.
OH, Deus santo, aquilo sim que era diferente. Estava muito bem.

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Mentalmente agradeceu ao cone anal inflável por prepará-la tão bem para ele.
Matt gemeu, um entrecortado grito de desejo que lhe produziu ondas de prazer que
chegaram à boceta, aproximando-a mais ao gozo pleno. Perguntou-se como poderia ser que um
som a aproximasse tanto ao clímax.
Como se ele sentisse seu iminente prazer, seu dedo afrouxou a pressão que exercia em seus
clitóris lubrificado de nata, fazendo-a lançar um grito de frustração. Por sorte, os dedos masculinos
não se retiraram e seguiram com suas carícias, suas massagens, sua sedução.
—Ainda não —gritou ele—, quero que gozemos juntos.
Afundou-lhe seu magnífico pau ainda mais. Sua grossura ardia.
Ela fechou os olhos fundindo-se com as sensações, os músculos abrindo-se gostosos a sua
ereção. Sua pele se cobriu de suor e sentiu que os peitos lhe penduravam cheios, os mamilos
doloridos ao roçar uma e outra vez contra o saco de dormir.
Com a respiração tão entrecortada como a dela, ele começou a penetrá-la mais
brandamente. Fodeu o escuro ânus com um profundo e crédulo pistão e cada vez que a empalava,
ela sentia que se reduzia a dor e aumentava o prazer.
Automaticamente ela abriu mais as pernas, procurando afiançar-se, quando os empurrões se
fizeram mais profundos, mais duros, mais ferozes.
O contato do dedo ardente em seus clitóris se fez mais desesperado, mais insistente. Como
resposta, ela puxou de suas ataduras, meneou os quadris, aceitando gostosamente sua carne,
permitindo que a penetrasse mais profundamente.
O prazer aumentou, explodiu, invadiu-a de espirais incrivelmente maravilhosas. Apertando
os dentes, tentou não gritar, quis lhe esperar para que ele se gozasse com ela.
Os impulsos masculinos se fizeram mais frenéticos, mais rápidos. Os músculos da boceta
dela se moveram espasmodicamente, apertando um pau imaginário. O escorregadio dedo no
cheio clitóris se acelerou. Os músculos anais se apertaram.
Ele lançou um rugido e seu pau se moveu com maior força. Dentro, fora. Dentro, fora.
Empurrões largos e poderosos.
Ele gozou repentinamente e seus alaridos de desejo percorreram cada uma das fibras
femininas, lhe desencadeando o orgasmo.
Sacudiu-se quando os espasmos a percorreram com a febril velocidade do raio. Rasgaram-na
de cima abaixo, fazendo-a lançar alaridos desavergonhados.
—Que formoso!
—OH, sim! —gritou ele.
Ela sentiu que ele gozava profundamente nela, a transbordava e jorrava pela face interior de
suas coxas.
Instintivamente sentiu que aqueles seriam os momentos que entesourariam. Momentos que
usariam para perder-se em um mundo de imenso prazer.
Um mundo que lhes ajudaria a esquecer-se de todos os problemas que certamente
encontrariam no perigoso futuro que lhes esperava juntos.

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Fim

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