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Nas próximas aulas trabalharemos com uma sequência de textos e atividades voltadas para o MEIO
AMBIENTE. A partir dessa temática, trabalharemos:
- Gêneros textuais
- Leitura e interpretação de textos
- Linguagem verbal e não verbal
- Literatura: Modernismo no Brasil
- Coesão e coerência: retomada de ideias no texto
E VAMOS DE LITERATURA...
Prelúdio
O texto abaixo é um dois mais famosos poemas de João Cabral de Melo Neto. Ele narra a saída de um retirante
do sertão pernambucano, seguindo a margem do rio Capibaribe, para chegar até o mar onde ele deságua, em
Recife. No caminho, Severino, o retirante, encontra outras personagens que também sofrem com as injustiças
sociais que assolam o sertão. Para ele, no litoral poderia haver possibilidades de melhoria de vida, o que não
acontece.
O subtítulo do poema é (auto de Natal pernambucano). Podemos observar que há uma
INTERTEXTUALIDADE, ou seja, a referência a outros textos e discursos, como, neste caso, a história do
nascimento de Jesus. Além disso, há a INTERTEXTUALIDADE com o gênero AUTO, que remonta à era
medieval.
Surgido em Portugal na era medieval, a palavra auto vem do termo actum, significando qualquer obra
representada, ou seja, referia-se a todas as peças teatrais. É uma das formas mais populares do antigo teatro
português.
Inicialmente, os autos eram encenados em templos religiosos, depois nas portas de entrada das igrejas e pátios.
Posteriormente, as apresentações passaram a acontecer em feiras, mercados e praças públicas, quando se torna
um gênero dramático de feição popular. Foi nessa época também que, ao sair das igrejas, os autos passaram
também a tratar de assuntos profanos. Não que havia autos religiosos e autos profanos, separadamente. O que
ocorria era a coexistência dos dois elementos dentro da mesma peça.
De qualquer forma, com o passar do tempo, o auto passou a ser definido como uma peça de curta duração de
conteúdo religioso ou profano, burlesco e alegórico, escrito geralmente em verso. Sua característica principal
é o conteúdo simbólico, cujos personagens são entidades abstratas, geralmente de caráter religioso ou moral
(o pecado, a luxúria, a bondade, a virtude, entre outros).
O maior representante luso dessa modalidade dramática é Gil Vicente, com autos que romperam os tempos e
são dramatizados até hoje, como é o caso do Auto da Barca do Inferno.
Na modernidade, muitos autores utilizam esse gênero como referência para suas obras. No Brasil, Ariano
Suassuna é um dos grandes exemplos de escritores de autos, com peças importantíssimas e muito conhecidas,
como em O Auto da Compadecida. Além disso, João Cabral de Melo Neto, com Morte e Vida Severina,
recuperou esse gênero e o trouxe para o imaginário brasileiro.
— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.