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As valas comuns: Imagens e políticas da morte1

REFLEXÕES NA PANDEMIA
Fábio Araújo
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Flavia Medeiros
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
Fábio Mallart
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Os outros trabalhos estão suspensos. A dedicação agora é abrir cova.


Manoel Norberto Pereira, Coveiro do Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo (PONTES, 08/04/2020).

D
esde meados de março, a pandemia do novo coronavírus segue produzindo um vasto
repertório de imagens de horror. De Bergamo, na Itália, circularam imagens
devastadoras de uma procissão de caminhões do exército removendo dezenas de
caixões. Mesmo com os crematórios da cidade funcionando 24h por dia, o volume de corpos era
tão expressivo que foi necessário transportá-los para cidades vizinhas, visto que os caixões se
acumulavam em igrejas e cemitérios, sem que cerimônias ou rituais fúnebres pudessem ser
realizados. A velocidade das mortes era tamanha que o obituário do jornal L’Eco di Bergamo se
expandiu rapidamente, passando de uma ou duas páginas para 11 (PACHO, 20/03/2020).
No início de abril, foi a vez de Guayaquil, no Equador, tornar-se notícia internacional com a
crise sanitária provocada pela pandemia (PHILLIPS e MONCADA, 03/04/2020). A cidade chegou
a registrar mais mortos do que países inteiros da América do Sul, como Peru, Argentina, Colômbia,
Paraguai, Uruguai, Venezuela e Bolívia. Diante do medo do contágio, do colapso do sistema
funerário e dos altos preços cobrados pelos crematórios, sepultar os mortos tornou-se algo inviável
para os pobres. Cadáveres foram abandonados em casas e ruas pelos próprios familiares; caixões de
papelão foram utilizados. Casas mortuárias recusaram-se a recolher os mortos, também com receio
de contaminação. A falta de atestados de óbito representou outro obstáculo para a realização dos
enterros. Além de fotografias registrando corpos abandonados pelas ruas, circularam imagens de
urubus sobrevoando um dos hospitais da cidade. Tendo em vista a grande quantidade de funerais
e a dificuldade de comunicação, filas foram formadas na porta dos cemitérios para agendar os
sepultamentos. O vice-presidente equatoriano chegou a sugerir que os corpos fossem enterrados em
valas comuns, depois recuou e prometeu “funerais decentes” (ZIBELL, 01/04/2020).
No Brasil, em 2 de abril uma fotografia no jornal americano The Washington Post — um dos
principais dos EUA —, reforçava as imagéticas de morte em decorrência da Covid-19: naquele
dia, a capa ostentava como imagem principal a foto da tomada aérea do cemitério municipal da
Vila Formosa, em São Paulo, na qual se veem cinco fileiras, cada uma com aproximadamente 30
covas rasas abertas. Olhando detidamente as imagens, no canto direito inferior, observa-se um
grupo de coveiros junto a outras pessoas, trabalhando no fechamento de um túmulo (BACHA,

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02/04/2020). A demanda produzida pelo aumento de óbitos, dias depois, ainda resultou na
contratação de mais de 200 funcionários terceirizados para trabalharem nos sepultamentos. Se
essa imagem carrega consigo o assombro de um único instante fotográfico, no início de maio,
fotografias de satélite de uma mesma quadra do cemitério, realizadas em momentos distintos,
atestariam a aceleração dos sepultamentos. Ao comparar as fotografias, é possível estimar o ritmo
de preenchimento das covas: entre 9 e 17 de abril, ao menos 247 enterros, tanto de mortes pelo
coronavírus quanto por outras causas, uma média de 30,8 por dia, praticamente o dobro do que
fora registrado no mesmo período em 2019 — média de 15,8 sepultamentos diários
(DUCROQUET, FRAISAT e SANTOS, 04/05/2020).
Em meados de abril, mais imagens de horror vieram de Manaus. Destaca-se uma foto que
registra a abertura de uma vala comum, feita com o auxílio de uma retroescavadeira, no
cemitério público Nossa Senhora Aparecida, onde, semanas antes, já haviam sido instalados
frigoríficos para o armazenamento de corpos (MARQUES, 20/04/2020). Após abertas as valas,
o trabalho dos coveiros é organizar os cadáveres encerrados em caixões lacrados, os quais são
enterrados de dez em dez, um ao lado do outro, e sem qualquer separação física entre os
gabinetes de madeira. Nas imagens é possível ver pessoas de pé ao redor dessas covas,
observando a certa distância o trabalho dos coveiros enquanto estes enterram os mortos. Em
alguns casos, apesar das recomendações de distanciamento e dos protocolos de manejo dos
corpos, familiares passaram a abrir os caixões a fim de confirmar que aqueles eram seus entes
queridos (BOECHAT, 29/04/2020), uma vez que houve casos de troca de mortos em unidades
de saúde (CAMPBELL, 24/04/2020; NASCIMENTO, 24/04/2020).
Situação semelhante ocorreu em Santo André, na Grande São Paulo, onde a troca
ocorreu em um centro hospitalar, após o embalamento dos corpos da senhora Amir
Martins da Silva, de 92 anos, e de Francisco Carlos da Silva, de 54 anos, ambos mortos
com suspeita de Covid-19 (PORTAL DO HOLANDA, 09/04/2020). De acordo com o
noticiado, quando a família de Francisco entrou em contato com o hospital, foi
informada de que não havia nenhum cadáver de homem, mas apenas de duas mulheres.
Enquanto ela procurava pelo corpo de Francisco, a família de Amir, por sua vez, já o
havia enterrado por engano, até que o hospital constatou o erro e informou ao serviço
funerário. Além da impossibilidade de viver o rito fúnebre devido à restrição do velório
e da supressão da etapa de reconhecimento, a troca levou os familiares de Amir à
repetição do enterro. Por sua vez, os de Francisco tiveram que lidar com a espera pela
exumação para, enfim, proceder com o sepultamento na cova a ele destinada.
Ainda em Manaus, apesar das valas comuns e do incremento nos serviços funerários, foram
noticiados casos de familiares que tiveram que enterrar seus próprios mortos, por falta de coveiros
no momento da chegada ao cemitério. É esse o caso dos filhos de Joaquim Lopes da Silva, que,
além de enterrarem o próprio pai, tiveram que procurar o corpo por três dias, visto que o mesmo
não foi encontrado na unidade de saúde na qual ocorrera o óbito (G1, 27/04/2020).

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No que tange às valas comuns, cenas similares haviam sido vistas em Nova York, onde,
entre 9 e 10 de abril, foi divulgada a imagem de uma vala aberta no cemitério da Ilha Hart
(O GLOBO, 10/04/2020). Na geografia dos cemitérios da cidade, este é utilizado, há mais
de 150 anos, para enterrar corpos de pessoas não reclamados e não identificados. Antes da
pandemia, 25 mortos não reclamados eram enterrados uma vez por semana. Durante o
período de maior quantidade de mortes, o aumento do fluxo fez com que passassem a ser
cerca de 20 enterros, cinco vezes por semana. E em vez de serem os presos de uma
penitenciária de alta segurança a fazerem os enterros, como era de praxe, foram contratados
funcionários especializados para o serviço (BRUNO, 10/04/2020) 2.
Os coveiros, agora nomeados como agentes de sepultamento, profissão estigmatizada e
vista como impura, posto tratar diretamente com cadáveres se, por um lado, passaram a ser
supostamente “valorizados” por sua função imprescindível, reservando aos mortos o lugar
fora do mundo dos vivos, por outro, fazem parte de uma multidão de trabalhadores que, no
contexto da pandemia, são ainda mais precarizados. À camada estigmatizante de ter de lidar
com mortos, soma-se o receio de que eles se tornem vetores de contágio; daí as soluções mais
esdrúxulas para purificá-los. Em Manaus, uma cabine de desinfecção instalada pela
Prefeitura às portas do cemitério Nossa Senhora Aparecida pulveriza quaternário de amônia
naqueles que atuam nos sepultamentos. Sob o pretexto da luta contra o coronavírus, a
substância, pulverizada duas vezes ao dia — no início e no fim dos turnos de trabalho —,
traz riscos à saúde, entre eles, lesões na pele, nas vias respiratórias e até nos pulmões (MELO,
02/05/2020). Junta-se a isso a imagem abominável dos garis que atuam no cemitério tendo
que compartilhar a refeição em um saco plástico estendido sobre a mesa, em total desacordo
com as regras de higiene impostas pela Covid-19.
Em meio às covas abertas, às retroescavadeiras e aos mortos enterrados aos montes, os
coveiros se movem entre orientações e protocolos de manejo dos corpos (que discutiremos a
seguir), ocupando o centro das fotografias e filmagens, em algumas ocasiões, sem estarem
devidamente paramentados com os equipamentos de proteção individual (EPIs). São eles que se
situam na ponta mais extrema das políticas de morte do governo federal, afinal, como disse
recentemente o presidente, ao ser questionado sobre o número de óbitos: “Ô, cara, quem fala de...
Eu não sou coveiro, tá certo?”(GOMES, 20/04/2020).
Caberia, então, perguntar: que regimes de verdade essa excessiva produção
imagética busca movimentar? Que sistema de informação gera essa produção
fotográfica sobre as valas comuns, as cenas dos enterros e as filas intermináveis que se
formam pelos cemitérios? Por outro lado, o que a política da representação por trás
dessa vasta produção de imagens cria em termos de invisibilidade? Como as mortes de
Amir, Francisco e Joaquim são repercutidas e narradas? Quem são os outros mortos
que foram esquecidos nas valas da pandemia?

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Enquadramentos da morte

Concomitantemente à profusão de imagens de morte ao redor do país e do mundo, os


agentes de administrações locais, as prefeituras e os governos estaduais passaram a publicar
determinados protocolos e normativas para a notificação e classificação dos casos de
contaminação do novo coronavírus, para a declaração e o registro de óbitos e para o manejo de
pacientes e cadáveres, todos específicos para lidar com a crise sanitária atual.
No contexto nacional, foi em 23 de março que foi publicado um documento intitulado
Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus Covid-19, elaborado pelo Ministério da
Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 25/03/2020). O texto traz orientações para as equipes de saúde
com recomendações para evitar a contaminação a partir do contato direto com os corpos, tais
como o reforço no uso do EPI; o processo de higienização e embalamento dos cadáveres (que
devem ser envoltos por lençóis e depois armazenados em dois sacos impermeáveis); os
procedimentos de identificação e registro de óbitos confirmados ou suspeitos; e, principalmente,
a dispensa do exame médico legal, procedimento conhecido como autópsia, nos casos
relacionados à Covid-19, devido ao risco de contaminação. Nesse documento, não fica claro o
planejamento para casos fora do padrão, que consolidam os cenários de colapso dos sistemas de
saúde e funerário. Diferentemente, a normativa orienta que o fluxo para os casos de ocorrência
domiciliar ou espaço público seja deixado a cargo de uma “equipe de saúde”, e que os familiares
ou vizinhos se resguardem do contato com os corpos para diminuir o risco de contaminação.
Uma semana depois, em 31 de março, foi publicado um outro documento, a portaria
conjunta no 1 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério da Saúde3, com
orientações para a gestão institucional das mortes. Por meio da portaria, na hipótese da ausência
de familiares, de pessoas conhecidas do morto ou em “razão de exigência de saúde pública”
foram criados procedimentos excepcionais para o sepultamento e a cremação de corpos, que
autorizavam a realização desses procedimentos sem o registro civil de óbito, isto é, antes da
emissão da certidão de óbito em um cartório de registro civil. Ou seja, a declaração de óbito
assinada pelo médico bastaria para possibilitar o enterro ou a cremação, mesmo que aquele
morto não fosse reconhecido. Para além de pautar procedimentos visando a acelerar o enterro
de cadáveres, novamente o referido documento abre um vácuo em relação à gestão das mortes,
pois não trata de mortes ocorridas fora dos estabelecimentos de saúde e nem da realização de
autópsias nos casos passíveis de outras causas ou suspeitas de violência. A portaria tampouco
incluía um período de vigência, o que apresentou a possibilidade de prolongamento das
medidas, apesar de ter sido prevista no contexto da situação excepcional causada pela
pandemia. Ademais, por não especificar como deveria ser feito esse procedimento, abria
precedente para que as mortes ocorridas em prisões não fossem objeto de autópsias por parte
do Instituto Médico Legal dos estados, medida essa que deveria ser compulsória, segundo as
normativas internacionais das quais o Brasil é signatário.

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Em resposta a tal portaria e ao vácuo de regulações eficazes para a questão de mortes e


sepultamentos — que aumentavam incessantemente —, uma série de notas técnicas foram
elaboradas, com destaque para o ofício da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do
Ministério Público Federal, sugerindo medidas como atos normativos ou outras providências para
complementar a portaria, de acordo com normativas legais e orientações de órgãos internacionais
para lidar com a gestão de cadáveres em situações de gravidade, como a Organização Pan-
Americana de Saúde (Opas), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização
Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Outros órgãos também se manifestaram,
reivindicando a revisão da portaria, como o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura
do Rio de Janeiro (MEPCT-RJ), o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf), da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Finalmente, em 7 de maio foi publicada a portaria conjunta no 2, de 28 de abril de 2020,
revisando a anterior e incluindo procedimentos para amenizar as possibilidades de não
identificação de pessoas vitimadas, como a proibição da cremação de corpos não identificados ou
não reclamados e a adoção de protocolos mais estritos para a coleta e o armazenamento de
materiais para a identificação dos mortos4. Além disso, o texto explicita a indispensabilidade dos
exames médicos legais nos casos previstos por lei (mortes violentas e suspeitas e mortes naturais,
incluindo suspeita de Covid-19, em sujeitos sob tutela do Estado) e prevê, como prazo para seus
efeitos, o período de 180 dias desde a data de sua publicação.
Nada indica que a regulação prevista vá assegurar o tratamento adequado às vítimas da crise
sanitária, a começar pelo fato de que, como se sabe, entre as normativas e a “ponta”, isto é, sua
aplicabilidade, há uma multiplicidade de atores, instituições e instâncias do Estado que, em seus
agenciamentos concretos, torcem, alteram e produzem novos fluxos. Ademais — e apenas para
citar um exemplo —, uma das possíveis tensões que marcam a nova portaria é que, curiosamente,
ela sublinha o respeito aos fluxos de trabalho pactuados entre o sistema de saúde e as secretarias
de Justiça estaduais, parecendo haver aqui espaço para conflitos legais, que já ocorrem entre os
governos federal e estaduais nas mais diversas esferas.
Vários casos recentes ilustram o lapso entre procedimentos prescritos nos documentos
oficiais produzidos por diversas instâncias estatais e as práticas efetivamente adotadas. Os
documentos que regulamentam o tratamento adequado às vítimas não contam com a propriedade
de resolver, por decreto, obstáculos e realidades pré-existentes. O pretenso caráter “universal” que
conforma essas resoluções, quando confrontado com o que se passa nos contextos locais, assume
novas cores, ganha outras dimensões, converte-se em novos fluxos. As normativas — e isso de
forma alguma significa desconsiderar sua relevância —, quando são agenciadas “na ponta”,
transbordam e vazam por todos os lados.
Nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, multiplicam-se os relatos de pessoas que
mal foram atendidas e que mal tiveram um prontuário preenchido nas Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs). Orientadas a retornar para casa, morrem. A partir daí, emergem
outras dificuldades, como encontrar um médico para atestar o óbito, principalmente em

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áreas não atendidas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). Diante da urgência da
retirada dos cadáveres, aqueles que dispõem de parcos recursos são obrigados a recorrer a
uma funerária particular, que, por sua vez, contrata médicos particulares para atestar as
mortes. Já para os que não gozam de condição financeira para contratar esse serviço, só
resta esperar, tendo que conviver no mesmo espaço com os mortos — e isso em meio aos
rumores, receios e narrativas sobre a contaminação dos cadáveres.
Por exemplo, Maria Luiza Santana do Nascimento morreu por volta das 23h30 de 30 de
março, na UPA da Rocinha, onde morava. Segundo o filho Cristiano, não havia condições
adequadas para o tratamento ideal, sendo que a mãe entrou em uma fila de transferência para
um hospital. O tempo de espera foi marcado pela total falta de informação sobre o tamanho da
fila, a data de coleta do teste para Covid-19 e a data do resultado. Só se soube que o exame foi
enviado ao laboratório dois dias depois da entrada de Maria Luiza na UPA, quando o filho
telefonou para a Secretaria de Saúde. A atendente informou que dariam prioridade ao caso, mas
nem seu contato foi registrado. Após uma semana da morte de Maria, ainda não se tinha o
resultado do exame. Além da angústia de não saber o que havia ocorrido, a família foi
comunicada que deveria providenciar a retirada do corpo em 24h, já que não havia geladeira na
UPA; caso contrário, ele seria levado a um hospital. Sem qualquer tipo de orientação e sem
saber como proceder — já que havia suspeita de Covid-19 —, os familiares, por conta própria,
leram o documento do Ministério da Saúde sobre o manejo e o preparo dos corpos para o
sepultamento. Ao descobrir que ele precisava ser envolvido em três camadas de proteção e que
o enterro deveria ser rápido e sem velório, procuraram uma funerária. Porém, e já com o
atestado em mãos, não foi fácil achar um cartório aberto para registrá-lo. Soma-se a isso o fato
de que no registro feito pela funerária não constava a suspeita de coronavírus. O documento
atestava como a causa da morte “sepse — infecção generalizada”. Com esse tipo de registro,
seria possível fazer um velório tradicional, com a reunião de pessoas. Todavia, como
acreditavam na suspeita de Covid-19, a família optou por seguir os protocolos do Ministério da
Saúde e apenas uma pessoa acompanhou o sepultamento como testemunha.
Em 12 de abril, os jornais noticiaram a morte de José do Nascimento Félix, no Morro da
Providência. Segundo os vizinhos, ele havia sido diagnosticado com pneumonia e mostrava
sintomas de Covid-19. Após ser medicado, recebeu alta para se tratar em casa. Ao passar mal na
noite de domingo, dia 5, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas,
quando chegou ao local, José estava morto. O médico do Samu, então, emitiu o atestado de óbito,
no qual constava que não foi possível determinar a causa da morte. O corpo, no entanto, sequer
foi removido. Questionada pelo jornal O Globo se a equipe que realizou o atendimento comunicou
a morte à “equipe de vigilância em saúde”, conforme estabelece o protocolo do Ministério da
Saúde, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que essa informação deveria
ser buscada junto à Secretaria de Saúde. Esta, por sua vez, não informou sobre tal questionamento
e nem se foi realizada testagem para Covid-19. O cadáver só foi removido 30h após o falecimento,
por meio de uma funerária particular (HERINGER, 14/04/2020).

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À medida que observamos os protocolos, os vácuos dos enquadramentos normativos e os


agenciamentos concretos também atentamos à profusão de imagens da morte, tornando-a tão
visível que produz uma “não visão” (BUTLER, 2015).

Imagens da morte

Como nota Susan Sontag, as imagens fotográficas ocupam um importante lugar como “o
meio pelo qual cada vez mais eventos entram em nossa experiência” (2004, p. 172). Mas essa
eficiência em fornecer conhecimento ocorre de maneira dissociada da experiência e dela
independente. Dito de um outro modo, o registro fotográfico, ao recortar um fragmento de
realidade, ainda que seja uma reprodução do real, é sempre uma violenta interpretação do seu
ponto de partida, haja vista que a imagem é retirada de seu lugar de origem e é montada em um
outro lugar, em um outro contexto. Por meio das fotografias, escreve a autora, temos uma relação
de consumidores com os eventos, sejam aqueles que fazem parte de nossa própria experiência,
sejam os que não fazem parte. Quando algo é fotografado, “torna-se parte de um sistema de
informação, adapta-se a esquemas de classificação e de armazenagem” (Idem, p. 172).
Judith Butler, em diálogo com Sontag, argumenta que a fotografia também exerce a função
de documento, tal como em contextos de guerra, quando imagens são produzidas em forma de
prova, “afinal de contas, mais do que simplesmente se referir a atos de atrocidade, a fotografia
constrói e confirma esses atos para aqueles que os nomeariam desta forma” (2015, p. 109). Diante
da disseminação de imagens de cemitérios, corpos e caixões, indagamos como a
“representabilidade” das mortes tem se constituído “fundamentalmente pelo que é deixado de
fora, mantido fora do enquadramento dentro do qual as representações aparecem”, sendo o
enquadramento algo ativo, ou seja, “que tanto descarta como mostra, e que faz as duas coisas ao
mesmo tempo, em silêncio, sem nenhum sinal visível de operação” (Idem, p. 112).
Com efeito, é possível interpelar as fotografias de covas comuns e enterros coletivos
buscando outras dimensões, que ultrapassam a política de representação que as produziu. Desse
modo, ao mesmo tempo que essas imagens das valas alimentam uma atmosfera e um imaginário
de morte, os próprios mortos são invisibilizados. Simultaneamente, o que se tem é a materialidade
da morte versus a invisibilidade dos mortos.
Assim, são “os efeitos estruturantes que certas normas mais amplas, muitas vezes
racializadoras e civilizatórias, têm sobre o que é chamado, provisoriamente, de ‘realidade’”
(Idem, p.114), que constroem as mortes que podem se tornar visíveis, representadas por seus
mortos e determinadas como “vidas passíveis de luto”, e as outras, mortes inúmeras e
inominadas, representadas pela subnotificação de números e pelo anonimato de seus corpos
não identificados ou não reclamados, sepultados em valas comuns. Constata-se, por meio da
visibilidade das covas, a presença da morte; e com a invisibilidade das centenas de mortos, o
desaparecimento de pessoas, de suas relações sociais, seus afetos e laços familiares. Diante disso,

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nos perguntamos: quem são as pessoas enterradas nas valas comuns? Quais são seus nomes?
Quais suas histórias e biografias apagadas pelos números? Onde residiam e sob quais condições
viviam? Qual o gênero e a cor dessas pessoas? Que cuidados e tratamentos lhes foram
dispensados diante da doença? Que outros corpos estão sendo enterrados nas valas comuns? O
que as imagens comunicam sobre pobreza e desigualdade? Que histórias essas fotografias nos
contam sobre as infraestruturas de saúde pública e infraestruturas urbanas? O que elas
testemunham sobre processos de Estado e de gestão das mortes?
Ainda que haja iniciativas com o objetivo de lançar luz sobre os mortos, nomeando-os,
homenageando-os e os lembrando, esses registros, na maior parte das vezes, e principalmente
quando produzidos pela grande mídia, espelham um regime de comoção que acaba por apagar as
desigualdades das vidas e mortes — a distribuição diferencial da condição precária, nos diria
Butler (2018) —, que tornam uns mais expostos do que outros, uns mais matáveis do que outros,
segundo marcadores sociais de classe, raça, gênero, local de moradia etc.
A Covid-19 tornou-se o ponto de captura dos corpos pobres, majoritariamente negros, além
de um nó cego que obscurece a realidade, unificando distintas camadas de precariedade em uma
mesma zona de indeterminação. O contexto atual parece instaurar uma nova linha de força nos
modos de gestão da pobreza, reenquadrando-os em formas de representabilidade que naturalizam
as ausências e normalizam as mortes. Em nome do combate ao coronavírus, milhares de corpos
são enterrados em valas comuns; portarias, decretos, normativas e leis são emitidos em caráter de
urgência, tendo como objetivo autorizar e acelerar o manejo e descarte dos cadáveres, sob a
justificativa do perigo da contaminação e propagação do vírus. Nesse cenário, a vala comum é o
destino dos corpos das pessoas cujas vidas são consideradas sem valor, tão sem valor que perdem
o direito a um enterro digno. Ela é mais um lugar dentro da “necro-topografia”, eivada de
colonialidade (LIMA, 2020), onde realocar e fixar corpos.
Foi assim que o corpo do pedreiro Messias Correa Viana foi sepultado na vala comum do
Cemitério Municipal Nossa Senhora Aparecida, em Manaus. O jovem, de 26 anos, aos olhos do
poder público sem nome, rosto e história, traz na cruz que minimamente situa o lugar do enterro
apenas um número: “1.144”. Espancado até a morte, Messias, sem apresentar qualquer sintoma
de contágio pelo coronavírus, e para total indignação de seus familiares, foi sepultado na vala
comum da Covid-19 (MAISONNAVE, 12/05/2020), no mesmo cemitério em que se pulveriza
quaternário de amônia nos coveiros; no mesmo lugar em que garis se alimentam sobre um saco
plástico. Longe de significar apenas um buraco no chão, a vala transborda, aproximando
determinados vivos de determinados mortos, estabelecendo um gradiente de tonalidades
variadas, no qual, se há aqueles que já foram sepultados, há outros tantos, submetidos a
determinadas condições de precariedade, que seguem orbitando o mesmo espaço.
A vala comum representa a materialidade e o simbolismo das políticas de propagação do
vírus e de exaltação da morte, defendidas e implementadas por um governo autoritário e
genocida, que ascendeu aos poderes da República tendo como plataformas o armamento e a
expansão das milícias, e tendo como chefe supremo — nos termos do Sindicato dos Servidores

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Municipais de São Paulo, que representa a categoria dos agentes sepultadores — “o coveiro da
nação” (OLIVEIRA, 24/04/2020). Tais valas, assim, espelham as várias camadas das políticas de
morte e suas fantasmagorias, que vão se sedimentando como referência normativa do Estado. Elas
se relacionam com uma série de outros elementos que compõem o repertório e a atmosfera de
morte que atravessa a sociedade brasileira no momento. Estão entrelaçadas às políticas
penitenciárias, à eterna espera nas filas da Caixa Econômica Federal para receber o benefício
emergencial, às caravanas da morte que são realizadas pelas cidades em defesa da reabertura do
comércio, às flexibilizações da quarentena no exato momento em que as mortes avançam, às
operações policiais que seguem produzindo a matança nas favelas, à política de defesa da
utilização da cloroquina como medida de tratamento da Covid-19, à dizimação dos povos
indígenas e das comunidades tradicionais, à devastação do meio ambiente. Todos esses elementos
se conectam e compõem o imaginário de morte em que o Brasil está atolado. Antes do vírus, esse
cenário já estava em curso. A pandemia, todavia, é o contexto ideal para aprofundar a asfixia e
retirar o direito à respiração — como recentemente escreveu Mbembe (2020).
Como objeto semiótico e estético (LARKIN, 2013), as valas também expressam a fantasia e
o desejo de um punhado de ricos que se apodera do aparato estatal para o projeto de extensão
infinita do mercado, à custa das condições de vida de determinadas populações, cujas existências
são compostas por várias camadas de precariedade. Descartadas como lixo, expropriam-lhes,
inclusive, o direito de morrerem e serem enterradas com dignidade. As valas de Manaus, as covas
rasas de São Paulo e os cemitérios verticais no Rio de Janeiro são o elo mais cruel entre os pobres
vivos — ou meio vivos, meio mortos — e o espaço da morte.

Notas

1
Agradecemos a Fábio Candotti e Rafael Godoi pela leitura e pelos comentários críticos ao texto. Também agradecemos
a Alexandre Werneck, Desirée Azevedo, Liliana Sanjurjo e Larissa Nadai.
2
Um vídeo sobre os enterros no cemitério da Ilha Hart está disponível (on-line) em:
https://www.youtube.com/watch?v=P6Tleba2HCk (acesso em 22 de maio de 2020).
3
Disponível (on-line) em: https://atos.cnj.jus.br/files/original180204202004015e84d71c65216.pdf (acesso em 26 de maio
de 2020).
4
Disponível (on-line) em: https://atos.cnj.jus.br/files/original173824202005085eb59910638b4.pdf (acesso em 27 de maio
de 2020).

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Referências

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015.
________. Corpos em aliança e a política das ruas: Notas para uma teoria performativa de assembleia.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
LARKIN, Brian. “The Politics and poetics of infrastructure”. Annual Review of Anthropology, vol. 42,
pp. 327-343, 2013.
LIMA, Fátima. “Protocolo de descarte do lixo, contra-colonialidade(s) e o dia seguinte”. Pandemia
Crítica, texto 63. São Paulo: N-1. Disponível (on-line) em: https://suporte.ebook@n-
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MBEMBE, Achille. “O direito universal à respiração”. Pandemia Crítica, texto 20. São Paulo: N-1.
Disponível (on-line) em: https://suporte.ebook@n-1edicoes.org/020
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus Covid-19. Brasília,
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 25 de março de 2020.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Fontes da imprensa

BACHA, Cecília. “Sepultamentos crescem em São Paulo e cemitério da Vila Formosa vai parar na capa
do Washington Post: Abertura de covas dobrou nos cemitérios da Capital paulista”. Jornalistas
Livres, Direitos Humanos, 2 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://jornalistaslivres.org/sepultamentos-crescem-em-sao-paulo-e-cemiterio-da-vila-formosa-
vai-parar-na-capa-do-washington-post/
BOECHAT, Yan. “Famílias abrem caixões lacrados à beira das covas coletivas para ter certeza de que estão
enterrando seus parentes em Manaus”. Yahoo Notícias, 29 de abril de 2020. Disponível (on-line)
em: https://br.noticias.yahoo.com/familias-abrem-caixoes-a-beira-das-covas-coletivas-para-ter-
certeza-de-que-estao-enterrando-seus-parentes-em-manaus-161006292.html
BRUNO, Cátia. “Nova Iorque usa valas comuns para enterrar algumas vítimas da Covid-19: Corpos não
reclamados serão enviados para o cemitério em Hart Island, onde no passado se enterraram vítimas
da Gripe de 1918. De 25 pessoas por semana, Hart passou a enterrar 25 pessoas por dia”. Observador,
Saúde, Coronavírus, 19 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://observador.pt/2020/04/10/nova-iorque-usa-valas-comuns-para-enterrar-algumas-vitimas-
da-covid-19/
CAMPBELL, Ulisses. “Corpo de moradora de Manaus ficou perdido por três horas em hospital com
excesso de mortos por Covid-19: Em reconhecimento de sua mulher, marido encontrou cadáver de
homem dentro de saco plástico que trazia identificação errada da vítima; após equívoco, funcionários
fotografam os corpos para apresentar a familiares, antes de procedimento funerário”. Época, Brasil,
24 de abril de 2020. Disponível (on-line) em: https://epoca.globo.com/brasil/corpo-de-moradora-de-
manaus-ficou-perdido-por-tres-horas-em-hospital-com-excesso-de-mortos-por-covid-19-
24390733
DUCROQUET, Simon; FRAISSAT, Zanone; SANTOS, Bruno. “Cemitérios em tempos de coronavírus:
Milhares de covas estão abertas nas maiores necrópoles de São Paulo à espera de um amontoado de
vítimas da Covid-19”. Folha de S. Paulo, Cotidiano, Coronavírus, 4 de maio de 2020. Disponível
(on-line) em: https://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/04/cemiterios-covid-19/

DILEMAS – Rio de Janeiro – Reflexões na Pandemia 2020 – pp. 1-12


Fábio Araújo, Flávia Medeiros e Fábio Mallart
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G1. “Com falta de coveiros, família tem que enterrar idoso morto com suspeita de Covid-19 em
cemitério de Manaus: Filhos contam que família procurou corpo do pai por três dias antes de
conseguir enterrar. Prefeitura de Manaus informou que situação foi um caso isolado e apura
ocorrido”. G1, Amazonas, 27 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/27/com-falta-de-coveiros-familia-tem-que-
enterrar-idoso-morto-com-suspeita-de-covid-19-em-cemiterio-de-manaus.ghtml
GOMES, Pedro Henrique. “‘Não sou coveiro, tá?’, diz Bolsonaro ao responder sobre mortos por
coronavírus: Até esta segunda-feira, o Brasil registrava 2.575 mortes e 40.581 casos confirmados de
pessoas contaminadas pelo coronavírus”. G1, Política, 20 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/20/nao-sou-coveiro-ta-diz-bolsonaro-ao-responder-
sobre-mortos-por-coronavirus.ghtml
HERINGER, Carolina. “Homem morre no Morro da Providência e corpo demora 30 horas para ser
removido: Vizinhos afirmam que José do Nascimento Félix, de 41 anos, tinha sintomas da Covid-
19”. O Globo, Rio, 14 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://oglobo.globo.com/rio/homem-morre-no-morro-da-providencia-corpo-demora-30-horas-
para-ser-removido-24371545
MAISONNAVE, Fabiano. “Nas valas comuns de Manaus, o luto vai além da pandemia: Mortos pela
violência, como o pedreiro Messias Viana, são enterrados em meio a vítimas de coronavírus”. Folha
de S. Paulo, Relatos de Manaus, 12 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/nas-valas-comuns-de-manaus-o-luto-vai-alem-
da-pandemia.shtml
MARQUES, Patrick. “Especialistas chamam atenção para risco à saúde em produtos de cabines de
desinfecção”. Jornal do Amazonas, TV Globo, 2 de maio de 2020. Disponível (on-line) em:
https://globoplay.globo.com/v/8527645/programa/
MELO, Fábio. “Frigoríficos são instalados em cemitério de Manaus para comportar caixões; vídeos
mostram fila de carros funerários: Contêineres frigoríficos são usados para comportar alta demanda
de caixões que estão sendo enviados de hospitais públicos. Na sexta-feira (17), novas covas foram
abertas no cemitério por conta do aumento de mortes por Covid-19”. G1, Amazonas, 20 de abril de
2020. Disponível (on-line) em: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/20/frigorificos-
sao-instalados-em-cemiterio-de-manaus-para-comportar-caixoes-videos-mostram-fila-de-carros-
funerarios.ghtml
NASCIMENTO, Eliana. “Família de mulher que morreu após implorar por atendimento em hospital do
AM denuncia troca de corpo e demora para sepultamento: Dona de casa tinha 53 anos e morreu após
apresentar sintomas de Covid-19. Vídeo mostra o momento em que a família busca atendimento no
Hospital de Retaguarda da Nilton Lins”. G1, Amazonas, 24 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/04/24/familia-de-mulher-que-morreu-apos-
implorar-por-atendimento-em-hospital-do-am-denuncia-troca-de-corpo-e-demora-para-
sepultamento.ghtml
O GLOBO. “Nova York abre valas comuns para enterrar mortos por coronavírus: Cidade mais atingida
nos EUA aumentou 10 mil casos na quinta-feira chegando a quase 160 mil infectados pela doença”.
O Globo, Mundo, 10 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://oglobo.globo.com/mundo/nova-york-abre-valas-comuns-para-enterrar-mortos-por-
coronavirus-24364067
OLIVEIRA, Caroline. “Representante de sepultadores fala sobre a situação dos trabalhadores em São
Paulo: Fala de Bolsonaro sobre coveiros desrespeitou as milhares de vítimas que morreram por covid-
19, diz João Batista Gomes”. Brasil de Fato, Geral, 24 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/24/representante-de-sepultadores-fala-sobre-a-situacao-
dos-trabalhadores-em-sao-paulo

DILEMAS – Rio de Janeiro – Reflexões da Pandemia 2020 – pp. 1-12


Fábio Araújo, Flávia Medeiros e Fábio Mallart
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PACHO, Lorena. “A dilacerante situação de Bergamo, a cidade italiana que não tem como cremar seus
mortos: Funerárias da província italiana estão saturadas por vítimas do coronavírus, os caixões se
acumulam nos cemitérios e nas igrejas”. El País, Pandemia de Coronavírus, 20 de março de 2020.
Disponível (on-line) em: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-03-19/bergamo-nao-
consegue-enterrar-seus-mortos-e-exercito-leva-corpos-para-cremacao-em-outras-cidades.html
PHILLIPS, Tom; MONCADA, Blanca. “‘They're leaving us to die’: Ecuadorians plead for help as virus
blazes deadly trail”. The Guardian, News, 3 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.theguardian.com/world/2020/apr/03/theyre-leaving-us-to-die-ecuadorians-plead-for-
help-as-virus-blazes-deadly-trail
PONTES, Nádia. “‘Não é normal’, dizem coveiros sobre trabalho em cemitérios de SP após chegada de
coronavírus”. UOL, Notícias, Coronavírus, 8 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2020/04/08/nao-e-normal-dizem-
coveiros-sobre-trabalho-em-cemiterios-de-sao-paulo.htm
PORTAL DO HOLANDA. “Hospital troca corpo e família enterra homem com Covid-19 ao invés de
idosa”. Portal do Holanda, Brasil, 9 de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.portaldoholanda.com.br/brasil/hospital-troca-corpo-e-familia-enterra-homem-com-
covid-19-ao-inves-d
ZIBELL, Matías. “Mortos em casa e cadáveres nas ruas: O colapso funerário causado pelo coronavírus no
Equador”. BBC News Brasil, Notícias, Internacional, 1o de abril de 2020. Disponível (on-line) em:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52129845

FÁBIO ARAÚJO (fabioaaraujoster@gmail.com) é


professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ, Rio de Janeiro,
Brasil) e pesquisador da Cooperação Social da
Presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, Rio
de Janeiro, Brasil). É doutor e mestre pelo Programa
de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia
(PPGSA), da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil) e tem graduação em
ciências sociais pela Universidade Federal do Espírito
Santo (Ufes, Vitória, Brasil).

FLAVIA MEDEIROS (flaviamedeirosss@gmail.com) é


professora do Departamento de Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC,
Florianópolis, Brasil) e pesquisadora do Grupo de Estudos
e Pesquisa em Antropologia do Direito e das Moralidades
(Gepadim), vinculado ao Núcleo Fluminense de Estudos
e Pesquisa (Nufep), da Universidade Federal Fluminense
(UFF, Niterói, Brasil). É doutora e mestre pelo Programa de
Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da UFF e tem
graduação em ciências sociai pela UFF.

FÁBIO MALLART (mallart82@yahoo.com.br) é


pesquisador de pós-doutorado (PNPD/Capes) do
Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ, Rio de Janeiro, Brasil).
É doutor pelo Programa de Pós-Graduação em
Sociologia (PPGS) e mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Antropologia Social (PPGAS), ambos
da Universidade de São Paulo (USP, São Paulo, Brasil).

DILEMAS – Rio de Janeiro – Reflexões na Pandemia 2020 – pp. 1-12


Fábio Araújo, Flávia Medeiros e Fábio Mallart

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