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31/07/2023 12:31 Ditadura: Crematório em SP foi criado para ocultar cadáveres

CINZAS DA DITADURA
Documentos inéditos indicam que Crematório da Vila Alpina foi planejado para ocultar
cadáveres da ditadura

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Sergio Barbo
25 de jul de 2022, 09h39

FAÇA PARTE

SÃO PAULO, SP, BRASIL, 15-06-1977, 21h15: Manifestação estudantil na rua 25 de Março.
(Foto: Folhapress) Ilustração: The Intercept Brasil; Folhapress

A
ocultação de cadáveres foi apenas um entre tantos crimes
cometidos durante a ditadura militar. A prática já havia sido
abordada pela Comissão Nacional da Verdade e revelada pela CPI
da Vala de Perus, de 1990, realizada após a descoberta de mais de
mil ossadas no Cemitério Dom Bosco, em São Paulo. Um detalhe da
confissão de um dos agentes da repressão, no entanto, passou quase despercebido
pela comissão: o plano da ditadura para construir crematórios onde ocultar
cadáveres.

Ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, agente do


Serviço Nacional de Informação, o SNI, e membro do esquadrão da morte Le
Cocq , Cláudio Guerra foi um dos principais depoentes na Comissão da Verdade
sobre os crimes de estado ocorridos durante o regime militar. Hoje pastor
evangélico, Guerra revelou em 2014 ser responsável por várias execuções e por
incinerar corpos numa usina de açúcar em Campos dos Goytacazes, interior do
estado do Rio, em meados dos anos 1970.

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Em seu depoimento, ele afirmou que “até 1975, havia um acerto entre o Exército
e o administrador do cemitério para que os corpos fossem enterrados
clandestinamente” em Perus – onde, já em 1990, 1.049 ossadas foram
encontradas em uma vala comum no cemitério local. Mas, segundo ele, devido à
opinião pública, esse “esquema” deveria ser alterado. Surgiu, assim, o projeto de
um crematório.

“O Cemitério de Perus foi criado para ser um crematório”, confirmou Adriano


Diogo, ex-presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. “O projeto
só não foi adiante porque a empresa responsável pelos fornos se recusou a
construí-los”. O projeto do crematório migrou, então, para a Vila Alpina. Poucos
sabem, no entanto, que o Crematório Municipal Dr. Jayme Augusto Lopes foi
viabilizado por um conluio entre funcionários municipais e defensores do regime
militar. Um deles, que dá nome ao crematório, foi quem autorizou que as ossadas
de Perus fossem cremadas ali, segundo depoimentos. O plano foi frustrado. Os
documentos e depoimentos de trabalhadores da época, no entanto, mostram
como funcionou o plano de ocultar cadáveres da ditadura em São Paulo, com
apoio da estrutura da prefeitura.

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Cláudio Antonio Guerra, 79, ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Político


Social) e hoje pastor evangélico.

Foto: Gabriel Lordello/Folhapress

Queima de arquivos

C
om o reconhecimento da cremação pelo Vaticano em 1963, a
cidade de São Paulo aprovou quatro anos depois uma lei municipal
para regulamentar a prática. Foi a deixa para que o então prefeito
Faria Lima estabelecesse a licitação e compra dos fornos,
inicialmente previstos para o Cemitério Municipal de Vila Nova
Cachoeirinha. O prefeito também anunciou em 1968 um incinerador de ossos no
cemitério de Vila Formosa.

Prover a cidade com um crematório era igualmente um intento do Cemit, o


Departamento de Cemitérios de São Paulo. A sua instalação, conforme os jornais
descreviam, seria fundamental para resolver o problema dos corpos dos
indigentes, além de uma maneira viável para solucionar a falta de espaço na
cidade para ampliações e inaugurações de necrópoles.
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Imagens: Reprodução/O Estado de S. Paulo, 23 de março de 1969.

Foi o sucessor de Faria Lima, Paulo Maluf, que tirou o projeto do papel. Prefeito
entre 1969 e 1971, ele iniciou a construção do Cemitério Municipal Dom Bosco,
em Perus. Nomeado pelo governador Abreu Sodré após determinação do
presidente Costa e Silva, Maluf foi o primeiro prefeito biônico de São Paulo e o
primeiro a governar sob o AI-5. Um de seus primeiros atos foi criar, em maio de
1969, a CMI, comissão municipal de investigação sobre “corrupção ou
subversão”, que atuou em mútuo entendimento com os órgãos de repressão.

Não por acaso, entre 1969 e 1970, foram fundadas a Operação Bandeirante, a
Oban, entidade semiclandestina que seria oficializada logo depois como DOI-
Codi , a Polícia Militar e a Rota, batalhão de elite da PM paulista. A possibilidade
de ter disponível um incinerador para eliminar vestígios de corpos indesejados,
especialmente num remoto cemitério destinado a indigentes, deve ter soado como
música para os ouvidos dos agentes da repressão.

Conforme o depoimento de Fábio Pereira Bueno, diretor do Cemit de 1970 a


1974 indicado por Maluf, à CPI de Perus, a instalação de um crematório era
necessária diante do volume crescente de corpos de indigentes. Segundo ele, eram
quase 50 enterrados por dia – número contestado pela CPI, uma vez que, entre

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1989 e 1990, quando a população do município era maior do que em 1970, a


média desses sepultamentos era de oito por dia.

Na época, os vereadores realmente encontraram um plano geral do Cemitério


Dom Bosco, elaborado em abril de 1969, um ano antes do início das obras, que
previa a construção de um “crematório eventual”, conforme a expressão impressa
no papel. A sua localização, na planta, estava defronte a um dos portões do
cemitério.

Bueno contou à CPI que participou do processo de licitação e aquisição dos


fornos em 1968, enquanto era assistente técnico. Optou pela empresa inglesa
Dowson & Mason, que forneceria quatro fornos a gás. Juntos, eles poderiam
incinerar 96 cadáveres em 24 horas, mais que o dobro da demanda na década de
1960.

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No decorrer de alguns meses, o gabinete da prefeitura providenciou projeto de


construção de crematório, levantamento completo de topografia e cadastramento
dos cemitérios da capital, estudos sobre alteração das leis de exumação e de
cremação e, por fim, criou a lei 7420, que reorganizava o Serviço Funerário
Municipal, alterando seu Conselho Diretor e orçamento.

Entretanto, a CPI descobriu uma carta de maio de 1969 da empresa fornecedora


dos fornos que questionava o projeto do crematório. O diretor da Dowson &
Mason apontava discrepância entre entendimentos e sugeria a visita de um
técnico à Inglaterra.

Parece não haver o Hall de Cerimônias nesse projeto e também muitas coisas
que, francamente, não entendemos, mesmo considerando estarmos
associados e trabalhando há 15 anos em projetos de crematórios em todo o
mundo.

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Estamos particularmente preocupados com a sala de crematórios descrita em


seus desenhos.

Gostaríamos de saber qual o motivo de ter duas enormes portas vai-e-vem


nas posições assinaladas A e B, porque na maioria dos crematórios a sala
propriamente dita onde as cremações são realizadas é mantida algo discreta
(…).
Havia algo muito suspeito e inadequado no projeto da prefeitura. Um novo
estudo de arquitetura foi solicitado, mas, antes mesmo de propor alterações,
houve a confirmação pelo departamento jurídico de que a cremação não poderia
ser aplicada sem o consentimento da família. O plano de incineração em larga
escala foi abandonado – ao menos em Perus. Reajustado, o projeto também não foi
adotado em Cachoeirinha.

Após mais de um ano sem notícias sobre o crematório, na véspera do Natal de


1970, foi anunciada a mudança de endereço para Vila Alpina: “Para nós, não
importa muito o local de instalação. Importa, sim, que seja instalado”, declarou
Fábio Pereira Bueno à imprensa na época. Detalhe: havia a promessa da
prefeitura para se instalar gás no bairro, o que facilitaria o uso dos fornos. Em
janeiro, uma nota dizia que, inicialmente, seriam cremados apenas indigentes e
restos hospitalares. A partir daí, o termo “indigente” seria recorrente nas pautas
sobre cremação.

Praticamente sem menção nos jornais, os cemitérios de Vila Alpina e Perus foram
inaugurados em fevereiro e março de 1971, respectivamente. Maluf, ao final de
seu governo, autorizou a concorrência pública para a construção do prédio do
crematório. A obra, a cargo da Engeral S/A, empresa que tinha em seu quadro de
gerências um ex-estudante da Escola Superior de Guerra, deveria ficar pronta em
1972.

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Seis meses após a abertura dos cemitérios, foi aprovada uma alteração da lei de
exumação que permitia maior rotatividade nos terrenos, reduzindo de cinco para
três anos a permanência do corpo no sepulcro.

A descoberta da Vala dos Perus, em 1990.


Foto: Marcelo Vigneron

O ossário clandestino da ditadura

O
Cemitério Dom Bosco foi inaugurado em 2 de março de 1971 na
remota Estrada do Pinheirinho, em Perus, distante 32 quilômetros
da Praça da Sé, no extremo noroeste de São Paulo. Antiga
reivindicação dos moradores, o cemitério recebeu endereço
diferente do proposto pela associação do bairro, que queria sua
instalação no centro de Perus.

Antes que as primeiras famílias pudessem fazer uso das sepulturas, o local foi
destinado preferencialmente a mortos que chegassem ao IML sem identificação

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ou que não fossem reclamados por parentes em até 72 horas. Como o IML é
dedicado a necropsias de mortes violentas e não naturais, tais medidas tinham seu
propósito: a vala escavada ilegalmente ali tornou-se o mais importante
esconderijo de corpos da ditadura.

Conhecidas por funcionários da necrópole e por familiares de desaparecidos


desde os anos 1970, a desova de corpos e a vala clandestina tornaram-se públicas
em 1990, a partir das investigações do jornalista Caco Barcellos. No dia 4 de
setembro daquele ano, 1.049 sacos plásticos com esqueletos foram desenterrados
de um buraco comprido e estreito.

No dia seguinte à abertura da vala, a então prefeita Luiza Erundina instaurou a


Comissão Parlamentar de Inquérito: Desaparecidos Políticos, mais conhecida
como CPI de Perus. Foi a primeira comissão legislativa a investigar os crimes da
ditadura, servindo de base para comissões posteriores.

Conforme o jornalista Camilo Vannuchi detalha em seu livro Vala de Perus: Uma
Biografia, a descoberta de Caco surgiu a partir de pesquisas para seu livro Rota
66: A História da Polícia Que Mata. A pista despontou entre milhares de papéis
envelhecidos, sujos de sangue, numa sala no IML de São Paulo. Médicos legistas –
entre eles, Harry Shibata, notório pelo laudo de falso suicídio de Vladimir Herzog
– marcavam alguns laudos com uma letra “T”, em vermelho, uma designação para
“terrorista”, como a ditadura e imprensa classificavam militantes políticos. A
marca aparecia nas necropsias feitas entre 1971 e 1974.

Em vez dos nomes originais, os documentos continham codinomes dos militantes


– o que dificultava sua identificação. Em vez da descrição de lesões físicas visíveis
(feito mutilações ou sinais de tortura), os atestados de óbito relatavam
atropelamentos, suicídios ou tiroteios. Os corpos, que, pela lei, deveriam
permanecer 72 horas em câmara frigorífica, eram dispensados em menos de 24

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horas. Os mortos pela polícia, os indigentes e os “terroristas” tinham um destino


comum: o Cemitério Dom Bosco, em Perus.

Quando os corpos chegavam em camburões ao cemitério, por vezes escoltados


pela polícia, em caixões de madeira bruta, alguns sem tampa, os coveiros
perguntavam: “tem algum especial aí?”. Esses cadáveres eram enterrados nas
quadras 1 e 2, onde também eram sepultados os indigentes.

Administrador do Dom Bosco a partir de 1977, Antônio Eustáquio, mais


conhecido como Toninho, só descobriu o significado do “T” nos atestados em
1990. Elemento-chave na elucidação dos crimes da ditadura até então
encobertos, Toninho havia sido admitido por Jayme Augusto Lopes,
superintendente do Serviço Funerário de São Paulo, para “cuidar dos indigentes”,
diz ele.

Ao analisar documentos do cemitério, Toninho percebeu que certos dados não


constavam nos livros de registro. Segundo o padrão, após três anos sem que
nenhuma família reclamasse as ossadas, os restos mortais eram exumados e então
enterrados novamente num patamar abaixo para dar lugar a novos corpos.
Todavia, em 1975, houve uma exumação em massa de ossadas, documentada, mas
sem registro legal do novo paradeiro. “Pelo meu levantamento, mais de 1.500
ossadas desapareceram dos registros”, ele me disse.

‘Mais de 1.500 ossadas desapareceram dos


registros’.
Intrigado, ele passou a questionar os funcionários, até descobrir que o operador
de retroescavadeira abrira uma vala rente a um barranco. Numa noite, munido de
uma sonda, Toninho vasculhou o terreno indicado até encontrar a tal vala.
Receoso pelo momento político, ele guardou a informação para si – exceto
quando eventualmente era procurado por parentes de desaparecidos.

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Graças ao contato de Caco Barcellos com Toninho Eustáquio, a terra começou a


ser revolvida há 32 anos. No cruzamento de dados surgiram os nomes (ou
codinomes) localizados por Caco. Motivado pelo jornalista, Toninho decidiu
pedir autorização à superintendência do Serviço Funerário para escavar o
gramado no fundo do terreno, com o pretexto de construir um ossário. Com a vala
aberta, mediante pressão de comissão de familiares, os esqueletos da ditadura
tornaram-se manchetes.

Instalada a CPI, foram ouvidos, entre outros, funcionários do cemitério e do


sistema funerário, policiais e militares, parentes de desaparecidos, Fábio Pereira
Bueno, os legistas Harry Shibata e Isaac Abramovitch, o diretor da Polícia Federal
Romeu Tuma, ex-delegado e diretor do DOPS, os ex-prefeitos Paulo Maluf e
Miguel Colasuonno e o ex-governador Abreu Sodré.

A investigação constatou que as ossadas eram de pessoas sepultadas como


indigentes e que, entre elas, havia vítimas do Esquadrão da Morte e dissidentes
políticos – até 1990, sabia-se que 19 haviam sido enterrados em Perus. As
pesquisas consideraram que os corpos foram exumados em 1975 e, após meses na
sala de velório, foram enterrados sem registro na vala comum no ano seguinte –
algo injustificável, além de ilegal, uma vez que na época havia muito espaço na
necrópole para que ocorresse uma exumação em massa.

A Comissão Parlamentar apurou que 1.564 ossadas foram exumadas. Peritos da


Unicamp deduziram que a diferença desse número para as 1.049 localizadas seria
a presença de aproximadamente 500 crianças vítimas da acobertada epidemia de
meningite que assolou São Paulo na década de 1970, cujas ossadas não resistiram
ao tempo. Anos depois, surgiria a hipótese, ainda não comprovada, de existir uma
segunda vala no cemitério que teria recebido esses corpos.

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Arthur da Costa e Silva.

Foto: Acervo UH/Folhapress

A indigência como pretexto

A
Lei Municipal 7017, de 1967, havia determinado que poderiam
ser cremados os cadáveres de pessoas que em vida tenham assinado
documento em cartório permitindo a cremação ou, em casos
especiais, quando as famílias dos mortos permitirem, mesmo nos
casos de exumação. Em casos de mortes violentas, a cremação só
poderia acontecer com autorização das autoridades policiais. A lei determinou
que a prefeitura também poderia autorizar a cremação de cadáveres de
indigentes e de desconhecidos, desde que respeitadas as regras previstas na lei.

Mesmo com o fim da ditadura, a lei nunca foi revogada, a despeito da


Constituição de 1988 definir que pertence à família o corpo do ente falecido. Na

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época, a imprensa noticiou que os fornos teriam como objetivo a cremação dos
indigentes.

Uma grande reportagem publicada no Estado de S. Paulo em agosto de 1971


anunciou o projeto de um cemitério vertical, reformas em necrópoles e a
instalação do moderno crematório na Vila Alpina, com jardins, sala cerimonial
circular e elevador para o ataúde. “Após o crematório ficar em quarentena na
administração passada, o governo de Figueiredo Ferraz se apressa em construí-lo,
pois 45 indigentes por dia são enterrados nos cemitérios de Vila Alpina e Perus, o
que já justificaria sua instalação. São corpos que aparecem à margem de estradas,
debaixo de viadutos ou simplesmente jogados na rua, sem identificação”, diz a
reportagem. “Os engenheiros da Prefeitura encarregados da execução do projeto
evitam expor pormenores do funcionamento, temerosos que ‘possam chocar a
opinião pública’, mas asseguram que o cerimonial no subsolo será prático, em
ritmo industrial”.

Meses depois, o diretor do Cemit revelou que a lei que reduzia o prazo de
sepultamento para três anos em valas comuns era suficiente para resolver o
problema de vagas nas necrópoles. Resolvida a questão de exumação, Bueno,
pessoalmente, tentou buscar subsídios para que a lei municipal fosse adaptada a
permitir a construção de um crematório exclusivo para indigentes. Enquanto a
autorização para cremação devia ser dada pelo IML ou Secretaria de Saúde,
havia, entre seus planos, o projeto de câmaras de refrigeração para acondicionar
até 60 corpos.

Engenheiro civil, ele viajou em 1972 pela Argentina e Uruguai (nações envolvidas
na Operação Condor, a aliança militar do Cone Sul) para pesquisar os fornos ali
utilizados e sua legislação. No mesmo ano, outro engenheiro, Paulo Adiron
Ribeiro, viajou para a Inglaterra – o mesmo destino, dois anos depois, de Jayme
Augusto Lopes, superintendente do Serviço Funerário Municipal e advogado, a

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fim de examinar o funcionamento de crematórios e as possíveis adaptações a


serem feitas em São Paulo.

Responsável pela instalação do sistema, Ribeiro comunicou ao jornal O Globo em


novembro de 1973: “quando for inaugurado o forno crematório, a prefeitura terá
que usar cadáveres de indigentes, porque, como ocorreu em outros países, haverá
uma repulsa inicial da população à cremação. Mas isso desaparecerá com o
tempo”.

Em 1974, todavia, o novo prefeito de São Paulo, Miguel Colasuonno, determinou


que os administradores de cemitérios fossem substituídos por pessoas de sua
confiança, o que gerou a desautorização do diretor do Cemit e o seu pedido de
demissão. Outro fator também poderia ter colaborado para a saída de Bueno: a
desaprovação pelo departamento jurídico, mesmo após análise da legislação
argentina, da prática de cremação de indigentes.

O novo diretor, Sérgio Barbour, promoveu vistoria nos cemitérios, pesquisa de


opinião dos moradores e testes nos fornos, enquanto o secretário dos Serviços
Municipais, o sanitarista Werner Zulauf declarou: “ao contrário do que
anunciava o antigo diretor do Cemit, Fábio Pereira Bueno, que dizia que o forno
iria aliviar os cemitérios, devido ao alto padrão dos sistemas, indigentes, corpos
não reclamados e restos mortais não serão cremados”.

Naquele ano, o regime de repressão deixou de anotar a “T” nos laudos do IML,
guerrilhas de esquerda foram desmanteladas e a suposta distensão política
iniciou-se com o governo Geisel.

Após cinco anos da chegada dos dois fornos em Santos, o primeiro crematório do
país foi finalmente inaugurado em 12 de agosto de 1974 na Vila Alpina, ao lado
do cemitério São Pedro. Era, supostamente, destinado a classes mais abastadas.

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Em Perus, no entanto, havia muitos esqueletos de indigentes – e militantes


assassinados pelo regime – aguardando por um destino final.

‘A vala clandestina foi o crematório que não existiu’.Exu


ma
das em 1975, exatamente três anos após a aprovação da lei de exumação, as
ossadas permaneceram ensacadas por meses no velório do cemitério. A
informação que circulava entre os servidores era que seriam cremadas em Vila
Alpina, ficando à espera dessa providência. Depoimentos à Comissão Parlamentar
indicavam o conhecimento da exumação e seu fim: “Dr. Jayme”, o
superintendente Jayme Augusto Lopes, teria autorizado a cremação, conforme
relatou o serviçal do cemitério, João Aparecido André, enquanto o fiscal de
cemitérios do SFM, Carlos Eduardo Giosa, disse que o superintendente
consentira a abertura de um ossário subterrâneo.

Planejados para incineração, os despojos tiveram outro destino. “Pensamos que as


dificuldades de transportar as mais de mil ossadas para o crematório em
caminhões, descarregar sacos, sem condições de explicar a fumaça contínua,
levaram à abertura da vala”, explica a relatora da CPI, a ex-vereadora Tereza
Lajolo. “A vala clandestina foi o crematório que não existiu”, conclui. “Não
investigamos sobre os fornos, porque o objetivo era explicar a vala”, diz.

Uma das poucas notas informativas dadas após a inauguração, datada de 1976,
ano de abertura da vala, observou que o prefeito Olavo Setúbal considerou o
crematório deficitário por cremar menos de dois corpos, em média, por dia. Em
1988, o espaço foi oficialmente nomeado como Crematório Municipal Dr. Jayme
Augusto Lopes, em homenagem feita ao superintendente do SFM falecido em
1983. Atualmente, dispondo de seis fornos, ainda é o único crematório de São
Paulo.

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De acordo com Cláudio Guerra, o crematório chegou a receber corpos oriundos


de Perus (por “erro operacional”, segundo o próprio) e de outros locais. Ninguém
sabe quem são – e nunca saberá. Segundo Guerra – que confessou, ele mesmo, ter
sugerido o uso da usina de açúcar para a carbonização de corpos vindos da Casa
da Morte, em Petrópolis – a ideia de utilizar a incineração para ocultar corpos
havia partido do SNI, o Serviço Nacional de Informação.

O Crematório Municipal Dr. Jayme Augusto Lopes foi viabilizado por um conluio entre
funcionários municipais e defensores do regime militar.
Foto: Wikimedia Commons

Esqueletos no armário

A
Comissão Parlamentar e a Comissão Nacional da Verdade
consideraram que o sistema de desaparecimento forçado e
ocultação de vítimas foi possível graças ao conluio entre órgãos de
repressão, sistema funerário e poder público. Enquanto o
monitoramento do sistema era feito pelo SNI, o órgão que

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promovia a principal conexão entre as várias esferas era o IML, entidade estadual
atrelada à Secretaria de Segurança Pública.

A sugestão por sepultamentos em Perus teria partido do IML, além do Serviço


Funerário. Fábio Pereira Bueno declarou que foi procurado por Harry Shibata,
diretor do instituto, para acertar o uso do Dom Bosco para sepultar indigentes,
em vez dos tradicionais cemitérios de Vila Formosa e Lajeado, por estar mais
próximo ao prédio onde eram feitas as necropsias.

Por sua vez, o delegado da divisão de Ordem Política do DOPS, Alcides Cintra
Bueno, orientava os procedimentos ao IML e ao Serviço Funerário. O uso do “T”
seria uma ordem determinada por ele. Segundo o legista Jair Romeu, Cintra teria
telefonado diretamente a Jayme Lopes para requisitar um caixão para o ativista
Carlos Marighella, na ocasião de sua morte. A inter-relação se estendia inclusive
ao âmbito familiar: o filho do diretor do Cemit, Fábio Pereira Bueno Filho, era
investigador do DOPS, atuando sob as ordens de Tuma, enquanto Harry Shibata
Júnior e Romeu Tuma Júnior trabalhavam no Serviço Funerário .

O acirramento do autoritarismo militar, a partir do AI-5, ocorreu


simultaneamente a um período de grandes mudanças no sistema funerário. Entre
1969 e 1970, foram criados o AI-14 (ato que restabelecia a pena de morte no
país), Oban, DOI-Codi – chefiado pelo comandante Brilhante Ustra entre 1970 e
1974 –, Polícia Militar e Rota. O DOPS, com Sérgio Fleury à frente, passou a ser
subordinado ao 2º Exército. Em 1974, surgiu o chamado Braço Clandestino da
Repressão, que modificou o aparelho repressor na direção de uma ação ainda mais
furtiva.

No mesmo período, foram fundados três cemitérios municipais em São Paulo –


Cachoeirinha, São Pedro e Dom Bosco – e quatro particulares, além do
crematório municipal. O Cemitério da Vila Formosa, principal destino de
descarte de corpos de indigentes antes de Perus, sofreu em 1975 uma reforma não

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autorizada, que acarretou na pulverização da quadra dos “terroristas”. O


Cemitério do Lajeado, em Guaianases, na Zona Leste de São Paulo, por sua vez,
foi alvo de sucessivos incêndios que ocasionaram queima de documentos e morte
de um funcionário.

A CPI concluiu que há uma desorganização histórica no Serviço Funerário


Municipal no tratamento dispensado às pessoas pobres, genericamente chamadas
de indigentes. E que essa manipulação serviu ao ocultamento de corpos de
vítimas da violência policial e de presos políticos – em São Paulo, foram
sepultados como indigentes cerca de 47 vítimas da ditadura em apenas três
cemitérios: Dom Bosco, Vila Formosa e Campo Grande. Por fim, que houve
intenção de cremar os corpos de indigentes, entre os quais estavam os de presos
políticos.

Em depoimento à CPI feito em sua mansão nos Jardins, em 1991, Paulo Maluf
responsabilizou o prefeito Faria Lima pelo projeto de construção do cemitério
Dom Bosco. Também negou conhecer Harry Shibata, diretor do IML durante
seus três anos como prefeito, e Sérgio Fleury – apesar de ter ido a seu velório. Ele
negou ainda ter determinado a construção de crematório em Perus. “Como
cristão, jamais permitiria a cremação de indigentes. Sempre soube que os mortos
têm de ser enterrados”, disse. Quanto às torturas no DOI-Codi, garantiu que
tomou conhecimento delas somente após as mortes do jornalista Vladimir Herzog
e do metalúrgico Manoel Fiel Filho, entre 1975 e 1976.

Porém, admitiu a concessão de um jazigo no Cemitério de Campo Grande, na


Zona Sul, para a agente do DOPS Estela Borges Morato, morta em novembro de
1969. Na mesma ocasião também morreu o ex-deputado e dirigente da ALN
Carlos Marighella – por sua vez, enterrado como indigente em Vila Formosa.
Maluf justificou ter assinado a concessão sem ler, em meio a várias outras, trazidas
por assessores para receber sua sanção.

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31/07/2023 12:31 Ditadura: Crematório em SP foi criado para ocultar cadáveres

Cabe lembrar que ele, como governador, cedeu uso de terreno para o DOI-Codi
no final dos anos 1970. Em 1993, quando reassumiu a prefeitura da cidade, pelo
voto, sucedendo Erundina, alguns de seus primeiros atos foram a extinção da
comissão de acompanhamento de familiares de desaparecidos políticos e a
exoneração de Antônio Eustáquio, administrador do Dom Bosco e responsável
por revelar a vala de Perus. O gradativo abandono do trabalho de investigações
sobre as ossadas foi outro passo. O descaso somente terminaria em 2014, quando
a análise forense foi retomada pela Unifesp.

Ao desprezo do prefeito pelo assunto, acrescente-se a destruição proposital dos


arquivos do IML, especialmente entre 1969 e 1974, e do DOPS. Os arquivos do
último se tornaram públicos em 1992, mas muitos foram retirados por policiais
enquanto estavam sob a guarda do então diretor da Polícia Federal Romeu Tuma.

Em 2009, o Ministério Público Federal, por meio da procuradora Eugênia


Gonzaga, ex-presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos, promoveu uma ação civil contra os ex-prefeitos Paulo Maluf e Miguel
Colasuonno, Romeu Tuma, Harry Shibata e Fábio Pereira Bueno, além do
Município e Estado de São Paulo e a União. A ação busca responsabilizar os réus
por ocultação de cadáveres – os descendentes e representantes de Colasuonno,
Tuma e Bueno respondem pelo processo. Em 2019, Eugênia Gonzaga foi
exonerada por Bolsonaro da presidência da CEMDP.

As investigações sobre as violações cometidas pela ditadura foram retomadas com


as diversas Comissões da Verdade. Dados apresentados pela Comissão Estadual
Rubens Paiva mostram que quase 5 mil cadáveres entraram no cemitério Dom
Bosco identificados como desconhecidos entre 1971 e 1980. O presidente da
comissão, o ex-preso político e deputado Adriano Diogo, considerou vaga a
afirmação de que corpos de militantes foram incinerados em Vila Alpina. Mas,
frente aos dados levantados pela reportagem, passou a cogitar tal possibilidade.

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“Começo a crer que corpos possam ter sido levados para lá. Ouvíamos algumas
conversas nesse sentido”, conta ele.

Diretor da divisão de cemitérios por menos de um ano, Sergio Barbour afirma


que, na sua época, a indigência era atestada pelo SFM e o enterro, administrado
pelo Cemit. Ele considerou absurda a ideia de seu antecessor de utilizar a
indigência para justificar o uso do crematório e acha difícil provar que corpos
foram levados para lá. “Quem faz isso não costuma deixar vestígios”, avalia.

O ex-delegado Cláudio Guerra negou-se a dar entrevista ao Intercept.


Questionada por qual razão Vila Alpina se tornou o destino do crematório, a
assessoria do Serviço Funerário justificou que os cemitérios de Vila Formosa e
Cachoeirinha não comportariam prédio de tal dimensão. Contudo, os dois
cemitérios são os maiores da cidade. Envolto em mistérios, o forno crematório
original não possui fotos nos arquivos do Serviço Funerário Municipal por conta
de um “incidente interno”. Estranhamente, o forno da época teve um fim insólito:
foi descartado em 2006 como bem inservível – sucata.

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