Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Gilsane Martins Gomes


Jéssica Da Silva
Jéssica Da Silva Gurgel

ANÁLISE DE DOCUMENTÁRIO:
A Peste Negra na Idade Média (History Channel Brasil)

Atividade apresentada à disciplina de História da Idade


Média, pertencente ao Curso de História do Instituto de
Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional
(ESR), da Universidade Federal Fluminense (UFF), em
Campos dos Goytacazes do período 2020.2.
Prof. Dr. Julio Cesar Mendonça Gralha

CAMPOS DOS GOYTACAZES


2021
INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva analisar o documentário: A Peste Negra na Idade Média


produzido pela History Channel, este se dá em modo expositivo com narração em voz off,
situando-se no século XIV, durante a Baixa Idade Média- de acordo com a demarcação
apresentada por Hilário Franco Junior em A Idade Média: Nascimento do Ocidente
(FRANCO JUNIOR, 2001)- nos territórios compreendidos hodiernamente como Ásia e
Europa.
A película narra os acontecimentos a partir do início do século XIV, onde a civilização
medieval ainda gozava dos privilégios expansionistas herdados da Idade Média Central,
considerada sua fase mais rica (FRANCO JR, 2001), abruptamente a Europa se viu em
situação de calamidade, o déficit nas colheitas em decorrência das mudanças climáticas trouxe
consigo um grande inimigo da quietude: a fome e não obstante, a Peste Negra e a Guerra dos
Cem Anos os assolaram, juntas romperam com o deleite experimentado nos três últimos
séculos. O documentário contextualiza teorias sobre o surgimento, disseminação e duração do
primeiro surto de peste bubônica em um cenário marcado por grande dominação religiosa,
com uma psicologia coletiva constantemente preocupada com o Apocalipse e o “fim dos
tempos” (FRANCO JR, 2001).

O CENÁRIO POLÍTICO E AS POSSÍVEIS CAUSAS DA DISSEMINAÇÃO DA


PESTE

O documentário defende que apesar da união entre Igreja e Estado e do domínio da


religião sobre o Rei e sobre todos os aspectos da vida camponeses nos séculos anteriores, a
Baixa Idade Média trouxe consigo questionamentos sobre a autoridade clerical, os constantes
abusos de poder por parte dos sacerdotes desagradavam os indivíduos, estes possuíam
concubinas, se deitavam com as mulheres das aldeias e eram acusados de corrupção, além
disto, uma demonstração do início de uma possível ruptura se deu pelo sequestro da Santa Fé
pelos franceses no mesmo período. Outro aspecto abordado pelo vídeo é o da superioridade da
religião em relação à ciência, tanto que diplomas de medicina e teologia estavam atrelados, o
primeiro só seria entregue àquele que possuísse o segundo.
De acordo com dados apresentados pela película e por John Aberth da Universidade
de Vermont, a peste começou a se espalhar em 1347, na baixa Mongólia, extremo Oriente,
havendo rumores de que na China, Índia e no mundo islâmico pessoas estavam morrendo de
forma misteriosa. Como já dito acima, a psicologia coletiva da época apontava para o
Apocalipse e o “fim dos tempos” associando rumores da origem da peste com profecias
apocalípticas, como chuvas de rãs, cobras e granizo, trovões e raios e fumaça fedida vinda do
céu.
Outro importante aspecto apresentado era a relação comercial entre o que hoje
chamamos Oriente e Ocidente, o primeiro era dominado pelos mongóis, cujo Império se
estendia do Tibet ao Rio Volga e de Pequim à Constantinopla, até então invencíveis. A
abertura do comércio entre o oeste europeu e a China representou grande movimentação na
Ásia Central, através das rotas estabelecidas para o comércio de seda, especiarias e demais
produtos valiosos. De acordo com Joann Moran Cruz, da Universidade de Georgetown, a
segunda metade do século XII foi uma época de expansão, facilitando a circulação da
“praga”, segundo John Aberth. Outro importante ponto é a aniquilação de aldeias através da
peste, que deixava pústulas nos corpos, seus bens valiosos, como peles e cobertores, eram
saqueados e o restante era queimado na tentativa de exterminar a “praga”, porém a bactéria
viajava através daqueles pertences.
Neste cenário de disputas, no fatídico ano de 1347, durante o confronto entre os
mongóis e habitantes da cidade de Caffa, localizada no Mar Negro, importante ponto de
partida de navios mercantis rumo à Itália, os mongóis contraíram a Peste Negra, como
estratégia para a tomada do local, antes de retirarem o cerco, catapultaram os corpos mortos
afligidos pela praga para dentro da cidade, culminando na transmissão para os europeus
através dos navios carregados por cadáveres e doentes em estágio terminal, sendo a principal
teoria defendida pelo longa para a disseminação da doença na Europa.

A PESTE

A película apresenta a peste bubônica como uma doença que os acometia de febre e
calafrios, dificultando a diferenciação entre esta e a gripe, porém em uma segunda etapa
surgiam os bubões, que são glândulas linfáticas inflamadas e negras no pescoço ou virilha
extremamente dolorosas, podendo atingir o tamanho de uma laranja, vindo daí o nome
“bubônica”, sendo a teoria de que a peste bubônica foi a causadora da peste negra. Ademais,
se espalhava com facilidade, podendo causar choque séptico, levando a falência múltipla dos
órgãos, comprometia também o sistema vascular gerando hemorragias.
Sendo uma doença totalmente desconhecida acabou por demonstrar as nuances
daquela sociedade, as pessoas recorriam em vão à fé numa tentativa de cura, também
acarretou em estigmas sociais àqueles que portavam a doença, devido a sua visibilidade. As
explicações para a doença se baseavam no pensamento corrente de que o alinhamento de
planetas causava um desequilíbrio no corpo, também na ideia de castigo e punição divinos.
Defende-se que a peste fora causada pela bactéria Yersinia pestis, carregada por
pulgas, tendo encontrado no mundo medieval um bom ambiente para se desenvolver devido
ao acúmulo de lixo das populações dos centros urbanos que favorecia a proliferação de ratos,
vetores da doença. Há uma derivação mais mortífera da doença, denominada peste
pneumônica, sem a necessidade de vetores para a propagação, ela se dá pelo alojamento da
bactéria nos pulmões e é transmitida pela tosse, sendo assim o documentário apresenta duas
teorias, a de que a peste bubônica foi a causadora da peste negra e, baseado na rapidez da
propagação da doença, a de que outras doenças foram responsáveis, como Antraz e Ebola.
De acordo com John Albert, as pessoas naquela época não faziam ideia de que a
doença era causada por uma bactéria ou por qualquer outro tipo de micro-organismo que
pudesse ser visto a olho nu, entretanto sabiam que a peste se disseminava entre as pessoas.
Conforme a doença se espalhava, mais mortes eram contabilizadas, chegando a uma média de
600 por dia entre os venezianos, como afirma o documentário.
Em janeiro do ano de 1348, a peste chegou na França através de navios mercantis,
sendo também levada para territórios espanhóis, causando a contaminação de 60% da
população de Barcelona. Em agosto desse mesmo ano, Paris recebia a doença, que não muito
tarde levaria metade de sua população à morte. Segundo Joann Moran-Cruz, da universidade
de Georgetown, não havia mais o que fazer, o que tornava a situação ainda mais assustadora.
A película relata que os nobres, após serem tomados pelo medo fugiram das cidades,
abandonando os mais pobres que só poderiam contar com a sorte para sobreviver. A extrema
pobreza juntamente com as condições precárias de higiene da população contribuiu para a
proliferação de pulgas e ratos, principais transmissores da doença.
A medida em que as coisas pioraram, sacerdotes, temendo a contaminação,
começaram a negar unção aos enfermos. Para os homens medievais, morrer sem a unção era
considerado pior do que a própria morte. Com a ausência de padres, lhes foi sugerido por
meio de um bispo que se confessassem entre si, mas devido as condições em que os enfermos
se encontravam, a única alternativa era jogar água e comida ao lado de suas camas para depois
abandoná-los, priorizando a autoproteção. Isso fazia com que as pessoas fossem tratadas
como cães, conforme dito no documentário.
Assim como já mencionado, as pessoas tratavam aquele cenário como a ira de Deus.
Não havia qualquer outra explicação para tamanha aflição. Diante disso, o fanatismo religioso
dominou a Alemanha. Acreditando que com a imitação do sofrimento de Cristo os seus
pecados seriam perdoados, homens começaram a se autoflagelar. Pessoas acreditavam que
aqueles homens afastavam a doença de perto deles. De acordo com o documentário, eles se
organizavam em grupos de até mil homens e elegiam um líder que passaria 33 dias e meio
fazendo alusão ao sofrimento de Cristo na terra. Estes se absteriam de banho, sono e sexo,
percorrendo a cidade realizando atos extremamente masoquistas para multidões
impressionadas.

Com a crescente influência dos flagelantes, autoridades religiosas, principalmente na


França começaram a se sentir ameaçadas, já que, como narra a película, estes foram
comparados com os mais pobres camponeses devido a sua impotência mediante a situação. Os
flagelantes contavam com o apoio da população francesa que acreditava fielmente que com a
chegada destes, a peste enfim desapareceria. Ainda no ano de 1348, o documentário relata que
uma onda de ódio mais perigosa do que a própria peste surgiu. Buscando culpar alguém,
aqueles grupos investiram contra inocentes, causando um massacre de proporções
gigantescas. Os judeus foram os mais afetados. Para os cristãos daquela época, ninguém
ofendia a Deus mais do que eles. Os flagelantes capturavam, torturavam e os forçavam a uma
confissão. Diante disso, o mundo passou a discriminá-los, e isso acarretou a morte de milhares
de judeus.

Após uma observação do papa Clemente VI, conforme relatado no documentário,


onde afirma que os judeus morriam na mesma proporção das outras pessoas, logo não fazia
sentido algum dizer que o envenenamento partia deles, alguns apelos a favor dos judeus foram
feitos, mas todos foram ignorados. Em 1349, dia de São Valentim, cidadãos de Estrasburgo
capturaram 2000 judeus e os queimaram vivos. O massacre foi repetido em mais de 15
cidades da Alemanha e Suíça.

O Papa não mais seguro em sua muralha, resolveu ir para sua casa de campo por conta
da grande violência e apenas um membro ficara, o médico Chauliac, pondo sua vida em risco,
acabara contraindo a doença e cuidando de si enquanto na Alemanha os flagelos ganhando
forças, assim começaram a pilhar igrejas. Com sua vida “fora da lei”, atraía mulheres do
campo. Em 1349 Papa Clemente ordenou a punição desse grupo, porém sua ordem não foi
obedecida e a Igreja precisou recorrer aos meios militares para poder dissipar, sendo os
flagelos presos e até mesmo expulsos e como exemplo, alguns dos Mestres foram decapitados
em via pública. Ainda naquele ano o grupo flagelante havia sido extinto, mas ainda assim,
houve hostilidade na Europa com os Judeus que até então quase não haviam mais por volta do
final do século XIV, tendo sidos mortos ou expulsos.

O Rei Casemiro governava a Polônia por volta de 1349, que, segundo a lenda,
apaixonou-se por uma Judia e prometeu proteger todos os judeus, assim convidando-os a
juntar-se. Passando assim toda comunidade judaica alemã indo para a Polônia. A Peste Negra
continuou devastando toda Europa, trazendo o caos. Taxa de mortalidade foi enorme, grande
parte de Veneza se dissipou e nem mesmo os monges foram poupados da praga.

O Rei da Inglaterra Eduardo III sobreviveu, assim como muitos que conseguiram fugir
do caos de toda população, indo para suas casas de campo. Assim como o Papa Clemente que
sobreviveu e também seu médico que ficou e cuidou de si.

Havia traços de destruição por toda população, filhos enterrando pais e vice versa. Os que não
puderam fugir, sofreram a consequência daquela doença.

Em 1350 na Itália, uma parte da população saqueava as casas dos mortos, foram entregues à
sua versão animal, perdendo totalmente a compostura, lidando com excessos e luxúrias, mas
também para outra parte foi momento de "vacas gordas", encontraram oportunidade para
serem independentes, plantando seu próprio alimento, saíram de servos e viraram patrão de si,
homens e mulheres constituíram sua família.

Entretanto, todas essas mortes levantaram questionamentos em relação a fé, até


mesmo Deus. Como pudera deixar tantas vidas irem embora, como deixara essa doença varrer
todo o mundo.

A Igreja viu-se abalada com tamanhos questionamentos, com isso a religião sofreu
uma certa privatização, fazendo cada família ter a sua própria capela. Uns questionavam
Deus, outros buscaram respostas através da ciência. Em Avignom, o médico sobrevivente
escreveu uma obra prima, como "grande cirurgia", com base em suas minuciosas observações
da doença.

A medicina na Idade Média não era tão avançada e com o fim da Peste Negra tornou-
se mais prática. Na Itália, em princípio na parte Rural a fome isolava, havia falta de comida,
porém após o fim da doença, sobrava terra para cultivo e suprimentos. Com a diminuição da
população, não havia sobrecarga, o que faltava agora estava sobrando, isso com comida,
salários e terras. A alimentação melhorou, ao invés de apenas cevada, agora os camponeses
tinham vegetais e carne para se alimentar.

Do outro lado da história, enquanto os camponeses estavam melhorando suas


condições de vida, as nobres famílias passavam aperto, pois sem os camponeses para fazer o
trabalho, eles mesmo teriam de fazer, ficando sem mão de obras, apelando assim para a
violência, indo atrás na força com suas espadas pilhando as cidades. A maioria dos grupos
formados por militares, esses que faziam os saqueamentos.

A destruição em massa fizera os sobreviventes buscarem por soluções avançadas,


criação modos não manual, já que a mão de obra estava escassa e com isso apelaram para o
moinho.

Após a fase de tormenta, restaram-lhe tristeza e memória de toda morte ocorrida, um


período assombroso que inspirou a grande obra chamada "Dança Macabra". Os próximos
anos vieram com a Renascença na Itália, a Europa surgiu como fênix, surgindo após tanta
morte.

REFERÊNCIAS
A Peste Negra na Idade Média - Documentário History Channel Brasil (90 min). Publicado
pelo canal History Documentários. Disponível em: < https://youtu.be/L2-HoovP-Dk >.
Acesso em: 2 de abril de 2021.
FRANCO JR, Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense,
2001.

Você também pode gostar