ANÁLISE ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO DO COVEIRO

Elisângela Brito Pessoa

Ernesto Vilar Filgueiras
Fernando Antonio Nogueira de Lucena
Maria Lecticia Maciel
Rosângela Peres Calheiros
Walter Franklin M. Correia
Anamaria de Moraes, Dra.
Curso de Especialização em Ergonomia / Departamento de Design / Centro de Artes e Comunicação
Universidade Federal de Pernambuco
Campus Universitária / Cidade Universitária / Recife-PE CEP: 50670 - 420
ernestovilar@uol.com.br

Palavras-chave: Apreciação ergonomia, Postura, Coveiro.

Este estudo versou sobre o trabalho do coveiro no ato de sepultamento – abrir covas, enterrar e fechar covas –
em um cemitério de pequeno porte na cidade de Recife – PE. Foi, inicialmente, realizada uma apreciação
ergonômica do posto através de análise assistemática, com o objetivo de identificar possíveis problemas na
referida atividade. Seguiu-se uma priorização dos problemas até chegar-se a sugestões preliminares de
melhorias.
Keywords: Ergonomic Appreciation, Posture, Gravedigger.

This study turned on the gravedigger's work in the burial action - to open graves, to bury and to close graves -
in a small load cemetery in the city of Recife - PE. It was, initially, accomplished an ergonomic appreciation of
the gravedigger's work through analysis of the activity, with the objective of identifying possible problems in
the referred work. The problems’ report was followed to arrive to preliminary suggestions of improvements.

1. INTRODUÇÃO atualmente tem capacidade para cerca de 220

Foi realizada análise ergonômica no posto de trabalho
do coveiro, em um cemitério de pequeno porte,
localizado no bairro da Várzea, Recife-PE.
Observou-se, unicamente, a função do coveiro nas
tarefas necessárias para sepultamento – abertura,
colocação do caixão e fechamento da cova. Para esse
trabalho, adotou-se a metodologia de intervenção
ergonomizadora presente em Moraes & Mont’Alvão
(2000).
Inicialmente foi feita uma visita assistemática “in loco”
para observação e, através de conversas informais com
funcionários, obteve-se dados relevantes à execução do
trabalho. Após a análise dos dados colhidos , retornou-
se para registrar a atividade através de filmagens e
fotografias. Fez-se assim, a apreciação ergonômica do
trabalho do coveiro, objetivando ter subsídios para
propor sugestões preliminares de melhorias para esse
posto de trabalho.
2. IDENTIFICAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO
2.1 O Cemitério:
sepultamentos ao mês. Seu horário de funcionamento é
de 7 h às 18 h (sem funcionamento à noite).
Vale ressaltar que parte dos outros cemitérios da cidade
do Recife não realiza mais sepultamentos em covas.
Esse fator foi determinante para a escolha do citado
cemitério.
2.2 O Coveiro:
Após a análise do local, observou-se que a função do
coveiro engloba várias atividades, desde abertura de
covas até o armazenamento de ossos em local
específico (ossário). Os coveiros trabalham em grupos
de 03 (três) pessoas, em regime de plantões com dias
alternados.
A função de coveiro apesar de milenar apresenta
poucas modificações / melhorias no decorrer de sua
história.
Improvisação do Ferramentário, adaptação de
equipamentos sem instruções ou treinamentos
específicos, além de uma grande carga emocional,
fazem parte da atividade diária deste funcionário

A fundação do cemitério da Várzea data de 1953 e

 4.2 Modelagem Comunicacional do Sistema
3. DESENVOLVIMENTO

A parte inicial do estudo constituiu-se em visitas para

uma exploração e observação da área de trabalho,
sendo realizadas entrevistas e observações
assistemática. Seguiu-se com a identificação de
problemas no posto de trabalho e coleta de opiniões dos
trabalhadores. Durante algumas visitas foram feitas
registros videográficos, fotográficos da atividade e do
ambiente de trabalho, observações a respeito da carga
de trabalho, dados ambiente e o impacto psicológico
associado a tarefa.

4. RECONHECIMENTO DOS PROBLEMAS

Durante suas atividades, o coveiro, exercendo a tarefa

de sepultamento, está exposto à posturas que causam
Fig.02 - Modelagem Comunicacional do sistema SHTM
constrangimentos ao sistema músculo-esquelético, à
cargas pesadas, à insolação excessiva e outros fatores
de diversas naturezas e categorias. 4.3 Fluxograma funcional ação-decisão
Algumas queixas são muito freqüentes entre os
trabalhadores, como: dores de cabeça, dores nas costas
e nas panturrilhas.

4.1 Caracterização e posição serial do sistema

Fig.03 - Fluxograma Funcional sistema SHTM

5. PROBLEMATIZAÇÃO DO SISTEMA HOMEM

-TAREFA-MÁQUINA - SHTM

5.1 Problemas identificados

Foram identificados diversos problemas no posto de

trabalho analisado. As figuras abaixo apresentam
exemplos de alguns dos problemas levantados
Fig.01 Caracterização e posição do sistema SHTM
 Interfaciais 1
Angulação do tronco e realização Dificuldade na identificação dos
da tarefa causando
constrangimento à coluna do
operador;
Dimensionais
Falta de espaço para o manuseio do
caixão, para cavar as sepulturas;
Pouca distância entre as covas
Instrumentais
Ferramentas com má conservação;
Ferramentas inadequadas;
Indumentária inadequada com
limitações de movimentos.
Interfaciais 2
Constrangimento e implicações na Problemas de ordem psicológica
coluna devido ao alcance na
atividade de cavar as covas.
Tabela.01 Relação de problemas levantados
Informacionais
corpos enterrados;
Falta de sinalização de ruas e
covas.
Movimentacionais
Constrangimentos para o sistema-
músculo esquelético devido ao
excesso de peso na colocação do
caixão nas sepulturas
Acidentários
Solo revolvido com riscos de
quedas e afundamentos;
Presença de animais peçonhentos;
Riscos de acidentes causados por
queda de frutos no local
Psicossociais
devido ao ambiente lúgubre
6. Priorização dos Problemas
Segundo Moraes & Mont’Alvão (2000), toda atividade
implicada no trabalho, junto com seu ambiente físico e
social, exercem no trabalhador diversos
constrangimentos, com inúmeros gastos, tanto físicos e
mentais como emocionais e afetivos, o que lhe acarreta
desgastes e custos humanos.
Para a atividade de coveiro, inicialmente, elenca-se o
aspecto postural como sendo de importância capital.
Isso é perceptível nos vários itens observados no
Parecer Ergonômico como: Flexão do tronco e dos
membros, a falta de espaço entre as covas para
manuseio do ataúde e para a abertura das mesmas, o
excesso de peso.
Observa-se também, como problema visível, a questão
de longos períodos em exposição ao sol, o que gera
constrangimentos de várias ordens.
Outro aspecto a se considerar é a falta de treinamento
para uma melhor execução da atividade.
A falta de um espaço de convivência para que o
trabalhador possa administrar melhor seu tempo ocioso
entre as tarefas também pode ser levado em
consideração. Ocupar melhor o tempo de forma
saudável contribui para que o trabalhador não possa
fazer uso de bebida alcoólica no horário de trabalho.
6.1 Classes de Problemas:
Interfaciais
• Problemas: Flexão aguda do tronco e dos
membros inferiores
• Requisitos: Padronizar a atividade sem custos
humanos acentuado
• Constrangimento da tarefa: O coveiro
precisa curvar-se e agacha-se várias vezes
• Custos humanos: Dores nos Membros
Inferiores (MMII) e nas costas (tórax e
cervical)
• Disfunção do sistema: Redução na
produtividade e até parada no sistema
• Sugestões de melhoria: Treinamento para
melhorar a execução da tarefa
• Restrições do sistema: Falta de interesse por
parte dos administradores e responsáveis
Dimensionais
• Problemas: Falta de espaço para manuseio do
ataúde / Pouca distância entre as covas
• Requisitos: Redimensionamento do espaço
físico
 • Constrangimento da tarefa: O coveiro
executa movimentos desnecessários para a
execução da tarefa
• Custos humanos: Riscos de acidentes / Riscos
de quedas
• Disfunção do sistema: Atraso na
produtividade e repetição de tarefas devido à
necessidade de abrir novas covas
• Sugestões de melhoria: Maior espaçamento
entre as covas
• Restrições do sistema: Falta de uma boa
administração com relação ao espaço físico
Informacionais
• Problemas: Dificuldade na identificação dos
locais dos corpos enterrados p/ sepultamento de
novos corpos
• Requisitos: Sinalização adequada
• Constrangimento da tarefa: O coveiro fica
confuso para encontrar os locais certos
• Custos humanos: Stress
• Sugestões de melhoria: Melhorar a
sinalização, especialmente entre as covas, com
um quadro visual de identificação com datas e
locais
• Restrições do sistema: Desinteresse da
administração na melhoria da sinalização
Movimentacionais
• Problemas: Excesso de peso da carga.
• Requisitos: Utilização de ferramenta
auxiliares.
• Constrangimento da tarefa: Sobrecarga nos
discos. intervertebrais
• Custos humanos: Dores, aparecimento de
hérnias e lombalgias.
• Disfunção do sistema: Pequenos atrasos na
produtividade e riscos de prejuízos com a
propriedade alheia .
• Sugestões de melhoria: Oferecer sistema de
guindaste ou carrinho de descida projetado
especificamente para o cemitério
• Restrições do sistema: Falta de recursos,
interesse da administração e do próprio
operário
Instrumentais
• Problemas: Ferramentário com má
conservação / Utilização de ferramentas
inadequadas p/ execução de certas tarefas /
Indumentária de trabalho inadequada
• Requisitos: Colocação do ataúde na cova
• Constrangimento da tarefa: O coveiro se
expõe a riscos desnecessários com o uso de
uma corrente enferrujada / O coveiro usa
enxadas ao invés de pás durante praticamente
todo o ciclo / Roupa apertada ou muita justa,
dificultando o movimento
• Custos humanos: Ferimentos e infecções /
Fadiga / Stress e dores nos ombros
• Disfunção do sistema: Atrasos na
produtividade, e riscos de prejuízos com a
propriedade alheia / Maior tempo para cavar as
covas
• Sugestões de melhoria: Oferecer novo sistema
ou troca das ferramentas atuais por novas.
Propor periodicidade para estas / Treinamento
adequado, com estudo de tempo e pausas, caso
necessário, para maior produtividade / Adequar
o tamanho da vestimenta ao usuário
• Restrições do sistema: Falta de recursos
disponíveis e falta de interesse de ambos os
lados / Falta de interesse por parte da
administração e dificuldade em mudar
paradigmas junto aos coveiros / Falta de
interesse por parte da administração e descaso
dos coveiros.
Acidentários
• Problemas: Solo muito revolvido e “fofo” /
Presença de animais peçonhentos / Risco de
quedas de frutos no local /
• Requisitos: Dedetização do local / Podar as
árvores e colher os frutos
• Constrangimento da tarefa: O coveiro se
expõe a riscos de quedas / Picadas e ferimentos
no coveiro / O coveiro se expõe a pancadas
• Custos humanos: Contusões / Doenças e
irritabilidade na pele / Dores e contusões
• Disfunção do sistema: Pequenas paradas no
sistema
• Sugestões de melhoria: Melhor sinalização de
onde se encontram as covas / Sistema de
dedetização / Podas regulares e preventivas a
este tipo de risco
• Restrições do sistema: Falta de interesse e
acomodação dos coveiros
Instrucionais
• Problemas: Ausência no uso de EPI’s / Falta
de treinamento apropriado
• Requisitos: Exposição à terra e mãos nuas nas
ferramentas
• Constrangimento da tarefa: O coveiro se
expõe a riscos de quedas / Picadas e ferimentos
 no coveiro / O coveiro se expõe a pancadas / O
coveiro trabalha em ritmo próprio sem uma
sistematização apropriada
• Custos humanos: Dores e formação de calos
nas mãos / Dores
• Disfunção do sistema: Atrasos na produção /
Maior tempo na execução das tarefas
• Sugestões de melhoria: Uso correto dos EPI´s
/ Treinamento adequado e estudo para
sistematizar a operação
• Restrições do sistema: Falta de interesse e
acomodação dos coveiros / Falta de
preocupação por parte dos coveiros e ausência
de fiscalização adequada / Desconhecimento
do assunto por parte de todos
Biológicos
• Problemas: Bactérias e fungos / Mau cheiro
• Requisitos: Prevenção através de
conscientização p/ uso de EPI’s / Uso de
máscaras
• Custos humanos: Riscos de doenças como
frieira e alergias / Dores de cabeça e stress
• Sugestões de melhoria: Uso correto do EPI,
bem como a conservação e manutenção / Uso
de máscaras para realização de tarefas
específicas
• Restrições do sistema: Desconhecimento dos
riscos, por parte dos coveiros, devido a uma
adaptação ao ambiente insalubre
Psicossocossociais
• Problemas: Ambiente lúgubre p/ a atividade /
Atitudes agressivas dos participantes no enterro
• Requisitos: Atitudes agressivas dos
participantes no enterro /
• Constrangimento da tarefa: O coveiro é alvo
da agressividade dos familiares do morto
• Custos humanos: Alcoolismo / Lesões
corporais, danos morais, estresse
• Disfunção do sistema: Diminuição da
produtividade / Pequenas interrupções no
sistema
• Sugestões de melhoria: Criação de ambiente
de convivência Criação de ambiente de
convivência / Melhoria da segurança
• Restrições do sistema: Falta de recursos, de
interesse e orientação / Eventos com baixa
freqüência gerando desinteresse da adm.
Naturais
• Problemas: Altas temperaturas / Exposição ao
Sol
• Requisitos: Melhorar paisagismo e usar
protetor solar, chapéus
• Constrangimento da tarefa: Trabalho sob
temperaturas elevadas / O coveiro realiza o
trabalho ao sol
• Custos humanos: Alteração na percepção
subjetiva, diminuição da capacidade física e
produção / Diminuição na capacidade física e
produtiva, dores de cabeça, câncer de pele
• Disfunção do sistema: Diminuição da
produtividade
• Sugestões de melhoria: Aumento na ingestão
de água, fornecimento de roupas mais arejadas
/ Uso de protetor solar e chapéu
• Restrições do sistema: Custo, falta de
conscientização do problema por parte do
funcionário
Gerenciais
• Problemas: Tempo ocioso entre as tarefas
• Custos humanos: alcoolismo
• Disfunção do sistema: Diminuição da
produtividade
• Sugestões de melhoria: Criação de área de
convivência
• Restrições do sistema: Falta de
conscientização do problema por parte do
operário / Falta de recursos, de interesse e
orientação
7. Referencial Teórico
A NR-17, norma regulamentadora que visa estabelecer
parâmetros a permitir adaptações das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores proporcionando maior conforto,
segurança e desempenho, deixa claro nos artigos 17.5.1
e 17.6.1, que: - As condições ambientais de trabalho e a
organização do trabalho devem estar adequadas às
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à
natureza do trabalho a ser executado.
Como menciona Vidal (2001), critérios relevantes de
conforto devem sempre prevalecer, visto que toda
situação ambiental depreciativa ou prejudicial sempre
passa pelo desconforto.
Segundo Grandjean (1998), quando o trabalhador está
exposto a temperaturas maiores que a considerada
confortável, começam a surgir algumas alterações
psicofisiológicas:
 20º C 1. Temperatura Confortável Capacidade de
produção total
2. Desconforto
Irritabilidade aumentada
Falta de concentração
Queda da capacidade p/
trabalhos mentais
3. Aumento das falhas de
trabalho
Queda da capacidade p/
trabalhos de destreza
Aumento de acidentes
4. Queda da produção para
trabalhos pesados
Perturbações do equilíbrio
eletrolítico
Fortes perturbações do coração e
circulação
Forte fadiga e ameaça de
esgotamento
35º à 5. Limite máximo de
40º C temperatura suportável
Tabela 1. Os efeitos dos desvios da temperatura ambiental
confortável (Grandjean 1998)
Possíveis sinais, visíveis ao operário exposto a
temperaturas altas, são identificáveis, como: sensação
geral de mal-estar, mesmo com ritmo de trabalho
imposto, e predisposição ao trabalho. É notória a
diminuição produtiva, pele avermelhada e freqüência
cardíaca aumentada fortemente. Com a contínua
exposição ainda podem ocorrer: fortes dores de cabeça,
tontura, falta de ar seguida de vômitos e câimbras
musculares. Um quadro de inconsciência muitas vezes
se instala no trabalhador, o que pode levar a morte.
Segundo Wenzel apud Grandjean (1998) apresenta uma
faixa de calor suportado para atividades como a do
trabalhador deste estudo:
Consumo total Temperatura
de energia Exemplos
(Kcal / h)
efetiva (ºC)
Trabalho pesado
400 caminhar com 26-28
30kg de carga
Trabalho médio
250 caminhar a 4 km 29-31
/h
100
Trabalho leve,
33-35
sentado
Tabela 2. Tabela de faixa de calor (Wenzel)
É afirmado segundo o autor que, caso o calor
no ambiente de trabalho for superior a faixa
correspondente para a atividade, e não for possível
diminuir essa, deve-se estabelecer uma redução no
tempo de trabalho, ou ainda, pausas regulares à sombra.
Uma série de recomendações deve ser feita
para trabalhos com exposição a calor em excesso.
Alguns coveiros relataram como se fossem
“acostumados” com a atividade. Porém, além de existir
a necessidade de novos coveiros, precauções para os
Perturbações mais experientes devem ser tomadas.
psíquicas
1) Todo trabalhador ainda não adaptado a tais
atividades, não operacionalmente, mas ao
Perturbações ambiente, deve ser adaptado aos poucos;
psicológicas 2) Quanto maior for a sobrecarga de calor e a
exigência física da atividade, maiores devem ser as
pausas para tal atividade;
3) Deve-se tomar água freqüentemente, para uma
Perturbações maior hidratação, de acordo com as condições de
fisiológicas trabalho. É recomendável que não seja mais de 1/4
de litro por vez, e que seja dentre 10 a 15 minutos
(um copo de água é recomendável);
4) As bebidas devem ter temperatura “natural”, ou
seja, ambie ntes ou mornas, quando chás leves ou
café, visto que os órgãos digestivos trabalham em
temperaturas entre 34º – 36º C;
5) Essas bebidas devem estar próximas a área de
trabalho, evitando maiores desgastes físicos para o
mesmo, bem como poder tomar assim que achar
necessário;
Quanto as variáveis que influenciam no conforto
térmico, Belmonte e Guimarães (2000) descrevem que:
“A manutenção do equilíbrio térmico entre o corpo
humano e o ambiente é um dos principais requisitos
para manutenção da saúde e do conforto. As pessoas
perdem calor e umidade a partir de transformações
metabólicas na conversão de alimento em energia,
tendo a atividade que está sendo exercida efeito direto
Temperatura sobre a capacidade de produção térmica. O fluxo
com umidade
relativa de 50%
adequado de calor do corpo para o entorno depende de
fatores como temperatura, umidade, movimento do ar,
30,5-33 radiação e características térmicas das superfícies
circundantes e peculiares dos usuários. A ASHRAE
(American Society of Heating, Refrigerating and Air-
34-37 Conditioning Engineers) proveu critérios ao longo dos
anos para atender os requisitos de conforto térmico. Os
40-44 critérios atuais (ANSI/ASHRAE – 55 – 1981) incluem
ajuste de roupa, atividades, movimento do ar e fluxo de
temperatura para permitir grande flexibilidade e
economia de energia”.
Segundo Mendes e Rener, (1995) os trabalhadores de
pele clara exposta em luz solar têm uma maior
incidência de tumores cutâneos, inclusive o melanoma.
O calor também produz lesões de pele como
dermatoses e queimaduras.
Quanto ao uso de roupas adequadas, roupas Belmonte e
Buimarães (2000) escrevem: “O ocupante pode afetar o
conforto térmico a partir das roupas que está usando e
da atividade que está exercendo. As roupas influenciam
na temperatura, pois são barreiras à convecção e á
irradiação do calor entre o corpo e o ambiente,
interferindo no processo de transpiração. No mais, a
roupa reduz a sensibilidade do corpo á variação de
temperatura e o efeito do ar em movimento”.
Outros autores, como Braga e Saldanha (1999),
afirmam que: “No Brasil não existe uma legislação
adequada que obrigue o uso de uniformes, com
exceção dos setores de indústria alimentícia e
atividades médicas”
Guimarães 2000 afirma que durante um trabalho o
consumo do oxigênio é proporcional a intensidade do
mesmo. No entanto, quando a demanda de oxigênio
excede a capacidade cárdio-respiratória, o trabalho se
torna anaeróbico, é neste ponto, em que o exercício é
muito intenso e o consumo de ATP é muito rápido, que
certos fatores limitam a capacidade celular de repor o
ATP por fosforização oxidativa, gerando uma
dificuldade de oxigenação para os músculos envolvidos
na atividade. Causando uma indisponibilidade de
nutrientes e um acúmulo de enzimas durante este
processo. Estes fatores causam o acúmulo de ácido
lático, tóxico indógeno que, se em grande quantidade,
produz: dor e espasmo, contratura muscular
involuntárias, câimbras e podendo levar à fadiga.
Estas alterações no metabolismo podem prescrever uma
alteração no esforço e na atividade do coveiro, sendo
esta avaliação mais completa se poder ser feita também
a medição da atividade como um todo, ou pelo menos
de um grande grupo muscular.
Não é correto forçar o trabalho nas primeiras horas da
jornada, no intuito de ficar a maior parte do tempo de
trabalho livre. As pausas devem existir dentro do ciclo
de trabalho.
No que se refere às pausas durante o trabalho,
Grandjean (1998), deixa claro que em todas as funções
do corpo, pode-se perceber uma troca sinergética entre
trabalho e descanso, condição esta sine qua non para
todo o organismo. Constata-se dessa forma que a pausa
no trabalho é fundamental na manutenção do ritmo
produtivo do trabalhador.
Ainda segundo o mesmo autor, as pausas no trabalho
são divididas em 4 tipos: pausas voluntárias,
mascaradas, necessárias do trabalho e obrigatórias do
trabalho. No caso estudado, caracteriza-se a pausa do
coveiro como sendo do tipo necessária do trabalho,
pois: “As pausas necessárias do trabalho são aquelas
causadas por todos os tipos de espera, que pela
organização do trabalho ou pelo andamento da
máquina, são necessárias.” (Grandjean, 1998)
Ainda de acordo com Grandjean, a evaporação do suor
é de grande importância para a manutenção de uma
economia calórica equilibrada.
Com relação a conforto e posturas, Iida (1990) cita: “O
posto de trabalho deve envolver o trabalhador com uma
vestimenta bem adaptada, em que ele possa realizar o
trabalho com conforto, eficiência e segurança.” Ainda
segundo Iida (1990), o “melhor critério para avaliar a
adequação de um posto de trabalho do ponto de vista
ergonômico, é a postura e o esforço físico exigido dos
trabalhadores.” Ele relata que em estudos de
biomecânica, observou-se que pode-se manter algumas
posturas inadequadas com o dorso muito inclinado para
frente, Corlet & Bishop (apud Iida, 1990) por um
período máximo de 1 a 5 minutos, quando começam a
surgir as dores.
Quanto ao uso do ferramentário, a literatura na área,
não trata, especificamente, da atividade do coveiro.
Porém, estudos apresentados no artigo “The Lumbar
Spine Load During Digging nad Shovelling with a
Magnun Twingirp Handle Respectively na Ordinary
Handle” (OBERG), demonstram que com uma
adaptação em certos ferramentários é possível reduzir
cargas e implicações ao sistemas músculo-esquelético.
A figura a seguir demonstra, (sem a base de cálculos
feita pelo autor), uma simulação do uso de uma pá com
uma manivela para aliviar a carga sobre a coluna
vertebral.
A
B
A - Constrangimentos posturais na espinha
B - Alívio para execução da tarefa, através do uso de uma
manivela no centro do cabo da ferramenta
O estudo concluiu que por causa da possibilidade de
um trabalho com postura ereta com a nova ferramenta
(ou implementação da mesma) há uma redução das
forças dos músculos e uma diminuição da compressão
dos discos intervertebrais em 50% em comparação ao
quadro que se apresentava no uso da ferramenta sem a
adaptação. O que é de maior relevância no estudo é a
eliminação da força de torção na espinha lombar.
Isto demonstra que, com o desenvolvimento de novas
ferramentas, ou mesmo adaptações nas existentes, é
possível reduzir danos ao operário, aumentando sua
eficiência e produtividade.
Segundo Iida (1990), existem características desejáveis
nos produtos tais como:
1) Qualidade técnica: deve-se considerar neste item a
eficiência com que o produto executa a função.
2) Qualidade ergonômica: Como facilidade de
manuseio para a atividade a que se destina, sua
adaptação antropométrica, as compatibilidades de
movimentos, demais itens de conforto e segurança;
3) Qualidade estética: relacionados aos aspectos
subjetivos do produto.
Iida(1990) afirma, que apesar do crescente processo de
mecanização e automatização de algumas atividades
humanas, outras ainda requerem que o ser humano
gaste energia para executá-las.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim sendo, concluímos que: para esta tarefa se faz
extremamente necessária redesenhar ferramentas,
capacitar as pessoas, sistematizar a tarefa, direcionar o
uso dos EPI´s, possivelmente possibilitará a melhoria
na execução da tarefa, causando menos danos a saúde
física e mental do trabalhador, contribuindo assim
numa melhoria na sua qualidade de vida.
BIBLIOGRAFIA
MODÉN, S. A hand implement, provid with an auxiliary
handle. International application published under the
Patent Cooperation Treaty (PCT). Publication Nunmber:
WO91/17647. 1991.
MORAES & MONT’ALVÃO, Ergonomia: conceitos e aplicação.
2ºed. Rio de Janeiro, 2AB Editora, 2000.
CHAFLIN, D. B. e ANDERSSON, G. Occupational
Biomechanics. Nova Yorque, Wiley and Sons, inc,
1984.
ÕBERG, Kurt E. T. The lumbar spine load during digging
and shoveling with a magnum twingrip handle
respectively an ordinary handle. Article. Swedish
University of Agricultural Sciences.

Após a priorização dos problemas, chega-se ao foco da
diagnose, atem-se aos problemas posturais, envolvendo
os constrangimentos ergonômicos no ato de cavar as
covas e descer o caixão.
Por se tratar de um trabalho em ambiente aberto, num
clima de temperatura e umidade elevadas, com alta
incidência solar, a proteção individual a esses agentes
agressores constitui outro aspecto importante a ser
melhor observado numa posterior análise sistemática.
Logo dar-se-á continuidade ao estudo através de
observação sistemática, objetivando:
GRANDJEAN, Etienne. Manual de Ergonomia. Adaptando
o Trabalho ao Homem . Porto Alegre, Ed. Bookman,
1998.
IIDA, Itiro. Ergonomia. Projeto e Produção. São Paulo,
Edgard Blücher ltda, 1990. Cap. 14-15
STEMA OWAS. Home Page: http://turva.me.tut.fi/owas
VIDAL, Mario Cesar. Ergonomia na empresa: útil, pratica
e aplicada, 2º Edição – Editora Virtual Ciêntificam – Rio
de Janeiro 2002

a) Verificar a necessidade de modificação do design

das ferramentas de trabalho existentes;
b) Verificar a necessidade de sistematização da tarefa;
c) Verificar possível redimensionamento do espaço do
cemitério;
d) Verificar a necessidade de criação/implantação de
mecanismos de transporte do ataúde;
e) Avaliar a necessidade de capacitação na execução
da tarefa;
f) Analisar a eficiência da utilização dos
equipamentos de proteção individual às intempéries
como: tecidos adequados para o vestuário, chapéus,
protetores solar, óculos escuros anti UV;
g) Ter argumentos para validar a criação de espaço
para convivência dos coveiros