“[...] uma expressão frequentemente usada para definir
características do “modus vivendi” dos baianos, mais especificamente, dos que nascem em Salvador e no Recôncavo da Bahia.” (FIGUEIREDO, p. 2) Identidade histórica • Literatura colonial • Literatura dos cronistas • Manifestação nativista • Olhar cristão e eurocêntrico (FIGUEIREDO, p. 4) Identidade cosmopolita – urbana e litorânea
• Salvador: cidade-síntese da identidade baiana
• Representação da cultura afro-baiana (costumes, religiosidade, culinária, musicalidade, etc) • Pautada na cultura popular • “Bahia valorada pela natureza exuberante, um local idílico e dentro de uma miríade de sensações de prazeres e gozos.” (FIGUEIREDO, p. 5) • “[...] contraponto ao Brasil industrializado e modernizante” (FIGUEIREDO, p. 5) A identidade sertaneja
• Forte marca de construção de identidade local e por que
não dizer nacional na contramão da identidade brasileira forjada pelos modernistas do eixo Rio-São Paulo na década de XX. • Um dos símbolos da nação. • Marcada por “um discurso edênico e telúrico” (FIGUEIREDO, p. 2) A identidade sertaneja Sertão: espaço outro, em tudo diferente do Recôncavo: no seu modo de vida, na sua economia, nos seus códigos culturais. Sertão bruto, despojado, sem os estardalhaços do litoral; lugar de nobreza verdadeira, de homens ásperos e rudes como a própria vegetação. A própria imagem do sertão como coração, lugar amoroso, maternal e de pulsação da vida, indica uma forma de representar com sinal positivo, destoando assim das recorrentes associações de sertão com seca, miséria, cangaço, messianismo. Esquivando-se de fórmulas deterministas (embora às vezes escorregando nelas, pois é uma obra de transição), tencionando a relação homem-natureza, faz um lugarsertão emergir como região humana, como espaço de relações biopsicossociais, território de práticas e representações da vida e da realidade do mundo. O sertão é assim exibido como lugar de cultura e sabedoria, o que traduz um deslocamento de certas associações entre miséria material e pobreza cultural, muito comum no imaginário euclidiano e posteriormente no romance de 30. (SOARES apud Elegia para Manuel Bandeira Estou tão longe da terra e tão perto do céu, quando venho de subir esta serra tão alta ...
Serra de São José das ltapororocas,
afogada no céu, quando a noite se despe e crucificado no sol se o dia gargalha. Estou no recanto da terra onde as mãos de mil virgens tecem céus de corolas para o meu acalanto. Perdi completamente a melancolia da cidade e não tenho tristeza nos olhos e espalho vibrações da minha força na paisagem.
Os bois escavam o chão para sentir o aroma da terra,
e é como se arranhassem um seio verde, moreno. Manuel Bandeira, a súbida da serra é um plágio da vida. Poeta, me dê esta mão tão magra acostumada a bater nas teclas da desumanizada máquina fria e venha ver a vida da paisagem onde o sol faz cócegas nos pulmões que passam e enche a alma de gritos da madrugada. Não desprezo os montes escalvados tal o meu romântico homônimo de Guerra Junqueiro Bebo leite aromático do candeial em flor e sorvo a volúpia da manhã na cavalgada. Visto os couros do vaqueiro e na corrida do cavalo sinto o chão pequeno para a galopada.
Aqui come-se carne cheia de sangue, cheirando a sol.
Não desprezo os montes escalvados tal o meu romântico homônimo de Guerra Junqueiro Bebo leite aromático do candeial em flor e sorvo a volúpia da manhã na cavalgada. Visto os couros do vaqueiro e na corrida do cavalo sinto o chão pequeno para a galopada.
Aqui come-se carne cheia de sangue, cheirando a sol.
O discurso da blacktude • Discurso em que “o negro torna-se autor do discurso artístico e cultural, um discurso contemporâneo com uma cena que reescreve a cultura afro-baiana com artefatos culturais em especial um movimento coletivo com artistas performáticos e que o urbano periférico se escreve na cena cultural das cidades em especial, Salvador.” (FIGUEIREDO, p. 3) • Uma construção de Bahia ainda a margem dos grandes artefatos culturais, mas, que corresponde a maior parte do seu Território Identitário Cultural. (FIGUEIREDO, p. 3) O discurso da blacktude • “[...] um coletivo de artistas negros que apresentam um novo fluxo cultural na capital baiana, vozes periféricas que buscam de maneira coletiva uma desconstrução da cena cultural baiana, marcada por exclusões e silenciamentos”. (FIGUEIREDO, p. 9) • Experiência compartilhada – Nelson Maca. • “[...] figura a posição do negro no discurso, deslocando de objeto a sujeito da oração”. (FIGUEIREDO, p. 9) Nelson Maca
• É poeta e professor de literatura brasileira. Mora em
Salvador, onde fundou, há 20 anos, o Coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, que, há 10 anos, realiza o Sarau Bem Black. Lançou o livro de poemas Gramática da Ira. No segundo semestre de 2019, lança os livros Go Afrika (poemas) – na Balada Literária e no Sarau da Cooperifa, durante o mês passado, setembro – e Relatos da Guerra Preta: Bahia Baixa Estação (contos). Foto: Lucas Bernardi The walk talk man Entrei no shopping pela porta da frente Lá estava ele como sempre: fechado e bem fardado Fora dali, lá na área, no baba do pagode outra pessoa Agora era o homem do rádio transmissor – The Walk Talk Man Sente mesmo um certo orgulho de si aquele irmão bem colocado Se encaixa como limo no mármore entre samambaias e as cascatas Eu vi quando ele passou um rádio lá tentando se ocultar nas dobras da parede E ele se duplica fixo firme múltiplo presente e premente – sentinela Em cada etapa de meu passeio pelo campo minado de inimigo Eu prevejo um tiro de morteiro uma bala devidamente perdida Mas passo ante as vitrines que me espelham de corpo inteiro de cabeça erguida Embora eu invadindo aquele espaço mais pareça o cristão lançando às feras O terrível contrassenso daquela bela paisagem romana Algo que se faz bárbaro na ostentação daquele templo ariano Em cada canto uma câmara oculta enquadrando classificando o meu corpo Pesquisando espreitando esquadrinhando mirando destacando me pedindo um sorriso Não entendia muito bem a causa que envolvia a minha pessoa Afinal de contas já acreditei que todos eram irmãos neste país de miscigenados Tudo sempre e tanto correria como manda o figurino Eu realmente acreditava O culpado maior de minha intranquilidade foi este mulatinho Isaías Caminha A rebeldia de Lima Barreto botou fogo na minha consciência perdida Eu também era uma vítima alheia aos atos e sentimentos sem causa explicada E me sentia como um estrangeiro naquela que diziam a minha terra As plumas os chapéus os ternos os sapatos dos que desfilam nesta casa de horrores Parecem povoar de animais vorazes a grande floresta em que me encontro Mas esta mata não é ponto de chegada É passagem no trajeto de nossa permanência Porque é nosso o mistério de caminhar descalços sobre as brasas acesas da fogueira de Xangô E para o coração de cada irmão sempre sério e bem fardado The Walk Talk Man Há uma flecha redentora de Oxóssi e Ossain queimando a erva da memória. (MACA, Nelson.Gramática da ira, p. 86-87)