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1.

“Tropicália”, hino-manifesto do movimento tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil e outros, procura
apresentar-nos o Brasil:

- redivivo por suas seculares tradições


- combatente, engajado, particpante das lutas sociais
- heróico-histórico, orgulho do seu passado
- multifacetado, puro e ingênuo em seus paradoxos
-esnobe e europeizado, submisso a influências alienígenas

2. A técnica de colagem, já mostrada em “Alegria, Alegria”, usada por Caetano Veloso na confecção da letra de
Tropicália, é a mesma usada pelos poetas:

- parnasianos
- concretistas
- simbolistas
- românticos
- barrocos

3. A colagem de “Tropicália” tem, entretanto, novo colorido expressividade parece um estranho assimétrico
caleidoscópio. Estranho porque:

- construção sintática é antigramatical


- o refrão é puramente onomatopeico
- aproxima ideias antagônicas
- abusa das hipérboles
- o ritmo poético é bem tradicional

4. A poesia de colagem, de elípticas aproximações vocabulares, guarda, por trás de seu aparente “non-sense”, um
verdadeiro arsenal de conotações e conclusões enfáticas. É a própria essência da poesia concreta. Por vezes, uma só
palavra consegue resumir uma infindável série de raciocínios e afirmativas. Em “Tropicália”, por exemplo, a palavra
símbolo cabeleira (... e a cabeleira esconde atrás da verde mata) sintetiza:

- o jovem movimento de libertação e afirmação artística


- a total falta de autocrítica
- o revisionismo próprio das classes artisticamente dominantes
- a insensibilidade artística dos críticos
- o culto das seculares tradições

5. Iracema vs. Ipanema. Dessa oposição-união Caetano Veloso faz emergir, por um processo de associação mental
inconsciente:

- Monteiro Lobato e Graça Aranha


- Manuel Bandeira e Manoel de Barros
- Machado de Assis e Oswald de Andrade
- José de Alencar e Vinícius de Moraes

6. Iracema vs. Ipanema. Nesta aproximação antitética, Caetano Veloso fundiu os símbolos brasileiros da cultura:
- indianista e medieval
- romântica e barroca
- lírica e folclórica
- nativista e cosmopolita
- sentimental e realista

7. Mais contrastes recortam-se, colam-se e explicam-se na poesia através de Bossa vs palhoça:


- alienação e participação
- vanguardismo e estagnação
- folclores e estrangeirismo
- xenofobia e jacobinismo
- realismo e subjetivismo
Tropicália – Caetano Veloso

Sobre a cabeça os aviões


sob os meus pés, os caminhões
aponta contra os chapadões
meu nariz

eu organizo o movimento
eu oriento o carnaval
eu inauguro o monumento
no planalto central
do país

viva a bossa- sa-sa


viva a palhoça-ça- ça- ça-ça
viva a bossa- sa-sa
viva a palhoça-ça- ça- ça-ça

O monumento é de papel crepom e prata


os olhos verdes da mulata
a cabeleira esconde atrás da verde mata
o luar do sertão

o monumento não tem porta


a entrada é uma rua antiga estreita e torta
e no joelho uma criança sorridente feia e morta,
estende a mão

viva a mata tá- ta


viva a mulata- tá-ta-ta-ta
viva a mata tá- ta
viva a mulata- tá-ta-ta-ta

no pátio interno há uma piscina


com água azul de Amaralina
coqueiro, brisa e fala nordestina

e faróis
na mão direita tem uma roseira
autenticando eterna primavera
e no jardim os urubus passeiama tarde inteira
entre os girassóis

Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia- ia-ia- ia-ia
Viva Maria-ia-ia
Viva a Bahia- ia-ia- ia-ia

no pulso esquerdo o bang-bang


em suas veias corre muito pouco sangue
mas seu coração balança a um samba de tamborim

emite acordes dissonantes


pelos cinco mil alto-falantes
senhoras e senhores ele pões os olhos grandes
sobre mim

Viva Iracema-ma-ma
Viva Ipanema- ma-ma- ma-ma

(...)

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