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A pesquisa busca olhar a produção dos desfiles das escolas de samba a partir do olhar da História
da Arte, entendendo o carnavalesco como autor e artista. E o campo dos desfiles como pertencente
ao da arte não institucionalizada. A partir dessa noção, a pesquisa analisa a trajetória do Fernando
Pinto que relacionou com as ideias e conceitos do movimento tropicalista. Retrabalhando em sua
obra os símbolos nacionais a partir do deboche, da crítica e da alegoria. Dialogando com uma série
de artistas da arte brasileira da segunda metade do século XX.
Um índio descerá de uma estrela colorida, de discussões surgidas quase vinte anos antes
brilhante, de uma estrela que virá numa pelo momento tropicalista, articulando também
velocidade estonteante e pousará no cora- questões-chave em sua produção, tais como pen-
ção do hemisfério sul. (Um índio - Caetano sar o Brasil contemporâneo rearticulando os sig-
Veloso) nos tropicais através do uso alegórico do deboche
e da ironia. De modo que, em sua trajetória de
Os patins deslizam sobre o chão quadriculado de dezesseis anos e quatorze desfiles assinados no
branco e preto, conduzidos por estranhos índios grupo especial carioca, de 1971 a 1988, o artista
punks. É calor, verão, manhã de sol forte no Rio pernambucano atualizaria questões tropicalistas
de Janeiro, na Marquês de Sapucaí. É a Discoteca que foram repensadas e ressignificadas pelos in-
Saci, onde índios também tocam heavy metal. É telectuais da década de 1970, no que se conven-
a grande casa noturna de Tupinicópolis, a cidade cionou chamar de “cultura marginal”2.
indígena pós-marajoara, retrô-futurista, símbo-
lo do Tupi Power, onde, seus habitantes fazem Além das escolas de samba, Fernando Pinto atu-
compras no Shopping Boitatá e Supermercado aria como diretor teatral, cenógrafo, figurinista e
Casas da Onça, se hospedam no Palace Hotel Tu- coreógrafo. Ao chegar de Pernambuco em 1969,
piniquim e vão à Farmácia do Raoni. Para se di- instalar-se-ia no icônico Solar da Fossa3 e duran-
vertir, opções não faltam como o Cine Marajoara, te os anos 1970, além do cenário teatral, seria
que tem o épico Iracema II em cartaz, o Cassi- responsável pela estética do grupo As Frenéticas,
no Eldorado e até o Bordel da Uiara, comprando fazendo parte do coletivo Dzi Croquettes e assi-
com a moeda guarani e sendo comandados pela nando a direção de shows e cenários de outros
Tupioca dos Poderes, onde o Tupi-Cacique dá as artistas como Elba Ramalho, Simone, Chico Any-
ordens. sio e Ney Matogrosso.
Apesar do estranhamento inicial, com a cons- Em entrevista, o artista assumiria sua herança
trução de sua “lendária cidade índia do terceiro artística:
milênio”1, Fernando Pinto atualizaria uma série
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De certa forma, sou filho estético da Tro- via buscando encarar as questões que formavam
picália, aquele movimento maldito mara- a cultura brasileira dos anos 1960, num desejo de
vilhoso. Tropicália, para mim, é a curtição universalizar o Brasil, colocando-o na rota inter-
em cima de tudo e de todos. Tropicália é nacional.
o verdadeiro Brasil, o subterrâneo; o que
todo mundo faz e ninguém mostra. (O Nas artes plásticas, Hélio Oiticica. Na música, o
GLOBO, 15/02/1980) grupo liderado por Gil e Caetano. No teatro, Zé
Celso Martinez. No cinema, Glauber Rocha. No
Em carnavais assinados em duas fases diferentes, carnaval, Fernando Pinto atualizaria essas ques-
a primeira delas no Império Serrano e a segun- tões anos depois, em 1980, em seu desfile “Tropi-
da na Mocidade Independente de Padre Miguel, cália Maravilha”, para a Mocidade Independente
Pinto lidaria com sintomas e processualidades de Padre Miguel, no qual articularia uma série de
levantadas pelo momento tropicalista e retraba- ícones da Tropicália e da cultura brasileira, como
lhados pelos artistas das gerações seguintes, nos ele bem define, numa espécie de concepção pró-
anos 1970 e 1980, das quais fez parte. No presen- pria da História do Brasil:
te trabalho serão discutidos três desses sintomas:
as noções de brasilidade, os signos tropicais e a Se o enredo é “Tropicália Maravilha” é por
linguagem alegórica. que eu sou um pouco filho da Tropicália.
Quis fazer um enredo que brincasse com a
Encarar o Brasil de frente natureza, a dança, a música do Brasil. Que
brincasse com o Brasil mesmo, enquanto
Tropicália é a primeiríssima tentativa país, mas não de uma forma ufanista e sim
consciente, objetiva, de impor uma imagem a partir de um visão crítica. A tropicália é
obviamente brasileira ao contexto atual da exatamente isso: curtir muito, às vezes até
vanguarda e das manifestações em geral chegando ao deboche. (Folha de São Paulo,
da arte nacional. (OITICICA, 1986, p.106) 08-02-80)
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guém mais do que eu, “ama o Brasil”!) tem que de Rubens Gerchman e os desfiles de Fernando
ver isso e dissecar as tripas dessa diarreia – mer- Pinto, revisitados e reprocessados em diversas
gulhar na merda. (OITICICA, 1973, p. 151) camadas na trajetória do carnavalesco pernam-
bucano. Primeiro, no aspecto mais óbvio, das fru-
A narrativa proposta em setores ou quadros se tas e faunas representadas abundantemente em
articularia com a própria alegoria de um Brasil desfiles diversos, onde se destaca mais uma vez
que se queria e não queria ser, segundo a concep- “Tropicália Maravilha”, com setores dedicados a
ção de seu criador. Se tratando de uma constru- estes signos representados em carros alegóricos
ção fantasmagórica de um Brasil que se apropria e uma visão debochada da flora brasileira a partir
de uma dita história oficial, mas mergulha em do título “O cravo brigou com a rosa por causa
sua merda. É um processo muito parecido com da margarida gostosa”. Fernando Pinto explica-
a encenação de “O Rei da Vela”, do Teatro Oficina ria que o setor marcaria uma ode à margarida
em 1967, definida como “uma farsa fantasmagó- que devia ser valorizada em seu aspecto popular,
rica que satirizava a pompa oficial, ridicularizava em relação à monarquia da rosa. Essa celebração
abertamente o ‘bom gosto’ e se deleitava com o irônica e divertida de uma imagem tropical esva-
grotesco” (DUNN, 2009) Esse jogo complexo en- ziada poderia ser comparada às imagens colori-
tre o cafona, o kitsch e o grotesco é ainda mais das e alegóricas de Glauco Rodrigues e no forte
tenso se analisarmos o momento histórico dos subtexto das bananas de Luiz Henrique Amaral.
desfiles das escolas de samba6 em que Fernando Além da fauna e da flora, outro signo de brasi-
Pinto atuou. Assim, como Zé Celso e Caetano Ve- lidade resgatado do ostracismo pelo movimento
loso, Fernando Pinto trazia o exagero à tona no- tropicalista foi a figura exótica de Carmen Miran-
vamente7. Era uma referência ao teatro de revis- da. A cantora luso-brasileira seria o enredo do se-
ta, estética que contribuiu para a formação num gundo carnaval da trajetória de Fernando Pinto,
primeiro momento, e a partir da chamada “re- em 1972. O desfile “Alô, alô, taí Carmen Miranda”,
volução salgueirense” foi colocada de escanteio. apresentado pelo Império Serrano, é provavel-
mente o primeiro a abordar um ícone da cultura
Relíquias do Brasil de massa, conhecida no âmbito popular.
Ao tentar “impor uma imagem obviamente brasi- No depoimento para O Globo, de 1973, escrito
leira”, Hélio Oiticica lançaria mão dos mais famo-diretamente pelo carnavalesco, ele fala sobre o
sos clichês da identidade nacional forjados pelo processo de construção do enredo em que op-
modernismo, através da arte institucionalizada, taria por uma construção não linear: “Sou uma
por meio da música, do teatro e do cinema; pro- pessoa muito ligado ao teatro e vejo o carnaval
cesso no qual as escolas de samba teriam papel como o maior espetáculo que a gente tem”. Várias
fundamental, elevadas ao patamar de símbolos reportagens nos jornais O Globo e Jornal do Bra-
da nacionalidade. sil, destacariam as referências do cinema e teatro
na criação da apresentação. Essa visão do teatro
Todos os ícones de tropicalidade como condição de revista e também da chanchada seria uma lin-
de brasilidade, negados até então, emergiriam do guagem adotada por Fernando no sentido de va-
subterrâneo destas áreas com a música de Cae- lorização do popularesco, mal visto no carnaval
tano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil, a visualidade da época.
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A análise de um dos principais teóricos da Tro- ser lido como um grito de alerta à preservação
picália, Celso Favaretto, destaca essa “transfor- ambiental. O desfile seria dividido em vários qua-
mação do mau gosto em símbolo de contestação dros com momentos distintos, o primeiro ato é o
no domínio dos comportamentos, através do uso simbólico “Mocidade abraça o índio brasileiro”, o
sistemático do deboche” (2007, p.122). Além de desfile seguiria mostrando os hábitos e as cultu-
obras tropicalistas já citadas, como a peça “O Rei ras indígenas antes da chegada do colonizador, a
da Vela”, o tema também apareceria em artistas chegada dos “invasores” e a revolta dos nativos
visuais como Rubens Gerchman e seu “Rei de contra eles. A presença do estrangeiro seria tra-
Mau Gosto” e Nelson Leirner, em “Altar de ado- tada de maneira alegórica, marcando uma forte
ração a Roberto Carlos”, ambas de 1966, que ar- negação da história oficial ainda apresentada por
ticulavam o “mau gosto”, o “popular” e o “brega” algumas escolas do período.
de maneira irônica.
Nos anos 70 e 80, além de Fernando Pinto, uma
Deixe nosso índio ter seu chão série de artistas refletiria sobre o tema indígena.
Seja de maneira alegórica, como Glauco Rodri-
Muito além da fruta, da fauna e da Carmen Mi- gues, seja nas pinturas hiper-realistas da série
randa, o principal signo da brasilidade na tra- Xinguana, em 1975, do artista goiano Clóvis Iri-
jetória de Fernando é, sem dúvida, a figura do garay, que também colocaria índios fora de seu
índio tropical que exercia verdadeiro fascínio so- lugar esperado ao representá-los vendo televisão
bre o artista, aparecendo na sua produção com ou bebendo Coca-Cola. Um processo que apare-
especial destaque. Dos carnavais assinados pelo ceria no tropicalismo também como uma manei-
artista, foram três desfiles dedicados aos nati- ra de valorizar esse ‘primitivo e nosso’ como ele-
vos brasileiros, o que se convencionou chamar mento de subversão, inversão e transvaloração. A
de trilogia indígena por alguns historiadores do utopia antropofágica reencontra no nosso passa-
carnaval e que aparece declarada por Fernando do primitivo todas as qualidades necessárias ao
numa edição do jornal O Globo de fevereiro de presente.
1987. A partir de uma análise mais generosa des-
se recorte específico, percebe-se um certo nível Sobretudo para o carnavalesco, a questão parece
de desenvolvimento e diferenças que marcaram ser o índio usado como signo popular de maneira
uma espécie de continuidade desses três enredos. subversiva. Estabelecendo uma crítica ao branco
através do índio, num jogo de relações que dis-
O primeiro deles, realizado em 1973, no Império tancia o espectador do que está sendo falado. De
Serrano, “Viagem encantada Pindorama8 aden- modo parecido ao que que Caetano Veloso termi-
tro” marcaria uma abordagem do Brasil antes na a sua já citada canção “Um índio”:
da chegada colonizadora. A linguagem do enre-
do teria um aspecto lúdico e onírico a partir da E aquilo que nesse momento se revelará
inserção das lendas e mitos indígenas. Dez anos aos povos. Surpreenderá a todos não por
depois, Fernando Pinto retornaria a questão in- ser exótico, mas pelo fato de poder ter
dígena em sua volta à Mocidade, após sua rápi- sempre estado oculto quando terá sido o
da passagem em 1980. Abandonando a proposta óbvio.
mais lúdica, “Como era verde meu Xingu” pode
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Esse caráter dúbio e crítico também apareceria Tupinicópolis não seria a possibilidade de um
no trabalho de Anna Bella Geiger que, a partir de Brasil, mas o seu futuro. Sua fundação marca
1977, iniciaria a série “Brasil Nativo, Brasil Alie- a resposta de Fernando às questões levantadas
nígena”, em que se apropriaria de cartões indíge- pelos primeiros desfiles da trilogia. Dando como
nas que traziam a figura do nativo como símbolo resposta final para o problema colonial a expul-
de exportação e ela mesma reproduziria as cenas são do colonizador, após sua absorção antropo-
marcando um contraste, entre “colonizador” e fágica, como sugerida por Oswald de Andrade e
“colonizado”. Apesar dessa tendência alegórica, realizando um desejo proposto por Hélio Oiticica
os índios de Fernando Pinto não se distanciariam em seus escritos:
muito da fotografia de Claudia Andujar que, com
a série Marcados chamaria atenção para a dizi- Para a criação de uma verdadeira cultura
mação da população indígena de maneira mais brasileira, característica e forte, expressiva
etnográfica. Documentos atuais da Comissão da ao menos, essa herança maldita europeia e
Verdade revelam o massacre indígena no perío- americana terá de ser absorvida, antropo-
do ditatorial, além do alerta pela demarcação das fagicamente, pela negra e índia da nossa
terras indígenas, em pauta na época e até hoje. terra, que na verdade são as únicas signi-
Ambos os assuntos eram previstos na obra do ficativas, pois a maioria dos produtos da
carnavalesco. Ao levar para avenida o enredo Tu- arte brasileira é híbrida, intelectualizada
pinicópolis, em 1987, como parte final da trilogia ao extremo, vazia de significado próprio.
do Tupi Power, o artista pernambucano deixaria (OITICICA, 1986, p.108)
claro tais questões com a alegoria da construção
de uma metrópole urbana fundada pelos índios. Tupinicópolis não confirmaria “a incompetência
Onde, segundo as definições de seu próprio cria- da América católica” cantada por Caetano Veloso
dor no texto da sinopse, “a cultura Tupiniquim em “Podre Poderes”, mas fundaria uma resposta
falaria para o mundo via Tupinicópolis”. nova a ele e ao Brasil de então. Afinal, “só a an-
tropofagia nos une”.
Definida como um carnaval de “ficção científi-
ca tupiniquim”, o enredo surpreenderia com o Alegria, alegoria
seu último carro alegórico, que apresentaria um
“plot twister” digno de roteiro hollywoodiano. O Alegoria no universo da escola de samba é o nome
carro “O palácio do lixo – Tupilurb” traria o lixo usado para os carros-cenários que compõem a
da cidade indígena com os escombros do Cristo linguagem e a estética dos desfiles. Enquanto na
Redentor, do Elevador Lacerda e do Monumento teoria da arte pode se referir também a um con-
às Bandeiras, em São Paulo, numa referência à ceito, um tipo de figura de linguagem, onde se diz
cena clássica da versão original de “Planeta dos uma coisa querendo dizer outra, sendo discutida
Macacos” (1968) quando ao encontrarem os des- mais amplamente na modernidade por Walter
troços da Estátua da Liberdade numa praia, os Benjamin. A relação entre alegoria e Tropicália já
protagonistas percebem que não estão em outro foi muito abordada, sendo apontada inicialmente
planeta, como imaginavam, mas sim na própria num dos principais críticos do movimento, Ro-
Terra do futuro. Os vestígios, o lixo e os mendi- berto Schwarz. Mas seriam os estudos de Celso
gos desse carro alegórico têm o mesmo sentido. Favaretto que viraram canônicos sobre o assun-
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tas, retas, o excesso de informações não provém Sou a Mocidade, sou independente , vou a
do todo da forma, mas do acúmulo de muitas qualquer lugar
partes individuais. Carros como a Discoteca Saci,
o Cassino Eldorado e a Nave Mãe chamam a aten- Na coluna que assinou como convidado na re-
ção por seus formatos vazados e arrojados, valo- vista Veja14, o carnavalesco assumiu que enten-
rizando muito mais os destaques e composições. deria o carnaval como uma reunião de muitas
Esse arranjo mais dinâmico viria, provavelmen- linguagens artísticas, de maneira que ele se con-
te, de uma visão futurista que se mostraria com figura como o maior espetáculo teatral-artístico
uma espécie de fascínio para Fernando Pinto, e do mundo. Esta visão, explorando a festa muito
que se apresentaria mais fortemente na segunda além de seu lado puramente cultural, marcaria
fase de sua carreira, de 1984 a 1988. em Fernando sua participação num processo ar-
tístico de seu tempo. Com vivência de teatro, Fer-
Na coluna em que assinou para a revista Veja em nando Pinto articulou uma linguagem baseada
fevereiro de 1985, ele declarou várias referências no palco, tendo atuado em diversas montagens
entre a literatura e o cinema como Arthur Clarke, de peças, como diretor, ator, coreógrafo, cenógra-
Isaac Asimov, Stanley Kubrick, os filmes da sé- fo e figurinista.
rie Star Wars, Barbarela e Contatos Imediatos
de Terceiro Grau. Na produção do tropicalismo A aceitação do trabalho do diretor no carnaval
musical, a ideia de um futuro no sentido prático como arte seria marcada a partir da apresentação
e imaginário seria presente sobretudo na obra de de 1983. Se no resultado oficial, a Mocidade Inde-
Gilberto Gil, em canções como a icônica “Expres- pendente chegaria apenas em sexto lugar, a má
so 2222”, “Dois Mil e Um”, “Cultura e Civilização” posição não seria tão destacada pela crítica car-
e “Cérebro Eletrônico”, que buscariam lidar com navalesca, mas revoltaria, surpreendentemente,
o futuro no contraste com o presente. a classe artística carioca. A repercussão renderia
uma nota na coluna social do Jornal do Brasil, as-
Em Tupinicópolis, além do carro alegórico da sinada por Zózimo. No quadro intitulado “Obra
Tupilurb, que marcaria o tempo futuro onde a de artista”, o jornalista comentaria a polêmica do
narrativa se passa, outro carro traria esse ima- papel de liderança tomado por Frederico Morais,
ginário da ficção científica, o elemento chamado falando do desejo de articular eventos com a obra
“Tupi Cacique”. Plasticamente, “Tupi Cacique” de Fernando. O desejo de fazer uma exposição
seria um rosto indígena dourado atrás de numa seria concretizado logo após o carnaval, quando
tela de computador e um teclado. A explicação as alegorias e adereços do desfile de 1983 ganha-
da narração da transmissão da rede Globo o de- riam de fato status de objetos de arte ao serem
finiria como “soberania e sabedoria de Tupinicó- expostos na Galeria César Arché em Ipanema,
polis, o programador do grande cérebro eletrô- durante o mês de março daquele ano. A exibição
nico tupiniquim, a “Tupinformática.” De modo das obras marcaria de maneira bem clara a cir-
que com essa descrição, o Tupi Cacique, não se culação de Fernando Pinto pelo universo da arte
configuraria como uma liderança real, mas sim institucionalizada do seu tempo, não só no tea-
uma espécie de sistema central e operacional, o tro, mas nas artes visuais em geral.
próprio “Cérebro Eletrônico” de Gil.
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“Geléia Geral”, de Gil e Torquato Neto: “Pindora- FERREIRA, Felipe. Escritos Carnavalescos. Rio de
ma, país do futuro”. Janeiro: Aeroplano, 2012.
9 O Globo. 06-02-1985.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor?. In:
10 FAVARETO, 2007, p.113 ______. Ditos e escritos III: Estética: literatura e
11 Idem, p.126. pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense,
12 Idem, p.115. 2011.
13 Acoplado é quando vários chassis e carros di-
GUIMARÃES, Helenise Monteiro. Carnavalesco, o
ferentes são unidos formando um só.
profissional que “faz escola” no carnaval carioca.
14 Edição de número 857, publicada em 6-2-1985. Dissertação de mestrado apresentada à Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro.
referências
RODRIGUES, Jorge Caê. Anos fatais: design, mú-
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boi- sica e tropicalismo. Rio de Janeiro: 2AB, 2007.
tempo, 2007. Novas ideias, 2007.
COELHO, Frederico. Eu, brasileiro, confesso mi- SCOVINO, Felipe. Táticas, posições e invenções:
nha culpa e meu pecado: cultura marginal no dispositivos para um circuito da ironia na arte
Brasil das décadas de 1960 e 1970. Rio de Janeiro: contemporânea brasileira. Tese de doutorado
Civilização Brasileira, 2010. apresentada à Escola de Belas Artes da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
FAVARETTO, Celso. Tropicália, Alegoria, Alegria.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.
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