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N.SARRABLO
polka It has a litlle bit of new
rhythm A blue rhythm that
sighs
It has a meter that is trick
A bit of wicked wack y-wick
Instituto
BREGEIRO Moreira
Salles
Ernesto NAZARETII
M . SA RRAB LO Y C LAVE R
O
É D I TE U R - CO M II f SSION N AI R E
60, Boulevar’d dG C rLiy Ü
P A- R I S BR%
Janeiro: 15. Lembremos daqt ele episó dio em qtie certos setores da elite pro testaram, em 1922, quando Luciano Gal1ei in-
tou pelos padrõ es estéticos europeus. z’ Batuque é uma peça que se destaca das demais
ra piano, a peça “dança dos negros” em 1888 (que depois seria incorporada COIMO
unto com
ara orquestra, escrita em 1891)", dando início, J de Nazareth. A primeira leitura, talvez o compositor quisesse, imbuído do “espírito na-
Qotuqoe, na “Série brasileira” p cionalista”, nos moldes de Nepornuceno, alçar vô os mais altos, escrevendo uma peça
Alexandre Levy (1864-1892$ historiograf ia um
ã criaçã o de comotepertó rio pianístico
nacionais”
com característi-
) em relação aO rfi Odelo u “erudita” a partir de temá ticas do “folclore urbano” (os ritmos sincopados). A dedica-
c singulares (atribuída pela tó ria seria a legitimação dessa ambi(âo (mesmo sendo para Henrique Oswald, porque,
da estética romàntica européia. Mesquita (oi um dos primeiros compositores que tive-
dfã o aperfeiçoamento na Europa. Dedicou-se prin- de todo modo, ele representava a produção da mú sica erudita nacional da época, as-
ram bolsa do imperador d. Pedro II (escritas sob a influência da habanera cu- sim com seus colegas “nacionalistas”, Levy e Nepomuceno). Porém, o depoimento do
cipalmente à Criaçã o de operetas sincopadas tango o gênero de sua peça Oihos cronista Gastão Penalva sobre o momento em que Nazareth dedicou a peça desfaz es-
p a primeira veZ COITIO
bana) e, em 1871, TáfoCt e l sa impressã o, ou melhor, traz uma camada a mais na complexa relaçã o entre a ntnfii-
formação européia, transitou
da exclusivamen-
mritadores." Nepomucen o, taiTibém COIT1 de destaque chalTlàdã Il-
(ão e a vocação do compositor. Penalva, como outras figuras da sociedade da belle épo-
compositor
te pelo ambfCnte erudito, tornando-se um brasileira. temperamento ené s'- que carioca, costumava apreciar Nazareth tocando piano na sala de espera do cinema
meira geração nacionalista da mú sica erudita em 1895 seu famoso lema: Odeon, portanto o evento relatado deve ter ocorrido entre 1910 e 1913, período em
da elite nacional“ao criar que trabalhou para a empresa:
co, arrumori conflitos com setores
'nã o tem pá tria um povo que não canta em sua língua”'" contraponto interesseentre
tantoos
nodois
am-
o das elites das sa- Um dia, quando cheguei, avistei um senhor de idade, de pé junto ao piano, embevecido
compositores é indicativo: O tema “batuque” já havia despertado
eretas quanto no europeizado espaç na contemplação do artista. Nazareth executava com mais cuidado e mais alrria. Quem se-
biente popular dOS teatros de op
Có os batuques foram escritos sob o signo da sínco-
las de co ncerto. E, tanto l COITIO afro-brasileiro que envolve palavra batuque ria elle? De certo um “diletante" ilustre, um mestre, um crítico de nomeada. Apresentou-
o
apa. Nesse sentido, o escorregadi universo sociais,
me. Era Henrique Oswald. O fino compositor de I/ neige. Jà lá estava há uma hora a delei
de diferentes “lttgares” e interesses tar-se com o mágico do Brinque.Saimos juntos. Ernesto havia acabado de offerecer ao
lança um tema complexo e delicado, vindo da “identidade nacional” na rriÚSlCá mestte a sua obra-prima.
qrie aponta, ainda de mOdO dllSO, JATO a busca aocompositor
brasileira no nisso
período."
tudo é o fato de fintt oque de Nazareth ser dedicado E Oswald a dizer-me com sua falla macia de quem tem passado a vida nos prados flores-
Curioso
ã o de Nepomuceno no circuito da mú sica eru- 1 centes onde viceja a arte: — É admirável esse moço. Que música elle faz! Eu mesmo seria
Henrique Oswald, companheiro diferente
de geral incapaz de interpretal-a com aquella maestria, aquelle prodígio de rithmo. E aqui, perdi-
dita brasileira do períOdo. Mas, nã o se preocupava em pesqui-
deste, Oswaldcompositor que sempre se orien- do nessa indifferença. .."
r ma linguagem especificamente nacional, era um
Sé U
Nazareth nâo fazia parte do circuito dos compositores eruditos brasileiros, por-
tanto o seu Batuque vinha de outra inspiraçã o. Vinha, acredito, da prática de um mú
16. cOERM, Sú rgÍo Alvim A f§Rtto Nepoinucerio - 5¢ralogo geral Rio de J"°°*'°' sico profissional que circulava livremente pelas várias camadas sociais que compunham
17. Cf. erbete “Henrique Alves de Mesquita”. In. z belle époque carioca. Assim, enquanto o Batuque de Nepomuceno é programá tico, o
Editora, 1998, p. 507.
i 8. cont.a, Sérgio Alvim. Op. 6'*! p 8 de Nazareth é espontâneo, mais pró ximo ao de Henrique Alves de Mesquita. E carre-
nesse per iodo his tórico é c0m-
i9. O ‹ampo que el YOIYD “identidade nacional “cultota popular” e “cultura erudita” py pouco mais claro na ga aquela sincopação, um“pequeno nada tipicamente brasileiro”, difícil de se captar pe-
um processo sirrtilar que se torna
vo
plexo e pi0blemático. Mas, de todo modo, é indicati los mú sicos eruditos presos ao conceito europeu da síncopa, compreendida como ex-
,amba, por exemplo. Sobre o assunto, Her md DO
de
década d6 1940, e lança luz sobre o período anterior, corri o e°°°'°
tp#q tq¡gma da transformaçã o ritmo originalmente segres •do ceção e nã o incorporada como norma — tanto para o estrangeiro Darius Milhaud como
ohzia]zm,i1nbo|o
des88 (literal Um dOS C8minho8 a
absoluro d9 nacionalidade brnsileira' para o erudito (e esteticamente estrangeiro) Henrique Oswald.
mente un ontados pelo antf0- elite nacionat, qrie paS,SOIJ, a par tir da
obra A proximidade de Nazareth com Mesquita ocorre também pelo gênero. iVlas antes
a figura do mes tipo coJO Uma contrth ui do cult ural
§¿ ,qç tece tjue a ra tes dessa !8fi disso, é preciso lembrar que Mesquita era mulato e, apesar de ter escrito ó peras e mis
Primeiro Império. Múf 10 d6 Andrade de- sas durante sua estada em Paris, foi como diretor do Teatro Fénix Dram‹atica, a partir
enero musa‹al ii»‹op,õ o pçb3Jye}mente intto4Uzido pelos escravos de de 1869, que se tornou célebre como compositor de operetas. Ali, ele difundiu um rit-
monstro '1"° * hindu, s Angola, 6an§DO. Ú T IOU 8 ›
U originglmenteu
colt url dos salõ es imper'a's " istur ando-se com a mo8 inha, ganhou a for ma
desse modO, O gén6ro ^}*" ),}pi c1jdmav;i at7acronicame8" " “ de dança com espirito marcÍal f0i ganhando sin-
impori°, "in °s com *"chad°
copação e rec}uebr Os a QOC IO Ü* considerado com* ar tis s enuinam ¢nte emb é como a classe do-
888
itmo com forte p ficar esse fato dentro 80 CF. Verbete “Henrique Oswald’! In: uz«counzs, Marcos António (ed.). Op. cit., y. 6 93.
de civiii›açio européia, articulou• ‘"' retó'i* "" 21 csJ zioé, Luiz António de. Cu rnyúo çoe sen re. Man uscrito original, p. 89.
mir'ante naciona1, >*!+• * P° ideal
*“"
tango). Era um ritmo sin
mo da moda que concorria com a polca: a habanera (ot1 o o primeiro crítico a aler tar para o fato de que a influência da fiabnnei a foi historica-
copado, diferentemente da polca, que se espalhou pelas AmériCaS e foi Utilizado no BraSíl mente muito mais fraca do que a da polca na cultura musicalbrasileira.* Da nossa par-
sob a seguinte forma de acom panhamento: te, vimos no capítulo 1 como a polca estava profunddmente enraizada na cultura mu-
sical carioca. Sobram, aliás, exemplos que comprovam isso. E Carlos Sandroni, seguindo
Tinhorão, esmiuçou o problema a fundo:
2 que o grande argumento dos defensores da ü«bnnero não é hist‹àrico, mas formal: é a
partir da contra- presença da fórmula de acompanhamento colcheia pontuada-semicolcheia-duas colcheias.
Esse ritmo surgiu possivelmen te em Cuba, na década de 1830, a
a, apareceu no contexto do Como esta fórmula é considerada por definição como “ritmo de habanera”, sua presença
dança etiropéia. Assim como a nossa sin copa característic
habanera foi a de- passa a ser considerada como prova suficiente da influência em questão. Trata-se do mes-
cruzamento das culturas afro-americanas. Segundo Alejo Carpentier, mo argumento falacioso que levou Adolfo Salazar a afirmar, como vimos antes, que qua-
metrópole espanhola, para o rit-
nominação estrangeira, especialmente atribuída pela se toda música sul-americana derivou do tango andaluz. Atribui-se a “patente” de um de-
amem
iTlO crioido que era praticado nessa colónia, ritmo este também chamado de dnrZo terminado ritmo (ou fórmula a que se resume esse ritmo quando anotado em par titura)
ido na Andaluzia
ricena, americanas ou tango.” O termo “tans ”. em especial, teria surg a certo género localizado no tempo e no espaço: habanera (isto é, a canção de La Habana),
o monopólio do
espanhola, na época em que a cidade de Cádiz detinha praticament e tango andaluz. Em seguida, quando se encontra o mesmo ritmo (ou fórmula) em outro
Siqiieira
comércio com as Américas (entre 1717 e 1778). No Brasil, Baptista lugar, conclui se pela influência necessária do seu suposto dono.“
década
o tango teria chegado junto com as companhias de zarzuelas espanholas na
tango OffiOS mO- Parêntese: a essa linha de pesquisa musicológica, que se apega mais à forma do que
1850.°’ Como já foi dito, Henrique Alves de Mesquita, em 1871, CO££1 O
ereta Afi-Babó, à história, filiam-se os recentes trabalhos sobre a obra de Nazareth: mais diretamente
fatores, inaugurou o ritmo no Brasil, embora só com o sucesso da sua op
apresentada em 1872, que o género ganhou maior evidência. O COm Ositor, com sua a pesquisa de Antonio Adriano Nascimento, e de forma mais difusa as de Marcello Verzoni
experiência cosmopolita, talvez tivesse conhecido o tango andaluz ou o tango ameri- e Paulo Roberto Peloso Augusto.”
cano em Paris. Porém, quem o desenvolveu e o rebatizou sob o nome de tango braSi- Sandroni também apresenta vários exemplos de que gêneros como a polca, o lun-
leiro foi Nazareth. du, o maxixe, e até mesmo o samba, em algum momento foram chamados de tangos,
ou o contrário. A própria obra de Ernesto Nazareth é recheada por polca-tango, polca-
Contudo, é neste ponto que começam a surgir as confusões de terminologia. Mfirio
de 1926, sugeriu uma idéia que lundu, tango brasileiro com estilo de habanera, tango estilo milonga, tango-fiohnnern e
de Andrade, na conhecida conferência sobre NaZaT€!th, tango carnavalesco. Comprovação maior é a peça inédita do compositor intitulada Polca
se tornou uma máxima para a tradição miisicológica posterior: para mâo esquerda, em cujo manuscrito está escrito, na segunda página,“Tango para mão
esquerda’'“ Portanto, quando aparecia impresso um desses gêneros na capa de qualquer
O que o brasileiro chamou um tempo de tango, não tem relação propriamente nenhuma
ção brasileira dessa dança partitura do final do século mx, o comprador podia ter certeza que encontraria música
COIM O tango argentino. fi antes a hnbnnern e a primitiva adapta
pela andatura, com sincopada, música feita para o requebro, o que representaria certa imagem da
cubana. [.. .] Foi da fusão da haban era, pela ritmica, e da polca, cultura afro-brasileira. Nesse sentido, Carlos Sandroni sintetizou com precisão o
adam-
itnfirogfio:
tação da síncopa afro-lusitana, que originou-se o maxix. e
a maIS
A idéia de que a habanera é influenciadora dO maxixe reverber Outra noção
r es
ampla, segundo a qual a habanera seria o grande ritmo formado das singularidad
nossa musicologia acei-
¥ÍtrniCãS flacionais americanas.“ Até JOSe Vamos Tinhorão, a 25. rin iodo, José Ramos. Peqtie rie úiiióri« da ci úsica popoíu r (úo inadinúc õ caoyno de protesto). Petró polis: Vozes,
O tema não é simples e musicó logos como Mozart de Araú jo deixaram-se enre-
dar pela armadilha da “misturada geral” a que Màrio de Andrade se referiu anterior-
mente, chegando a criar uma arvore genealó gica dos gêneros puramente especulativa:
Caso de imparidade rítmica: os oitos tempos do compasso binário subdivididOS em$c- Enquanto a mã o esquerda segue com a mesma síncopa da introdução em ostras-
micolcheias (1/8) apresentam-se divididos em dois grupos de figuras ímpares 5+5) to com a função de pedal, a mã o direita desenha uma melodia entrecortada acéfala.
A mão direita, ao contrá rio, tem a subdivisã o do seu compasso em dOiS grupos de fi- Embora a rítmica seja aparentemente constante (pela seqü ência de semicolcheias), ocor-
TãS JESS (41-4), constituindo-se, portanto, num caso de paridade rltmica. O contras- re um movimento similar ao que vimos em Cru k erigo!: a síncopa oculta mostra-se
te entre a ttnparidade, da mã o esquerda, e a paridade, da mã o direita, provoca um pr presente por um contraste timbrístico nos saltos de intervalo (de sextas e terças, no pri-
radoxal efeito de levitaçã o e assentamento. meiro compasso) promovendo htm molejo característico, movimentando dialetica-
EsSã if ltrodtlçã o, como num pra s de uma narrativ ã , Aproxima-se serenamen- mente a relaçã o entre os dois planos dados pela mão esquerda e mã o direita. Somente
te, cercada de um difuso mistério, do foco central do enredo. Quase um chamamento: no quinto compasso a harmonia que estava parada caminha junto com a inflexão me-
como se estivéssemos chegando silenciosamente à cidade do Rio de Janeiro do come- ló dica. Nesse momento, aquele baixo estático que nos dava a sensação paradoxal de sus-
ço do século xx. pensão e assentamento parece se acomodar sob a rubrica do ritmo de habanera. Mas
$ob esta atmosfera, a primeira parte apresenta-se un poco an| l'ttOlOl o movimento é breve, e voltamos em seguida para a repetiçã o do motivo inicial. Os
dois ú ltimos compassos da primeira seção, depois de sua repetiçã o, acenam para fim
movimento que se direciona para uma finalização tensa (ainda suspensiva): a melodia
ascende, o baixo desce cromaticamente e ambos se encontram num acorde nâo reso-
lutivo. Surge, assim, a seçã o B como resposta:
bfasileira entre a segunda metade do sé cttlo xix e a primeira metade do xx, especificamen te sob o género do safoba, ÍO•
ao compasso, re8tiltd-
8o da mú sica c• "°6 8fica algo-americana do século mx; e 2) paradigma do Está cio, segundo o qual a síncopa realiza-se
DO mV10 dO compasso, resultado, gen s modo, de uma gestualidade oral típica da can9ãO do sécttl0 xx. No caso de Nazareth,
nà O Vale a pena pensarmos SOb 6 macro orientação dos paradigmas, pois, como tento de1n0nSÍ1'ar, o enigma de
ce
Ac bars as ambigüldades. Melodia e harmonia caminham juntas por motivos A sensação de estarmos ouvindo uma polquinha anacrónica, no contexto da pe-
lulares. A resposta an clíma difuso da seção anterior é graciosa e realiza-se
numame-
ça, ocorre porque a melodia da mäo direita é reta e tern vocação estrófico-discursiva.
lodia haimonizada por intervalos que nos faz lembrar a introdução. Mas, aO contrá- Como ela näo segue ou recorta ritmicamente o acompanhamento, o ritmo de habene-
caminho
rio desta, a mão esquerda segue rigorosamente o ritmo da habanerD, e o ra deixa de se caracterizat como ta1 e passa a ser uma simples variante da clássica figu-
melódiCO Ó ãfiFmativo e direto. Pensando-se na continuidade da narrativa inicial, ra do acompanhamento da polca (colcheia-duas semicolcheias-dnas colcheias). Sob a
aquela a fOXimílĘãO calma, ambígua e misteriosa da cidade cede lugar a um prazero- óptica da nossa narrativa, é como se nessa seç‹ao o cenário fosse transportado para um
so passeio "civi1izado’\ A singular síncopa da introduçäo foi substituída por uma sín- teatro onde assistiriamos a um quadro, com sabor algo nostálgico, de uma opereta
copa resolutiva, conhecida e decantada na cultura da belle époque: uma síncopa in- ou revista. O problema seria achar um born teatro, porque, nessa época, os teatros do
corporada, “normatizada” e sistematizada em gênero. O cenário é algo como o Rio de Segundo Império estavam se transformando em cinemas e music-halls, em razäo do
Janeiro do prefeito“ bota- abaixo” Pereira Passos — o qtia1 reconstruiu o centro da ca- modismo das novas tecnologias. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o teatro Fêníx
pital da Primeiro República sob o mesmo modelo da reforma de Haussmann, na PariS
Dramática, dirigido, como já falamos, por Henrique Alves de Mesquita na década de
do Segundo lmpério: gtandes bulevares cercados por ptaças e fino cornétCÎO. AliáS
de cinema on num café, talvez, o ritmo da habanera poderia ser 1870, e, após a reforma do centro da cidade, reaberto como cinema na década de
ouvido tanto lá como cá. t9t0.”
A terceira parte surge com uma modulaçäo. A melodia torna-se homofònica e té- A passages para a nova seçäo (parte D) realiza-se com uma “ponte” de quatro com-
t¡cá e, por esse motivo, o acompanhamento em ritmo de #«únners ganha destaque. passos aDsolritamente misteriosa:
carźter singelo da melOdia colabora para qiie ouçamos o acompanhamento como uma
antiga polca:
here sapateado
A estranha passagem que se inicia soturna e vai ganhando luminosidade até de- xual do lundu). No início do século Xx, surge o maxixe como uma dança que, em seu
sembocar na última seção, cuja indicaçäo de intençäo é clara: “bem sapateado”. Ora, aspecto geral, tern o acompanhamento musical externo similar ao da polca e passa a
trata-se d0 um maxixe. O cenário desloca-se para a Cidade Nova. Lá se concentrava par- ocupar o lugar do lrindu no imaginário nacional como dança mestiça. Nesse caso, as-
te da população pobre do Rio de Janeiro e, ao que tudo indica, foi onde surgiu a dan- sim como em Machado e a polca, seus contemporâneos estabeleceram uma relaçäo
ça do maXixe. O principal e talvez ú nico documento sobre o assunto é o livro de Jota com- plexa com o assunto. Jota Efegê mostra, na pesquisa em perió dicos, como uma
Efege, u xixe, a donna excomungada.“ parce la da populaçäo elegera o maxixe como dança nacional mestiça, enquanto a
Ma›, voltando para o Batuque de Nazareth, nessa ú ltima seçã o, a melodia é nova- contraditó ria burguesia da belle époque tratava-o como um caso de polícia, ao mesmo
mente harmonizada em bloco. O motivo melódico é simples (caminha sob a repctição tempo em que se via atraída pelo “batuque” estilizado. No cerne desses problemas, e
da mcsma nota em gran conjunto). Há uma inversäo em relação ä seçäo anterior: en- que nos diz res- peito particularmente, está a síncopa, soterrada por camadas sociais,
quanto na polquinha a mäo esquerda cumpria a funçäo ritmo-harmónica, agora, no culturais e musi- coló gicas. Tudo isso pulsa como recalque e paixã o no Batuque de
yyixe, ela volta ă suspensä o da síncopa da íntroduçä o, assumindo ainda a funçâ o de Nazareth. On, se pre- ferirmos, como ambi(ăo e vocaçáo do célebre compositor.
contraponto na regiä o grave (mimetizando as “baixarias” que o violäo fazia no trio de
p m-e-cOt da). A mão direita, como na introdução, cria texturas harmònico- melódicas
que pontuäm ritmicamente com semicolcheias a síncopa da outra mäo. Portanto, o suin-
gue do maxixe realiza-se nessa complementaridade das mäos. E importante apontar,
ainda, que essa ú ltima seção tern o dobro do tamanho das anteriores, de modo que, no
contexto geral da peça, o maxixe final soa como a sestrosa apoteose de “batuque”.
Volto a pensar, depois disso tiido, na idéia de que a síncopa particulariza o signi-
ficado mais geral da polca como intermediário cult ural na mú sic‹a popular-erudita des-
se período. Sob o seu signo, os gêneros em questão podem ser întercambiáveis e tam-
bém singulares. Exemplo disso é a complexa relaçăo de Nazareth com o maxixe.”
Em suma, MÁflO de Andrade enxergou no lundu de saläo do século xix a primei-
ra expressão singular de nacionalidade, numa dança que se fazia com pares separados
e cujo acompanhamento musical externo apresentava uma sincopação específica que
criava km determinado imaginário da herança colonial negra (com temática humo-
i:stica e alusões aos intercursos sexuais entre senhores e escravos).“ E essa interpreta-
çã o do critico modernista só foi possível porque, antes de Gilberto Freyre, ele já ValO-
rizava a mestiçagem como aspecto positivo na nossa formaçã o nacional. No fnal
do N«olo xix, a polca introduziii a dança européia, com par enlaçado, que em pouco
tem- po foi ganhando sincopação e, a partir daí, identificaçäo por seus contemporâneos
co- py produto legitimamente nacional (e o exemplo da crô nica de Machado de Assis
de
1887, como vimos no capítulo 2, mostra a continuidade da temática humorística e se-
3 çtÿøg, Jota. Mexize, a Inc(n exrom u ngndu. ltio de Janeiro: Conquisia, 1974.
35 5¢ø droø¡ ha, um comentà rio significativo: “Nao é de c espantar que Nazareth năo gostasse de ver suas compo-
tjç,52t ¢jj Jøądas a5sim ț murine] , quaiJclo se sabe 9ue, por volta de 1886, o vocàbulo servia, em re outros fins, ‘para cle-
,¡gøt qualqper coisa ruim, de iná qualidade’. Mas como pretender que’năo teri‹i jamais entrevisto a significaçăo afro-
l›rasileira’ de stias nOm OS*çôes um autor cuja priineir; peça leva indicaçáo do género: polea-hindu, e do qual mrna dos
bt i-mp ima s ‹La ma Buiu9ue* O verdadeii'o eni6ma em torno das indicaçõ es de gënero de Nazareth é arites a una-
øim¡dade dş crítica em negar-the a realidade” sznsuoui, Carlos. Op. cit., 2001, p. 79.
3b. of. xD+ or, Mãrio de. Colinù 6 imyeriais. São Paulo: Martins, 1964.