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1. Claro que sempre houve tendências no universo musical brasileiro detectando profanações.
A obra crítica do jornalista José Ramos Tinhorão - que não se confunde com seu interessan
te trabalho de pesquisador da música popular brasileira - deixa entender que a partir do
período bossa-nova, incluindo a produção de Tom Jobim, Carlos Lyra e seus demais repre
sentantes, só assistimos à profanação da autêntica criação nacional. Jamais, porém, essas
tendências impediram o progresso incessante da linguagem da canção no Brasil.
2. Os conceitos de mistura e triagem vêm sendo tratados pela semiótica contemporânea. As
noções aqui adotadas foram elaboradas por Claude Zilberberg no artigo “As Condições
Semióticas da Mestiçagem”, em E. R Canizal e K. E. Caetano, O Olhar à Deriva: Mídia, Signi
ficação e Cultura, São Paulo, AnnaBlume, 2004, pp. 11-44.
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P rimeira Triagem
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3. Chamavam de tias as baianas que, na passagem do século XIX ao XX, fixaram residência no
Rio de Janeiro e mantiveram vivos os costumes culturais dos negros de Salvador. Eram sa
cerdotisas de cultos aos orixás mas também exímias festeiras, sambistas, passistas, improvi-
sadoras e excelentes cozinheiras que abriam suas portas aos conterrâneos que, como elas,
tentavam a sorte na então capital brasileira. A personalidade mais canhecida dessa época foi
Tia Ciata, de quem já falamos no primeiro capítulo.
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Segunda Triagem
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4. Desenvolveremos mais adiante (sexto capítulo) essas noções de identidadee alteridade, adap
táveis à descrição simultânea de melodia e letra das canções, quando da análise de “Garota
de Ipanema”.
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Terceira Triagem
5. O termo “residual”, na acepção empregada, foi introduzido por José Miguel Wisnik em seu
trabalho “Cajuína transcendental” (em Alfredo Bosi, A Leitura de Poesia, São Paulo, Ática,
1996, p. 202).
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A M istura
6. Lorenzo Mammi apresenta esse tema com grande desenvoltura em seu artigo “João Gilberto
e o Projeto Utópico da Bossa Nova”, em Novos Estudos CEBRAP, n. 34,1992.
7. O ápice de realização desse sonho foi a gravação do disco Francis Albert Sinatra & Antônio
Carlos Jobim pela Reprise Records em 1967.
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8. Augusto de Campos já chamava a atenção para esse elo nos anos sessenta (cf. O Balanço da
Bossa e Outras Bossas, p. 55).
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O SÉCULO DA CANÇÃO
Por todas essas razões, pela primeira vez, a m istura não se pro
cessou naturalmente e seu surgimento abrupto surtiu efeitos de tra
tam ento de choque sobre a MPB da época. E na assimilação desbra-
gada tanto de valores culturais considerados positivos como dos
term inantem ente rejeitados pelos grupos de esquerda, a atuação
tropicalista foi avaliada ora como portadora de enriquecimentos à
música popular, ora como profanação de suas conquistas já sacra
mentadas. De todo m odo, a partir de então, o gesto dos artistas
baianos foi incorporado à história da canção como um dispositivo
de m istura a ser acionado toda vez que ocorrer a ameaça de exclusão.
Assim, como já deixamos entender, passadas suas fases de in
tervenção, tropicalismo e bossa nova podem ser vistos como for
mas eficazes de mistura e triagem respectivamente que dão à canção
popular brasileira um equilíbrio estético nem sempre presente em
outras culturas musicais.
Q uarta Triagem
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10. É significativo o fato de que a população de ouvintes não tolerava por muito tempo a supre
macia de uma única tendência musical. Sempre houve uma espécie de revezamento das
forças temáticas e passionais reguladas pela atuação figurativa. Voltaremos a isso no sétimo
capítulo.
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11. Isso não significa que os artistas não fossem dotados de talento individual. Pelo contrário,
boa parte das substituições decorreram justamente do reconhecimento das qualidades pes-
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soais que conduziram o profissional a uma carreira solo (ex.: Ivete Sangalo, Carla Perez,
Beto Jamaica).
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12. A música popular de consumo dos EUA é, em geral, de boa qualidade e já influenciou posi
tivamente a música brasileira em muitas oportunidades como, por exemplo, no período de
hegemonia do rock nacional. O que estamos valorizando aqui é a “virada de mesa” da can
ção brasileira num campo - o comercial - que sempre pertenceu aos norte-americanos e as
consequências positivas desse fato das quais voltaremos a falar no último capítulo.
13. Por outro lado, com as facilidades técnicas de gravação de um CD, o número de aspirantes
ao mercado cresceu de tal forma que se tornou impossível dar vazão a tudo que surgia.
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