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Atividade: fichamento nº 8
Os “chorões”
O fenômeno musical do qual participaram os chamados chorões se insere perfeitamente
no contexto descrito anteriormente. Nas últimas décadas do século XIX, surgiram nas grandes
cidades – principalmente no Rio de Janeiro – conjuntos instrumentais semiprofissionais,
formados majoritariamente por pessoas negras, os quais atuavam no mercado periférico, em
salões, em clubes carnavalescos e em serenatas de rua. Os músicos integrantes desses grupos
tinham empregos de baixo salário, portanto, fazer parte de tais conjuntos os fornecia uma renda
extra. Esses grupos tocavam polcas, mazurcas, valsas, tangos, quadrilhas etc., mas sem se
comportarem no padrão cultural exigido nos salões. A sua instrumentação geralmente era
composta de madeiras (flauta, clarinete e clarone), metais (bombardino, oficleide e trombone),
cordas (violão, cavaquinho e bandolim) e percussão (pandeiro e reco-reco). Há, inclusive, uma
semelhança com a formação das bandas de música, pela preferência de instrumentos que podiam
ser tocados em pé.
Os chorões trouxeram uma grande inovação para a música popular das primeiras
décadas do século XX. Adicionando um caráter improvisado às suas execuções das danças em
voga na época, principalmente o maxixe, esses músicos contribuíram com o surgimento do choro
– uma nova maneira de se tocar polcas, maxixes, tangos e valsas. O choro não pode ser visto
como uma forma musical propriamente, mas sim como uma forma de execução dessas danças
baseada em conjuntos de sopros e violões e na constante improvisação. A origem da palavra
“choro”, inclusive, possivelmente deriva da expressão “tocar chorando”, o equivalente a tocar
improvisando. Ritmicamente, uma de suas características específicas era a sincopação do
acompanhamento, surgida com os tangos de Nazareth e popularizada entre os chorões.
Até o fim dos anos 1910, os chorões eram extremamente malvistos pelas elites
brasileiras. Foi apenas na década de 20 que eles começaram a ser amplamente aceitos, passando,
entretanto, por um processo higienizatório – os grupos de choro foram transformados nas
chamadas “orquestras típicas” ou “conjuntos regionais” e passaram a frequentar espaços
privilegiados da sociedade. Um dos últimos grupos remanescentes dos chorões foi Os Oito
Batutas, dirigido por Pixinguinha. Era um grupo formado por negros que começou a tocar nos
saguões de cinemas em 1918 e alcançou sucesso internacional a partir de 1922. Tal sucesso, no
entanto, é uma comprovação da transformação pela qual esses grupos passaram, deixando de
existir como se originaram. As orquestras típicas que os substituíram, além de formas brasileiras,
tocavam formas norte-americanas que começaram a ser exportadas em massa, sendo a principal
delas o fox-trot. A execução das jazz-bands, além de criar o estilo em todo o Brasil, influenciou o
repertório e as técnicas das orquestras típicas das décadas de 30 e 40. No fim da década de 1910,
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os últimos chorões e as primeiras orquestras regionais passaram a tocar sambas, estilo que
convite até hoje com o choro.
(precursor da bossa nova). Além do samba e de suas inúmeras ramificações, também surgiu a
marcha ou marchinha carnavalesca – nome que indicava o caráter ingênuo e alegre das
composições. Esse estilo foi derivado das marchas militares e a primeira composição nessa linha
foi a canção Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga (1899). Essas marchas passaram a formar o
repertório das orquestras típicas na década de 20 e tiveram seu andamento acelerado por
influência das jazz-bands norteamericanas.