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CHORO

O choro, popularmente chamado de chorinho, é um gênero de música popular e instrumental brasileira, que


surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX.
O choro pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira e ao longo dos anos se
transformou em um dos gêneros mais prestigiados da música popular nacional, reconhecido em excelência e
requinte. Tem como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros
europeus. A composição instrumental dos primeiros grupos de choro era baseada na
trinca flauta, violão e cavaquinho - a esse núcleo inicial do choro também se chamava pau e corda, por serem
de ébano as flautas usadas -, mas com o desenvolvimento do gênero, outros instrumentos de corda e sopro foram
incorporados.

OS PRIMEIROS CONJUNTOS DE CHORO

Os primeiros conjuntos de choro surgiram por volta da década de 1870, nascidos nas biroscas do bairro Cidade
Nova e nos quintais dos subúrbios cariocas. O flautista e compositor Joaquim Antônio da Silva Calado, os
pianistas Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, e o maestro Anacleto de Medeiros compuseram quadrilhas,
polcas, tangos, maxixes, xotes e marchas, estabelecendo os pilares do choro e da música popular carioca da virada
do século XIX para o século XX, que com a difusão de bandas de música e do rádio foi ganhando todo o território
nacional. Herdeiro de toda essa tradição musical, Pixinguinha consolidou o choro como gênero musical, levando
o virtuosismo na flauta e aperfeiçoando a linguagem do contraponto com seu saxofone e organizou inúmeros
grupos musicais, tornando-se o maior compositor de choro.

ORIGEM DO NOME

Como ocorre com outros gêneros musicais, existem inúmeras discussões entre os pesquisadores sobre a gênese
da palavra "choro". Dentre as versões conhecidas, uma diz respeito que o termo surgiu de uma fusão entre "choro",
do verbo chorar, e "chorus", que em latim significa "coro". Para Lúcio do Nascimento Rangel e José Ramos
Tinhorão, a expressão choro pode derivar da maneira chorosa de se tocar as músicas estrangeiras no final do século
XIX e os que a apreciavam passaram a chamá-la de música de fazer chorar. Por extensão, próprio conjunto de
choro passou a ser denominado pelo termo, por exemplo, "Choro do Calado". Já Ary Vasconcelos vê a palavra
choro como uma corruptela de choromeleiros, corporações de músicos que tiveram atuação importante no período
colonial brasileiro. Os choromeleiros não executavam apenas a charamela, mas outros instrumentos de sopro. O
termo passou a designar, popularmente qualquer conjunto instrumental. Câmara Cascudo arrisca que o termo pode
também derivar de "xolo", um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas, expressão que, por confusão com
a parônima portuguesa, passou a ser conhecida como "xoro" e finalmente, na cidade, a expressão começou a ser
grafada com "ch". No princípio, a palavra designava o conjunto musical e as festas onde esses conjuntos se
apresentavam, mas já na década de 1910 se usava o termo para denominar um gênero musical consolidado.

ORIGEM DO GÊNERO

A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a abolição do tráfico de


escravos no Brasil em 1850, foram condições históricas para o surgimento do choro, já que possibilitou a
emergência de novos ofícios para as camadas populares. Nesse contexto, tendo como origens estilísticas o lundu,
ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus, nasceu o choro no Rio de Janeiro, por
volta de 1870. Esses grupos de instrumentistas populares, a quem se daria mais tarde o nome de chorões, eram
oriundos de segmentos da classe média baixa da sociedade carioca, sendo em sua grande maioria
modestos funcionários de repartições públicas - como da Alfândega, dos Correios e Telégrafos e da Estrada de
Ferro Central do Brasil - cujo trabalho lhes permitiam uma boemia regular, e geralmente moradores da Cidade

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Nova. Sem muito compromisso e sem precisar tocar por dinheiro, essas pessoas passaram a formar conjuntos para
tocar de "ouvido" essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira,
como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira abrasileirada pelos músicos que foram então
batizados de chorões. Inicialmente, eles se reuniam aos domingos nos chamados pagodes no fundo dos quintais dos
subúrbios cariocas ou nas residências da Cidade Nova. Com isso, se tornaram os principais canais de divulgação do
estilo para o povo. Um dos preceitos desses pagodes ou tocatas domingueiras era uma mesa farta em alimentos e
bebidas.
As formações pioneiras adotavam como terno de instrumentos a flauta, o violão e o cavaquinho. A flauta como
"solista", o violão na "baixaria" e o cavaquinho como "centro". Aos poucos, os chorões passaram a se apresentar
constantemente em saraus da elite imperial, executando os gêneros europeus mais em voga imprimindo uma
genuína cultura afro-carioca, sempre com improvisações e desafios entre os instrumentistas solistas e de
acompanhamento, que foram consolidando o estilo.

IMPORTÂNCIA DE JOAQUIM ANTONIO DA SILVA CALADO

As mais antigas referências a esses grupos de músicos mencionam o flautista Calado como o iniciador e


organizador desses primeiros conjuntos. Como era professor da cadeira de flauta do Conservatório Imperial, Calado
teve grande conhecimento musical e reuniu em torno de si os melhores músicos da época, que tocavam por simples
prazer e descompromisso de fazer música. O conjunto instrumental "O Choro de Calado" costumava se reunir sem
ideia prévia quanto a composição instrumental ou quanto ao número de figurantes de cada grupo.[2] Foi também ele
o pioneiro em grafar a palavra choro no local destinado ao gênero em uma de suas partituras - a da polca "Flor
Amorosa" -, até então, os compositores se limitavam a indicar, como gênero, os ritmos tradicionais. A polca "Flor
Amorosa", composta por Calado em 1867 é considerada a primeira composição do gênero. Desse conjunto fez
parte Viriato Figueira, seu aluno e amigo e também sua amiga, a maestrina Chiquinha Gonzaga, uma pioneira como
a primeira chorona, compositora e pianista do gênero.

NOMES IMPORTANTES DO CHORO

Um dos maiores compositores da música popular brasileira, Pixinguinha contribuiu diretamente para que o


choro encontrasse uma forma musical definitiva. Também tenor, arranjador, saxofonista e flautista, ele formou
em 1919 o conjunto Oito Batutas, formado por Pixinguinha na flauta, João Pernambuco e Donga no violão, dentre
outros músicos. Fez sucesso entre a elite carioca, tocando maxixes e outros choros. Quando compôs "Carinhoso",
entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados dois dos choros mais famosos, Pixinguinha foi
criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz. Outras
composições de Pixinguinha, entre centenas, são "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1 a 0", "Naquele tempo" e
"Sofres porque Queres".
Na década de 1920, o maestro Heitor Villa-Lobos compôs uma série de 16 composições dedicadas ao Choro,
mostrando a riqueza musical do gênero e fazendo-o presente na música erudita. A série é composta de 14 choros
para diversas formações, um Choro Bis e uma introdução aos Choros. Se a série tem o título "Choros",
individualmente o nome de cada composição vem sempre no singular. O Choro nº 1 foi composto para violão solo.
Existem também choros para conjuntos de câmara e orquestra. A peça Choro nº 13, de Heitor Villa-Lobos, foi
composta para duas orquestras e banda. Já o Choro nº 14 é para orquestra, coro e banda. Uma das composição mais
conhecida e executada dentre os choros orquestrais de Villa-Lobos é o Choro nº 10, para coro e orquestra, que
inclui o tema "Rasga o Coração" de Catulo da Paixão Cearense. Devido à grande complexidade e à abrangência dos
temas regionais utilizados pelo compositor, a série é considerada por muitos como uma das suas obras mais
significativas.
Também a partir da década de 1920, impulsionado pelas gravadoras de discos e pelo advento do rádio, o choro
fez sucesso nacional com o surgimento de músicos como Luperce Miranda e do pianista Zequinha de Abreu, autor
de Tico-Tico no Fubá, além de grupos instrumentais que, por dedicar-se à música regional, foram chamados de
regionais, como o Regional de Benedito Lacerda, que tiveram como integrantes Pixinguinha e Altamiro Carrilho,
e Regional do Canhoto, que tiveram como integrantes Altamiro e Carlos Poyares.
Ocorreu uma revitalização do gênero na década de 1970. Em 1973, uniram-se o Conjunto Época de
Ouro e Paulinho da Viola no show Sarau. Foram criados os Clubes do Choro em Brasília, Recife, Porto
Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, dentre outras cidades. Surgiram grupos jovens dedicados ao gênero,
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como Galo Preto e Os Carioquinhas. O novo público e o novo interesse pelo gênero propiciou também a
redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar novos
talentos, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian e o violonista Rafael Rabello.
Em 1979 com o LP "Clássicos em Choro", o flautista Altamiro Carrilho fez sucesso tocando músicas
eruditas em ritmo de choro. Também naquele ano, por ocasião do evento intitulado "Tributo a Jacob do Bandolim",
em homenagem aos dez anos do falecimento do bandolinista, é criado o grupo Camerata Carioca, formado por
Radamés Gnatalli, Joel Nascimento e Raphael Rabello, dentre outros músicos.
A década de 1980 foi marcada por inúmeras oficinas e seminários de choro. Importantes instrumentistas se
reuniram para discutir e ensinar o gênero às novas gerações. Em 1986, realizou-se o primeiro Seminário Brasileiro
de Música Instrumental, em Ouro Preto, uma proposta ampla que ocasionou uma redescoberta do choro.
A partir de 1995 o gênero foi reforçado por grupos que se dedicaram à sua divulgação e modernização e pelo
lançamento de CDs.

CARACTERÍSTICAS DO CHORO
Rítmica
O choro não se caracteriza por um ritmo específico, mas pela maneira de se tocar solta e sincopada, repleta de
ornamentos e improvisações. Assim, é muito vasta a gama de ritmos nos quais se baseiam os compositores de
choro. Dentre os principais ritmos utilizados, pode-se citar o maxixe, o samba, a polca e a valsa, dando origem,
assim, ao ‘’samba-choro’’, à ‘’polca-choro’’ e à ‘’valsa-choro’’ (com relação ao maxixe, não é utilizada a
expressão “maxixe-choro”, mas apenas ‘’maxixe’’). Além disso, há choros de andamento rápido e choros mais
lentos (apelidados "varandões").
Forma
O choro tradicional é caracterizado por três partes. É comum que cada parte esteja em uma tonalidade,
geralmente com modulações para tons vizinhos como o relativo ou o quarto grau.
A partir de meados do século XX tornou-se muito popular o choro com apenas duas partes. Grande parte dos
choros de Jacob Bittencourt apresentam apenas duas partes. Um grande defensor do choro em duas partes foi o
compositor K-Ximbinho.[9]
Além disso, observa-se uma quadratura regular em cada uma das partes. Em geral, cada parte tem 16 ou, mais
recentemente, 32 compassos (sobretudo nos choros com apenas duas partes), subdivididas em frases de compassos,
por sua vez compostas de dois incisos de 4 compassos.
Letra
Uma das principais discussões sobre o Choro é se deve ou não ter letra. Essa polêmica sempre foi discutida
entre os chorões, que têm opiniões diversas. Originalmente, o gênero é puramente instrumental, mas,
principalmente a partir dos anos 1930 com a influência do rádio, começou-se a colocar letras em choros. Um
exemplo famoso é o do choro "Carinhoso", de Pixinguinha, que recebeu letra de João de Barro e foi gravado com
sucesso por Orlando Silva. As interpretações de Ademilde Fonseca a consagraram como grande intérprete do choro
cantado, sendo considerada "A Rainha do choro". Outra controvérsia levantada é a respeito da inserção de letras em
choros de compositores já falecidos, como fez, dentre outros, Hermínio Bello de Carvalho. Isso, para muitos
chorões, constitui um desrespeito à obra dos compositores, além de resultar em parcerias fictícias, gerando brigas
em torno de direitos autorais.

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