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O Maxixe
Nas últimas décadas do séc. XIX, eram
inúmeras as danças, festas e costumes
desprezados pela elite, como símbolos
do atraso e da barbárie. À medida que
as populações pobres eram expurgadas
dos centros urbanos e concentradas nas
periferias, deixavam de ser reprimidas
no desenvolvimento de práticas musicais
próprias. Por outro lado, essas práticas
eram odiadas nos bairros chiques e dele
continuamente expulsas, entre elas o
maxixe, o samba, o batuque, o lundu, o
corta-jaca, o cateretê, o fandango,
indistintamente denominados
“populares”.
As próprias modinhas já haviam de tal
maneira se difundido junto às
camadas populares que começavam a
assumir o mesmo status das danças e
canções surgidas nas periferias. O
fenômeno era complexo. A pressão
contra a música popular não somente
estimulava sua multiplicação nas
periferias, quanto seu contato cada
vez maior com as elites: a música
popular, a partir de fins do séc. XIX,
começava, agora, exercer uma
pressão cada vê maior sobre a cultura
da elite, exigindo sua “disciplina” nos
centros urbanos.
A palavra "maxixe", cuja
primeira aparição impressa data
de 1880, refere-se originalmente
a uma dança urbana de par
enlaçado surgida no Rio de
Janeiro na segunda metade do
século XIX. Criado pelos
habitantes da Cidade Nova,
bairro popular carioca, o maxixe
é inicialmente dançado em
bailes denominados "sambas"
ou "assustados", caracterizando-
se pelos requebros sensuais dos
pares que balançam os quadris.
No princípio, restrito às camadas
mais pobres da sociedade
carioca, penetra os ambientes
burgueses já na década de 1870,
por meio dos clubes
carnavalescos.
É provavelmente por influência da
valsa e, principalmente, da polca -
danças europeias de pares enlaçados
disseminadas nos salões cariocas na
segunda metade do século XIX - que o
lundu, dança de par separado surgida
no Brasil do século XVIII, passa a ser
bailado com os corpos unidos. O ritmo
sincopado da música que o
acompanha, porém, implica o
surgimento de movimentos
coreográficos totalmente distintos
daqueles presentes nas danças
europeias. Se nos pares separados
esses movimentos já desgostavam as
camadas superiores da sociedade
carioca, por ocorrer nas partes "pouco
nobres" do corpo, nos pares enlaçados
eles causam verdadeiro horror, por
evocar o próprio ato sexual.
Do ponto de vista musical, a mistura
entre as danças de salão europeias e os
ritmos sincopados afro-brasileiros dá
origem a gêneros musicais híbridos,
tais como a polca-lundu, a polca-
maxixe e o tango-maxixe, que com o
tempo passam a ser denominados
simplesmente de maxixe. Tais gêneros
se caracterizam pela "adulteração" da
célula rítmica original da polca,
transformada numa célula sincopada.
Esta, batizada por Mário de Andrade de
"síncopa característica", é a mesma
que aparece, por exemplo, nos
acompanhamentos dos tangos
brasileiros de Ernesto Nazareth,
executados no piano pela mão
esquerda, ou de tantas outras peças
compostas no período com a mesma
denominação.
O autor de Brejeiro, contudo,
insiste que seus tangos não são
"tão baixos" como os maxixes,
atestando o preconceito que há
em torno da dança. Dos bailes
carnavalescos, o gênero ganha o
comércio de partituras (as
primeiras composições impressas
com o nome de maxixe datam do
fim do século XIX), os discos (em
1902 é gravado o primeiro
fonograma reconhecido como
maxixe, Sempre Contigo, de
autor desconhecido) e o teatro
de revista. O maxixe passa a ser
reconhecido como a dança
nacional por excelência, posto
até então exercido pelo lundu e
futuramente ocupado pelo
samba.
Este, aliás, confunde-se em suas origens
com a "dança excomungada". Pelo Telefone,
a primeira composição registrada com a
denominação de samba, é tida por muitos
sambistas como um maxixe. Por fim, vale
lembrar que o gênero é um dos primeiros a
serem exportados do Brasil para a Europa,
pelo bailarino Duque (Antônio Lopes de
Amorim Dinis), sendo largamente
consumido em Paris no início do século XX,
com o nome de "matchitche". Entre os
compositores de maxixe destacam-se, no
século XIX, Chiquinha Gonzaga (Maxixe da
Zeferina, Roda Yoyô) e, no início do século
XX, Sinhô (Dor de Cabeça, Caneca de Couro,
Amor sem Dinheiro, Cassino Maxixe),
Sebastião Cirino, José Francisco de Freitas
(Dorinha Meu Amor e Mexe Baiana) e
Romeu Silva (Tricolor, Se Papai Souber,
Fubá).
O samba, o choro e a cidade.