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UFPR - SACOD - DeArtes


Disciplina OA865
Estética da Música 2023 II
Professor José Estevam Gava

Atividade: fichamento 1

VITÓRIA CAROLINA CUNHA


Endereço eletrônico: vitoria.cunha98@gmail.com

Assuntos gerais deste fichamento/documentação: FUBINI, 2008, p.11-21 – As características


da disciplina (capítulo 1); Introdução à estética da música – tópicos trabalhados em sala de aula.

A estética musical como disciplina


Estética é um ramo do conhecimento que trata da arte, da sua natureza, beleza e dos seus
fundamentos. Tendo em vista, porém, que a ideia do que é belo sofreu inúmeras alterações no
decorrer da história, é preciso considerar as múltiplas estéticas possíveis na arte. Assim, não se
deve entender a estética como algo singular e fixo, mas sim compreendê-la em sua mutabilidade,
fortemente associada ao contexto histórico, político e social em questão. Na Grécia Antiga, por
exemplo, os conceitos platônico e aristotélico de belo carregavam profundas distinções. Platão
era idealista, portanto, acreditava na beleza dissociada do mundo sensível. Sua existência estaria,
então, confinada ao mundo das ideias, associando-se ao bem, à verdade, ao imutável e à
perfeição. Aristóteles, por sua vez, concebia o belo a partir da realidade concreta, não apenas
metafísica ou ideal. Para ele, o belo poderia também se expressar materialmente, portanto, seria
mutável.
A estética se tornou uma disciplina filosófica autônoma a partir do século XVIII. Já a
estética da música como discussão sobre o belo musical se desenvolveu como um posterior sub-
ramo de estudos, específico, em meados do século XIX. O ensaio de E. Hanslick, O belo musical,
de 1854, foi um marco inaugural nesse sentido, sendo o primeiro título que tratou
especificamente do belo em música. Nesse período, o valor estético, ou seja, a experiência diante
do belo, ganhou autonomia frente às demais abordagens. Assim, a música ocidental despontou
como obra artística a ser apreciada na pureza de sua forma. Contudo, é importante lembrar que
reflexões esparsas sobre música vêm de muito mais tempo. O século XVIII apenas marcou o
início de reflexões mais bem organizadas sobre a música e artes em geral.

A música e as outras artes


Até o séc. XVIII, principalmente, a música era considerada uma forma de arte inferior e
separada das demais. A maioria dos pensadores, até essa época, não a consideravam tão elevada
quanto outras artes, como a poesia, o teatro, a arquitetura, a dança, a pintura e a escultura. A
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respeito dessa crença, no século XIX, Schumann colocou em seus escritos: “A estética de uma
arte é igual à das outras; só difere na matéria”. Dizendo isso, ele pretendia valorizar o fazer
musical e colocá-lo em pé de igualdade com as outras artes. Esse foi um esforço não só de
Schumann, mas de muitos outros românticos, na tentativa de recuperar a música no reino da arte,
como sendo, também, um ato de criatividade e expressividade. As declarações de Schumann não
tiveram o efeito desejado na época, enfrentando muita resistência. Porém, sua ideia de que a
estética da música é igual à das outras artes é revolucionária, visto que pressiona todo um
conjunto de juízos culturais enraizados há séculos. Ele acabou, dessa forma, influenciando muitos
românticos que o seguiram.
A história da música, até o século XIX, se deu, portanto, como uma história à parte das
outras artes. Essa tradição remonta aos tempos da Grécia Antiga, em que a música era
considerada uma arte de baixíssima relevância educativa quando comparada à poesia, por
exemplo. Isso se deve ao fato de que a música surge em meio a problemáticas bastante
específicas, não comparáveis às demais artes. Por exemplo, um compositor precisa de graus de
competência e de especialização mais elevados do que um literato. Um poeta pode frequentar
uma escola comum e, apenas com os conhecimentos adquiridos lá, tornar-se um grande escritor.
Já um músico, mesmo tendo estudado na mesma instituição, ainda precisará frequentar, por
muitos anos, escolas para se especializar. Esse alto grau de especialização técnica necessária foi o
elemento que mais contribuiu para manter a música dissociada das outras artes. Além disso, a
música, depois de criada, sempre necessita de um intérprete para dar vida à obra, algo que exige,
da mesma forma, grande especialização técnica. Por consequência do nível de habilidade exigido,
na música, a atividade prática acaba tendo prevalência sobre a atividade artística. Assim,
especialmente no passado, houve uma despromoção da mesma à categoria de ofício. Fazer
música foi, por muito tempo, considerada uma atividade servil, “indigna de um homem livre e
culto”. Essas práticas, portanto, foram designadas a pessoas de classes mais baixas, também
consideradas inferiores, desde a Antiguidade grega e ao longo da Idade Média, até o
Renascimento.

A música, prisma das mil faces


Cada época e sociedade expressou suas reflexões sobre música, mas por meio de
escritos que não tratavam exatamente e exclusivamente sobre música. Platão e Aristóteles se
referiram à música em escritos de interesses basicamente políticos. A música, nesse contexto,
tinha um papel relevante a serviço da ética. Na Grécia do século IV a.C., além disso, escritos
sobre música também priorizavam questões acústicas mediante abordagens de cunho mais
racional. Com a Idade Média, as fontes de reflexões sobre música partiram de textos com
interesses religiosos e pedagógicos que tratavam da normalização do ensino musical, do ensino
da gramática, retórica e métrica. Nesse caso, a Igreja, como nova instituição de poder, usava a
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música como ferramenta de disseminação da sua crença. Assim, era preciso formatar o ensino
musical e estruturar o próprio fazer musical para esse fim. Cada época histórica, portanto, aplica à
palavra música realidades bastantes diversas. Isso apenas reforça a impossibilidade de definir a
disciplina da estética musical em termos rigorosos. Ela deve ser vista, então, como um
cruzamento de reflexões interdisciplinares. Não só o aspecto filosófico se coloca como uma das
suas componentes, visto que, durante a história, diversas outras disciplinas fizeram da música um
objeto de interesse: a matemática, a psicologia, a física acústica, a linguística, a sociologia etc.

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