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Atividade: fichamento 4
estava também vinculada à aritmética, pela proporção de alturas e durações, e pela física dos
fenômenos acústicos. Na primeira metade do Renascimento, ainda havia uma forte conexão com
o pensamento medieval, que nutria muito mais a visão de música como ciência do que como arte.
Porém, aos poucos, a música foi deixando de ser considerada ciência pura e ganhando forma
como objeto artístico – como um fazer humano sujeito à ciência.
No século XV, surgiram escritos dedicados à prática musical, à música realizada pelos
instrumentos, ou seja, tratava-se de música audível e sujeita a análises empíricas, não apenas
metafísicas. Aliada a isso, com a retomada das implicações do éthos musical grego, os efeitos da
música sobre as pessoas foram descritos e teorizados com o objetivo de servirem de guias para os
compositores. Os músicos carregavam consigo manuais descrevendo esses efeitos para que,
assim, suas composições pudessem atingir os sentimentos desejados. Tais escritos, contudo,
consideravam as músicas que tivessem letras, não somente sons musicais. Acreditava-se que a
música apenas produzia efeitos sobre a alma humana quando acompanhada de um texto poético.
Assim, as notas musicais deveriam expressar o que é dito no texto, servindo-o. Combinada com a
palavra, a música deixou de ser ciência, transformando-se em uma “espécie de arte da
representação”. Com o século XVI, teóricos e compositores europeus voltaram suas atenções à
música vocal solista em detrimento da música coral. Esse interesse pressionou toda a tradição de
escrita contrapontística, vinda da Idade Média. Segundo eles, a melodia única seria capaz de
expressar afetos com maior clareza, sendo mais efetiva do que uma composição polifônica.
Foi, porém, com as reuniões da Camerata Bardi, na Florença do século XVI, que os
argumentos a favor do melodrama foram mais claramente estruturados. Tratava-se de um grupo
de intelectuais e músicos que se reunia na casa de um grande animador cultural da região – o
conde Bardi. Esse grupo pretendia revolucionar a música da época fazendo resgates à
Antiguidade. Para eles, a polifonia medieval apenas entorpecia os sentidos e confundia, sem ter
uma finalidade social muito clara. Vincenzo Galilei, pai do físico Galileu e participante da
Camerata Bardi, defendia que a música contrapontística atuava unicamente no âmbito dos
sentidos, sem contribuir para a melhora moral, visto que era incapaz de comunicar ideias de
maneira eficaz. Em síntese, muitas vozes simultâneas dificultariam a compreensão do texto,
assim, confundiam diversos afetos transpostos em música. Era apenas arquitetura gótica vertida
em música, dirigida somente ao prazer sensorial. Assim, os renascentistas, no início da Era
Moderna, desejavam um retorno ao equilíbrio e clareza clássicos, em que as letras das músicas
deviam reinar soberanas.