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Atividade: fichamento 9
razão das pessoas e educá-las. Contudo, entre tantas polêmicas, o melodrama também tinha seus
difamadores, os quais se detinham em diferenças e questões estilísticas regionais, especialmente
entre as óperas francesas e italianas. Alguns dos pontos polêmicos envolviam: qualidade literária
e musical, autonomia do texto frente à música e vice-versa, a racionalidade francesa em contraste
com a criatividade musical italiana. Nessas polêmicas, o bel canto italiano representou a
autonomia de valores musicais, ficando em segundo plano a compreensão do texto. Os franceses,
por sua vez, mantiveram o texto como prioridade. Em resumo, tais dilemas se davam entre
ouvido e razão, sensibilidade e intelecto, paixão e racionalidade.
Os Enciclopedistas e as querelles
Os pensadores franceses concebiam a música como a linguagem privilegiada dos
sentimentos, mas desde que ela fosse acompanhada de texto, pois só assim a mensagem seria
comunicável e inequívoca. Deixar essa tarefa apenas aos sons musicais seria ineficiente, apesar
da publicação de léxicos musicais – manuais de sentido. As discussões se davam, portanto, em
torno das tradições italiana e francesa de ópera e entre a supremacia melódica humana –
defendida por Lully e Rousseau – e as leis harmônicas cósmicas, defendidas por Rameau. Para
Rousseau, a emoção e o melodismo italianos seriam a mais perfeita realização do canto primitivo
do homem, a união perfeita entre música e palavra que teria sido ocultada pela civilização
moderna, pela invenção bárbara da razão.
Longe de encontrar “soluções”, o mérito dos iluministas foi o de ampliar os debates
sobre música, integrando-a no contexto vivo da cultura. Foi o período em que surgiram as
primeiras obras de crítica e historiografia musical pela Europa e tratados instrumentais que
abordavam não apenas mecanismo, mas problemas também estéticos, interpretativos, envolvendo
sentimentos e afetos. Talvez tenha sido Diderot aquele que mais avançou, dando sentidos
próprios à música instrumental justamente pela imprecisão semântica desta, uma vez que deixa
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uma maior margem à imaginação e exprime melhor a vida na sua riqueza, totalidade e
indeterminação. A música seria, portanto, superior a todas as demais artes, pois exprime, como
nenhuma outra, aspectos secretos e inacessíveis da realidade. Kant, filósofo alemão, também
defendia que a música ocupasse o primeiro lugar no campo artístico, já que, destinada a provocar
sensações e estimular a alma de modo mais variado e íntimo, ela seria a linguagem dos afetos por
excelência – “a linguagem universal da sensação compreensível a cada homem” –, independente
e acima de idiomas e culturas regionais.