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Situação social e histórica da música no Século XVII:

Introdução: O período barroco musical é mais do que uma classificação estética. A


produção musical deste período está intrinsecamente ligada a uma série de fatores,
sociológicos e filosóficos que apontam para uma unidade da qual a música surge como
parte integrante.

Função da música: Conforme o pensamento vigente na época a música deveria, assim


como as outras artes, servir e exaltar elementos religiosos e políticos, ou seja, a Deus e ao
Monarca Absoluto; devendo seguir os padrões ritualísticos e hierárquicos, da igreja e da
corte. Como música da corte, especialmente na França, a música assumiu um caráter
‘elitizado’, no qual o estilo de câmara se instaura, sendo composta e executada por poucos e
para poucos; ganhando nesse contexto um caráter ritual. O ‘status’ do músico era medido
pelo mecenas a quem servia, como uma posição na corte. Quase toda produção daquela
época foi destinada a algum patrono.

O papel do músico: O músico desempenhava diversos papéis, de compositor,


instrumentista, cantor, professor e regente, o que se caracterizou na época como uma
tendência para a especialização, dando espaço para outras habilidades exigidas, como
copistas, intérpretes e arranjadores. Como suas condições sociais dependiam do contratante,
os músicos não buscavam angariar público, mas conservar seus postos. Os músicos se
organizavam em guildas, sob estatutos de deveres e direitos definidos; a submissão aos
patronos era uma regra e estavam sujeitos às conjunturas da vida política, pois as
dificuldades da corte recaiam sobre os seus honorários. Os que optavam por uma condição
itinerante ou ambulante tinham certas vantagens, contudo sofriam as devidas
conseqüências; os que serviam às cidades tinham mais facilidade em obter recisões e
licenças. O instrumento também ditava o ‘status’ do músico: Trompetes e tímpanos
conferiam maior reputação e privilégios. Na França, defendia-se a superioridade do Cravo.
Na Alemanha, os sopros se destacavam como mais nobre que os outros. Na Itália ocorria o

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inverso e o prestígio confluía para as cordas e também para os seus fabricantes, como
Stradivarius, entre outros. Querelas surgiam por causa dessas diferenças e razões
econômicas. Um outro aspecto importante foi o aperfeiçoamento do artesanato de
instrumentos, impulsionado pela evolução dos gêneros musicais instrumentais. Grupos
denominados Collegia Musica, criados a partir dos Convivia Musica, eram compostos por
amadores e mais tarde também por profissionais que se reuniam para tocar entre si;
realizavam concertos semi-abertos ao público vindo enfim a se tornarem públicos. Estes
grupos passariam a se chamar Academia, não ainda no sentido em quem conhecemos a
palavra.

A igreja: No âmbito religioso, a partir de meados do século XVII, intervenções políticas


vieram incrementar a música nas igrejas, com a introdução de órgãos, corais e grupos
instrumentais; formas como o Te Deum e Motetos acompanhados, resultando na influência
da ópera sobre a música religiosa francesa, ou seja, a impregnação do sacro pelo profano. O
Oratório e as Paixões também caracterizam este período. Na França o povo podia ouvir
música nos eventos públicos e nas igrejas e a boa música das igrejas conferia prestígio ás
cidades e renome aos músicos capazes que nelas trabalhavam.

A ópera: No período barroco se desenvolveu a ópera. O estilo representativo como os


madrigais e óperas de Monteverdi e o bom entendimento da palavra cantada, em oposição
ao velho estilo polifônico no qual as palavras se misturavam. Os libretos das óperas eram
de cunho em geral mitológico, temas de honra e amor, caros à mentalidade aristocrática da
época. A ópera paga, para grande público, surgiu em Veneza, em 1637 e em Paris, em
1669; em Hamburgo e Nápoles, em 1687. Surgiu a fim de custear os próprios espetáculos,
contudo, logo este método logo decaiu, passando-se a depender de mecenato. Isso se deu
porque não existia um mercado livre de música naquele século e o mecenato era uma
instituição e se tocava para um público definido. As peças, conseqüentemente, eram
circunstanciais e a demanda incessante exigia produção, submissa ao modismo e à
novidade. Na Itália, a ópera chegou a ser utilizada como instrumento político de

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manipulação, dentro do velho esquema Panis et Circencis, a fim de distrair o povo dos reais
problemas atuais da época.

Aspectos musicais: Entre as características da época está o simbolismo e ainda resquícios


da idéia de ‘música das esferas’, ou seja, uma associação místico-astrológica dos sons
musicais com as conjunções cosmológicas. Fórmulas melódicas e rítmicas e estereótipos
destinados a produzir certos ‘Afetos’; a música representativa precedeu a música
programática. O baixo contínuo é uma das características principais daquele período. Com
as exigências ditadas pela emancipação da música instrumental e o desenvolvimento da
ópera o virtuosismo veio à tona e obviamente a figura do virtuose, instrumental ou vocal.
No âmbito composicional encontramos um paralelo com a arte da pintura, no sentido em
que buscou os ‘contrastes’: Na pintura, o claro-escuro intenso, como na obra de
Caravaggio; na música, os artifícios de dinâmica, o estilo de ‘concerto’, no qual o solista
ou os solistas dialogam com a orquestra; tensões e consonâncias harmônicas, efeitos de eco,
contrastes dos modos clássicos, maior e menor; recitavo e ária, prelúdio e fuga, enfim a
idéia de ‘profundidade’, ou dimensões, representada em sons musicais. A música vocal
predominava em quantidade e qualidade sobre a música instrumental e a influenciava
significativamente. Nos séculos XV e XVI a maior influência foi dos flamengos, passando
no Século XVII para os italianos, sobretudo através da ópera. Eram requisitados e mais bem
pagos que os músicos locais, tendo menos espaço na música de igreja, também devido ao
luteranismo, em terras germânicas.

Conclusão: A música no Século XVII se manifestou predominantemente em três redutos:


A corte, a igreja e o teatro; conseqüentemente três categorias de música predominaram: de
câmara, sacra e operística. Estes centros da vida musical da época eram mantidos por
patronos ou grupos e os funcionários da música também consistiam em grupos, o que nos
mostra a preponderância do sentido de ‘elite’ vigente no período. Enfim, a música
permanecia essencialmente ‘elitista’.

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