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A Música Renascentista

Contexto histórico e cultural

O Renascimento foi um movimento cultural que serviu de transição entre a


Idade Média e o Barroco na música europeia entre meados do séc. XIV até meados do
séc. XVI. ficando conhecido em termos culturais pela recuperação das artes, da cultura
e das civilizações clássicas, sendo também a transição entre a idade média e a Idade
Moderna. Este período evolui a partir do pensamento humanista, característico da
“Idade das luzes”, o crescente interesse pela cultura greco-latina, pela ciência e, a nível
geral a evolução social e intelectual na sociedade. Estes princípios filosóficos
desencadearam uma nova visão artística e cultural, levando ao despertar do interesse
pelas artes dos pensadores e das escolas da época.
De entre vários fatores que contribuíram para o crescimento deste movimento,
destaca-se o interesse pela cultura clássica greco-latina, o humanismo, o
individualismo, a descoberta de novos mundos e da ciência, o naturismo, a
comunicação internacional, entre outros. Vários acontecimentos levaram a um
crescente interesse por tudo o que foi importante na cultura greco-latina começando
pelas próprias línguas clássicas. Deste modo a partir de meados do séc. XIV a filosofia,
a literatura, a arte e a própria música antiga despertaram os interesses dos pensadores
e das escolas.
Foi uma época de viragem da cultura ocidental, marcada por diversas crises,
como por exemplo, a crise das mentalidades, porque de uma sociedade centralizada
em Deus e na Fé passamos a ter um novo tipo de sociedade centralizada no homem e
no conhecimento racional. Para esta crise contribuíram em grande proporção as
descobertas e os novos conhecimentos que estas trouxeram, pois puseram em causa
os conhecimentos adquiridos como também a visão do próprio homem. As crises
religiosas, na sequência do Grande Cisma a igreja foi afetada pelos novos interesses
humanos que levaram a eclosão de movimentos de contestação que deram origem a
Reforma Luterana. Crises políticas geradas por lutas entre senhores feudais e os
monarcas, com a intenção de unificar territórios e solidificarem os seus poderes, o que
por sua vez levou á centralização do poder régio. Crises sociais e económicas, que com
a queda do modo de vida agrário e uma orientação crescente para a economia
monetária e para um desenvolvimento do comércio.

O renascimento e a Música (características)


A música continuou a evoluir no sentido da criação de um estilo internacional
ao longo do Séc. XV. Embora a França e a Itália não tenham sido o berço de
compositores ou inovações de relevo, já os compositores ingleses contribuíram
decisivamente para este estilo em meados do século. A composição continuava a
centrar-se principalmente nas formas profanas; a textura da cantilena desfrutou de um
favor cada vez maior, chegando a ser transposta para o motete e para a música da
missa.
Na época do renascimento, a música seguia novos aspetos tendenciais, como
por exemplo, passou a ter uma escrita equilibrada a quatro partes, tanto no género
vocal como o género instrumental, adotando a textura clássica de SATB, em que a voz
do tenor cede a importância a outras vozes e que corresponde ao seguinte esquema:
Soprano – superius, a voz mais aguda
Alto – contra (tenor) altus, contralto, uma voz intermédia
Tenor – tenor, a voz que sustenta as restantes
Baixo – contra (tenor) basso, contrabaixo, a voz mais grave
Havia um predomínio melódico da voz superior e a definição harmónica do baixo,
passou a existir uma frase musical adequada á respiração e um discurso imitativo e
expressivo e houve também a progressiva afirmação da consonância harmónica de
terceiras e quintas (acorde perfeito) e das cadências harmónicas clássicas (perfeita,
plagal e interrompida).
A música continua a ser modal, mas com alguma tendência para a tonalidade,
seguindo de acordo com as introduções da “música ficta”, e é durante este período
que se dá a transição do sistema modal para o tonal. Passamos a ter uma polifonia
mais elaborada, explorando algumas fórmulas imitativas dando-se assim o estilo
imitativo. Foi a principal divulgadora deste novo estilo musical a religião flamenca
comarca da atual frança, que por esta razão ficou conhecida como “Escola Franco-
Flamenga”.
A música instrumental vai ser desenvolvida nos mesmos parâmetros da música vocal,
havendo muito repertório de música vocal a ser transposta para a música
instrumental, dando-se assim o desenvolvimento dos instrumentos por famílias que
reproduziam os diversos registos vocais. Houve maior destaque nos desenvolvimentos
nos instrumentos das palhetas seguindo-se os instrumentos de cordas.

Os centros de atividade musical

As atividades musicais fazem-se cada vez mais nas catedrais e nas capelas reais
ou principescas, por outro lado os mosteiros e conventos continuam a privilegiar o
cantochão, embora se tivesse a prática polifónica, que chega a ser notável como em
Santa Cruz de Coimbra.
Apesar dos mosteiros e conventos privilegiarem o cantochão, mesmo que com
a prática polifónica, a nova música começa a ter maior foco em catedrais e capelas
reais ou principescas.
O colégio dos meninos de coro funciona em regime de internado junto das
catedrais e era lecionado pelo Mestre de Capela. Admitia rapazes entre os 8 e os 12
anos, que frequentavam aulas diárias de latim, cantochão, contraponto e ensaiavam o
reportório para as principais celebrações litúrgicas.
O colégio dos meninos do coro tinha lugar junto das catedrais, colégio este que
funcionava em regime de internato, admitia rapazes dos oito aos doze anos, escolhidos
rigorosamente, frequentavam diariamente aulas de contraponto, cantochão e latim, e
ensaiavam o repertório litúrgicos e cantavam nas principais celebrações da liturgia sob
a direção de um Mestre de Capela.

Núcleos musicais da Europa


Podia afirmar-se que a atividade musical era contínua em todas as regiões da
cristandade mas, na verdade, após a afirmação da Ars nova e a autoridade Papal ter
assumido posições moderadoras da Música, estabeleceu-se na europa um verdadeiro
movimento musical, no qual é notório na música influências das regiões vizinhas. Desta
forma a Ars nova italiana começou a afirmar uma acentuada inclinação para o
melodismo por influência da <<contenance angloise>> com o equilíbrio da combinação
de melodia com harmonia e com a evolução da técnica contrapontista, determinaram
um novo estilo musical, tendo iniciado na Borgonha e na Flandres, mas que acabará
por ter influência em todo o resto da europa.

Borgonha/Flandres
A música Floresce apoiada por príncipes e burgueses e também pelos
responsáveis hierárquicos. No final do Séc. XIV e inícios do Séc. XV foram criadas, um
pouco por toda a europa, capelas com excelentes recursos musicais papas, reis e
príncipes disputavam o serviço dos cantores e compositores destintos. Os duques de
Borgonha tinham uma capela, com o auxílio de compositores, cantores e
instrumentistas que faziam música para os serviços divinos, contribuindo também para
os divertimentos profanos da core, e acompanhavam o seu senhor em viagens. A corte
e a capela de Filipe o Bom, foram as mais brilhantes da europa. Nas primeiras décadas
do século os músicos eram recrutados principalmente do Norte da França. A maioria
dos músicos eram naturais da Flandres e dos Países Baixos visto que Filipe o Bom e o
seu sucessor Carlos o Temerário passaram pouco tempo em Dijon, capital de
Borgonha. Além da capela Filipe o Bom detinha um grupo de menestréis – tocadores
de trombeta, tambor, vilela, alaúde, harpa, órgão, gaita de foles e charamela – entre
os quais franceses, italianos, alemães e portugueses. Esta corte era ainda reforçada
pelas visitas frequentes de músicos estrangeiros e pela enorme mobilidade dos
próprios elementos da capela, passando do serviço de um para o serviço de outro
senhor em busca de mais oportunidades.
Nestas circunstâncias, o estilo musical era considerado internacional; o
prestigio da corte borgonhesa era tal que tinha influência noutros centros musicais
europeus, como as capelas do papa em Roma, do imperador da Alemanha, dos reis de
frança e Inglaterra e das diversas cortes Italianas, bem como os coros das catedrais,
alguns músicos destes centros, estiveram ou esperavam estar ao serviço do próprio
duque da Borgonha.

França
O atraso no florescimento da polifonia renascentista em França pode ser
explicado pela instabilidade provocada pela Guerra dos Cem Anos. Paris não era o
principal centro de atividade musical, mas era o mais importante devido ao seu
número elevado de capelas, à grande adesão de impressores musicais e à própria
corte, porem Lyon será sempre o ponto de encontro entre os compositores Italianos e
Flamengos.
Pierre Attaignant, imprime as suas coleções de motetes, de missas e
chansons, onde dá mais importância aos compositores franceses, entre os quais
Claudin de Sermisy, Claude Goudimel, Pierre Certon, Claude de le June e muitos
outros.

Itália
A presença constante de músicos “ultramontanos “na Itália renascentista, o
que provava o internacionalismo desta época histórica. Pode-se confirmar a presença
de quase todos os músicos flamengos em uma ou em várias cidades italianas. A
hegemonia musical italiana, que acontecera nos séculos XVII e XVIII ainda estava muito
longe. Atividades dos músicos flamengos em Itália permitiu o exercício da
complementaridade entre a técnica nórdica e o gosto local, levado a cabo por
compositores como Wilaert e Roland de Lassus. Aconteceu um fenómeno de
enriquecimento mútuo a Itália com o virtuosismo contrapontístico flamengo e o centro
europeu com a expressão do melodismo italiano.

Alemanha/Baviera: Munique
A vida musical alemã tinha pouco significado antes de meados do Séc. XVI para
além do gosto musical alimentado pelos Meistersinger. Uma forma única e original e
um gosto popular e erudito – Tenorlied – será já resultado de algumas influências
estrangeiras sobretudo flamencas. Na verdade, pode afirmar-se que quase a totalidade
dos músicos que frequentam as capelas alemãs, até ao tempo de Lutero, são
estrangeiros.
Na reforma operada por Lutero, a música terá uma expressão importante, uma
vez que é a partir da renovação litúrgica e do próprio exemplo de Lutero que vai nascer
um renovado interesse pela música na Alemanha, sobretudo nas regiões que vão
aderir à reforma.
Parte católica alemã não ficara de fora da renovação musical, como é o caso da
corte de Munique, que ao convidar Roland de Lassus para ser o seu mestre de capela,
encontrou um nome que bastará para elevar aquele centro a um dos mais elevados da
comunidade musical.

Inglaterra
A música inglesa, e de um modo geral EM TODO O NORTE EUROPEU,
caracteriza-se desde os tempos mais antigos por uma relação bastante estreita com o
estilo popular e por certa oposição em levar às últimas consequências, as teorias
musicais abstratas. Sempre houve na música inglesa uma tendência para a tonalidade
maior por oposição às linhas independentes, aos textos divergentes e às dissonâncias
harmónicas do motete francês, para uma maior plenitude de som e para um uso mais
livre das terceiras e sextas do que na música do continente. As terceiras paralelas
surgem, por exemplo no Hino a S. Magno, santo padroeiro das ilhas Orkney, que é uma
peça do século XII. A improvisação e a escrita musical em terceiras e sextas paralelas
eram recorrentes na prática polifónica do século XIII inglês.
As fontes mais importantes que nos dão a conhecer a música quatrocentista
inglesa são uma serie de fragmentos de manuscritos que contêm obras que apontam
para a existência de uma escola de composição centrada na catedral de Worcester.
Entre elas contam-se principalmente tropos de várias partes do ordinário da missa,
seleções do próprio da missa, motetes e conductos.
O culto litúrgico de Salisbúria influenciava grande parte da igreja inglesa, onde
era permitido uma expressão solene, e deram o seu contributo músicos importantes
como Fayrfax e Tavener.

Espanha e Portugal

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