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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


CURSO DE TECNOLOGIA EM LUTERIA

Música Medieval

Prof. Juarez Bergmann Filho


Medieval = Idade Média
Período compreendido entre a queda do império Romano e
o Início da Renascença [Séc. XV].
 Regime Feudal
Consolidação da Igreja Católica
Pensamento Teocêntrico

Sim, foi um período de muitas guerras, epidemias,


fanatismos mas ainda assim de riquíssima produção
cultural.
[arquitetura, marcenaria, artes visuais, literatura como
canções e romances de cavalaria, baladas, fábulas]
Música
Principalmente Religiosa.
Manifestada pelo canto “gregoriano”
Herança dos cânticos judaicos.
Canções gregas e Romanas adaptadas
Canto
Ambrosino (Milão)

Vieux-Roman – Bizantino e Roma

Mozarabe ( moçárabe) (península Ibérica)

Gálico (França)

Beneventino (sul da Itália)


Histórico.
Com a rápida expansão do cristianismo, o Vaticano
necessitou de um maior rigor no controle das práticas
religiosas no mundo ocidental.
Por essa razão unificou os ritos religiosos incluindo a
música.
O papa Gregório I (São Gregório, o Magno)
institucionalizou o canto gregoriano, através de uma
reforma litúrgica, que se tornou modelo para a Europa
católica
Canto Gregoriano
Schola Cantorum, em Roma (Século V)

Gregório Magno torna-se papa em 590 d.C.


Padronização dos ritos musicais.
Início da “Ars Antiqua” (arte antiga) é aquela que
abrange desde o canto gregoriano até a invenção do
moteto.
dos séculos VII a XIII.
Características
é o canto oficial da Igreja Católica;
o texto é em latim;
a importância é dada ao texto e não à música (objetivo é propagar a fé e não
fazer um recital);
deveriam ser cantados por homens (mas recentes pesquisas em conventos,
descobriram milhares de cânticos compostos e interpretados por mulheres);
não pode ter acompanhamento instrumental de qualquer espécie;
o ritmo depende das palavras, portanto é livre de fórmulas de compasso
melodias simples com pouca mudança de notas e uma tessitura menor que
uma oitava;
monofônico (uma única linha melódica);
diatônico (escalas sem alteração cromática ou microtonal);
modal (escalas de sete sons, ligeiramente diferentes das nossas escalas);
não tem preocupação com a dinâmica;
o andamento, geralmente, é lento;
os compositores são anônimos, pertencentes ao clero.
Cantochão
É a base melódica de toda a estrutura musical
medieval.
é estruturado com melodia única, geralmente cantada
por vozes masculinas com ritmo livre que seguia o
ritmo prosódico das palavras latinas dos salmos e
orações.
Mais à frente passou a ser usado como tema básico nas
composição polifônicas como os organum, sendo
chamado de cantus firmus.
Notação Musical.
A notação musical sofre transformações, e os neumas
são substituídos pelo sistema de notação com linhas e
espaços adjacentes.

Guido D'Arezzo (992-1050) foi o responsável pelo


estabelecimento desse sistema de notação musical, de
onde se originou a atual pauta musical – ou
pentagrama.
Nomenclatura.
Foi Guido d'Arezzo que nomeou as notas musicais
como são conhecidas atualmente, usando o texto de
um hino a São João Batista onde cada estrofe inicia
com uma nota musical.
Anteriormente, as notas eram designadas pelas sete
primeiras letras do alfabeto latino. Desse modo, as
notas musicais passaram a ser chamadas UT, RE, MI,
FA, SOL, LA e SI.
UT queant laxis
REsonare fibris
MIra gestorum
FAmuli tuorum,
SOLve polluti
LAbii reatum,
Sancte Ioannes

Tradução: Para que os servos possam, com suas vozes


soltas, ressoar as maravilhas de vossos atos, limpa a
culpa do lábio manchado, ó São João!
Neumas
Hino a São João Batista.
Música polifônica

Os sistemas de notação impulsionam a música


polifônica já que era possível um maior controle e
organização dos sons a serem cantados.
Isto possibilitou uma crescente elaboração da música
como um todo.
Surge o canto paralelo em intervalos de quintas (dó-
sol), quartas (dó-fá) e oitavas (dó-dó).
É designado organum paralelo.
Organum – séculos IX a XIII.
primeiros trabalhos polifônicos
Os compositores passaram a ornamentar mais as suas
músicas usando mais de uma linha melódica dando
origem ao organum:

O Organum é a transformação do cantochão.


O organum paralelo e no século XII cede espaço ao
organum polifônico,
vozes não são mais paralelas, mas sim independentes.
Hildegard von Bingen. (1098 - 1179)

foi uma monja beneditina, mística, teóloga,


compositora, pregadora, naturalista, médica informal,
poetisa, dramaturga e escritora alemã, e mestra do
Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na
Alemanha.

Hoje é considerada uma das figuras mais singulares e


importantes do século XII europeu
suas conquistas têm poucos paralelos mesmo entre os
ilustres e eruditos de sua geração.
Hildegard foi autora de várias obras musicais de
temática religiosa
Ordo Virtutum, uma espécie de ópera que relata um
diálogo de um grupo de freiras com Deus.
http://www.youtube.com/watch?v=O2aKyH2NhW0
Escreveu dois dos únicos livros de medicina da Europa
no século XII,
demonstrou um conhecimento notável de plantas
medicinais.
Na sua obra encontram-se escritos sobre temáticas
místico-religiosas e médico-farmacêuticas.
Os livros de medicina são,
Liber simplicis medicinae sobre plantas, animais e
minerais de uso terapêutico
Liber compositae medicinae acerca da natureza,
causas e sintomas das doenças com base na fisiologia
microscópica.
 Descreve as doenças da cabeça aos pés, falando de questões
sexuais, doenças venéreas, higiene na gravidez e no pós-parto,
entre outros

Tornou-se numa figura espiritual reconhecida à qual


papas, reis, eclesiásticos e figuras dignatárias se
voltavam para conselhos. A sua influência foi
sentida por toda a Europa medieval.
A sua fama de mística e santidade ultrapassou as
fronteiras do seu convento e do seu país, chegando a
Roma. O papa Eugénio III estabeleceu uma
comissão para investigar a sanidade de Hildegard e a
validade das suas obras.

A comissão visitou Bingen e após diversas


entrevistas com Hildegard, a abadessa foi
considerada sã.

Após quatro tentativas de canonização, Hildegard


permanece apenas beatificada.
A Igreja Anglicana a reconhece como santa.
É considerada a padroeira dos lingüistas.
Escola de Notre Dame.

O grupo de compositores que trabalharam na Catedral


de Notre Dame em Paris a partir de cerca de 1160-
1250, juntamente com a música que eles produziram.
Os compositores cujos nomes chegaram até nós a
partir deste momento são apenas Léonin e Pérotin.
Ambos foram citados por um aluno anônimo inglês,
conhecido como Anonymous IV, que estava
trabalhando ou estudando em Notre Dame no final do
século 13.
Leonin, ou Leoninus (Paris, c. 1135 – 1201)
Primeiro grande representante da Escola de Notre
Dame, era considerado o melhor compositor de organa
do seu tempo
Não foi encontrado qualquer documento que pudesse
estabelecer a sua biografia, nem qualquer manuscrito que
lhe pudesse ser atribuído com certeza.
A única referência escrita a um músico chamado
Léonin foi registrada mais de um século após sua
morte.
“O maior compositor de organum para amplificação do
serviço divino“
Pérotin (c. 1160 – Paris, c. 1236)
Também não se possui quaisquer informações
biográficas acerca deste músico genial.
Pérotin é o primeiro compositor de quadruplum
organum - quatro vozes de polifona – ou pelo menos o
primeiro compositor cuja música tenha sobrevivido.

À volta de Perotin e de seu predecessor, Leonin, devem


ter gravitado numerosos alunos anônimos, de que foram
encontrados algumas obras e que são designados pelo
nome genérico de Escola de Notre-Dame.
Perotin - Alleluia nativitas
Motetos Medievais
Nesta época surgiram os primeiros Motetos.
Os primeiros motetos são os motetos Notre Dame.
Foram motetos polifônicos, com um texto diferente em
cada voz.
Dessa característica vem a origem do termo, derivado
de mot, palavra, em francês.
Ars Nova.

Ars nova (em português: arte ou técnica nova) foi o


nome dado em sua origem, estritamente, a um novo
método de notação musical, ars nova notandi (nova
técnica de notação).
Porém, as grandes facilidades de escrita que o método
introduziu propiciaram o desenvolvimento de todo um
novo estilo musical, que acabou por receber o mesmo
nome, vigorando no século XIV, especialmente na
França e na Itália.
O tratado musical do compositor Philippe de Vitry
intitulado Ars Nova inaugura o período.
Variados recursos técnicos são utilizados para dar
uniformidade às diversas vozes da polifonia: as linhas
melódicas são comprimidas ou ampliadas e muitas
vezes sofrem um processo de inversão.
Notação Musical no estilo da Ars Nova.
Métrica.
Guillaume de Machaut
Guillaume de Machaut é o grande mestre desse
período. Utiliza, com precisão, recursos como os
baixos contínuos e a isoritmia – relação de
proporcionalidade entre todas as linhas melódicas da
polifonia, possibilitando que as vozes se desenvolvam
sobre uma única base rítmica.
Criou a Missa de Notre Dame
Exemplo de Isoritmia
Principais compositores do período
Philippe de Vitry (1291 — 1361)
Guillaume de Machaut (1300 - 1377)
Francesco Landini (1325 - 1397)
Música Secular
Trovador (Trouvèrs e Troubadours)
Trovador, na lírica medieval, era o artista de origem
nobre do sul da França que, geralmente acompanhado
de instrumentos musicais, compunha e entoava
cantigas.
Trovadorismo é a primeira manifestação literária da
língua portuguesa. - Cantigas de Santa Maria.
Cantigas de Santa Maria

As Cantigas de Santa Maria são um conjunto de


quatrocentas e vinte e sete composições em galego-
português.
Encontram-se repartidas em quatro manuscritos, um
deles na Biblioteca Nacional da Espanha (Codex To,
por Toledo), dois no Escorial (Codex E e T) e o quarto
em Florença (Codex F).
Partituras – Melodia e
Letra.
http://www.pbm.com/~lin
dahl/cantigas/images/
Menestrel

Menestrel, na Europa medieval, era o poeta e bardo


cujo desempenho lírico referia-se a histórias de lugares
distantes ou sobre eventos históricos reais ou
imaginários.
Embora criassem seus próprios contos, muitas vezes
memorizavam e floreavam obras de outros.
 À medida que as cortes foram ficando mais
sofisticadas, os menestréis eram substituídos por
trovadores, e vários deles tornaram-se errantes,
apresentando-se para a população comum, tornando-se
assim os divulgadores das obras de outros autores.
Jograis

Jogral, na lírica medieval, era o artista profissional, de


origem popular (vilão, ou seja, não pertencendo à
nobreza), que geralmente cantava ou tocava
instrumentos musicais, como o alaúde ou a cistre.
Alguns jograis compunham também as suas próprias
melodias e poemas.
Instrumentos da Idade Média
Flauta Reta
As flautas retas englobam as flautas doces (flauta de
oito furos, um deles na parte posterior destinado ao
polegar) e as flautas de seis furos com agudos feitos
através de harmônicos, já que não possuem o furo
posterior.
É classificado na Idade Média como instrumento de
som suave, baixo volume.
Flautas doce
Flauta Transversal
Presente em Bizâncio pelo menos desde o século XI, é
pela primeira vez representada no manuscrito
d’Herrade de Landsberg. Os estudiosos dos
instrumentos do período estão de acordo em afirmar
que a flauta transversal, bem como as flautas retas,
tinham formato cilíndrico
Flautas ilustradas nas Cantigas de Santa
Maria
Cornamusa

Instrumento de sopro dotado de palheta dupla e


inserido em um reservatório de pele hermético (odre
ou saco).
O ar entra no odre através de um tubo superior, com
uma válvula para impedir o seu retorno. Na Idade
Média este instrumento podia ou não ter um bordão
Vièle de Arco
Os instrumentos de cordas friccionadas da Idade
Média, chamados Vièle, Fiddle, Giga e Lira,
começaram a ser utilizados no século X, quando o arco
surge na Europa (introduzido provavelmente pelos
árabes). A Viela de arco pode ter formas bastante
diversas e apresenta normalmente de três a cinco
cordas. Pode ser tocada apoiada no ombro ou no
joelho.
Vielle
Viela de Roda ou Symphonia
É uma espécie de Viela em que o arco é substituído por
uma roda, que fricciona as cordas sob a ação de uma
manivela. As cordas são encurtadas não diretamente
pelos dedos, mas através de um teclado.
Vielle a Roue – Hurdy Gurdy
Outros Formatos
Alaúde
O Alaúde, na forma que a Renascença tornou famosa,
só foi introduzido na Europa no século XII, pelos
mouros, com seu nome árabe (Al’ud, que se tornou
Laud na Espanha, depois Luth na França).
No fim do século XIV, adquiriu aspecto característico
com caixa piriforme e o cravelhal recurvado para trás.

Cítola ou cistre: instrumento de 4 cordas de arame


Alaúde Cistre
Detalhe da boca de um alaúde
Cítola ou Cistre
Rabeca
Instrumento de cordas friccionadas com caixa
monóxila, isto é, escavada em uma só peça de madeira.
As formas variavam entre as ovais, elípticas ou
retangulares. De proporções menores do que a viela de
arco tem um som agudo e penetrante.
Saltério
Aparece no século XII numa escultura da catedral de
Santiago de Compostela. Neste instrumento as cordas
são estendidas em todo o seu comprimento acima da
caixa de ressonância, ao contrário do princípio da
harpa. É tocado pinçando-se as cordas com os dedos
ou com plectro.
Organetto ou Portativo
Bizâncio foi o primeiro centro de construção de órgãos
da Idade Média. O Organetto é o antecessor da Gaita
de Fole escocesa. Também chamado de Portativo,
porque podia ser carregado pelo executante.
Francesco Landini tocando um Organetto

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