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AULA Nº 40 a 42
SUMÁRIO:
- Guillaume de Machaut
Pequena biografia, obra, salientando a “Messe de Nostre-Dame”
- O Trecento Italiano:
Compositores, repertório e géneros
Interpretação da música e o papel dos instrumentos
A musica ficta
- Ars Subtilior
- A música inglesa dos séculos XIV e XV:
- Formas e estruturas composicionais
- O manuscrito de Old Hall
- John Dunstable
Nasceu em Reims, localidade onde fez a sua formação. Teve instrução clerical e foi
ordenado sacerdote. Foi secretário do Rei do Luxemburgo, João da Boémia,
acompanhando-o em diversas campanhas militares pela Europa.
Em 1340 é ordenado Cónego da Catedral de Reims.
Ganhou fama não só como músico, mas também como poeta. A sua obra musical
inclui exemplos de quase todas as formas em uso no seu tempo e revela-o como um
compositor que combina tendências conservadoras e progressistas.
________________________________________MESSE DE NOTRE-DAME
É a composição mais famosa do século XIV. É uma composição com arranjo para 4
VOZES do ORDINÁRIO DA MISSA, incluindo o Ite, missa est.
É o primeiro ciclo concebido como um todo musical. Anteriormente já existiam ciclos
feitas, mas compostos por secções individuais não-cíclicas, e compiladas em
manuscritos de forma correspondente (todos os Kyrie, todos os Gloria, etc.)
O século XII e XIII viu interesse por parte dos compositores principalmente pelos
textos do PRÓPRIO DA MISSA, como exemplificam os GRADUAIS e os ALELUIAS
dos organa de Léonin e Pérotoin.
Também se musicavam partes do ORDINÁRIO, mas a combinação dessas era
arbitrária aquando da interpretação conjunta no serviço religioso. NÃO se tinha em
conta o modo ou o material temático. As partes do Ordinário eram agrupadas
separadamente e o mestre de coro escolhia-as à sua maneira.
Este tipo de atitude estende-se até ao século XV, sendo que a “Messe de Notre-
Dame” é excepcional não só para a época, mas para os 75 anos seguintes.
__________________________________________TRECENTO ITALIANO
Desenvolve-se uma polifonia autónoma paralela à Ars Nova, mas com características
diferentes. Tal acontece principalmente devido às diferenças de atmosfera social e
política: - ao contrário da França – que vive um período de estabilidade política com
o poder crescente da Monarquia -, a Itália era uma colecção de cidades-estado
sempre em turbulência pela conquista de poder.
A origem da música do Trecento é repartida por duas ideias:
1º) possível influência francesa através da LAUDA – canção devocional de
carácter homofónico)
2º) possível pré-existência no século XIII de uma prática polifónica de
carácter sacro, onde a riqueza improvisatória viria a influenciar as composições do
Trecento.
O estilo do Trecento é mais livre e menos rígido do que o francês e vem antever em
grande medida o Renascimento. Existe uma clara preferência pelas vozes agudas
masculinas.
__________________________________COMPOSITORES IMPORTANTES
JACOPO DE BOLONHA
Activo entre 1340 e 1360, foi músico na corte dos Visconti, em Milão, e
posteriormente ao serviço dos Della Scala, em Verona. Escreveu 29 Madrigais, 3
Caccie, 1 Lauda e 1 Motete.
FRANCESCO LANDINI (1325-1397)
- Compositor, poeta, teórico e organista
- Natural de Florença, cegou ainda criança devido a uma epidemia de varíola
- Especializou-se em órgão portátil
- Em 1361 foi nomeado organista no mosteiro da Santíssima Trindade em Florença,
e em 1365 na Igreja de S. Lourenço
- Foi o principal compositor do Trecento italiano, e do qual se possuem mais obras
- Compôs 140 ballate a 2 e 3 vozes, 12 madrigais e 4 motetes (incompletos)
_________________________________________________REPERTÓRIO
Até ao século XIV não há uma tradição polifónica documentada, mas a partir daí
chegam-nos 650 peças, em mais de 30 manuscritos. Dois Codex sobressaem:
CODEX ROSSI – Roma, Biblioteca Vaticana, ca. 1350 – 37 peças das quais 30
Madrigais
CODEX SQUARCIALUPI – Florença, Biblioteca Mediceo, 1ª metade do século XIV
– 350 peças, entre as quais 226 ballate, 12 madrigais e 12 caccie
___________________________________________________GÉNEROS
MADRIGAL
- Fala de idílios pastorais e campestres, de moral, de sátira
- Formalmente abarca 2 ou 3 estrofes (piedi) e um Ritornello com versos
emparelhados (coppia) – A A B
- onde A se divide em 3 frases – a, b, c - com uma melodia e B normalmente em 2
– d, e – com outra melodia
- A voz principal é a SUPERIOR e o texto é IGUAL para ambas as vozes
CACCIA
- TAL como a chasse francesa, a temática é a das caçadas e das cenas turbulentas,
mais tarde adoptando também temas amorosos.
- Consiste em 2 vozes superiores animadas, que se movem em uníssono e uma voz
inferior INSTRUMENTAL
- Forma bipartida – exposição longa e ritornello breve
BALLATA
- Composição assemelha-se ao Madrigal, (2 vv. Primeiro – ca. 1360 – depois 3 vv.)
mas aqui há a possibilidade de ter a parte instrumental acompanhada
Existem 3 tipos de Ballata a 3 vozes:
TIPO I – 2 partes vocais – cantus e tenor (vozes agudas masculinas) e um
contratenor instrumental; TIPO II – 3 partes vocais; TIPO III – 1 parte vocal e 2
instrumentais.
Contextualização
SÉCULO XIV
A música inglesa caracteriza-se desde os tempos mais remotos por uma relação
bastante estreita com o estilo popular e por uma certa relutância em levar avante,
na prática, as teorias musicais abstractas.
Uso de terceiras e sextas sempre foi muito mais livre do que no continente e,
contrapondo com as dissonâncias do motete francês, havia uma maior tendência para
uma “tonalidade maior”. As 3as paralelas surgem já nos séculos XII – por exemplo no
Hino a S. Magno - e XIII, onde a improvisação e escrita em terceiras e sextas eram
correntes na prática polifónica desse século.
Existe um conhecimento das obras de Notre-Dame nas ilhas britânicas – uma das
principais fontes manuscritas, o manuscrito Wolfenbuttel 667 (W1) terá sido copiada
em Inglaterra ou na Escócia. Este manuscrito contém peças de Notre-Dame e outras
que em tempos sugeriam ser de origem britânica. Na sua grande maioria são tropos
e sequências a duas vozes, semelhantes aos conductus silábicos, mas com a voz
superior ligeiramente mais melismática que o tenor.
No séc. XIII há conductus e motetes a 3 vozes que são conhecidos no continente.
Um deles, pelo menos, está no Códice de Montpellier.
Discantus – (Discante) Não é uma forma musical, mas sim uma prática. Consiste
em cantar uma melodia não escrita sobre um cantus firmus.
Fauxbourdon (faburden) – Composição a duas vozes que evolui em 3as e 6as
paralelas, com 8as intercaladas e sempre com uma 8a no final de cada frase; a estas
vozes escritas, juntava-se uma terceira voz, movendo-se invariavelmente uma 4a
abaixo do soprano, assemelhando-se assim às passagens do discante inglês. Aqui
a diferença encontra-se no facto da melodia principal ser a do soprano, enquanto que
no discante inglês o cantus firmus era a voz do meio ou a mais grave.
Eram utilizadas nos cânticos mais simples do Ofício como Hinos e Antífonas, mas a
consequência prática mais importante deste dispositivo não eram estas peças, mas
sim a emergência de um novo estilo de escrita a 3 vozes. A voz principal é a mais
aguda.
A semelhança rítmica entre o “soprano” e o “tenor”, e depois com o “contratenor”,
cria novas sonoridades mais consonantes e progressões mais harmoniosas que vão
ter muita influência na História da Música no que concerne à composição – textura
homofónica (ou homorrítmica) de harmonias consonantes e do reconhecimento da
sonoridade de 6a-3a como elemento fundamental do vocabulário harmónico.
A mais importante colectânea inglesa desta época contém 147 composições datas
de entre cerca de 1370 e 1420, sendo que quase todas são peças do Ordinário da
Missa e o resto são Motetes, Hinos e Sequências.
A maior parte das peças da Missa são em estilo discante inglês, por vezes
modificado pela grande actividade da voz superior.
Muitas vezes incorporam o cantus firmus numa das vozes intermédias.
Outros trechos da Missa são em estilo de cantilena com melodia principal no
soprano; Noutros casos, o cantus firmus é “errante” – passa por todas as vozes.
Quase sempre ao serviço do duque de Bedford, que esteve como regente de França
de 1422 a 1435 onde comandou exércitos ingleses que combateram Joana D’Arc. Os
ingleses tinham grandes possessões e ambições em França nesta época e tal explica
em parte a presença de Dunstable e outros compositores no continente.
Conhecem-se cerca de 70 composições de Dunstable, que compreendem exemplos
de todos os principais estilos de polifonia do seu tempo:
12 Motetes isorrítmicos; Partes do Ordinário da Missa; Cantigas profanas e
obras a 3 vozes sobre diversos textos litúrgicos. Estas últimas são das mais
importantes para a História da Música. São composições sobre Antífonas, Hinos, etc.
Vários tipos de composição para estas peças.
a) Cantus firmus na voz de Tenor;
b) Linha melódica ornamentada no Soprano e uma melodia extraída de outra peça
na voz do meio que evolui quase sempre em 3ªs e 6ªs acima do Tenor;
c) Melodia de cantochão ornamentado no Soprano;
d) Compostas livremente sem material temático extraído de outro repertório.