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HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL - 1º ANO

AULA Nº 40 a 42

SUMÁRIO:

- Guillaume de Machaut
Pequena biografia, obra, salientando a “Messe de Nostre-Dame”
- O Trecento Italiano:
Compositores, repertório e géneros
Interpretação da música e o papel dos instrumentos
A musica ficta
- Ars Subtilior
- A música inglesa dos séculos XIV e XV:
- Formas e estruturas composicionais
- O manuscrito de Old Hall
- John Dunstable

____________________________GUILLAUME DE MACHAUT (1300-1377)

Nasceu em Reims, localidade onde fez a sua formação. Teve instrução clerical e foi
ordenado sacerdote. Foi secretário do Rei do Luxemburgo, João da Boémia,
acompanhando-o em diversas campanhas militares pela Europa.
Em 1340 é ordenado Cónego da Catedral de Reims.
Ganhou fama não só como músico, mas também como poeta. A sua obra musical
inclui exemplos de quase todas as formas em uso no seu tempo e revela-o como um
compositor que combina tendências conservadoras e progressistas.

Os seus motetes baseiam-se no modelo tradicional:


- Tenor instrumental litúrgico (apesar de por vezes aparecer com voz);
- Textos diferentes para as vozes superiores
Acompanham a tendência da época para uma maior secularização, maior duração e
maior complexidade rítmica.
______________________________________________OBRA PROFANA

19 Lais – forma do século XIII semelhante à SEQUÊNCIA

25 Virelais – forma ABBC (A), onde A=refrão; B=Estrofe; e C=Epodo. Os versos


são de extensão desigual. A e C podem ser melodicamente iguais.

22 Rondeaux – canção de roda, como o Virelai, só utilizava 2 frases musicais


combinadas segundo um esquema ABaAabAB, onde as maiúsculas são o refrão

42 Ballades – normalmente têm uma introdução (envoi) e 3 estrofes com refrão,


com a forma ABBC

________________________________________MESSE DE NOTRE-DAME

É a composição mais famosa do século XIV. É uma composição com arranjo para 4
VOZES do ORDINÁRIO DA MISSA, incluindo o Ite, missa est.
É o primeiro ciclo concebido como um todo musical. Anteriormente já existiam ciclos
feitas, mas compostos por secções individuais não-cíclicas, e compiladas em
manuscritos de forma correspondente (todos os Kyrie, todos os Gloria, etc.)
O século XII e XIII viu interesse por parte dos compositores principalmente pelos
textos do PRÓPRIO DA MISSA, como exemplificam os GRADUAIS e os ALELUIAS
dos organa de Léonin e Pérotoin.
Também se musicavam partes do ORDINÁRIO, mas a combinação dessas era
arbitrária aquando da interpretação conjunta no serviço religioso. NÃO se tinha em
conta o modo ou o material temático. As partes do Ordinário eram agrupadas
separadamente e o mestre de coro escolhia-as à sua maneira.
Este tipo de atitude estende-se até ao século XV, sendo que a “Messe de Notre-
Dame” é excepcional não só para a época, mas para os 75 anos seguintes.

__________________________________________TRECENTO ITALIANO

Desenvolve-se uma polifonia autónoma paralela à Ars Nova, mas com características
diferentes. Tal acontece principalmente devido às diferenças de atmosfera social e
política: - ao contrário da França – que vive um período de estabilidade política com
o poder crescente da Monarquia -, a Itália era uma colecção de cidades-estado
sempre em turbulência pela conquista de poder.
A origem da música do Trecento é repartida por duas ideias:
1º) possível influência francesa através da LAUDA – canção devocional de
carácter homofónico)
2º) possível pré-existência no século XIII de uma prática polifónica de
carácter sacro, onde a riqueza improvisatória viria a influenciar as composições do
Trecento.

Existem duas fases distintas para esta época:


 Fase de afirmação de formas distintas do repertório francês, com um
sistema de notação própria
 Último terço do século XIV com a progressiva absorção do sistema de
notação francês e mistura de formas italianas e francesas. Este facto
está relacionado com o domínio de príncipes franceses nalgumas cidades
italianas e o regresso do Papa de Avignon para Roma em 1377.

Itália adopta o motete isorrítmico e pluritextual, a técnica de cantilena –


composição feita através de pequenas células musicais, repetidas e com textos
aplicados, resultando em peças extensas e complexas -, os métodos de notação
franceses e mesmo textos franceses.

A produção musical polifónica está a cargo da ARISTOCRACIA, feita


predominantemente, até cerca de 1350, nas cidades no Norte da Itália, depois em
Florença especialmente.
As cortes mais importantes são:
Milão (com as famílias Visconti e Sforza); Verona (com a família Della Scala);
Mântua (com a família Gonzaga); Pádua; Modena; Ferrara

O estilo do Trecento é mais livre e menos rígido do que o francês e vem antever em
grande medida o Renascimento. Existe uma clara preferência pelas vozes agudas
masculinas.

__________________________________COMPOSITORES IMPORTANTES

JACOPO DE BOLONHA
Activo entre 1340 e 1360, foi músico na corte dos Visconti, em Milão, e
posteriormente ao serviço dos Della Scala, em Verona. Escreveu 29 Madrigais, 3
Caccie, 1 Lauda e 1 Motete.
FRANCESCO LANDINI (1325-1397)
- Compositor, poeta, teórico e organista
- Natural de Florença, cegou ainda criança devido a uma epidemia de varíola
- Especializou-se em órgão portátil
- Em 1361 foi nomeado organista no mosteiro da Santíssima Trindade em Florença,
e em 1365 na Igreja de S. Lourenço
- Foi o principal compositor do Trecento italiano, e do qual se possuem mais obras
- Compôs 140 ballate a 2 e 3 vozes, 12 madrigais e 4 motetes (incompletos)

As composições deste período eram feitas principalmente sobre textos de Petrarca,


Bocaccio e Saccheti

_________________________________________________REPERTÓRIO

Até ao século XIV não há uma tradição polifónica documentada, mas a partir daí
chegam-nos 650 peças, em mais de 30 manuscritos. Dois Codex sobressaem:

CODEX ROSSI – Roma, Biblioteca Vaticana, ca. 1350 – 37 peças das quais 30
Madrigais
CODEX SQUARCIALUPI – Florença, Biblioteca Mediceo, 1ª metade do século XIV
– 350 peças, entre as quais 226 ballate, 12 madrigais e 12 caccie

___________________________________________________GÉNEROS

MADRIGAL
- Fala de idílios pastorais e campestres, de moral, de sátira
- Formalmente abarca 2 ou 3 estrofes (piedi) e um Ritornello com versos
emparelhados (coppia) – A A B
- onde A se divide em 3 frases – a, b, c - com uma melodia e B normalmente em 2
– d, e – com outra melodia
- A voz principal é a SUPERIOR e o texto é IGUAL para ambas as vozes

CACCIA
- TAL como a chasse francesa, a temática é a das caçadas e das cenas turbulentas,
mais tarde adoptando também temas amorosos.
- Consiste em 2 vozes superiores animadas, que se movem em uníssono e uma voz
inferior INSTRUMENTAL
- Forma bipartida – exposição longa e ritornello breve
BALLATA
- Composição assemelha-se ao Madrigal, (2 vv. Primeiro – ca. 1360 – depois 3 vv.)
mas aqui há a possibilidade de ter a parte instrumental acompanhada
Existem 3 tipos de Ballata a 3 vozes:
TIPO I – 2 partes vocais – cantus e tenor (vozes agudas masculinas) e um
contratenor instrumental; TIPO II – 3 partes vocais; TIPO III – 1 parte vocal e 2
instrumentais.

Contextualização
SÉCULO XIV

A variedade dos recursos musicais aumentou significativamente no século XIV,


havendo uma nítida transferência de interesses de composição sacra para a
composição profana. Nota-se também a crescente diversidade e a liberdade rítmica
que leva a um final de século com música quase impraticável, tal a sua complexidade.
Começa a sentir-se um sentido de organização harmónica, que se torna
evidente na organização de contraponto em torno do que já se antevê como “áreas
tonais”. As consonâncias imperfeitas – as 3as e as 6as – tinham a maior preferência
dos compositores, se bem que a sonoridade final acabasse num uníssono, numa 8ª
ou numa 5ª aberta. As passagens em 3as e 6as paralelas passaram a ser muito mais
frequentes. A música ficta dava ênfase aos pontos cadenciais, tornando a linha
melódica mais flexível. A estrutura abstracta, em camadas, do motete do século XIII
deu lugar a um idioma mais melódico-harmónico da textura da cantilena, em busca
de uma superfície musical mais atraente.
Em França, o motete perdurou como género composicional predilecto, agora não
predominantemente litúrgico, mas de carácter mais profano.
Surgem novas composições, algumas das quais – como a caccia e provavelmente o
madrigal – tiveram origem na prática musical popular; a ballata e outras canções
com refrão, herdadas do século XIII, filiavam-se também, mas ainda que mais
remotamente, em modelos populares.
Os tipos sofisticados, as forme fixes, que prolongam igualmente uma tradição
anterior, eram géneros não só musicais como literários: o virelai, a balade, e o
rondeaux.
Por volta de 1400 os dois estilos musicais de França e da Itália, originalmente bem
distintos, tinham já começado a fundir-se num só. Este estilo virá a diversificar-se
no século XV graças aos contributos provenientes de outras fontes, entre as quais se
destacam a Inglaterra e a zona dos Países Baixos.
_________________________________A Música Inglesa do séc. XIV e XV

A música inglesa caracteriza-se desde os tempos mais remotos por uma relação
bastante estreita com o estilo popular e por uma certa relutância em levar avante,
na prática, as teorias musicais abstractas.
Uso de terceiras e sextas sempre foi muito mais livre do que no continente e,
contrapondo com as dissonâncias do motete francês, havia uma maior tendência para
uma “tonalidade maior”. As 3as paralelas surgem já nos séculos XII – por exemplo no
Hino a S. Magno - e XIII, onde a improvisação e escrita em terceiras e sextas eram
correntes na prática polifónica desse século.
Existe um conhecimento das obras de Notre-Dame nas ilhas britânicas – uma das
principais fontes manuscritas, o manuscrito Wolfenbuttel 667 (W1) terá sido copiada
em Inglaterra ou na Escócia. Este manuscrito contém peças de Notre-Dame e outras
que em tempos sugeriam ser de origem britânica. Na sua grande maioria são tropos
e sequências a duas vozes, semelhantes aos conductus silábicos, mas com a voz
superior ligeiramente mais melismática que o tenor.
No séc. XIII há conductus e motetes a 3 vozes que são conhecidos no continente.
Um deles, pelo menos, está no Códice de Montpellier.

A base do repertório de cantochão era tirada do rito Sarum (da Catedral de


Salisbúria), algo diferente do rito romano. O cantochão continuava a ser tomado
como base para uma composição nova.

No século XIV existem então vários tipos de peças:

Rondellus – Um cânone ou round, de textura cordal, muita utilização de terceiras e


“tonalidade Maior”. Abaixo desta textura, dois tenores cantam um Pes, motivo
repetido de baixo com troca contínua de vozes.
O exemplo típico é o Summer is icumen in embora esta peça seja do XIII.

Conductus – A linha melódica é acompanhada por duas outras vozes, geralmente


em movimento paralelo, por forma a criar, de tempos a tempos sucessões de 3as e
6as simultâneas. É um tipo de composição que mostra a predilecção inglesa pelas 3as
e 6as e por sonoridades cheias e harmoniosas.

Discantus – (Discante) Não é uma forma musical, mas sim uma prática. Consiste
em cantar uma melodia não escrita sobre um cantus firmus.
Fauxbourdon (faburden) – Composição a duas vozes que evolui em 3as e 6as
paralelas, com 8as intercaladas e sempre com uma 8a no final de cada frase; a estas
vozes escritas, juntava-se uma terceira voz, movendo-se invariavelmente uma 4a
abaixo do soprano, assemelhando-se assim às passagens do discante inglês. Aqui
a diferença encontra-se no facto da melodia principal ser a do soprano, enquanto que
no discante inglês o cantus firmus era a voz do meio ou a mais grave.
Eram utilizadas nos cânticos mais simples do Ofício como Hinos e Antífonas, mas a
consequência prática mais importante deste dispositivo não eram estas peças, mas
sim a emergência de um novo estilo de escrita a 3 vozes. A voz principal é a mais
aguda.
A semelhança rítmica entre o “soprano” e o “tenor”, e depois com o “contratenor”,
cria novas sonoridades mais consonantes e progressões mais harmoniosas que vão
ter muita influência na História da Música no que concerne à composição – textura
homofónica (ou homorrítmica) de harmonias consonantes e do reconhecimento da
sonoridade de 6a-3a como elemento fundamental do vocabulário harmónico.

________________________________________O Manuscrito de Old Hall

A mais importante colectânea inglesa desta época contém 147 composições datas
de entre cerca de 1370 e 1420, sendo que quase todas são peças do Ordinário da
Missa e o resto são Motetes, Hinos e Sequências.
A maior parte das peças da Missa são em estilo discante inglês, por vezes
modificado pela grande actividade da voz superior.
Muitas vezes incorporam o cantus firmus numa das vozes intermédias.
Outros trechos da Missa são em estilo de cantilena com melodia principal no
soprano; Noutros casos, o cantus firmus é “errante” – passa por todas as vozes.

________________________________John Dunstable – (c. 1385 – 1453)

Quase sempre ao serviço do duque de Bedford, que esteve como regente de França
de 1422 a 1435 onde comandou exércitos ingleses que combateram Joana D’Arc. Os
ingleses tinham grandes possessões e ambições em França nesta época e tal explica
em parte a presença de Dunstable e outros compositores no continente.
Conhecem-se cerca de 70 composições de Dunstable, que compreendem exemplos
de todos os principais estilos de polifonia do seu tempo:
12 Motetes isorrítmicos; Partes do Ordinário da Missa; Cantigas profanas e
obras a 3 vozes sobre diversos textos litúrgicos. Estas últimas são das mais
importantes para a História da Música. São composições sobre Antífonas, Hinos, etc.
Vários tipos de composição para estas peças.
a) Cantus firmus na voz de Tenor;
b) Linha melódica ornamentada no Soprano e uma melodia extraída de outra peça
na voz do meio que evolui quase sempre em 3ªs e 6ªs acima do Tenor;
c) Melodia de cantochão ornamentado no Soprano;
d) Compostas livremente sem material temático extraído de outro repertório.

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