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Música renascentista refere-se à música europeia escrita durante a Renascença, o período que

abrangeu, aproximadamente, os anos de 1400 a 1600. A definição do início do período


renascentista é complexa devido à falta de mudanças abruptas no pensamento musical do
século XV. Adicionalmente, o processo pelo qual a música adquiriu características
renascentistas foi gradual, não havendo um consenso entre os musicólogos, que têm
demarcado seu começo tão cedo quanto 1300 até tão tarde quanto 1470.

A música renascentista evoluiu a partir das bases da música medieval, e ao longo do período
não se observam bruscas quebras de continuidade, mas sim uma prolongada e gradual
transição de um predomínio absoluto da linha melódica horizontal, de ritmos livres,
dependentes apenas da prosódia do texto, e desenvolvida sobre os modelos do canto
gregoriano, em direção a novos parâmetros, marcados pela concepção da música em
sucessivos acordes verticais encaixados dentro de compassos de ritmos invariáveis. Apesar de
gradual, ao final do processo a mudança resultante é muito profunda. Assim, é impossível
definir a música desta fase da história como um estilo unificado.[1][2] A música sacra ainda é a
mais prestigiada, mas a música profana ganha crescente valor, favorecida por uma classe
burguesa empoderada e por cortes ricas que desejam música de entretenimento.[3][4]

Assim como ocorreu nas outras artes do período, tornam-se comuns associações da música
com valores humanistas e com a herança clássica, representada pela cultura da Grécia e Roma
antigas. Há um sentimento de maior liberdade e um espírito de experimentação, testando os
limites das regras e teorias. A invenção da imprensa possibilitou a circulação de tratados e
partituras em uma escala nunca vista, contribuindo para a difusão de informação e a formação
de uma linguagem musical relativamente homogênea por toda a Europa.

Apesar de haver uma perceptível tendência à formação de uma linguagem padronizada em


seus fundamentos técnicos, as maneiras e estilos de aplicação dos conceitos básicos variaram
muito, formando-se importantes escolas regionais, que trabalham tradições e gêneros
específicos. O período inicia com o predomínio da escola inglesa, que introduz o conceito da
terça como um intervalo consonante. Segue-lhe a escola da Borgonha, onde se favorece um
lirismo renovado, atraindo músicos de toda a Europa. A primeira metade do século XVI é
dominada pela escola franco-flamenga, liderada por Josquin des Prez, levando a polifonia a um
novo patamar de sofisticação, multiplicando as vozes e explorando ritmos intrincados e
texturas contrastantes, mas gradualmente a escola italiana se impõe, especialmente através
de Giovanni da Palestrina, principal responsável por um movimento em direção à simplificação
e clarificação da polifonia, onde os princípios clássicos de austeridade, racionalismo e
equilíbrio encontram uma plena materialização.[4][6][7][8]

As transformações se refletiram no instrumental, sendo modificado para sua sonoridade


acompanhar uma nova sensibilidade. Muitos instrumentos novos apareceram. Ao longo desse
período ocorre a dissolução do sistema modal e o surgimento do sistema tonal, lançando-se os
princípios da harmonia moderna, baseada em uma hierarquia definida de sons, em novas
noções sobre consonância, dissonância, eufonia e afinação, e nas progressões harmônicas.
Também ocorre uma radical mudança no sistema de notação musical, que a aproxima da
notação moderna; a melodia começa a se libertar do apego às linhas do canto gregoriano; as
variedades rítmicas se multiplicam. A polifonia permanece como a principal base da
composição, mas se organiza de maneira a obedecer às regras da harmonia vertical e as
diferentes vozes são tratadas de maneira mais equilibrada.[3][5]
As "formas fixas" da canção polifônica medieval cedem lugar a novas formas, como o madrigal,
a frottola, a villanesca e o lied. A música instrumental começa a adquirir independência das
concepções vocais e aparecem formas para instrumentos específicos, que exploram sua
sonoridade e capacidades particulares, como as fantasias para violas da gamba, as danças para
violino e as canzone da sonar para teclado. Alguns gêneros, como o rondeau e a basse danse,
antes eminentemente vocais, se tornam quase exclusivamente instrumentais. Na música sacra
aparece uma forma de grande importância, a missa cíclica, onde um fragmento de canto
gregoriano serve como motivo para estruturar toda a composição. No final do período a
harmonia tonal está bem consolidada e surge a técnica do baixo contínuo, que seria um dos
fundamentos da música barroca. Também no final surgem os primeiros ensaios de canto
solista com acompanhamento de baixo contínuo, que daria origem a um dos mais populares
gêneros barrocos, a ópera.

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