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Uso de diversos recursos desenvolvidos pela arte contrapontística: cânon simples e duplo,
cânons ocultos e imitações estritas. Inversões, cânon retrógrado – cancrizant.
O estilo de ockeghem
A maioria das missas de Okeghem se assemelham globalmente às de Dufay. Quatro
vozes interagem numa textura contrapontística de linhas independentes. Todavia, o
baixo tem a sua tessitura ampliada em sentido inferior; resultando numa textura mais
compacta, densa e sombria, ao mesmo tempo mais homogênea. Esta inovação talvez
estivesse relacionada ao fato do próprio compositor ser um admirado cantor de timbre
grave. Tal efeito é reforçado pela natureza das linhas melódicas de Ockeghem, que se
estendem em frases de grande folego, num fluxo bastante flexível e similar ao
cantochão melismático, com raras cadências e poucas pausas. Por outro lado, mais um
artifício do compositor é recorrer ao uso de uma textura homofônica, como meio de
criar variedade sonora; podendo também, à maneira dos compositores do início do
século XV, omitir vozes ao longo de trechos ou opor pares de vozes entre si.
As missas compostas entre 1420 e 1497, trazem as seguintes particularidades:
Técnica da missa de cantus firmus.
Utilização tradicional do cantus firmus (Missa L’homme armé), isto é, restrita a uma
voz apenas.
Tratamento mais ornamentado do CF.
Técnica da paráfrase – citação de temas e fragmentos de material pré-existente, por
vezes profano.
Tendência à padronização do pé métrico das vozes.
Por vezes usa cinco vozes, ampliando a textura típica de Dufay, de quatro vozes.
Menor espacialização das vozes - Dufay deixava claro a preponderância do superius na
condução melódica.
Continuidade melódica - Dufay constrói melodias por arcos (limites claros) com
motivos bem definidos. Já as melodias de Ockeghem não definem pontos de cesura
dando a sensação de melodia contínua (as cadências são diluídas).
Imitação usada ocasionalmente, a exemplo da Missa Caput.
Conserva o uso da isorritmia.
Utiliza o cânon (Regra, lei), sob várias fórmulas: Inversão, retrogradação ou cancrizant.
Mensuração (Missa Prolationum): aumentação, diminuição e combinação.
Nas obras tardias:
Tratamento imitativo: apesar de Ockeghem já haver utilizado este recurso em suas
chansons, nas suas missas, a sua incidência se destaca em sua fase tardia. Contudo, a
imitação não exerce nenhuma influência sobre a estrutura básica da composição – o que
não irá acontecer, posteriormente, no estilo de Obrecht e Josquin de Prez. Apesar do uso
de textura canônica, o compositor primava por escamotear tal artifício mediante uma
meticulosa trama polifônica.
Na Missa prolationum encontram-se estes recursos. É a obra mais complexa e rica em
artifícios contrapontísticos do século XV. Nela Ockeghem aplica cânon duplo: S-A /
T-B; abstrai do empréstimo de um cantus firmus para em seu lugar aplicar o estilo
imitativo, como estratégia para conferir a unidade estilística da qual precisa. Sua trama a
4 vozes é construída sobre uma dupla leitura rítmica de apenas duas vozes. Diferentes
sinais de métrica determinam distintas extensões das notas, que enfim se combinam
conforme as regras de tempo. A isso soma-se o uso de artifícios como o cânon
enigmático. Também aplica a cada voz Pés Métricos distintos – as quatro prolações de
Philipe de Vitry da Ars Nova – daí o título da obra. O grau de engenho desta obra,
segundo alguns autores, elevaria Ockeghem – apesar dos séculos de diferença – ao
patamar do gênio de J. S. Bach.
Outras obras características de Ockeghem
A Missa cuiusvis toni – “Em qualquer modo”. Pode ser cantada em qualquer modo,
conforme se leia a música de acordo com uma ou outra de quatro combinações de
claves; fazendo os ajustes necessários para evitar o diabolus – trítono, quer
melodicamente ou harmonicamente com relação ao baixo.
A Missa Mi Mi – Se chama assim simplesmente porque as duas primeiras notas
recorrente no baixo a cada seção eram Mi – Lá; que no método de solmização da época
eram cantadas como a sílaba Mi.
Ockeghem compôs 21 chansons e nove motetos marianos. Destes, se destaca o mais
elaborado, Gaude Maria – uma obra a cinco vozes que anuncia o pleno renascimento
musical.
Era costume no século XV, quando da morte de algum músico famoso, se comporem
Lamentações – Déplorations em sua memória. Ockeghem, por ocasião da morte do seu
admirado Gilles Binchois (1460), escreveu um Planctus sur la mort de Binchois. Por
sua vez, quando de sua morte, foi também homenageado pelo discípulo Josquin des
Prez com a Déploration sur le trépas de Jean Ockeghem (1497).
Referências
ATLAS. Allan W. La música del Renacimiento. Madrid, Akal, 2002.
GROUT & PALISCA, Donald J. e Claude V. História da Música Ocidental. Lisboa,
Gradiva, 2007.
Massin, Jean & Brigitte. História da Música Ocidental. RJ, Nova Fronteira, 1997.
RAYNOR, Henry. História social da música. RJ, Zahar, 1988.
REESE, Gustave. La Música em el Renacimiento. Madrid, Alianza Música, 1988.