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BACHARELADO EM MÚSICA
ANO: 2019
DISCIPLINA: Contraponto I – Apostila (primeiro bimestre)
PROFESSOR: Salatiel Costa Ferreira
A evolução do contraponto
1 Estes modos não devem ser confundidos com os modos eclesiásticos (ascendentes) utilizados na Igreja
Ocidental.
para a história, graças aos teóricos medievais. Outros modos foram acrescentados a
estes na metade do século XVI, os modos eólio e jônico (autênticos e plagais),
completando-se um total de doze. Desta forma, todos os tons poderiam servir de base,
exceto o modo iniciado com a nota si (modo lócrio), o qual possui uma quinta diminuta
entre a sua finalis e confinalis.
A prática dos cantos permitia a modificação de melodias preexistentes. Como
resultado disto surgiram, em foma de manifestação criativa, interpolações de novos
textos e melodias chamadas tropas sequências. No século IX, passou-se a usar tropas
verticais, acrescentado-se material novo a estes, acima ou abaixo do texto original, em
vez de colocá-lo no corpo do texto. Esta significativa mudança na maneira de cantar a
música gregoriana gerou o princípio da polifonia. O novo procedimento denominou-se
de organum, a primeira tentativa polifônica.
No final do primeiro milênio da era cristã, ocorreu uma das maiores contribuições
à história da música: o advento da música polifonia através do acréscimo de uma
segunda voz à monofonia em movimento paralelo. A melodia gregoriana, passou a ser
chamada vox principalis, enquanto a voz acrescentada, uma quarta abaixo, vox
originalis. Com o passar do tempo, o organum (organum paralelo: c. 900-1050) tornou-
se a sobreposição de várias vozes, em movimento paralelo, em intervalos de quartas,
quintas e oitavas:
No Final do século XII surge o estilo discanto. A voz inferior não contem notas
longas, mas ambas as vozes se deslocam com ritmos semelhantes em uma textura
nota-contra-nota. Quando havia poucas notas para cada sílaba, usava-se o organum
com o tenor em notas longas. Nos trechos onde originalmente existia um texto
melismático, isto é, várias notas para uma só sílaba, o tenor passou a receber notas de
valores menores, a fim de não prolongar demais a composição.
Estes trechos, construídos sobre fragmentos melismáticos do cantochão no
estilo discantus, passaram a chamar-se clausulae. O mesmo texto era utilizado para
ambas as vozes. Cada clausula era distinta e com sua própria cadência.
Cantus Firmus
O Cantus Firmus (CF) consiste numa linha melódica que serve de base para a
composição contrapontística, e é formado por:
Apenas semibreves.
Empregam-se exclusivamente os modos litúrgicos.
Deve ser iniciado e terminado com a finalis do modo.
A última nota deve ser alcançada por grau conjunto, ascendente ou
descendente.
Sua extensão não deve ultrapassar uma oitava.
A linha melódica deve consistir em pequenos intervalos, facilmente cantáveis.
Intervalos de 7ª maior e menor, 6ª maior, 6ª menor descendente, intervalos
diminutos e aumentado, não devem ser usados.
Não são permitidos mais de dois saltos consecutivos na mesma direção.
O Cantus Firmus deve ter preferencialmente, um só ponto culminante.
Contraponto Modal por Espécies a Duas Vozes
8. É proibido dar dois saltos melódicos seguidos na mesma direção na mesma voz.
15. Como mencionado no item 11, após um salto, use movimento contrário mesmo nas
cadências.
Obs. Incorreto; como a sensível resolve ascendentemente, não pode ser precedida por
salto ascendente, pois neste caso forma um salto na mesma direção da resolução
(obrigatória) da sensível.
Obs. A sensível é o 7º grau elevado nas cadências finais; no modo frígio, não existe
“sensível”; usa-se o 7º grau, ré natural, por ser a característica do modo.
16. Terças e sextas paralelas não devem ser usadas demasiadamente, pois quebram a
independência do contraponto. O ideal é até 3 terças ou 6 sextas consecutivas.
Nesta espécie duas mínimas são colocadas contra uma semibreve. A primeira
mínima que cai com cada semibreve (tempo 1 e 3) está na mesma posição que a
primeira semibreve de cada compasso na primeira espécie, ou seja, exerce o tempo
forte. A segunda mínima tem a função de movimentar a linha, assim como ligar duas
consonâncias.
1. O contraponto começa com uma pausa de mínima. O último compasso deve ter uma
breve em cada voz.
2. Uníssono é permitido:
a) após a pausa de mínima do primeiro compasso e no último compasso (como na
primeira espécie); b) em qualquer outro compasso no tempo fraco.
7. Separar duas 5ª e duas 8ª por duas mínimas. Neste caso, não são consideradas
paralelas.
10. Saltos melódicos de 8ª no mesmo compasso são permitidos, desde que não
formem, simultaneamente, intervalos harmônicos de 8ª J. O salto melódico de um
compasso para o outro pode ocorrer desde que não forme intervalos harmônicos de 5ª
ou 8ª paralelas, nem ocultas.
11. Exemplo de contraponto de segunda espécie:
3. Não é permitido repetir notas e nem usar notas cromáticas na voz do contraponto.
4. É permitido o cruzamento de vozes.
5. O uníssono é permitido:
No primeiro compasso (segundo tempo de semínima) – no último compasso;
Em qualquer tempo, nos outros compassos, menos no primeiro tempo de cada
semínima.
6. A consonância é obrigatória nos tempos fortes 1 e 3 (C-D-C-D).
7. Dissonância é permitida como:
7.1. Nota de passagem;
7.2. Bordadura inferior (BI); é uma dissonância, em tempo fraco de semínima, que
vem precedida e seguida pela mesma nota (consonante) por grau conjunto superior;
7.4. Quando CF
estiver na voz superior; segue o mesmo que acima, ou seja, a cambiata inicia-se com
movimento descendente.
8. Saltos:
8.1. Dois saltos seguidos em direções contrárias são permitidos, mas devem ser
precedidos e seguidos de movimento contrário por grau conjunto.
8.2. Exceção – quando um salto de 3ª for precedido por movimento contrário (por grau
conjunto ou salto) poderá seguir na mesma direção se for por grau conjunto.
– Também é permitido quando graus conjuntos são seguidos por salto de 3ª na mesma
direção, e depois, por movimento contrário.
– O salto de 3ª não pode ser precedido e seguido por movimento na mesma direção.
4.2. Uma dissonância; neste caso chame-se suspensão, por ser resolvida somente
na mínima seguinte (em tempo fraco). A dissonância precisa ocorrer no tempo forte de
mínima e, estar à nota anterior (uma mínima consonante no tempo fraco); é resolvida
por grau conjunto descendente para uma consonância imperfeita.
4.3. A suspensão tem três fazes:
1 – A apresentação; sempre consonante
2 – A suspensão; sempre dissonante
3 – A resolução; sempre uma consonância imperfeita.
4.4. Resoluções permitidas para a suspensão:
14. Com o CF na voz inferior; 7 – 6 ou 4 – 3
15. Com o CF na voz superior; 2 – 3 (= 9 – 10)
Quando a nota ligada de um tempo fraco (de mínima) para um tempo forte não
formar uma dissonância, mas sim, uma consonância, não é suspensão, mas apenas
uma consonância ligada (CL). Neste caso, a nota que ficou é sempre consonante e,
logo após, pode haver salto (para outra consonância) ou ser seguida por grau conjunto
em qualquer direção (se formar uma dissonância, esta, só poderá ser uma nota de
passagem, como na segunda espécie.
Portanto, a diferença entre uma suspensão e uma consonância ligada se dá no
tempo forte da nota ligada, isto é, na suspensão forma uma dissonância que precisa
ser resolvida por grau conjunto descendente e, na consonância ligada é obviamente
uma consonância, podendo ser por salto ou grau conjunto.
5. Os saltos permitidos são os mesmos da segunda espécie.
Quinta espécie: contraponto florido – ritmo livre contra o cantus firmus
Na quinta espécie, florido, os procedimentos das espécies anteriores são
combinados. Há o acréscimo do uso de colcheias e também da mínima pontuada.
Agora, ritmos distintos permitirão a escrita de linhas melódicas mais elaboradas e
variadas.
1. Iniciar, de preferência, com qualquer espécie, menos a terceira.
OBS. As músicas renascentistas iniciam com valores rítmicos mais longos e
gradualmente vão se acelerando.
2. considerando-se a mínima como unidade de tempo, deve-se começar o uso da
semínima:
No tempo fraco da mínima no movimento descendente;
No tempo forte ou fraco da mínima na melodia ascendente:
2.1. Uma vez iniciado o movimento de mínimas, deve-se continuar seu uso até o
próximo tempo forte de mínima. Se o movimento de semínimas se iniciar no primeiro
tempo, pode-se usar apenas 4 semínimas, trancando-se depois para outra espécie.
.
5. Nesta espécie é permitido usar colcheias nas seguintes condições.
5.1. Sempre em pares e sem tempo fraco de semínima (somente um par de colcheias é
permitido para cada grupo de quatro semínimas);
5.2. Somente quando precedidas e seguidas por grau conjunto, ou seja, como notas de
passagem ou bordaduras inferiores;
5.3. As colcheias não podem ocorrer depois de um valor maior do que uma mínima
pontuada, uma vez que cairiam no primeiro tempo do compasso;
6. Notas ligadas: a síncope, resultante da quarta espécie, pode ser usada conforme as
regras desta espécie.
6.1. Notas ligadas do mesmo valor rítmico: a nota de menor valor que pode formar
uma consonância ligada, ou suspensão, é a mínima (mínima com semínima não pode).
Portanto, pode-se ligar semibreve como semibreve e mínima com mínima.
6.2. Notas ligadas de valores rítmicos diferentes: é possível ligar notas de valores
rítmicos de valores diferentes quando a proporção rítmica é 2:1. Existem somente duas
possibilidades; semibreve com mínima e mínima com semínima.
Exceções: somente para finalizar, a última nota do contraponto a uma nota de menor
valor, ou seja, na proporção 1:2.
OBS. Ao usar a mínima pontuada, use as regras de 3ª espécie para o quarto tempo
(de semínima): a semínima será nota de passagem ou bordadura inferior. Esta
semínima também pode ocorrer como uma consonância por grau conjunto (5-6 ou 6-5).
7. Dissonância:
7.1. A bordadura superior pode ocorrer, mas somente antes de uma mínima ou
semibreve. Seu valor rítmico é a semínima.
7.2. Cambiata: na cambiata a 2ª nota é sempre uma semínima dissonante, no tempo
fraco se a 3ª nota for uma mínima, a próxima também será, precisando continuar por
grau conjunto ascendente (quando o CF estiver na voz inferior) por mais uma nota,
quando, então, poderá seguir livremente.
8. Cadências:
8.1. A suspensão ornamentada (com duas colcheias) pode ser usada somente na
cadência final. A colcheias só podem ocorrer no tempo fraco de semínima. A resolução
da suspensão se dá após as duas colcheias.
8.2. Uma semínima pode ser inserida antes da resolução da suspensão: neste caso é
uma 3ª abaixo da dissonância, formando uma consonância com outra voz, seguido
pela resolução da suspensão, mas somente quando CF estiver na voz inferior.
9. Antecipação: é uma semínima, no tempo fraco de semínima, que antecipa a mesma
nota no próximo tempo forte. Ocorre somente na cadência final e, como é introduzida
por grau conjunto descendente, a sensível precisa estar no CF sendo dissonante ou
não.
Bibliografia Básica:
CARVALHO, Any Raquel. Contraponto modal: manual prático. Porto Alegre. Evangraf,
2006, 2ª edição.
Bibliografia complementar: