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ARMIDE / ARMIDA

Libreto: Philippe Quinault


Tradução: Luan Braga
Revisão: Laura Rónai

PREMIER ACTE PRIMEIRO ATO


SCÈNE I CENA I

PHENICE FÊNIX
(P.48) (Pág. 48)
Dans un jour de triomphe, au milieu des Em um dia de triunfo, em meio aos prazeres,
plaisirs, Quem vos pode inspirar uma tristeza
Qui peut vous inspirer une sombre tristesse ? sombria?
La gloire, la grandeur, la beauté, la jeunesse, A Glória, a grandeza, a beleza, a juventude,
Tous les biens comblent vos desirs. Todos os bens cumulam vossos desejos.

SIDONIE SIDÔNIA
Vous allumez une fatale flame Vós acendeis uma chama fatal
Que vous ne ressentez jamais ; Que jamais sentistes;
L’amour n’ose troubler la paix O amor não ousa perturbar a paz
Qui regne dans vostre ame. Que reina em vossa alma.

PHENICE & SIDONIE FÊNIX E SIDÔNIA


Quel sort a plus d’appas ? Qual destino poderia ser mais atraente?
Qui peut estre heureux si vous ne l’estes E quem poderia ser feliz se não o fores?
pas ?

PHENICE FÊNIX
Si la guerre aujourd’huy fait craindre ses Se a guerra hoje faz temer sua devastação,
ravages,
C’est aux bords du Jourdain qu’ils doivent É nas margens do Rio Jordão que ela deve
s’arrester, se ater.
Nos tranquilles Rivages Nossas margens tranquilas
N’ont rien à redouter. Não têm nada a temer.

SIDONIE SIDÔNIA
Les Enfers, s’il le faut, prendront pour nous O inferno, se necessário, pegará em armas
les armes, por nós,
Et vous sçavez leur imposer la loy. E sabeis como impor-lhe a lei.

PHENICE FÊNIX
Vos yeux n’ont eu besoin que de leurs Vossos olhos só precisaram de seus
propres charmes, próprios encantos,
Pour affoiblir le Camp de Godefroy. Para enfraquecer o exército de Godefroy.

SIDONIE SIDÔNIA
Ses plus vaillants Guerriers contre vous sans Seus mais bravos guerreiros, indefesos
deffense contra vós,
Sont tombez en vostre puissance. Cairam sob vosso poderio.
ARMIDE ARMIDA
Je ne triomphe pas du plus vaillant de tous, Não triunfo sobre o mais valente de todos,
Renaud, pour qui ma haine a tant de Reinaldo, por quem meu ódio tem tanta
violence, violência,
L’Indomptable Renaud échape à mon O Indomável Reinaldo escapa à minha ira.
couroux.
Tout le Camp ennemy pour moy devient Todo o exército inimigo a mim se torna
sensible, suscetível
Et luy seul, toûjours invincible, E somente ele, sempre invencível,
Fît gloire de me voir d’un œil indifferent. Se vangloriou por me ver com um olhar
indiferente.
Il est dans l’age aimable où sans effort on Ele está na bela idade em que se ama sem
aime ; esforço;
Non, je ne puis manquer sans un dépit Não, não posso falhar, sem extremo
extréme despeito,
La conqueste d’un cœur si superbe & si Em conquistar um coração tão soberbo e tão
grand. grande.

SIDONIE SIDÔNIA
Qu’importe qu’un Captif manque à vostre O que importa se falta ainda um cativo à
victoire ; vossa vitória;
On en void dans vos fers assez d’autres Pode-se ver sob vossos grilhões várias
témoins, outras testemunhas (desta vitória),
Et pour un Esclave de moins E por um escravo a menos
Un triomphe si beau perdra peu de sa gloire. Um triunfo tão belo perderá pouco de sua
glória.

PHENICE FÊNIX
Pourquoy voulez-vous songer Por que queres pensar
A ce qui peut vous déplaire ? Naquilo que vos pode desagradar?
Il est plus seur de se vanger É mais seguro vingar-se
Par l’oubly que par la colere. Pelo esquecimento, do que pela cólera.

ARMIDE ARMIDA
Les Enfers ont predit cent fois O inferno previu uma centena de vezes
Que contre ce Guerrier nos armes seront Que contra este Guerreiro nossas armas
vaines, serão em vão,
Et qu’il vaincra nos plus grands Rois. E que ele derrotará nossos maiores reis.
Ah ! qu’il me seroit doux de l’accabler de Ah! Quão doce seria dominá-lo com
chaînes, correntes,
Et d’arrester le cours de ses exploits ! E interromper o curso de suas façanhas!
Que je le hay ! que son mépris m’outrage ! Como eu o odeio! Como seu desprezo me
ultraja!
Qu’il sera fier d’éviter l’esclavage Ele poderá se orgulhar se conseguir evitar a
Où je tiens tant d’autres Heros. escravidão
Na qual mantenho tantos outros Heróis.
Incessamment son importune image Incessantemente sua imagem importuna
Malgré moy trouble mon repos. Contra a minha vontade, perturba o meu
descanso.
Un songe affreux m’inspire une fureur Um sonho terrível me inspira com uma nova
nouvelle fúria
Contre ce funeste Ennemy : Contra este terrível Inimigo:
J’ay creu le voir, j’en ay fremy : Pensei tê-lo visto, e estremeci:
J’ay crû qu’il me frapoit d’une atteinte Pensei que ele me atingia com um golpe
mortelle. mortal.
Je suis tombée aux pieds de ce cruel Caí aos pés desse conquistador cruel;
vainqueur ;
Rien ne fléchissoit sa rigueur, Nada abrandou seu rigor,
Et par un charme inconcevable E por um inconcebível encanto
Je me sentois contrainte à le trouver aimable Me senti compelida a achá-lo amável
Dans le fatal moment qu’il me perçoit le No fatídico momento em que me perfurava o
cœur. coração.

SIDONIE SIDÔNIA
Vous troublez-vous d’une image legere Estás perturbada pela imagem desfocada
Que le sommeil produit ? Que o sonho produz?

Le beau jour qui vous luit O belo dia que brilha para vós
Doit dissiper cette vaine Chimere Deve dissipar esta vã quimera
Ainsi qu’il a détruit Assim como destruiu
Les ombres de la nuit. As sombras da noite.

SCÈNE II CENA II

HIDRAOT IDRAOTE
(P.56) (Pág. 56)
Armide, que le sang qui m’unit avec vous Armida, como o sangue que me une a vós
Me rend sensible aux soins que l’on prend Me faz sensível aos cuidados que tomam
pour vous plaire ! para vos agradar!
Que vostre triomphe m’est doux ! Como é doce, para mim, o vosso triunfo!
Que j’aime à voir briller le beau jour qui Como me apraz ver o belo dia que o ilumina!
l’éclaire !
Je n’aurois plus de vœux à faire, Não teria mais o que desejar,
Si vous choisissiez un Espoux. Se escolhesses um esposo.

Je voy de prés la Mort qui me menace, Vejo de perto a Morte que me ameaça,
Et bientost l’age qui me glace E em breve a idade que me congela
Va m’accabler sous son pesent fardeau. Irá me oprimir com seu pesado fardo.

C’est le dernier bien ou j’aspire O último bem a que aspiro,


Que de voir vostre Himen prometre à cét É ver vosso casamento prometer a este
Empire, império
Roys formez d’un sang si beau. Reis formados por um sangue tão belo.
Sans me plaindre du sort je cesseray de Sem reclamar do destino, deixarei de viver
vivre
Si ce doux espoir peut me suivre Se essa doce esperança puder me seguir
Dans l’affreuse nuit du Tombeau. Na terrível noite da sepultura.

ARMIDE ARMIDA
La chaîne de l’Hymen m’estonne Os grilhões do Casamento me assustam
Je crains ses plus aimables nœuds : Temo mesmo os seus elos mais suaves:

Ah ! qu’un cœur devient mal’heureux Ah! Como um coração se torna infeliz


Quand la liberté l’abandonne. Quando a liberdade o abandona.
HIDRAOT IDRAOTE
Pour vous, quand il vous plaist, tout l’Enfer Para vós, quando vos agrada, todo o inferno
est armé : está armado:
Vous estes plus sçavante en mon art que És mais conhecedora da minha arte do que
moy-mesme, eu mesmo,
Des grands Roys à vos pieds mettent leur Grandes reis a vossos pés depositam seus
Diadême ; diademas;

Qui vous void un moment, est pour jamais Quem vos vê por um momento, fica para
charmé ; sempre encantado;
Pouvez-vous mieux gouster vostre bonheur Há melhor maneira de saborear vossa
extrême extrema felicidade
Qu’avec un Espoux qui vous ayme, Do que com um esposo que vos ama,
Et qui soit digne d’estre aymé ? E que seja digno de ser amado?

ARMIDE ARMIDA
Contre mes ennemis à mon gré je déchaîne Contra meus inimigos, a meu bel prazer
Le noir Empire des Enfers, desencadeio
L’Amour met des Rois dans mes fers, O império sombrio do inferno,
Je suis de mille Amants Maistresse O amor prende reis em minhas algemas,
souveraine, Sou a soberana de mil amantes,
Mais je fais mon plus grand bon-heur Mas a minha maior felicidade
D’estre maistresse de mon cœur. É ser dona do meu coração.

HIDRAOT IDRAOTE
Bornez-vous vos desirs à la gloire cruelle Limiteis vossos desejos à glória cruel
Des maux que fait vostre beauté. Dos males causados por vossa beleza.
Ne ferez-vous jamais vostre felicité Jamais fazei vosso contentamento
Du bon-heur d’un Amant fidelle. Da felicidade de um fiel amante.

ARMIDE ARMIDA
Si je doy m’engager un jour, Se um dia eu tiver que me comprometer,
Au moins devez vous croire Ao menos deveis acreditar
Qu’il faudra que ce soit la Gloire Que deverá ser a glória
Qui livre mon cœur à l’Amour. Que irá entregar meu coração ao Amor.
Pour devenir mon Maistre Para se tornar meu mestre
Ce n’est point assez d’estre Roy. Não basta ser rei.
Ce sera la valeur qui me fera connoître Será o valor que me fará conhecer
Celuy qui merite ma foy. O merecedor de minha fidelidade.
Le Vainqueur de Renaud, si quelqu’un le O Vencedor de Reinaldo, se alguém o puder
peut estre, sê-lo,
Sera digne de moy. Será digno de mim.

SCÈNE III CENA III

HIDRAOT IDRAOTE
(P.62) (Pág. 62)
Armide est encor plus aymable Armida é ainda mais amável
Qu’elle n’est redoutable. Que temível.
Que son triomphe est glorieux ! Quão glorioso é o seu triunfo!
Ses charmes les plus forts sont ceux de ses Seus encantos mais fortes são os de seus
beaux yeux. lindos olhos.
Elle n’a pas besoin d’employer l’art terrible Não precisa empregar a arte terrível
Qui sçait quand il luy plaist faire armer les Que sabe, quando lhe apraz, armar o
Enfers ; inferno;
Sa beauté trouve tout possible, Sua beleza faz com que tudo seja possível,
Nos plus fiers Ennemis gemissent dans ses Nossos mais orgulhosos inimigos gemem em
fers. seus grilhões.

HIDRAOT, CHOEUR IDRAOTE, CORO


Armide est encor plus aymable Armida é ainda mais amável
Qu’elle n’est redoutable. Que temível.
Que son triomphe est glorieux ! Quão glorioso é o seu triunfo!
Ses charmes les plus forts sont ceux de ses Seus encantos mais fortes são os de seus
beaux yeux. lindos olhos.

PHENICE, CHŒUR FÊNIX, CORO


(P.72) (Pág. 72)
Suivons Armide, & chantons sa Victoire, Sigamos Armida e cantemos sua Vitória,
Tout l’Univers retentit de sa gloire. O Universo inteiro ressoa com sua glória.

PHENICE FÊNIX
Nos Ennemis affoiblis & troublez Nossos inimigos enfraquecidos e
perturbados
N’estendront plus le progrez de leurs armes ; Não mais estenderão o progresso de suas
armas
Ah ! quel bonheur ! nos desirs sont comblez Ah! que felicidade! nossos desejos foram
cumulados
Sans nous couster ny de sang ny de larmes. Sem que nos custassem nem sangue nem
lágrimas.

CHŒUR CORO
Suivons Armide, & chantons sa Victoire, Sigamos Armida e cantemos sua Vitória,
Tout l’Univers retentit de sa gloire. O Universo inteiro ressoa com sua glória.

PHENICE FÊNIX
L’ardent amour qui la suit en tous lieux O amor ardente que a segue por todos os
lugares
S’attache aux cœurs qu’elle veut qu’il Se apropria dos corações que ela quer que
enflame. ele inflame.
Il est content de regner sans ses yeux, Ele se contenta em reinar sem seus olhos,
Et n’ose encor passer jusqu’en son ame. E ainda não se atreve a passar até sua alma.

CHOEUR CORO
Suivons Armide, & chantons sa Victoire, Sigamos Armida e cantemos sua vitória,
Tout l’Univers retentit de sa gloire. O Universo inteiro ressoa com sua glória.

SIDONIE, CHŒUR SIDÔNIA, CORO


(P. 76) (Pág. 76)
Que la douceur d’un triomphe est extréme Como é extrema a doçura de um triunfo
Quand on n’en doit tout l’honneur qu’à soy- Quando se deve todo o crédito apenas a si
mesme. mesmo.
SIDONIE SIDÔNIA
Nous n’avons point fait armer nos soldats : Não fizemos armar nossos soldados:
Sans leur secours Armide est triomphante. Sem sua ajuda, Armida triunfou.
Tout son pouvoir est dans ses doux appas ; Todo o seu poder está em seus doces
atrativos;
Rien n’est si fort que sa beauté charmante. Nada é tão forte quanto sua beleza
encantadora.
CHŒUR
Que la douceur d’un triomphe est extréme CORO
Quand on n’en doit tout l’honneur qu’à soy- Como é extrema a doçura de um triunfo
mesme. Quando se deve todo o crédito a si mesmo.

SIDONIE SIDÔNIA
La belle Armide a sceu vaincre aisément A bela Armida soube vencer facilmente
De fiers Guerriers plus craints que le Guerreiros orgulhosos mais temidos do que
Tonnerre, o Trovão,
Et ses regards ont en moins d’un moment E em menos de um momento seus olhares
Donné des Loix aux Vainqueurs de la Terre. Ditaram as leis aos conquistadores da Terra.

CHOEUR CORO
Que la douceur d’un triomphe est extréme Como é extrema a doçura de um triunfo
Quand on n’en doit tout l’honneur qu’à soy- Quando se deve todo o crédito apenas a si
mesme. mesmo.

SCÈNE IV CENA IV

ARONTE ARONTE
(P.79) (Pág. 79)
O Ciel ! ô disgrace cruelle ! Ó Céus! Ó cruel desgraça!
Je conduisois vos captifs avec soin ; Eu estava conduzindo vossos prisioneiros
J’ay tout tenté pour vous marquer mon zele, com cuidado;
Mon sang qui coule en est temoin. Fiz de tudo para provar o meu zelo,
Meu sangue que flui é testemunha disso.

ARMIDE ARMIDA
Mais, où sont mes captifs ? Mas... onde estão meus prisioneiros?

ARONTE ARONTE
Un Guerrier indomptable Um guerreiro invencível
Les a délivrez tous. A todos libertou.

ARMIDE & HIDRAOT ARMIDA & IDRAOTE


Un seul Guerrier ! que dites-vous ? Um único guerreiro! O que dizes?
Ciel ! Céus!

ARONTE ARONTE
De nos Ennemis c’est le plus redoutable. De nossos Inimigos, ele é o mais formidável.
Nos plus vaillants Soldats sont tombez sous Nossos soldados mais valentes caíram sob
ses coups : seus golpes:
Rien ne peut resister à sa valeur extresme. Nada pode resistir ao seu valor extremo.
ARMIDE ARMIDA
O Ciel ! c’est Renaud. Ó céus! É Reinaldo.

ARONTE ARONTE
C’est luy-mesme. É ele mesmo.

ARMIDE, HIDRAOT ARMIDA, IDRAOTE


(P.80) (Pág. 80)
Poursuivons jusqu’au trépas Persigamos até a morte
L’Ennemy qui nous offence ; O Inimigo que nos ofende;
Qu’il n’échape pas Que ele não escape
A nostre vengeance. De nossa vingança.

CHŒUR CORO
Poursuivons jusqu’au trépas Persigamos até a morte
L’Ennemy qui nous offence ; O inimigo que nos ofende;
Qu’il n’échape pas Que ele não escape
A nostre vengeance. De nossa vingança.

DEUXIÉME ACTE SEGUNDO ATO

SCÈNE II CENA II

HIDRAOT IDRAOTE
(P.89) (Pág. 89)
Arrestons-nous icy, c’est dans ce lieu fatal Paremos aqui, é neste funesto lugar
Que la fureur qui nous anime Que o furor que nos anima
Ordonne à l’Empire infernal Ordena ao Império infernal
De conduire nostre victime. Que conduza nossa vítima.

ARMIDE ARMIDA
Que l’Enfer aujourd’huy tarde à suivre nos Como o inferno hoje está demorando a
loix! seguir nossas leis!

HIDRAOT IDRAOTE
Pour achever le charme il faut unir nos voix. Para completar o encantamento devemos
unir nossas vozes.

HIDRAOT & ARMIDE IDRAOTE & ARMIDA


Esprits de haine & de rage, Espíritos de ódio e deraiva,
Demons, obeïssez-nous. Demônios, obedeçais-nos.
Livrez à nostre couroux Entregai à nossa ira
L’Ennemy qui nous outrage. O Inimigo que nos ultraja.

Esprits de haine & de rage, Espíritos de ódio e raiva,


Demons, obeïssez-nous. Demônios, obedeçais-nos.

ARMIDA ARMIDA
Demons affreux, cachez-vous Demônios terríveis, escondei-vos
Sous une agreable image : Sob uma imagem agradável:
Enchantez ce fier courage Enfeitiçai essa coragem orgulhosa
Par les charmes les plus doux. Através dos encantos mais doces.
HIDRAOT & ARMIDE IDRAOTE & ARMIDA
Esprits de haine & de rage, Espíritos de ódio e raiva,
Demons, obeïssez-nous. Demônios, obedeçais-nos.

ARMIDE ARMIDA
Dans le piege fatal nostre Ennemy s’engage. Na nefasta armadilha nosso inimigo se
envolve.

HIDRAOT IDRAOTE
Nos Soldats sont cachez dans le prochain Nossos soldados estão escondidos no
Boccage ; próximo bosque;
Il faut que sur Renaud ils viennent fondre É preciso que todos eles venham atacar
tous. Reinaldo.

ARMIDE ARMIDA
Cette victime est mon partage ; Essa vítima me pertence;
Laissez-moy l’immoler, laissez-moy Deixai-me imolá-lo, deixai-me ter a vantagem
l’avantage
De voir ce cœur superbe expirer de mes De ver este coração soberbo expirar sob
coups. meus golpes.

SCÈNE III CENA III

RENAUD REINALDO
(P.97) (Pág. 97)
Plus j’observe ces lieux, & plus je les admire. Quanto mais observo este lugar, mais o
admiro.
Ce Fleuve coule lentement, Este Rio flui lentamente,
Et s’éloigne à regret d’un sejour si charmant. E se afasta com pesar de um local tão
encantador.
Les plus aimables fleurs & le plus doux As flores mais lindas e o zéfiro mais doce
zephire
Parfument l’air qu’on y respire. Perfumam o ar que aqui se respira.
Non, je ne puis quitter des rivages si beaux. Não, não posso deixar tão belas margens.
Un son harmonieux se mesle au bruit des Um som harmonioso se mistura ao barulho
eaux. das águas.
Les Oyseaux enchantez se taisent pour Os Pássaros encantados calam-se para
l’entendre. ouvi-lo.
Des charmes du sommeil j’ay peine à me Tenho dificuldade de me defender dos
deffendre. encantos do sono.
Ce gazon, cét ombrage frais, Este gramado, esta sombra fresca,
Tout m’invite au repos sous ce feüillage Tudo me convida a descansar sob esta
espais. espessa folhagem.

SCÈNE IV CENA IV

LA NYMPHE A NINFA
(P.102) (Pág. 102)
Au temps heureux ou l’on sçait plaire Nos momentos felizes que nos comprazem
Qu’il est doux d’aimer tendrement ! Como é doce amar ternamente!
Pourquoy dans les perils avec Por que deveríamos, diante do perigo, com
empressement sofreguidão
Chercher d’un vain honneur l’esclat Buscar o brilho imaginário de uma honra
imaginaire? vã?
Pour une trompeuse chimere Por uma quimera enganadora
Faut-il quitter un bien charmant ? Deveríamos abandonar um bem tão
fascinante?
Au temps heureux ou l’on sçait plaire Nos momentos felizes que nos comprazem
Qu’il est doux d’aimer tendrement ! Como é doce amar ternamente!

UNE BERGÈRE HEROÏQUE UMA PASTORA HERÓICA


(P.106) (Pág. 106)
On s’estonneroit moins que la saison Seria menos surpreendente se a nova
nouvelle estação
Revinst sans ramener les fleurs & les zephirs Retornasse sem trazer de volta as flores e os
; zéfiros;
Que de voir de nos ans la saison la plus belle Do que ver a estação mais linda de nossos
anos
Sans l’amour & sans les plaisirs. Sem o amor e sem os prazeres.

(P.107) (Pág. 107)


Laissons au tendre amour la Jeunesse en Deixemos ao terno amor, como recompensa,
partage, a juventude,
La Sagesse a son temps, il ne vient que trop A sabedoria tem seu tempo, e este chega
tost : cedo demais:
Ce n’est pas estre sage, Não é ser sábio,
D’estre plus sage qu’il ne faut. Ser mais sábio do que o necessário.

CHŒUR CORO
(P.109) (Pág. 109)
Ah ! quelle erreur ! quelle folie ! Ah! Que erro! Que loucura!
De ne pas jouïr de la vie ! Não aproveitar a vida!
C’est aux Jeux, c’est aux Amours, São aos jogos e aos amores,
Qu’il faut donner les beaux jours. Que devemos dedicar os belos dias.

SCÉNE V CENA V

ARMIDE ARMIDA
(P.110) (Pág. 110)
Enfin il est en ma puissance, Finalmente ele está em meu poder,
Ce fatal Ennemy, ce superbe Vainqueur. Este fatal inimigo, este soberbo Vencedor.
Le charme du sommeil le livre à ma O feitiço do sono o entrega à minha
vengeance ; vingança;
Je vais percer son invincible cœur. Irei perfurar seu coração invencível.
Par luy tous mes Captifs sont sortis Por culpa dele todos os meus cativos foram
d’esclavage ; libertos da escravidão;
Qu’il éprouve toute ma rage. Que ele experimente toda a minha raiva.
Quel trouble me saisit ? qui me fait hesiter ? O que me perturba? quem me faz hesitar?
Qu’est-ce qu’en sa faveur la pitié me veut O que, a favor dele, a piedade tenta me
dire? dizer?
Frapons... Ciel ! qui peut m’arrester ? Ataquemos... Céus! quem pode me impedir?
Achevons... je fremis ! Vangeons-nous... je Concluamos... estou tremendo! Vinguemos-
soûpire ! nos... Eu suspiro!
Est-ce ainsi que je doy me vanger É assim que devo vingar-me hoje!
aujourd’huy!
Ma colere s’éteint quand j’approche de luy. Minha raiva se extingue quando me
aproximo dele.
Plus je le voy ; plus ma vengeance est vaine Quanto mais o vejo; mais vã é minha
; vingança;
Mon bras tremblant se refuse à ma haine. Meu braço trêmulo recusa meu ódio.
Ah ! quelle cruauté de luy ravir le jour ! Ah! que crueldade o privar da vida!
A ce jeune Heros tout cede sur la Terre. A este jovem Herói tudo se entrega na Terra.
Qui croiroit qu’il fust né seulement pour la Quem iria acreditar que ele nasceu apenas
Guerre ? para a guerra?
Il semble estre fait pour l’amour. Parece feito para o amor.
Ne puis-je me vanger à moins qu’il ne Não posso vingar-me a menos que ele
perisse? pereça?
Hé ne suffit-il pas que l’amour le punisse ? Não basta que o amor o castigue?
Puisqu’il n’a pû trouver mes yeux assez Já que ele não conseguiu achar meus olhos
charmants, suficientemente encantadores,
Qu’il m’aime au moins par mes Que ele me ame ao menos pelos meus
enchantements, feitiços,
Que, s’il se peut, je le haïsse. Que, se possível, eu o odeie.
Venez seconder mes desirs, Vinde apoiar os meus desejos,
Demons, transformez-vous en d’aimables Demônios, transformai-vos em zéfiros
zephirs : amáveis:
Je cede à ce vainqueur, la pitié me Eu me rendo a este conquistador, a piedade
surmonte, me vence,
Cachez ma foiblesse & ma honte Escondei minha fraqueza e minha vergonha
Dans les plus reculez deserts, Nos desertos mais remotos,
Volez, conduisez-nous au bout de l’Univers. Voai, conduzi-nos ao fim do Universo.

TROISIÈME ACTE TERCEIRO ATO

SCÈNE I CENA I

ARMIDE ARMIDA
(P .116) (Pág. 116)
Ah ! si la liberté me doit estre ravie, Ah! se a liberdade me tem que ser tirada,
Est-ce à toy d’estre mon Vainqueur ? Cabe a você ser meu vencedor?
Trop funeste Ennemy du bonheur de ma vie, Terrível inimigo da felicidade da minha vida,
Faut-il que malgré moy tu regnes dans mon Deveis, contra minha vontade, reinar em
cœur ? meu coração?
Le desir de ta mort fut ma plus chere envie ; O desejo de tua morte era o que eu mais
queria;
Comment as-tu changé ma colere en Como transformastes minha raiva em
langueur? languidez?
En vain de mille Amants je me voyois suivie, Em vão, de mil amantes me via seguida,
Aucun n’a fléchy ma rigueur. Nenhum abrandou o meu rigor.
Se peut-il que Renaud tienne Armide Será que Reinaldo conseguiu escravizar
asservie? Armida?

Ah ! si la liberté me doit estre ravie, Ah! se a liberdade tem que me ser tirada,
Est-ce à toy d’estre mon Vainqueur ? Cabe a você ser meu vencedor?
Trop funeste Ennemy du bonheur de ma vie, Terrível Iinimigo da felicidade da minha vida,
Faut-il que malgré moy tu regnes dans mon Deveis, contra a minha vontade, reinar em
cœur ? meu coração?

SCÈNE II CENA II

PHENICE FÊNIX
(P.119) (Pág. 119)
Que ne peut point vostre art ? la force en est O que não podem vossos feitiços? Sua força
extréme. é extrema.
Quel prodige ! quel changement ! Que prodígio! Que mudança!
Renaud qui fut si fier, vous aime, Reinaldo que era tão orgulhoso, vos ama,
On n’a jamais aimé si tendrement. Ninguém jamais amou tão ternamente.

SIDONIE SIDÔNIA
Montrez-vous à ses yeux, soyez témoin Mostrai-vos aos seus olhos, sejais vós
vous-mesme mesma testemunha
Du merveilleux effet de vostre enchantement. Do efeito maravilhoso de vosso feitiço.

ARMIDE ARMIDA
L’Enfer n’a pas encor remply mon O inferno ainda não satisfez minha
esperance, esperança,
Il faut qu’un nouveau charme acheve ma É preciso que um novo feitiço conclua minha
vengeance. vingança.

SIDONIE SIDÔNIA
Sur des bords separez du sejour des Nas margens separadas da morada dos
Humains, Humanos,
Qui peut arracher de vos mains Quem poderia arrancar de vossas mãos
Un Ennemy qui vous adore ? Um inimigo que vos adora?
Vous enchantez Renaud, que craignez vous Encantastes Reinaldo, o que temes ainda?
encore ?

ARMIDE ARMIDA
Helas ! c’est mon cœur que je crains. Ah! é o meu coração que temo.
Vostre amitié dans mon sort s’interesse, Vossa amizade se interessa por meu
destino,
Je vous ay fait conduire avec moy dans ces Eu vos fiz me acompanhar a esses lugares:
lieux : Do resto dos Mortais escondo minha
Au reste des Mortels je cache ma foiblesse, fraqueza,
Je n’en veux rougir qu’à vos yeux. Somente aos vossos olhos quero corar por
ela.
De mes plus doux regards Renaud sçeut se Dos meus olhares mais doces, Reinaldo
deffendre. soube se defende.
Je ne pûs engager ce cœur fier à se rendre ; Não consegui persuadir este orgulhoso
coração a se render;
Il m’échapa malgré mes soins : Escapou-me apesar das minhas precauções:
Sous le nom du Dépit l’Amour vint me Sob o nome do Despeito, o Amor veio me
surprendre surpreender
Lorsque je m’en gardois le moins. Quando eu menos esperava.
Plus Renaud m’aimera moins je seray Quanto mais Reinaldo me amar, menos
tranquille ; tranquila ficarei;
J’ay resolu de le haïr. Resolvi odiá-lo.
Je n’ay tenté jamais rien de si difficile : Nunca tentei algo tão difícil:
Je crains que pour forcer mon cœur à Temo que para forçar meu coração a me
m’obeïr obedecer
Tout mon Art ne soit inutile. Todos os meus feitiços sejam inúteis.

PHENICE FÊNIX
Que vostre art seroit beau ! qu’il seroit Como vossos feitiços seriam belos! Como
admiré! seriam admiráveis!
S’il sçavoit garentir des troubles de la vie. Se eles soubessem como proteger dos
problemas da vida.
Heureux qui peut estre asseuré Feliz de quem pode estar seguro
De disposer de son cœur à son gré ; Para dispor de seu coração como quiser;
C’est un secret digne d’envie, É um segredo digno de inveja,
Mais de tous les secrets c’est le plus ignoré. Mas de todos os segredos é o mais
ignorado.

SIDONIE SIDÔNIA
La Haine est affreuse & barbare, O Ódio é atroz e bárbaro,
L’Amour contraint les cœurs dont il s’empare O Amor obriga os corações de que se
apodera
A souffrir des maux rigoureux. A sofrerem com males rigorosos.
Si vostre sort est en vostre puissance, Se vosso destino estiver em vosso poder,
Faites choix de l’Indifference, Escolha a indiferença,
Elle asseure un repos heureux. Ela assegura um repouso feliz.

ARMIDE ARMIDA
Non, non, il ne m’est plus possible Não, não, já não é mais possível para mim
De passer de mon trouble en un estat Passar da minha confusão para um estado
paisible; de paz;
Mon cœur ne se peut plus calmer. Meu coração não pode mais se acalmar.
Renaud m’offence trop, il n’est que trop Reinaldo me ofende demais, e é por demais
aimable, amável,
C’est pour moy desormais un choix É para mim agora uma escolha
indispensable indispensável
De le haïr ou de l’aimer. Odiá-lo ou amá-lo.

PHENICE FÊNIX
Vous n’avez pû haïr ce Heros invincible Não haveis podido odiar este herói
invencível
Lorsqu’il estoit le plus terrible Quando ele era o mais terrível
De tous vos Ennemis. De todos os vossos inimigos.
Il vous aime, l’Amour l’enchaîne ; Ele vos ama, o amor o acorrenta;
Garderiez-vous mieux vostre haine Seria melhor se guardásseis vosso ódio
Contre un Amant si tendre & si soûmis. Contra um Amante tão terno e tão submisso.

ARMIDE ARMIDA
Il m’aime ! quel amour ! ma honte s’en Ele me ama! que amor! minha vergonha
augmente ! aumenta por isso!

Dois-je estre aimée ainsi ! puis-je en estre Devo ser amada assim! posso ficar contente
contente ? com isso?
C’est un vain triomphe, un faux bien. É um vão triunfo, um falso bem.
Helas ! que son amour est different du mien ! Ah! como o amor dele é diferente do meu!
J’ay recours aux Enfers pour allumer sa Recorri ao inferno para acender sua chama.
flame. É o esforço dos meus artifícios que na sua
C’est l’effort de mon Art qui peut tout sur son alma pode tudo;
ame ;
Ma foible beauté n’y peut rien. Minha débil beleza nada pode.
Par son propre merite il suspend ma Por mérito próprio, ele suspende minha
vengeance ; vingança;
Sans secours, sans effort, mesme sans qu’il Sem ajuda, sem esforço, sem nem pensar
y pense, nisso,
Il enchaîne mon cœur d’un trop charmant Ele acorrenta meu coração com um vínculo
lien. encantador demais.
Helas ! que mon amour est different du sien ! Ah! como o meu amor é diferente do dele!
Quelle vengeance ai-je à pretendre Que vingança eu terei que reivindicar
Si je le veux aimer toujours. Se eu quiser amá-lo para sempre.
Quoy ; ceder sans rien entreprendre ? O quê ? Ceder sem tentar fazer nada?
Non, il faut appeller la Haine à mon secours. Não, o Ódio deve ser chamado em meu
auxílio.
L’horreur de ces lieux solitaires O horror desses lugares solitários
Par mon art va se redoubler. Por minha magia será redobrado.
Destournez vos regards de mes affreux Desviai vosso olhar dos meus terríveis
mysteres, mistérios,
Et sur tout empéchez Renaud de me E, sobretudo, evitai que Reinaldo me
troubler. perturbe.

SCÈNE III CENA III

ARMIDE ARMIDA
(P.125) (Pág. 125)
Venez, venez, Haine implacable, Vinde, vinde, Ódio implacável,
Sortez du Gouffre épouventable Saí do terrível abismo
Ou vous faites regner une éternelle horreur. Onde fazeis reinar um eterno horror.
Sauvez-moy de l’Amour, rien n’est si Salvai-me do amor, não há nada mais
redoutable : terrível:
Contre un Ennemy trop aimable Contra um inimigo tão amável
Rendez-moy mon couroux, rallumez ma Devolvei minha ira, reacendei minha fúria.
fureur. Vinde, vinde, ódio implacável,
Venez, venez, Haine implacable, Saí do terrível abismo
Sortez du Gouffre épouventable Onde fazeis reinar um eterno horror.
Ou vous faites regner une éternelle horreur.

SCÈNE IV CENA IV

LA HAÎNE O ÓDIO
(P.128) (Pág. 128)
Je responds à tes vœux, ta voix s’est fait Respondo a teus desejos, tua voz se fez
entendre, ouvir,
Jusques dans le fonds des Enfers. Até as profundezas do inferno.
Pour toy, contre l’Amour, je vais tout Por ti, contra o amor, tudo farei,
entreprendre, E se quisermos nos defender dele,
Et quand on veut bien s’en deffendre Devemos tomar cuidado com seus indignos
On peut se garentir de ses indignes fers. grilhões.
LA HAÎNE, CHŒUR O ÓDIO, CORO
(P.140) (Pág. 140)
Amour, sors pour jamais, sors d’un cœur qui Amor, saias para sempre, saias de um
te chasse : coração que te expulsa:
Laisse-moy regner en ta place. Deixa-me reinar em teu lugar.
Tu faits trop souffrir sous ta loy, Causas sofrimento demais sob tua lei,
Non, tout l’Enfer n’a rien de si cruel que toy. Não, em todo o Inferno não há nada tão
cruel quanto tu.

ARMIDE ARMIDA
Arreste, arreste, affreuse Haine, Pare, pare, terrível Ódio,
Laisse-moy sous les Loix d’un si charmant Deixa-me sob as leis de um conquistador tão
Vainqueur. encantador.
Laisse-moy, je renonce à ton secours Deixa-me, renuncio a tua horrível ajuda.
horrible.
Non, non, n’acheve pas, non il n’est pas Não, não, não conclua, não é possível
possible Me privar do meu amor sem arrancar meu
De m’oster mon amour sans m’arracher le coração.
cœur.

LA HAÎNE O ÓDIO
N’implores-tu mon assistance Tu imploras minha ajuda
Que pour mépriser ma puissance ; Apenas para desprezar meu poder;
Suy l’Amour, puisque tu le veux. Sigas o amor, já que o quereis.
Infortunée Armide, Infeliz Armida,
Suy l’Amour qui te guide Sigas o amor que te guia
Dans un abysme affreux. Em um abismo terrível.
Sur ces bords écartez c’est en vain que tu Nestas margens longínquas, tentas em vão
cache esconder
Le Heros dont ton cœur s’est trop laissé O herói por quem teu coração se deixou
toucher. tocar.
La Gloire à qui tu l’arrache A glória da qual queres arrancá-lo
Doit bien-tost te l’arracher. Brevemente deverá arrancá-lo de ti.
Malgré tes soins, au mépris de tes larmes, Apesar das tuas precauções, apesar des
tuas lágrimas
Tu le verras échaper à tes charmes, Verás que ele irá escapar de teus encantos.
Tu me rappelleras peut-estre dés ce jour, Talvez tu me invoques novamente a partir
deste dia,
Et ton attente sera vaine, E vã será tua espera,
Je vais te quitter sans retour ; Pois te deixarei sem resposta;
Je ne puis te punir d’une plus rude peine Eu não poderia puni-la com mais dura pena,
Que de t’abandonner pour jamais à l’Amour. Do que te abandonar para sempre ao amor.

QUATRIÈME ACTE QUARTO ATO

SCÈNE I CENA I

UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


(P.151) (Pág. 151)
Nous ne trouvons par tout que des Gouffres Por todos os lados só encontramos Abismos
ouverts, abertos,
Armide a dans ces lieux transporté les Enfer. Armida transportou para este lugar o inferno.
Ah ! que d’objets horribles ! Ah! Quantos objetos horríveis!
Que de Monstres terribles ! Quantos monstros terríveis!

UBALDE UBALDO
Celuy qui nous envoye a preveu ce danger, Aquele que nos enviou anteviu este perigo,
Et nous a monstré l’art de nous en dégager. E nos mostrou a arte de dele escapar.
Ne craignons point Armide ny ses charmes : Não temamos Armida nem seus encantos:
Par ce secours plus puissant que nos armes, Com esta ajuda mais poderosa do que
nossas armas,
Nous en serons aisément garentis. Estaremos garantidos.
Laissez-nous un libre passage, Nos dê uma passagem livre,
Monstres, allez cacher vostre inutile rage Monstros, escondei vossa raiva inútil
Dans les gouffres profonds dont vous estes Nos abismos profundos de onde emergiram.
sortis.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Allons chercher Renaud, le Ciel nous Vamos buscar Reinaldo, o Céu nos favorece
favorise
Dans nostre penible enreprise. Em nossa dolorosa missão.
Ce qui peut flater nos desirs O que pode adular nossos desejos
Doit à son tour tenter de nous surprendre. Deve, por sua vez, tentar nos surpreender.
C’est desormais du charme des plaisirs Agora é do encanto dos prazeres
Que nous aurons à nous deffendre. Que teremos que nos defender.

UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Redoublons nos soins, gardons-nous Redobremos nossos cuidados, guardemo-
Des perils agreables. nos
Les enchantements les plus doux Dos perigos agradáveis.
Sont les plus redoutables. Os mais doces feitiços
São os mais temíveis.

UBALDE UBALDO
On voit d’icy le sejour enchanté Vemos daqui a morada encantada
D’Armide & du Heros qu’elle aime, De Armida e do Herói que ela ama,
Dans ce Palais Renaud est arresté Neste Palácio Reinaldo está preso
Par un charme fatal dont la force est Por um encanto nefasto cuja força é
extréme. extrema.
C’est la que ce Vainqueur si fier, si redouté, É lá que este Conquistador, tão orgulhoso,
tão temido,
Oubliant tout jusqu’à luy mesme, Esquecendo de tudo, até de si mesmo,
Est reduit à languir avec indignité Está reduzido a definhar com indignidade
Dans une molle oisiveté. Em suave ociosidade.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


En vain tout l’Enfer s’interesse Em vão todo o Inferno se interessa
Dans l’Amour qui seduit un cœur si glorieux : Pelo Amor que seduz tão glorioso coração:
Si sur ce Bouclier Renaud tourne les yeux Se Reinaldo voltar o olhar para este Escudo
Il rougira de sa foiblesse, Irá corar por sua fraqueza,
Et nous l’engagerons à partir de ces lieux. E o resgataremos deste lugar.
SCÈNE II CENA II

LUCINDE LUCINDA
(P. 160) (Pág. 160)
Voicy la charmante Retraite Eis o encantador Retiro
De la felicité parfaite : Da felicidade perfeita
Voicy l’heureux sejour Eis a feliz morada
Des Jeux & de l’Amour. das Brincadeiras e do Amor.

CHOEUR CORO
Voicy la charmante Retraite Eis o encantador Retiro
De la felicité parfaite : Da felicidade perfeita
Voicy l’heureux sejour Eis a feliz morada
Des Jeux & de l’Amour. Das Brincadeiras e do Amor.

UBALDE UBALDO
(P.165) (Pág. 165)
Allons, qui vous retient encore ? Vamos, quem ainda vos segura?
Allons, c’est trop vous arrester. Vamos, não há nada que possa impedi-lo.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Je voy la Beauté que j’adore : Vejo a Beldade que adoro:
C’est elle, je n’en puis douter. É ela, não posso duvidar.

LUCINDE, CHOEUR LUCINDA, CORO


Jamais dans ces beaux lieux nostre attente Jamais, nestes belos lugares, nossa espera
n’est vaine, é em vão,
Le bien que nous cherchons se vient offrir à O bem que buscamos vem se oferecer a
nous, nós,
Et pour l’avoir trouvé sans peine E por tê-lo encontrado sem esforço
Nous ne l’en trouvons pas moins doux. Nem por isso o achamos menos suave.

CHOEUR CORO
Voicy la charmante Retraite Eis o encantador Retiro
De la felicité parfaite : Da felicidade perfeita
Voicy l’heureux sejour Eis a feliz morada
Des Jeux & de l’Amour. Das Brincadeiras e do Amor.

LUCINDE LUCINDA
Enfin je voy l’Amant pour qui mon cœur Enfim vejo o Amante por quem meu coração
soûpire, suspira,
Je retrouve le bien que j’ay tant souhaité. Encontrei o bem que tanto desejei.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Puis-je voir icy la Beauté Posso ver aqui a beldade.
Qui m’a soûmis à son Empire ? Que me submeteu a seu império?

UBALDE UBALDO
Non, ce n’est qu’un charme trompeur Não, é apenas um encanto enganador
Dont il faut garder vostre cœur. Do qual deves proteger vosso coração.
LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS
Si loin des bords glacez où vous pristes Tão longe das gélidas margens onde
naissance, nascestes,
Qui peut vous offrir à mes yeux ? Quem poderia vos oferecer a meus olhos?

LUCINDE LUCINDA
Par une magique puissance Por uma força mágica
Armide m’a conduite en ces aimables lieux, Armida me trouxe a este agradável lugar,
Et je vivois dans la douce esperance E eu vivia na doce esperança
D’y voir bien-tost ce que j’aime le mieux. De logo encontrar nele o que mais amo na
vida.
Goustons les doux plaisirs que pour nos Saboreemos os doces prazeres que, para
cœurs fidelles nossos fiéis corações
Dans cét heureux sejour l’Amour a preparez. o amor nos preparou nesta feliz morada.
Le Devoir par des loix cruelles O Dever, por leis cruéis
Ne nous a que trop separez. Já nos separou demais.

UBALDE UBALDO
Fuyez, faites-vous violence. Fugi, cometei essa violência contra vós.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


L’Amour ne me le permet pas. O amor não me permite fazê-lo.
Contre de si charmants appas Contra seus atrativos tão sedutores
Mon cœur est sans deffense. Meu coração fica sem defesa.

UBALDE UBALDO
Est-ce la cette fermeté É esta firmeza
Dont vous vous estes tant vanté ? De que tanto vos vangloriastes?

LE CHEVALIER DANOIS, LUCINDE O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS,


LUCINDA
Joüissons d’un bonheur extréme, Gozemos de uma extrema felicidade,
Hé ! quel autre bien peut valoir Ah! Que outro bem pode valer
Le plaisir de voir ce qu’on aime ? O prazer de ver aquele que amamos?

UBALDE UBALDO
Malgré la puissance infernale, Apesar da força infernal,
Malgré vous mesme il faut vous détromper. Apesar de vós mesmos, é necessário se
desenganar.
Ce Sceptre d’or peut dissiper Este cetro dourado pode dissipar
Une erreur si fatale. Um erro tão fatídico.

SCÈNE III CENA III

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


(P.176) (Pág. 176)
Je tourne en vain les yeux de toutes parts, Em vão volto os olhos em todas as direções,
Je ne voy plus cette Beauté si chere. Já não vejo esta Beldade tão cara.
Elle eschape à mes regards Ela escapa do meu olhar
Comme une vapeur legere. Como um leve vapor.
UBALDE UBALDO
Ce que l’Amour a de charmant O que há de encantador no Amor
N’est qu’une illusion qui ne laisse apres elle É só uma ilusão que deixa para trás apenas
Qu’une honte éternelle. uma eterna vergonha.
Ce que l’Amour a de charmant O que há de encantador no Amor
N’est qu’un funeste enchantement. É apenas um feitiço funesto.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Je voy le danger où s’expose Eu vejo o perigo a que se expõe
Un cœur qui ne fuit pas un charme si Um coração que não foge de um encanto tão
puissant. poderoso.
Que vous estes heureux si vous estes Como se é feliz quando se é isento
exempt
Des foiblesses que l’amour cause ! Das fraquezas que o amor causa.

UBALDE UBALDO
Non, je n’ay point gardé mon cœur jusqu’à Não, eu não protegi meu coração até hoje,
ce jour, Próximo ao objeto do meu amor foi-me doce
Prés de l’objet que j’aime il m’estoit doux de viver.
vivre.
Mais quand la Gloire ordonne de la suivre Mas quando a Glória nos ordena a segui-la
Il faut laisser gemir l’Amour. É preciso deixar o Amor gemer.
Des charmes les plus forts la raison me A razão me desvencilha dos encantos mais
desgage. fortes.
Rien ne nous doit icy retenir davantage, Nada mais nos deve prender aqui,
Profitons des conseils que l’on nous a Aproveitemos os conselhos que nos foram
donnez. dados.

SCÈNE IV CENA IV
MELISSE MELISSA
(P.180) (Pág. 180)
D’où vient que vous vous destournez Como é possível que vós vos afasteis
De ces eaux & de cét ombrage ? Destas águas e destas sombras?
Goustez un doux repos, Estrangers fortunez, Provai um doce repouso, afortunados
estrangeiros,
Delassez-vous icy d’un penible voyage. Relaxai aqui de uma árdua jornada.
Un favorable sort vous appelle au partage Uma sorte favorável vos convida a
compartilhar
Des biens qui vous sont destinez. Dos bens que vos são destinados.

UBALDE UBALDO
Est-ce vous, charmante Melisse ? Sois vós, encantadora Melissa?

MELISSE MELISSA
Est-ce vous, cher Amant, Est-ce vous que je Sois vós, caro Amante, sois vós que eu
voy ? vejo?

UBALDE, MELISSE UBALDO, MELISSA


Au rapport de mes yeux je n’ose adjoûter foy. No relato dos meus olhos não ouso crer.
Se peut-il qu’en ces lieux l’Amour nous É possível que seja neste lugar que o Amor
réünisse ? venha a nos reunir?
MELISSE MELISSA
Est-ce vous, cher Amant, Est-ce vous que je Sois vós, caro Amante, Sois vós que eu
voy ? vejo?

UBALDE UBALDO
Est-ce vous, charmante Melisse ? Sois vós, encantadora Melissa?

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Non, ce n’est qu’un charme trompeur Não, é apenas um encantamento enganador
Dont il faut garder vostre cœur. Do qual deveis proteger vosso coração.
Fuyez, faites vous violence. Fuji, violentai-vos.

MELISSE MELISSA
Pourquoy faut-il encor m’arracher mon Por que é preciso ainda que meu amante
Amant? seja arrancado de mim?
Faut-il ne nous voir qu’un moment Não podemos nos ver por mais que um
momento
Après une si longue absence ? Depois de tão longa ausência?
Je ne puis consentir à vostre esloignement. Não posso consentir com vosso afastamento
Je n’ay que trop souffert un si cruel tourment, Já sofri demais com este tormento tão cruel,
& je mourray s’il recommence. E morreria se recomeçasse.

UBALDE, MELISSE UBALDO, MELISSA


Faut-il ne nous voir qu’un moment Não podemos nos ver por mais que um
momento
Après une si longue absence ? Depois de tão longa ausência?

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Est-ce la cette fermeté É esta a firmeza
Dont vous vous estes tant vanté ? Da qual tanto vos vangloriastes?
Sortez de vostre erreur, la Raison vous Abandonai vosso erro, a Razão vos chama.
appelle.

UBALDE UBALDO
Ah ! que le Raison est cruelle ! Ah! Como a Razão é cruel!
Si je suis abusé, pourquoy m’en avertir ? Se sou abusado, por que me adverte?
Que mon erreur me paroist belle ! Como o meu erro me parece belo!
Que je serois heureux de n’en jamais sortir ! Como eu seria feliz se nunca saísse dele!

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


J’auray soin malgré vous de vous en Me preocuparei, apesar de ti, em te proteger.
garentir.

UBALDE UBALDO
Que devient l’objet qui m’enflame ? O que houve com o objeto que me inflama?
Melisse disparoist soudain ! Melissa desapareceu de repente!
Ciel ! faut-il qu’un fantosme vain Céus! É preciso que um vão fantasma
Cause tant de trouble à mon ame ? Cause tantos danos à minha alma?

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Ce que l’Amour a de charmant O que há de encantador no Amor
N’est qu’une illusion qui ne laisse apres elle É só uma ilusão que deixa para trás
Qu’une honte éternelle. Apenas uma eterna vergonha.
Ce que l’Amour a de charmant O que há de encantador no Amor
N’est qu’un funeste enchantement. É apenas um funesto feitiço.

UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Ce que l’Amour a de charmant O que há de encantador no Amor
N’est qu’un funeste enchantement. É apenas um funesto feitiço.

UBALDE UBALDO
D’une nouvelle erreur songeons à nous De um novo erro devemos nos defender,
deffendre,
Evitons de trompeurs attraits, Evitemos atrações enganosas,
Ne nous destournons pas du chemin qu’il Não nos desviemos do caminho que
faut prendre devemos seguir
Pour arriver à ce Palais. Para chegar a este Palácio.

UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Fuyons les douceurs dangeureuses Fujamos dos doces perigos
Des illusions amoureuses : Das ilusões amorosas:
On s’esgare quand on les suit ; Perdemo-nos quando as seguimos;
Heureux qui n’en est pas seduit ! Feliz daquele que não se deixa seduzir por
elas!

CINQUIEME ACTE QUINTO ATO

SCÈNE I CENA I

RENAUD REINALDO
(P.186) (Pág. 186)
Armide, vous m’allez quitter ! Armida, ireis me deixar!

ARMIDE ARMIDA
J’ay besoin des Enfers, je vay les consulter ; Preciso do inferno, irei consultá-lo;
Mon art veut de la solitude ; Minha arte necessita da solidão;
L’amour que j’ay pour vous cause O amor que sinto por vós causa a
l’inquietude preocupação
Dont me cœur se sent agiter. Que agita o meu coração.

RENAUD REINALDO
Armide vous m’aller quitter ! Armida, ireis me deixar!

ARMIDE ARMIDA
Voyez en quels lieux je vous laisse. Vede em que paragens vos deixo.

RENAUD REINALDO
Puis-je rien voir que vos appas ? Poderia eu ver algo além de vossos
encantos?

ARMIDE ARMIDA
Les plaisirs vous suivrons sans cesse. Os prazeres vos seguirão incessantemente.
RENAUD REINALDO
En est-il où vous n’estes pas ? Existem prazeres onde vós não estais?

ARMIDE ARMIDA
Un noir pressentiment me trouble & me Um pressentimento negro me perturba e me
tourmente, atormenta,
Il m’annonce un malheur que je veux Anuncia-me um infortúnio que quero
prevenir; prevenir;
Et plus nostre bonheur m’enchante, E quanto mais a nossa felicidade me
encanta,
Plus je crains de le voir finir. Mais temo vê-la acabar.

RENAUD REINALDO
D’une vaine terreur pouvez-vous estre Como podeis estar tomada por um vão
atteinte, terror,
Vous qui faites trembler le tenebreux sejour ? Vós que fazeis tremer o mais tenebroso dos
lugares?

ARMIDE ARMIDA
Vous m’apprenez à connoistre l’Amour, Vós me ensinais a conhecer o Amor,
L’Amour m’apprend à connoistre la crainte. e o Amor me ensina a conhecer o Medo.
Vous brusliez pour la Gloire avant que de Ardestes pela Glória antes de amar-me,
m’aimer,
Vous la cherchiez par tout d’une ardeur sans A procurastes por toda parte com um ardor
esgale : inigualável:
La Gloire est une Rivale A Glória é uma Rival
Qui doit toûjours m’allarmer. Que sempre irá me alarmar.

RENAUD REINALDO
Que j’estois insensé de croire Como fui tolo em acreditar
Qu’un vain Laurier donné par la Victoire, Que os vãos Louros dados pela Vitória
De tous les biens fût le plus precieux ! De todos os bens fossem os mais preciosos!
Tout l’Esclat dont brille la Gloire Será que todo o fulgor com que brilha a
Glória
Vaut-il un regard de vos yeux ? Vale um único olhar de vossos olhos?
Est-il un bien si charmant & si rare Existe algum bem tão encantador e tão raro
Que celuy dont l’Amour veut combler mon Quanto aquele do qual o amor quer cumular
espoir. minha esperança?

ARMIDE ARMIDA
La severe Raison & le Devoir barbare A severa Razão e o bárbaro Dever
Sur les Heros n’ont que trop de pouvoir. Sobre os Heróis têm muito poder.

RENAUD REINALDO
J’en suis plus amoureux plus la raison Tanto mais me apaixono quanto mais a
m’esclaire : razão me ilumina:
Vous aimer, belle Armide, est mon premier Amar-vos, bela Armida, é meu primeiro
devoir, dever,
Je fais ma gloire de vous plaire, Faço com que minha glória seja agradar-vos,
Et tout mon bonheur de vous voir. E toda a minha felicidade, vos ver.
ARMIDE ARMIDA
Que sous d’aimables loix mon ame est Como são amáveis as leis sob as quais
asservie ! minha alma está escravizada!

RENAUD REINALDO
Qu’il m’est doux de vous voir partager ma Como é doce vos ver compartilhar meu
langueur. langor.

ARMIDE ARMIDA
Qu’il m’est doux d’enchaîner un si fameux Como é doce acorrentar um Conquistador
Vainqueur ! tão famoso!

RENAUD REINALDO
Que mes fers sont dignes d’envie ! Como meus grilhões são dignos de inveja!

RENAUD, ARMIDE REINALDO, ARMIDA


Aimons-nous, tout nous y convie, Amemo-nos, tudo nos convida a isso,
Ah ! si vous aviez la rigueur Ah! Se tivésseis o rigor
De m’oster vostre cœur De roubar-me vosso coração
Vous m’osteriez la vie. Me tirarieis a vida.

RENAUD REINALDO
Non, je perdray plûtost le jour, Não, eu prefiro perder a vida
Que d’esteindre ma flâme. Do que extinguir a chama da minha paixão.

ARMIDE ARMIDA
Non, rien ne peut changer mon ame. Não, nada pode mudar minha alma.

RENAUD REINALDO
Non, je perdray plûtost le jour, Não, prefiro perder a vida
Que de me dégager d’un si charmant Amour. Do que libertar-me de um amor tão
encantador.

ARMIDE, RENAUD ARMIDA, REINALDO


Non, je perdray plûtost le jour, Não, prefiro perder a vida
Que d’esteindre ma flâme. Do que extinguir a chama desta paixão.
Non, rien ne peut changer mon ame. Não, nada pode mudar minha alma.
Non, je perdray plûtost le jour, Não, prefiro perder a vida
Que de me dégager d’un si charmant Amour. Do que libertar-me de um Amor tão
encantador.

ARMIDE ARMIDA
Tesmoins de nostre amour extréme, Testemunhas de nosso amor extremo,
Vous, qui suivez mes loix dans ce sejour Vós, que seguis minhas leis nesta feliz
heureux morada
Jusques à mon retour par d’agreables jeux ; Até minha volta, por jogos agradáveis;
Occupez le Heros que j’aime. Ocupai o Herói que amo.
SCÈNE II CENA II

RENAUD, CHŒUR REINALDO, CORO


(P.197) (Pág. 197)
Les plaisirs ont choisi pour azile Os prazeres escolheram como asilo
Ce sejour agreable & tranquile ; Esta morada agradável e tranquila,
Que ces lieux sont charmants Como são encantadoras essas paragens
Pour les heureux Amants ! Para os amantes felizes!
C’est l’amour qui retient dans ses chaînes É o amor que retém sob suas correntes,
Mille oyseaux qu’en nos bois nuit & jour on Os mil pássaros que ouvimos cantar noite e
entend. dia em nossos bosques.
Si l’amour ne causoit que des peines, Se o amor só causasse pesar
Les oyseaux amoureux ne chanteroient pas Os pássaros apaixonados não cantariam
tant. tanto.

Jeunes Cœurs, tout vous est favorable. Jovens corações, tudo vos é favorável.
Profitez d’un bonheur peu durable. Aproveitai uma felicidade que pouco dura.
Dans l’hyver de nos ans, L’Amour ne regne No inverno de nossa existência o amor não
plus. reina mais
Les beaux jours que l’on perd sont pour E os dias belos que perdemos ficam
jamais perdus. perdidos para sempre.

Les plaisirs ont choisi pour azile Os prazeres escolheram como asilo
Ce sejour agreable & tranquile ; Esta morada agradável e tranquila,
Que ces lieux sont charmants Como são encantadoras estas paragens
Pour les heureux Amants ! para os amantes felizes!

RENAUD REINALDO
(P.205) (Pág. 205)
Allez, éloignez-vous de moy Vamos, afastai-vos de mim
Doux Plaisirs, attendez qu’Armide vous Doces prazeres, esperai até que Armida vos
rameine : traga de volta:
Sans la Beauté qui me tient sous sa loy Sem a Beldade que me mantém sob seu
jugo
Rien ne me plaist, tout augmente ma peine. Nada me dá prazer, tudo aumenta minha
dor.
Allez, éloignez-vous de moy Vamos, afastai-vos de mim
Doux Plaisirs, attendez qu’Armide vous Doces prazeres, esperai até que Armida vos
rameine : traga de volta:

SCÈNE III CENA III

UBALDE UBALDO
(P.206) (Pág. 206)
Il est seul ; profitons d’un temps si precieux. Ele está sozinho; aproveitemos este tempo
tão precioso.

RENAUD REINALDO
Que vois-je ? quel esclat me vient fraper les O que vejo? Que brilho é este que atinge
yeux ? meus olhos?
UBALDE UBALDO
Le Ciel veut vous faire connaistre Os Céus querem que conheças
L’erreur dont vos sens sont seduits. Os erros com que vossos sentidos foram
seduzidos.

RENAUD REINALDO
Ciel ! quelle honte de paraistre Céus! Que vergonha ser visto
Dans l’indigne estat où je suis ! Neste estado indigno em que me encontro!

UBALDE UBALDO
Nostre General vous r’apelle ; Nosso General vos convoca novamente;
La Victoire vous garde une Palme A vitória vos reserva uma palma imortal.
immortelle.
Tout doit presser vostre retour. Tudo deve apressar vosso regresso.
De cent divers Climats chacun court à la Cem climas diversos, todos correm para a
Guerre ; Guerra;
Renaud seul, au bout de la Terre, Reinaldo sozinho, nos confins da Terra,
Caché dans un charmant sejour, Escondido em uma encantadora morada,
Veut-il suivre un honteux Amour. Quer seguir um Amor vergonhoso.

RENAUD REINALDO
Vains ornements d’une indigne molesse, Vãos ornamentos de uma indigna suavidade,
Ne m’offrez plus vos frivoles attraits : Não me ofereçais mais vossos frívolos
atrativos,
Restes honteux de ma foiblesse, Permaneçais envergonhados por minha
fraqueza,
Allez, quittez-moy pour jamais. Vades, deixai-me para sempre.

LE CHEVALIER DANOIS O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Desrobez-vous aux pleurs d’Armide, Furtai-vos às lágrimas de Armida,
C’est l’unique danger dont vostre ame É o único perigo do qual a vossa alma
intrepide intrépida
A besoin de se garentir. Precisa se precaver.
Dans ces lieux enchantez la Volupté preside, Neste lugar encantado a Volúpia preside,
Vous n’en sçauriez trop tost sortir. Quanto mais cedo escapares, melhor!

RENAUD REINALDO
Allons, hastons-nous de partir. Vamos, apressemo-nos em partir.

SCÈNE IV CENA IV

ARMIDE ARMIDA
(P.209) (Pág. 209)
Renaud? Ciel ! ô mortelle peine ! Reinaldo? Céus! Oh, dor mortal!
Vous partez ? Renaud! vous partez ? Vais embora? Reinaldo! Vais embora?
Demons, suivez ses pas, volez, & l’arrestez ; Demônios, segui seus passos, voai e
prendei-no;
Helas ! tout me trahit, & ma puissance est Ah! Tudo me trai e vão é meu poder.
vaine.
Renaud? Ciel ! ô mortelle peine ! Reinaldo? Céus! Oh, dor mortal!
Mes cris ne sont pas écoutez ! Não se escutam meus gritos!
Vous partez, Renaud! vous partez ? Vais embora, Reinaldo! Vais embora?
Si je ne vous vois plus croyez-vous que je Achais que eu viveria sem vê-lo?
vive?
Ay-je pû meriter un si cruel tourment ? Terei merecido um tormento tão cruel?
Du moins, comme Ennemy, si ce n’est Pelo menos, como Inimigo, se não como
comme Amant, Amante,
Emmenez Armide captive. Levai Armida como cativa.
J’iray dans les combats, j’iray m’offrir aux Irei às batalhas, me oferecerei aos golpes
coups

Qui seront destinez pour vous. Destinados a vós.


Renaud, pourveu que je vous suive Reinaldo, desde que eu vos siga
Le sort le plus affreux me paroistra trop doux. O mais atroz destino, para mim pareceria o
mais doce.

RENAUD REINALDO
Armide, il est temps que j’évite Armida, está na hora de evitar
Le peril trop charmant que je trouve à vous O perigo encantador demais que corro ao
voir. vos ver.
La Gloire veut que je vous quitte, A Glória exige que eu vos deixe,
Elle ordonne à l’Amour de ceder au Devoir. E ordena que o Amor ceda ao Dever.
Si vous souffrez, vous pouvez croire Se sofreis, podeis acreditar,
Que je m’éloigne à regret de vos yeux, Que me afasto de vossos olhos com pesar,
Vous regnerez toûjours dans ma memoire, Reinareis para sempre em minha memória,
Vous serez aprés la Gloire Sereis, depois da Glória,
Ce que j’aimeray le mieux. Minha maior paixão.

ARMIDE ARMIDA
Non, jamais de l’Amour tu n’as senty le Não, tu jamais sentistes os encantos do
charme, amor,
Tu te plais à causer de funestes malheurs. Te deleitas em causar infortúnios funestos.
Tu m’entends soûpirer, tu vois coulez mes Ouves meus suspiros, vês minhas lágrimas
pleurs, rolarem,
Sans me rendre un soûpir, sans verser une Sem me devolver um suspiro, sem derramar
larme. uma lágrima.
Par les nœuds les plus doux je te conjure en Pelos laços mais doces, em vão te conjuro;
vain ;
Tu suis un fier Devoir, tu veux qu’il nous Segues um orgulhoso Dever, e queres que
separe : ele nos separe:
Non, non, ton cœur n’a rien d’humain, Não, não, teu coração não tem nada de
humano,
Le cœur d’un Tigre est moins barbare. O coração de um Tigre é menos bárbaro.
Je mourray si tu parts, & tu n’en peut douter, Morrerei se partires, não duvide disso.
Ingrat, sans toy je ne puis vivre. Ingrato, sem ti eu não posso viver.
Mais aprés mon trépas ne crois pas éviter Mas após a minha morte não pense em
evitar
Mon Ombre obstinée à te suivre. Minha sombra obstinada em te seguir.
Tu la verras s’armer contre ton cœur sans Tu a verás se armando contra teu coração
foy, infiel,
Tu la trouveras inflexible, Verás que ela será inflexível,
Comme tu l’as esté pour moy, Como fostes comigo.
Et sa fureur s’il est possible E sua fúria, se é que isso é possível,
Esgalera l’amour dont j’ay brûlé pour toy. Igualará o amor com o qual ardi por ti.
Ah ! la lumiere m’est ravie ! Ah! a luz é roubada de mim!
Barbare est-tu content, Bárbaro, estás contente,
Tu joüis en partant Ao partir sentes
Du plaisir de m’oster la vie. prazer em tirar-me a vida.

RENAUD REINALDO
Trop malheureuse Armide ! helas ! Infeliz Armida! Ah!
Que ton destin est déplorable. Como teu destino é deplorável.

UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


Il faut partir, hastez vos pas, Precisamos partir, apressai vossos passos,
La Gloire attend de vous un cœur A Glória espera de vós um coração
inébranlable. inabalável.

RENAUD REINALDO
Non, la Gloire n’ordonne pas Não, a Glória não ordena
Qu’un grand Cœur soit impitoyable. Que um grande Coração seja impiedoso.

UBALDO, O CAVALHEIRO DINAMARQUÊS


UBALDE, LE CHEVALIER DANOIS É preciso vos arrancar dos atrativos
Il faut vous arracher aux dangeureux appas perigosos
D’un objet trop aimable. De um objeto tão amável.

RENAUD REINALDO
Trop malheureuse Armide ! helas ! Infeliz Armida! Ah!
Que ton destin est déplorable. Como teu destino é deplorável.

SCÈNE V CENA V

ARMIDE ARMIDA
(P. 214) (Pág. 214)
Le perfide Renaud me fuit, O pérfido Reinaldo foge de mim
Tout perfide qu’il est mon lâche cœur le suit. Por mais traiçoeiro que seja, meu coração
covarde o segue.
Il me laisse mourante, il veut que je perisse. Ele me deixa moribunda, ele quer que eu
pereça.
A regret je revoy la clarté qui me luit ; Com pesar vejo de novo a luz que me
ilumina;
L’horreur de l’éternelle Nuit O horror da Noite eterna
Cede à l’horreur de mon suplice. Cede ao horror do meu suplício.
Le perfide Renaud me fuit, O pérfido Reinaldo foge de mim,
Tout perfide qu’il est mon lasche cœur le Por mais traiçoeiro que seja, meu coração
suit. covarde o segue.
Quand le Barbare estoit en ma puissance, Quando o Bárbaro estava em meu poder,
Que n’ay-je crû la Haine & la Vengeance ! Por que não acreditei no Ódio e na
Vingança!
Que n’ay-je suivy leurs transports ! Por que não segui seus ímpetos!
Il m’eschape, il s’esloigne, il va quitter ces Ele me escapa, se afasta, abandona essas
Bords, Margens,
Il brave l’Enfer & ma Rage ; Ele enfrenta o Inferno e minha Raiva;
Il est déja prés du Rivage, Ele já está perto das Margens,
Je faits pour m’y traisner d’inutiles efforts.
E faço esforços inúteis para me arrastar até
Traistre, atten... je le tiens... je tiens son elas.
cœur perfide. Traidor, espere... eu o peguei... eu peguei
Ah ! je l’immole à ma fureur. seu coração traiçoeiro.
Que dis-je ? où suis-je ? helas ! Infortunée Ah! Eu o imolo à minha fúria.
Armide ! O que digo? Onde estou? Ah! Infeliz Armida!
Où t’emporte une aveugle erreur ?
L’espoir de la vengeance est le seul qui me Para onde te leva um erro cego?
reste. A esperança de vingança é a única que me
Fuyez Plaisirs, fuyez, perdez tous vos resta.
attraits. Fujam, Prazeres, afastai-vos, pois perdestes
Demons détruisez ce Palais. todos os vossos atrativos.
Partons, & s’il se peut, que mon amour Demônios, destruí este Palácio.
funeste Partamos, e se possível, que meu funesto
Demeure ensevely dans ces lieux pour amor
jamais. Fique soterrado neste lugar para sempre.

LA FIN FIM

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