Você está na página 1de 4

Instituto Estadual Carlos Gomes

Bacharelado em Música
Fundamentos Educacionais da Música no Ensino Superior
Professora Nayane Macedo

Dulcianne Ribeiro de Souza Lima

MÉTODO DALCROZIANO APLICADA AS AULAS DE CANTO LÍRICO

INTRODUÇÃO

A metodologia dalcroziana possui três ferramentas básicas que são: a rítmica, o


solfejo e a improvisação, contemplando a experiência do movimento, os aspectos do
treinamento auditivo e vocal e os aspectos de improvisação, para proporcionar os
pensamentos musicais próprios. As lições rítmicas visam estabelecer as relações entre
música e gesto, entre ritmo musical e expressividade do corpo. Os exercícios de solfejos
melódicos e rítmicos são acompanhados de gestos, marcando os compassos e as
pulsações, indicando as frases através das mudanças de direção. O aluno deve
reconhecer o desenho melódico da melodia, independente da altura. Com todas as
características citadas, o método é perfeito para ser aplicado a alunos de canto lírico.
Doutor Honoris Causa pela Universidade de Chicago, Compositor, ator, regente,
professor de harmonia e solfejo, redator e inovador pedagógico musical através do
método intitulado Rythmique I et II: enseignement pour le developpement de l’instinct
rythmique et métrique, du sens de l’harmonie plastique et de l’equilibre des
mouvements et pour la régularisations des habitrudes motrices, Émile Henri Jaques,
mais conhecido por Jaques-Dalcroze, nasceu em Viena, na Austria, no dia 06 de julho
de 1865. Seu método de educação musical era baseado no movimento, onde o
aprendizado ocorre por meio da música e pela música, por meio de uma escuta ativa. O
sistema criado por Dalcroze era a rítmica, sistema musical que visa a musicalização do
corpo, onde os elementos da música são estudados através do movimento corporal.
Segundo o método, existe uma relação musical entre movimento através da interação
espaço-tempo-energia.
Recebeu influências do pedagogo Francês François Delsarte que falava sobre a
relação entre gestos e emoções e a relação física das sensações. Dalcroze não gostava da
maneira mecânica que seus alunos de harmonia e solfejo, no conservatório superior de
Música de Genebra, aprendiam música, então o corpo era objeto de expressão de uma
representação dos elementos da música. O aluno deveria experimentar e sentir para
depois dizer “eu sei”.
O público alvo do método Dalcroziano são: licenciados em música, e outras
árias como dança, teatro e educação física, instrumentistas, professores de música e
profissionais especializados em psicomotricidade.
JUSTIFICATIVA

Nas aulas de canto lírico, costumava-se trabalhar métodos chamados de escolas


de canto Italiana, Alemã ou Francesa. Cada escola tinha sua forma de ensinar o caminho
e posicionamento que a voz deveria fazer. Por haver diferentes conflitos e
posicionamentos entre os profissionais de canto sobre as escolas, e em função das
concepções modernas de ensino, as escolas não existem mais. No entanto, é importante
seguir uma metodologia para aprender determinado instrumento, ainda, mas, no que diz
respeito a voz, um instrumento usado constantemente não somente para cantar, mas
também para falar, por isso, a metodologia escolhida para trabalhar a técnica vocal foi
a Dalcroziana (a música e o movimento).
Os exercícios buscam estabelecer relações entre o movimento e a audição, os
sons e as durações, o tempo e a energia, o dinamismo e o espaço, a música e o gesto,
essas são características que o cantor precisa praticar para ser um bom cantor. Dalcroze
pretendia desvencilhar o aluno de uma prática mecânica no aprendizado da música, ele
considerava fundamental a participação do corpo para a sensibilização da consciência
rítmica.

DESENVOLVIMENTO

O movimento no canto existe através do ritmo. O cantor precisa sentir o ritmo


que estará cantando para que a música não fique sem graça e fora do estilo musical (no
caso de ser uma valsa, uma zarzuela...). Muitas vezes o aluno deverá entender o ritmo
através da dança. O professor deverá fazendo exercícios rítmicos que faça o aluno
dançar, levando o aluno a transmitir a pulsação na voz. O movimento também estará
presente na interpretação da música, já que a música cantada possui letra, a história
precisa ser muito bem interpretada pelo cantor e muito bem transmitida ao público. Para
isso, será necessário o estudo do personagem, e o período em que ele vive, aliando os
gestos ao ritmo. Objetivo dos exercícios de ritmo é fazer com que o aluno se familiarize
com os elementos da linguagem musical através do movimento corporal. A rítmica
exigi a participação do corpo e da mente.
Uma escuta ativa pode gerar uma consciência rítmica, então, a audição está
aliada também ao ritmo. O aluno ao ser correpetido por um pianista ou acompanhado
por uma orquestra, deverá ter a percepção exata de onde são suas entradas, pausas, em
que momento deve ou não respirar, onde colocar intenções. O aluno deverá perceber se
sua afinação condiz com a afinação dos outros instrumentos, e se sua voz está colocada
ou não. Então, é indicado exercícios de respiração, o estudo da fisiologia da voz,
aquecimentos vocais com o intuito não apenas de aquecer, mas também de colocar a
voz no lugar, treino do apoio diafragmático. Todos os exercícios deverão ser feitos com
o apoio do metrônomo e de um piano. O professor também deverá ser uma boa
referência vocal e incentivar o aluno a ter outras referências que sejam de acordo com
suas características e classificação vocal.
Os sons e suas relações com as durações são muito importantes para que a
música seja cantada no tempo correto. Exercícios rítmicos acompanhados ao piano e
metrônomo são de grande importância. Dar nomes aos grupos de notas é interessante,
exemplo: quatro colcheias podem ser chamadas de co-ca-co-la. Inventar brincadeiras
ajuda muito o aluno a compreender o ritmo. Fazer associações de sons com o tempo
também é muito interessante, como exemplo: quanto tempo dura o som da campainha
tocada para indicar o intervalo na escola?
A duração do andamento e a energia que deve ser usada estão muito atreladas.
Uma música com um andamento lento requer muito apoio diafragmático e um grande
controle respiratório, já uma música em alegro com muitas coloraturas em frases longas,
requer muita energia, leveza e um grande controle do ar. Se o andamento estiver em
andante, colocar o aluno para andar na sala como se estivesse passeando em uma praça
admirando a natureza, ao mesmo tempo o aluno deverá manter o ritmo respiratório
sobre o mesmo andamento. Se estiver em largueto, fazer o aluno pensar que é uma
preguiça tentando atravessar a pista. Para cada exercício e história criada, o professor
deverá tocar ao piano uma música no mesmo andamento para que o aluno consiga
perceber melhor essa associação.
O dinamismo e o espaço estão muito bem correlacionados. Esses seriam
exercícios que mais exigiriam do corpo. Fazer o aluno saltitar como se fosse um coelho
para fazê-lo entender o que é estacato, pedir ao aluno que imagine ser uma flôr
murchando para entender a dinâmica do diminuindo, manda-lo gritar para saber o que é
Muito forte, incentiva-lo a imaginar que está com pressa por estar atrasado para chegar
ao trabalho (acelerando)... O piano é imprescindível para esses exercícios, assim como
um ambiente espaçoso e roupas confortáveis.
A música e o gesto devem andar sempre juntos. Gestos sem sentidos e fora do
tempo nunca devem ser realizados. A letra da música, juntamente com o ritmo e o
andamento, vão dizer muito de como o gesto deverá ser feito. A união do gesto, do
movimento e da música, desejará harmonizar as faculdades senso-motoras, mentais e
afetivas a fim de conjugar música e expressão. O exercício será sobre o estudo do
personagem, como uma rainha se portaria e como seus gestos e movimentos estariam de
acordo com a música.
Essas são metodologias dalcrozianas adaptadas para o ensino do canto,
contribuindo para o desenvolvimento e aperfeiçoamento vocal, rítmico e interpretativo
do aluno. Esses exercícios deverão ser atrelados a outras técnicas vocais, sempre
visando à preservação da saúde vocal e o canto de forma natural, livre e menos robótico,
transformando a aula de música em momentos poéticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método de educação musical baseada na audição e atuação do corpo


juntamente com a rítmica, propõe o aumento da consciência através do aperfeiçoamento
dos movimentos no tempo e espaço, com a pretensão do refinamento dos sentidos por
meio de uma escuta atenta e da atuação do corpo como uma unidade, que através da
sensoriabilidade e da sensibilidade conduzem a uma consciência auditiva.
O método Dalcroziano deixa o aluno livre para ser criativo através dos
exercícios, deixando o aprendizado agradável, fazendo-o pensar que está apenas
brincando, porém, com a consciência de que tudo alí é sério e tem um motivo. O
método se bem aplicado, faz o aluno fixar as ideias de movimento, afinação, técnica
vocal, os sons e as durações, o tempo e a energia, o dinamismo e o espaço, a música e o
gesto, tudo de forma muito natural, fazendo que o som e a interpretação da música não
seja robótica.
As dificuldades de se aplicar o método no canto lírico é a falta de especialização
dos professores de canto no instrumento piano. Seria necessário que o professor de
canto tivesse uma base do instrumento harmônico, ou tivesse sempre a presença de um
pianista correpetidor, ou até mesmo um som com bluetooth em sala de aula. Outra
dificuldade do método é a falta de espaço nas salas, às vezes a turma de canto possui
seis alunos para meia hora de aula. Nota-se então que o problema não está no método,
mas, nas dificuldades dos professores perante o piano e a instituição com salas pequenas
e tempo curto.

REFERÊNCIAS

MATEIRO, Tereza; ILARI, Beatriz (Org.). Pedagogias em Educação Musical. Curitiba:


Intersaberes, 2012.

SOUSA, NADJA BARBOSA; Escolas de Canto Italiana, Alemã e Francesa:


Características Perceptivo-auditivas e Acústicas na Voz do Soprano. BIBLIOTECA
DIGITAL. 5 de nov. de 2015. Disponível em: <
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/12033 > Acesso em: 24 de jun. de 2019.

Você também pode gostar