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Didática

Os Quatro Pilares da Educação e a Prática Docente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Kethlen Leite de Moura

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Os Quatro Pilares da Educação
e a Prática Docente

• Os Quatro Pilares da Educação e a Prática Docente.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Refletir sobre as necessidades pedagógicas essenciais na atuação dos professores.
UNIDADE Os Quatro Pilares da Educação e a Prática Docente

Os Quatro Pilares da Educação


e a Prática Docente
Nas últimas décadas, houve inúmeras mudanças no mundo do trabalho, fator que
atingiu também a escola e educação. Nesse processo, temos uma nova concepção
de educação, que passa a exigir a formação de professores para atuar na realidade
em que os estudantes estão inseridos.

Figura 1 – O professor do novo milênio


Fonte: Wavebreak Media Ltd/123RF

Logo, a concepção dos saberes docentes passa a ter um novo viés, que visa am-
pliar as competências dos professores, constituindo um novo tipo de profissional, ou
seja, “[...] aquele que é capaz de criar situações de aprendizagem nas quais o jovem
desenvolva a capacidade de trabalhar intelectualmente, a partir do que se capacita
para enfrentar as situações da prática social e do trabalho” (KUENZER, 2008, p. 28).

A partir do momento em que passamos a considerar as particularidades e especi-


ficidades apresentadas em nossa sociedade que, atualmente, modifica as relações de
trabalho, confere-se à formação docente algumas dimensões, tal como cita Kuenzer
(2008, p. 31-33),
[...] deve conhecer o mundo do trabalho sem ingenuidade, a partir da
apreensão do caráter de totalidade das relações sociais produtivas [...] exi-
gir que se tenha clareza a respeito de qual educação se está falando, uma
vez que ela atende a diversos níveis, da básica à científica-tecnológica
de alto nível [...] e a existência de conhecimento, elaborados através de
pesquisas realizadas nas últimas décadas que permitem configurar uma
pedagogia adequada, a ser considerada na elaboração dos programas de
formação de professores [...].

Quando nos referimos aos saberes docentes, ressaltamos a necessidade de estu-


dar esse trabalho a partir de uma dimensão ontológica, passando a constituir o ser
social – por isso é necessário estudar as bases materiais que “cimentam” tal saber.

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Ao levarmos em consideração a reflexão de Kuenzer (2008), indagamos a com-
plexidade que envolve os saberes necessários docentes, pois tais ações envolvem os
mundos do trabalho e da escola, além dos saberes dos professores.

Quais saberes os professores necessitarão para o pleno desempenho profissional no enfren-


tamento dos novos desafios?

A partir disso, podemos, também, aproximar-nos das propostas de Tardif (2004,


p. 11), as quais dizem que o saber docente está atrelado às condicionalidades do
contexto do trabalho do professor, ou seja, “[...] saber é sempre o saber de alguém
que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer”. Por isso, os
saberes necessários docentes para que se exerça essa profissão podem ser clas-
sificados em quatro categorias: saberes da formação profissional, curriculares,
experienciais e disciplinares.

Importante!
Para a atuação profissional como professor, o processo formativo é considerado essen-
cial não só na formação inicial, mas também ao longo da profissão, na perspectiva da
formação continuada, uma vez que a docência exige constante aperfeiçoamento de prá-
ticas, conhecimentos e saberes (FREIRE; SKEIKA, 2015, p. 17.065).

Nesse sentido, a formação docente deve sempre ser o problema central dos
saberes necessários à prática do professor. Logo, o educador precisa envolver o seu
trabalho em elementos advindos de sua experiência e de seu processo formativo.
Isto torna-o um docente único e os seus saberes pedagógicos passam a fazer mais
sentido para os seus alunos.

Alguns dos aspectos relevantes da profissão docente são passíveis de momentos


de aperfeiçoamento e de aprendizagem ao longo de sua formação, seja inicial ou
continuada, e o conhecimento do professor é um dos fatores mais importantes para
ensinar qualquer tipo de conteúdo aos seus alunos.

Os conhecimentos pedagógicos são inseridos em um espectro mais amplo, que


envolve competências e habilidades dos professores, e estes vão desenvolvendo tais
ações ao longo do trabalho profissional – incluindo ações didático-pedagógicas, de
conteúdo e relações interpessoais.

Assista ao vídeo sobre a prática pedagógica na atualidade: oportunidades e desafios,


disponível em: https://youtu.be/IA7FmKC33gU

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Para Fernandez (2011) existem diversas formas de compreender o saber docente


e de o professor exercer a sua profissão, por isso há inúmeras discussões sobre os
conhecimentos que são necessários para se aplicar à prática docente, igualmente
conhecida como knowledge base for teaching, que é um conjunto de teorias que
passam a sustentar a formação inicial dos professores. Esse conhecimento é neces-
sário para que consigam ensinar aquilo que denominamos base de conhecimentos
para o ensino.

Figura 2 – Conhecimentos docentes


Fonte: Tyler Olson/123RF

Segundo Mizukami (2004), a base de conhecimentos para o ensino deve ser com-
preendida como “[...] um corpo de compreensões, conhecimentos, habilidades e dispo-
sições que são necessários para que o professor possa propiciar processos de ensinar
e de aprender, em diferentes áreas de conhecimento, níveis, contextos e modalidades
de ensino”. Possui, assim, diversas naturezas, que são essenciais para os saberes
­pedagógicos dos professores. Tais saberes podem ser delimitados como conhecimento,
respeito aos alunos, conteúdo específico, questões pedagógicas e aprendizagem.

O conhecimento pedagógico, ou pedagogical content knowledge, corresponde a


saberes que distinguem os licenciados dos bacharéis. Essa categoria pode ser organi-
zada a partir de algumas propostas:
• Conhecimento pedagógico geral (composto pelo conhecimento dos
alunos e sua aprendizagem, gestão da sala de aula, currículo e instru-
ção e outros);
• Conhecimento do tema (que inclui o conhecimento das estruturas sin-
táticas e substantivas e do próprio conteúdo);
• Conhecimento do contexto (conhecimento do estudante em relação à
comunidade, à escola e ao distrito/região); e
• Conhecimento pedagógico do conteúdo (guiado pela concepção dos
propósitos para ensinar um conteúdo específico e constituído pelo co-
nhecimento da compreensão dos estudantes, do currículo e das estra-
tégias instrucionais); sendo que, esse último é influenciado e influente
nos demais e é considerado o conhecimento central da base de conhe-
cimentos de um professor. (FREIRE; SKEIKA, 2015, p. 17.065)

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O seguinte esquema demonstra, de maneira clara, esta citação:

Figura 3 – Saberes necessários à prática docente


Fonte: Adaptado de GROSSMAN (1990)

Esta imagem demonstra como os saberes necessários aos docentes se relacionam


aos conhecimentos utilizados para ensinar; e o processo de ensino, comumente,
visa propor ou, até mesmo, ampliar os conhecimentos dos docentes que estão em
processo de formação inicial ou continuada. Por isso, podemos dizer que um exce-
lente profissional da educação é aquele que consegue transitar pelos mais diferentes
conhecimentos que envolvem o ensino, fazendo uso de diversas metodologias para
colocar, em prática, o seu ensino, bem como o conteúdo que ministrará no processo
de aprendizagem.

Você Sabia?
Que os principais saberes docentes surgem em discussões do documento da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), intitulado Educação:
um tesouro a descobrir, relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre
educação para o século XXI?

Sabemos que o professor precisa ter conhecimentos essenciais que estão para
além daqueles relacionados à sua área de pesquisa. Esse docente necessita ter conhe-
cimentos relacionados à gestão escolar e atualização profissional.

Gauthier e colaboradores (1998, p. 22, grifos nossos) retratam que os saberes


necessários à prática docente se organizam da seguinte forma:
• Disciplinar: conhecimento do conteúdo a ser ensinado;
• Curricular: transformação da disciplina em programa de ensino;
• Ciências da Educação: saber profissional específico que não está dire-
tamente relacionado com a ação pedagógica;
• Tradição pedagógica: saber de dar aulas que será adaptado e mo-
dificado pelo saber experiencial, podendo ser validado pelo saber da
ação pedagógica;

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• Experiência: julgamentos privados responsáveis pela elaboração, ao


longo do tempo, de uma jurisprudência particular;
• Ação pedagógica: saber experiencial tornado público e testado.

Veja que os saberes mencionados não se restringem, exclusivamente, às questões


do ensino, pois também estão assentados no processo administrativo e pedagógico
da instituição – você pode se perguntar: mas por quê?

O professor é parte integrante de todas as ações que são desenvolvidas na escola;


não se porta como mero expectador, já que é o agente que faz a escola funcionar.
Exatamente por isso é que precisa estar envolvido nessas questões, um engajamento
que está para além da sala de aula e que busca, no saber profissional desse docente,
os direcionamentos das ações pedagógicas. Por isso, podemos dizer que não há
­docência sem discência.

Figura 4 – Flor da docência

Uma das tarefas mais importantes do saber docente é trabalhar com os seus alunos
com grande rigorosidade metódica, em que o professor deve aproximá-los dos obje-
tos cognoscíveis.

Logicamente, essa rigorosidade não quer dizer que o professor precisa voltar para
a tendência tradicional, mas prezar por apresentar os conceitos do que será ensinado
em sua aula, afinal, quando o professor propõe a produção de novos saberes, o aluno
passa a superar aquele velho conhecimento que tinha – por isso é tão importante
apresentar os conceitos de cada assunto a ser tratado.

Outro fator é que o professor precisa ser um pesquisador e saber ensinar os seus
alunos a pesquisarem, pois é a partir da pesquisa que se trabalha com a produção
do conhecimento.

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Dentro dessas questões, o professor precisa discutir e dialogar com os seus educan-
dos sobre a realidade concreta em que estamos inseridos. É necessário dar exemplos,
no contexto da aula, da realidade objetiva em que vivemos, pois é por meio de
exemplos que os alunos, comumente, conseguem assimilar o conteúdo apresentado.
Essa prática também deve direcionar para as relações entre os saberes curriculares à
formação do educando e experiência social que cada um tem em sua vida cotidiana.

Em sua prática docente, o professor deve ensinar os alunos a superarem a curiosi-


dade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, mas levando-os à prática da criticidade,
pois é por meio dessas ações que o estudante passa a apreender o rigor metodoló-
gico do ensino e consegue se aproximar do objeto estudado.

Uma ação necessária e importante nesse caminhar é que a rigorosidade da pes-


quisa e criticidade não estejam distantes da ética, esta que deve sempre estar ao lado
da estética. Materiais bem elaborados, coloridos, com a língua portuguesa formal
bem utilizada são mecanismos que chamam a atenção dos alunos.

A partir destes princípios, a relação professor-aluno também deve aceitar o novo,


mas sem negar aquilo que já foi compreendido, pois essa prática é a continuidade do
processo histórico tão importante na formação de cada indivíduo.

O pensar sobre questões certas dentro de uma perspectiva ética pode transformar
a prática docente, que envolve dinamicidade, dialética e ações entre o fazer e pensar.
Afinal, na prática docente, o saber é quase sempre espontâneo e, em muitos casos,
produz conhecimento ingênuo, faltando a rigorosidade metódica da teoria.

Assim, compreendemos que ensinar não é transferir conhecimento (FREIRE, 2000).

Figura 5 – Resultado dos saberes docentes

Assim, o professor precisa compreender, em seus saberes docentes que para ensi-
nar é necessário apreender que a educação é uma forma de intervir no mundo onde
se está inserido. Todos os professores devem estar abertos ao diálogo para ensinar
de maneira prazerosa.

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Tardif (2002) ressalta que os saberes necessários à prática docente se relacionam


também à problematização do ensino e à formação de professores – exatamente por
isto esse autor salienta que o saber pedagógico está organizado em seis eixos:

Quadro 1 – Saberes docentes


1 Saber e trabalho;
2 Diversidade do saber;
3 Temporalidade do saber;
4 Experiência de trabalho enquanto fundamento do saber;
5 Saberes humanos a respeito de saberes humanos;
6 Saberes e formação profissional.
Fonte: Adaptado de TARDIF (2002, p. 55)

Esses fios condutores da carreira docente possibilitam que o professor compre-


enda a relação entre o seu trabalho, a escola e sala de aula; o professor, mediante a
sua pluralidade de conhecimentos, passa a focalizar os saberes que alicerçarão a sua
prática profissional.

A melhoria na qualidade da educação tem sido constantemente discutida pela sociedade,


pelo governo e pelas instituições de ensino?

Dentro desse processo de conhecimento, os saberes docentes necessários à prá-


tica pedagógica trazem a necessidade de os professores se manterem atualizados,
mas essa atualização não é apenas de informações, sendo, também, de conheci-
mento científico e uma formação solidificada em conceitos e ações que configurem
a prática pedagógica. De acordo com Perrenoud (2000), Freire (2011), Tardif (2014)
e Gauthier (2006), os saberes docentes são plurais e não podem se reduzir a mero
conhecimento conteudista. A “árvore” de saberes docentes permite enxergar todo
esse processo de maneira mais lúdica e dinâmica, vejamos:

Figura 6 – Árvore de saberes docentes

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Discutir sobre os processos que envolvem a prática e formação de professores
é essencial para uma educação de qualidade; por isso a formação é tão necessária
e importante, pois o docente não é um ser “[...] descartável, nem substituível, pois,
quando bem formado, ele detém um saber que alia conhecimento e conteúdo à didá-
tica e às condições de aprendizagem para segmentos diferenciados” ( GATTI, 2009,
p. 91). Assim, as instituições que trabalham com a formação de professores precisam
se preocupar com os rumos da educação, vivenciando a
[...] busca de novos currículos educacionais e de uma formação ao mesmo
tempo polivalente e diversificada de professores, as propostas de trans-
versalidade de conhecimento em temas polêmicos, mostram que a área
educacional se encontra no meio desse movimento em busca de alterna-
tivas formativas. (GATTI, 2009, p. 94)

As ações que são intrínsecas à docência também se relacionam às competências e


habilidades necessárias para formar o professor, além de esse profissional compreen-
der que os saberes docentes não podem – e não devem – limitar-se ao conhecimento
de conteúdo específico – tal como já mencionado.

O professor precisa estar disposto, sempre, a estudar, pois, constantemente, será


cobrado de conhecimento amplo, necessitando ser desenvolvido coletivamente e de
maneira interdisciplinar. Logo, o professor precisa estar aberto ao diálogo, de modo
que a sua comunicação deve ser clara e precisa; para tanto, precisará ler, falar e
escrever bem; deve ainda saber pesquisar, tomar decisões e resolver problemas.

De acordo com Gadotti (2011, p. 69), “[...] o enfoque da formação do novo pro-
fessor deve ser na autonomia e na participação, nas formas colaborativas de apren-
dizagem”. Entre tais variáveis, Imbernón (2009, p. 31-33) aponta
[...] a falta de uma coordenação real e eficaz entre a formação inicial do
professorado dos diversos níveis educativos [...]; a falta de coordenação,
acompanhamento e avaliação por parte das instituições [...]; a falta de
orçamento para atividades de formação [...]; horários inadequados, sobre-
carregamento intensificando a tarefa docente; [...] a formação em contextos
individualistas, personalistas.

Por isso, o profissional da educação – no caso, o professor –, além de deter com-


petências, deve saber:
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2. Administrar a progressão das aprendizagens;
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5. Trabalhar em equipe;
6. Participar da administração escolar;
7. Informar e envolver os pais;
8. Utilizar novas tecnologias;
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10. Administrar sua própria formação continuada. (PERRENOUD,
2000, p. 14)

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Esse processo de organização e direcionamento das situações de aprendizagem


deve envolver os alunos, sendo papel do professor criar tais condições a partir do
domínio de conteúdos e de teorias pedagógicas.

Importante!
Para conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, o professor precisa com-
preender e saber gerir a heterogeneidade de aprendizagens e sala de aula, pois, apesar
de o sistema de ensino homogeneizar as turmas, isso não ocorre na prática e compete,­
ao professor, administrar essas situações. Dessa forma, é importante o professor
­desenvolver habilidades e competências capazes de auxiliá-lo na busca de como tra-
balhar com a heterogeneidade, que é comum em qualquer sala de aula e, consequen-
temente, com o tempo de aprendizagem e as dificuldades de cada educando (FREITAS;
PACÍFICO, 2015, p. 5).

Outro fator importante, que faz parte dos saberes pedagógicos necessários à prá-
tica docente, é o uso de novas tecnologias. O professor deve saber como utilizar as
novas tecnologias em benefício da educação, já que é impossível negar que os alunos
estão em constante conexão com tais tecnologias, de modo que não as utilizar cor-
responde a transformar o processo educacional em algo obsoleto.

Dentro desse processo, temos os quatro pilares da educação, os quais surgiram


como forma de atender aos preceitos da globalização. O propósito é desenvolver
uma educação que abarque, no currículo, questões importantes dentro do ambiente
escolar, mas sem deixar de lado a qualidade educacional, preparando as futuras
gerações para o mundo do trabalho. Esses fundamentos foram sistematizados e pen-
sados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). Os quatro pilares propõem direcionar alguns fundamentos para a educa-
ção de países considerados em desenvolvimento, como o Brasil.

Cada pilar estaria diretamente ligado ao processo de desenvolvimento pessoal e


profissional dos estudantes, além do desenvolvimento humano. No entanto, esses
pilares não são ações apenas para modificar a formação de alunos da Educação
Básica, mas também de futuros profissionais da educação.

Os pilares da educação são quesitos fundamentais para organizar a prática peda-


gógica e os saberes docentes necessários – da Educação Básica ao Ensino Superior.

Assim, a prática pedagógica dos profissionais da educação deve estar prevista não
somente no currículo dos cursos, mas também na maneira de conduzir as ações e
atividades docentes; por isso, na formação de professores é essencial levar em con-
sideração os quatro pilares da educação – e não somente um ou dois.

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Figura 7 – As competências necessárias ao docente na prática do trabalho

Esta Figura demonstra as competências que o docente precisa desenvolver em sua


prática. Os itens citados são fundamentais para os saberes docentes e contribuem na
formação dos profissionais da educação.

O primeiro, aprender é conhecer, é o momento de compreender o ato da docên-


cia enquanto parte fundamental de sua carreira. Esse mesmo docente precisa ser um
pesquisador, construtor do conhecimento. As informações que lhes são passadas são
extremamente importantes, mas precisa buscar, no conhecimento sistematicamente
organizado pelo homem, os fundamentos de suas aulas. Outro fator importante é
que o docente precisa se livrar da ignorância e aprimorar a sua criticidade e reflexão.

Por aprender a viver juntos, o docente deve incentivar a convivência entre os


demais sujeitos da escola e sala de aula. A convivência com outros seres humanos é
essencial à vida, tendo em vista que o homem só se faz homem por meio das rela-
ções sociais. Por isso, é fundamental aprender a compreender o próximo e a neces-
sidade de seus alunos. O professor precisa estar pronto para saber gerenciar crises
e incentivar projetos comuns na escola. A sua prática autoritária deve ser deixada de
lado para que haja progresso nas relações com os seus educandos.

Esse momento é importante para descobrir o outro, compreender as suas diversi-


dades e contribuir significativamente à elevação educacional de cada um.

Quando se trata de aprender a ser, o docente precisa desenvolver o pensamento


crítico, incentivando os seus alunos no desenvolvimento da autonomia e criatividade.
A partir dessas questões, é possível contribuir com a formação de sujeitos éticos e
cidadãos para atuar em sociedade. O professor não pode negligenciar o potencial de
seus alunos; deve contribuir no seu total desenvolvimento, apresentando ferramentas
que promovam intelectualidade e autonomia, tendo em vista que é a diversidade cul-
tural que permite a inovação de todas as áreas em nossa sociedade.

A proposta dos quatro pilares da educação almeja a harmonia entre os conheci-


mentos técnico e prático na formação docente, que é obtida no percurso estudantil,
desde a Educação Básica até o Ensino Superior, tendo, por perspectiva, enfatizar
relações harmônicas em uma sociedade totalmente fraterna e de paz.

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A partir desse princípio, os pilares balizadores dos saberes docentes são questões
a serem disseminadas ao longo da vida do homem, tendo em vista que o indivíduo
aprende das mais diversas formas, seja na igreja, família, pelos meios de comunica-
ção, nos bancos, nas escolas e ao longo de sua existência. Nesse sentido, os saberes
docentes perfazem-se por meio das relações profissionais e sociais. Nas práticas a
serem desenvolvidas ao longo do percurso estudantil, o docente vai incorporando
comportamentos e ações que passam a ter sintonia com o seu ambiente de trabalho.

Outro fator que influencia nos saberes docentes é que o profissional precisa amea-
lhar, em sua trajetória pessoal e profissional, “[...] os mais variados saberes: técnicos, de
relacionamento e de vida propriamente dita” (TANURI, 2000, p. 2). Quando o docente
busca o seu sucesso profissional, não é suficiente que apenas saiba de sua área, devendo
agregar valor ao seu conhecimento – somente conseguirá isso a partir do m ­ omento em
que incorporar os pilares da educação em sua prática e ação profissional.

Ao ingressar no mundo do trabalho, o docente não pode negligenciar as suas


dimensões do saber; significa que, comumente, os docentes acabam privilegiando
mais um conhecimento em detrimento de outros.

É importante ressaltar o que menciona a Lei de Diretrizes e Bases da educação


nacional (LDB) (Lei n.º 9.394/96), em seu Capítulo VI, em que há definição da
­finalidade dos cursos de formação de professores. Para Zabalza (2004) as instituições
de formação de professores precisam constituir uma dimensão organizacional para
estruturar e estabelecer as relações formais existentes na formação de professores;
afinal, em determinado momento da história, diversas instituições de Ensino Supe-
rior cederam espaço à formação tecnológica, esquecendo-se de abarcar as relações
profissionais e sociais, que são fundamentais para a inserção do profissional no
mercado de trabalho.

Segundo o Relatório Delors (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA


A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1996), a simples formação técnica e
científica não é mais suficiente para atender às necessidades do mercado de trabalho
e da sociedade. Por isso, é importante que a educação e os professores incorporem
metodologias que estejam assentadas nos quatro pilares da educação (ORGANIZA-
ÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA,
1996). Quando há utilização dos pilares da educação, estes contribuem para o de-
senvolvimento e exercício dos saberes docentes no campo de atuação.
[...] certamente ser professor hoje supõe assumir um processo de desnatu-
ralização da profissão docente, do “ofício de professor” e ressignificar sa-
beres, práticas, atitudes e compromissos cotidianos orientados à promo-
ção de uma educação de qualidade social para todos. A crise da escola,
na nossa perspectiva, é radical. Não se trata simplesmente de introduzir
modificações cosméticas na sua dinâmica cotidiana. É a própria concep-
ção da educação escolar que está em questão para que possa responder
aos desafios da contemporaneidade. (CANDAU, 2014, p. 41)

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De acordo com essa autora, é necessário redimensionar o saber docente neste
século XXI, tendo em vista que o magistério tem necessitado de ressignificações nos
saberes docentes e na prática pedagógica. Para Candau (2014) é necessário desna-
turalizar as práticas pedagógicas, ou seja, romper com o caráter monocultural que a
escola tem; por isso, é fundamental conceber uma formação docente assentada nos
pilares da educação e nas ações interculturais, fator que também se faz presente no
processo de ensino-aprendizagem. Assim, é necessário modificar o olhar do profes-
sor para os seus saberes e as suas práticas pedagógicas.

O professor é aquele que trabalha com diversas realidades sociais, culturais e eco-
nômicas; justamente por isso precisa ressignificar o seu saber docente para tornar
as suas práticas mais ricas, promovendo as relações sociais, profissionais e culturais
no âmbito da escola.

Nesse sentido, algumas reflexões são pertinentes, já que os saberes docentes


passam a ser construções sob os auspícios dos pilares da educação. Mudanças são
necessárias, tais como saberes:
• Da formação profissional: são transmitidos pelas instituições de ensino no
processo de formação de professores;
• Disciplinares: pertencem às diversas áreas do conhecimento;
• Curriculares: estão articulados aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos
presentes no currículo e na matriz curricular dos cursos;
• Experienciais: passam a ser desenvolvidos pelos docentes, a partir do momento
em que desempenham ações práticas em sua formação.

Nesse sentido, Tardif e Raymond (2000) apresentam uma organização desses


saberes e como integrá-los ao trabalho docente, vejamos:

Quadro 2 – Organização e integração do trabalho docente


Modos de integração
Saberes dos professores Fontes de aquisição
no trabalho docente
Saberes pessoais do professor Família, ambiente de vida, educação História de vida
A escola primária e secundária, os estu-
Saberes da formação escolar primária Pela formação e socialização profissional
dos pós-secundários não especializados
Estabelecer relações entre estágios,
Saberes que provêm da Uma formação assentada nos princípios
cursos de extensão, projetos de ensino
formação profissional de  socialização
e pesquisa
Utiliza-se ferramentas como livros di-
Utiliza-se essas ferramentas para adaptar
Saberes que provêm de livros didáticos dáticos, cadernos de exercícios, fichas,
as tarefas
seminários, notas de leitura, entre outros
Ao praticar o ofício de lecionar e a partir
Saberes que provêm da própria experi-
do compartilhamento de experiências Prática de trabalho e socialização profissional
ência profissional e de sala de aula
entre os pares
Fonte: Adaptado de TARDIF; RAYMOND (2000)

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UNIDADE Os Quatro Pilares da Educação e a Prática Docente

Essas orientações servem para embasar o trabalho docente e organizar a forma


como o professor se utiliza desses saberes em suas práticas pedagógicas, além de
repensar as suas ações mediante o processo de ensino-aprendizagem.

Os saberes docentes assentados nos pilares da educação devem se organizar a


partir de jogos, brincadeiras e trabalhos em equipe, sendo necessário ressaltar a
lógica lúdica e desenvolver os processos pedagógicos mais atrativos.

Entendemos que os pilares para a educação do século XXI são ideias-guias, ou


seja, pontos que visam nortear a educação deste novo momento, mas não como
uma forma de uniformizar a educação, e sim de somar princípios culturais, os quais
possibilitam o processo de ensino-aprendizagem em todas as partes do mundo.

Assim, os quatro pilares da educação visam compreender o aluno em sua globa-


lidade, tanto como sujeito em formação, quanto a importância do contexto social
onde está inserido – e exerce influência sobre o qual. Como o ensino é uma ação que
permeia todos os espaços, faz-se necessário estimular os alunos à aprendizagem.

A educação busca proporcionar formação que esteja de acordo com esta nova
era, afinal, “[...] a criança em formação vive cada vez mais numa escola e numa socie-
dade plural complexa e sofisticada, desigual e violenta, o que requer uma educação
de qualidade, também para a paz” (SILVA, 2017, p. 253). Por isso, o papel de educar
está para além da escola e sala de aula, envolvendo-se na vida de cada indivíduo.

Tanto a escola quanto o professor precisam estar envolvidos em um processo de


formação humana integral, não com o sentido de constituir sujeitos competitivos,
mas indivíduos que possam viver em harmonia com os seus semelhantes, respeitando
as diversidades culturais.

Essa aprendizagem se refere à aquisição dos "instrumentos do conhecimento",


desenvolvendo nos alunos o raciocínio lógico, a capacidade de compreensão,
Aprender a
o pensamento dedutivo e intuitivo e a memória. O importante é não apenas
Conhecer
despertar nos estudantes esses instrumentos, como motivá-los a desenvolver
sua vontade de aprender e querer saber mais e melhor.

Essa aprendizagem confere ao aluno uma formação em que aplicará na prática


seus conhecimentos teóricos. É essencial que cada indivíduo saiba se comunicar
Aprender
através de diferentes linguagens, assim como interpretar e selecionar quais
a Fazer
informações são essenciais e quais podem ajudar a refazer opiniões e serem
aplicadas na maneira de se viver e de redescobrir o tempo e o mundo.

Esse domínio da aprendizagem atua no campo das atitudes e dos valores e


Aprender a
envolve uma consciência e ações contra o preconceito e as rivalidades diárias
Conviver
que se apresentam no desafio de viver.

Esta aprendizagem depende das outras três, e dessa forma a educação deve
Aprender propor como uma de suas finalidades essenciais o desenvolvimento do
a Ser indivíduo, espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade
pessoal e espiritualidade.

Figura 8 – Os quatro pilares da Educação para o século XXI


Fonte: Adaptado de fundacaotelefonicavivo.org.br

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Por meio dos pilares da educação, o professor é chamado a compreender mais
e melhor os indivíduos que estão dentro de seu âmbito de trabalho, bem como a
serem compreendidos. As bases que envolvem os saberes necessários para a for-
mação docente estão assentadas em um humanismo libertador, em que os sujeitos
detentores do conhecimento não são apenas os professores, mas também os alunos,
envolvendo-se em toda a formação permanente que ocorre na escola.

O professor precisa ser o facilitador da aprendizagem, por isso é importante que


delimite caminhos adequados de ação humana, implicando em uma sociedade que
convive com todos os cidadãos planetários.

Assim, os nossos estudos apresentaram que o processo de construção do saber


docente está assentado na pesquisa, criticidade, rigorosidade metódica, estética, ética
etc., bem como esse movimento dialético permite que o docente desenvolva uma prática
educativa progressista, a qual direcione o aluno para a autonomia e reflexão-crítica.

Portanto, é fundamental formar cidadãos – e não apenas treinar alunos – para o


mercado de trabalho, de modo que o docente precisa ter reflexões críticas sobre as suas
práticas e buscar, nos fundamentos teóricos, as ações para exercer essa prática, ali-
nhando as suas ações a uma organização progressista da formação docente e discente.

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UNIDADE Os Quatro Pilares da Educação e a Prática Docente

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Os Quatro Pilares da Educação ainda servem para alguma coisa? [Parte 01]
Trata dos quatro pilares da educação, desde o seu surgimento até a sua efetivação
no âmbito da educação, visando analisar se os pilares ainda possuem efeito sobre
os saberes necessários do professor e do processo de ensino-aprendizagem
https://youtu.be/6dfsqHPK3RM
O Professor é um intelectual
O professor tem inúmeras dimensões: intelectual, de artista, pesquisador, artesão,
entre outras e ter isso, claro, é importante; de modo que assista ao vídeo, que aborda
o papel do professor na contemporaneidade enquanto intelectual. As reflexões
apresentadas dizem respeito à formação docente e de como esse personagem é
produtor de conhecimento e técnica na educação.
https://youtu.be/cYIEQbrwzkA

 Leitura
Neurociências e os 4 pilares da educação propostos para o século XXI
A reportagem trata da importância dos quatro pilares da educação para o século
XXI e do impacto na formação de crianças e adolescentes.
https://bit.ly/35o2rpn
A consciência como base para a transformação da escola
Os autores retratam a educação na atualidade, buscando realizar discussões quanto à
utilização de instrumentos que permitam ampliar a atuação docente em sala de aula.
https://bit.ly/35oVpRl

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Referências
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práticas. Educação, Porto Alegre, RS, v. 37, n. 1, p. 33-41, jan./abr. 2014.

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