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Educação Infantil: Currículo

Currículo e Atendimento Educacional na Educação Infantil

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Márcia Pereira Cabral

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Currículo e Atendimento
Educacional na Educação Infantil

• Concepção de Currículo;
• Currículo na Educação Infantil;
• Os Alunos da Educação Infantil;
• Interações Pessoais;
• Interações Educador-Criança;
• Interações Criança-Criança;
• Interações com a Família;
• Áreas da Criança na Educação Infantil.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Abordar a concepção de currículo na Educação Infantil;
• Conhecer os perfis de alunos da Educação Infantil;
• Aprender sobre as diferentes interações entre educador-criança-família.
UNIDADE Currículo e Atendimento Educacional na Educação Infantil

Concepção de Currículo
Todas as pessoas envolvidas com educação sejam docentes, alunos, governantes
ou profissionais, embora por diferentes objetivos ou motivações, preocupam-se com
a maneira como a educação de crianças e jovens está acontecendo, uma vez que se
desenvolverá, por meio dela, o projeto de formação da sociedade. Espera-se que a
educação dê conta da formação integral dos alunos. Essas reflexões acabam refletindo
na busca de teorias que enfocam as questões curriculares, ou seja, com o currículo
trabalhado nas escolas.

Figura 1
Fonte: Getty Images

Você sabe o que é currículo?

Se você pesquisar o significado desta palavra, encontrará, entre outros, que currículo
– do latim, curriculum – significa percurso, carreira, curso, ato de correr. Seu signi-
ficado, porém, abrange não somente o ato de correr, mas também o modo, a forma
de fazê-lo (a pé, de carro, a cavalo etc.), o local (estrada, pista, rua, hipódromo etc.) e
o que ocorre no curso ou percurso efetuado.

O que esse percurso tem a ver com a educação?

Moreira (1999) mostra que se encontram registros, ao longo dos tempos, de signi-
ficados diferentes para o termo currículo. A maioria diz respeito a currículo como “con-
teúdos” ou “experiências de aprendizagem”. Alguns registros mostram o currículo ligado
à ideia de plano, objetivos educacionais ou texto e mais recentemente como avaliação.

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Seguindo o significado literal da palavra currículo,
[...] pode-se dizer que este pode ser definido como o percurso que leva à
aquisição de conhecimentos que possam fazer do indivíduo submetido a
ele um profissional que domina sua área e está apto a exercer funções na
mesma. (MOREIRA; SILVA, 2000)

Tratando-se de um percurso, você deve ter percebido que pode se tratar de algo
parado e fixo, porém, flexível e contínuo, que direcione as atividades envolvidas nesse
percurso para o objetivo da educação, que é a aprendizagem e o crescimento dos alunos.

A maneira como a educação formal se apresenta teve diversas mudanças ao longo do tempo.
De perspectivas mais rígidas até modelos mais dinâmicos, a educação se apresentou se
diversas maneiras e gerou diferentes percepções sobre sua estruturação.
Saiba mais sobre o tema lendo a matéria “Percurso formativo: entre o tradicional e o
disruptivo”, disponível no link: https://bit.ly/374su3J

O processo de organização curricular deve abranger conhecimentos teóricos e a


prática educativa, ou seja, a maneira como esses conhecimentos serão trabalhados
em sala de aula, considerando-se a relevância desses conteúdos para a vida do aluno,
assim como “por que” e “como” trabalhá-los (MOREIRA, 1999).

Quais conteúdos são relevantes para a aprendizagem do aluno e a maneira como


esse conteúdo será disponibilizado e trabalhado são escolhas que farão a diferença
no alcance da aprendizagem.

O currículo não pode, portanto, ser estático deve estar sempre em construção,
uma vez que deve acompanhar as mudanças e necessidades de cada aluno, de cada
escola. Não se pode pensar em elaborar um currículo, determinando o que, quando
e como ensinar sem pensar no “para quem” e “onde”, elementos importantíssimos
na determinação da organização curricular.

Todos os envolvidos no processo de organização curricular vivem em uma socie-


dade onde o conhecimento, as tecnologias, relações sociais e políticas influenciam
suas escolhas, trabalho, estudos, enfim, suas vidas.

Assim, o currículo não deve se configurar como um meio neutro de transmitir


uma série de conteúdos, conhecimentos ou informações a um aluno passivo. Deve
reconhecer o processo de busca e aquisição do conhecimento, ensinando os alunos
que aprender não é armazenar resultados, mas sim participar do processo que torna
possível a aprendizagem.

Você deve estar pensando, então, que o currículo é muito mais abrangente em
termos de aprendizagem, devendo realmente se preocupar com a maneira como
serão organizadas as atividades, os conteúdos e conhecimentos, de forma que os
objetivos previstos em determinado curso possam ser alcançados.

Ao aprofundar os estudos sobre currículo, Masetto (2003) remete a três impor-


tantes conceitos:

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1. Currículo como um conjunto de disciplinas responsáveis pela transmissão


dos conhecimentos específicos para a formação profissional. As disciplinas
se sobrepõem e não interagem entre si. Cabe ao aluno tentar estabelecer
ligações disciplinares com o objetivo de sintetizar o conhecimento, alcançar
a aprendizagem e adquirir competência profissional;
2. Currículo oculto. Diz-se oculto porque não está previsto no currículo formal,
documentado. Surge de colocações e discussões apresentadas no local de
aprendizagem, referente a habilidades, valores e outros aspectos que apa-
recem e permitem que o professor trabalhe assuntos atuais e emergentes,
que não estão expressamente colocados nos currículos;
3. Currículo integrado. Currículo como um conjunto de conhecimentos, de
saberes, competências, habilidades, experiências, vivências e valores que
os alunos precisam adquirir e desenvolver, de maneira integrada e explícita,
mediante práticas e atividades de ensino e de situações de aprendizagem.
A noção de currículo apresentada dessa forma é muito mais abrangente
porque engloba a organização da aprendizagem na área cognitiva, e em
outros aspectos fundamentais da pessoa humana e do profissional: sabe-
res, competências, habilidades, valores, atitudes e ainda mais: ela mantém
a idéia de que as aprendizagens sejam adquiridas explicitamente, mediante
práticas e atividades planejadas intencionalmente para que aconteçam de
forma efetiva, e não apenas por acaso, ou quando der certo. (MASETTO,
2003, p. 67)

Você deve refletir sobre a questão do currículo como uma organização de dife-
rentes elementos que devem incluir disciplinas, conteúdos, atividades, pesquisas,
discussões, dinâmicas, técnicas, métodos e recursos, que permitam ao aluno alcan-
çar a aprendizagem. Deve ser rico e flexível nas oportunidades de aprendizagem
oferecidas aos alunos.

O conceito de currículo oculto é bastante interessante para reflexões acerca da educação e


da prática docente. Para refletir sobre esse tema em um contexto mais direcionado e es-
pecífico, confira o artigo “Prática dos professores frente ao currículo oculto: aula para
além do planejado no ensino da matemática”, de Rodrigo Branco e Lucia Ceccato de
Lima, disponível em: https://bit.ly/2BxVbdQ

Currículo na Educação Infantil


Depois de sua leitura sobre a concepção de currículo, você já sabe que não estamos
falando somente de conteúdos pré-estabelecidos a serem transmitidos ou ensinados
aos alunos, com base em técnicas e métodos usualmente utilizados para facilitar sua
aprendizagem. A idéia[sic] de currículo envolve a apresentação de conhecimentos e

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inclui um conjunto de experiências de aprendizagem que visam favorecer a assimilação
e a reconstrução desses conhecimentos (MOREIRA, 1999, p. 12).

Piletti nos mostra que nos últimos anos, a ideia de currículo se tornou mais rica
e abrangente:
A tendência, nas décadas recentes, tem sido de usar o termo currículo
num sentido mais amplo, para referir-se à vida e a todo o programa da
escola, inclusive às atividades extraclasses. Aliás, as atividades extraclas-
ses são muito importantes para a formação da personalidade da criança.
Elas enriquecem o plano escolar e, consequentemente, a personalidade da
criança. Além disso, são uma importante fonte de motivação. (PILETTI,
2000, p. 52)

Você deve estar se perguntando por que estudar currículo para desenvolver seu
trabalho na Educação Infantil. Realmente, falar em Currículo em Educação Infantil
causa estranheza em muitas pessoas, até mesmo da área da educação. Mas, como
primeira etapa da educação básica, destinada ao atendimento de crianças de zero
a cinco anos e definitivamente inserida no sistema educacional brasileiro, é preciso
proporcionar à criança dessa faixa etária o bem-estar físico, afetivo-social e intelec-
tual, por meio de atividades lúdicas que criem oportunidades de desenvolvimento, a
fim de estimular a curiosidade, a espontaneidade e a harmonia. Todas essas ativida-
des contribuem para a sua integração no triângulo família – escola – comunidade, e
serão desenvolvidas a partir do currículo adotado.

Ao pensar na educação de nossas crianças, nós, professores, devemos ter em


mente que currículo é tudo que acontece na vida de uma criança, na vida de seus
pais e na nossa vida.
[...] Consiste em experiências, por meio das quais as crianças alcançam
a auto-realização[sic] e, ao mesmo tempo, aprendem a contribuir para a
construção de melhores comunidades e de um melhor futuro. (RAGAN
in PILETTI, 2000, p. 52).

Tudo aquilo que o aluno vive e vê pode-se constituir em currículo: conteúdos,


conhecimento científico, cultura, acontecimentos, conhecimentos gerais, meio am-
biente, saúde, música etc.
Atualmente currículo é tudo que acontece na vida de uma criança, na
vida de seus pais e professor. Tudo que cerca o aluno, em todas as horas
do dia, constitui matéria para o currículo. (REIS in PILETTI, p. 52)

Na Educação Infantil, não podemos pensar ou agir de forma diferente. Indepen-


dente da idade de nossos alunos, devemos ter em mente que os mesmos precisam
ser educados em sua totalidade, aprendendo conteúdos, ampliando suas habilidades,
desenvolvendo atitudes e valores, além de estarem equilibrados emocionalmente.
Não podemos nos esquecer também de que, na educação infantil, o educar não
pode excluir o cuidar. Ambos andam juntos nesse nível de ensino.

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UNIDADE Currículo e Atendimento Educacional na Educação Infantil

Assim pensando, mesmo nossa disciplina estando focada no trabalho com crianças
entre zero e cinco anos, como professor você deve ter uma postura que privilegie a
construção de um currículo que possa realmente auxiliar nossas crianças a aprender,
crescer, e a se desenvolver. Independentemente do nível de ensino ou da idade de
seus alunos, você deve não somente no que diz respeito a conteúdos, mas como seres
humanos, cidadãos prontos a levar para fora da escola as lições de vida que certamente
podemos vivenciar juntos.

Portanto, a postura do docente, a forma como ele vê seus alunos, como desenvolve
sua prática, como acredita ou não na educação como instrumento de crescimento e
transformação, vai influenciar na elaboração do currículo a ser trabalhado e na sua
prática pedagógica.

Figura 2
Fonte: Getty Images

O aluno não é somente um reprodutor do conhecimento, mas sim produtor e cons-


trutor de saberes. O que nossas crianças aprendem não deve ter impacto somente
no instante em que está estudando e abordando determinado assunto, mas deve ser
parte fundamental de construção de seu caráter e de seu futuro.

É sob esse ponto de vista, da participação da criança na própria aprendizagem e


de nossa responsabilidade, tanto nas oportunidades propiciadas para seu crescimento
quanto no exemplo que somos para essa criança, que você deve pensar o currículo.

O objetivo maior dessas reflexões é colaborar na construção de um currículo arti-


culado no atendimento educacional na Educação Infantil, discutindo as tendências
teóricas e pedagógicas para esse nível de ensino, pensando na formação da criança e
suas interações com pais, educadores e outras crianças.

Para isso, é preciso que você saiba quem são as crianças que recebemos nas es-
colas de educação infantil e como essas crianças aprendem.

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O vídeo “Currículo na Educação Infantil: definições legais” apresenta as definições jurí-
dicas e as possibilidades acerca do conceito de currículo. O vídeo faz parte do Programa do
Curso de Pedagogia Unesp/Univesp, integrante da disciplina de Educação Infantil, e está
disponível no YouTube pelo link https://youtu.be/xgWFOKF-4oQ

Os Alunos da Educação Infantil


Entender quem são nossas crianças é fundamental para que o trabalho com elas
realizado renda bons frutos. Importante também é saber como as crianças, indepen-
dente de etnia, religião, cultura ou nível socioeconômico, são vistas pela sociedade.
O contexto familiar também é muito importante para essa percepção.

Ao trabalhar com educação infantil, você vai perceber que as crianças vêm de dife-
rentes formações familiares, situações socioeconômicas, culturas ou regiões. Além disso,
são crianças que vivem em um mundo globalizado e, portanto, têm grande capacidade
de observação e de intervenção.

Ao entrarem na escola, as crianças já trazem conhecimentos adquiridos de sua


vivência na família, com os amiguinhos, na comunidade religiosa a qual pertence.
Ignorar este conhecimento prévio da criança é perder uma grande oportunidade de
enriquecer a elaboração do currículo.
[...] o desenvolvimento da criança é produto de instituições sociais e sis-
temas educacionais, como família, escola, igreja, que ajudam a construir seu
próprio pensamento e descobrir o significado da ação do outro e de sua pró-
pria ação. (VYGOTSKY, 1931, apud CARDOSO; OLIVEIRA, 2009, p. 2)

Por esses motivos, o trabalho com Educação Infantil pede atenção especial às
interações que se estabelecem envolvendo a criança, pois, a partir delas, pode-se
facilitar ou dificultar tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento dos pequenos.

Interações Pessoais
A criança não é um corpo a ser mantido limpo sob uma cabeça a ser mantida ocu-
pada, como muito já se pensou. Ela é uma totalidade que integra aspectos físicos, afe-
tivos e cognitivos, que tomam sentido através da linguagem e da cultura. Suas relações
com outras pessoas, sejam pessoas adultas ou crianças, são oportunidades para que ela
se constitua como sujeito único, com uma forma toda particular de reagir às situações.
Uma educação que cuida da criança dá atenção constante a todos esses aspectos.

A Educação Infantil deve criar para cada criança múltiplas oportunidades para
que ela possa se expressar e respeitar os sentimentos, ideias, costumes e preferências
do outro. Deve garantir, ainda, que cada criança seja aceita com suas características

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físicas e morais. Uma educação cuidadosa seleciona experiências socialmente rele-


vantes de aprendizagem e propõe metas valiosas à construção de competências,
apoiando, assim, a formação de um autoconceito positivo do educando.

Nesse contexto, as relações afetivas das crianças apresentam-se como fatores


importantes em seu desenvolvimento e crescimento.

“Interagir com a criança é muito importante para o seu desenvolvimento”, diz pedia-
tra americana – Leia em: https://bit.ly/2Y1d0td

Interações Educador-Criança
Sabemos que as brincadeiras e os jogos infantis são fundamentais para o desen-
volvimento e a aprendizagem da criança. Eles são recursos privilegiados que devemos
garantir enquanto direitos da infância. Mas, neste processo, qual o papel do educador?

Para que a criança brinque e se envolva com a brincadeira, é fundamental que


ela se sinta emocionalmente bem na relação com quem a cerca, que, no contexto do
CEI, são os educadores e as outras crianças. Essa ideia indica que, para a criança,
suas relações sociais têm muita importância e devemos considerá-las com seriedade.

Quando compreendemos essa característica do desenvolvimento infantil, tornam-se


mais evidentes o papel e a função da interação enquanto um aspecto essencial para
que a criança se socialize, aprenda, cresça etc.

Figura 3
Fonte: Getty Images

Quando a criança brinca, é muito comum ouvirmos frases do tipo: “ela está
apenas brincando, não é sério!” Ou, no outro extremo: “por que você não brinca
disto? E agora daquilo outro?...”. Esses são exemplos de atitudes que não colocam
o educador como parceiro e interlocutor da criança: ou ele se afasta ou dita regras.
Mas qual será a medida?

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O primeiro passo é entendermos que a brincadeira é um ritual interativo (por
exemplo, quando o adulto se esconde atrás de um pano e diz: “achou!”) no qual
a função do educador é também garantir a expressão da criança, acolhendo suas
emoções e necessidades, permitindo, assim, que ela estruture seu pensamento.
Além disso, ele deve ser uma pessoa verdadeira, que se relaciona afetivamente
com a criança, criando condições para que ela questione, reflita etc. Dessa forma,
na convivência cotidiana, o educador pode ser uma pessoa que transmite seguran-
ça para a criança, acolhendo suas emoções. O educador deve ser capaz de ouvir
a criança, valorizando suas perguntas e produções, e de respeitar suas opiniões.
Agindo assim, ele se torna um parceiro com quem a criança pode contar na explo-
ração de um mundo grande, novo e muito interessante.

Leia “O papel do professor frente à questão do brincar para crianças de 04 (quatro) a


06 (seis) anos”, disponível em: https://bit.ly/308uYfW

A ação do educador como mediador da relação que as crianças estabelecem entre


si auxilia para que elas desenvolvam capacidades como tomadas de decisões, constru-
ção e apreensão de regras, cooperação, diálogo, solidariedade etc. Assim, o educador
favorece o desenvolvimento de sentimentos de justiça e atitudes de cuidado que a
criança passa a ter com ela própria e com as outras pessoas.

O educador, quando considera a criança como um ser ativo em seu processo de


desenvolvimento, faz a mediação entre ela e seu meio, podendo utilizar inúmeros
recursos como o próprio espaço físico do CEI, materiais, brinquedos, atividades
plásticas etc. Mas é fundamental o modo pelo qual o educador se relaciona com a
criança: como a observa, apoia, dá respostas, explica os acontecimentos e as regras,
questiona. Em outras palavras, o educador deve interagir com a criança, sendo um
facilitador, interventor, problematizador e propositor, levando em conta suas reações
e encorajando e incentivando seus modos de brincar e de compreender o mundo.
Assim, educador e crianças juntos poderão se transformar e descobrir diferentes
modos de se relacionar.

Quando o educador compartilha uma brincadeira ou jogo com a criança, ele pode
ajudá-la a enfrentar eventuais insucessos, estimular seu raciocínio, sua criatividade,
reflexão, autonomia etc. Isso quer dizer que, quando o educador tem intenção de
brincar junto com a criança, ele pode criar diversas situações que estimulem o seu
desenvolvimento, como a inteligência, a afetividade etc.

No filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, o professor John Keating, interpretado por
Robin Willians, ingressa como docente em um colégio somente de garotos. Por meio da
criatividade, das artes e do pensamento crítico, ele usa abordagens diferenciadas para
captar a atenção e o interesse dos jovens para a educação. Confira o trailer do filme, dispo-
nível em: https://youtu.be/Oo9R1neW4lw

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Interações Criança-Criança
Como vimos, a interação entre o educador e a criança é fundamental para o de-
senvolvimento infantil. Mas... E as crianças desenvolvem-se a partir das interações
que estabelecem entre elas?

Quando a criança brinca com outra criança, ela age de maneira cooperativa, faz
imitações, disputa objetos, briga. Esses são momentos de intenso desenvolvimento:
os companheiros de mesma idade despertam interesse e possibilitam percepções so-
bre as diversidades (maneiras de lidar com as mais variadas situações, gênero, raça/
etnia etc.). Além disso, esse tipo de interação possibilita que a criança compartilhe
com outra criança suas dúvidas, expresse suas emoções e fale de suas descobertas,
tornando todas essas em situações de aprendizagem.

Esses momentos de interação podem ser estimulados quando o educador cria situ-
ações nas quais os grupos são privilegiados. Ou seja, propor às crianças explorações
em duplas ou trios, projetos em grupo de quatro ou mais crianças etc. Por exemplo,
desenvolver em grupo um teatro de fantoches permite à criança negociar o tema da
história, expressando suas emoções e desejos sem usar a agressividade. Quando isso
ocorre, a criança está aprendendo a elaborar planos coletivos, negociar, dividir e com-
partilhar. Ela desenvolve também o sentimento de pertencer a um determinado grupo.

Esse tipo de interação em grupo auxilia a criança a controlar seus impulsos, pois
ela deve apreender algumas regras, comportar-se de maneira cooperativa, tentar
compreender as outras crianças. Além disso, a criança se enriquece por comparti-
lhar diferentes experiências e situações: ela tem a oportunidade de expressão e de
contato com vivências distintas da sua própria.

Entenda melhor o assunto com o vídeo desenvolvido pela Universidade Federal do Oeste do
Pará “Interações e Brincadeiras: Eixos Norteadores da Educação Infantil”, disponível
em: https://youtu.be/nTrJmj7OWcM

Interações com a Família


Em nossa sociedade, a família tem sido o espaço privilegiado de socialização das
crianças. O bebê nasce em uma cultura e, particularmente, no seio de uma família,
que constitui seu primeiro meio de desenvolvimento. É esperado que ela busque
garantir a sobrevivência e o desenvolvimento dos filhos, prestando cuidados mate-
riais, afetivos e intelectuais necessários ao bem-estar infantil. Por meio dela, a criança
apreende noções de verdade, de beleza e ética, entre outros temas de sua cultura,
contribuindo para a reprodução do mundo social.

Cada família cria suas formas de lutar pela sobrevivência e, ao fazê-lo, estabelece
diferentes formas de organização, alterando os papéis e as funções de cada membro.

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Quando, por exemplo, a mulher começou a sair de casa para trabalhar, houve a
necessidade de criar alternativas extrafamiliares para o cuidado das crianças, como
a creche. A socialização e a transmissão dos temas relacionados à sua cultura passa-
ram a ser compartilhadas entre a família e a instituição de Educação Infantil.

O filme “Relações de Família”, de 2019, conta a história de um patriarca de uma família com
relações e situações problemáticas, interagindo e se conectando em meio às dificuldades,
ilustrando a maneira como conflitos e divergências fazem parte do contexto familiar. Confira
o trailler, disponível em: https://youtu.be/86M_R-02tlg

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990, Artigo 53) – dispõe que a


família tem o direito de conhecer e de participar da elaboração da proposta pedagó-
gica das instituições educacionais que seus filhos frequentam.

A relação entre o CEI e as famílias é importante para ambos, dado que comparti-
lham a educação das crianças. Contudo, frequentemente, essa relação é atravessada
por muitas emoções, que vão da alegria à tristeza, da raiva à gratidão. Por isso, a
formação do professor de Educação Infantil deve discutir novas formas de diálogo e
de trabalho compartilhado com as famílias.

Abrir a unidade educacional à presença constante e à participação ativa da família


em seu cotidiano não é fácil! Ao frequentar o CEI, os pais passam a observar o que
acontece lá dentro e a fazer mais perguntas, a dar sugestões e a fazer pedidos que
nem sempre podemos atender. É, então, que aparecem as diferenças individuais,
uma vez que cada pai ou mãe requer um tipo de atenção diferente. Cada grupo
familiar pode ter uma história, uma bagagem cheia de diferentes valores, crenças e
formas de ver o mundo.

Tentar enquadrar as famílias em modelos rígidos, com base em um pretenso


“funcionamento ideal”, é correr o risco de considerar a existência de apenas uma
ou poucas formas possíveis de viver, de se relacionar e de experienciar o mundo.
Agindo assim, pode-se cometer o engano de considerar as famílias que se afastam de
um pretenso modelo ideal como sendo perigosas ao bom desenvolvimento psíquico e
moral das crianças, sem avaliar a dinâmica daquele contexto familiar em uma socie-
dade concreta.

Apesar de a legitimação do divórcio ter acontecido recentemente, a separação de


casais é uma prática que já vem ocorrendo de longa data e que tem se acentuado
cada vez mais. Hoje, não é difícil encontrarmos famílias nas quais tanto pai quanto
mãe já tiveram outras uniões conjugais e filhos.

Leia a matéria “Divórcio sem traumas: como conversar com a criança, de acordo com a idade”,
disponível em: https://glo.bo/2MqddAO

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Além das separações, assistimos atualmente a uma grande diversidade de formas


de organização familiar: famílias agregadas ou compostas por apenas um dos pais
morando com os filhos, avós que assumem o filho de sua filha adolescente e pessoas
solteiras ou casais homossexuais que adotam crianças. Essas novas configurações
familiares de pais e irmãos biológicos separados, padrastos e meios-irmãos vêm exi-
gindo constantes redefinições de valores e atitudes na família e na sociedade.

O ambiente escolar ao ser considerado, junto com a família, um local de socia-


lização, tem grande responsabilidade na forma como vai se posicionar diante dos
diferentes valores e atitudes, de ordem familiar e social.

As relações familiares, assim como as relações entre a escola e as famílias, são, em


geral, permeadas por conflitos e tensões inevitáveis, porém, promotores do desenvol-
vimento, pois é do conflito que resulta a inovação cultural.

Contudo, muitas vezes, ocorrem formas de violência que exigem do educador/


professor alguma atitude em defesa dos direitos da criança. Ao se constatar alguma
forma de violência dirigida à criança – física ou simbólica, ocorrida em casa ou na es-
cola, sejam espancamentos, castigos, humilhações, abuso sexual, abandono (desde
não lhe trocar fraldas por muitas horas até trancá-la no quarto ou deixá-la por longo
tempo vendo TV) –, é preciso consultar o ECA, discutir com os colegas e refletir
sobre qual deve ser a atitude mais adequada em benefício dessa criança.

Situações de insegurança e risco sociais – como pobreza, desemprego, violência,


uso de drogas, morte, doenças físicas e mentais – podem ser fatores de desagregação
que prejudicam a família no exercício de suas funções de apoio e de socialização,
tornando-se problemáticas à medida que as pessoas deixam de ter perspectivas para
compreender e superar esses conflitos.

A instituição de Educação Infantil, apesar de não substituir políticas de assistência


à família, deve pensar um trabalho com a família, pois cabe à creche ou pré-escola
oferecer um espaço onde ela possa ser acolhida para ampliar sua aprendizagem
sobre o que é ser cidadã, sendo respeitada em suas particularidades e apoiada, de
modo a repensar e a traçar formas mais produtivas de participação e, aos poucos,
transformar sua realidade.

Figura 4 – Participação familiar na educação é fundamental


Fonte: Getty Images

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Muitos professores de Educação Infantil assumem uma postura autoritária,
cobrando das famílias das crianças condutas que elas não podem adotar e de acre-
ditar que elas nada têm a contribuir para o trabalho da instituição só faz aumentar
os conflitos, os desentendimentos, as mágoas recíprocas. Com essa postura, eles
perdem valiosas oportunidades de entender a realidade dos pais e a das crianças,
ao mesmo tempo em que os familiares são prejudicados com relação a entender os
propósitos educativos da escola, bem como as possibilidades e limitações pessoais,
materiais ou institucionais nele presentes.

Nas relações entre a família e a escola, as aproximações explicitam conflitos e reque-


rem negociações que considerem os sentimentos que vão surgindo. Para resolver os
conflitos, é necessário buscar, no diálogo, uma definição cada vez mais clara do papel
e das funções de cada parte. Dito assim, parece fácil desenhá-la, mas não é.

Para promover maior diálogo com as famílias, é necessário “desacomodar” nossos


sistemas de crenças e valores. Isso exige disponibilidade para ouvir sem julgamentos
prévios e, ao mesmo tempo, um exercício de objetividade para explicar o trabalho
que é feito.

Não podemos nos esquecer de que o homem é passional. Amor, ódio, carinho,
rejeição, aceitação são sentimentos que temos para com nossos filhos, irmãos, marido,
esposa e também para com as crianças, colegas de trabalho e famílias. Devemos, por-
tanto, saber lidar com essas emoções. Sem isso, brigaríamos todos os dias e teríamos,
em seguida, de pedir desculpas ou continuar brigando durante toda a vida!

Para conquistar um ambiente mais tranquilo e harmonioso junto às famílias,


podemos, além das festas tradicionais e reuniões, criar alguns eventos para incen-
tivar a participação dos pais: quando possível, organizar um café da manhã no pátio
em comemoração à chegada da primavera; um sarau; uma feirinha de exposição das
produções das crianças; um teatrinho rápido, encenado por pais e educadores juntos
num final de tarde.

Ao prepararmos uma reunião, é importante encontrar meios de fazer com que


os pais se sintam bem recebidos. Quando os chamamos para apontar o que devem
ou não devem fazer, eles acabam deixando de comparecer, a menos que sejam obri-
gados. É mais interessante quando os chamamos para informar a respeito do projeto
pedagógico ou para debater um tema específico. Nessas ocasiões, aqueles que esti-
verem mais motivados e interessados, certamente, mudarão de postura em relação
à escola e a seus profissionais.

Podemos investigar, entre os familiares, aqueles que têm habilidades especiais,


como saber tocar um instrumento, ser um bom contador de histórias, saber lidar com
marcenaria e com pintura, ter dotes culinários, jardinagem etc. e convidá-los para ir
à escola desenvolver essas atividades com as crianças. Essa é uma forma de partici-
pação que contribui para que a família passe a conhecer um pouco mais o cotidiano
escolar, principalmente, para que as crianças participem da integração entre suas
famílias e sua escola.

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Áreas da Criança na Educação Infantil


Além de considerar o contexto geral da infância na educação infantil, é preciso
entender que essa etapa do desenvolvimento também não é homogênea. Em cada
idade, são desenvolvidas habilidades e potencialidades que se desenvolvem à medida
que a criança aprende novas atividades, noções e conceitos.

O que uma criança sabe fazer em determinado momento de sua vida depende
de variados fatores. Uma criança é capaz de começar a falar, por exemplo, por
imitação de sons. Ou pode ter sido estimulada a estabelecer algumas relações com
a pessoa que cuida dela, desenvolvendo o interesse em se comunicar, aguçando a
vontade de entender e fazer-se entendida.

Você já deve ter observado que, de um modo geral, as crianças apresentam está-
gios de desenvolvimento que são determinados por conhecimentos e habilidades
inerentes à sua faixa etária e, normalmente, comuns a todas as crianças da mesma
idade. Esses estágios representam avanços na qualidade daquilo que as crianças têm
possibilidade de realizar antes ou depois dessa mudança, representando a passagem
para outra etapa de desenvolvimento.

Os estágios são universais, ou seja, todos os seres humanos passam pelos mesmos
estágios, ainda que não necessariamente na mesma idade.

O biólogo Jean Piaget observou que as crianças passam por estágios de desenvol-
vimento que permitem que avancem no conhecimento e ação.

Dica de artigo: “Da Ação à Compreensão: Um Passeio pela Teoria de Piaget”, disponível
em: https://bit.ly/3gTqi3B

Mesmo assim, as crianças não são iguais. Os momentos em que ocorrem os saltos
qualitativos podem ser diferentes, conforme as crianças e os grupos culturais aos quais
pertencem. Daí a importância de percebermos e entendermos o contexto no qual as
crianças se desenvolvem. Os meios ricos em estímulos e afeto proporcionam uma evo-
lução mais rápida no desenvolvimento das capacidades do que contextos menos ricos
em estímulos ou afetividade.

Existem, portanto, traços gerais da evolução da criança na etapa da educação


infantil. Podemos dividir o desenvolvimento infantil em três grandes áreas:
• Área motora: relaciona-se com o desenvolvimento dos movimentos do corpo
humano, tanto em sua globalidade como dos segmentos corporais. Nas crianças,
destacamos o equilíbrio, o andar, falar, correr, pular, a coordenação motora etc.;
• Área cognitiva: refere-se à capacidade de compreender o mundo e de atuar
nele, em diferentes idades, por meio da linguagem ou da resolução de situações-
-problema que são apresentadas às crianças. É preciso que você lembre que, na

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faixa etária da educação infantil, a criança tem grande capacidade de criação e
comunicação, fazendo uso de diferentes linguagens: verbal, gestual, artística, do
faz-de-conta etc.;
• Área afetiva: engloba o desenvolvimento do equilíbrio pessoal, que faz com que
a criança se sinta bem consigo mesma; da relação interpessoal, que auxilia no
confronto com situações e pessoas novas; e da atuação e inserção social, que
permite à criança estabelecer relações cada vez mais alheias, distanciadas, bem
como atuar no mundo que a rodeia.

Apresentar etapas ou estágios de desenvolvimento divididos dessa forma é muito


útil como um recurso de estudo e para que você entenda as diferentes áreas de desen-
volvimento das crianças, porém, sabemos que o desenvolvimento é global e existem
constantes relações entre as capacidades desenvolvidas, inclusive entre as áreas. Além
disso, as crianças diferem entre si, o que faz com que crianças de uma mesma idade
estejam em diferentes graus de desenvolvimento.

Entender de que maneira os estágios do desenvolvimento afetam o aprendizado


é fundamental no contexto do currículo escolar. Igualmente importante é entender
quais são as formas de aprendizado – brincadeiras e interações, por exemplo – já
que elas influenciam diretamente as metodologias e premissas que devem ser con-
sideradas no planejamento. Esses desdobramentos do aprendizado serão abordados
na próxima unidade.

Em Síntese
Nesta unidade, você aprendeu que elaborar um currículo no trabalho com a Educação
Infantil não é algo estranho, mas necessário. Para isso, é preciso que o professor saiba
como integrar o conhecimento que se espera que a criança adquira com situações coti-
dianas, com a vivência da criança e suas expectativas.
Além disso, você viu como as relações interpessoais são importantes para a criança, que
aprende e cresce a partir dessas relações. Também verificamos que professor e escola
devem estabelecer relações de parceria com a família, para que a criança tenha o senti-
mento de pertencimento aos dois grupos: familiar e escolar.
A partir do seu conhecimento sobre currículo e do entendimento da importância das rela-
ções estabelecidas entre você e as crianças e seus pais, respeito às relações entre as próprias
crianças, você poderá desenvolver um rico trabalho junto às crianças na Educação Infantil.

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UNIDADE Currículo e Atendimento Educacional na Educação Infantil

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Sites
Começo da Vida
https://bit.ly/3cBZukV

 Leitura
Currículo, Culturas e Contextos Integrados à Formação de Educadores
https://bit.ly/2XXVYwd
Um Estudo Reflexivo sobre o Currículo na Educação Infantil
https://bit.ly/3eQphro
O Interacionismo Social e a Investigaçao da Brincadeira Infantil: Uma Análise Teoricometodológica
https://bit.ly/36ZEqnr

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Referências
BASSEDAS, E. et al. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Artmed, 1999.

CARDOSO, I.; OLIVEIRA, J. S. Prática da atividade de Vygostky. 2009. Dispo-


nível em: <http://estagiocewk.pbworks.com/f/jacqueline+e+inomis.pdf>.

MASETTO, M. T. Didática: a aula como centro. São Paulo: FTD, 1997.

MASETTO, M. T. Competência Pedagógica do professor universitário. São Paulo:


Summus, 2003.

MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Indagações sobre currículo. Caderno Cur-


rículo, Conhecimento e Cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Básica, 2007.

MOREIRA, A. F. B. Currículo: Questões atuais. Campinas, SP: Papirus, 1997.

MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T. (orgs). Currículo, Cultura e Sociedade. 2000.

PILETTI, C. Didática Geral. São Paulo: Ática, 2000.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação de. Organização do Trabalho


Pedagógico. Módulo 2. São Paulo: SME/DOT, 2002.

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