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Primeiramente, é importante pontuar que em linhas gerais, o currículo é um

plano pedagógico e institucional que direciona e orienta o processo de ensino e


aprendizagem no âmbito escolar, todavia, é importante também frisar que tal definição
apresentará diferentes abordagens, haja vista que nos os espaços educacionais são
permeados de concepções de aprendizagem que orientarão e influenciarão na construção
desse currículo.
Nesse sentido, Sacristán (2008, p.101), por sua vez, concebe o currículo como:
[...] um objeto que se constrói no processo de configuração, implantação,
concretização e expressão de determinadas práticas pedagógicas e em sua
própria avaliação, como resultado das diversas intervenções que nele se
operam. Seu valor real para os alunos, que aprende seus conteúdos, depende
processos de transformação aos quais se vê submetido.

A partir disso, verifica-se que o currículo é instrumento que apresenta


dinamicidade, que se insere em diferentes esferas da ação pedagógica e institucional.
Vincula-se as organizações sociais e aos interesses que por elas são impelidos
(SACRISTÁN, 2008). Além disso, o autor ainda salienta que o currículo tem por
princípio ser um elo de ligação entre a cultura e meio social que está fora da escola.
No que tange as manifestações do currículo, é importante resgatar algumas
concepções de autores que esboçam sobre o tema, sendo eles formal, real e oculto,
conforme apresentado no quadro a seguir:
Quadro Y – Tipos de currículo
CURRÍCULO FORMAL CURRÍCULO REAL CURRÍCULO OCULTO
Refere-se ao currículo É a execução de um plano, é a O currículo oculto representa
estabelecido pelos sistemas de efetivação do que foi tudo o que os alunos
ensino ou instituição planejado, mesmo que nesse aprendem pela convivência
educacional. É o currículo caminho do planejar e do espontânea em meio as várias
legal expresso em diretrizes executar aconteçam mudanças, práticas, atitudes,
curriculares, objetivos e intervenção da própria comportamentos, gestos,
conteúdos das áreas ou experiência dos professores, percepções, que vigoram no
disciplinas de estudo. O decorrentes de seus valores, meio social e escolar
currículo formal ou oficial é crenças, significados. É o (LIBÂNEO, 2001, p. 100).
aquele conjunto de diretrizes currículo que sai da pratica dos
normativas prescritas professores, da percepção e do
institucionalmente, como, por uso que os professores fazem do
exemplo, os Parâmetros currículo formal assim como o
Curriculares Nacionais que fica na percepção dos
divulgados pelo Ministério da alunos. (LIBÂNEO 2001, p. 99)
Educação, as propostas
curriculares dos Estados e
Municípios. (LIBÂNEO 2001,
p. 99)
Fonte: elaborado pela autora, com base nos estudos de LIBÂNEO, 2001.(grifos da autora)

Sobre as concepções curriculares, segue um quadro elucidativo com principais


abordagens curriculares na prática educativa.
Quadro X – Concepções curriculares
CURRÍCULO CURRICULO CURRÍCULO CURRÍCULO CURRÍCULO CURRÍCULO
TRADICIONAL TECNICISTA PROGRESSISTA CONSTRUTIVISTA SÓCIO- INTEGRADO OU
(ESCOLA PIAGET CRÍTICO GLOBALIZADO
NOVA)
Disciplinas O currículo é Ideia de currículo Está relacionado às Dão ênfase às Destaca-se a
compartimentadas; proposto para a centrado no aluno influências de Piaget questões políticas globalização das
transmissão de e no provimento e seus seguidores. e pedagógicas no aprendizagens e
Ensino conteúdos e de experiências de processo de interdisciplinaridade.
transmissivo; desenvolvimento aprendizagem Conceito chave: formação.
de habilidades como forma de crença no papel ativo Está associado às
O saber é centrado para o serviço ligar a escola com do sujeito do sujeito O ensino tem características da
no professor; do sistema de a vida e adaptar os no processo de como princípio a estrutura cognitiva e
produção. alunos ao meio. aprendizagem ativa. compreensão da afetiva dos alunos,
O currículo é realidade para de forma a construir
reduzido a um Uma derivação Os conteúdos são O currículo deve transformá-la, e integrar os
conjunto de dessa concepção subordinados às prever atividades que visando a conhecimentos.
disciplinas e de é o currículo por necessidades e correspondam ao construção de
conteúdos a derem competências. interesses dos nível de novas relações
“passados” aos alunos no seu desenvolvimento socias.
alunos A crítica que se processo de intelectual dos alunos
organizados numa faz a esse adaptação ao meio. e organizar situações Entende-se que os
“grade curricular”. currículo é a sua (John Dewey) que estimulem suas conceitos, a teoria
definição muito capacidades e os conteúdos
estreita de cognitivas e sociais. culturais
competência sistematizados,
restrita ao saber- Sociointeracionista. dificilmente os
fazer. alunos estarão
aptos a analisar a
realidade e
formular
estratégias de
atuação.

Fonte: adaptado pela autora, com base nos estudos em TUMELERO, 2020.

No que tange as diferentes concepções de currículo, tem-se o integrado, que é


por sua vez, um plano pedagógico e institucional que se articula com trabalho, ensino,
prática, teoria e comunidade como um todo. Vale ressaltar que tem como características
centrais a organização institucional e a dinamicidade, perpassando pela integração entre
o ensino e a prática profissional; soluções para diferentes situações complexas no
dinâmico mundo do trabalho; integração entre instituição de ensino e a comunidade;
integração professor e aluno na construção do processo de ensino e aprendizagem;
adaptações as realidades próprias nos espaços educacionais onde acontecem os
processos de ensino e aprendizagem. Nesses termos Gadotti (1995), define da seguinte
forma:
O currículo integrado organiza o conhecimento e desenvolve o processo de
ensino-aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos como
sistema de relações de uma totalidade concreta que se pretende
explicar/compreender. No trabalho pedagógico, o método de exposição deve
restabelecer as relações dinâmicas e dialéticas entre os conceitos,
reconstituindo as relações que configuram a totalidade concreta da qual se
originaram, de modo que o objeto a ser conhecido revele-se gradativamente
em suas peculiaridades próprias (GADOTTI, 1995).
Dentro dessa conceituação de Gadotti (1995), pode-se compreender que tal
currículo abarca conhecimentos que permeiam a formação geral, assim como os
conhecimentos específicos. Dessa forma, no currículo integrado nenhum conhecimento
é somente geral, e nem um conhecimento é somente específico, uma vez é articulado
com as ciências e linguagens com finalidades produtivas. É mister apontar na reflexão
em questão, que o currículo formal fundamenta-se e estrutura-se na exigência da seleção
e organização dos conhecimentos em componentes curriculares, que se estruturam por
meio de disciplinas, módulos, projetos, entre outros. Dito isso, constata-se que o
currículo não abarca toda a realidade, por isso que esse processo de seleção é
direcionado e orientado pela possibilidade do aproximar-se do real. Expressa-se por
tanto relações fundamentais que definirão a realidade. Sobre tal argumentação, Kosik
(1978), apresenta uma reflexão:
Segundo Kosik (1978), cada fato ou conjunto de fatos, na sua essência,
reflete toda a realidade com maior ou menor riqueza ou completude. Por esta
razão, é possível que um fato deponha mais que um outro na explicação do
real. Assim, a possibilidade de conhecer a totalidade a partir das partes é dada
pela possibilidade de identificar os fatos ou conjunto de fatos que deponham
mais sobre a essência do real; e, ainda, de distinguir o essencial do acessório,
assim como o sentido objetivo dos fatos. Isto dá a direção para a definição de
componentes curriculares.

A partir da reflexão de Kosik (1978) e com base no método histórico dialético,


elucida-se que a partir dos conhecimentos apreendidos na forma recente
(contemporânea) pode-se compreender a realidade, a ciência e a historicidade que
contempla todo o percurso de um objeto de estudo.
Nessa perspectiva, compreende-se que tal temática alinhava-se diretamente com
o objetivo de estudo ao qual se empreende esta pesquisa nos seguintes aspectos:
desvelar os impactos no fazer docente dos professores do IFMG, na implementação da
BNCC nos livros didáticos, sobretudo, na área de linguagens, especificamente no
componente de Língua portuguesa. Partindo do pressuposto de que a estruturação e
organização do currículo integrado tem como característica a sua organização em
componentes curriculares, verificaremos os impactos nesse fazer docente, tomando
como recorte o componente de língua portuguesa de modo a levantar reflexões,
apontamentos e traços que indiquem os desafios e impactos dessa implementação.
REFERÊNCIAS:
SACRISTÁN, J.G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3.ed. Porto Alegre: Artmed,
2008.
GADOTTI, M. Concepção Dialética da História. São Paulo: Cortez, 1995.
KOSIK, K. Dialética do Concreto. Petrópolis: Vozes, 1978.

LIBÂNEO, Antônio Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática –


Goiânia: ed. Alternativa, 2001.

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