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Unidade 2

Introdução a fundações
Introdução da Unidade

Tão fundamental quanto entender o conceito de solo, sua formação e sua composição química
é ter conhecimento sobre métodos para realizar sondagens.

Sondar o solo é uma atividade tão importante quanto o desenvolvimento de um bom projeto.
Sendo assim, um bom projeto sempre parte de uma sondagem bem executada e interpretada
corretamente.

Para quem pretende se dedicar à atividade de projeto de fundações, ou mesmo ao


planejamento de empreendimentos, ter uma boa noção dos principais tipos de fundações,
suas limitações e potencialidades é fundamental.

Esta unidade, que se propõe a ser uma introdução ao estudo das fundações, vai apresentar os
principais processos de sondagem, com ênfase ao SPT, os principais sistemas de fundações e
como indicar a sua utilização frente ao contexto do projeto.

Aproveite muito bem esta unidade! Não perca a oportunidade de estudar muito bem este
tópico, pois será um diferencial para a sua carreira na Engenharia.

Objetivos

Espera-se que, após concluir o estudo desta unidade e ter participado ativamente da aula
prática, você seja capaz de:

 Compreender a importância da sondagem do solo para o projeto de fundações;

 Ler e interpretar um laudo de SPT extraindo as principais informações;

 Desenvolver um repertório de sistemas de fundações;

Sugerir um sistema de fundações adequado ao terreno em estudo

Conteúdo Programático

Aula 1 – Sondagem do solo

Aula 2 – Tipologia e definição de sistemas de fundações

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Sondagem do solo

Nesta aula você será apresentado aos principais métodos de sondagem do solo, especialmente
ao SPT.

O cálculo e previsão do comportamento dos elementos de fundação dependem da


estratigrafia do solo, do nível do lençol freático e dos parâmetros geotécnicos. A investigação
do subsolo deve ser capaz de descrever estas características de forma a nortear as decisões e
cálculos do engenheiro geotécnico.

Existem diversas técnicas de investigação que visam descrever o subsolo com diferentes
objetivos e aplicações. No entanto, a obtenção dos parâmetros geotécnicos não é uma tarefa
simples. Para estimar estes parâmetros existem uma série de ensaios que podem ser
realizados em campo ou no laboratório. Com estes ensaios pode-se estimar ou medir
comportamentos mecânicos do solo. Para as estimativas costuma-se estabelecer correlações.
As correlações são regras e equações que correlacionam diferentes parâmetros do solo.

Diante disso, é importante lembrar que os parâmetros geotécnicos apresentam grande


variabilidade, de tal forma que sua estimativa pode incorrer em vários erros. Por isso, é
importante conhecer cada um dos métodos de ensaio bem como sua limitação, aplicabilidade
e conceitos mecânicos envolvidos.

Além de tudo isso, é importante ter a noção de que nem sempre será possível obter todas as
informações necessárias:

A Informação solicitada nem sempre é a informação necessária; a informação


necessária nem sempre pode ser obtida; a informação obtida nem sempre é suficiente;
a informação suficiente nem sempre é economicamente viável

(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012, p. 13)

Investigação do Subsolo

No Brasil, o custo da investigação geotécnica, para obras convencionais, representa cerca de


0,2% a 0,5%. Em obras de grande vulto pode chegar a 5%. Dessa forma, fica claro que a
inclusão das investigações do subsolo são viáveis e podem prevenir gastos futuros muito
maiores, especialmente com a correção de manifestações patológicas decorrentes de
problemas com as fundações.

O desconhecimento do subsolo é a causa mais frequente dos erros de projeto e problemas


com fundações (MILITINSKY et al, 2006 apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). E esta não é
apenas uma constatação local:

Investigação geotécnica insuficiente e interpretação inadequada de resultados


contribuem para erros de projeto, atrasos no cronograma executivo, custos associados
e alterações construtivas, necessidade de jazidas adicionais para materiais de
empréstimo, impactos ambientais, gastos em remediação pós-construtiva, além de
risco de colapso da estrutura e litígio subsequente

(US ARMY CORPS OF ENGINEERS, 2001 apud SCHNAID; ODEBRECHT, 2012, p.14)

A NBR (Norma Brasileira Regulamentadora) 8036 da ABNT (Associação Brasileira de Normas


Técnicas) estabelece o número mínimo de sondagens para se fazer em um terreno e os
critérios de posicionamento.

A quantidade estabelecida é de, no mínimo, um furo para cada 200 m² de área de projeção em
planta do edifício. No caso de empreendimentos com área menor do que 200m² deve-se
executar 2 furos e para áreas de 200m² a 400m² deve-se executar 3 furos.

Geralmente, devido ao custo de mobilização da equipe, não se faz menos que três furos. Em
obras pequenas é comum não serem executadas sondagens. Essa negligência com a sondagem
e o projeto de fundações pode ser visualizada nos recalques que são observados em obras
desse tipo.

Para obras maiores, entre 1.200m² e 2.400m², deve-se executar uma sondagem a cada 400m².
Para empreendimentos maiores que 2400m² deve-se determinar um plano especial de
sondagem.

Os furos de sondagem devem ser dispostos de forma a representar o terreno, permitindo a


construção do perfil geotécnico em pelo menos duas direções. Os furos não devem estar
alinhados entre si, especialmente quando em pequeno número. Os furos também devem ser
posicionados de forma a representar o centro de carga do empreendimento.

A figura 1 exemplifica o caso de um edifício no qual foram alocados 3 pontos de sondagem.


Repare que os 3 pontos não estão alinhados, SP01 e SP03 representam os extremos do
edifício, enquanto SP02 busca representar o centro de carga do edifício, que é onde está
alocado o núcleo rígido, escada e elevadores.

Figura 1 – Planta baixa de Edifício Exemplo e a localização dos furos de sondagem

Fonte: http://www.pasqualini.com.br/info-imigrantes.php. Acesso em: 28 de jul. 2022.

A escolha do tipo de sondagem também é importante, pois o equipamento e procedimento,


devem ser escolhidos de forma a obter os parâmetros do solo que se precisa para o projeto,
nas condições de tensão a que o solo vai estar submetido.
Videoaula 1
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Agora, assista à videoaula sobre


sondagem do subsolo.

Os ensaios e métodos de investigação são divididos em diretos, semidiretos e indiretos. Os


métodos diretos são aqueles que medem propriedades mecânicas diretamente e permitem a
coleta de amostras. Os métodos indiretos são métodos que não permitem a coleta de amostra
e medem outras propriedades do solo, tais como resistividade e tempo de propagação de
onda, podendo determinar as características mecânicas indiretamente. Já os métodos
semidiretos são os métodos que medem propriedades mecânicas, mas não coletam amostras,
portanto, determinam a estratigrafia indiretamente. A figura 2 resume os principais métodos
utilizados na prospecção do subsolo.

Figura 2 - Ensaios in loco – métodos diretos e indiretos

Fonte: O próprio autor.

Os principais métodos indiretos são a eletrorresistividade, o método sísmico e o GPR (ground


penetration radar). Na eletrorresistividade são colocados terminais eletrônicos no solo, com
uma determinada diferença de potencial entre eles, fazendo surgir uma corrente elétrica que
pode medir a resistência do solo.

O método sísmico consiste em posicionar geofones que captam as ondas mecânicas que
podem ser oriundas de terremotos ou de fontes externas. À medida que essas ondas se
propagam no interior do solo elas refratam ou refletem em função da estratigrafia e
propriedade do material, permitindo que se estime o subsolo.
O GPR é um radar de ondas eletromagnéticas de baixa frequência cujo princípio de
funcionamento é semelhante ao método sísmico, sendo assim, é possível estimar o
comportamento do subsolo pelas propriedades da onda refletida.

Os métodos diretos e semidiretos englobam os procedimentos mais utilizados em engenharia


geotécnica. São eles:

 SPT (Standard Penetration Test) – Teste de penetração padronizado;

 CPT (Cone Penetration Test) – Teste de penetração de cone;

 DMT (Dilatometer Test)– Teste do dilatômetro;

 PMT (Pressuremeter Test) – Teste do pressurômetro;

 Vane Test;

 DPL, DPM, DPH, DPSH - Dynamic Probing – Golpes dinâmicos mecanizados.

O SPT e o CPT são os mais usados em fundações e serão detalhados separadamente. O DMT e
o PMT são testes feitos com a pressurização, eles permitem obter a tensão horizontal que se
aplica no solo para um determinado deslocamento.

No DMT crava-se no solo uma paleta que tem uma membrana flexível, à medida que se aplica
pressão na membrana ela se desloca solicitando o solo. São feitas duas leituras de pressão: a
pressão que iguala a tensão do solo e a pressão correspondente a 1,1 mm de deformação, o
que permite determinar parte da curva tensão-deformação horizontal do solo.

No PMT é feito um pré-furo, no qual posiciona-se um pressurômetro circular e aplica-se


pressões em uma membrana flexível. Esse procedimento permite anotar a pressão e
deformação para montar a curva tensão-deformação horizontal do solo (figura 3).

Figura 3 – Procedimento de execução do PMT

Fonte: O próprio autor.

O Vane Test é um ensaio no qual se crava uma palheta no solo, em formato de cruz.
Posteriormente, essa paleta é rotacionada e a força é medida com o auxílio do de um
torquímetro.

O Dynamic Probing é um teste no qual aplica-se golpes dinâmicos de martelos e cargas


padronizadas no solo, com o auxílio de um maquinário. À medida que a sonda penetra no solo
são anotados os números de golpes necessários para fazer a penetração. Esse ensaio pode ser
executado com diversos martelos, o DPL (light) é executado com o peso leve, o DPM (medium)
é executado com o peso médio, o DPM (medium) é executado com o peso médio, o DPM
(medium) é executado com o peso médio.

Cone Penetration Test

O Cone Penetration Test é um ensaio estático no qual um cone penetra o solo a uma
velocidade constante de 20 mm/s. À medida que o amostrador penetra no solo, sensores que
estão no cone registram a resistência oferecida por ele.

O cone é composto por duas partes básicas, a ponteira do cone, que registra a resistência de
ponta do cone , e a luva, que registra o atrito na lateral do cone .

Pode-se ainda instalar outros sensores no cone, tais como sensor de poropressão, de
eletrorresistividade e pressurômetros. Dessa maneira, o ensaio pode medir outras
características além das mecânicas.

A execução do ensaio permite avaliar a resistência continuamente ao longo da profundidade,


no entanto, o ensaio não permite a coleta de amostra, por isso, a identificação da estratigrafia
é feita de maneira semidireta.

Por ser estático, o ensaio precisa de uma reação que, geralmente, é feita pelo próprio
equipamento ou por um caminhão. Este ensaio permite a obtenção de parâmetros de
resistência que são próximos ao comportamento real de uma estaca.

Standard Penetration Test (SPT)

O ensaio de SPT é um ensaio de penetração dinâmica, no qual um amostrador penetra no solo


através de golpes de um martelo. O ensaio é robusto e de fácil aplicação. O amostrador é
bipartido, o que permite a coleta de amostras deformadas e, portanto, a obtenção direta da
estratigrafia.

O ensaio está descrito na NBR 6484 da ABNT. De início, instala-se um tubo guia no primeiro
metro do solo, o qual é escavado com um trado helicoidal. Dessa maneira, o ensaio inicia-se a
partir do primeiro metro.

Recolhido o trado, instala-se o amostrador e, então, o amostrador é golpeado com um martelo


de 65 kg que cai a uma altura padronizada de 75 cm. O operador anota o número de golpes
necessários para penetrar cada 15 cm, até 45 cm.

Retira-se o amostrador e recolhe-se a amostra que será acondicionada e, posteriormente,


encaminhada para identificação tátil-visual. Os próximos 55 cm são escavados com o trado
helicoidal e o ensaio reinicia-se no próximo metro (Figura 4).
Figura 3 – Procedimento de execução do PMT

Fonte: https://blogdopetcivil.com/2015/11/16/sondagem-de-solos-ensaio-a-percussao-
spt/esquema-2/

O ensaio em si não mede um parâmetro geotécnico, mede o número de golpes necessários à


penetração do amostrador e que está relacionado ao comportamento mecânico do solo. O
índice de resistência à penetração (NSPT) corresponde à soma dos golpes necessários para
penetração dos últimos 30 cm.

Esse número é usado para representar o comportamento do solo, camadas mais resistentes
precisarão de mais golpes para a mesma penetração e camadas menos resistentes precisarão
de menos golpes.

Existem diversas correlações que buscam descrever parâmetros do solo em função do índice
de resistência à penetração. Estas correlações devem ser usadas com cuidado, pois sua
validação experimental foi aplicada para um tipo de solo específico e o uso para outros tipos
pode levar a erros. Então, é preciso conhecer os limites e as aplicabilidades de cada uma delas.

A seguir, estão algumas correlações que devem ser usadas com prudência, sempre
consultando os trabalhos originais para entender os limites e aplicabilidade das mesmas.

Os furos de sondagem precisam ser distribuídos adequadamente no terreno para permitir a


construção de um perfil geotécnico que dê uma visão o mais precisa possível do subsolo.
Veja estas sugestões de distribuição de furos de sondagem com base na NBR 8036 da ABNT:

Figura 5 –Sugestões de distribuição de furos de sondagem

Fonte: Prof. Ana Paula Moura (UFVJM).

E quanto à profundidade de sondagem, o que a norma nos diz é que:

 A sondagem deve ser levada até às profundidades que incluam todas as camadas
impróprias ou que sejam questionáveis como apoio para fundações;

 A exploração deve ser estendida até à profundidade em que o solo não seja solicitado
pelas cargas de fundação em mais do que 10% da tensão geostática efetiva;

 Este critério se aplica mesmo a edificações composta por vários corpos;

 Cada corpo deve ser considerado em separado.

Para exemplificar a distribuição dos furos de sondagem (SPT) em um terreno veja o exemplo
da figura 6.

Observe na figura 6 que os furos foram distribuídos por todo o terreno, de modo a permitir o
traçado do perfil geotécnico em diversas direções. Por exemplo: associando os furos SP-2; SP-
5 e SP8 é possível traçar um perfil na lateral do solo. Associando-se os furos SP-1; SP-3; SP-6;
SP-9 e SP-11 pode-se construir o perfil do solo na região central do empreendimento.

Figura 6 – Distribuição dos furos de sondagem no terreno onde será construído o Teatro
Municipal de Londrina-Pr

Fonte: Prefeitura Municipal de Londrina.


Com base no resultado das sondagens são emitidos laudos para cada um dos furos. Na figura 7
pode-se observar o laudo do furo de sondagem SP-6.

Nesse laudo é possível identificar algumas informações muito importantes:

 No dia da sondagem (26/01/2007) o nível do lençol freático foi identificado na cota -


20,99m de profundidade em relação à referência de nível;

 A descrição tátil visual do subsolo até o limite da sondagem;

 O número de golpes necessários para cravar o amostrador de 45cm a cada metro


(NSPT) e o torque necessário para romper a amostra.

Figura 7 – Laudo de sondagem furo SP6 no terreno do futuro Teatro Municipal de Londrina

Fonte: Prefeitura Municipal de Londrina.


Outro ponto importante é saber identificar quando interromper a sondagem. A NBR 6484
apresenta os critérios para a paralisação do ensaio:

a) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 10 m de resultados


consecutivos indicando N iguais ou superiores a 25 golpes;

b) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 8 m de resultados


consecutivos indicando N iguais ou superiores a 30 golpes;

c) avanço da sondagem até a profundidade na qual tenham sido obtidos 6 m de resultados


consecutivos indicando N iguais ou superiores a 35 golpes.

Quando forem atingidas as condições descritas no item b, e após a retirada da composição


com o amostrador padrão deve, em seguida, ser executado o ensaio de avanço da perfuração
por circulação de água e deve ter duração de 30 min, devendo-se anotar os avanços do
trépano/peça de lavagem obtidos em cada período de 10 min.

A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio de avanço da perfuração por
circulação de água, forem obtidos avanços inferiores a 50 mm em cada período de 10 min.
Quando da ocorrência destes casos, constar no relatório a designação de impenetrável ao
trépano/peça de lavagem.

Se for necessário avançar a sondagem além dos limites estabelecidos pelos critérios de parada,
deve-se avançar utilizando-se de sondagem rotativa.

A sondagem rotativa é um procedimento que utiliza, ao invés de um amostrador, uma


ferramenta de corte dotada de diamantes industriais e movida por um equipamento
motorizado específico.

Videoaula 2
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Agora, assista ao vídeo sobre
Interpretação de um laudo de SPT.

Videoaula 3
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Interpretação de um laudo de SPT.
Tipologia e definição de sistemas de
fundações

A sociedade vem se desenvolvendo cada vez mais, buscando edifícios cada vez mais altos,
pontes com vãos cada vez mais compridos e estamos continuamente desafiando a natureza.

E, para vencermos esses desafios, precisamos de estruturas que sejam capazes de suportar
determinados esforços. A estrutura de um edifício ou de uma ponte envolve uma parte visível,
que chamamos de superestrutura, e uma parte escondida, que chamamos de infraestrutura.

A infraestrutura é a estrutura que está abaixo da terra que, essencialmente, são as fundações,
ou seja, os elementos responsáveis por sustentar as estruturas. Sem fundações competentes
não é possível construir qualquer empreendimento. Os prejuízos oriundos de problemas na
fundação afetam toda a estrutura de um edifício. Nesse contexto, precisamos entender e
analisar a fundo os elementos de fundação.

Os elementos de fundação são divididos em dois elementos: o elemento geotécnico de


fundação, o qual se refere a parte geotécnica, isto é, o solo; e o elemento estrutural de
fundação, o qual se refere a parte da fundação que é constituída de concreto, aço ou madeira
e é responsável pela interface entre estrutura e solo.

Esses conceitos podem ser observados na figura 8:

Figura 8 – Definição de Fundação

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

Tipos de Fundações

Os elementos de fundações são pautados pela NBR 6122 (2019) da ABNT, a qual classifica as
fundações em: rasas (direta) e profunda (diretas ou indiretas).

As sapatas e os radiers são exemplos de fundação superficial (direta), definida como:


elemento de fundação em que a carga é transmitida ao terreno pelas tensões
distribuídas sob a base da fundação, e a profundidade de assentamento em relação ao
terreno adjacente à fundação é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação

(ABNT NBR 6122, 2019).

As estacas são exemplos de fundações profundas, assim definidas:

elemento de fundação que transmite a carga ao terreno ou pela base (resistência de


ponta) ou por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das
duas, devendo sua ponta ou base estar assente em profundidade superior ao dobro de
sua menor dimensão em planta, e no mínimo 3,0 m

(ABNT NBR 6122, 2019).

Para entender melhor essa classificação, vamos dividir as fundações conforme seu mecanismo
de transmissão de carga (direto ou “indireto”), e conforme sua profundidade (rasa ou
profunda).

Entendemos como fundações rasas aquelas cuja profundidade de assentamento é menor do


que 2xb (o dobro do menor lado da sua base). Entendemos como fundações profundas
aquelas cuja profundidade de assentamento é maior que 2xb (o dobro do menor lado de sua
base).

Para a classificação da “distribuição de carga”, consideramos fundação direta aquela que


transmite a carga diretamente ao solo, isto é, majoritariamente pela sua base. Já as fundações
“indiretas” são aquelas que transmitem a carga ao longo de seu comprimento. Observe a
figura 9:

Figura 9 – Tipos de fundações

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

As estacas ainda podem ser classificadas em flutuantes, mistas ou de ponta. Se a estaca


funcionar predominantemente por atrito lateral, é chamada de flutuante. Se a estaca
funcionar predominantemente a resistência de ponta, é chamada de ponta. Se apresentar um
comportamento misto é considerada mista.
Videoaula 1
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Para entender melhor sobre o assunto


assista à videoaula sobre tipos de
fundações – classificação.

Fundações Diretas Superficiais

As fundações classificadas como diretas superficiais são aquelas que transmitem a carga
diretamente ao terreno e que se encontram na superfície. O melhor exemplo desse tipo de
fundação é a sapata.

As sapatas transmitem a carga para o solo através de sua base, elas podem ser constituídas de
diversos materiais, desde concreto, blocos cerâmicos maciços, pedras argamassadas etc.

O processo construtivo da sapata consiste basicamente em: 1) escavação de uma vala; 2)


apiloamento e escoramento da vala; 3) execução de lastro de concreto magro; 4) montagem
das formas e armaduras; 5) concretagem e 6) reaterro da vala. Este processo está ilustrado na
figura 10.

Figura 10 – Sapatas – procedimento executivo

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

As sapatas ainda são classificadas como: corridas, quando suportam elementos lineares, como
uma parede; isoladas, quando apoiam elementos de cargas pontuais, como pilares; e
associadas, quando apoiam vários tipos de elementos e cargas (figura 11).
Figura 11 – Sapatas Isoladas, corridas e associadas

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

As formas da sapata dependem ainda da solicitação predominante e da área disponível. No


caso de cargas verticais centralizadas, usamos uma sapata centrada, já no caso de momentos
na fundação, usamos sapatas excêntricas.

Nestas sapatas, o centro geométrico da sapata não coincide com o centro geométrico do pilar,
de forma a permitir a solicitação do momento. Esse efeito também ocorre em vigas alavancas.

Figura 12 – Sapatas Excêntricas e com vigas alavancas – MASP

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

Os radiers são fundações diretas que transmitem toda a carga de uma estrutura ao solo.
Funcionam como uma sapata associada de grandes dimensões. Os radiers podem ser planos
(lisos) e nervurados ou celulares (caixão). A análise para o uso de cada um deles vai depender
do nível de solicitação mecânica e da rigidez relativa solo estrutura (figura 13).

Figura 13 – Radiers
Fonte: CAVIGLIONE (2018).

O procedimento executivo é semelhante ao da sapata, no entanto, geralmente ele é feito


sobre o solo, sem a abertura de vala, portanto, sem o reaterro.

Videoaula 2
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Agora, assista à videoaula que aborda


fundações diretas e superficiais.

Fundações Diretas Profundas

Os tubulões são fundações cujo mecanismo de transmissão de carga é direto, porém são
fundações consideradas profundas. O procedimento executivo de um tubulão está registrado
na figura 14. Basicamente, é feita a escavação de um poço, um furo, essa escavação pode ser
feita manualmente ou com o auxílio de máquinas. Essa região é chamada de fuste do tubulão.
Quando o tubulão atingir a cota determinada em projeto é feita uma abertura do fuste para se
construir a base do tubulão.
Figura 14 – Execução de Tubulões

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

Esse procedimento é bastante moroso e, embora exista maquinário para o alargamento da


base, é, predominantemente, feito manualmente. Por isso, o tubulão deve ter um diâmetro
mínimo no qual se possa entrar um operário. Posteriormente, é feita uma verificação das
condições geotécnicas da base do tubulão e a concretagem.

Um dos maiores problemas da fundação em tubulão é garantir a estabilidade do furo contra o


risco de desmoronamento em cima do operário. Quando o furo não for estável, se faz
necessário usar de um encamisamento.

Para executar o tubulão abaixo do lençol freático usamos uma técnica chamada de “tubulão a
ar comprimido” em que, basicamente, rebaixamos o lençol freático com o uso de ar
comprimido.

É instalada uma campânula de aço sobre o tubulão, onde um compressor pressuriza todo o
interior do tubulão, expulsando a água da ponta. Nessas condições, o trabalho é muito moroso
e, caso a descompressão não seja feita corretamente, representa um risco muito grande aos
operários (figura 15).
Figura 15 – Tubulões a ar comprimido

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

Videoaula 3
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Assista à videoaula sobre fundações


diretas profundas.

Escolha do tipo de fundações

As fundações superficiais diretas (sapatas e radiers) são usadas quando temos solos de boa
resistência localizados na superfície do terreno. Sendo que, geralmente, é inviável rebaixar o
lençol freático, inviabilizando também o uso dessa fundação abaixo do lençol freático.

O projeto desse tipo de fundação deve atentar-se para os efeitos de recalque e adensamento
das camadas inferiores. A execução de sapatas, radiers nervurados e celulares, demanda
recursos de mão de obra e de formas, o que acaba por alongar o prazo de execução. Já os
radiers planos são executados de maneira mais rápida. Os custos desse tipo de fundação são
considerados relativamente baixos.

As fundações profundas diretas (tubulões) são usadas quando temos solos de boa resistência
localizados em profundidades médias. Para executar essas fundações abaixo do lençol freático
usamos de tubulões a ar comprimido, que são caros e demorados.
Os tubulões convencionais também são obras morosas e que demandam mão de obra
especializada, com custos relativamente elevados. A tabela 1 traz um comparativo conceitual
para esses tipos de fundações.

Tabela 1 – Comparativo entre os sistemas de fundação direta

Fonte: CAVIGLIONE (2018).

Falando de uma forma genérica, é preciso avaliar diversos fatores para se decidir pelo tipo
mais adequado de fundação para o caso em estudo. Veja o infográfico a seguir, ele resume as
principais informações a serem consideradas:

Infográfico 1- Fatores que podem influenciar na definição do sistema de fundação

Fonte: FILLA (2022).

Indicação de Leitura

Leia o capítulo 9 do livro Fundações: Teoria e Prática (FALCONI et al., 2019) intitulado Execução
de Fundações Profundas para entender os detalhes sobre fundações em estacas. Se quiser
aprofundar ainda mais seus conhecimentos, leia também os capítulos 7 e 8, Análise, projeto e
execução de Fundações Rasas e Análise e Projetos de Fundações Profundas, respectivamente.
Indicação de Vídeo

Execução de Tubulões (procedimento):

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5PX8uN-vK-Y. Acesso em: 29 de jul. 2022.

Execução de Tubulões (conferência de geometria - com relação à resistência, existem outros


testes que não foram executados no vídeo):

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q2j-FusebbA. Acesso em: 29 de jul. 2022.

Execução de Tubulões (ar comprimido):

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gDkfBWmgsVw. Acesso em: 29 de jul.


2022.

Fórum Avaliativo

Prezado(a) aluno(a)!
Agora convido você para realizar a primeira atividade avaliativa da disciplina: Fórum de
Discussões.

Para participar, você deverá clicar em “Discussões” no “Menu Lateral” e acessar.


Lembre-se: Após a data estipulada o Fórum será encerrado e não será mais permitido
participar.

Sua contribuição é muito importante. Bons estudos!

Resolução de exercícios
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Assista à videoaula sobre fundações
diretas profundas.

Videoaulas

Prezado(a) aluno(a)!
Você também poderá encontrar todas as videoaulas, clicando em “Módulos” no “Menu
Lateral” e acessar a página de vídeos.
Encerramento

Nesta unidade você foi levado a pensar sobre a importância da sondagem do solo e os diversos
métodos utilizados. Sem dúvida, o SPT é o principal método de sondagem utilizado aqui no
Brasil, sendo que os principais métodos de dimensionamento de fundações se baseiam nele.
Dessa forma, ter um conhecimento aprofundado sobre esse tema é importantíssimo. Também
vimos a importância de saber interpretar um laudo de sondagem para poder extrair dele as
informações mais relevantes.

A segunda parte desta unidade trouxe uma série de informações sobre os diversos tipos de
fundações. O objetivo desse conteúdo é que você desenvolva um repertório de soluções para
poder especificar e também acompanhar a sua execução. Desse modo, estão lançadas as bases
sobre as quais você poderá edificar os seus conhecimentos, a partir disso, construa o seu
próprio conhecimento!

Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e Execução de


Fundações. Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2019.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo — Sondagem de


simples reconhecimento com SPT — Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2019.

ALONSO, Urbano Rodriguez. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Editora Blucher, 2019.

CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1987-2010. 3 v.

DAS, Braja M. Fundamentos de engenharia geotécnica. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

FALCONI, Frederico (org) et al. Fundações: Teoria e Prática. São Paulo: Editora Oficina de
Textos, 2019.

SCHNAID, Fernando; ODEBRECHT, Edgar. Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de


Fundações. 2. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2012.

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