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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

OBRAS DE TERRA – CIV_0432

VICTOR LIMA DE ARRUDA

RELATÓRIO DESCRITIVO INTERESSANDO-SE NA ENERGIA DE CRAVAÇÃO DO


ENSAIO DE SONDAGEM A PERCUSSÃO (SPT), E QUAIS INOVAÇÕES
TECNOLÓGICAS CABÍVEIS A APERFEIÇOAMENTO NO PROCESSO

Relatório técnico apresentado ao curso de


bacharelado em Engenharia Civil, sob a
orientação dos Professores Dr. Osvaldo de
Freitas Neto e Dr. Olavo Francisco dos
Santos Junior para obtenção de fração da
nota da primeira unidade na disciplina de
Obras de Terra.

Natal
2022
1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade a análise de fatores que são cabíveis a
aperfeiçoamento em um dos mais difundidos ensaios de investigação dos maciços
geotécnicos brasileiros, o Standart Penetration Test (SPT), devido sua praticidade de
execução, baixo custo e grande disponibilidade, buscando a excelência em sua
aplicabilidade, elevando-a de baixa à alta em determinados parâmetros do solo.

Figura 01 – Aplicabilidade dos ensaios in situ e obtenção


de parâmetros do solo (Schnaid, Odebrecht)

O ensaio SPT pode não ser o mais conclusivo sobre parâmetros importantes do solo
comparado ao ensaio de Piezocone (CPTU), entretanto, técnicas podem ser
empregadas para uma maior eficiência, e melhoria de sua aplicabilidade em alguns
parâmetros mais específicos do maciço geotécnico.

2. MÉTODO DE ENSAIO

No âmbito da engenharia, o sistema solo-fundação exige uma investagação


minuscíosa, logo, ensaios são essenciais para o desenvolvimento dos projetos de
fundações. Nesse contexto, a sondagem SPT é o caminho mais comum, tornou-se um
ensaio indispensável na obtenção dos parâmetros geotécnicos necessários às obras de
engenharia em todo o mundo.
Com origem na América do Norte, devido sua praticidade, presente em todas as
regiões do Brasil, com execução normatizada pela ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas), conforme os procedimentos encontrados na NBR 6484/2020 - Solo
- Sondagens de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio.
Particionado em três: perfuração, amostragem e o ensaio penetrométrico, as duas
últimas ocorrendo em simultâneo, dá-se o ensaio SPT.

2.1. Procedimento Normativo

Figura 02 - Equipamento para realização do ensaio SPT

Segundo a NBR 6484/2020, os equipamentos necessários para a


realização do ensaio de sondagem SPT são:
a) torre com roldana;
b) tubos de revestimento;
c) composição de perfuração ou cravação;
d) trado-concha ou cavadeira;
e) trado helicoidal;
f) trépano de lavagem;
g) amostrador-padrão;
h) cabeças de bater;
i) martelo padronizado para a cravação do amostrador;
j) baldinho para esgotar o furo;
k) medidor de nível-d’água;
l) metro de balcão;
m) recipientes para amostras;
n) bomba d’água centrífuga motorizada;
o) caixa d’água ou tambor com divisória interna para decantação; e
p) ferramentas gerais necessárias à operação da aparelhagem.

Em síntese, quanto ao processo de perfuração, a sondagem é iniciada


cravando-se o trado-concha ou cavadeira manual até que se atinja a
profundidade de 1 (um) metro e recolhe-se uma amostra de solo nesse processo
para posterior análise de sua composição.

Subsequentemente, ocorre a instalação do primeiro segmento do tubo


de revestimento dotado de sapata cortante, cuja função é desagregar o solo.
Para perfuração manual acima do nível freático, utiliza-se o trado helicoidal, do
contrário, um sistema de circulação de água bombeada pelo interior das hastes
até a extremidade inferior do furo, na cota onde está posicionado o trépano.

Em caso de dificuldade para manter o furo aberto, deve-se utilizar tubo de


revestimento ou algum tipo de estabilizante (lama bentonítica ou polímero).
Nas fases posteriores, com o equipamento montado, o martelo de 65 kg
é içado pelos operadores a uma altura de 75 cm, de onde é liberado para que
a gravidade acelere-o e a energia cinétrica ao fim se transforme no índice do
número de golpes, 𝑁𝑆𝑃𝑇 . Repete-se o procedimento até que o amostrador
penetre cada seguimento de 15 cm, anotando o número de golpes efetuados.
Assim, as amostras de solo são obtidas através do amostrador-padrão, que é
posicionado no fundo do furo.

3. PONTOS DE MELHORIA

No Brasil, o sistema manual de elevação do martelo é o mais comumente


utilizado e, para esse tipo de mecanismo a equipe operadora tem grande influência,
pois, se eles levantarem o martelo em altura menor que 75 cm, de acordo com a NBR
6484/2020, a energia no processo será menor do que a normatizada. Ela preconiza
que a energia téorica será da ordem de 478 Joules.
Caso não houvesse atrito ou perdas de qualquer natureza, a energia potencial
seria totalmente transformada em energia cinética. A velocidade de queda livre
1 𝑚
seria dada por 𝑣 = (2. 𝑔. ℎ). 2. Sendo g a aceleração da gravidade, 9,81 𝑠² . Logo a
𝑚
velocidade de queda livre para essa hipótese, seria igual a 3,84 𝑠² ,

Entretanto, tal decréscimo na velocidade de queda acarretará em uma menor


energia transmitida para as hastes, de modo a aumentar o valor do número de golpes
𝑁𝑆𝑃𝑇 . No caso de ocorrer a situação inversa, o 𝑁𝑆𝑃𝑇 será subdimensionado.
De modo semelhante à variação da altura, o uso de um martelo de massa
inferior ou superior ao adequado (65kg) também influenciará na energia transmitida
e causará alterações no número de golpes do SPT.
Indubitavelmente, do ponto de vista da engenharia, o superdimensionamento
do índice N é um erro perigoso, visto que a interpretação obtida é de um solo mais
resistente do que a realidade, podendo trazer sérios problemas às estruturas das
edificações.
Em concordância, o subdimensionamento do índice pode trazer um custo
extra, com o superdimensionamento das estruturas de fundação, devido entedimento
equivocado sobre o solo, considerando-o menos resistente em comparação ao
maciço geótenico.
3.1. Qualificação da mão de obra

Normalmente, o ensaio SPT realizado ao redor do Brasil não é


mecanizado, logo a equipe que está operando o mesmo, terá influência sobre
os resultados obtidos. Podemos citar como exemplo, a fadiga ou desatenção
de um dos membros da equipe, pode fazê-lo içar o martelo em uma altura
menor, ou errar na contagem de golpes, ou até mesmo montar de maneira
equivocada, o equipamento.
A inexperiência na realização do ensaio pode trazer resultados
incoerentes, propíciados pela não atenção aos critérios de paralisação ou até
mesmo no reconhecimento táctil-visual do maciço geotécnico.

3.2. Uso de pino guia e Estado de conservação do equipamento

A utilização do pino guia auxilia na centralidade do martelo em relação


às hastes, garantindo que ele caia exatamente no centro da cabeça de bater.
Quaisquer excentricidade do martelo em relação às hastes, haverá maior atrito
entre a guia e o conjunto de hastes, logo, a velocidade de impacto será
reduzida. Isso entregaria menos energia cinética ao 𝑁𝑆𝑃𝑇 , aumentando o
número de golpes.
Figura 03 – Equipamento real para realização do ensaio SPT (UFG)

Os equipamentos tem uma vida útil, e quanto mais antigo o


instrumento, mais incertezas. A utilização de equipamentos gastos ou
danificados certamente refletirá na eficiência do ensaio, uma vez que o
desempenho estará prejudicado.

Figura 04 – Trépano desgastado (Wilson Conciani)


Figura 05 – Haste empenada (Wilson Conciani)
Em resumo, modificações de alguns fatores terão efeito no índice 𝑁𝑆𝑃𝑇 .

Figura 06 – Fatores influentes no 𝑁𝑆𝑃𝑇 (Schnaid, Odebrecht)

4. ENERGIA E TÉCNOLOGIA NO ENSAIO

Em detrimento do exposto acima, a eficiência é o Calcanhar de Aquiles do ensaio


SPT, mas, podemos garantir o bom funcionamento do equipamento e equipe
devidamente qualificada no procedimento de ensaio, obtendo mínimas alterações
levando em conta a influência desses fatores. Contudo, do ponto de vista da
engenharia, automatizar o procedimento é a tendência mais assertiva, para
garantirmos resultados consistentes e coesos.
Ainda que diversos estudos tenham sido realizados para melhoria dos resultados
levando em consideração a determinação do nível de eficiênca da energia
transmitida, tal fator é desconsiderado, e na maior parte dos casos é utilizado o que
está em norma por conveniência.
A determinação da energia no ensaio SPT tem como base a Teoria da Equação
da Onda. A mesma afirma que uma onda de tensão ao circular pelas hastes do
ensaio SPT será dada por uma parcela de deformação elástica do material e a outra
parcela referente à energia cinética devido ao movimento das partículas.
A Teoria da Equação da Onda prova que a onda de compressão inicial gerada
pelo contato do martelo com as hastes do ensaio SPT é transferida para o amostrador
e logo após retorna ao topo da composição de hastes como onda de tração. Essa
onda de tração chega à interface entre martelo e hastes no tempo 2𝑃/c, tempo até o
qual existe proporcionalidade entre a força e a velocidade do processo. Nesse
momento há uma predominância da onda de tração, que faz com que a haste seja
tracionada, se separando do martelo e gerando outro impacto, repetindo o ciclo, até
que não haja mais energia disponível no sistema.
Os pesquisadores Cavalcante (2002) e Santana (2015) após estudos, chegaram
a um meio utilizado para medição de energia no ensaio SPT, o equipamento
comercial SPT Analyzer, fabricado pela Pile Dinamics, Inc (PDI).
Asseguradamente o preço não convidativo do investimento para melhoria dos
resultados é um fator preponderante, entretanto, o equipamento permite a obtenção
da energia referente à cada golpe, o registro do deslocamento vertical das hastes
pelo operador e a evolução da energia com o tempo para o par de registros. O
sistema admite a análise instantânea da qualidade dos sinais de aceleração e de
deformação e o armazenamento dos dados para posterior análise e tratamento em
um computador.
Sendo um equipamento compacto, com mobilização viável para praticamente
todos os ambientes, é constituído por uma unidade de aquisição de dados, um
segmento de haste instrumentado com dois sensores de deformação e dois furos
para a fixação de dois acelerômetros diametralmente opostos.
Os acelerômetros juntamente com sensores, possibilitam a aquisição dos sinais
de deformação e aceleração, que por sua vez, permitem obtenção da força e
velocidade. Esses valores agregam positivamente ao calculo da eficiência no ensaio,
alguns dos dados são profundidade do nível d’água, número dos golpes, penetração
do amostrador a cada golpe, 𝑁𝑆𝑃𝑇 , tipo de solo, umidade, compacidade, recuperação
da amostra, força, velocidade, eficiência de energia convencional e eficiência da
energia por Odebrecht.
Após rápida busca na internet, é possível encontrar o equipamento em questão,
por US$ 6500, aproximadamente, 33.710 R$, na cotação atual. Certamente é um
investimento considerável mas perfeitamente possível para uma melhor qualidade
nos resultados ensaiados, payback curto, pois haverá um diferencial na execução
em comparação com os concorrentes que desconderam a importância de tal fator.

Figura 07 – SPT Analyzer (Ebay)


5. REFERÊNCIAS

1 - Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de Fundações - 2ª Ed. –


Fernando Schnaid, Edgar Odebrecht.

2 - NBR 6484 (2020), “Solo – Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT –


Método de Ensaio” – ABNT.

3 - Odebrecht, E. (2003) “Medidas de Energia no Ensaio SPT”, Tese de Doutorado,


UFRGS.

https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/140/o/MEDIÇÃO_DE_ENERGIA_NO_ENSAIO_S
PT_EM_SOLO_TROPICAL_DO_CAMPO_EXPERIMENTAL_DA_UFG.pdf3-

4 - CAVALCANTE, ERINALDO HILÁRIO. Investigação Teórico-Experimental Sobre o


SPT ,Rio de Janeiro, 2002.

5 - https://www.ebay.com/itm/363736504880

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