Você está na página 1de 28

Produzir e distribuir alimentos em quantidade suficiente para uma grande população, apesar

das variações climáticas que ocorrem naturalmente ao longo das estações do ano e, também,
ao longo dos anos, são bons exemplos de conquistas da engenharia. Prover abrigo para essas
populações, produzir água potável e energia, ampliar as possibilidades do ir e vir por meio de
diversas modalidades de transporte rápido, bem como viabilizar a comunicação a distância,
são outros bons exemplos de como a engenharia vem ampliando as capacitações naturais do
ser humano.

Os conhecimentos básicos necessários a qualquer engenheiro civil, por questões didáticas, são
apresentados em diferentes disciplinas, agrupadas em diversas áreas. Em geral, há um grupo
de disciplinas ligadas à mecânica dos solos, à geotécnica e às fundações; há outro de
disciplinas ligadas à resistência dos materiais e às estruturas de concreto, metálicas ou de
madeira; outro, das disciplinas ligadas aos recursos hídricos; e, por fim, outro de disciplinas
ligadas ao relevo da superfície terrestre e aos modos de locação e posicionamento das obras
de engenharia.

Qualquer realização da engenharia civil começa por uma intenção. A partir dela, desenvolve-se
um plano. Do plano, segue-se um projeto. A construção propriamente dita deve ser, via de
regra, apenas a fiel execução de tudo o que foi definido e detalhado no projeto.

Até as últimas décadas do século XX, aproximadamente, a elaboração de um projeto


considerava basicamente duas questões fundamentais:

• O que fazer para atingir uma situação desejada?

• Como atingir a situação desejada, a partir da situação atual?

Em geral, a análise das possibilidades e a definição de o que fazer costumavam atender apenas
aos critérios de possibilidade técnica e de conveniência econômica. O que fazer, por exemplo,
para melhorar a ligação entre duas regiões, duplicar a rodovia existente, construir uma rodovia
totalmente nova ou construir uma ferrovia?

Resolvida a primeira questão, passava-se para a segunda, que tratava de como atingir a
situação desejada a partir da situação atual. Era o início da fase de projeto, na qual era
estabelecida a sequência lógica de estudos e de tomadas de decisões relativas a como realizar
a obra. Durante a elaboração do projeto, também eram definidos os meios, métodos e
sistemas construtivos mais adequados a cada etapa da construção.

Esse processo pode ser melhor compreendido observando-se uma ferramenta de


planejamento que representa bem o típico pensamento da época. Trata-se da Rede CPM,
expressão gráfica do Critical Path Method, que significa Método do Caminho Crítico,
resumidamente apresentada na figura a seguir.
Mais recentemente, a partir de meados da década de 1980, uma terceira questão vem se
impondo à engenharia civil, provocando uma mudança radical nesse tradicional procedimento,
linear e sequencial, constituído basicamente por concepção, projeto e execução.

Essa nova questão, cuja importância tem crescido progressivamente, a ponto de se tornar o
principal condicionante para as duas anteriores, o que fazer e como fazer, é a questão da
preservação ambiental. A nova prioridade, desde então, passou a ser a obtenção do mínimo
dano possível ao meio ambiente.
A implicação imediata dessa mudança é que os empreendimentos já não podem ser instalados
em qualquer lugar, apenas em função da necessidade, da utilidade, da rentabilidade ou de
quaisquer outros motivos considerados razoáveis para empreender. A necessidade do
empreendimento terá que ser plenamente justificável em face dos eventuais danos ambientais
que ele possa provocar.

Antes de dar início à etapa de construção propriamente dita, todos os procedimentos,


construtivos ou operacionais, terão que ser aprovados pelo órgão ambiental competente,
visando eliminar ou, pelo menos, minimizar os danos que possam causar ao meio ambiente.

Para as áreas definidas como de proteção ambiental, qualquer intervenção, seja construção,
reforma ou ampliação, só será permitida caso o empreendimento apresente comprovada
necessidade e relevância para o desenvolvimento social e econômico.

Nesse novo contexto, cada procedimento executivo, meio, método e sistema construtivo,
antes de serem adotados, serão objetos de minuciosa análise por parte de um grupo
multidisciplinar do agente ambiental, especificamente em função de suas implicações e efeitos
sobre o meio ambiente.

Além dessas condições prévias, para cada dano ambiental que for aceito como mínimo
inevitável, o órgão ambiental irá impor algumas medidas de compensação, ou de mitigação,
em linguagem técnica, que deverão ser devidamente detalhadas e incorporadas ao projeto
executivo.

Por ser assim, o novo processo de concepção, definição e detalhamento do projeto executivo
teve que se tornar cíclico e ser conduzido em âmbito interdisciplinar, ainda que elaborado por
equipes multidisciplinares, atuando em um conjunto de atividades simultâneas, integradas e
retroalimentadas.
A tarefa de verificação de projetos executivos concluídos, como se pode imaginar, não é
simples nem fácil. Sendo assim, não deve ser realizada por apenas uma pessoa, menos ainda
por um profissional com pouca experiência e jamais apenas pelo próprio autor do projeto.

A prática recente tem mostrado que não são poucos os projetos postos em execução sem a
devida verificação. São comuns as explicações baseadas em falta de tempo ou questões de
custos. Os motivos são diversos: ficarão comprometidos o cliente, público ou privado, que
impõe prazos muito curtos, o empreendimento, que conta com orçamento muito reduzido, a
rentabilidade ou o tempo de retorno. E, sobretudo, um dos argumentos mais fortes é: se o
projeto não for executado em tal prazo e por tal valor, algum concorrente fará.

No entanto, uma simples e breve comparação é suficiente para demonstrar que tanto o custo
quanto o tempo necessário para realizar uma verificação completa, com diversos profissionais
já com certa experiência, são muito inferiores ao custo e ao tempo necessário para reparar a
maior parte dos problemas ocasionados por falhas em projetos.

Assim como no idioma chinês uma mesma palavra significa tanto “crise” quanto
“oportunidade”, é correto afirmar que, para a engenharia civil, dificuldades ou restrições
costumam ter o mesmo significado de desafio.

Como regra geral, a prática da engenharia civil é realizada em equipes. Às vezes, porém, em
obras de pequeno porte, o engenheiro civil terá que atuar em diversas especialidades.

Existem diversas formas de se conhecer a constituição do subsolo de um terreno. A mais


simples delas é denominada análise visual-tátil, que consiste em examinar amostras retiradas
do subsolo, utilizando a visão e o tato do examinador.

Apesar de ser uma análise que requer experiência do profissional que a realiza, e de ser
apenas qualitativa, ou seja, uma análise que não fornece parâmetros numéricos para cálculos
de capacidade de suporte, se for realizada com certo critério, ela representa um bom
conhecimento do subsolo, sobretudo no que se refere à previsão do seu comportamento.

Conforme a variação da proporção entre as quantidades de cada um desses componentes,


sobretudo a variação do grau de umidade, o comportamento do solo pode se modificar
significativamente. A resistência de um solo ao cisalhamento depende, basicamente, da
coesão e do atrito entre as suas partículas sólidas.

Os solos argilosos, por serem constituídos de partículas com formato lamelar, isto é, em forma
de minúsculas placas, apresentam áreas de contato bastante grandes em relação ao seu peso.
Por isso, a sua coesão é elevada.

Os solos arenosos, por serem constituídos de partículas com formato granular, isto é, em
forma de pequenos grãos, apresentam áreas de contato pequenas em relação ao seu peso. Por
isso, a sua coesão é quase nula.

Os solos siltosos também são constituídos de partículas granulares, mas muito menores do
que as dos solos arenosos. Apresentam áreas de contato pequenas, mas em menor grau em
relação ao seu peso. Por isso, possuem uma certa coesão, ainda que aparente.
Para realizar uma análise visual-tátil, o primeiro passo é traçar um plano de locação para, no
mínimo, três furos não alinhados no terreno, adotando um ponto a ser utilizado como
referência de nível (RN = 100) para os resultados obtidos em cada furo, como ilustrado na
figura a seguir.

Os furos podem ser realizados com um trado manual simples, o mesmo utilizado para
execução de brocas, isto é, estacas escavadas e moldadas in loco para pequenas capacidades
de carga.

A própria força necessária para o operador girar o trado já representa um indicativo da


resistência do solo que está sendo escavado. Deve-se, também, guardar as amostras em sacos
plásticos e com etiquetas para identificação do furo e da profundidade em que foram
retiradas.
Para edificações de maior porte, o conhecimento do perfil geotécnico do subsolo terreno
precisa ser mais preciso, ou seja, os dados devem ser mais objetivos e quantitativos. Os
ensaios e testes disponíveis para essa finalidade têm complexidade crescente e requerem
equipamentos cada vez mais sofisticados, conforme cresce a complexidade da obra.

O mais básico desses ensaios é o Standard Penetration Test, também conhecido apenas pela
sigla SPT. Com padronização internacional, esse ensaio é o mais utilizado no Brasil e no
mundo, tanto pela confiabilidade dos seus resultados quanto pela simplicidade da sua
execução e facilidade de transporte e instalação do seu equipamento.

A sua concepção teórica é bastante engenhosa. Visando identificar a constituição e quantificar


a resistência do terreno, um amostrador padronizado é introduzido no subsolo, empregando-
se sempre a mesma quantidade de energia. A cada metro de profundidade, amostras do solo
são retiradas e é medida a quantidade de energia necessária para o amostrador penetrar certa
profundidade, também padronizada.

Dessa forma, enquanto as amostras fornecem informações qualitativas sobre o tipo de solo,
seu estado de consistência ou de compacidade e sua cor, a quantidade de energia utilizada
fornece uma indicação quantitativa da sua resistência à penetração.

Tais informações, obtidas com pelo menos três furos de sondagem não alinhados, são
extremamente valiosas para se formar uma ideia razoável da constituição do perfil do subsolo
de um terreno, como ilustrado na figura a seguir, imaginar suas variações em diversas
direções, definir e dimensionar fundações e contenções adequadas.
O equipamento utilizado para o ensaio SPT é composto, basicamente, por um tripé metálico,
tubos de aço, um amostrador e um martelo, todos padronizados. A quantidade de energia
padronizada, empregada para fazer o tubo penetrar no solo, corresponde à energia cinética
proveniente da quantidade de pancadas do martelo, suspenso por uma corda e solto em
queda livre, sempre da mesma altura, como ilustra a figura a seguir:

A cada metro de profundidade é medida a quantidade de golpes do martelo, necessária para o


tubo penetrar três séries consecutivas de 15 cm. A soma do número de pancadas dos dois
últimos trechos é denominada NSPT, que é o dado quantitativo referente à resistência do solo
naquela profundidade.

Assim, números NSPT baixos indicam solos com baixa resistência ao cisalhamento, enquanto
que solos com resistência elevada correspondem a números NSPT mais elevados.
É indispensável a apresentação dos números SPT, ou NSPT, obtidos a cada metro de
profundidade, do nível d’água do lençol freático, da profundidade em que ocorreu a alteração
do tipo de solo encontrado, tanto em relação à cota de nível do início do furo quanto em
relação à RN, bem como uma descrição qualitativa do material constituinte de cada camada,
incluindo a sua cor.

Na maior parte dos terrenos, o mais provável é que as espessuras das camadas do perfil do
seu subsolo sejam diferentes de um ponto para outro.
Sabe-se que o concreto, por exemplo, é um material que apresenta certa resistência a esforços
de tração. No entanto, para a concepção e o dimensionamento de estruturas de concreto, seja
armado ou protendido, assume-se que a sua resistência a tração seja nula.
A concepção começa, em geral, pelas lajes, que constituem os pisos, nos quais habitualmente
vivemos, e os tetos, que nos protegem. As lajes se mantêm nos devidos lugares, suportadas
por vigas, que também suportam as paredes que nos abrigam das intempéries. As vigas, por
sua vez, mantêm-se nos seus devidos lugares, suportadas por pilares.

A concepção é elaborada, principalmente, com imagens tridimensionais, obtidas da memória e


da imaginação de quem concebe. Os desenhos em três dimensões, no entanto, não são bons
instrumentos para transmitir informações técnicas, precisas e inequívocas como a engenharia
necessita.

Para a etapa de definições e de detalhamentos, as imagens em três dimensões precisam ser


traduzidas em desenhos com duas dimensões, tais como plantas, cortes e vistas.

As plantas representam, em um plano horizontal, todos os componentes da estrutura, com


suas respectivas denominações e dimensões, como as ilustradas esquematicamente na figura
a seguir:
Nesse desenho, L1, L2, L3, L4, e assim por diante, representam as lajes, também denominadas
panos de laje; V1, V2, V3, V4 etc. representam as vigas; e P1, P2, P3, P4 etc. representam os
pilares. Quando uma viga é contínua, isto é, quando se prolonga e é suportada por diversos
pilares, cada segmento entre dois pilares é denominado tramo e identificado por letras
minúsculas em sequência, como: V4a, V4b, V4c, V4d e V4e.
No primeiro corte, longitudinal, isto é, feito ao longo do eixo da viga, são representadas as
barras da armadura longitudinal, com seu formato e sua posição. Também são representados
o posicionamento, a quantidade e o espaçamento da armadura transversal, ou seja, dos
estribos. Cada barra é redesenhada fora do desenho da viga, acima ou abaixo desse corte,
conforme a sua posição na viga, com a sua identificação, a quantidade de peças, o diâmetro e
os seus detalhes, como comprimento reto, dobras e comprimento total.

No corte ao lado, transversal ao eixo da viga, são representados os estribos, com seu formato,
suas dimensões, seu diâmetro e comprimento. Também são representadas as informações
complementares sobre o posicionamento exato da armadura longitudinal.

Com as especificações de cada peça da armadura de aço, é possível cortar o aço, dobrar as
peças e montar a armadura exatamente como ela foi projetada.

É possível também calcular as quantidades de aço necessárias por diâmetros, multiplicando


os comprimentos de cada peça pela sua quantidade e somando todos os valores de cada
diâmetro.

Você também pode gostar