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Didática

Projeto Político-Pedagógico e Participação Docente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Kethlen Leite de Moura

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Projeto Político-Pedagógico
e Participação Docente

• Introdução;
• Importância do PPP na Organização do Trabalho Pedagógico.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Conhecer a importância da participação docente na constituição do
projeto político-pedagógico
UNIDADE Projeto Político-Pedagógico e Participação Docente

Introdução
Iniciamos os nossos estudos tratando sobre como o trabalho modifica o traba-
lhador, já que faz parte da participação docente na construção do projeto político-
-pedagógico. É necessário pensar que, nesse processo de participação docente, há
algo que antecede tal questão: a práxis social. Portanto, segundo Tardif (2002),
devemos entender a práxis social como um trabalho “[...] cujo processo de realização
desencadeia uma transformação real do trabalhador.”.

Sabemos que o trabalho não é uma tarefa que apenas modifica determinados ob-
jetos encontrados na natureza; o trabalho visa modificar a identidade do trabalhador
e sua forma de agir sobre o mundo.

Figura 1 – O trabalho docente no planejamento


Fonte: Mark Bowden/123RF

Podemos dizer que o trabalho modifica a identidade do trabalhador, pois, a partir


do momento em que o indivíduo experiencia as ações de estar inserido em um local
de trabalho, passa a compreender as problemáticas que envolvem as suas ações, por
exemplo: se um professor, de qualquer área do conhecimento, tem experiência de
mais de 25 anos no magistério, não faz, simplesmente, alguma coisa; modifica a sua
identidade, passa a alterar as marcas de sua atividade ao longo do período que lecio-
na e a sua existência passa a ser caracterizada por sua atuação profissional. Com o
passar dos anos, esse profissional torna-se um professor com a sua própria cultura,
o seu ethos, as suas funções e os seus interesses (TARDIF, 2002).

Se sabemos que o trabalho modifica o homem em sua identidade, é fato que o


trabalho também moldará a forma desse indivíduo trabalhar, afinal,
[...] em toda ocupação, o tempo surge como um fator importante para
compreender os saberes dos trabalhadores, uma vez que trabalhar remete
a aprender a trabalhar, ou seja, a dominar progressivamente os saberes
necessários à realização do trabalho [...] o trabalho é aprendido através da
imersão no ambiente familiar e social, no contato direto e cotidiano com
as tarefas dos adultos cuja realização as crianças e os jovens são formados
pouco a pouco, muitas vezes por imitação, repetição e experiência direta.
(TARDIF, 2002, p. 57)

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Por isso, a aprendizagem concreta que envolve o ofício da prática docente passa
a assumir uma forma de relação entre o trabalhador e seu trabalho. As experiências
vivenciadas são de grande importância para o processo de formação e organização
do trabalho pedagógico.

Os saberes docentes estão intimamente ligados ao trabalho e, com certeza, são


ações temporais, já que são construídas e dominadas de maneira progressiva por
aqueles que atuam na profissão. As diversas situações que os trabalhadores da educa-
ção enfrentam em seu cotidiano demonstram que precisam desenvolver habilidades
e competências, isto é, atitudes específicas para solucionar determinados problemas
que aparecerão no cotidiano escolar. Logo, a prática profissional, segundo Tardif
(2002): “[...] consiste numa resolução instrumental de problemas baseada na aplica-
ção de teorias e técnica científicas construídas noutros campos.”.

Assista ao vídeo sobre a Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, que trata da importância
do saber e da prática de saber. Disponível em: https://youtu.be/GYCJt7VTnKc

Até o momento, percebe-se que as relações necessárias para a construção de


uma boa prática docente é o tempo, trabalho e a aprendizagem. Esses quesitos
contribuem para a ampliação dos saberes profissionais que atuam na educação.
Podemos denominá-los de prática cotidiana, pois são os saberes adquiridos no
processo de formação e construção profissional que os professores terão subsídios
para solucionar problemas referentes ao projeto político-pedagógico e à participação
da comunidade.

A construção de saberes docentes é o ponto-chave da atuação dos professores;


obviamente, não é uma tarefa fácil. Salientamos que “saber” tem um sentido amplo,
que envolve conhecimentos, competências, habilidades e atitudes dos professores.
No entanto, esses conhecimentos não são suficientes para que haja uma boa ação
e participação docente no processo de organização da escola. Por exemplo, muitos
professores acreditam que apenas ter conhecimento das matérias/disciplinas
que ministram é suficiente para executar a aula.

No entanto, sabemos que isso é um completo erro, pois o planejamento e conhe-


cimento são fundamentais para que o saber a ser transmitido aos educandos aconte-
ça de maneira eficiente e eficaz. Isso porque
[...] os saberes servem de base para o ensino, [...] não podem se limitar
apenas a conteúdos bem circunscritos que dependem de um conheci-
mento especializado. Eles devem abranger uma grande diversidade de
objetos, questões e problemas que estão relacionados com o trabalho e a
prática docente. (TARDIF, 2002, p. 61)

Assim, a participação docente só será efetiva a partir do momento em que os sa-


beres profissionais dos professores forem plurais e heterogêneos; serão tais saberes
que trarão à tona o exercício da participação docente.

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Importante!
A participação docente deve abranger a diversidade dos saberes dos professores, sendo
construído, assim, um modelo de categorias que edificarão o conhecimento e a partici-
pação dos professores em sua prática profissional.

Apresentaremos o Quadro a seguir, que demonstra um modelo para que saiba-


mos identificar e classificar os saberes docentes. Ao invés de propormos critérios que
apenas ajudam a discriminar alguns professores, buscamos compartilhar saberes que
contribuam para o pluralismo de ideias e do saber profissional.

Quadro 1 – Saberes dos professores


Modos de integração
Saberes dos professores Fontes sociais de aquisição
no trabalho docente
A família, o ambiente de vida, a educação
Saberes pessoais dos professores Pela história de vida e socialização primária
no sentido lato
Saberes provenientes da formação escolar A escola primária e secundária, os estudos Pela formação e socialização
anterior pós-secundários pré-profissional
Saberes provenientes da formação profis- Estabelecimentos de formação de profes- Pela formação e socialização profissionais
sional ao magistério sores, estágios e cursos de reciclagem nas instituições de formação de professores
Saberes provenientes dos programas e li- Utilização das ferramentas dos professo-
Pela utilização das ferramentas de trabalho
vros didáticos usados no trabalho res, programas, livros didáticos
Saberes provenientes de sua própria expe- A prática do ofício na escola e sala de aula, Pela prática do trabalho e
riência na profissão, sala de aula e escola a experiência dos pares socialização profissional
Fonte: Adaptado de TARDIF (2002, p. 63)

O Quadro que apresentamos deixa evidente que os fenômenos da prática pro-


fissional são extremamente importantes para a participação e o desenvolvimento
do saber docente. Isso porque o saber docente é utilizado em qualquer contexto de
atuação dos professores, seja na sala de aula ou junto à coordenação pedagógica,
os conhecimentos dos professores demonstram o registro da natureza social de sua
ação, principalmente, na organização do trabalho pedagógico.

Importante!
O saber profissional está, de certo modo, na confluência entre várias fontes de saberes
provenientes da história de vida individual, da sociedade, instituição escolar, dos outros
atores educativos, bem como dos lugares de formação. Ora, quando tais saberes são mo-
bilizados nas interações diárias em sala de aula, é impossível identificar imediatamente
as suas origens: os gestos são fluidos e os pensamentos convergem para a realização da
interação educativa do momento (TARDIF, 2002, p. 64).

Veja quão importante é que o docente tenha saberes e como estes influenciam em
sua prática social e pedagógica.
Agora é o momento de tratar do Projeto Político-Pedagógico (PPP): é um docu-
mento elaborado dentro de cada instituição escolar, que tem, por finalidade, orientar
o trabalho pedagógico durante todo o ano letivo.

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Inicialmente, trataremos do conceito de planejamento, isso porque o PPP é fruto
desse processo, e o planejamento precede o PPP. Depois, articularemos com o saber
docente e a participação do professor.

Mas o que vem a ser o planejamento?

Segundo Vasconcellos (2012, p. 106, grifos do autor), “[...] o planejamento deve


partir da realidade concreta tanto dos sujeitos, quanto do objeto de conhecimento
e do contexto em que se dá a ação pedagógica [...]”; ou seja, o professor deve co-
nhecer a realidade social da comunidade em que a escola se encontra e dos alunos
que a frequentam para fazer um planejamento coerente, assim como é importante o
professor ter conhecimento frente o objeto estudado.

Dessa forma, segundo Veiga (2011), “[...] a escola é o lugar de concepção, reali-
zação e avaliação de seus projetos educativos, uma vez que necessita organizar seu
trabalho pedagógico com base em seus alunos [...]”. Então, o PPP deve ser elaborado
a partir da realidade concreta.

Importante!
O projeto educacional das instituições escolares é constituído pela articulação entre os
diversos projetos de vida; por meio da convergência de sonhos, a escola torna-se espaço
democrático para formar vidas.

Para Vasconcellos (2012) deve-se levar em consideração as características dos


alunos que frequentam a escola, para que o ensino seja organizado conforme as
suas necessidades.

Além disso, assim como o PPP é elaborado, este também deve ser executado e
avaliado para que haja mudanças quando necessário. Em complemento:
[...] o planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previ-
são das atividades didáticas em termos de sua organização e coordenação
em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no
decorrer do processo de ensino [...]. (LIBÂNEO, 2012, p. 221)

Assim, o planejamento:
[...] não pode ser um documento rígido e absoluto, pois uma das carac-
terísticas do processo de ensino é que está sempre em movimento, está
sempre sofrendo modificações face às condições reais [...]. (LIBÂNEO,
2012, p. 223)

Portanto, deve ter coerência entre aquilo que foi planejado e a prática, mas é ne-
cessário explicitar que essa questão não faz com que o planejamento seja estático;
ao contrário, deve ser avaliado, refletido e modificado constantemente, conforme as
necessidades que forem surgindo ao longo do caminho, sendo flexível para as alte-
rações necessárias.

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O planejamento pode ser encontrado em diversas áreas do conhecimento, as-


sim como na vida pessoal de cada pessoa. Do mesmo modo que o planejamento
é importante nesses locais, exerce papel fundamental no âmbito educacional, já
que, por meio deste, é possível que seja pensado, planejado, executado e avaliado o
processo de ensino-aprendizagem. Dessa maneira, o planejamento tem grande im-
portância para a educação. A seguir, apresentaremos o planejamento em diferentes
níveis e modalidades.

O planejamento mais abrangente, exposto por Vasconcellos (2012), é o do siste-


ma de educação, feito em nível nacional, estadual ou municipal, assim como estipula
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei n.º 9.394/96), em que a União é
responsável por: “I – elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios”.
O planejamento educacional, então, segundo Haydt (2011): “[...] consiste no pro-
cesso de análise e reflexão das várias facetas de um sistema educacional, para delimi-
tar suas dificuldades e prever alternativas de solução [...]”. Ou seja, tal planejamento
é responsável por direcionar os professores sobre os caminhos a seguir, de forma a
solucionar as dificuldades educacionais apresentadas no País, Estado ou Cidade, con-
forme a concepção política de educação predominante pelo Estado. Dessa forma, tal
planejamento é importante para explicitar a filosofia educacional que o País adotou
para formar a população (MENEGOLLA; SANT’ANNA, 2012).
A forma dessa filosofia educacional adotada pelo País chega às escolas brasileiras
por meio do planejamento escolar, que diz respeito ao PPP da instituição, tendo,
como objetivo, direcionar e formular planos frente a concepção política e pedagógi-
ca da escola, em consonância com o que é exposto no planejamento educacional.
Portanto, todos os PPP são:
[...] um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso
sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritá-
ria. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão
para um tipo de sociedade. [...] Pedagógico, no sentido de definir ações
educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus
propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 2011, p. 13)

Assim, o planejamento escolar, como o planejamento educacional, expressa a


filosofia de educação adotada pelo Brasil. O plano da escola pode ser caracterizado
da seguinte forma:
[...] o plano da escola é o plano pedagógico e administrativo da unidade es-
colar, onde se explicita a concepção pedagógica do corpo docente, as bases
teórico-metodológicas da organização didática, a contextualização social,
econômica, política e cultural da escola [...]. (LIBÂNEO, 2012, p. 230)

Portanto, o plano escolar da instituição possui, como objetivo, direcionar e formu-


lar planos frente a concepção política e pedagógica da escola; trata-se do documento
que possui todas as informações sobre a instituição, devendo ser produzido, discutido
e analisado coletivamente pela equipe escolar, pais e alunos (LIBÂNEO; OLIVEIRA;

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TOSCHI, 2003), já que a escola deve ser pautada na gestão democrática, assim
como exposto no Artigo 14 da LDB (Lei n.º 9.394/96):
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão demo-
crática do ensino público na Educação Básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
ou equivalentes.

Logo, é um direito da comunidade escolar e local a participação na elaboração do


PPP, para que todos estejam cientes do objetivo e das concepções em que a escola
está pautada e para que trabalhem juntos, de forma a atingi-los, proporcionando,
então, que todos aqueles relacionados ao processo de ensino-aprendizagem tenham
conhecimento frente a estrutura organizacional da escola, de seus objetivos e de
suas metas. Isso propicia aproximação entre as diferentes esferas envolvidas nessa
integração, ou seja, pais, alunos, professores, comunidade etc. (LIBÂNEO, 2004).

No PPP deve constar o planejamento curricular da instituição, que é definido por


Vasconcellos (2012, p. 95) como “[...] a proposta geral das experiências de aprendizagem
que serão oferecidas pela escola, incorporada nos diversos componentes curriculares
[...]”; isto é, a escola é responsável pela elaboração desse planejamento e no qual são
estabelecidos e estruturados todos os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula,
de cada ano escolar, não deixando de vincular-se às propostas de currículo advindas da
União, dos Estados e Municípios. Dessa maneira, o planejamento deve ser pensado pelo
professor e, posteriormente, pode haver a sistematização do que foi planejado.

Portanto, o planejamento de aula oportuniza, ao professor, a possibilidade de


pensar, refletir e buscar diferentes estratégias pedagógicas para potencializar o pro-
cesso de ensino-aprendizagem em sala de aula.

Até aqui, vimos sobre a questão do planejamento. Agora, adentraremos nas dis-
cussões que envolvem o projeto político-pedagógico.

Importância do PPP na Organização


do Trabalho Pedagógico
Vejamos o que Libâneo (2012, p. 483) diz a respeito do PPP:
[...] com a disseminação das práticas de gestão participativa, foi-se conso-
lidando o entendimento de que o projeto pedagógico deveria ser pensado,
discutido e formulado coletivamente, também como forma de construção
da autonomia da escola, por meio da qual toda a equipe é envolvida nos
processos de tomada de decisões sobre aspectos de organização escolar
e pedagógico-curricular.

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Então, veja que o PPP é uma prática social, construída historicamente, segundo
os saberes que os professores produzem nas escolas, assentado nas diretrizes legais
da educação brasileira. Logo, os saberes docentes e o trabalho estão envolvidos na
construção do PPP, assim como a importância que esse documento tem na garantia
da democratização do ensino no Brasil. Assim, podemos conceituar o PPP como:
[...] plano global da instituição. pode ser entendido como a sistematização,
nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se
aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de
ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-pedagógi-
co para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de orga-
nização e integração da atividade prática da instituição neste processo de
transformação. (VASCONCELLOS, 2004, p. 169)

Podemos dizer que o PPP apenas se transformará em direito e dever quando a


comunidade escolar – principalmente o corpo docente – envolver-se nesse processo.
Obviamente, não só em seu envolvimento, mas também que acreditem na importância
desse instrumento. A partir deste momento, o PPP não será somente um documento,
mas instrumento que visa nortear todo o trabalho pedagógico da escola e professores.

Justamente por isso, o PPP deve ser construído coletivamente, a partir de deman-
das reais, as quais devem ser apontadas por professores, alunos, funcionários, pais e
equipe pedagógica; afinal, essa construção coletiva garante os princípios democráti-
cos assentados na Constituição Federal de 1988. É com esse processo intermediário
que se constrói a autonomia da escola, de modo que a comunidade escolar e os pro-
fessores têm maior segurança para organizar o seu trabalho pedagógico e alcançar
os objetivos delimitados nesse documento.

O projeto político-pedagógico é um documento que deve passar por constantes reflexões e


discussões sobre os problemas da escola. A partir de sua organização é que se possibilita a
democracia e participação de todos os membros da escola.

Figura 2 – Construção coletiva do PPP


Fonte: Rawpixel/123RF

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Como a construção do PPP é algo coletivo, torna-se necessário que os seus par-
ticipantes, inclusive docentes, articulem-se para compor e construir esse documento.
O ponto de vista docente é fundamental para compreender as exigências do âmbito
escolar, além de ser um espaço de interlocução.

Para Davies (2002) é necessário pensar o PPP como um direito e um dever da


escola para com a comunidade, ou seja, uma forma de enfrentar os desafios da
organização do trabalho pedagógico. Portanto, quanto maior for a participação da
comunidade e dos docentes na construção do PPP, melhor a escola efetivará a de-
mocracia em seu espaço, já que o PPP é uma tarefa de todos, a qual norteará, de
maneira fluida, a organização do trabalho docente.

Dessa forma, deve-se olhar o PPP como um plano/instrumento de melhoria que


pode contribuir para as mudanças da realidade da escola, que está configurada no
trabalho pedagógico realizado nas salas de aula, no currículo, na metodologia de
ensino, avaliação, nas relações interpessoais e na participação dos pais e responsá-
veis. Portanto, todas as atividades desenvolvidas na escola que têm, por finalidade,
melhorar o processo de ensino-aprendizagem, estão fundamentadas na organização
do trabalho pedagógico que, por sua vez, está configurado no PPP.

Os principais pontos que devem estar explicitados no PPP são os seguintes:

Marco Conceitual
Expressar a opção pelos fundamentos teórico-metodológicos
da escola.

Marco Situacional
Identificar e analisar os problemas e avanços presentes na sociedade
e as suas influências na escola.

Marco Operacional
Apresentar as propostas e metas para executar os objetivos e delimitar
a organização da escola.

Figura 3 – Organização do trabalho pedagógico configurada no projeto político-pedagógico

Como o PPP é um documento que reflete a realidade da escola, este também é


capaz de indicar, a partir da participação docente, o tempo e as mudanças que de-
vem acontecer nessa instituição, como forma de acompanhar a sociedade. Por isso,
é fundamental que as discussões sejam retomadas de tempos em tempos, a fim de
verificar se as propostas orquestradas alcançaram as metas delimitadas.

Para Vasconcellos (2004) é fundamental ter em mente que o PPP não é um do-
cumento “engessado”, devendo ser flexível e passível de mudanças. Por isso, o PPP

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não pode ser imposto, mas construído coletivamente, já que expressa a identidade
da comunidade escolar.

Figura 4 – Construção coletiva do PPP


Fonte: Rawpixel/123RF

Enfatizamos que a participação dos professores é fundamental na elaboração


do PPP, afinal, é por meio do comprometimento docente que são trazidas dis-
cussões e visões de educação que nem sempre a equipe pedagógica consegue
desenvolver sozinha. Além de apresentar possíveis ações a serem executadas,
obviamente, a participação docente contribui para a melhoria da qualidade da
educação nas escolas.

Contudo, para que haja efetiva participação, os professores precisam estar


motivados e terem compromisso profissional e ético. Além desses quesitos, de-
vem estar convencidos da necessidade de sua participação no processo, já que,
segundo Hernández (2003): “[...] a escola não pode ser propriedade dos profes-
sores, ela deve incluir toda comunidade educativa no planejamento de suas metas
de melhoria.”.

A partir da elaboração do PPP, tanto professores quanto a equipe diretiva preci-


sam conhecer a realidade dos alunos, a história de vida de cada um, possibilitando
que a equipe pedagógica busque alternativas para incluir os estudantes em seu pro-
cesso de desenvolvimento.

O seguinte infográfico traz conceitos importantes para compreender o PPP, pela


sua condição de eixo norteador das práticas educativas existentes nas escolas, de
modo que quando conhecemos os seus conceitos, verificamos a sua importância na
organização do trabalho pedagógico e prática docente:

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5 - Deve ter a participação de todos os sujeitos em
1 - Envolve a concepção de homem, sociedade, sua constituição.
escola, educação, cultura, trabalho, tecnologia,
cidadania, conhecimento, ensino, aprendizagem
e avaliação. 6 - Visa garantir a autonomia da escola.

2 - O referencial teórico desse documento está


7 - Busca valorizar os professores por meio de
constituído do Marco Situacional, Marco Conceitual
formações contínuas e continuadas.
e Marco Operacional.

8 - Tem compromisso do Estado na oferta e


3 - Visa compreender criticamente a realidade que manutenção da educação da escola pública.
a escola está envolvida.

9 - A construção é coletiva visando sempre os


4 - Tem compromisso ético-político. conceitos de democracia e cidadania.

Figura 5 – O projeto político-pedagógico

Os quesitos apresentados neste infográfico demonstram as bases fundamentais


que o PPP precisa conter para que a equipe pedagógica, professores, pais, alunos
e diretoria tenham conhecimento desse documento tão fundamental para garantir a
educação de qualidade.

Assim, o PPP torna-se o eixo norteador de todas as práticas a serem realizadas na


escola como um todo e na sala de aula, pois a partir do momento em que o docente
tem acesso aos pressupostos filosóficos e à missão da escola, a forma de organizar o
seu trabalho e plano de aula torna-se viável.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Projeto Político Pedagógico
Assista ao vídeo sobre o projeto político-pedagógico da professora Ilma Passos
Alencastro Veiga, acerca de como o PPP é construído e a importância da
participação da comunidade e dos professores no processo.
https://bit.ly/3m945B8
Gestão em Foco – Papel do Diretor e do Diretor Auxiliar
Confira o vídeo sobre o papel do diretor e do diretor auxiliar na escola, em que são
apresentadas as responsabilidades dos dirigentes dessa instituição.
https://youtu.be/ZuViF0zGxGg

 Leitura
Projeto político-pedagógico do Colégio Estadual Professor José Aloísio Aragão (2012)
Neste documento você terá acesso ao PPP de uma escola pública, compreendendo
como é a construção desse tipo de planejamento, assim como os itens fundamentais
e como está organizado.
https://bit.ly/2FkU1o2
Projeto político-pedagógico: em busca de novos sentidos
Livro Projeto político-pedagógico: em busca de novos sentidos, de Alcir de Souza
Caria (2011): busca refletir sobre as possibilidades da escola em cumprir com o Projeto
Político-Pedagógico (PPP) e discute as teorizações do PPP no cotidiano escolar.
https://bit.ly/2ZrA3z0

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Referências
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional, n.º 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Brasília, DF: Casa Civil, 1996. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 29/01/2019.

DAVIES, C. Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 2011.

HERNÁNDEZ, F. O projeto político-pedagógico vinculado à melhoria das escolas.


Pátio, Porto Alegre, RS, n. 25, p. 8-11, fev. 2003.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2012.

________. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia, GO: Alter-


nativa, 2004.

________; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura


e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

MENEGOLLA, M.; SANT’ANNA, I. M. Por que planejar? Como planejar? Currí-


culo – área – aula. 20. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes,


2002.

VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e pro-


jeto político-pedagógico. 22. ed. São Paulo: Libertad, 2012.

_________. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógi-


co ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2004.

VEIGA, I. P. A. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In:


_________. (Org). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possí-
vel. 29. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011.

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