Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COORDENAÇÃO
PEDAGÓGICA
EM FOCO
SUMÁRIO
Apresentação............................................................................................................. 3
Rosa Helena Mendonça
Introdução................................................................................................................. 4
Elisabete Monteiro e Cybele Amado
Paulo Freire1
As palavras em epígrafe são de Paulo Freire Chapada Diamantina, que integram o Proje-
e referem-se ao ‘pequeno’ livro que o edu- to Chapada. Todas evidenciam a importância
cador acabara de lançar naquele já distante do coordenador pedagógico na ‘formação
ano de 1997: Pedagogia da autonomia: sabe- continuada dos professores e na articulação
res necessários à prática educativa. do Projeto Político Pedagógico da escola’,
mostrando diferentes caminhos e soluções
A série Coordenação Pedagógica em foco –
locais para os desafios da educação.
com a qual o programa Salto para o Futu-
ro, da TV Escola, abre a temporada de 2012 Assim como adverte Paulo Freire, não se tra-
– propõe justamente desafios para a ‘melho- ta de ‘dar receitas’, mas de apresentar um 3
ria de qualidade da educação’, na perspec- trabalho concreto que já mostra resultados
tiva de ‘redes colaborativas e comunidades animadores, em especial na formação de
de aprendizagem’. A centralidade do papel leitões, e que pode ser inspirador de novas
do coordenador pedagógico nesse processo experiências de gestão escolar em outras es-
é destacada nos textos e nos programas te- colas e redes de educação.
levisivos. A consultoria é de Cybele Amado
Assim, o Salto para o Futuro espera, mais
(Instituto Chapada de Educação e Pesquisa),
uma vez, cumprir uma de suas funções pri-
que também assina o texto introdutório à
mordiais, ou seja, a de contribuir para a for-
série, em parceria com Elisabete Monteiro
mação de professores e gestores por meio
(Universidade Estadual da Bahia).
da divulgação e do debate de pesquisas em
As experiências apresentadas nos vídeos que educação e de experiências exitosas.
compõem os programas foram gravadas
em alguns dos 23 municípios do interior da
Rosa Helena Mendonçaz
Bahia, mais especificamente na região da
1 Trecho de entrevista concedida por Paulo Freire ao programa Salto para o Futuro em 1997. Disponível em
http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=70
2 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro/ TV Escola (MEC).
Coordenação Pedagógica em Foco
INTRODUÇÃO
Cybele Amado1
Elisabete Monteiro2
As redes de ensino, sejam elas públicas ou A série abordará, por exemplo, uma das fun-
privadas, devem assegurar aos professores ções atribuídas ao coordenador pedagógico:
condições para que sigam aprendendo ao a formação dos professores. Discutirá, ain-
longo de todo o exercício profissional, pois da, que esta formação deve estar articulada
4
esta é uma das condições fundamentais aos contextos de trabalho e tomar o conhe-
para garantir a boa qualidade da docência. E cimento didático como eixo central e a re-
o coordenador pedagógico, em parceria com flexão sobre a prática como um dos cami-
a direção escolar, tem entre suas funções ar- nhos da teorização. Nesse sentido, a Equipe
ticular redes de aprendizagem que instalem Gestora da escola (Direção e Coordenação
e sustentem processos de formação e (auto) Pedagógica), aportada pela rede de ensino
formação de professores. em que atua, articula o grupo de professo-
res, colaborando com o processo formativo
Sabendo disso, a série Coordenação Pedagó- contínuo – de todos os docentes e de cada
gica em foco propõe debater e esclarecer a um – tendo como centro a reflexão sobre a
função estruturante do coordenador peda- prática pedagógica.
gógico no desenvolvimento da prática peda-
gógica dentro da escola e da rede na qual Brousseau (1986) explicita sobre a necessida-
está inserido, bem como os desafios encon- de de se “desdatizar” a formação continuada
trados para exercê-la. de professores através da recontextualiza-
3 Estes textos são complementares da série Coordenação pedagógica em foco, com veiculação no programa
Salto para o Futuro/ TV Escola de 09/04/2012 a 13/04/2012.
revelam a dificuldade encontrada pelos co- outras peças para que a sua atuação resulte
ordenadores pedagógicos para gerir o seu em melhorias efetivas na prática pedagógica
tempo dentro da escola e enfatiza que ape- da escola ou da comunidade em questão.
nas quando estes profissionais têm clareza
sobre a sua função é que eles são capazes Estes textos também são referenciais para os
de organizar o seu tempo de acordo com as debates do PGM 4: Outros olhares sobre a Co-
suas obrigações, evitando ocupar a agenda ordenação Pedagógica e do PGM 5: Coordena-
com atribuições que não lhes competem. ção Pedagógica em debate.
Para finalizar, o texto detalha as atividades
que devem compor a rotina do coordenador
pedagógico e orientações para organizá-las REFERÊNCIAS
cronologicamente.
BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do pro-
TEXTO 3/PGM 3: UMA REDE COLA- fessor. In. PARRA, C.; C. Saiz et al. Didática da
BORATIVA PELA EDUCAÇÃO Matemática; reflexões psicopedagógicas. Por-
to Alegre: Artes Médicas, 1996.
O programa 3 trata dos laços e das articula-
ções que devem ser realizados para que os LERNER, Delia. Sobre a Explicitação. Informe 7
bons resultados na educação se consolidem apresentado no I Encontro Internacional
através dos tempos, ancorados em um sen- Rede Latino-americana de Alfabetização.
timento de corresponsabilidade comparti- Buenos Aires, 1996.
lhado por todos os atores da comunidade
escolar. Para mostrar como esta estrutura
se concretiza na realidade, o programa traz
o caso do Instituto Chapada de Educação e
Pesquisa, que ajudou a formar uma rede de
23 municípios do interior da Bahia pela me-
lhoria da qualidade da educação, com base
na sua metodologia de redes colaborativas
e comunidades de aprendizagem. O texto 3
traz o detalhamento destes conceitos e da
sua aplicação prática no ambiente escolar,
esclarecendo que o coordenador pedagógi-
co – como peça fundamental deste sistema
– depende da articulação e da cooperação de
Texto 1/PGM 1:
O papel da Coordenação Pedagógica na escola
Ao longo da década de 1980, esta ideia come- Esta perspectiva redefine o papel do coorde-
çou a ser questionada. Um acirrado debate nador pedagógico, que deixa de ser apenas
8
em torno da democratização do ensino co- um fiscal das práticas educativas ou uma
locou em evidência a formação dos profes- espécie de “gerente”, responsável pelas ati-
sores, como meio de garantir a elevação dos vidades burocráticas e administrativas da
padrões de qualidade da educação. escola. O coordenador pedagógico é corres-
ponsável pela sala de aula, pelo trabalho re-
Os estudos sobre a formação de professores alizado pelo professor e pelos resultados dos
apontavam para uma formação profissional alunos. Ele faz parte do corpo de professores
baseada numa epistemologia da prática, ou e sua função principal se divide entre a for-
seja, na valorização da prática profissional mação de professores e a gestão do Projeto
como momento de construção de conheci- Político Pedagógico da escola.
mento, através da reflexão, análise e proble-
matização de situações vivenciadas no âm- Uma rápida reflexão sobre o trabalho dos
bito do exercício profissional. coordenadores pedagógicos mostra o quan-
to eles estão sendo engolidos pelo cotidiano
Isto resultou numa revisão do trabalho do da escola, dedicando boa parte do tempo
delineia questões distintas dos problemas dor pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n.
docentes, a serem resolvidas pelo coordena- 192, maio 2006. Disponível em: http://revis-
A escola é uma instituição complexa, que questões de toda a ordem – que se insere o
traz no seu bojo as representações dos sujei- trabalho do coordenador pedagógico (CP).
tos que nela atuam. Um espaço onde as re-
presentações sociais se reproduzem. É uma A pesquisa realizada pela Fundação Victor Ci-
sociedade de aprendizagem, como diz Nó- vita3 sobre o perfil do CP em 2010 revela que o
voa2, concordando com Meirieu, um espaço cotidiano atribulado da escola responde pela
com regras de vida em comum e regras para falta de foco do trabalho deste profissional,
o diálogo; um local onde as pessoas não se materializando-se numa rotina caótica cen-
escolhem, mas trabalham juntas durante trada no atendimento a pessoas em geral, ao
13
um período de suas vidas, independente- sistema educacional e aos alunos, conforme
mente de gostarem ou não das mesmas coi- ações listadas no quadro abaixo:
sas, de terem os mesmos interesses. Espaço
que não se resume ao conjunto de salas de Atendimento a pessoas:
4 AUGUSTO, Silvana. Desafios do coordenador pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n. 192, maio 2006.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0192/aberto/mt_133398.shtml.
golido pelas demandas do cotidiano e por ati- aprendizagem dos alunos e dos docentes. Deve
vidades que não lhe competem. Reconhecer-se ainda prever tempos e espaços para cada ação
na função de formador docente e articulador no cotidiano da escola: os espaços formativos
do trabalho coletivo na escola é de fundamen- (reuniões de formação), os espaços de planeja-
tal importância para o coordenador pedagógi- mento e de acompanhamento do trabalho dos
co. professores e das classes.
Importante compreender que essa mudança Para dar conta de tudo isso, o CP deve elaborar
de paradigma não pode ser realizada isolada- um cronograma semanal e outro mensal, arti-
mente. É necessário existir uma organização culando bem todas as ações, de modo a não fu-
institucional que possibilite a definição dos gir dos objetivos delineados. Será no exercício
papéis e das funções dos educadores envolvi- constante dessa organização que um modelo
dos, haver investimento na construção de uma diferente de trabalho dentro da escola será
equipe colaborativa e realizar uma formação construído.
que ajude a recon-
ceitualizar o papel do O QUE NÃO
CP e do professor. É Reconhecer-se na função PODE FALTAR
necessário, pois, or- NA ROTINA DA
de formador docente e COORDENAÇÃO
ganizar uma política
de formação perma-
articulador do trabalho PEDAGÓGICA 15
O acompanhamento da sala de aula é uma im- A orientação ao docente pode ser realizada di-
portante ferramenta para melhorar a prática retamente, como foi descrito na situação de
pedagógica, pois se centra especificamente observação da classe, ou de modo indireto, por
nos problemas didáticos. Podemos dizer que é meio da análise de planos de ensino, projetos
na classe que se materializa todo o trabalho da e sequências didáticas, planos de aula, ativida-
formação permanente estabelecida na escola e des, produções e cadernos dos alunos, ativi-
prevista no planejamento. Entretanto, em mui- dades avaliativas e registros. Para tanto, o CP
tas instituições, essa ainda é uma conquista a precisa reservar em sua rotina um tempo para
ser feita. Em uma escola que está implantan- avaliar esses documentos e estabelecer o dia
do um processo formativo, tanto os docentes da semana em que receberá o material e o de-
iniciantes quanto os mais experientes podem volverá com as observações. O CP pode tratar
resistir a abrir as portas da sua sala de aula disso individualmente com cada professor ou
para essa finalidade, por isso ela precisa ser combinar com eles que os documentos serão
discutidos durante a formação permanente. sam ser registrados por escrito, tanto para dar
devolutivas quanto para o próprio planejamen-
4) Planejamento da formação to do CP. Assim, cabe a ele organizar o portfólio
da formação, bem como o de cada professor,
O CP vai elaborar e rever periodicamente o pro- pois isso o ajuda no acompanhamento da for-
jeto de formação e montar as pautas de cada mação continuada.
reunião. Em geral, para essa tarefa, é necessá-
rio estudar e pesquisar referências bibliográfi- 8) Reunião com alunos e professores
cas e videográficas.
Cabe também ao CP observar e avaliar os alu-
5) Organização do acervo nos, sempre em parceria com os professores, a
fim de planejar o apoio pedagógico necessário
O projeto político pedagógico, os planos anu- ou mesmo comunicar aos estudantes os as-
ais dos cursos, os projetos e as sequências di- pectos em que precisam melhorar.
dáticas, os portfólios e as avaliações, entre ou-
tros, são documentos de trabalho para o CP. Além desses momentos garantidos na rotina
Portanto, devem estar sempre em ordem para semanal, é preciso assegurar um momento de
serem consultados e servirem para a monta- formação para o CP, que pode ser organizado e
gem do acervo e da memória pedagógica da encaminhado pela Secretaria de Educação lo- 17
instituição. cal ou realizado por um colega ou supervisor
mais experiente. Afinal, o CP também precisa
6) Planejamento e estudo das práti- fazer parte de um coletivo que esteja constan-
cas formativas temente refletindo sobre o conhecimento di-
dático e o da formação.
Estudar, investigar e planejar práticas formati-
vas, a fim de atingir os objetivos do projeto de Como organizar o tempo?
formação, são procedimentos que demandam
tempo. O CP precisa ver os vídeos que preten- Importante lembrar que não há uma rotina
de tematizar, aprofundar seus conhecimentos fixa predeterminada. A organização do tempo
sobre as estratégias a serem usadas e o conhe- deve ser pensada de acordo com as especifici-
cimento didático específico para ajudar os pro- dades e os objetivos do trabalho de cada CP e o
fessores a compreenderem melhor o objeto de projeto político pedagógico da escola.
ensino e a maneira de ensinar.
REFERÊNCIAS
7) Produção de registros
AUGUSTO, Silvana. Desafios do coordenador
Relatórios das observações de sala de aula e pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n. 192,
das análises dos planos dos professores preci- maio 2006. Disponível em: http://revistaescola.
abril.com.br/edicoes/0192/aberto/mt_133398. NEMIROVSKY, Myriam. O ensino da linguagem
shtml. escrita. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 67-69.
Tecendo a manhã
2 Estudos sobre instituições aprendentes podem ser encontrados na obra de Peter Senge.
nistrativas e na fragilidade do trabalho pe- menta para fazer avançar processos educa-
dagógico. tivos:
Acompanhamento Pedagógico
Soraia Bruno
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil 25
Gerência de Criação e Produção de Arte
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Março/Abril 2012