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ISSN 1982 - 0283

COORDENAÇÃO
PEDAGÓGICA
EM FOCO

Ano XXII - Boletim 1 - Abril 2012


Coordenação pedagógica em foco

SUMÁRIO

Apresentação............................................................................................................. 3
Rosa Helena Mendonça

Introdução................................................................................................................. 4
Elisabete Monteiro e Cybele Amado

Texto 1/PGM 1: O papel da Coordenação Pedagógica na escola................................. 8


Giovana Cristina Zen

Texto 2/PGM 2: A organização da rotina e a gestão da aprendizagem......................13


Maria Aparecida Silveira

Texto 3/PGM 3: Uma rede colaborativa pela educação.............................................19


Neurilene Martins Ribeiro
APRESENTAÇÃO
Coordenação Pedagógica em foco
“O que me interessa fortemente (...) não é dar receitas, mas é propor desafios, é
discutir aspectos que eu considero necessários e permanentemente presentes na
prática docente, que eu chamei de saberes fundamentais.”

Paulo Freire1

As palavras em epígrafe são de Paulo Freire Chapada Diamantina, que integram o Proje-
e referem-se ao ‘pequeno’ livro que o edu- to Chapada. Todas evidenciam a importância
cador acabara de lançar naquele já distante do coordenador pedagógico na ‘formação
ano de 1997: Pedagogia da autonomia: sabe- continuada dos professores e na articulação
res necessários à prática educativa. do Projeto Político Pedagógico da escola’,
mostrando diferentes caminhos e soluções
A série Coordenação Pedagógica em foco –
locais para os desafios da educação.
com a qual o programa Salto para o Futu-
ro, da TV Escola, abre a temporada de 2012 Assim como adverte Paulo Freire, não se tra-
– propõe justamente desafios para a ‘melho- ta de ‘dar receitas’, mas de apresentar um 3
ria de qualidade da educação’, na perspec- trabalho concreto que já mostra resultados
tiva de ‘redes colaborativas e comunidades animadores, em especial na formação de
de aprendizagem’. A centralidade do papel leitões, e que pode ser inspirador de novas
do coordenador pedagógico nesse processo experiências de gestão escolar em outras es-
é destacada nos textos e nos programas te- colas e redes de educação.
levisivos. A consultoria é de Cybele Amado
Assim, o Salto para o Futuro espera, mais
(Instituto Chapada de Educação e Pesquisa),
uma vez, cumprir uma de suas funções pri-
que também assina o texto introdutório à
mordiais, ou seja, a de contribuir para a for-
série, em parceria com Elisabete Monteiro
mação de professores e gestores por meio
(Universidade Estadual da Bahia).
da divulgação e do debate de pesquisas em
As experiências apresentadas nos vídeos que educação e de experiências exitosas.
compõem os programas foram gravadas
em alguns dos 23 municípios do interior da
Rosa Helena Mendonçaz
Bahia, mais especificamente na região da

1 Trecho de entrevista concedida por Paulo Freire ao programa Salto para o Futuro em 1997. Disponível em
http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=70
2 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro/ TV Escola (MEC).
Coordenação Pedagógica em Foco


INTRODUÇÃO

Cybele Amado1
Elisabete Monteiro2

Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno humano, se nos


revela algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrar-
mos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para que ele
se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos constitutivos.
Paulo Freire

As redes de ensino, sejam elas públicas ou A série abordará, por exemplo, uma das fun-
privadas, devem assegurar aos professores ções atribuídas ao coordenador pedagógico:
condições para que sigam aprendendo ao a formação dos professores. Discutirá, ain-
longo de todo o exercício profissional, pois da, que esta formação deve estar articulada
4
esta é uma das condições fundamentais aos contextos de trabalho e tomar o conhe-
para garantir a boa qualidade da docência. E cimento didático como eixo central e a re-
o coordenador pedagógico, em parceria com flexão sobre a prática como um dos cami-
a direção escolar, tem entre suas funções ar- nhos da teorização. Nesse sentido, a Equipe
ticular redes de aprendizagem que instalem Gestora da escola (Direção e Coordenação
e sustentem processos de formação e (auto) Pedagógica), aportada pela rede de ensino
formação de professores. em que atua, articula o grupo de professo-
res, colaborando com o processo formativo
Sabendo disso, a série Coordenação Pedagó- contínuo – de todos os docentes e de cada
gica em foco propõe debater e esclarecer a um – tendo como centro a reflexão sobre a
função estruturante do coordenador peda- prática pedagógica.
gógico no desenvolvimento da prática peda-
gógica dentro da escola e da rede na qual Brousseau (1986) explicita sobre a necessida-
está inserido, bem como os desafios encon- de de se “desdatizar” a formação continuada
trados para exercê-la. de professores através da recontextualiza-

1 Diretora executiva e presidente do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa. Consultora da série.


2 Professora da Universidade Estadual da Bahia e formadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa.
ção do saber (problematização de situações tempo para atividades que nem sempre têm
do contexto profissional), visando dar sen- a ver com o pedagógico, quando, na reali-
tido aos conhecimentos a serem ensinados. dade, este Coordenador, como integrante da
Só então a descontextualização faz sentido. Equipe Gestora da escola, é corresponsável
O conhecimento didático, portanto, passa pela sala de aula, pelo trabalho realizado
a ser privilegiado na formação. A questão pelo professor e pelos resultados dos alunos.
posta é a de colocar o professor diante de
uma “situação problemática, desenhada de A sua função principal se divide entre a for-
tal maneira que, nas condições propostas, mação continuada de professores e a arti-
a melhor solução é o conhecimento que se culação do Projeto Político Pedagógico da
quer ensinar” (LERNER, 1996, p. 1). escola. Isto não significa que deva abando-
nar as demais atividades, mas é preciso prio-
Essas ideias nos trazem novos paradigmas rizar sua função de formador e articulador.
sobre o processo de formação de educadores No contexto dessa nova perspectiva profis-
e sobre o papel do coordenador pedagógico. sional, a centralidade atribuída aos coorde-
Exalta-se a necessidade do fazer pensar, fazer nadores e as exigências a eles apresentadas
relações, comparar, refletir sobre a própria acarretam consequências para a organi-
prática. Nessa perspectiva de formação, o zação e a gestão da escola, evidenciando a 5
contexto profissional deve ser o eixo central, reestruturação do trabalho e a consequente
tendo como fim a aprendizagem dos alunos. alteração na sua natureza e definição.
Assim, seu objetivo é articular os diversos
segmentos da escola para dar sustentação Além disso, é fundamental que o coorde-
e efetivar o Projeto Político Pedagógico. O nador pedagógico construa uma relação de
papel do coordenador é considerado, nesses confiança com os professores. É preciso cui-
termos, de extrema importância para que a dar das relações com o grupo de professores
ação coletiva aconteça na escola. Trata-se e é dentro dessa perspectiva que a recons-
de um grande desafio para a superação do trução de novas formas de relação dentro
fracasso escolar e a qualificação constante da escola, de interação entre profissionais-
do ensino. pessoas, seja também foco de reflexão do
coordenador pedagógico, especialmente na
Deste modo, a função da Coordenação Pe- condução democrática do enfrentamento
dagógica exige um profissional capaz de das questões cotidianas.
promover e coordenar o processo de qua-
lificação da prática docente. Entretanto, é Pensar a função do coordenador pedagógico
comum que esses coordenadores usem seu no contexto das relações profissionais esta-
belecidas no ambiente escolar retira a sua TEXTO 1/PGM 1: O PAPEL DA COOR-
atuação, portanto, de um lugar meramente DENAÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCO-
tecnicista e procedimental para elevá-la à LA
condição de elemento fundamental para a
apropriação das trajetórias de vida de cada O programa 1 apresenta situações nas quais
um dos envolvidos, com seus saberes e di- a atuação do coordenador pedagógico cola-
lemas. borou para a obtenção de bons resultados
da prática docente, ao tempo em que reúne
TEXTOS DA SÉRIE COORDENAÇÃO coordenadores pedagógicos para refletir e
PEDAGÓGICA EM FOCO3 dialogar sobre os dilemas da sua função. O
texto 1 discorre sobre o papel do coordena-
A série tem como objetivo oferecer aos pro- dor pedagógico historicamente, pontuando
fissionais do ambiente escolar subsídios te- concepções errôneas ainda presentes, como
óricos e práticos que propiciem a reflexão aquelas que definem o coordenador pedagó-
sobre a ação do coordenador pedagógico, vi- gico como “um fiscal do trabalho docente”.
sando lançar luz e viabilizar um olhar atento A autora do texto esclarece o que se espera
sobre a figura desse profissional, os espaços desse profissional e o que não deve ser atri-
pelos quais ele transita e os efeitos da sua buído a ele. 6
ação. A série abordará, ainda, os desafios
históricos e estruturais encontrados pelo TEXTO 2/PGM 2: A ORGANIZAÇÃO
coordenador pedagógico para desempenhar DA ROTINA E A GESTÃO DA APREN-
sua função plenamente.
DIZAGEM

O programa 2 acompanha a rotina de uma


Vale lembrar que o trabalho dos coorde-
coordenadora pedagógica para responder à
nadores pedagógicos não é mais definido
pergunta-chave: como priorizar atividades
apenas como “atividades de supervisão”,
no contexto do ambiente escolar, marcado
devendo compreender também a gestão
por urgências e sobrecarga de trabalho? A
pedagógica da escola. Por isso, são signifi-
visão de outros atores da comunidade esco-
cativas as exigências para esses trabalhado-
lar sobre o coordenador pedagógico tam-
res, o que repercute sobre suas condições
bém é abordada neste programa, a partir
de trabalho, sua formação e sua identidade.
do conteúdo discutido em uma reunião de
Conselho Escolar. O texto 2 traz dados que

3 Estes textos são complementares da série Coordenação pedagógica em foco, com veiculação no programa
Salto para o Futuro/ TV Escola de 09/04/2012 a 13/04/2012.
revelam a dificuldade encontrada pelos co- outras peças para que a sua atuação resulte
ordenadores pedagógicos para gerir o seu em melhorias efetivas na prática pedagógica
tempo dentro da escola e enfatiza que ape- da escola ou da comunidade em questão.
nas quando estes profissionais têm clareza
sobre a sua função é que eles são capazes Estes textos também são referenciais para os
de organizar o seu tempo de acordo com as debates do PGM 4: Outros olhares sobre a Co-
suas obrigações, evitando ocupar a agenda ordenação Pedagógica e do PGM 5: Coordena-
com atribuições que não lhes competem. ção Pedagógica em debate.
Para finalizar, o texto detalha as atividades
que devem compor a rotina do coordenador
pedagógico e orientações para organizá-las REFERÊNCIAS
cronologicamente.
BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do pro-

TEXTO 3/PGM 3: UMA REDE COLA- fessor. In. PARRA, C.; C. Saiz et al. Didática da
BORATIVA PELA EDUCAÇÃO Matemática; reflexões psicopedagógicas. Por-
to Alegre: Artes Médicas, 1996.
O programa 3 trata dos laços e das articula-
ções que devem ser realizados para que os LERNER, Delia. Sobre a Explicitação. Informe 7
bons resultados na educação se consolidem apresentado no I Encontro Internacional
através dos tempos, ancorados em um sen- Rede Latino-americana de Alfabetização.
timento de corresponsabilidade comparti- Buenos Aires, 1996.
lhado por todos os atores da comunidade
escolar. Para mostrar como esta estrutura
se concretiza na realidade, o programa traz
o caso do Instituto Chapada de Educação e
Pesquisa, que ajudou a formar uma rede de
23 municípios do interior da Bahia pela me-
lhoria da qualidade da educação, com base
na sua metodologia de redes colaborativas
e comunidades de aprendizagem. O texto 3
traz o detalhamento destes conceitos e da
sua aplicação prática no ambiente escolar,
esclarecendo que o coordenador pedagógi-
co – como peça fundamental deste sistema
– depende da articulação e da cooperação de
Texto 1/PGM 1:
O papel da Coordenação Pedagógica na escola

Giovana Cristina Zen1

O papel do coordenador pedagógico no con- coordenador pedagógico, que passou a as-


texto escolar tem sido alvo de discussões e sumir um papel preponderante na formação
redefinições. Até algum tempo atrás, a sua docente. É ele que está na escola, ao lado do
principal função era compreendida como professor, e que possui todas as condições
uma ação de controle da prática pedagógi- para de fato concretizar as políticas de for-
ca, uma espécie de inspetor escolar. mação permanente de professores.

Ao longo da década de 1980, esta ideia come- Esta perspectiva redefine o papel do coorde-
çou a ser questionada. Um acirrado debate nador pedagógico, que deixa de ser apenas
8
em torno da democratização do ensino co- um fiscal das práticas educativas ou uma
locou em evidência a formação dos profes- espécie de “gerente”, responsável pelas ati-
sores, como meio de garantir a elevação dos vidades burocráticas e administrativas da
padrões de qualidade da educação. escola. O coordenador pedagógico é corres-
ponsável pela sala de aula, pelo trabalho re-
Os estudos sobre a formação de professores alizado pelo professor e pelos resultados dos
apontavam para uma formação profissional alunos. Ele faz parte do corpo de professores
baseada numa epistemologia da prática, ou e sua função principal se divide entre a for-
seja, na valorização da prática profissional mação de professores e a gestão do Projeto
como momento de construção de conheci- Político Pedagógico da escola.
mento, através da reflexão, análise e proble-
matização de situações vivenciadas no âm- Uma rápida reflexão sobre o trabalho dos
bito do exercício profissional. coordenadores pedagógicos mostra o quan-
to eles estão sendo engolidos pelo cotidiano
Isto resultou numa revisão do trabalho do da escola, dedicando boa parte do tempo

1 Doutoranda em Educação - UFBA e Coordenadora Pedagógica Regional do Instituto Chapada de Educação


e Pesquisa (ICEP).
de sua rotina para resolver problemas de conhecer que os professores, assim como as
emergência, fazer atendimentos rápidos ou crianças, também constroem conhecimen-
apenas para fiscalizar o trabalho dos profes- tos a partir de suas representações e que
sores. No entanto, isso é muito pouco, pois suas aprendizagens também acontecem por
seu papel principal é ajudar na formação dos aproximações sucessivas. Afinal de contas,
professores e na gestão pedagógica da esco- “formar não é ensinar às pessoas determina-
la. dos conteúdos, mas sim trabalhar coletiva-
mente em torno da resolução de problemas.
Isto não significa que o coordenador peda- A formação faz-se na ‘produção’, e não no
gógico deva abandonar as demais atividades ‘consumo’, do saber” (NÓVOA, 1988).
que integram a sua
função, mas é pre- Deste modo, é preci-
ciso reconhecer sua A sala de aula deve ser so reconhecer que os
função precípua de considerada, ao mesmo conteúdos da forma-
formador e articu- ção dos professores
tempo, o ponto de partida
lador, para não se estão na sala de aula,
e o ponto de chegada das
deixar engolir pelas nos problemas que
demandas do coti-
ações formativas. o professor enfrenta 9
diano. A proposta é cotidianamente. A
que, aos poucos, o sala de aula deve ser
coordenador pedagógico possa redesenhar considerada, ao mesmo tempo, o ponto de
suas funções, legitimando-se como forma- partida e o ponto de chegada das ações for-
dor e parceiro dos professores. mativas. É por ela e para ela que devem ser
direcionados todos os esforços da formação.
No processo de construções coletivas, o co- Sem isto, não faz sentido despender tantos
ordenador pedagógico precisa “ser um outro esforços.
que analisa a situação sob pontos de vista
às vezes ocultos para o professor” (PELIS- Assim, a escola se configura como um espa-
SARI, 2007). Nessa mediação, é preciso, en- ço de aperfeiçoamento profissional, organi-
tretanto, considerar que os professores não zada e dinamizada por um projeto próprio,
são alunos do coordenador pedagógico, mas que orienta as ações e fortalece o trabalho
profissionais em formação. colaborativo entre os professores, coordena-
dores e diretores. A escola é uma comunida-
Isto implica considerar os professores como de de aprendizagem, que aprende e se qua-
sujeitos intelectualmente ativos, ou seja, re- lifica permanentemente através da reflexão
sobre suas ações e atribuições. cisam aprender a dizer o que não sabem e
juntos devem procurar as alternativas.
Neste contexto, o coordenador pedagógico
assume o lugar de um profissional mais ex- Para ajudar os professores a qualificar o seu
periente, cujo papel é o de supervisionar e trabalho, o coordenador pedagógico precisa
corresponsabilizar-se pelo trabalho do pro- considerar o conhecimento produzido acer-
fessor na sala de aula. Nesse sentido, en- ca das estratégias formativas e adequá-las
tendemos que o coordenador pedagógico aos diversos conteúdos previstos, em dife-
tem como função principal articular redes rentes espaços formativos. Não é de qual-
de aprendizagem que instalem e sustentem quer jeito que se faz formação de profes-
processos de forma- sores. Para realizar
ção e (auto)forma- um trabalho de qua-
ção de professores. Para realizar bem o seu lidade, é preciso co-
Quando está em jogo trabalho como formador, nhecer a discussão
a reconstrução da o coordenador pedagógico sobre o objeto de
escola como espaço conhecimento e so-
precisa ganhar a confiança
de democratização bre os processos de
dos professores e colocar-se 10
de conhecimentos, aprendizagem, tanto
há que se assegurar no lugar de parceiro. dos alunos como dos
as melhores condi- professores. Isto im-
ções para os profes- plica assumir o co-
sores construírem e realizarem um projeto nhecimento didático como eixo estruturan-
educativo que, de fato, viabilize o direito de te do trabalho do coordenador pedagógico.
aprender de todos os alunos.
Vale destacar também que não está dado
Para realizar bem o seu trabalho como for- que o coordenador pedagógico sabe todas
mador, o coordenador pedagógico precisa as coisas. Além disto, para assumir esta fun-
ganhar a confiança dos professores e co- ção não basta ter sido um bom professor. As
locar-se no lugar de parceiro. A dimensão funções profissionais de professores e coor-
subjetiva da formação dos professores não denadores pedagógicos não são as mesmas,
é menos importante do que as outras, pelo portanto, remetem a um conjunto de com-
contrário, o coordenador pedagógico pre- petências distintas. Os coordenadores peda-
cisa estabelecer com seus professores uma gógicos enfrentam problemas profissionais
relação que permita uma discussão honesta para além daqueles que são inscritos pela
sobre os desafios da sala de aula. Ambos pre- atuação docente na sala de aula e na escola.
Por este motivo, esta função exige assumir alfabetizador deve ser como ensinar o co-
o lugar de um profissional mais experiente nhecimento didático de alfabetização para
que supervisiona e orienta a prática dos pro- o professor. Assim, torna-se óbvio que para
fessores. Ser um excelente professor alfabe- comunicá-lo aos professores, pressupõe-se
tizador, por exemplo, não é suficiente para que os coordenadores pedagógicos o conhe-
realizar a formação permanente de profes- çam. Por este motivo, eles precisam estar
sores alfabetizadores. em formação permanente, assim como os
professores.
Lerner (2002), ao afirmar que os professores
precisam ser capazes de gerir processos de
ensino e de aprendizagem da leitura e da REFERÊNCIAS
produção de textos, que coloquem, no cen-
tro, propósitos didáticos e comunicativos, AUGUSTO, Silvana. Desafios do coordena-

delineia questões distintas dos problemas dor pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n.

docentes, a serem resolvidas pelo coordena- 192, maio 2006. Disponível em: http://revis-

dor pedagógico. Ao considerar essa afirma- taescola.abril.com.br/edicoes/0192/aberto/

tiva sobre saberes docentes implicados na mt_133398.shtml.

formação de leitores e escritores na escola, 11


Caminhos do Direito de Aprender: Boas Prá-
toma relevo uma nova dimensão do conhe-
ticas de 26 Municípios que Melhoraram a
cimento a ser construído pelo coordenador
Qualidade da Educação/Coordenação UNI-
pedagógico: o conhecimento sobre a forma-
CEF – Brasília, DF: UNICEF, 2010.
ção permanente de educadores. Como ensi-
nar esse conhecimento didático aos profes-
CARDOSO, Beatriz (org.). Ensinar: tarefa para
sores? Quais as melhores estratégias para
profissionais. Rio de Janeiro: Record, 2007.
consegui-lo? O que os docentes sabem sobre
tais conteúdos e como atualizam esse saber
Como fazer observação na sala de aula. Re-
na sala de aula quando ensinam? O acer-
vista Nova Escola. Disponível em http://
vo profissional construído como professor
revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/
é importante, mas não dá conta de resolver
coordenador-pedagogico/como-fazer-obser-
essa empreitada. Isto é, em resumo, pode-
vacao-sala-aula-574428.shtml
mos exemplificar da seguinte forma: o con-
teúdo foco de um professor alfabetizador é
ICEP. Avaliação de resultados parciais Projeto
o conhecimento didático de alfabetização,
Chapada – Natura. IDECA – Instituto de De-
enquanto que o conteúdo foco de um coor-
senvolvimento Educacional, Cultural e Ação
denador que pretende formar um professor
Comunitária, nov. de 2010. 81 p. com apoio do Itaú BBA, do Instituto Uniban-
co e da Fundação Itaú Social, 2010.
LERNER, Délia. Ler e escrever na Escola: o real,
o possível e o necessário. Trad. Ernani Rosa. PLACCO, Vera e ALMEIDA, Laurinda Rama-
Porto Alegre: Artmed, 2002. lho (orgs.). O coordenador pedagógico e o co-
tidiano da escola. São Paulo: Edições Loyola,
NÓVOA, A. As histórias de vida no projec- 2003.
to Prosalus. In: NÓVOA, Antônio e FINGER,
Matthias. O método (auto) biográfico e a for- PLACCO, V. M. N. S. e ALMEIDA, L. R. (orgs.).
mação. Lisboa: Ministério da Saúde, 1988. O coordenador pedagógico e os desafios da
educação. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
NÓVOA, A. Entrevista. Revista Pátio, São Pau-
lo, ano VII, nº 27, p. 25-28, ago./out. 2003. SCARPA, R. Era assim, agora não... São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1998.
NÓVOA, A. Formação de Professores e pro-
fissão docente. In: Os Professores e sua for- SCHON, Donald A. Educando o profissional
mação. 3ª ed. Lisboa, Portugal: Codex/Nova reflexivo: um novo design para o ensino e a
Enciclopédia, 1997. aprendizagem. Trad. Roberto Cataldo Costa. 12
Porto Alegre: Artmed, 2000.
NÓVOA, A. Professores imagens do futuro pre-
sente. EDUCA - Instituto de Educação. Portu- UNICEF - Caminhos do direito de aprender.
gal: Universidade de Lisboa, jul. 2009. Boas práticas de 26 municípios que melhora-
ram a qualidade da educação. Coordenação
PELISSARI, C. Revista Avisa Lá, no 30, abril UNICEF. Brasília, DF: UNICEF, 2010. www.
2007. unicef.org.brasil.

Pesquisa: O perfil do coordenador pedagógi- WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a


co; realizada pela Fundação Carlos Chagas, aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002.
Texto 2/PGM 2:
A organização da rotina e a gestão da aprendizagem

Maria Aparecida Silveira1

A escola é uma instituição complexa, que questões de toda a ordem – que se insere o
traz no seu bojo as representações dos sujei- trabalho do coordenador pedagógico (CP).
tos que nela atuam. Um espaço onde as re-
presentações sociais se reproduzem. É uma A pesquisa realizada pela Fundação Victor Ci-
sociedade de aprendizagem, como diz Nó- vita3 sobre o perfil do CP em 2010 revela que o
voa2, concordando com Meirieu, um espaço cotidiano atribulado da escola responde pela
com regras de vida em comum e regras para falta de foco do trabalho deste profissional,
o diálogo; um local onde as pessoas não se materializando-se numa rotina caótica cen-
escolhem, mas trabalham juntas durante trada no atendimento a pessoas em geral, ao
13
um período de suas vidas, independente- sistema educacional e aos alunos, conforme
mente de gostarem ou não das mesmas coi- ações listadas no quadro abaixo:
sas, de terem os mesmos interesses. Espaço
que não se resume ao conjunto de salas de Atendimento a pessoas:

aulas e ao trabalho realizado nelas, mas que • Atendimento telefônico


• Atendimento aos professores
se amplia na possibilidade de interações e
• Reunião com diretor
aprendizagens que ocorrem dentro e para
• Conversa com alunos
além das salas de aula.
• Orientação aos pais
• Substituição de professores
É nesse local – que parece organizado por
• Solicitações do Sistema
urgências e emergências capazes de mobili-
zar de tal forma seus profissionais e no qual
é possível passar um dia inteiro resolvendo

1 Coordenadora Pedagógica Regional do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP); pós-graduada em


metodologia do ensino superior.
2 NÓVOA, António. Professores imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009, p. 66. Nessa publicação,
Nóvoa se contrapõe à ideia de comunidade de aprendizagem, definindo a escola como sociedade de aprendizagem.
3 Pesquisa: O perfil do coordenador pedagógico; realizada pela Fundação Carlos Chagas, com apoio do Itaú BBA,
do Instituto Unibanco e da Fundação Itaú Social. 2010. Foram pesquisados 400 coordenadores em 13 capitais brasileiras.
Cotidiano dos alunos: os alunos, as famílias com quem querem con-
• Acompanhamento da entrada e saída versar, e a partir de tais anotações organizam
• Organização da classe sua agenda semanal.
• Sanções disciplinares
Por conhecer o cotidiano da escola é que o CP
Segundo a pesquisa, 50% dos coordenadores precisa organizar bem o tempo, senão corre o
pesquisados atendem telefonemas de pais, do risco de ser engolido pelo dia a dia, apagando
sistema de ensino e outras instituições todo incêndios e apaziguando os ânimos de profes-
dia; desses, 70% consideram adequada essa sores, alunos e pais (AUGUSTO, 20064).
ação; 19% ficam com a classe quando o profes-
sor falta uma ou mais vezes por semana; des- Na pesquisa citada, foi possível constatar que,
ses, somente 38% consideram essa dedicação para se sentir mais útil e com autoridade, o
excessiva. Dos coordenadores pesquisados, 9% CP organiza eventos, resolve conflitos, rece-
revelam não ter em be os pais, xeroca
sua rotina qualquer documentos, roda
ação de formação do
Há uma confusão entre avaliações, informa a
professor. as atribuições do CP e do comunidade sobre os

diretor, ambos integrantes feitos da escola – ou


Dos coordenadores aceita de bom grado
da equipe gestora e 14
pesquisados, 72% fazer essas tarefas
costumam acompa-
líderes pedagógicos da quando lhe pedem.
nhar a entrada e a comunidade.
saída dos alunos dia- Há uma confusão en-
riamente, 55% confe- tre as atribuições do
rem se as classes estão organizadas e limpas. CP e do diretor, ambos integrantes da equipe
Nesse caos, 26% apenas consideram o tempo gestora e líderes pedagógicos da comunidade.
dedicado ao projeto político pedagógico insu- Uma escola que esteja encaminhando um pro-
ficiente. cesso de formação permanente precisa definir
o lugar e o papel de cada um nessa estrutura,
A rotina de trabalho de coordenadores que se para que o todo funcione organicamente – isto
organizam dessa forma restringe-se, em mui- é, para que todos organizem suas rotinas de
tos casos, a uma lista de ações e compromis- modo a favorecer o trabalho colaborativo.
sos para a semana. Muitos anotam em seu
caderno as ações que pretendem realizar, os Somente quando o CP tem clareza de sua fun-
compromissos que vão marcar, os professores, ção é que ele organiza o seu tempo de acordo
com as suas obrigações, evitando assim ser en-

4 AUGUSTO, Silvana. Desafios do coordenador pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n. 192, maio 2006.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0192/aberto/mt_133398.shtml.
golido pelas demandas do cotidiano e por ati- aprendizagem dos alunos e dos docentes. Deve
vidades que não lhe competem. Reconhecer-se ainda prever tempos e espaços para cada ação
na função de formador docente e articulador no cotidiano da escola: os espaços formativos
do trabalho coletivo na escola é de fundamen- (reuniões de formação), os espaços de planeja-
tal importância para o coordenador pedagógi- mento e de acompanhamento do trabalho dos
co. professores e das classes.

Importante compreender que essa mudança Para dar conta de tudo isso, o CP deve elaborar
de paradigma não pode ser realizada isolada- um cronograma semanal e outro mensal, arti-
mente. É necessário existir uma organização culando bem todas as ações, de modo a não fu-
institucional que possibilite a definição dos gir dos objetivos delineados. Será no exercício
papéis e das funções dos educadores envolvi- constante dessa organização que um modelo
dos, haver investimento na construção de uma diferente de trabalho dentro da escola será
equipe colaborativa e realizar uma formação construído.
que ajude a recon-
ceitualizar o papel do O QUE NÃO
CP e do professor. É Reconhecer-se na função PODE FALTAR
necessário, pois, or- NA ROTINA DA
de formador docente e COORDENAÇÃO
ganizar uma política
de formação perma-
articulador do trabalho PEDAGÓGICA 15

nente de caráter co- coletivo na escola é de


Dentre as muitas atri-
laborativo dentro da fundamental importância
escola, na qual todos buições do coorde-
para o coordenador nador, organizamos
os atores, cientes de
suas atribuições, pos- pedagógico. abaixo, aquelas que
sam juntos orques- consideramos funda-
trar uma instituição mentais para o exer-
centrada na aprendizagem. cício profissional dentro da escola:

Para desempenhar bem sua função, a coor- 1) Reunião de formação


denação pedagógica organiza seu tempo na
escola. Essa organização pressupõe a elabo- Deve ser articulada ao contexto de trabalho e
ração de um plano de trabalho conjunto com centrada na reflexão sobre as práticas de sala
a direção da escola, focando as necessidades de aula e a aprendizagem dos alunos. Tem
da instituição como um todo, a partir das de- como principal objetivo construir coletiva-
finições do projeto político pedagógico, bem mente respostas para os problemas pedagógi-
como a elaboração de um projeto de formação cos enfrentados pelo grupo. Em algumas regi-
de professores pautado nas necessidades de ões, é chamada de horário de trabalho coletivo
(HTC); em outras, de atividade complementar cuidadosamente encaminhada. É importante
(AC). Há lugares que possibilitam um encontro que, no início, os professores se ofereçam vo-
formativo mensal de oito horas, além de mais luntariamente para terem suas aulas observa-
três ou quatro horas semanais – caso dos mu- das. O passo seguinte é fazer o planejamento
nicípios do Projeto Chapada. Alguns garantem do conteúdo que será observado junto com o
apenas o horário semanal de duas, três ou qua- docente que receberá a visita do CP. Posterior-
tro horas. Essa variação depende da estrutura e mente, o formador deve ter uma reunião in-
do funcionamento da formação no município dividual com o professor para dar devolutivas
e na escola. Para essas reuniões, os coordena- orais ou escritas e, juntos, replanejarem as in-
dores organizam acervo de materiais que po- tervenções para a atividade seguinte. O conte-
dem ser utilizados pelos professores, discutem údo da observação pode também ser usado na
atividades consideradas bons modelos, reto- formação coletiva, a fim de tratar com todo o
mam planejamento anterior e refletem com o grupo os pontos que foram evidenciados. Nes-
grupo de professores sobre o impacto na sala ses momentos, é importante que o professor
de aula, de modo a ajudar o professor a seguir compartilhe com os colegas as observações
planejando, elaboram conjuntamente projetos que fez da sua própria aula e as devolutivas
didáticos, planos de aula, sequências didáticas, que recebeu do CP antes de esse último tecer
atividades, enfim, o coordenador oferece as os seus comentários. Uma variação desse for-
melhores condições para que o grupo de pro- mato é ter os próprios professores observando
16
fessores planeje o trabalho a ser desenvolvido uns aos outros. Dessa forma, constrói-se uma
na sala de aula. cultura de observação na escola de forma ética
e colaborativa.
2) Observação e acompanhamento
do trabalho docente 3) Acompanhamento

O acompanhamento da sala de aula é uma im- A orientação ao docente pode ser realizada di-
portante ferramenta para melhorar a prática retamente, como foi descrito na situação de
pedagógica, pois se centra especificamente observação da classe, ou de modo indireto, por
nos problemas didáticos. Podemos dizer que é meio da análise de planos de ensino, projetos
na classe que se materializa todo o trabalho da e sequências didáticas, planos de aula, ativida-
formação permanente estabelecida na escola e des, produções e cadernos dos alunos, ativi-
prevista no planejamento. Entretanto, em mui- dades avaliativas e registros. Para tanto, o CP
tas instituições, essa ainda é uma conquista a precisa reservar em sua rotina um tempo para
ser feita. Em uma escola que está implantan- avaliar esses documentos e estabelecer o dia
do um processo formativo, tanto os docentes da semana em que receberá o material e o de-
iniciantes quanto os mais experientes podem volverá com as observações. O CP pode tratar
resistir a abrir as portas da sua sala de aula disso individualmente com cada professor ou
para essa finalidade, por isso ela precisa ser combinar com eles que os documentos serão
discutidos durante a formação permanente. sam ser registrados por escrito, tanto para dar
devolutivas quanto para o próprio planejamen-
4) Planejamento da formação to do CP. Assim, cabe a ele organizar o portfólio
da formação, bem como o de cada professor,
O CP vai elaborar e rever periodicamente o pro- pois isso o ajuda no acompanhamento da for-
jeto de formação e montar as pautas de cada mação continuada.
reunião. Em geral, para essa tarefa, é necessá-
rio estudar e pesquisar referências bibliográfi- 8) Reunião com alunos e professores
cas e videográficas.
Cabe também ao CP observar e avaliar os alu-
5) Organização do acervo nos, sempre em parceria com os professores, a
fim de planejar o apoio pedagógico necessário
O projeto político pedagógico, os planos anu- ou mesmo comunicar aos estudantes os as-
ais dos cursos, os projetos e as sequências di- pectos em que precisam melhorar.
dáticas, os portfólios e as avaliações, entre ou-
tros, são documentos de trabalho para o CP. Além desses momentos garantidos na rotina
Portanto, devem estar sempre em ordem para semanal, é preciso assegurar um momento de
serem consultados e servirem para a monta- formação para o CP, que pode ser organizado e
gem do acervo e da memória pedagógica da encaminhado pela Secretaria de Educação lo- 17
instituição. cal ou realizado por um colega ou supervisor
mais experiente. Afinal, o CP também precisa
6) Planejamento e estudo das práti- fazer parte de um coletivo que esteja constan-
cas formativas temente refletindo sobre o conhecimento di-
dático e o da formação.
Estudar, investigar e planejar práticas formati-
vas, a fim de atingir os objetivos do projeto de Como organizar o tempo?
formação, são procedimentos que demandam
tempo. O CP precisa ver os vídeos que preten- Importante lembrar que não há uma rotina
de tematizar, aprofundar seus conhecimentos fixa predeterminada. A organização do tempo
sobre as estratégias a serem usadas e o conhe- deve ser pensada de acordo com as especifici-
cimento didático específico para ajudar os pro- dades e os objetivos do trabalho de cada CP e o
fessores a compreenderem melhor o objeto de projeto político pedagógico da escola.
ensino e a maneira de ensinar.
REFERÊNCIAS
7) Produção de registros
AUGUSTO, Silvana. Desafios do coordenador
Relatórios das observações de sala de aula e pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n. 192,
das análises dos planos dos professores preci- maio 2006. Disponível em: http://revistaescola.
abril.com.br/edicoes/0192/aberto/mt_133398. NEMIROVSKY, Myriam. O ensino da linguagem
shtml. escrita. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 67-69.

AUGUSTO, Silvana. Encontros de supervisão: o NÓVOA, António. Professores imagens do futuro


que o coordenador pode fazer para ajudar os presente. Lisboa: Educa, 2009. p. 66.
professores. Revista Avisa lá, nº 10, abril/2002.
Coluna: Reflexões do formador. Pesquisa: O perfil do coordenador pedagógico;
realizada pela Fundação Carlos Chagas, com
Caminhos do Direito de Aprender: Boas Práti- apoio do Itaú BBA, do Instituto Unibanco e da
cas de 26 Municípios que Melhoraram a Quali- Fundação Itaú Social. 2010. Foram pesquisados
dade da Educação/Coordenação UNICEF. Brasí- 400 coordenadores em 13 capitais brasileiras.
lia, DF: UNICEF, 2010.
PLACCO, Vera e ALMEIDA, Laurinda Ramalho
Como fazer observação na sala de aula. Revista (orgs.). O coordenador pedagógico e o cotidiano
Nova Escola. Disponível em http://revistaesco- da escola. Loyola, 2003.
la.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-
pedagogico/como-fazer-observacao-sala-au- PERRENOUD, Philippe e THURLER Mônica
la-574428.shtml (orgs.). As competências para ensinar no sé-
culo XXI. In: Situação-problema: forma e recurso
18
CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. Coordenação de avaliação, desenvolvimento de competências
Pedagógica: Três Compromissos e uma Rotina. e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed,
Professora e pesquisadora do Instituto de Artes 2002.
da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Dis-
ponível em http://revistaescola.abril.com.br/ PERRENOUD, Philippe. Ensinar. Agir na urgên-
gestao-escolar/formacao-continu... cia, decidir na incerteza. Porto Alegre: Artmed,
2001.
LERNER. Delia. Ler na escola. O real, o possível e o
necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 31-38 SCHON, Donald. Educando o profissional reflexi-
e 103-117. vo. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Texto 3/PGM 3:
Uma rede colaborativa pela educação

Neurilene Martins Ribeiro1

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:


ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo, 19
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

João Cabral de Melo Neto

Redes colaborativas constituem-se em espa- A experiência colaborativa nos espaços es-


ços democráticos, de participação, de parce- colares implica a criação de condições po-
ria e de horizontalidade. Buscam fortalecer líticas, pedagógicas e didáticas que favore-
o coletivo, considerando a identidade e au- çam um trabalho cooperativo. Para isso, são
tonomia de seus componentes. Desse modo, necessários esforços conjuntos de todos os
trabalhar em rede é tornar observável o fio, atores educacionais, em prol do direito ina-
nem sempre visível, que conecta e inter-re- lienável de todos os estudantes de aprender
laciona pessoas, profissionais, escolas, mu- na escola. Para tanto, é preciso construir
nicípios, quando o objetivo é aprimorar a uma cadeia de formação e de responsabili-
qualidade da educação pública. dades, desde as Secretarias Municipais até

1 Doutoranda em Educação e Contemporaneidade. Formadora do ICEP – Instituto Chapada de Educação e


Pesquisa.
as escolas. Mas quais fios costuram essas Tal perspectiva atualiza sobremaneira a
redes? trilogia do desenvolvimento institucional,
profissional e pessoal apregoado por Nóvoa
CULTURA DA POSSIBILIDADE: É (1992), como ancoragem para as práticas de
POSSÍVEL MUDAR A ESCOLA PÚ-
formação de professores. Nesse cenário, o
BLICA?
eu pessoal e o profissional amalgamam-se
na biografização dos saberes docentes, no
A melhoria da qualidade da escola pública
marco de um projeto político pedagógico da
não é fruto de uma ação isolada, externa ou
escola.
pontual. Ao contrário, inscreve-se no pro-
jeto educativo da cidade, como conceitua
Evidencia-se, portanto, que um grupo cola-
Gadotti (2004), e pressupõe um conjunto de
borativo é também um contexto de apren-
ações interligadas e em diferentes dimen-
dizagem. Não há
sões, envolvendo
como promover
diversos sujeitos na A experiência colaborativa mudanças qualitati-
instituição escolar.
nos espaços escolares vas sozinho, assim
Entendemos, como
implica a criação de como não há como
Nogueira (2010), que 20
constituir um gru-
as “escolas inovado-
condições políticas,
po formativo sem o
ras não são apenas pedagógicas e didáticas
desenvolvimento de
organizações cuja que favoreçam um trabalho uma cultura de co-
cultura ‘dá uma cooperativo. operação, de apren-
oportunidade à mu-
dizagem e parceria.
dança’, mas aquelas
Segundo Carbonell
cuja mudança é, de certa forma, fonte de
(2002), alguns fatores são básicos para im-
identidade, fator de coesão, motor, modo
pulsionar a inovação: equipes docentes sóli-
de vida e não apenas uma resultante invo-
das e comunidade educativa receptiva; redes
luntária de ação coletiva. Uma das chaves
de intercâmbio e cooperação, assessores e
do êxito da inovação passa pela capacidade
colaboradores críticos e outros apoios ex-
de as organizações criarem dispositivos que
ternos; a proposta da inovação e a mudança
permitam aos atores pôr em rede as suas
dentro de um contexto territorial; o clima
competências profissionais e reconstruir o
ecológico e os rituais simbólicos; institu-
vínculo que deve existir entre as suas cren-
cionalização da inovação; vivência, reflexão
ças, seus ideais, suas práticas cotidianas e
e inovação. Assim, compreender o que sus-
as missões gerais do sistema educacional”.
tenta as práticas pedagógicas bem sucedi-
das implica reconhecer os diferentes atores pouco atua na formação de professores den-
e os papéis que desempenham na gestão da tro das escolas. Uma das razões é que o tem-
sala de aula e da escola, reinventadas como po destinado ao trabalho com os professo-
comunidades que aprendem2. res, muitas vezes, é substituído por tarefas
burocráticas e/ou demandas cotidianas da
ESCOLAS COMO REDES COLABO- escola como, por exemplo: organização de
RATIVAS DE APRENDIZAGEM horários, resoluções de questões legais e/ou
serviço de orientação educacional. Assim,
Assumimos como premissa que os profes- a falta de clareza do que pode ser a forma-
sores estão no centro de qualquer reforma ção permanente dentro da escola desloca o
educacional exitosa. Nada que valha a pena coordenador de sua função prioritária: pro-
acontecerá na escola à revelia do protago- mover o processo de formação dos profes-
nismo desse profissional. De toda sorte, é sores e se corresponsabilizar pela gestão das
preciso reconhecer a complexidade dessa aprendizagens dos alunos. Os coordenado-
trilha de autorias coletivas que visam a pe- res pedagógicos precisam ser formados para
quenas revoluções na escola. impulsionar, de maneira sistemática, a re-
flexão dos professores e, ao mesmo tempo,
Nas últimas décadas, a instituição escolar 21
catalisar um trabalho de formação na rede
como espaço de formação de professores
de ensino.
tem sido centro do debate, bem como o en-
tendimento dessa formação como uma im- Por sua vez, há equívocos na compreensão
portante ferramenta para a refundação da da função do diretor escolar, muitas vezes
escola, ainda que com tradução parcial e de- identificado com um “administrador de em-
sigual nas realidades educacionais. A discus- presa”, ao sabor de um enfoque tecnicista,
são não avança na mesma medida quando o em lugar da representação de um gestor
assunto é a gestão da escola, entre saberes e educacional cujo mote é o direito de apren-
fazeres de coordenadores pedagógicos e di- der dos alunos. Diante disso, urge questionar
retores escolares. esse pressuposto que dicotomiza a dimen-
são administrativa e pedagógica: o diretor
A pesquisa sobre as atribuições do coordena-
cuida do administrativo e o coordenador, do
dor pedagógico realizada por Placco, Almei-
pedagógico. As consequências dessa visão
da e Souza (2011), mostra que, em muitos
bipartida podem ser vistas no progressivo
lugares do país, o coordenador pedagógico
esvaziamento de sentidos das ações admi-

2 Estudos sobre instituições aprendentes podem ser encontrados na obra de Peter Senge.
nistrativas e na fragilidade do trabalho pe- menta para fazer avançar processos educa-
dagógico. tivos:

Diferente disso, o CP e o DE podem formar Uma comunidade de aprendizagem é como


a dupla gestora a impulsionar a escola na uma comunidade ecológica, pois, tal como
direção da concretização das metas edu- ocorre em um ecossistema, a sinergia coo-
cacionais. Em última instância, é a gestão perativa dos membros de uma comunidade
pedagógica que atribui significado para as de aprendizagem prospera e muda em novas
demais ações realizadas nas dimensões ad- direções com capacidades que seriam im-
ministrativa e financeira, macroestratégias possíveis sem metas comuns e direção com-
para a consecução do Projeto Político Pe- partilhada de seus membros. À medida que
dagógico da escola. É fundamental colocar essa comunidade muda e cresce, os mem-
o foco na redefinição de papéis e funções bros da comunidade beneficiam-se de ma-
desses atores, tendo neiras incontáveis e
em vista concretizar geralmente estimu-
Destacamos que, no
o lugar do CP como lantes (YUS, 2003).
âmbito municipal, as
formador de profes-
sores, articulador de
instituições escolares não Tal perspectiva evi- 22
redes de aprendiza- podem ser vistas como dencia que, seja pe-
gem na escola, e (re) células isoladas, mas las singularidades,
fundar a imagem do como componentes de seja pelas similitu-
diretor escolar como des, intercâmbios
um sistema complexo e
gestor de institui- que fazem entrela-
multifacetado.
ções centradas na çar territórios, sujei-
aprendizagem. tos e saberes consti-
tuem-se em férteis
Destacamos que, no âmbito municipal, as dispositivos de formação e autoformação
instituições escolares não podem ser vistas profissional. A sustentação dessa rede edu-
como células isoladas, mas como compo- cadora convoca a atuação de educadores
nentes de um sistema complexo e multifa- formadores de formadores e a realização de
cetado. Esse sistema forja uma rede edu- ações estratégicas de fomento ao trabalho
cacional “furta-cor” com espaços, tempos, colaborativo, a exemplo dos seminários di-
sujeitos e saberes sociais e históricos. Neste dáticos e avaliativos escolares e municipais,
contexto, é oportuno guardar o conceito de bem como dos fóruns de educação.
comunidade de aprendizagem como ferra-
É nesse contexto que destacamos a impor- 3. Elaborar, implementar e acompanhar, em
tância das equipes técnicas municipais, com parceria com o coletivo dos educadores, o
a atuação do diretor pedagógico e de super- calendário da Educação no município e as
visores técnicos. São eles que têm a função diretrizes curriculares da rede municipal
de realizar a formação dos diretores esco- de ensino, em consonância com o Plano de
lares e coordenadores pedagógicos na rede Educação Municipal. 4. Apoiar a elaboração
municipal, assegurando-lhes amparo políti- dos projetos pedagógicos das escolas, para
co e técnico, e evitando, assim, que atuem que promovam a articulação entre os ciclos
de forma isolada nas escolas, sem o apoio de aprendizagem por meio dos critérios de
e as condições necessárias para realizarem continuidade e de diversidade, tendo em vis-
um bom trabalho de formação. Para tanto, ta a formação dos alunos. 5. Acompanhar
são necessários dispositivos de formação e continuamente a rede municipal de educa-
autoformação, visando à reconstrução das ção, tendo em vista o levantamento, siste-
escolas como espaço de desenvolvimento matização e publicação de dados da educa-
da profissão docente e de práticas pedagó- ção municipal sobre: as práticas de ensino,
gicas bem sucedidas. as aprendizagens dos alunos, as práticas de
formação, a estrutura e funcionamento da
A sustentação de tais ações colaborativas rede e os resultados de avaliações nacionais. 23
na gestão da educação municipal decorre 6. Dialogar com a Secretária de Educação
da implantação de rotinas profissionais que acerca das condições estruturais, adminis-
viabilizem cotidianamente a consecução da trativas e pedagógicas necessárias para a
escola centrada na aprendizagem. Destaca- atuação, valorização e profissionalização
mos, a seguir, um bom decálogo acerca das dos educadores. 7. Fomentar ações, progra-
práticas profissionais de equipes técnicas mas e projetos municipais em prol da alfa-
para inspirar os tempos e movimentos des- betização; com ênfase no fomento à leitura
se trabalho em/na rede: para a comunidade discente, docente e pais.
8. Favorecer a integração entre as escolas
1. Garantir e fortalecer as práticas de forma- municipais da rede pública e a comunida-
ção continuada no município para coorde- de. 9. Realizar a formação continuada dos
nadores pedagógicos, diretores escolares e diretores escolares e coordenadores peda-
professores. 2. Elaborar o plano plurianual gógicos, norteada pelo plano de formação e
e anual de formação, explicitando objetivos, pelas metas educacionais do município. 10.
metas e meios de consecução, a curto, mé- Acompanhar o trabalho dos diretores esco-
dio e longo prazo, tendo em vista a cons- lares, coresponsabilizando-se pela gestão
trução da escola de qualidade para todos. das escolas da rede municipal (ICEP, Plano
de formação de equipes técnicas munici- Acesso em 10/11/2011.
pais, 2011).
ICEP – Instituto Chapada de Educação e Pes-
Essa é a trama do trabalho das equipes téc- quisa. Plano de formação de equipes técni-
nicas, que visa ampliar a corresponsabili- cas municipais, 2011. 21 p.
dade de todos os educadores pela qualida-
de da escola. Esse parece ser o movimento YUS, R. As comunidades de aprendizagem
que, progressivamente, poderá fomentar na perspectiva holística. Revista Pátio, Ano
a autoria de cada município na gestão dos VI, n. 24, Comunidades de Aprendizagem,
próprios projetos pedagógicos, autonomia nov. de 2002 a jan. de 2003.
tão necessária às práticas emancipatórias
na educação brasileira. Como diz o ditado: NOGUEIRA, Rosa Helena de Pernambuco.
“é preciso uma aldeia inteira para educar Escolas diferentes e suas práticas inovadoras:
uma criança”, pois um ‘galo sozinho não um olhar interpretativo. Tese de doutora-
tece uma manhã’, como convoca o poeta mento. Universidade de Lisboa, Faculdade
João Cabral de Melo Neto. É preciso valori- de Educação, 2011.
zar o que de melhor tem a ação coletiva, a
complementaridade dos saberes, e tornar a NÓVOA, A. Formação de professores e pro- 24
cooperação, cada vez mais, um valor profis- fissão docente. In: Os professores e a sua for-

sional. mação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. p. 13 a 33.

PLACCO, V. M. N. de S.; ALMEIDA, L. R.; SOU-

REFERÊNCIAS ZA, V. L. T. A Formação de professores: in-


tenções, tensões e contradições. Relatório
CARBONEL J. A aventura de inovar a mudan- final. São Paulo: Fundação Victor Civita e
ça na escola. Coleção Inovação pedagógica. Fundação Carlos Chagas, 2011.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
SENGE, Peter M. A quinta disciplina. São Pau-
GADOTI, M. et alli. Cidade educadora: prin- lo: Editora Best Seller, 1990.
cípios e experiências, São Paulo: Cortez/IPF,
2004. TORRES, R. M. Comunidade de aprendizagem:
a educação em função do desenvolvimento
GADOTTI, M. A escola na cidade que educa. local e da aprendizagem. Instituto Fronesis.
http://www.scribd.com/doc/7017062/A-Es- www.fronesis.org. Acesso em 20/02/2012..
cola-Na-Cidade-Que-Educa-Moacir-Gadotti.
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica

TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO


Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Acompanhamento Pedagógico
Soraia Bruno

Coordenação de Utilização e Avaliação


Mônica Mufarrej
Fernanda Braga

Copidesque e Revisão
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Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil 25
Gerência de Criação e Produção de Arte

Consultora especialmente convidada


Cybele Amado

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Março/Abril 2012

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