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UNIDADE 3

O educador da EJA

Aula 1 A formação docente


Nesta aula, iremos verificar como tornar-se professor de EJA. Muitos educadores
desejam saber o que fazer para lecionar na EJA, se é preciso ter um diploma ou uma
formação específica.

E você? Quer saber qual é a formação exigida para ser professor de EJA?
A princípio, os requisitos exigidos para lecionar nessa modalidade são os mesmos
exigidos pelas escolas comuns. Porém, em relação à qualidade, o professor que trabalha
com EJA, em geral, não tem formação adequada para atuar nessa modalidade de ensino
e também não tem recebido atenção necessária nos cursos de formação de professores.
Vamos verificar o porquê?
Primeiramente, é necessário destacar que uma turma de EJA tem suas especificidades.

Nesse contexto, os educadores da EJA representam um importante elemento de


permanência desses alunos, pois, com o compromisso e respeito a essa pluralidade e
uma formação continuada, eles vão de encontro às especificidades de cada educando
nessa modalidade de ensino.
Muito se fala a respeito do impacto da formação do professor na qualidade de seu
trabalho e consequente resultado dos alunos. Porém, em relação à formação dos
professores de EJA, nem todos os cursos de pedagogia possuem em seu currículo essa
modalidade de ensino. Também sabemos que, em nossa realidade, basta saber ler e
escrever para poder alfabetizar adultos. Nesse contexto, é necessária uma formação
inicial específica, atrelada a um trabalho de formação continuada.
Os cursos de graduação para formação de professores, sejam eles em pedagogia,
licenciaturas e até mesmo pós-graduações, são atingidos por questionamentos quanto a
seus currículos para uma efetiva aprendizagem. Em relação ao EJA, a formação dos
professores não tem recebido a atenção necessária. De acordo com uma pesquisa da
Fundação Vitor Civita – FVC, em 2013, essa etapa é abordada em apenas 1,5% do
currículo.
Mesmo quando o assunto é abordado nos cursos de formação de professores, podemos
questionar a sua qualidade para a atuação na EJA, pois, além da pouca contribuição das
universidades com a formação para o trabalho docente, são poucos os livros que
oferecem subsídios para esse conhecimento.
Para pensar:
Em sua formação acadêmica, o professor adquire a formação técnica, mas, além dela,
ele precisa buscar conhecimentos para conseguir conduzir o processo de ensino dentro
das exigências da atual “sociedade do conhecimento”.

Nessa perspectiva, quais elementos devem fundamentar a formação do docente para


garantir uma prática docente?
Petrosino (2014) nos diz que é preciso investir na formação e valorização do educador
de EJA para qualificar seu trabalho e, consequentemente, seus resultados na efetividade
da aprendizagem dos alunos.
E, para isso, é preciso conhecer seus alunos, suas necessidades, compreender como
aprendem e entender as causas de sua evasão ou de sua não entrada no sistema regular
de ensino. Portanto, há de se ter claro o que diferencia a educação de crianças e a de
adultos, assim como o papel do professor diante dos dois grupos, além de conhecer os
princípios andragógicos, para melhor atender os sujeitos dessa modalidade.
Fazem parte da formação do professor os momentos dentro da escola em que todos se
unem em prol do planejamento coletivo e da avaliação do processo pedagógico, com o
objetivo de discutir suas escolhas e compreender de forma mais ampla as suas ações
didáticas e as de outros.

Dessa forma, o planejamento permite a explicitação da didática necessária articulada


com os saberes adquiridos na prática, pois a prática vivenciada e compartilhada entre
todos os educadores auxilia a empreender e a transferir o apreendido para outras
situações de aprendizagem.
Você sabia?
A Resolução nº 1, de 5 de julho de 2000, do Conselho Nacional de Educação – CNE e
da Câmara de Educação Básica – CEB, estabelece as diretrizes curriculares nacionais
para a EJA e declara:
Art. 17. A formação inicial e continuada de profissionais para a Educação de Jovens e
Adultos terá como referência as diretrizes curriculares nacionais para o ensino
fundamental e para o ensino médio e as diretrizes curriculares nacionais para a formação
de professores, apoiada em:
I. Ambiente institucional com organização adequada à proposta pedagógica.
II. Investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando oferecer soluções
teoricamente fundamentadas e socialmente contextualizadas.
III. Desenvolvimento de práticas educativas que correlacionem teoria e prática.
IV. Utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens apropriados às
situações específicas de aprendizagem.
Com vistas a atender às diretrizes para a EJA, é necessário cada vez mais que o
professor procure ampliar suas habilidades e competências, com o intuito de
desenvolver uma boa prática pedagógica.
Em se tratando de um professor da EJA, podemos considerar que o processo de
aprendizagem irá exigir uma maior interação, compreensão e receptividade às
expectativas dos alunos, além de algumas vezes exigir administração de conflitos e a
elevação da autoestima dos alunos dessa modalidade de ensino. Nesse sentido, para o
exercício da profissão, é necessário estar preparado para lidar e atender a essas
necessidades, para, assim, obter êxito.

Você sabia?
O educador de EJA, além das escolas, também pode atuar em turmas organizadas por
ONGs, universidades, centros comunitários, associações religiosas e em iniciativas de
educação popular.

O que é necessário desenvolver para que tenhamos êxito em nossas atividades?


Precisamos desenvolver habilidades que permitam aprimorar nossas ações pedagógicas,
tais como boa comunicação, relacionamento interpessoal e liderança. Isso possibilita o
desenvolvimento de um fazer pedagógico coerente com as necessidades desses
educandos.
Trabalhar com jovens e adultos requer que o professor esteja preparado para lidar com
pressões internas por meio de uma autoavaliação em relação a suas práticas
desenvolvidas em sala de aula.
Outra exigência ao educador de EJA é relativa à organização e ao planejamento dos
conteúdos, pois estes devem ser fundamentados na capacidade de tomar decisões,
visando atender à complexidade do processo educacional.
E os saberes indispensáveis à prática de alfabetizador?
Moura (1999, p. 80 apud Souza, 2012, p. 141), a partir das reflexões freireanas, destaca
três campos de conhecimento necessários ao alfabetizador de adultos:
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Você observou como são inúmeros os saberes e as atitudes do professor de EJA?


É importante destacar que esses conhecimentos e atitudes propiciam uma concepção
dialógica de educação na EJA e, dessa forma, permitem que seus alunos caminhem
superando as diferentes formas de exclusão que ainda fazem parte de nossas relações
sociais.

AULA 2
Aula 2 O professor da EJA
Tomando como referência que o aluno vê o professor como um modelo a seguir, então o
perfil do professor da EJA é muito relevante para o sucesso dessa modalidade de ensino.

Vamos pensar junto a respeito do perfil e papel do professor de EJA?


O trabalho do educador de EJA é, acima de tudo, um desafio, e o seu está em
compreender o aluno e sua realidade, buscando desenvolvê-lo pessoalmente e
profissionalmente, conscientizando os alunos de que a EJA é uma educação capaz de
ajudar a mudar suas vidas.
Nessa perspectiva, ele precisa ter consciência de seu papel e, para isso, deve, entre
outras coisas, questionar-se, rever conceitos e buscar dar o melhor de si para os seus
alunos.
Portanto, o professor precisa refletir como poderá auxiliar no desenvolvimento de seu
aluno e dominar técnicas e metodologias que auxiliem seu educando a entender que, por
meio do conhecimento adquirido na escola, ele pode melhorar sua vida e a dos seus.
Seu papel se constitui como um agente de transformação, uma vez que incentiva seus
alunos na busca do conhecimento.

Freire (1996), em seu livro Pedagogia da Autonomia, convida-nos a refletir sobre a


atuação do professor e os conhecimentos e habilidades necessários para o exercício
dessa prática:
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos [...], discutir com os alunos a razão
de ser de alguns desses saberes e relação com o ensino dos conteúdos [...]. Ensinar
exige disponibilidade para o diálogo [...] Ensinar exige o reconhecimento e a
assunção da identidade cultural [...]. Ensinar exige a apreensão da realidade [...],
transformar a realidade para nela intervir, recriando-a [...]. Ensinar exige segurança,
competência profissional e generosidade [...]. O fundamental no aprendizado do
conteúdo e a construção da responsabilidade, liberdade que se assume.
(LEMOS, 1999, p. 20 apud FREIRE, 1996, p. 7-8)
Para conhecer mais sobre a obra de Freire, leia:
 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).
Como educador, essa é uma leitura imprescindível!

Souza (2012), utilizando-se das reflexões de Freire, enumerou alguns saberes


necessários ao educador de EJA:
Assumir-se como profissional libertador

Ter um papel diretivo no processo educativo

Colocar-se em uma posição de quem busca superar-se constantemente, em uma atitude


prática

Fazer do ato educativo um ato de conhecimento

Colocar-se em constante processo de formação (formação permanente)

Trabalhar com a indissociabilidade entre a teoria e a prática mediante reflexão crítica


sobre a prática

Respeitar o educando e a si próprio como sujeitos do conhecimento

DESCRIÇÃO NO CADERNO

Podemos considerar que o perfil do educador de EJA perpassa pelos conhecimentos


apresentados e alguns comportamentos que garantam um processo democrático dessa
modalidade de ensino.
O educador deve atuar com esses jovens e adolescentes respeitando suas
individualidades, sem arbitrariedades e preconceitos, acreditando em seu potencial e
evolução, por meio de um processo de aprendizagem prazeroso e participativo.
E o professor alfabetizador de uma turma de jovens e adultos?
Ele necessita possuir algumas características especiais?

Abaixo, algumas qualidades essenciais a esse profissional, segundo o Ministério da


Educação – MEC:

O perfil dos educadores de EJA é construído ao longo de sua trajetória como professor e
se constitui pela demanda e pelo desafio de consolidar a construção do conhecimento
com atitudes e posturas de um mediador que utiliza dos melhores meios e recursos para
atingir seus objetivos.

Dessa forma, o perfil desse profissional não é um perfil constituído, mas está para ser
construído. Segundo Arroyo (2006, p. 17) “o perfil do educador de jovens e adultos e
sua formação encontra-se ainda em construção”.

Podemos concluir que, para trabalhar com a EJA, o educador precisa encarar com
seriedade seu trabalho, respeitando seus alunos em sua diversidade e considerando seus
contextos cultural, socioeconômico e étnico e suas experiências profissionais.
AULA 3

Aula 3 Desafios da prática docente para a EJA


As constantes mudanças nos cenários econômico, político, social, tecnológico e cultural
têm pressionado a adequação da escola às exigências do mundo do trabalho. Por
consequência, essas mudanças levam a alterações nas práticas docentes.

Vamos, então, desvendar os desafios dessa prática?


De um modo geral, alguns dos desafios encontrados no nosso sistema educacional
envolvem os problemas socioeconômicos, a falta de qualificação dos profissionais e
metodologias inadequadas. Com relação à EJA, além dessas questões, sabemos que ela
tem demandas próprias e necessita de recursos para garantir uma educação de
qualidade. Nesse contexto, estão o local onde essas aulas acontecem, os materiais
utilizados e os professores.
Além do que, o professor de EJA, como qualquer docente, sofreu mudanças no campo
do conhecimento, do relacionamento com o aluno e da avaliação nos diversos
momentos históricos em nosso país.
Atualmente, é exigido que o educador tenha uma sólida formação científica, técnica e
política, além de uma prática pedagógica de qualidade, crítica e consciente, que respeite
as diferenças e individualidades do aluno e que leve à transformação social.
Nesse cenário, é cada vez maior a relevância de o educador se preo¬cupar com a
formação do aluno, e, para isso, ele deve estar aberto às mudanças, para desenvolver um
trabalho com dedicação e comprometimento, voltado para a aprendizagem e a formação
do cidadão.
Portanto, a prática educativa para a EJA deve envolver uma análise sobre como agimos
e transformamos o mundo, dentro de uma perspectiva de educação emancipatória. E,
para alcançar resultados satisfatórios, é necessária, para quem escolhe essa área de
atuação profissional, uma série de comportamentos e ações que extrapolam a técnica,
conforme já vimos na aula anterior.

Nas salas de EJA, deve ocorrer um exercício de troca entre as pessoas, por meio de
tentativas de complementaridade de um com o outro, em que o compromisso é com o
coletivo, e o desafio do educador é integrar a técnica à singularidade de cada grupo.

No contexto atual, não podemos falar de EJA sem considerar os contextos social,
familiar e profissional dos alunos em suas práticas.
Dias (2015, p. 197) nos diz que o educador se constitui pela habilidade de se apropriar
de sua condição precária e fazer dela uma fonte de criação em seu fazer pedagógico.
Porém, segundo o autor, “são poucos os educadores que conseguem perceber a potência
da incerteza, em um modo prático de conseguir retirar dela a energia de criação”.
Outro desafio apontado pelo autor é sobre a convicção dos educadores sobre o seu
papel, sobre o exercício de um modo de ser autoridade. Nesse contexto, a crise de
autoridade está vinculada à perda de credibilidade.
Na perspectiva de que o trabalho docente pode tanto garantir como contribuir para o
fracasso escolar, é necessário superar práticas de abordagem de conteúdos e métodos de
ensino infantilizados e vazios. O adulto não pode ser tratado como criança, e as ações
pedagógicas devem ser baseadas na andragogia.

Maria Clara Di Pierro, enfatiza os desafios para a formação de professores de


EJA:
“Primeiramente, é preciso superar a ideia de que basta boa vontade para ensinar jovens,
adultos e idosos, concepção esta que se difundiu junto com as práticas de voluntariado
disseminadas pelas campanhas de alfabetização (que até o presente não exigem
habilitação para a docência)”
Veja a reportagem completa no link: Anped.

Um dos desafios com relação à alfabetização é que ela não vise somente à capacitação
do aluno para o mercado de trabalho, como vimos em nossos estudos. É necessária uma
formação para o exercício pleno da cidadania, em que o trabalho é apenas um tipo de
formação.
Precisamos de uma política nacional de alfabetização que amplie a população ainda
excluída da escolarização e que esteja vinculada a um projeto político-pedagógico da
escola, de forma a atender aos interesses populares e superar as distorções sociais que
produzem e mantém o analfabetismo.
O professor Timothy Ireland, em entrevista sobre os desafios da EJA além da
alfabetização, respondeu de acordo com uma perspectiva mais ampla de formação do
sujeito da EJA à questão: o que essa aprendizagem contínua contempla?
O processo tem três dimensões:
ESTA NO CADERNO

Além dessas, há outra dimensão de aprendizagem muito pertinente nesse momento: a


relação das pessoas com o meio ambiente. Todos nós temos a necessidade de nos
reeducarmos no que se refere a essa questão. Precisamos praticar novos paradigmas de
sustentabilidade e novos hábitos de consumo.

Gadotti (1979) destacou a importância de a EJA ser uma educação multicultural, que
desenvolva os conhecimentos trazidos pelos alunos, integrando as diversidades de
culturas presentes na instituição escolar, fazendo com que o educador tenha o
conhecimento adequado para o desenvolvimento de projetos relacionados a uma
educação de qualidade.
Por isso, a proposta metodológica do educador de EJA deve envolver atividades para a
compreensão e a produção de textos orais e escritos e, consequente, reflexão da língua,
utilizando, para tal, a história de vida dos alunos de forma a alfabetizar para o
letramento.

O cenário da EJA requer o resgate dos princípios de Freire, que nega a concepção
bancária de ensino, na qual a escola trabalha somente conteúdos, considerando a escola
como um espaço crítico, criativo e de esperança, que parte das necessidades dos sujeitos
e da práxis social.

Esperança, na concepção de Freire (2006), possui o significado de uma necessidade


ontológica do ser humano.

Devido ao cenário no qual essa modalidade está construída, podemos afirmar que ainda
se faz necessário ampliar as discussões sobre essa temática, a fim de aprofundar as
diferentes concepções e entendimentos sobre a EJA, ressaltando os aspectos do
currículo, as metodologias, a formação continuada dos docentes e as políticas públicas
para essa modalidade de ensino.

Costa (2013, p. 101) enfatiza que “não é esperança na pura espera, é luta coletiva e ação
articulada dos sujeitos históricos para transformar a ordem vigente”.
O educador de EJA deve ajudar os alunos a superar as frustrações trazidas da escola
regular e a resgatar sua autoestima, acabando com o paradigma compensatório dessa
modalidade de ensino.

Encerramento
Você sabe qual a formação necessária para ser um professor de EJA? Como ocorre a
formação de professores do EJA?

O que precisa saber hoje, o professor de EJA?

Qual o papel da escola frente às diferenças do ensino regular para o ensino de EJA?

DESCRIÇÃO NO CADERNO

Resumo da Unidade

Vimos, nesta unidade, que, mediante os inúmeros desafios pertinentes ao educador de


EJA, ele deve estar preparado tecnicamente e psicologicamente para atender às
especificidades dessa modalidade de ensino.
E a primeira condição de sucesso vem de sua formação adquirida em sua graduação,
depois, ao longo da vida, por meio da prática e da troca com seus alunos e colegas,
assim como por sua formação continuada, com o desenvolvimento de habilidades,
novos conhecimentos e comportamentos.
Em seguida, analisamos que, por melhor e permanente que seja sua formação, o
professor precisa ter consciência de seu papel para atender às expectativas e
necessidades de seus alunos.
E, por fim, identificamos que ainda são muitos os desafios do professor e da escola na
EJA.
Ao final dos nossos estudos, podemos concluir que ainda precisamos de uma ação mais
efetiva de nossos governantes, por meio de políticas públicas que atendam às demandas
desse público e acabem de vez com o modelo compensatório de educação nessa
modalidade de ensino.

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