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Alpha-FACEC Pós-
Pós-Graduação em Canto e Expressão
Profa. Juliana D.G. Christmann

TEORIA (OU DOUTRINA) DOS AFETOS

• Sistema estético-musical desenvolvido no Barroco que procura expressar estados de


ânimo a partir de diferentes tipos de elementos e materiais musicais.
• Giulio Caccini, Le nuove musiche (1602)
• affectus (lat.) deriva do termo adficere (afetar, influenciar)
• /“pathos” (grego)
• Antiguidade: para os gregos um determinado modo musical poderia influenciar os
homens de diferentes maneiras, podendo a música servir de forma ético-moral. Por
exemplo, o modo Dórico poderia ser usado graças a sua serenidade, o Frígio por suas
características valentes e guerreiras e já o modo Lídio era desaconselhável por possuir
características afeminadas (GATTI, 1997, pag.16).
• Platão: prazer, sofrimento, desejo e temor;
• Aristóteles: 11 tipos derivados de prazer e sofrimento: desejo, ira, temor, coragem,
inveja, alegria, amor, ódio, saudade, ciúme e compaixão. Esta visão está proposta na
obra Retórica de Aristóteles. Segundo ele, a música possuía qualidade de transmitir
impressões e criar diversos estados de ânimo.
• Renascimento: humanismo, o retorno da cultura greco-romana e da disseminação
dos conhecimentos.

Música reservata

“Adequar a música ao sentido das palavras, exprimir a força de cada emoção diferente, tornar
as coisas do texto tão vivas que julgamos telas deveras diante dos olhos […]” (Samuel
Quickellberg, cit. in GROUT & PALISCA, 2007, pag.209)

• Compositores passaram a ter uma preocupação em como representar o texto na


música.
• Provavelmente restringia-se à casa de um determinado mecenas, interessados em
inovações.
• Inclusão de cromatismos, ornamentos, variedade modal e contrastes rítmicos.
• A Teoria dos Afetos, no Período Barroco, foi possivelmente uma evolução da música
reservata.

Apesar de buscarem o mesmo objetivo, a Teoria dos Afetos difere da Música reservata no
método de aplicação:

• Renascença: “a harmonia é mestre da palavra” e no


• Barroco: “a palavra é mestre da harmonia” (Monteverdi). No Barroco, a representação
dos afetos evidencia um vocabulário mais rico do que aquele que era feito na música
reservata.
• Século XVII: analogia entre música e retórica.

Pensadores franceses:

• René Descartes (1596-1650) publica em 1649 seu tratado As Paixões da Alma


Holanda e na França, dividida em 3 partes:
1. Paixões em geral e de toda a natureza do homem.
2. Seis paixões primárias, o número e a ordem das paixões.
3. Paixões específicas
“As percepções que se referem somente à alma, aquelas cujos efeitos se sentem como na
alma mesma e de que não se conhece comumente nenhuma causa próxima à qual
possamos relacioná-las: tais são os sentimentos de alegria, de cólera e outros
semelhantes, que são às vezes excitados em nós pelos objetos que movem nossos nervos, e
outras vezes também por outras causas.“ (Descartes, art.25)

• Na França, os afetos e as tonalidades foram também discutidos por Marc Antonie


Chapentier, em Règles de Composition, por Jean Phillipe Rameau (1683-1764), em
seu Traité de I’Harmonie de 1772.

Pensadores alemães:

• Teóricos alemães foram os pioneiros em classificar e sistematizar os recursos da


Teoria dos Afetos.
• Primeiros trabalhos por Nucius, Cruger, Schonsleder e Herbst, e depois elaborados
com Bernhard, finalmente se cristalizando de forma definitiva com Vogot, Mattheson,
e Scheibe

• Johan Mattheson: Der Vollkommene Capellmeister (1739)

“A respeito da doutrina dos temperamentos e emoções, especialmente Descartes tem que ser
lido (o tratado das paixões da alma ) por que ele fez muito em música. Esta obra serve-nos
perfeitamente, ensinando a distinguir bem entre as sensações do ouvinte e como as fontes do
som o afetam.” (HARRIS,1993, Dissertation Services)

• Johan Mattheson (1681-1764) na aborda os afetos na música, com indicações


composicionais, enfatizando a necessidade do conhecimento dos afetos e as paixões
por parte dos compositores, especialmente de música instrumental.

• Joachin Quantz (1679- 1773): Versuch einer Aneisung die Flote Tranversiere zu
Spielen (1752) que apresenta elementos de técnica e estilo de execução para flauta,
podendo servir para música vocal e para outros instrumentos.
Ornamentação:
• Francesco Geminiani (ca.1687-1762) intitulado The art of playing on the violin, com
orientações especificas sobre ornamentos e afetos.

Tonalidades:
Tabela de afetos para tonalidades no Barroco, de acordo com Rousseau (1961, Charpentier (1692), Mattheson
(1713-19), Rameau (1722)

Figuras retórico-musicais:

• Renascimento: função descritiva, buscando equilíbrio entre ratio e sensus


(predomínio de ratio)
• Equilíbrio entre ratio e sensus foi afetado no Barroco
Enquanto o Renascimento buscava retratar uma percepção equilibrada dos afetos, o Barroco
queria despertar e mover o espírito das pessoas aos mais apaixonados extremos. A música devia
criar ativamente os afetos pretendidos, não refleti-los passivamente. Os compositores deviam
retratar e despertar os afetos no ouvinte. Ao affectus exprimere renascentista, o Barroco
adicionou objetivamente o affectus movere. Não bastava mais apenas expor diretamente o afeto
por meio da música: o ouvinte devia ser impelido ao drama da apresentação, ser afetado ele
próprio. O compositor barroco queria levar o ouvinte a um exaltado estado emocional. Agora o
alvo da composição torna-se o ouvinte e não mais o texto. (BARTEL, 1997, p. 32)
REFERÊNCIAS:

BUKOFZER,Manfred F. Music in the Baroque Era – From Montiverdi to Bach. w.w.Norton e


Company.Icn.New York 1947
DESCARTES, Rene. O tratado das Paixões da Alma,1649. Retirado dowww.4shared.com
FUBINI, Enrico. Estética da Música. Lisboa, edições 70, 2008
GATTI, Patrícia, A expressão dos afetos em peças para cravo de François Couperin (1668-1733).
Universidade Estadual de Campinas – Instituto de Artes.
GROUT, Donald V. e PALISCA, Claude V. História da música ocidental. Tradução: Ana Luiza Maria,
Lisboa, Gradiva,2007. Citação de Samuel Quickellberg, cit. in wolfgang Boetticher,Orlando di Lasso
,1,240.
HARNONCOURT, Nicolas. O discurso dos Sons – caminhos para uma nova compreensão musical.
Jorge Zahar editor LTDA, Rio de Janeiro, 1998.
MATTHESON, Johannes. Das Neu – eroffnet Orchester. Tradução: Lucia Carpena e Renati Sudhaus
(Nov./2000). Hamburgo,1713.
MATTHESON, Johannes. Der Vollkommene Capellmeiter. Tradução e comentário de Harriss
Ernest.EUA;UMI – Dissertation Services, Michigan,1993. UMT.
SALGADO, Rafael. doutrina dos afetos. Salgado.weebly.com/122436

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