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& AFINS
Ano 6 - Número 61 - Maio 2019
www.teclaseafins.com.br
André
Mehmari
O músico
sem fronteiras
E mais
Makima Trio e sua Combustão Global
CD versus pen drive
Thelonious Monk - o monge louco do piano
Os osciladores na síntese subtrativa
Tensão ao tocar
“Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque
Vida de músico: você está pronto?
& AFINS
É
Ano 6 - N° 61 - Maio 2019
muito difícil poduzir uma
Publisher revista que se propõe a
Nilton Corazza falar de todos os instrumen-
publisher@teclaseafins.com.br
tos de teclas, e, além disso,
Gerente Financeiro de todo o universo que os
Regina Sobral rodeia. Aceitamos o desafio
financeiro@teclaseafins.com.br
há cinco anos, pautados e
Editor e jornalista responsável balizados por mais de uma
Nilton Corazza (MTb 43.958)
década de experiência em
Colaboraram nesta edição: outras publicações similares.
Alex Saba, Andersen Ribeiro, Obviamente, não é possível
Eneias Bittencourt, Miguel Ratton,
Rosana Giosa e Wagner Cappia
abordar todos os assuntos em todas as edições e, vez
por outra, algo nos escapa. Mas tentamos oferecer um
Diagramação panorama bem abrangente desse mundo, falando de
Sergio Coletti
arte@teclaseafins.com.br acústicos e eletrônicos, populares e eruditos, intérpretes
e compositores, técnicas e habilidades. Nossos
Foto da capa
colaboradores, cada um dentro de sua especialidade,
Divulgação
buscam oferecer o máximo de informações sem se
Publicidade/anúncios restringirem a determinado assunto. E, em relação a
comercial@teclaseafins.com.br
gêneros e estilos, procuramos a variedade dentro do
Contato que se costuma chamar de música de qualidade. Nosso
contato@teclaseafins.com.br entrevistado da matéria de capa desta edição consegue,
Sugestões de pauta ao mesmo tempo, agradar gregos e troianos, ou, melhor
redacao@teclaseafins.com.br dizendo, quem se apega aos rótulos “popular” e “erudito”,
seja de que lado for. Alheio à discussões de gêneros
Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade musicais, André Mehmari produz música da mais alta
de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos
publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o qualidade, indiferente a estilos e, ao mesmo tempo,
material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se abraçando todos eles. Dos palcos dos clubes de jazz às
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.
salas de concertos, e das rodas de choro aos discos, o
músico prova que a linguagem musical é mais rica e mais
Desenvolvido por envolvente do que qualquer rótulo e que o sucesso pode
se traduzir de muitas formas, principalmente na entrega
de arte com valor. Para isso, fazemos nossa parte, portanto,
aproveite cada página de sua revista e colecione cada vez
mais conhecimento. Boa leitura!
ASSINE
por apenas R$ 89,90
por ano em até 12 x no cartão
E GANHE! um CD de áudio
SAGA BACH
Considerada uma das maiores intérpretes
da música de J. S. Bach, Angela Hewitt
continua sua saga de gravar e apresentar ao
redor do mundo toda a obra do compositor
alemão para teclado. Em março, a pianista
tocou e regeu dois concertos para
piano e orquestra de Bach com a Vienna
Tonkuenstler Orchestra na Musikverein,
em Viena, famosa sala de concertos
conhecida pela sua arquitetura acústica.
“Era tudo o que eu esperava e muito
mais”, disse a musicista. “Que sensação
fantástica finalmente estar naquele palco
histórico!”. Os próximos recitais incluem as
integrais das Toccatas, das Suítes Inglesas
e, obviamente, O Cravo Bem Temperado.
CALMA
A pianista Alicia Keys é mais uma artista a se curvar ao sucesso “Calma”, dos porto-riquenhos
Pedro Capó e Farruko, com direito a videoclipe gravado nas praias do país caribenho. “Eu
amo essa música”, afirmou a também cantora. “Estou muito animada de compartilhar o
remix de ‘Calma’”. Para os fãs, Alicia também gravou um making off.
SAUDADE
Formado pelos músicos Fernando Merlino
(Hammond, piano e arranjos), Zé Luis
Maia (baixo) e Kazuo Yoshida (bateria), o
Órgão Bossa Trio - com a participação de
Norihito Nagasawa nos violões de algumas
faixas - gravou 13 músicas de grandes
compositores para lançar Tambor Sessions
Apresenta: Órgão Bossa Trio pela gravadora
Deck. Yoshida viu o órgão Hammond
vintage presente no estúdio Tambor ao
produzir alguns registros de bossa nova
– gênero que o inspirou a tocar bateria
– para o mercado japonês. “Me lembrei
do grande organista Walter Wanderley.
Quase 40 anos atrás, eu tocava com ele no
Japão. Dessa lembrança, o projeto nasceu
naturalmente”, explicou o japonês. O CD
traz clássicos da música nacional tocados
pelo trio, como releituras de “Chega de
Saudade”, “Só Tinha de Ser Com Você” e
“Ela é Carioca”, entre outros. O trabalho já
está disponível nas plataformas digitais.
COLLAGE
A tecladista Lisa Coleman - que se
juntou à banda de Prince em 1980
para a turnê Dirty Mind e era membro
de sua banda de apoio Revolution -
acaba de lançar seu primeiro álbum
solo. Collage contém 11 improvisos de
piano instrumental, geralmente curtos.
“Toda vez que toco piano é pessoal,
emocional e um tanto misterioso”, disse
a tecladista. “Eu queria compartilhar
minha experiência e a exploração
disso com qualquer um que queira vir
comigo”. O trabalho já está disponível
nos principais serviços de streaming.
PARCERIA
como uma luva no meu trabalho com a
Rolls-Rock”, diz o músico. “Para o estilo da
banda, ele vai somar muito”.
COMBUSTÃO GLOBAL
Formado por Kiko Continentino (piano, Robertinho do Recife, tocou com vários
Rhodes, Hammond e teclados), Marcelo artistas nordestinos (Fagner, Elba, Geraldo
Maia (baixo) e Renato Massa (bateria e Azevedo, Zé Ramalho etc.) e atuou do pop-
percussão), o Makima Trio acaba de lançar rock ao jazz-fusion.
Combustão Global. Ampliando o arsenal O resultado da fusão dessas vivências
sonoro do primeiro álbum, Fronteiras, este e influências não poderia ser mais rico.
segundo trabalho do trio explora ainda Explorando os ritmos brasileiros, com a
mais as inúmeras e diferentes influências contemporaneidade do jazz e pitadas de
de seus integrantes. estilos vintage, o Makima Trio consegue
Mineiro de Belo Horizonte, Kiko Continentino, produzir música de qualidade ao reunir
que assina nove das dez faixas do álbum, doses sob medida de virtuosismo,
é pianista, arranjador e compositor (veja estruturas harmônicas surpreendentes e
matéria na edição 59 de Teclas & Afins) improvisos inspirados. Mais experimental
e, além de projetos solo, faz parte da e, talvez por isso mesmo, mais universal
banda de Milton Nascimento há 22 anos que o primeiro trabalho, o álbum traz
e do Azymuth. O baixista Marcelo Maia é novidades ao formato trio, como backings
brasiliense criado em Goiânia. Divide com nas vozes femininas de Lucynha Lima,
Continentino a composição de três faixas Fernanda Guedes e Djane Borba, Jorge
do CD e assina uma. O baterista carioca Continentino nos metais, participação
Renato “Massa” Calmon, “descoberto” por de Paulinho Guitarra e intervenções de
Quer aprender a
tocar blues?
CD com método digital + 61 pistas de áudio
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Mauricio Pedrosa
teclas & afins
www.teclaseafins.com.br
MAIO 2019 / 13
livre pensar POR Alex Saba
CD versus
pen drive
Outro dia, um amigo - que usa a música coletâneas, nenhuma é capaz de abranger
como terapia, tanto para ele quanto para um álbum conceitual.
seus clientes, e com três CDs lançados A ideia de um álbum que trata de um único
comercialmente - me ligou e disse que não conceito, não é nova e nem se restringe a
iria mais fazer CDs. Ele havia feito contato um estilo. Você a encontra dos clássicos ao
com uma empresa que gravaria pen drives popular. Nos clássicos, o conceito pode ser
com as músicas dele, que a venda de CDs mais amplo, como o de peças escritas para
estava ultrapassada e que ele mesmo estava quarteto, por exemplo. Uma sinfonia, por
se livrando da coleção de disquinhos dele, si só, já é um conceito inteiro e fechado
como fizera com os LPs. Há alguns anos, sobre um tema. E o conceitual foi para o
eu havia pensado nessa possibilidade, mas jazz, em que muitos músicos foram e são
a deixei de lado por alguns motivos que influenciados pelos clássicos, para o rock e
acreditei fortes o suficiente para descartar para o rock progressivo.
definitivamente a ideia. Vamos a eles! Mas vamos abrir um parêntese aqui: quando
o padrão do CD ou Compact Disc Digital
Álbum conceitual Audio surgiu, em 1980, sua duração era de 74
O primeiro motivo foi porque não penso minutos. Não 60. Nem mesmo 70 minutos.
em um álbum como uma coletânea de 74 minutos! E por culpa de um homem
músicas feitas ao longo do tempo. Existem surdo, que criou as mais impressionantes
os famosos “Best Of” para isso: você compra, composições musicais já feitas, dentre elas
ou comprava, os maiores sucessos de um a “Nona Sinfonia em Ré menor, Op. 125”,
artista. Mas, por melhores que sejam essas gigantesco e maravilhoso último trabalho
16 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
livre pensar
© Umberto Cofini @unsplash.com
de “Herr” Ludwig van Beethoven, nascido mais longa conhecida tem duração de 74
em Bonn, na Alemanha. minutos […] uma gravação em mono feita
No final dos anos 70, em 1979, Philips e durante a Bayreuther Festpiele em 1951
Sony começaram a trabalhar no primeiro e conduzida por Wilhelm Furtwängler”.
padrão de áudio de CD. A Philips queria Então, 60 minutos não aguentaria isso, e
um disco de 11,5 centímetros, ao passo ficou decidido que o ideal eram 74 minutos
que a Sony apostava num formato de 10. - 12 centímetros. Pelo menos é isso que
Ambos eram suficientes para acomodar algumas pessoas dizem.
os vinis da época, e o modelo da Sony era Outros dizem que o famoso maestro
capaz de armazenar 60 minutos de música austríaco Herbert Von Karajan teria pedido
em estéreo em 16 bits com frequência de para o formato suportar a “Nona Sinfonia”
44,056 Hz. Mas não era o bastante! Quem inteira. Karajan foi fundamental para tornar
disse isso foi Norio Ohga, furioso com o o formato conhecido entre os audiófilos, e
áudio da época. Ele era um cantor de ópera teria colocado essa condição em troca de
e, quando ouviu pela primeira vez um seu apoio. No entanto, de acordo com a
gravador de fitas da Sony, enviou à empresa Wikipedia, o chefe de engenharia da Philips,
uma carta criticando a qualidade do som. Kees Immink, disse que a escolha pelos 12
Recebeu uma oferta de emprego, e sua centímetros foi por conta da neutralidade
influência foi tão grande que ele chegou a do tamanho. Nem da Sony, nem da Philips.
ser presidente da Sony nos anos 80. Mas, Mas, prefiro acreditar que foi o alemão
naquela época, apenas supervisionava o maluco e o japonês nervoso que criaram
projeto e exigiu que o formato do CD fosse os 74 minutos...
capaz de tocar a “Nona Sinfonia” inteira. Como podem ver, o CD foi criado para
De acordo com a Philips, a “performance uma peça conceitual - a “Nona Sinfonia”
18 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
livre pensar
20 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
livre pensar
O velho roqueiro usava seus cabelos longos No fim das contas, venderam suas almas.
demais. E alguns deles têm carros esportes
Usava as bainhas da calça muito apertadas. E se encontram no clube de tênis.
Fora de moda até o fim, bebia cerveja Para beber no domingo - trabalhar na segunda-
excessivamente light. feira.
Cinto com fivela de caveira, sonhos de ontem. Eles jogaram fora seus sapatos de camurça azul
Um profeta do apocalipse de cafés de beira de
estrada. Agora estão velhos demais para o Rock’n’Roll e
Sem anunciar mudanças em suas costuras jovens demais para morrer.
duplas.
Em seu brilho de filhinho de papai do pós-guerra. Então o velho roqueiro traz para fora a sua
motocicleta
Agora ele está velho demais para o Rock’n’Roll, Para completar mil quilômetros antes de se
mas está jovem demais para morrer. aposentar
Na A1, perto de Scotch Corner como costumava
Uma vez ele teve uma Harley-Davidson e uma ser
Triumph Bonneville. E enquanto ele voa, lágrimas nos olhos,
E contava seus amigos em velas de motor suas palavras espalhadas pelo limpador de para-
queimadas e reza para que ele continue brisas ecoam o ato final
contando. e ele atinge a autoestrada a quase 120 sem
Mas ele é o último dos garotos subornadores de espaço para frear
sangue azul.
Todos os seus companheiros estão cumprindo E ele era velho demais para o Rock’n’Roll, mas ele
pena: era jovem demais para morrer.
Casado, com três filhos por aí pelo anel Não, você nunca é velho demais para o
rodoviário. Rock’n’Roll se é jovem demais para morrer.
O propagado fim do LP foi seguido do boom mostra que de fato, esses serviços afetaram
das vendas dos CDs e das decepções dos o mercado, mas por outro lado também
fãs, das capas ao áudio, havia alguma coisa servem para os clientes conhecerem
a reclamar. Para as grandes gravadoras, novos trabalhos antes de comprarem os
que depois do boom viram as vendas CDs. Especificamente em relação ao rock
despencarem com o surgimento do Napster, progressivo, o público é mais fiel e valoriza
da troca desenfreada de músicas online, o o produto musical como obra de arte e
LP tinha e tem a vantagem de não poder ser exige uma boa qualidade sonora, pelo
digitalizado em sua plenitude. Os chiados e desencanto com a baixa qualidade do áudio
os estalos, que eram o grande diferencial para dos arquivos baixados “gratuitamente” da
os CDs, acabaram perdendo a importância internet, e retornaram a adquirir CDs ou LPs.
e o LP está fazendo a sua volta, lentamente, Esse “gratuitamente” transcende os serviços
vindo “pelas beiradas”, influenciando novas de streaming. Refere-se aos sites ou blogs
gerações, “fora de moda até o fim”. “piratas”, onde é possível baixar de graça,
Mas, e quanto aos serviços de streaming? qualquer música e até álbuns completos
Pela propaganda oficial, é apenas isso o que em MP3. Mas, realmente a qualidade é
os jovens consomem em termos de música, lamentável. Como comparar o áudio de um
mas a percepção e experiência dos lojistas computador, notebook ou celular com o de
22 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
livre pensar
Alex Saba
Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com cinco discos solo e dois álbuns ao vivo,
um com o Hora do Rush e outro com o A&B Duo, com participação de Guilherme Brício, lançados no exterior pelo selo
Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses
programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista
Teclado e Áudio. www.alexsaba.com.br
André Mehmari
24 / maio 2019 teclas & afins
por nilton corazza
Sem fronteiras
Multi-instrumentista, mas
pianista por excelência.
Autodidata, com professores.
Compositor, arranjador,
produtor, erudito, popular,
jazzista, tudo isso e mais um
pouco. Esse é André Mehmari,
que refuta rótulos e faz música
com a mente e o coração abertos
teclas & afins maio 2019 / 25
materia de capa
© Divulgação
Conversamos com André Mehmari professora tocava uma vez a música para
no Estúdio Monteverdi, que o músico mim e eu tocava na sequência. Eu fingia
construiu em meio à Serra da Cantareira, que estava olhando a partitura, mas não lia
para conhecer mais de seu pensamento e nada. Isso foi em Ribeirão Preto, no interior.
tentar entender melhor sua música. Mas, a figura central foi mesmo minha mãe,
que é a figura musical da família, sempre
Você basicamente é autodidata, mas teve cantou, tocou violão, acordeon, piano...
professores. Como foi isso? Como foi sua Quando meu pai soube que ela estava
formação? grávida, deu de presente a ela um piano,
Nasci em 1977 e, no final dos anos 80, a que era seu sonho de vida, de modo que,
moda era menino estudar órgão e menina quando eu nasci, já havia um piano em
fazer balé. Como eu já tinha manifestado casa. E comecei a nascer no banquinho
talento musical, tinha ouvido absoluto, do piano: estourou a bolsa da minha mãe
tocava de brincadeira em casa, alguém quando ela estava tocando. Então, já
deve ter falado para minha família “põe o nasci estragado (risos). O que aconteceu
menino no curso de órgão”. E ali comecei é que eu tinha piano em casa e comecei
com 8 ou 9 anos, e fiz aquele método muito cedo a abrir, tocar, procurar coisas...
mexicano da Yamaha. Então, já saí pronto Colocava o “vinilzão”, ficava tocando junto
para o crime, para tocar nos bailes (risos). com o disco e fui adquirindo vocabulário.
Com 11 anos, eu já tocava em bailes. Eu Aí fiz o curso de órgão, até certo ponto,
tinha um ouvido muito esperto, então a e voltei para o piano. Comecei a compor
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© Divulgação
alimentando de inspiração. E aquilo mudou
para sempre minha vida. Parei com os bailes,
porque eu não dava mais conta de seguir,
e comecei a me relacionar com os músicos principalmente nessa área autodidata,
mais velhos da cidade que tocavam jazz, de tocar com disco, de ler uma partitura
música brasileira boa, Toninho Horta e orquestral e saber do que se trata, de, por
toda essa estética instrumental. Comecei a exemplo, imaginar um som, procurar no
compor. Compunha todo dia. Isso na época teclado e já saber que é aquele som. O ouvido
dos 13, 14, 15 anos. Eu tocava muito na absoluto catalisa o desenvolvimento do
única casa de jazz que havia em Ribeirão músico, de certa forma, por essa facilidade
Preto, chamada Café com Jazz. Depois do contato do mundo das ideias e do som.
disso, vim para São Paulo, estudar na USP, A ponte é mais rápida. Mas, por exemplo,
com 17 para 18 anos, no curso de piano para eu tocar um instrumento transpositor,
clássico. como a trompa ou a clarineta, é um inferno.
Então, tenho que pensar sempre em Dó.
Você logo demonstrou ter ouvido absoluto. Não posso tocar Dó e ouvir Fá. Quem
Como é isso para um músico? tem ouvido relativo tem mais facilidade
Não tem “on/off”. Não dá para desligar na de transpor uma canção. Se eu aprendi
hora que você está naquele restaurante a música inteira em Ré Bemol e tiver que
ouvindo música ruim e fica aparecendo tocar em Ré, vou sofrer para me libertar da
a partitura...(risos). O ouvido absoluto cor do tom original. Mas o ouvido absoluto
teve um papel crucial na minha formação, foi detectado em um estágio muito inicial
Toquei Bartók, que eu amava. Toquei não era muito o que ele faria com os alunos
românticos, Schumann, Brahms... Na USP, de um curso normal para um virtuose. Não
o professor Amílcar Zani, viu que eu já era tinha foco na técnica, por exemplo. Eu
meio que um caso perdido para música não era um cara que estudava horas por
de concerto. Ele já sabia que eu não ia dia de técnica, nunca fui. Sempre fui meio
seguir aquela carreira padrão, de tocar o rebelde nesse sentido, e indisciplinado. E
repertório padrão, depois os estudos de o pianista clássico tem que ter essa coisa
Chopin, depois solo com orquestra, depois quase de atleta, e eu sempre fui mais ligado
ganhar 30 concursos até ser alguém... É à criação, queria sempre compor muito,
incrível como é ridículo isso: um pianista fazer arranjos, aprender orquestração,
pode ter o talento que for, mas tem que outro caminho mesmo.
ganhar algum curso famoso senão não é
ninguém. Eu nunca gostei desse negócio, Há pianistas que acreditam no estudo da
de competição, e fiz um outro caminho. técnica pura e outros que acreditam no
Então ele já sabia que não ia seguir isso e desenvolvimento técnico dentro do estudo
perguntava: “André, o que você quer tocar?”. do repertório...
Eu amava - e amo! - Brahms. Então, vamos Exatamente! A técnica me veio por meio
tocar os Intermezzi de Brahms, vamos do repertório. E repertório bom, repertório
tocar sonatas de Beethoven – que, além do incrível: Sonata Opus 5, de Brahms, que é
interesse pianístico, me trazia um interesse dificílima, pesada! Sonatas de Beethoven!
como compositor -, vamos tocar Stravinsky, E contraponto através de Bach. Eu não me
coisas que eu tinha impulso natural de lembro de ter investido horas em técnica
tocar. Então, a gente fez um percurso que pura, Hanon, Czerny, Beringer, nada disso.
Todo o “dedo” me veio através das horas tenho um duo agora - que é músico de
de improvisação e do repertório em si que choro e que é um outro timbre, porque ele
me dava muito prazer estético além de me é muito puro do choro e eu não. Eu não sou
dar técnica. um especialista, então é muito interessante
porque trabalho com especialistas, mas
Hoje ainda é assim? não sou. E eu vejo que meu DNA está em
Ainda é assim e cada vez mais, porque todos os trabalhos por eu estar aberto ao
eu invisto a maior parte do meu tempo diálogo, mas muito mais do que isso, por
criando música, compondo... Eu sou um eu estar aberto a ouvir o outro, o que o
compositor que recebe encomendas, outro traz. Em nenhum momento desses
então, tenho menos tempo ainda para esse trabalhos eu estou me impondo. Já que
aspecto mecânico. tenho “tanta personalidade musical”, por
que não deu tudo errado, por que eu não
Como é acompanhar desde uma cantora briguei com todo mundo? Porque eu adoro
como Monica Salamaso a um instrumentista “acompanhar”, entre aspas mesmo, adoro
clássico como Antonio Menezes, passando ouvir o que o outro está dizendo e interagir.
por Hamilton de Holanda e tantos outros, Mas o resultado da interação não é um
mantendo seu DNA em cada performance? acompanhamento, mas uma reflexão. Os
A chave para responder essa pergunta duos são formações pelas quais eu tenho
é modificar o termo “acompanhar”. O enorme apreço, porque é um diálogo.
Piano e Voz, com a Ná Ozetti, é a prova Até por isso muitas pessoas me procuram
cabal de que piano e voz não precisa ser para fazer duos, porque sabem que eu vou
acompanhamento de voz. A primeira faixa respeitá-las nas suas individualidades e
do disco é “Pérola aos Poucos”, do José vou criar música junto com elas e não criar
Miguel Wisnik, com um contraponto a duas um embate ou um desafio de quem toca
vozes estrito. O piano toca uma voz e a Ná mais rápido...
canta a voz dela. Ou seja, aquilo é a profissão
de fé daquele disco: a igualdade de papéis. Você toca popular, jazz, erudito, compõe
Historicamente na música brasileira, o nas três vertentes. Você já afirmou que não
cantor sempre foi, ou é, o herói romântico, está “entre” o erudito e o popular. Como vê
Elis, Orlando Silva, quer dizer, o cantor essa questão?
era aquele representante, aquela voz, que Esse é o conceito mais errado que alguém
tinha um entorno dando suporte a ela. No pode ter de mim. Nem estou na fronteira! Eu
meu caso, é mais o diálogo constante de faço tudo plenamente, nada pela metade.
criar uma teia de informações em torno da Eu recebo encomenda das melhores
canção, que é rica e não meramente um orquestras do Brasil e toco com os melhores
acompanhamento. Tem contraponto, tem representantes da música instrumental
história, tem coisas de afeto, que eu trago brasileira, da canção, da MPB... Então,
da música barroca, que eu transponho eu estou “entre” alguma coisa? Acredito
para uma canção do Zé ou do Caymmi, ou que não! Eu sou o André em todos esses
do Nelson Cavaquinho, que seja... Isso é ambientes, obviamente trazendo coisas
uma digital minha desde sempre, seja com diferentes para cada ambiente desses. Mas
o Hamilton, com o Danilo Brito, com quem eu não me sinto “entre”, não me sinto tendo
André Mehmari
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que fazer uma escolha ou “entre” uma Isso é um conceito meio caduco. Já se
escolha. Quando eu comecei a compor, lá demonstrou que isso não pode ser assim
pelos 13, 14 anos, me perguntavam: “Você tão categórico. Existem correntes, mas
vai seguir o clássico? Vai seguir o popular?”. não são duas, são centenas, milhares. O
Aquela pergunta simplesmente não fazia músico não vai tocar Monteverdi como
sentido para mim. Não que eu ficasse toca Stravinsky, não vai tocar Caymmi
angustiado e pensava “meu Deus, tenho como toca Pixinguinha, não vai tocar
que decidir”, como se fosse um vestibular Beatles como toca Duke Ellington. Mas
entre medicina e engenharia. Nada disso, não são dois grandes blocos, um brigando
nunca! Acredito que porque eu sempre com o outro. Não existe isso. Na época de
ouvia minha mãe tocando Chopin e Jobim Mozart, não existia isso, ele se inspirava
no mesmo piano, eu achava que música em temas do povo. Enfim, acredito que
é música! Ninguém falava para mim “isso minha visão musical é humanista, não
é bom, isso é ruim, isso é popular, isso é tenho essa de julgar o que é “alto” e o que
erudito”... Eu tocava tudo, e ainda toco. é “baixo”. Posso me emocionar tanto com
Meu negócio, minha matéria, é a música. E uma grande sinfônica tocando a nona de
o que marca meu conceito de música é que Mahler quanto um violeiro que pega a
eu não vejo o mundo da música dividido viola e toca um negócio que é bonito de
em dois grandes blocos incomunicáveis chorar. Porque é assim. Música é verdade.
como se pensa em alguns ambientes. Tendo verdade, está valendo!
© Divulgação
Thelonious Monk
36 / MAIO
janeiro
20192019 teclas & afins
MESTRES
O “monge louco”
Reconhecido como um dos mais inventivos
pianistas do jazz, Thelonious Monk atingiu tal
originalidade que poucos conseguiram imitá-lo
financeira, em 1951 teve sua permissão Esse álbum o estabeleceu como um dos
para tocar em clubes de jazz de Manhattan mais criativos pianistas do século. Dois
suspensa, por envolver-se com drogas, algo anos mais tarde, assinou contrato com
que, na verdade, não aconteceu. Nos seis uma nova gravadora, a Riverside, onde
anos seguintes, tocou, esporadicamente, realizou uma série de discos considerados
em algumas apresentações e clubes em soberbos. Sua estreia pela Riverside foi
cidades vizinhas. Dedicou-se à composição uma gravação com o inovador baixista
e participou de gravações pela Prestige. Oscar Pettiford e construída em volta de
Algumas delas, que incluíam Sonny versões de Monk para músicas de Duke
Rollins, Miles Davis e Milt Jackson, foram Ellington. O LP resultante, Thelonious
consideradas memoráveis. Monk Plays Duke Ellington, foi preparado
Em 1953, Monk cruzou o Atlântico pela para levar Monk a um público maior
primeira vez, para participar do Paris e, assim, pavimentar o caminho para a
Jazz Festival. Ali, conheceu a baronesa aceitação de seu estilo único.
Pannonica de Koenigswarter, membro da O álbum Brilliant Corners, de 1956, é
tradicional família inglesa de Rothschild lembrado como o primeiro sucesso de
e patrocinadora de vários jazzistas Monk e também sua obra-prima. Conta
nova-iorquinos. Ela seria uma amiga a história que a complexa música-título
muito próxima pelo resto de sua vida. (que trazia o lendário saxofonista tenor
Durante sua estadia na Europa, gravou Sonny Rollins) foi tão difícil de executar
seu primeiro disco-solo pelo selo Vogue. que a versão final foi feita a partir de três
38 / MAIO
janeiro
20192019 teclas & afins
MESTRES
40 / MAIO
janeiro
20192019 teclas & afins
MESTRES
Thelonious Monk
Síntese subtrativa –
Oscilador
Numa estrutura de síntese subtrativa, o oscilador é o
primeiro módulo ou elemento no processo de construção do
sinal sonoro. É ele que gera o sinal inicial a ser manipulado
posteriormente pelos demais módulos. É no oscilador que
se determina a nota musical a ser produzida, em termos
de altura (afinação). Também no oscilador é possível criar
alguns efeitos que podem produzir resultados bastante
interessantes tanto em relação à execução quanto em
termos de sonoridade propriamente dita
O sinal inicial gerado no oscilador é composto possa ter diferentes alternativas de sinal,
de uma onda fundamental, cuja frequência é com harmônicos pares, com harmônicos
a afinação da nota que está sendo executada, ímpares, ou com ambos. Assim, como
e também dos harmônicos dessa frequência, cada uma dessas formas de onda tem
isto é, sinais com frequências múltiplas uma característica sonora específica, cada
inteiras da fundamental. A combinação dos uma produzirá um resultado diferente ao
harmônicos determina a forma de onda ser processada posteriormente pelo filtro.
e, em termos sonoros, o timbre, como já Portanto, quanto mais opções de formas de
abordamos em edições anteriores. onda – ou timbres iniciais - mais versátil será
Em geral, o oscilador de um sintetizador o sintetizador (Figura 1).
é capaz de produzir mais de um tipo de O processo fica mais rico e proporciona
forma de onda, de tal maneira que se resultados ainda mais interessantes quando
Figura 1 – Exemplo de oscilador com três formas de onda diferentes Figura 2 – O sintetizador virtual (VST) TAL Elek7ro
onda para usar como referência. Agora experimente triplicar a onda dente-
Agora, vamos ajustar o oscilador 2 para de-serra, usando os osciladores 1 e 2 e mais
produzir uma onda dente-de-serra idêntica à o oscilador Sub, todos eles produzindo a
do oscilador 1, mas vamos alterar levemente mesma onda, mas com pequenas diferenças
sua afinação (aproximadamente 1%) em de frequência (Figura 5).
relação à onda do oscilador 1. Observe que Perceba que o timbre ficou ainda
o ajuste fino da frequência do oscilador 2 mais encorpado, mais dinâmico e,
está um pouco fora do centro, para produzir consequentemente, bem mais interessante.
uma diferença de cerca de 1% em relação à É importante ressaltar que quanto
frequência do oscilador 1 (Figura 4). mais ricas e mais dinâmicas forem as
Compare este som com o som de uma sonoridades produzidas nos osciladores,
onda dente-de-serra pura. Por causa da mais interessantes ainda ficarão ao serem
pequena diferença de frequência, ocorrem processadas posteriormente no filtro.
continuamente efeitos de batimento em Outra possibilidade é somar ondas iguais,
seus harmônicos, de tal maneira que, em mas em regiões de oitava diferentes. Vamos
alguns momentos, alguns harmônicos se ajustar o oscilador 2 para produzir uma onda
somam e outros se cancelam. O resultado é dente-de-serra idêntica à do oscilador 1, mas
um som mais “cheio”, semelhante ao efeito vamos ajustar sua afinação para uma oitava
conhecido como “chorus”, uma sonoridade abaixo em relação ao oscilador 1. Nesse
encorpada, com uma ondulação contínua sintetizador, o botão SEMI permite descer
e dinâmica. ou subir a afinação em até 12 semitons
Experimente variar o ajuste fino da afinação. (1 oitava). Com esse botão na posição
À medida que se aumenta a diferença entre central, o oscilador fica na região padrão.
as frequências (para cima ou para baixo), o Experimente também variar o ajuste fino da
som vai ficando desafinado, criando tensão, afinação (Figura 6).
e até causando sensação de desconforto. Ainda explorando o ajuste de semitons,
Figura 4 – Ajustes no Elek7ro para produzir duas ondas dente-de-serra Figura 5 – Ajustes no Elek7ro para produzir três ondas dente-de-serra
com uma pequena diferença (1%) de afinação entre elas, e a sua imagem com pequenas diferenças de afinação entre elas, e a sua imagem no
no osciloscópio osciloscópio
Exemplo sonoro 2 – dente de serra no oscilador 1 + dente Exemplo sonoro 3 – dente de serra no oscilador 1 + dente
de serra do oscilador 2 (com diferença de 1% entre as de serra do oscilador 2 + dente de serra do oscilador Sub
frequências)
Figura 6 – Ajustes no Elek7ro para produzir duas ondas dente-de-serra, Figura 7 – Ajustes no Elek7ro para produzir duas ondas dente-de-serra,
com uma delas ajustada para uma oitava abaixo com uma delas ajustada para sete semitons acima
Exemplo sonoro 4 – dente de serra no oscilador 1 + dente Exemplo sonoro 5 – dente de serra no oscilador 1 + dente
de serra do oscilador 2 uma oitava abaixo de serra do oscilador 2 ajustado para 7 semitons acima
vamos agora afinar o oscilador 2 para sete forma de onda dente-de-serra também se
semitons acima do oscilador 1. Para isso, vá aplicam a outras ondas (Figura 8).
girando devagar o botão SEMI no sentido Agora vamos ajustar o oscilador 2 para
horário, até chegar em sete semitons. produzir uma onda pulso idêntica à do
Isso produz uma sensação de que há oscilador 1, mas vamos alterar levemente
dois instrumentos tocando, e funcionará sua afinação (aproximadamente 1%) em
melhor conforme a melodia executada e a relação à onda do oscilador 1, da mesma
harmonia de base (Figura 7). maneira que fizemos no exemplo de duas
Experimente usar o oscilador Sub com ondas dente-de-serra (Figura 9).
ajustes diferentes de semitom. Experimente Assim como fizemos com a onda dente-
alterar também o ajuste de semitom do de-serra, experimente alterar os ajustes
oscilador 1. Os resultados poderão ser de afinação (FINE) dos osciladores, assim
muito interessantes também. como os ajustes de semitom, para ouvir
diferentes resultados.
Enquadrando os pulsos Para concluir este artigo, embora o assunto
Os experimentos propostos até aqui com a não termine por aqui, já que há muitas
Figura 8 – Ajustes no Elek7ro para produzir no oscilador 1 uma onda do Figura 9 – Ajustes no Elek7ro para produzir duas ondas do tipo pulso com
tipo pulso com 50% de largura, e a sua imagem no osciloscópio uma pequena diferença (1%) de afinação entre elas, e a sua imagem no
osciloscópio
Exemplo sonoro 6 – onda pulso 50% no oscilador 1 Exemplo sonoro 7 – pulso 50% no oscilador 1 + pulso 50%
no oscilador 2 (com diferença de 1% entre as frequências)
Referências
HOWARD, David; ANGUS, Jamie. Acoustics and Psychoacoustics.
Elsevier. London, UK, 2006.
JARRE, Jean-Michel. Oxygene, Part 2. Disques Dreyfus. France, 1976.
KUNZ, Patrick. TAL-Elek7ro Tutorial. Togu Audio Line. Switzerland,
2009. Disponível em https://tal-software.com/downloads/docs/
TAL-Elek7ro-UserManual.pdf
Miguel Ratton
Engenheiro em eletrônica, e há mais de trinta anos atua no segmento de tecnologia musical, realizando projetos de
equipamentos e sistemas, manutenção de sintetizadores e prestando consultoria técnica. É autor de vários livros sobre
MIDI, áudio e sintetizadores. Para saber mais, visite ratton.com.br e facebook.com/m.ratton.eng.tec
WWW.KORG.COM.BR
ESTUDIO POR nilton corazza
Os segredos de
Dark Side Of The Moon
Efeitos inusitados e inéditos, técnicas
arrojadas e muita criatividade fizeram do
álbum da banda Pink Floyd um marco na
história da produção fonográfica
A banda inglesa Pink Floyd iniciou suas substituiu o compositor e líder do grupo,
atividades na década de 1960 como um Syd Barrett, que perdeu sua sanidade por
conjunto de rock que, gradualmente, foi causa do abuso de drogas. Com a saída de
desenvolvendo seu lado experimental e seu principal membro, a banda passou por
psicodélico até a gravação do primeiro disco, um grande período de busca por uma nova
The Piper at the Gates of Dawn, em 1967. Já identidade. Vários álbuns e turnês depois,
durante a turnê, o guitarrista David Gilmour eles atingiram o auge de suas carreiras –
48 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
ESTUDIO
do guitarrista David Gilmour pode ser tocando juntos, vários reprodutores de rolo
claramente ouvida fazendo harmonias foram espalhados pelo estúdio, com sons
com ela mesma na maioria das músicas. de diferentes relógios. Uma orquestração
Acompanhado pelo tecladista Richard organizada pelo engenheiro de som
Wright, esse efeito criou a sonoridade de Alan Parsons resultou em uma cacofonia
voz da banda nesse período. organizada de alarmes.
Uma operação cirúrgica de corte e colagem As músicas foram desenhadas para criar
de fita resultou nos loops de moedas e um conjunto, estabelecendo a premissa
caixas registradoras ouvidos em “Money”. de disco conceitual para o Pink Floyd
Para obter o tempo correto das amostras, que seguiria nos principais discos de sua
um gravador de rolo foi adaptado para carreira. Para aumentar a coesão, Roger
tocar um trecho de fita circular, que Waters elaborou um baralho com questões
atravessava a sala por conta de seu escritas, e entrevistou várias pessoas
tamanho, dando a volta sustentado por presentes às gravações – porteiros,
um tripé de microfone. O mesmo processo técnicos de som e até Paul McCartney,
foi utilizado para obter o delay na faixa “Us que gravava na sala ao lado. No baralho,
and Them”, que nenhum reverb da época questões simples como “o que você comeu
poderia produzir. ontem?” até a preferida de Waters, “quando
Outra incrível manobra para produzir sons foi a última vez em que você foi violento?”.
inéditos à época foi a introdução de “Time”. O produto dessas entrevistas são as frases
Para obter o efeito de vários relógios que atravessam o disco todo.
50 / maio
janeiro
20192019 teclas & afins
ESTUDIO
Tensão ao tocar
Afinal... que tensão é essa?
Como costumo dizer, nem só de música vive grupo, entre coletividades ou entre nações;
um músico... Muito se fala em tensão ao Física - Tensão dos gases. Pressão que
tocar, assunto recorrente principalmente os gases exercem sobre as paredes dos
no meio acadêmico. Mas, ouvindo alguns recipientes; Maior valor da pressão que um
relatos e procurando observar a orientação vapor pode suportar sem se condensar;
de alguns professores, percebo que o termo Tensão superficial: Ação de força que tende
“tensão” não é muito bem empregado, a diminuir a extensão da superfície livre dos
apesar de, na maioria das vezes, ser líquidos, e cujo valor é o da força tangencial
entendido até certo ponto. à superfície, por unidade de comprimento.
Descobri que a referida “tensão”, na As mãos e os pulsos
verdade, é inocente nessa história, e que Nossas mãos são os mais úteis de nossos
o ideal seria uma adequação nos termos. órgãos de movimento, e são ferramentas
Vejamos o que significa “tensão” em muito desenvolvidas. As máquinas podem
diferentes ramos da ciência. ser construídas para copiar alguns dos
Eletricidade - Alta tensão: tensão muito movimentos das mãos, mas não é possível
elevada, superior a 1.000 volts em corrente copiar a enorme variedade de suas
alternada e a 1.500 volts em corrente habilidades. As mãos podem mover-se
contínua; diferença de potencial entre dois delicada e vagarosamente, ou rapidamente
pontos de um circuito elétrico; com força considerável.
Medicina (fisiologia) - Tensão alta. Com nossos dedos e polegares, podemos
Hipertensão; Tensão arterial: pressão do segurar objetos de qualquer forma, e, por
sangue sobre a parede das artérias (tensão causa de nossos braços comparativamente
sistólica ou máxima, que corresponde compridos, temos um longo alcance. A
à sístole ventricular, e tensão diastólica importância das mãos é tanta, que uma
ou mínima, que corresponde à diástole grande parte do cérebro é usada para
ventricular); Tensão pré-menstrual: controlá-las. Grande número de pequenos
conjunto de sintomas sentidas por músculos tem que ser controlados e estão
algumas mulheres nos dias que antecedem ligados ao cérebro por muitos nervos. Vários
a menstruação, como é o caso de tensão tipos de articulações são encontrados na
mamária, dor de cabeça, irritabilidade, mão e no braço, para permitir movimentos
insónia, ansiedade, fadiga, etc.; síndrome livres, mas vigorosos. Articulações simples
pré-menstrual; do tipo dobradiça permitem aos dedos se
Psicologia - Tensão de espírito. Grande movimentarem para cima e para baixo, mas
preocupação; em psicologia social, o polegar é articulado mais livremente, de
representa o pródromo de um conflito mais modo que ele pode mover-se diretamente
ou menos agudo, numa família ou num sobre a palma da mão. Este polegar “oposto”
refere a músculos que estão participando que deve ser analisado individualmente.
da ação sem necessidade. Não é raro ter de Quem duvida que, se Art Van Damme na
chamar a atenção de alunos - ao executarem sua adolescência tivesse um professor
um trecho mais “difícil” do estudo ou peça rigoroso e inflexível, ele não poderia até
- por levantarem a ponta do pé, enrolar a mesmo ter optado por outro instrumento?
perna esquerda no pé da cadeira, abrir ou Falamos de mãos. Vamos agora para o
fechar o fole descontroladamente, afora ombro esquerdo, um problema para
as expressões faciais. Tudo isso pode ser muitos.
efeito de expressão, sentimentos à flor da
pele. Mas, se a causa for de ordem motora, Ombro
ou seja, falta de coordenação, esta deve Dor no ombro esquerdo pode se agravar
ser corrigida. e levar a uma LER. Esse problema seria
Art Van Damme, um notável acordeonista eliminado ao tocar sentado. Mas, sabemos
de jazz americano que viveu entre 1920 que nem sempre é possível. Parece que parte
e 2010, tinha um jeito bem peculiar ao da expressão e da interação com o público
tocar em pé. Ao fechar o fole, ele escorava fica comprometida. Um instrumento de
o teclado - na parte superior - com um pouca qualidade aliado a uma captação
movimento esquisito do ombro direito. de som com pouco ganho ou retorno
Não sei ele sofria de alguma LER por conta insatisfatório são fatores que podem
disso. O fato é que, quem o conheceu, fazê-lo ter de forçar, puxar em demasia o
percebeu que isso não o atrapalhou em fole do acordeon. Exercícios físicos são
nada no tocante à sua virtuosidade ao importantes - um pouco de musculação
instrumento. - assim como pausas para alongamentos.
Tensão como resultado de força é Instrumento ergonomicamente encaixado
necessária. Os cuidados que devemos no corpo, correias adequadas, tamanho
ter são se essa força está sendo aplicada do instrumento, emocional tranquilo,
na quantidade certa e observar se a preparado, adrenalina, mas com
postura global está alinhada de maneira relaxamento, enfim, são muitas as variáveis.
confortável. E esse conforto se deduz Até a próxima, e bons sons a todos!
depois de 15 a 20 minutos, em média.
Ansiedade também é confundida com
tensão. Alunos sedentos por tocarem
logo são tensos emocionalmente falando.
Como venho dizendo, a “tensão” observada
e corrigida ao tocar um instrumento é, na
verdade, um conjunto de procedimentos
© Divulgação - Clever Barbosa
Eneias Bittencourt
Gaúcho, é escritor e editor de material didático e luthier de acordeon. Atuou como músico profissional, arranjador e
produtor musical. Dedica-se a desenvolver soluções didáticas e técnicas para acordeon. Em 2007 lançou seu primeiro
livro, “Acordeon sem Limites”, que dá início à retomada da produção didática para acordeon no Brasil, então estagnada
por mais de 20 anos. É proprietário do primeiro site dedicado a aulas online para acordeon no Brasil.
www.aprendacordeon.com.br - leandroeneiasbittencourt@hotmail.com
“Beatriz”
Destaque na trilha sonora de O Grande Circo Místico, a
canção é uma das mais emblemáticas e de difícil execução
vocal da música brasileira
O arranjo
Esta é uma canção ternária, extremamente
melódica, quase declamada, com pulsação
meio livre para uma interpretação mais
emocional. Sua melodia é bastante
desenhada e sua harmonia muito rica, de
forma que, por si, esta canção já encanta
e emociona, sem precisar de muito arranjo
ou de muita criatividade.
Introdução - Aqui foi reproduzida a
introdução original da gravação, por ser
muito linda e marcante, quase que parte
integrante dessa música; B - O tema cresce e a melodia é preenchida
A1 - O tema se apresenta com uma esquerda ainda mais com acordes para imprimir maior
em arpejos de colcheias e semínimas, como peso e mais densidade a esse momento;
em geral acontece em todas as canções. A3 - Se repete como no A2 e se encaminha
Alguns acordes preenchem a melodia; para a Coda;
A2 - A esquerda agora se movimenta mais, Coda - A introdução se repete, agora
basicamente em colcheias durante todo o acrescentando mais um compasso e
tempo, dando mais movimento ao tema; preparando o final.
“Beatriz”
Arranjo: Rosana Giosa Edu Lobo - Chico Buarque
66/F
/F
433 G
G99 D Em77 A77sus44 Dmaj7 G 9
G D
D6/F Em A
A7sus
sus4 Dmaj
7 G 9
D
G9 Em7 Dmaj7 G9
1
1
4
1
3
9 /F
6 Em 7 A sus 7Dmaj 4 7 G 9
4
1
3
3
4
43
4
A1
A1
A1
A1
D
D /F
/F
66 Em
Em
77 A
A sus
77
sus Gdim/D
44
Gdim/D Dmaj
Dmaj
77 Em
Em
7
7
D
D /F 6 Em 7 A sus
7 Gdim/D
4 Dmaj 7 Em 7
6
6
6
/F 6 Em 7 A sus
7 4Gdim/D Dmaj 7 Em 7
6
D /F 66 Gmaj
7
D /F Gmaj 7
D /F 6 Gmaj 7
11
11
11
dim dim
G dim
G D/A B
G dim D/A B
B dim
B dim
D/A dim
dim
16
16
16
G D/A
F m7/C
Bm7 D7/C
20
9)
A7sus4 A7( A+7
24
A2
Gdim/D Dmaj7 Em7
28
D6/F
Gmaj7
32
G dim B dim
D/A
36
F m7/C
Bm7
D7/C
40
9)
A7sus4 A7( A+7
44
48
60 / maio 2019 teclas & afins
arranjo comentado
B B +7 E maj7(6/9) A7
52
56
B maj7 A 7sus4
9)
Am7 A7(
60
A3
Gdim/D Dmaj7 Dmaj7 Em7
64
D6/F
Gmaj7
68
G dim B dim
D/A
72
F m7/C
Bm7 D7/C
76
9)
A7sus4 A7sus4 A7( A+7
80
62 / maio 2019 teclas & afins
arranjo comentado
D6/F
Coda
G9 Em7 A7sus4 Dmaj7
84
G D /F
9 6 Em 7 A sus 7 4 D 6/9
gg
gg
ggg
g
Rosana Giosa
Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre
apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três
segmentos de livros: Iniciação para piano 1, 2 e 3; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertório
para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com
composições autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs
com seus alunos: quatro CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo.
Contato: rosana@editorasomearte.com.br
tecladista tocando na banda de uma igreja, Desse modo, todos aprendem a como se
que, ao mesmo tempo, entrou em conflito portar ao tocar em grupo. Quando um músico
com baixo, violão e guitarra. Ele estava toca seu instrumento acompanhando o
usando o timbre de Piano tocando na região solo de alguém, tanto vocal quanto de
médio-grave do teclado, o que conflitava outro instrumento, ele está desenvolvendo
com o baixo, com a distorção da guitarra e a prática de acompanhamento. Nesse caso,
com as batidas do violão. E, para completar, será necessário explorar ao máximo as
estava usando um timbre que não favorecia frequências do instrumento para preencher
em nada o momento da música. Acredito a ausência delas nos outros instrumentos.
que esse problema acontece pelo fato de Isso se aplica de igual forma a qualquer outro
que na relação entre aluno e professor, instrumento de harmonia, como o violão
em geral, o conteúdo estudado é sempre ou a guitarra, quando o músico precisa ser
relacionado ao instrumento como um mais virtuose para preencher a necessidade
todo, mas limitado à prática individual do rítmica, harmônica e até mesmo melódica,
instrumento e não coletiva. E isso ocorre em aplicando dedilhados ou levadas na região
todos os instrumentos. médio-grave, riffs ou frases nas regiões médio
Em grandes universidades de música, como a e agudo, e mantendo o ritmo com grooves
Berklee nos Estados Unidos, cada aluno, não para suprir a ausência dos instrumentos de
importando o instrumento, é direcionado percussão.
para a prática de banda com um instrutor, Como exemplo muito claro de tudo isso
onde terá músicos de outros instrumentos. que estamos falando, temos o cantor João
© Tyler Milligan
Alexandre, que faz apresentações apenas um deles, aplicando em músicas com estilo
com o seu violão, e o faz de forma sensacional, romântico, como é o caso das músicas que
com um virtuosismo completo. Apesar de chamamos de “Adoração”. Nesta edição,
ser uma demonstração com violão, em uma vamos abordar várias situações que
revista que fala de teclas, expressa muito ocorrem em músicas que chamamos, na
bem tudo que falamos. igreja, de “Celebração” ou “Louvor”, que são
Outra demonstração da liberdade que um músicas mais ritmadas. No cenário musical
músico tem ao tocar o seu instrumento atual, podemos perceber que, em geral,
sozinho, podendo explorar todas as regiões o estilo que predomina nos “Louvores” e
do timbre de piano e preenchendo o “Celebrações” é o pop rock, e é esse estilo
vazio deixado pela ausência dos outros que vamos utilizar nas aplicações.
instrumentos, pode ser vista em uma
performance minha e do saxofonista Tutorial de timbres e performance
Abdenego da Guia. Esse é o tipo de Vamos trabalhar com uma progressão de
performance que não se pode fazer quando quatro acordes na tonalidade de Lá maior
se toca com uma banda. (A - E - F#m - D), que vamos separar em
dois momentos de dinâmica semelhantes
Celebração, Louvor e Adoração a estrofe e refrão de uma música de
Há algumas edições, falei sobre três “Celebração” e divididos em vários formatos
timbres - Piano, PAD e Strings - dando uma de banda. Vamos trabalhar com os timbres
noção sobre algumas formas de usar cada de Piano Rhodes, E. Piano, Pad e Organ.
Andersen Medeiros
Pianista, arranjador e compositor, iniciou seus estudos de piano clássico no curso de extensão da UFAL – Universidade
Federal de Alagoas, em seguida migrou para o estudo do piano moderno, em 2010 e 2013 foi palestrante do Congresso de
louvor e adoração – LOUVAÇÃO para músicos em igrejas do Estado de Alagoas. Em 2014, em viagem missionária à Cuba teve
participação na orquestra norte americana “Celebration” conduzida pelo maestro Camp Kirkland. Hoje, atua como professor
do site PianoFlix, uma plataforma de ensino para piano solo e acompanhamento por ouvido. Ensina piano online por skype à
alunos no Brasil e no exterior, pianista e líder de músicos na Igreja Batista Koinonia em Maceió, e pianista da banda TLB – The
Last Band, um projeto embrionário de jazz moderno.
www.pianoflix.com.br
Na edição anterior de Teclas & Afins, falamos (e passou todos os perrengues), olhe para
sobre o árduo processo de “virar a chave” você e responda: “Eu estou pronto?”.
para o mundo da música. Excetuando Mas, o que é afinal estar pronto? Como eu
alguns poucos privilegiados, aqui no disse acima, apesar de toda dificuldade, se
Brasil, uma grande parte dos músicos você trabalhar duro, é muito possível que
inicia a carreira em atividades formais e, a chegue lá. Estar pronto significa que, uma
certa altura, migra para a carreira musical. hora ou outra - usando uma expressão que
O processo, como eu disse, tem inúmeros acredito fazer muito sentido -, “o telefone
desafios, porém, com persistência e uma vai tocar”. Nessa hora, não haverá tempo
boa dose de coragem e sangue frio é bem para “correr atrás”, nem para desculpas por
possível chegar onde você quer. que você está “na correria”. Ou você está
Pois bem, viramos a chave, mas e agora, pronto, ou dará lugar para o próximo da fila.
o que vem depois? A primeira pergunta Sim! Duro assim! Sem segundas chances,
que precisamos ter em mente é: “Eu estou sem “brodagens”, sem “molecagens”.
pronto?”. Bem, geralmente a resposta é Sejá lá qual for sua especialidade, o
“não”. Se for “sim”, reavalie e peça para instrumento, a voz, não importa, você
pessoas do ramo te ajudarem a responder, precisa estar muito bem treinado para
ou use o poder da observação para isso. assumir um compromisso hoje e resolver o
Compare-se com seus ídolos - não no problema. Não é amanhã nem o mês que
palco, mas fora dele -, saiba como eles vem: é hoje. Um grande amigo meu, que
trabalham, suas posturas, suas rotinas de este ano sobe ao palco do Rock´n´Rio (e
estudos, esteja próximo de quem já cresceu já pisou no Lollapalloza e outros eventos
© Elena G @unsplash.com
Ser colaborativo com todos a sua volta, informação relevante. Não tenha preguiça,
“celebridades” ou não, é o que fará seu nunca! Invista em equipamentos, roupas,
networking poderoso e fará que os mais acessorios, conhecimento e estude, estude
experientes te respeitem pelo que você é e mais e mais, pois um dia irão te perguntar
executa, não pela sua lábia. como foi quando o telefone simplesmente
Mas, de novo, um poderoso networking tocou e era o manager de um grande artista
não vai ajudar muito se, quando o telefone do outro lado da linha. Espero de coração
tocar, você não estiver pronto. Estude muito. que a sua resposta seja: “demorou anos
Estude música, técnica, comportamento, para eu me tornar alguém da noite para o
tendências, referências (por cronologia), dia, mas neste dia, eu estava pronto”.
novos artistas, produções, estilo,
visual, redes sociais, seja obcecado por
Wagner Cappia
Iniciou seus estudos em piano clássico em 1982, com formação pelo Conservatório Dramático Musical
de São Paulo. É sócio-diretor do Conservatório Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista,
compositor e arranjador da banda Eve Desire e sócio-proprietário e responsável técnico do estúdio
YourTrack. Músico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vão desde sua origem natural
na música erudita até a música contemporânea, mesclando elementos clássicos e de ambiente em suas
composições. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para
bandas, professor de piano, teclado e áudio.
www.cappia.com.br - www.evedesire.com - www.institutomusicaleverdream.com