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Introduction
Nesta abertura é apresentada uma ampla conceituação sobre tópicas e está dividida em seis
partes introdutórias:
1- Estilos e Gêneros
2- Música e Afetos
3- Afetos e Tópicas
4- Tópicas e Pictorialismo
5- Tópicas e Retórica
6- Tópicas deste volume
Definições do capítulo
• Scopo
◦ Significação Afetiva: é mais ampla e ligada a teoria dos afetos.
◦ Significação Tópica: é mais restrita e voltada para a expressividade musical.
• Discussão gira em torno de que todas as passagens são tópicas. Utiliza-se de dois
pontos importantes
◦ Ponto 1 - Algumas tópicas tem mais parâmetros que outras.
◦ Ponto 2 - Nem sempre todos os parâmetros estão presentes.
• Neto diz que mesmo que não sejam tópicas, todas as passagens tem alguma
significação.
• Estatuto semiótico
• Na parte 3.2 ela volta para os estudos dos signos no século XVIII.
• Rumpf estuda o iluminismo. Existem alguns pensadores que tratam dos estudos de
signos.
• O status semiótico está enquadrado na semiótica moderna desenvolvida por autores
do século XX, como Charles Sanders Peirce, Ferdinand de Saussure, Roman Jakobson
e Umberto Eco.
• O século XVIII possuía sua própria teoria dos signos que imbuem a estética musical.
• Distinção no século XVIII entre signos naturais e arbitrários, baseados relação signo-
objeto.
◦ Signos naturais: relação é dada na natureza. Em termos de semiótica peirciana é
um índice. Nós conseguimos controlar os signos.
▪ “Os signos naturais produzidos pelo homem incluem posturas, gestos,
expressões faciais, suspiros não articulados e gritos, além de acentos vocais e
inflexões de fala articulada”. P. 25
◦ Signos arbitrários: são instituídos por seres humanos. Em termos de semiótica
peirciana é um símbolo.
▪ “Signos relacionados a seus objetos por convenção e, mais
caracteristicamente, representados por palavras”. P. 25
• Na medida em que a música imita os sinais das paixões, é um ícone. Este termo
“refere-se a um signo que está relacionado ao seu objeto através de algum tipo de
semelhança entre eles” (Turino 1999: 226).
• Em termos da semiótica peirciana, a significação afetiva da música postulada pela
doutrina da mimese envolve dois níveis de significação:
◦ Os sons musicais são ícones de sons naturais, que são índices de estados
emocionais.
◦ No Iluminismo francês, a categoria de sinais imitativos (ícones) não foi
claramente distinguida dos signos expressivos (índices). Consequentemente, a
música foi incluída sob signos naturais e contrastada com a linguagem. P. 26
• Para Sulzer, a linguagem é um sistema de signos arbitrários, enquanto a música
consiste em signos naturais.
◦ Sons do discurso – signos arbitrários
◦ Sons patéticos – signos naturais
• Para DuBos, Batteux e Rousseau, a música deve imitar os movimentos da alma
(mouvements de l'ame), pois eles se expressam em acentos vocais de fala apaixonada.
Tais acentos são signos expressivos (índices) mas, ao mesmo tempo, são semelhantes
aos “movimentos que eles expressam” devido à semelhança entre causas e efeitos. P.
27
• Como os sinais imitativos (ícones) produzidos pelo compositor são expressivos
(índices), assim também os sinais expressivos de emoção (índices) produzidos pela
natureza são imitativos (ícones).
• Os sons não são mediados pelo signo, mas pelas vibrações.
• A parte abre com uma discussão sobre a relação icônica das tópicas. A discussão
acontece em torno de três níveis relacionados a semiótica.
◦ RELAÇÃO ICÔNICA: tentativa de imitação, de relação imediata com objeto.
Pintura sonora de um objeto não musical.
◦ PICTORIALISMO: representação icônica, sem necessariamente criar relações
indiciais.
▪ Ex: Imitação do Cuco.
◦ TÓPICAS ICÔNICAS: relação que passa por uma ênfase icônica entre o signo e
o objeto (conteúdo) por similaridade, mas, necessariamente precisa de relações
indiciais após a interpretação icônica.
▪ Ex: O cuco indica a chegada da primavera.
◦ TÓPICAS INDICIAIS ↔ relação indicial entre o objeto como signo e sua
significação (conteúdo) por contiguidade. Já acontece uma assimilação indicial
dos elementos musicais.
▪ Ex: A pastoral representando a pureza da natureza.
• Depois se inicia a questão da "pintura de tons" (tone painting), desdobrando-se para a
explicação sobre esta ideia que circunda a representação de elementos da natureza na
música. Algumas críticas a interpretação de que as pinturas de tons é adequada para
uso do compositor acontecem, pois elas violariam o"o verdadeiro espírito da música,
que é para expressar os sentimentos de sentir, não para transmitir imagens de objetos
inanimados".
• As pinturas de tons são divididas em três tipos, segundo Engel:
◦ 1. Consiste na imitação das impressões sônicas (pintura de tom)
◦ 2. Inclui análises sonoras de outras impressões sensoriais
◦ 3. Quando o compositor representa a impressão que o objeto causa na alma.
▪ “Os meios de pintar esses movimentos listados por Engel - modo, tonalidade,
melodia, tempo, ritmo, harmonia, registro, instrumentação e dinâmica -
correspondem aos chamados por Mattheson, Sulzer e Kirnberger. Pode-se
argumentar que o terceiro tipo de pintura de tom é a doutrina das afecções
disfarçadas. Mas essa doutrina em si faz espaço para o pictorialismo”.
• Em síntese, a pintura de tons ocorre quando certos sons e movimentos da natureza
inanimada, como o trovão, o tumulto do mar, o farfalhar do vento e outros, são
imitados em música. À seguir é exposta as diferenças entre tópicas e tone paintings
com base na ideia da mímese. Enfim, uma passagem musical pode representar (1)
uma tempestade, (2) um sentimento causado pela tempestade, ou (3) uma sensação
de tempestade. Há várias críticas à esse tipo de pictorialismo.
• Na visão de Mirka, os “temas icônicos de Monelle não são tópicas porque não
formam referências cruzadas entre estilos musicais ou gêneros”
• É mais adequado dividir os temas musicais em icônicos e indexais, distinguindo-os
entre duas classes de sinais musicais baseados na imitação (Figura 0.5):
◦ imitação musical de outras músicas (temas) e;
◦ Imitação de sons extramusicais. Esta pode ser subdividida em dois tipos:
▪ Imitação de enunciados apaixonados – preferido pela doutrina da mímeses –
e;
▪ imitação de sons naturais (pictorialismo) – este foi reconhecido, mas não
preferido por essa doutrina.
• Embora os sinais na Figura 0.5 se refiram a diferentes tipos de objetos, eles têm a
mesma estrutura de significação, mostrada na Figura 0.3, dentro da qual diferentes
relações sinal-objeto receber ênfase diferente.
◦ Signos musicais baseados na imitação
▪ Imitação musical de outras músicas (tópicas)
▪ Imitação musical de sons extramusicais - a ênfase recai sobre a relação
icônica entre o item musical e seu objeto.
• Imitação musical de enunciados apaixonados
• Imitação musical de sons naturais (pictorialismo)
• Exemplos: “se a relação signo-objeto entre o item musical (sigh motive) e o objeto
(suspiro) é reconhecido, o ouvinte pode associar a ideia de suspiro com uma
variedade de contextos e situações sem interpretar mal o sinal musical. O mesmo
vale para a tópica ”cavalo nobre” em relação ao galope. Daqui resulta que o índice
relação entre objeto e significação é menos importante e a diferença entre tópicas
icônicas e ícones musicais, com base nessa relação, menos cruciais do que sugerido
por Monelle".
◦ “Por outro lado, no caso das tópicas de Ratner, a relação icônica entre um item
musical (sarabande como tópica) e seu objeto (sarabande como gênero) é trivial,
porque ambos pertencem a música real”.
• A significação tópica depende da relação indexical entre o objeto (sarabande como
gênero) e seu efeito, que Monelle descreve, citando Ratner, como uma dança de “um
caráter deliberado e sério que representava o alto estilo” (2000: 18). [...]A distinção
feita por Monelle entre a seriedade e o decoro da sarabande depende da distinção
entre afetos e contextos sociais de estilos e gêneros representados, respectivamente,
pelas setas para baixo e para cima no lado direito da Figura 0.1. A seta para baixo
representa a seriedade como uma associação afetiva da sarabande. A seta para cima
representa seu decoro, que se relaciona com outras associações dessa dança com sua
função social na corte espanhola.
◦ "Se, ocasionalmente, a distinção entre temas e pictorialismo se torna obliterada,
isso não é porque alguns efeitos pictóricos são tópicas, mas sim porque algumas
tópicas se originam em efeitos pictóricos que se transformaram em estilos ou
gêneros. Exemplos: Sturm and Drang, Ombra, Sigh motive. Em cada caso, a
significação de tópicas decorre de sua semelhança com gêneros ou estilos, em
vez de imitação musical direta de sons não musicais. Embora esses estilos não
fossem claramente reconhecidos em seus próprios tempos, eles podem ser
incluídos na lista de tópicas do século XVIII, mesmo que seu status tópico seja
diferente - e, reconhecidamente, mais frágil - do que o sarabande, o minueto ou a
marcha".
Objetivo
Definições do capítulo
Panorama
• Mattheson - discute o processo composicional que se dá com as partes do discurso
retórico = invenção, disposição, elaboração, decoração e execução e baseia-se em
cinco estágios da retórica ↔ inventio, dispositio, elocutio, memoria e pronuntiatio. A
divisão da composição musical se dá em seis partes e baseava-se em analogia a fala
↔ exórdio, narratio, propositio, confirmatio e peroratio.
• Scheibe - frequentemente se refere a retórica e a poesia como "disciplinas irmãs" da
música.
• Batteux - distingue belas artes de eloqüência, mas compara poesia, música e dança à
retórica (Le Huray e Day 1981: 50).
• Rousseau - considera o público (oratória) e o privado - as origens comuns da música
e da linguagem justificam suas funções paralelas na sociedade, que devem falar,
respectivamente, ao coração e razão.
◦ "a retórica mais particular da melodia vocal", que é "a linguagem do sentimento”
(Barry 1987: 68).
• Sulzer, Koch e Forkel - descrevem a função da música como linguagem das paixões
(Sprache der Leidenschaften) ou sentimentos (Sprache der Empfindungen) - reitera a
conexão da música com o coração e a linguagem com a razão.
◦ Sulzer e Koch voltam à idéia de retórica musical quando descrevem o processo de
composição em termos de invenção, disposição, elaboração e execução.
◦ Forkel - trata da história da música a partir do paralelo entre música e linguagem.
• Na sequência, inicia-se a descrição dos processos que envolvem a retórica e os estilos
musicais.
• A influência da retórica sobre a teoria e a estética da música do século XVIII se
estende aos conceitos relacionados as tópicas musicais.
• Estilos musicais em ALTO, MÉDIO e BAIXO ↔ Estilos retóricos (tria modi
dicendi) - SUBLIMIS, MEDIOCRIS E HUMILIS
◦ Selecionados pelo orador para atender a ocasião, o status das pessoas e o
importância dos assuntos a serem discutidos na oração (Scheibe 1745: 139-40).
• Estilos de IGREJA, TEATRO E CÂMARA ↔ Gêneros Retóricos (tria genera
dicendi): DELIBERATIVUM, IURIDICIALE E DEMONSTRATIVUM.
◦ Mattheson - considerava, portanto, que os gêneros estilísticos (sacro, teatral e de
câmara) eram os principais, e, portanto, os estilos Alto, Médio e Baixo estavam
subordinados a esses gêneros estilísticos.
• A classificação dos gêneros musicais realizada por Mattheson (Kern melodischer
Wissenschaft (1737) e Der vollkommene Capellmeister (1739), é paralela às
classificações de gêneros retóricos e poéticos de Gottsched (Versuch einer Critischen
Dichtkunst (1730) e Ausführliche Redekunst (1736).
• O objetivo da música de mover o ouvinte é equivalente a uma das três funções
retóricas → (tria officia dicendi): DOCERE, MOVERE, DELECTARE → Discurso
retórico da persuasão.
◦ O conceito de afetos - Pathos - fundamental para a doutrina das afeições foi
derivado de um dos três métodos de persuasão retórica → ETHOS, PATHOS
E LOGOS.
• Tópicas Musicais NÃO são equivalentes a Tópicas Retóricas
• Ratner definiu tópicas como "assuntos do discurso musical", enquadrando como
metáfora da música como linguagem e rotula com um conceito retórico.
◦ Rumph - discute o conceito de tópicas usado por Ratner
▪ "os tipos e estilos de Ratner violam tanto a letra quanto o espírito da ars topica
clássica" (2012: 83).
• Allanbrook observa a semelhança entre tópicas musicais de Ratner e tópicas literárias
discutidos por Ernst Curtius - tópicas não são os loci communes, lugar -comum
(tópoi) da retórica clássica , mas lugar comum, e estes não significam a mesma coisa.
• Na retórica clássica, as tópicas - topoi grego ou loci communes (lugares comuns) -
eram categorias de argumentos e, portanto, métodos para encontrar materiais para
discursos
• Método era assunto geral para Aristóteles e Cícero ↔ tratavam como ferramentas da
invenção.
• Rumph e Allanbrook concluem que as tópicas retóricas (common places) não são
equivalentes às tópicas musicais.
• Discussão sobre a invenção musical
• As ferramentas mais importantes de invenção musical são ars combinatoria e loci
topici.
• Para Heinichen os loci topici são a principal fonte de invenção, porque buscam "o
verdadeiro objetivo da música" que é "mover os afetos do ouvinte" (die Gemüther der
(p. 40) Zuhörer zu bewegen; 10).
◦ enfatiza o locus adjunctorum - o objetivo deve ser alcançado através da expressão
dos afetos contidos no texto da música vocal.
• Para Mattheson, propõe é que a representação dos afetos musicais não se encontra no
texto (locus adjuntorum), mas sim no locus descriptionis.
◦ representação musical dos afetos é "a fonte mais rica, o guia mais confiável e
essencial para a invenção" (1739: 127; Harriss 1981: 290).
• Sulzer rejeita o loci commune retórico e diz que a invenção de composições maiores
é mais desafiadora do que a invenção de pequenas composições.
• A invenção de pequenas composições é facilitada por seus carácteres, "e o compositor
tem uma linha de condução quanto ao seu caráter pelo qual ele pode prosseguir em
sua composição" (Sulzer 1792-94, 2: 678, Baker e Christensen 1995: 96).
• Sulzer – considera que a prática de compor danças possibilita o aprendizado de como
se deveria expressar caracteres de composições
• Kirnberger traz as danças como ferramentas de invenção musical
◦ A sugestão de que pequenas composições facilitem a invenção e o fato de
formarem a fonte das tópicas de Ratner indica que as tópicas musicais - embora
não equivalentes as retóricas - estão relacionados a elas.
• Como ilhas de significação afetiva emergindo do mar da música do século XVIII, elas
encontram seu lugar no locus adjunctorum de Heinichen e no locus descriptionis de
Mattheson.
• Relação entre Tópicas retóricas e Tópicas musicais.
◦ Se tópicas retóricas são “lugares- comum” onde se pode encontrar materiais para
discursos, tópicas musicais são materiais “comuns” encontrados em um “lugar –
comum”.
◦ Se o conceito de tópicas se relaciona com a primeira parte da retórica (inventio), a
definição de tópicas musicais como "estilos e gêneros retirados do seu próprio
contexto e usado em outro" sugere sua relação com a terceira parte da retórica
(elocutio ).
◦ Assim, em contraste com as tópicas retóricas, as tópicas musicais estão associadas
a duas partes diferentes da retórica-invenção (inventio) e do estilo (elocutio).
◦ Na linguagem, que é um sistema de signos arbitrários, o signo e o objeto podem
ser facilmente separados.
◦ Na música, que consiste em signos naturais, a semelhança entre signo e objeto
significa que eles se fundem.
• Na música, que consiste em signos naturais, a semelhança entre signo e objeto
significa que eles se fundem.
• Portanto, mesmo que as tópicas sejam comparáveis às palavras, suas associações com
afetos emergem da significação afetiva da música com base na semelhança entre
movimento musical e emoção. Isso nos leva de volta da retórica à semiótica.
◦ A diferença entre a retórica musical e verbal depende da diferença semiótica entre
música e linguagem.