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Introdução à Análise Musical - As dimensões da música - Formas de Ouvir

Como podemos nos relacionar com a música?

a) plano corporal (o mais superficial e instintivo, provoca o desejo de dançar, de se


mover com a batida.)
b) plano emocional (evoca sentimentos, imagens e sensações, armazenados no
subconsciente. Utilizamos este plano quando julgamos uma música baseados no critério do
gosto. O gosto emotivo é despertado pela familiarização, entre outras coisas)
c) plano racional (o mais profundo e refinado, requer estudo e conhecimento)

Podemos dizer que estas são 3 dimensões de prazer na música. Alguns de vocês
podem pensar: “Como posso sentir prazer racionalmente? Analisar uma partitura não vai
tirar a graça e a espontaneidade da música?” Pelo contrário. Podemos abrir um novo
mundo de relações de sentido, podemos entender sua organização interna e ser capazes de
perceber nuances importantes que de outra maneira passariam despercebidas. Podemos
julgar com maior propriedade e entender o processo criativo do compositor. Em suma,
podemos ampliar enormemente nosso prazer com a música, acrescentando ao corporal e ao
emotivo o plano racional e fazendo com que os 3 trabalhem em conjunto. Existem músicas
que apelam mais diretamente a cada um dos 3 planos, contudo.

O que é análise musical?

Uma obra musical é um discurso de sons. Para que esse discurso seja
compreensível, é preciso que ele obedeça a alguns critérios de organização que lhe possam
conferir coerência e unidade. Toda obra musical está estruturada com base em princípios
básicos de repetição versus contraste. A análise musical investiga estes critérios e
princípios, buscando a observação dos fatos musicais que se apresentam numa obra,
traçando um plano lógico, ou suas leis internas de coerência. Estas leis irão mostrar
provavelmente recursos fundamentais da organização musical, que tendem a ocorrer
independentemente do período ou estilo: repetição, contraste, variação, conexão,
justaposição (uma ideia depois da outra), levando em conta sempre que a máxima
coerência implica numa unidade que abarca a diversidade. O analista deve estar
familiarizado com os modelos de análise que foram anteriormente propostos e aceitos para
a música de diferentes períodos, e como estes funcionam. Analisar significa tentar explicar
os processos que atuam nas composições.

Quando alguém analisa uma obra musical, está de fato recriando-a para si mesmo,
o que gera um sentimento de familiaridade, parecido com o que sente o próprio compositor
por sua obra. Analisar uma sinfonia de Beethoven significa viver com ela por alguns dias,
assim como o compositor vivencia o processo de criação. Pode-se desenvolver uma
intimidade com a obra que dificilmente seria obtida de outra maneira. A comunicação
direta com os grandes mestres, propiciada pela análise, pode ser uma das experiências mais
fantásticas que a música pode nos oferecer. O engajamento com as obras-primas é uma
educação que todo musicista moderno deveria sentir-se privilegiado por receber. Muitos
estudantes a desejam e poucos arrependem-se dela. A habilidade de enxergar além dos

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detalhes e perceber as conexões em larga escala, encorajadas pela análise, é uma parte
essencial da percepção sonora do musicista.
Embora a análise permita que se esteja diretamente em contato com a música, esta
última não revelará seus segredos a não ser que se saiba exatamente que perguntas fazer. É
neste sentido que existem os métodos analíticos. Há uma grande quantidade de métodos,
que à primeira vista parecem muito diferentes, mas que na verdade fazem o mesmo tipo de
perguntas. Eles perguntam se é possível dividir uma peça musical em uma série de seções
mais ou menos independentes; como os componentes do discurso musical relacionam-se
entre si, e quais relações são mais importantes. Mais especificamente, perguntam o quanto
estes componentes derivam seu efeito do contexto em que estão inseridos. Por exemplo,
uma determinada nota possui um efeito quando faz parte do acorde X e outro
completamente diferente quando no acorde Y, e o efeito do acorde X por sua vez, depende
da progressão harmônica da qual faz parte. Ou ainda, um motivo particular pode ser
insignificante por si próprio, mas pode assumir enorme interesse no contexto de um
determinado movimento.

Quando um compositor escreve algo ele espera que o intérprete possua


conhecimento suficiente para fornecer à música os valores intervalares, rítmicos e de
intensidade que a notação omite, assim como os valores sonoros, dramáticos e emocionais
que não poderiam ser especificados na partitura. Esse conhecimento implica em várias
coisas, entre elas a compreensão da estrutura geral da obra e de suas partes.

O surgimento da análise, como o de várias outras disciplinas musicológicas, está


intimamente relacionado com o gradual desenvolvimento da composição, esta última
entendida não apenas como algo escrito, mas como algo criado por um indivíduo em
particular, e em alguns aspectos expressando a personalidade deste indivíduo.
O desenvolvimento da análise como uma área distinta no estudo da música durante
e após o século XIX, foi o resultado da separação entre o estudo das composições e o
estudo de composição propriamente dito: ele resultou, de fato, de uma maior
conscientização do passado e do valor das obras-primas como objetos perenes a ser
reverenciados, desfrutados e estudados.

Referências:

COOK, Nicholas. A Guide to musical analysis.


DUNSBY, Jonathan & WHITTALL, Arnold. Music analysis in theory and practice.
MORAES, J. Jota de. O que é música.

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