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A manifestação musical

A teoria sucateou a música, a mente edificou uma mansão em cima da essência, a


teoria edificou um palácio em cima da música.
A teoria não deve ser levada como algo separado da prática musical, e nossa sociedade
ocidental vem fazendo isso faz tempo.

Mas por quê?

Grandes mestres compreenderam uma função fundamental da música em nosso


mundo.
Do mesmo modo que a manifestação, ser humano, tem uma função no universo, não
existindo nenhum ser humano na Terra, essa manifestação ainda assim será possível.

A música também existe porque há essa possibilidade de manifestação inerente ao


próprio conceito dela.
Dado esse fato, por consequência, o estudo da manifestação musical é muito mais
profundo e complexo do que formas matemáticas e conceitos formais em geral,
depende também de um estudo de conceitos mais abstratos e sensoriais.

Quando manifestamos a música precisamos inevitavelmente de algo concreto. Algo


musical. Que chamamos música, music, musique, musik, etc... mas estamos falando da
mesma coisa, com linguagens diferentes. A música é uma linguagem que não pode se
traduzir. Nem como uma representação única para todas as pessoas, cada um sente
uma sensação com uma melodia, nem de um povo para outro. Não podemos traduzir
jazz em samba, música indiana para música francesa.

Então por quê estudar, formalizar, executar e ensinar essa manifestação como se fosse
algo somente intelectual? Nem mesmo a matemática é puramente intelectual!!

Somos algo universal, algo cósmico. Que dentre suas funções, comporta a de
manifestar a música.

A música vem de um mundo de possibilidades e se apresenta aqui na Terra via sua


função inerente de manifestação musical.
É interessante se ater por um tempo nessas 3 partes de uma coisa só. A música como
possibilidade, como vontade de se manifestar, por um lado, e em seu oposto, ou
mesmo em seu fim, a manifestação em si na forma de música. Daí observamos 2
pontos. Nós somos essa 3ª peça que liga a vontade com a manifestação. Somos um
filtro, a única possibilidade da música se manifestar aqui. Não estou falando de
reprodução de frequências sonoras, estou falando de nós como mensageiros, em
função de trazer a música para esse mundo material. Não somente tocar, mas criar
música. Hoje existe muita música tocando e pouca criação verdadeira, pouca
composição musical que se baseia nesses conceitos falados até agora. Uma
composição que tem a função de buscar algo maior, mais fundamental e importante.
São muitas sensações e muitos lugares onde podemos como compositores habitar
nossos ouvintes. Então as funções musicais são muitas!

Esse é o verdadeiro estudo da música, o estudo de como vamos afetar os sentimentos


das pessoas. O que nossa música vai significar para cada indivíduo. Como chegar bem
fundo nas emoções das pessoas.

Por sorte, não estamos totalmente perdidos nessa difícil missão!

Como disse antes, a música não é uma linguagem que significa exatamente a mesma
coisa para todos. Tudo bem que cada um tem um julgamento para cada coisa, o Sol
que eu vejo não é exatamente o Sol que você vê, não só por causa da diferença
geográfica ou climática, mas porque nós individualmente temos nossos julgamentos e
o sol para mim traz algumas lembranças e sensações e para você outras. Nesse ponto a
música e outras linguagens são iguais.

Porém o Sol é o Sol para todos em todas as épocas para todas as culturas!
É essa coisa enorme, quente, que concede a vida no planeta e muda além das
estações, nosso humor e nossa disposição no planeta. Mesmo que não saibamos
exatamente que coisa é essa (o Sol) todos apontam pro céu quando falam dele.

Já a música não tem uma significação tão pontual, uma melodia não significa algo que
possamos apontar e dizer exatamente o que é.

A música é uma linguagem que atinge o mesmo lugar de onde se formam as palavras,
por isso sua impossibilidade de tradução e sua abstração, é considerada a arte menos
palpável, mais abstrata.

Usando o exemplo do Sol. Independente de qual idioma falarmos do Sol dentro de nós
existe uma vontade, uma significação do Sol, esse significado vem antes da língua, a
línguas traduzem em diversos idiomas a palavra Sol, mas seu significado existe antes
da palavra.

Essas significações abstratas são nossas salvadoras, por isso não estamos totalmente
perdidos e a música existe e sempre existirá, mesmo que ninguém mais crie nada
musical.
Essas significações também podem ser chamadas de arquétipos.

Uma teoria chamada de teoria dos afetos estudou profundamente essa questão e foi
mais fundo nos efeitos psíquicos e emocionais que certas melodias causam em nós.
J.S Bach, um dos maiores mestres da verdadeira música foi um grande entusiasta
dessa ideia e promoveu grandes avanços nesse campo da música.

Bach era um homem altamente intelectual e com uma sensibilidade musical absurda, o
que o fez produzir obras completas, se pudermos dizer. Obras altamente engenhosas e
matemáticas mas com um alto nível sensorial e emocional.
Sua obra pode ser dita como a busca da arte teorizada na prática!
As leis universais da manifestação musical sendo demonstradas teoricamente pela
prática musical, pela composição.

Suas músicas eram como descobertas que ele precisava revelar ao mundo material.
Pedaços desse mundo de possibilidades demonstrados em músicas, em composições
musicais.

Acho que chegamos mais próximos do que seria o estudo da música. Fica claro que
não pode ser um estudo puramente técnico e intelectual, tem que ser um estudo do
mundo, das leis e da manifestação terrena das ondas sonoras.

Não podemos, claro, descartar o intelectual e o mecânico. Precisamos deles para


colocarmos em prática nossa conexão sensorial com esse outro mundo. (Como já
disse, Bach era um grande virtuoso e um teórico musical impressionante, um
verdadeiro gênio. Mas não se ateve a coisas puramente intelectuais e sem sentido.
Falo aqui de Bach mas tivemos vários outros grandes mestres que se preocuparam
com essa fidelidade para com a manifestação musical).

Mas a teoria não pode soterrar a prática. A teoria e o estudo da composição ou da


execução de instrumentos musicais tem sempre que estar baseados no estudo do por
quê disso tudo, por quê da música.
Se estudarmos a música por esse ângulo tudo fica mais leve, simples e descomplicado.
Quando vamos ensinar ou tocar música temos que passar isso da maneira mais simples
e verdadeira, sem complicação.

Por isso, compor melodias simples mas com alto nível sentimental...

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