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EXPRESSÃO DO CORPO

E MUSICALIDADE

Autora: Janaína Condessa

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Profa. Tatiana dos Santos Silveira

Revisão Gramatical: Profa. Iara de Oliveira

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2012


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

780
C745e Condessa, Janaina
Expressão do corpo e musicalidade / Janaina Condessa.
Indaial : Uniasselvi, 2012.
92 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-510-9

1. Música.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Janaína Condessa

Graduada em Licenciatura em Música (2006)


e Mestrado em Música (2011), subárea: Educação
Musical, pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Atualmente, trabalha na formação continuada
de docentes nas áreas da música e da educação.
É coordenadora pedagógica na educação infantil de
uma escola da rede privada do Rio de Janeiro, RJ. Tem
experiência na área da música, da dança, da educação
musical e da educação, atuando principalmente nos
seguintes temas: desenvolvimento cognitivo-artístico,
corpo e música, psicologia educacional, motivação e
formação de professores. Suas produções nessas
áreas são: materiais didáticos para sala de aula e
artigos acadêmicos em educação musical.
Sumário

APRESENTAÇÃO���������������������������������������������������������������������������� 7

CAPÍTULO 1
O Corpo Musical ����������������������������������������������������������������������������� 9

CAPÍTULO 2
Corpo, Música e Sociedade ������������������������������������������������������������ 31

CAPÍTULO 3
Corpo, Música e Educação������������������������������������������������������������� 49

CAPÍTULO 4
Corpo, Musicalidade e Motivação �������������������������������������������������� 71
APRESENTAÇÃO
Caro pós-graduando! Você está iniciando um estudo aprofundado sobre dois
conceitos que parecem bastante conhecidos ao público leigo: corpo e música. Ao
ouvir essas duas palavras, muitas pessoas diriam que conhecem as capacidades
do corpo e que a música estaria em um elemento a ser vivido. Acontece que isso
não é tão simples assim!

O corpo é tão, ou mais antigo, que os sons e são conceitos, ao mesmo tempo,
autônomos e interdependentes. Eles podem se relacionar tão profundamente,
que foi possível o nascimento de uma área: dança. O corpo balança ouve e
sente a música, resultando na simbiose imediata para que ocorra prazer e
desenvolvimento.

Você irá conhecer todo esse processo: como a expressão corporal-musical


torna o ambiente de sala de aula mais motivador e propício à aprendizagem das
artes; como o indivíduo e o meio podem se associar e criar um clima favorecedor
às experimentações dos corpos musicais; como, em qualquer idade, é possível
aprender música com o corpo; entre outros assuntos.

O mais importante, caro aluno, é que você acaba de mergulhar em um


universo em que aprender é se movimentar e é se movimentando que fazemos música!

Boa leitura!
C APÍTULO 1
O Corpo Musical

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Conhecer a relação corpo e música como parte da compreensão e vivência


humanas.

99 Identificar a musicalidade na expressão corporal dos alunos.

99 Explorar as possíveis manifestações do corpo na música.


Expressão do corpo e musicalidade

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Capítulo 1 O Corpo Musical

Contextualização
Caro pós-graduando, antes de começar essa disciplina, é preciso que
você compreenda que a expressão “corpo musical” retrata como nós, seres
humanos, nos relacionamos com os sons e com a música. A música perpassa
pelo nosso corpo, mexendo com nossas emoções e gestuais, estabelecendo
significados sociais e culturais à nossa formação. Neste primeiro capítulo, o corpo
e o movimento estarão presentes no decorrer do texto para que você relembre
suas experiências corporais com a música e perceba a importância do corpo para
compreendermos e darmos sentido à música. Este capítulo está dividido em três
seções: corpo e movimento, o corpo e a musicalidade e, por último, a expressão
corporal na música. Boa leitura!

História do Corpo Musical


A música faz parte de todos os povos e de todas as culturas:
A música faz parte
nenhuma cultura vive sem a música. Desde os tempos mais primitivos,
de todos os povos
o ser humano faz música e a utiliza em suas variadas formas. Na
e de todas as
sociedade, é através da música que se exploram e se manifestam
culturas: nenhuma
sentimentos, pensamentos e ações. Num indivíduo, a música tem
cultura vive sem a
a capacidade de equilibrar e amadurecer aspectos intelectuais e, ao
música.
mesmo tempo, emocionais. Como a música faz parte de todas as
culturas, o estudo da música permite ao indivíduo entender e se relacionar com o
passado e o presente do mundo em que vive, além de desenvolver o compromisso
com o futuro de sua cultura e do patrimônio histórico da humanidade. Segundo a
autora Iwanowicz (2003, p. 63-64),

O que se fazia antes com o corpo, hoje está sendo feito


pelas máquinas. Enquanto o artesão produzia uma peça
inteira, o operário executa somente alguns movimentos na
elaboração do produto. Hoje estamos mudando o nosso
ambiente e produzindo através de outros recursos, que não
são os corporais. Nesse aspecto, o que se valoriza mais
na nossa vida é nossa capacidade intelectual, cognitiva.
Essa tendência no desenvolvimento do ser humano está
nos afastando da necessidade de usar o nosso corpo
diretamente.

A música tem um efeito direto em nosso corpo. Os braços começam


a se movimentar, o coração pode acelerar, a voz sai repentinamente e todo o
corpo vibra, relacionando-se com a música. Há muitos estudos que defendem
a aprendizagem pelo corpo, que é o conhecimento mais voltado à atividade
concreta, antes da aprendizagem de conceitos, que é o conhecimento relacionado

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Expressão do corpo e musicalidade

à abstração do pensamento. Mais ainda em relação às artes, em que o corpo é o


principal instrumento de trabalho e o responsável pela relação psicofísica com a
construção do saber e do fazer.

No início dos tempos, o homem fazia sons e música com seu próprio corpo.
A emissão de diferentes alturas e intensidades vocais manifestava seu estado
de espírito e de humor para o grupo social que pertencia. A música, elemento
de identidade e de comunicação, era feita através da voz, da percussão corporal
(batidas e sons do corpo) e, posteriormente, foram criados os instrumentos
musicais, tais como o tambor e a flauta.

Figura 1 - A música e o homem primitivo

Fonte: Disponível em:< juarezqueirozxinguara.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

Figura 2 - Flauta de osso: instrumento musical pioneiro

Fonte: Disponível em: <sheillaliz.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

No início da vida, os sons e a música também fazem parte da nossa


compreensão de mundo. Um bebê aprende e se comunica através de sons,
ruídos e cantos espontâneos. Cada choro, cada batida e gestual representa uma

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Capítulo 1 O Corpo Musical

sensação corporal do que compreende. Quando um bebê canta e balbucia, ele


estabelece interação musical e social com o meio que o rodeia.

Atividade de Estudos:

1) Faça uma analogia entre a relação corpo e movimento que


ocorreu na “origem dos nossos tempos” e que ocorre na “origem
da vida” de cada um de nós. Discorra sobre esses dois tipos de
origens.
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Conforme expliquei, caro aluno, nosso corpo está em estreita relação


com a música. Ao ouvir uma canção, cantar nossa música favorita ou tocar um
instrumento musical, nosso corpo se envolve de forma cognitiva e emocional com
a música. O corpo pulsa e o movimento passa a ser único, em uma simbiose
gestual expressada no movimento através do corpo ou através da nossa mente,
porque “o corpo é um instrumento em meio a outros instrumentos no mundo das
coisas. Só que o corpo é um instrumento que não podemos utilizar por meio de
outro instrumento” (GALLO, 1997, p. 64). A seguir, caro aluno, você entenderá
melhor a relação entre corpo e movimento.

Corpo e Movimento

Você já ouviu uma música que lhe fez lembrar uma situação
passada? Dessa memória, a música lhe fez chorar ou se alegrar com
esse fato?

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Expressão do corpo e musicalidade

A música, portanto, tem o poder de revelar sensações corporais,


causadas por diferentes emoções – alegria, tristeza, saudade –, devido ao
movimento mental que nosso cérebro realiza para processar, codificar, entender e
dar significados à música (HALLAM, 2006). Quando ouvimos ou executamos uma
música, o movimento mental é revelado por imagens mentais nos hemisférios
direito e esquerdo do nosso cérebro. Esse acontecimento gera em nosso corpo
diferentes sensações que, por sua vez, influenciam nas nossas ações e decisões.

Imagens Mentais: são impulsos nervosos que ocorrem em


nosso cérebro quando estamos aprendendo ou fazendo alguma
atividade. Essas imagens podem ser obtidas por exames de
neuroimagem (por exemplo, a tomografia), que revelam através de
cores que a circulação sanguínea aumenta em certas regiões de
maneira diferente, de acordo com o tipo de tarefa efetuada.

Figura 3 - Neuroimagem

Fonte: Disponível em: <neurootic.wordpress.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

Agora, vamos partir para outra situação: você está em um ambiente festivo
e começa a tocar a sua música preferida. Seu coração pulsa mais forte e você
imediatamente se movimenta para o centro do ambiente e começa a dançar
e cantar essa música. Isso já aconteceu com você? Nesse caso, a música foi
codificada por seu cérebro, trazendo-lhe lembranças positivas que, por sua vez,
impulsionaram-lhe para a relação corporal com essa música. Diferentemente do
primeiro caso, o movimento perpassou pela mente e finalizou no corpo, na dança,
propriamente dita.

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Capítulo 1 O Corpo Musical

SACKS, Oliver. Alucinações musicais: relatos sobre a


música e o cérebro. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

A relação entre corpo e movimento se apresenta nos grupos A relação entre


sociais de acordo com suas características culturais, geracionais, corpo e movimento
se apresenta nos
étnicas e classe social. Segundo Lucy Green (2001), um grupo étnico
grupos sociais de
pode ser identificado pela combinação de suas práticas culturais, acordo com suas
experiências educacionais, língua, religião, raça, nacionalidade, características
localização geográfica, e outras questões relacionadas às pessoas do culturais, geracionais,
grupo, e uma classe social pode ser identificada também por suas étnicas e classe
práticas culturais e experiências educacionais, assim como o status social.
econômico dos seus membros ou o tipo de trabalho que eles exercem.

Por exemplo, um adolescente que mora na periferia de uma cidade grande


aprecia músicas que fazem parte de seu grupo social e, consequentemente,
desenvolve gestos, linguagens e maneiras de se vestir diferentes das de outro
adolescente de uma classe social diferente da sua. Isso não quer dizer que esses
dois jovens não possam gostar do mesmo estilo musical ou de uma mesma
música. Entretanto, a relação com esse universo musical, que inclui outras
características do jeito de ser, dependerá do ambiente que o jovem está inserido,
tais como o gosto musical de sua família, as oportunidades musicais que têm em
sua escola, as práticas culturais de seu meio, entre outros. Os grupos sociais,
portanto, irão se relacionar com a música através da sua própria música (prática
musical), da forma como se relacionam com a música e, finalmente, da maneira
que cada indivíduo é visto em relação à música.

Música do coração: filme americano (“Musico of the Heart”),


lançado em 1999. O filme retrata a vida de uma professora de música
(Meryl Streep), que deixa a segurança de sua pequena cidade
e se muda para o East Harlem com um objetivo: dar as crianças
esperança, orgulho e poder para fazer algo por elas mesmas da
forma mais improvável - através de cinquenta violinos. Após dez anos
de ensino, a escola decide por cancelar suas aulas. Apoiada por seus
amigos e pela comunidade local, ela decide lutar para manter o curso
em funcionamento.

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Expressão do corpo e musicalidade

Figura 4 - Filme: Música do Coração – Capa.

Fonte: Disponível em: <cinema.theiapolis.com>. Acesso em 22 jan. 2012.

Figura 5 - Filme: Música do Coração – Cena do filme

Fonte: Disponível em: <altfg.com.>. Acesso em: 22 jan. 2012

Entre os muros da escola: filme francês (“Entre les Murs”),


lançado em 2007. Trata-se da história de um professor de língua
francesa (François Bégaudeau) em uma escola de ensino médio,
localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas de ensino buscam
apoio mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos aprendam algo
ao longo do ano letivo. Esse professor busca estimular seus alunos,
mas o descaso e a falta de educação são grandes complicadores.

Figura 6 - Filme: Entre os muros da escola – Capa


Fonte: Disponível em: <filoeduc.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan.2012.

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Capítulo 1 O Corpo Musical

Figura 7 - Filme: Entre os muros da escola – Cena do filme

Fonte: Disponível em: <cinemajestic.wordpress.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

Há outras características sociais que podem influenciar na relação entre


corpo, música e movimento. A primeira delas refere-se aos significados da
música, que são transmitidos através da opinião das pessoas sobre a música,
que pode ser definida como “boa”, “ruim”, “indiferente”, “imoral”, “agressiva”, etc.
A segunda característica é a música em si mesma, que não representa somente
as nossas práticas musicais e seus significados, mas é o que está por trás
disso; é a capacidade de proporcionar certas crenças, valores, sentimentos ou
comportamentos. E a última é a identidade musical, em que a música pode definir
a identidade dos indivíduos dentro de um grupo; o indivíduo escolhe a sua música,
não arbitrariamente, mas por certos motivos e significados.

Pense nos estilos e músicas que você mais gosta. Agora, reflita
sobre o grupo de pessoas que você divide essas práticas musicais.
Com certeza, nem todas as pessoas do seu grupo social gostam
ou preferem músicas, lugares e jeitos de vestir iguais a você, não
é mesmo?? Então, tente refletir sobre essas questões: você já teve
preconceito de estar ou conversar com essas pessoas por causa
dessas diferentes características? Você já as julgou antecipadamente
por causa de suas escolhas musicais?

Da década de 60 para os dias de hoje, vivemos um período de muitas


transformações em relação à facilidade de acesso às tecnologias de informação
e comunicação e à expansão da indústria musical. Por um lado, circulam
equipamentos de gravação e reprodução mais baratos e eficientes, mas, por
outro lado, as desigualdades em relação ao seu acesso demarcam um período de
disputas políticas e de desigualdades sociais.

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Expressão do corpo e musicalidade

Figura 8 - Criança ouvindo música

Fonte: Disponível em: <mamaeecia.com.br>. Acesso em: 22 jan. 2012.

No ocidente, a música passou a ser cada vez mais um produto de circulação


universal, aproximando as fronteiras culturais entre os países da América e da
Europa. Não só por seus aspectos estilísticos e sonoros, a música passa a ditar
novas tendências de moda, de dança, de comportamento, de comunicação, enfim,
do “jeito de ser” das pessoas. Os grupos sociais surgem para consumir essas
novas ideias e se estabelecem social e culturalmente a partir de suas práticas
culturais, posição em classes sociais, língua, religião, raça, nacionalidade,
localização geográfica e experiências educacionais.

Figura 9 - Performance de Michael Jackson

Fonte: Disponível em: <lazermusica.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

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Capítulo 1 O Corpo Musical

Figura 10 - Performance de Madonna

Fonte: Disponível em: <supernovaheix.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

A diversidade cultural instaura-se declaradamente no período pós-segunda


guerra mundial e, atualmente, vivemos o chamado “multiculturalismo” que
representa a vigência de várias tendências artísticas convivendo ao mesmo
tempo. Trabalhar o multiculturalismo na educação é compromissar-se com a
apresentação da multiplicidade de culturas e respeitar as formas de manifestação
artística das sociedades.

As características das pessoas, sejam individuais ou sociais, irão


É importante
definir a relação entre o corpo e o movimento na música. Em sala de que o professor
aula, por exemplo, é importante que o professor proporcione estilos proporcione estilos
e músicas variadas a seus alunos, a fim de que possam conhecer e e músicas variadas
explorar seu corpo livremente na música. Atividades como dançar a seus alunos,
no ritmo da música, brincar de estátua quando a música pára, criar a fim de que
possam conhecer
coreografias, dançar em rodas ou em duplas são sugestões que podem
e explorar seu
enriquecer a interação corpo e movimento na música. Através dessa corpo livremente na
prática, o aluno terá a oportunidade de se relacionar diretamente com música.
a música, estabelecendo significados concretos à música através do
movimento, e conhecerá concepções estéticas de imagem corporal,
tomando consciência de seu corpo de forma sistemática e exercitando sua
criatividade para além de meras imitações.

Para quem trabalha com crianças e quer fazê-las soltar o


corpo e dançar diversos ritmos, indico o material “Músicas Daqui,
Ritmos do Mundo” (autor: Zezinho Mutarelli, Vice Versa Editora).
Para aqueles que trabalham com adolescentes ou adultos, sugiro
montar com eles uma seleção musical “Top 10”, com músicas de
diversos estilos musicais.
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Expressão do corpo e musicalidade

Figura 11 - Capa do CD/Livro: Músicas Daqui, Ritmos do Mundo

Fonte: Disponível em: <pindoramabrinquedos.com. br>.


Acesso em: 22 jan. 2012.

Nessa perspectiva, o corpo musical em movimento aprende


A primazia da formação
de um corpo sensível, novas concepções culturais e artísticas, presentes em um maior
lúdico e livre para se número de grupos sociais. A primazia da formação de um corpo
movimentar possibilita sensível, lúdico e livre para se movimentar possibilita ao sujeito
ao sujeito sensações sensações prazerosas de ritmo e coordenação, além de potencializar
prazerosas de ritmo suas formas de relação consciente com a música. Portanto, é
e coordenação, além necessário que, antes de proporcionar essas experiências para
de potencializar suas
outras pessoas, você, caro aluno, estude e experimente novos
formas de relação
consciente com a ritmos primeiro, através de variados gestos e movimentos com seu
música. corpo.

A seguir, você poderá aprofundar o tema deste primeiro capítulo


através do estudo sobre a relação entre o corpo e a musicalidade humana.

O tipo de relação entre O Corpo e a Musicalidade


música e movimento
e, consequentemente, Independente da variabilidade do que é considerado como
a relação entre corpo ‘música’, há uma unanimidade de que a musicalidade é um aspecto
e musicalidade varia
universal do ser humano. As diferenças e semelhanças entre as culturas
conforme o que cada
sobre o que é música estão ligadas às suas características intrínsecas,
cultura prioriza em
relação à dança. que são: a música é universal e encontra-se em todas as culturas; ela é
a essência da humanidade; a música nos difere das outras espécies; e,
nenhuma cultura vive sem a ‘música’ (HALLAM, 2006).

O tipo de relação entre música e movimento e, consequentemente, a relação


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Capítulo 1 O Corpo Musical

entre corpo e musicalidade varia conforme o que cada cultura prioriza em relação
à dança. Refiro-me aqui à Dança como uma grande área artística, a qual possui
semelhante importância a da Música, do Teatro e das Artes Visuais. Nosso
ponto de partida é pensar que “tanto a música quanto a dança, são intraduzíveis
em palavras, pois assim, certamente, estaríamos reduzindo suas dimensões”
(RODRIGUES, 2009, p. 39).

Caro aluno, é importante que você saiba que essas grandes


áreas artísticas – Música, Dança, Teatro e Artes Visuais – foram
consideradas como áreas separadas pela legislação brasileira
educacional somente em 1996, quando a Lei de Diretrizes e Bases
número 9394 entrou em vigência, afirmando que “O ensino da arte
constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da
educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural
dos alunos” (artigo 26, parágrafo 2º). Por um lado, devemos nos
questionar sobre por que o Brasil demorou tanto para considerar
e separar artes tão antigas e importantes na formação dos seus
cidadãos. Por outro lado, também devemos comemorar esta
conquista, mesmo que tenha sido tardia.

Figura 12 - Dança como arte

Fonte: Disponível em: <blogdapri.com.br>. Acesso em: 22 jan.2012

A relação entre corpo, movimento e musicalidade manifesta-se através da


dança entre diferentes culturas. Muitos elementos podem ser considerados para
que analisemos o porquê e como se manifestam essas diversas formas de relação.
A seguir, caro aluno, explicarei essa pluralidade de acordo com a intersecção entre

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Expressão do corpo e musicalidade

dança e música e partirei da concepção musical de Green (2001), que cita as


funções da música na sociedade atual, baseando-se em três focos diferenciados:
no indivíduo, no grupo e na sociedade. No primeiro foco, a autora entende que a
função da música no indivíduo possibilita que ele expresse-se emocionalmente
de forma não-verbal, que a música pode envolver uma atividade estimulante ou
relaxante, oportunizando-o a experiências estéticas e de diversão. Além disso, a
‘performance’ permite uma demonstração das experiências e a musicalidade do
indivíduo, e é permitida, em todos os tipos de atividades musicais, a melhoria
da concentração, da disciplina, da coordenação motora e das habilidades de
leitura e escrita. Nesse sentido, traço um paralelo da música com a dança, que
também representa uma atividade de livre expressão e que pode trazer à tona
experimentações estéticas e emocionais.

A segunda função da música, que é no grupo, a autora afirma


A música
oportuniza que a música é um meio de comunicação que pode representar
experiências e significados sociais através da criação, da interpretação, da execução
compreensões e da apreciação. A música oportuniza experiências e compreensões
sobre diferentes sobre diferentes identidades, garantindo aos indivíduos o trabalho em
identidades, grupo. No que se refere à sua função na sociedade, Hallam destaca
garantindo aos
os seguintes aspectos: produz significados de símbolos representativos
indivíduos o
trabalho em grupo. sobre idéias e comportamentos; permite a validação de grupos sociais e
rituais religiosos; contribui para a continuidade e estabilidade da cultura;
garante aos indivíduos o trabalho em grupo; reflete, muitas vezes, o
poder que o estado exerce sobre a sociedade; e, reflete os valores, as atitudes e
as características de uma sociedade. Da mesma forma, a dança também reproduz
formas de manifestação de uma sociedade, principalmente porque estabelece, no
próprio corpo, a representação das formas de pensar, de agir e de se comportar
numa cultura.

Atividade de Estudos:

1) Escolha uma música que você identifique que seja possível


de ser dançada e analise-a de acordo com as três funções
estudadas: indivíduo, grupo e sociedade. Você pode utilizar as
seguintes perguntas-guia para fazer a análise de cada uma das
três funções: quais atitudes e ideias estão implícitas na relação
entre essa música e essa dança? Quais são as características
(individuais e sociais) que demarcam essa música e essa dança?
Como é visto e considerado a manifestação desse corpo musical?
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Capítulo 1 O Corpo Musical

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A partir desses questionamentos, você está pronto para conhecer as


diferentes musicalidades que existem pelo mundo. O mais importante é que você
tenha compreendido que a relação entre o corpo e a musicalidade manifesta-se
no movimento e na dança. Essas diferentes manifestações ocorrem de acordo
com as funções que a música e a dança possuem numa sociedade, numa cultura.
Na próxima seção, caro aluno, você terá a oportunidade de conhecer as diferentes
maneiras de se expressar corporalmente na música. Logo, o assunto deste
primeiro capítulo estará fechando seu ciclo e espero que você tenha interagido
com as diferentes relações estudadas: corpo e movimento, corpo e musicalidade,
que resultam em um “corpo musical” que todos nós temos!

A Expressão Corporal na Música


Como você tem percebido caro pós-graduando, temos nos aprofundado
nas relação entre corpo, movimento e música. Nesta seção, você irá estudar
as diferentes formas de expressão corporal na música, que não se dá somente
através da dança, mas através de todos os gestuais atribuídos à compreensão
musical.

A musicalidade brasileira, por exemplo, está diretamente relacionada à


expressão músico-corporal. Nossas heranças musicais – indígenas, portuguesas
e africanas – e nosso percurso musical resume essa analogia. Quando você ligar
a televisão para assistir a um programa brasileiro, preste atenção nos ritmos
marcantes da trilha sonora. Você já percebeu? Lentas ou rápidas, a maioria das
músicas é dançante e são compostas no ritmo sincopado da bossa e do samba
brasileiro. Muitas delas estão relacionadas a temas amorosos, o que nos levam
ao envolvimento direto com nossa musicalidade corporal.

23
Expressão do corpo e musicalidade

ALMEIDA, Maria Berenice de; PUCCI, Magda Dourado.


Outras terras, outros sons. São Paulo: Editora Callis, 2003.

A expressão corporal na música também é utilizada para compreender os


elementos musicais.

ELEMENTOS MUSICAIS: entende-se por elementos musicais


aqueles que fazem parte de qualquer música. São eles: forma,
textura, timbre, harmonia, expressão, ritmo e melodia.

FORMA: é a característica estabelecida pela organização


horizontal do conjunto de partes de uma obra musical.

TEXTURA: é a característica estabelecida pelo conjunto de


sons que ocorrem, simultaneamente, dentro de uma obra.

TIMBRE: é a qualidade sonora que nos permite identificar a


origem do som e as qualidades da fonte sonora que o produz.

HARMONIA: é o resultado sonoro da sucessão de acordes num


determinado período de tempo.

EXPRESSÃO: é o modo pelo qual a dimensão emocional da


música é demonstrada. Muitas vezes a expressividade de uma peça
musical é determinada por nuances do elemento intensidade (forte -
f - ou fraco - p - ).

RITMO: é o elemento temporal da música. Resulta da relação


existente entre as diferentes possibilidades de duração de sons.

MELODIA: é a sucessão de intervalos gerados entre sons de


alturas definidas (graves ou agudas).

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Capítulo 1 O Corpo Musical

Variados métodos de educação musical foram criados para que


O corpo sempre
compreendêssemos a música através da expressão corporal. Segundo esteve presente,
Fonterrada (2008), o aparecimento dos chamados “métodos ativos” frequentemente
em educação musical acompanhou a forte tendência do início do nas ações de ouvir
século XX: a dissolução do ser humano em meio à vida coletivizante, ou discutir sobre
à perda da sensibilidade e à tendência à extinção da arte criativa. Isso musica.
significa que antes do aparecimento dos criadores desses métodos, a relação
entre expressão corporal e música era praticamente nula. O corpo sempre esteve
presente, frequentemente nas ações de ouvir ou discutir sobre musica, mas não
de forma a experimentar livremente o corpo a partir dos sons. O estudo de um
instrumento musical, por exemplo, era mais rígido e corporalmente controlado,
pois “socialmente” não lhe caía bem muitos movimentos.

Após a metade do século XX, iniciaram-se os estudos da psicologia do


desenvolvimento musical, que consideram, até hoje, a musicalidade e o corpo
como expressão de um conjunto de fatores hereditários, ambientais, psicológicos
e sociais. Surgiram, então, os métodos de ensino centrados no indivíduo e não na
arte em si mesma. Esse tipo de concepção enfatiza a expressão e o sentimento,
em que o sujeito passa a ser visto como descobridor e criador do mundo e não
como mero perpetuador de valores estabelecidos. Trabalha-se, então, com o aluno
como construtor de seu conhecimento e com a preocupação com o processo de
aquisição do conhecimento. Seguindo a ideia de que a experiência corporal-musical
intuitiva é um precursor essencial da compreensão musical, surgiram os métodos
de educação musical de: Dalcroze, Kodály e Orff, conforme veremos a seguir.

• Émile Jacques-Dalcroze (1865-1950): usa movimentos corporais para a


demonstração da percepção e compreensão dos elementos musicais, em
especial, o ritmo. Propõe a livre expressão do indivíduo em relação com a
música.

• Zoltán Kodály (1882-1967): utiliza gestos manuais associados a cada som


musical (fonomímica), para que haja compreensão da altura dos sons. Procura
integrar canto, audição, leitura e escrita musical por meio da educação da voz
e do corpo.

• Carl Orff (1895-1981): utiliza canções folclóricas e infantis, arranjadas no seu


instrumental Orff (intrumentos de percussão, como metalofone, xilofone e
outros). Relaciona o movimento com a palavra, para despertar a faculdade de
invenção e dar ocasião para a expressão espontânea.

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Expressão do corpo e musicalidade

Atividade de Estudos:

1) Escolha um dos autores desses métodos e proponha uma


atividade que aborde a expressão corporal na música.
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Além dessas novas formas de se relacionar e se expressar com a música,


há também outras que também podemos interagir corporalmente com a música:
apreciação, execução e composição musical.

Essas modalidades são os pilares educacionais do ensino de


música defendido por Keith Swanwick (2003) , que criou o modelo
CLASP, traduzido para o português como modelo (T)EC(L)A, que
inclui, além da Apreciação, Execução Composição, modalidades
periféricas ou de suporte que são: (T) habilidades técnicas e (L)
literatura. Para este caderno de estudos, utilizarei somente as três
formas de se relacionar com a música (A, E e C) como elementos-
guia e não como forma de adotar ou utilizar o método de Swanwick.

Ao ouvir música, o indivíduo é levado a assimilar e acomodar-se àquelas


combinações sonoras, imitando-as internamente. Ao apreciarmos uma música,

26
Capítulo 1 O Corpo Musical

estamos envolvidos pelo movimento (RODRIGUES, 2009). As atividades de


apreciação, portanto, são essenciais para o desenvolvimento cognitivo-musical.
Através da apreciação, o sujeito entra em contato com seu imaginário e os
significados simbólicos do pensamento, fazendo associações a experiências
prévias mais concretas ou mais abstratas com a música. Dessa forma, os gestos
musicais alcançados através da apreciação podem se expandir num movimento
corporal ou mesmo se manter internalizado, a partir das imagens mentais que os
sons proporcionam ao cérebro humano.

Ao executar uma música, seja vocal, instrumental ou corporalmente, podemos


colocar em ação um conjunto de habilidades sensoriais, físicas e intelectuais. Essa
modalidade é a que mais nos coloca em contato corporal com a música, tornando
significativas as primeiras experiências através da corporificação de esquemas
musicais, ao invés de movimentos estreitos e conceitos intelectuais. Nos ciclos
mais avançados, em que a música já foi experienciada de forma mais concreta, é
possível alcançar os termos e as definições, chegando a conceitos musicais mais
elaborados e abstratos. Há três tipos de execução, podendo haver combinações
entre eles: execução vocal, execução instrumental e execução corporal. Todos
esses tipos de execução podem promover o desenvolvimento musical através
de propostas acessíveis sobre as quais todos tenham a oportunidade de tomar
decisões expressivas e criativas.

Atividade de Estudos:

1) Tente lembrar e cantar em voz alta a canção “Marcha Soldado”:

Marcha Soldado
Cabeça de papel
Se não marchar direito
Vai preso pro quartel

O quartel pegou fogo


Francisco deu sinal
Acode, acode, acode
A bandeira nacional
“Brasil”

Cante outra vez a música e tente bater palmas no ritmo dela.


Agora, para finalizar, sublinhe cada sílaba que você bateu a palma.

27
Expressão do corpo e musicalidade

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Enquanto compõe, o indivíduo desenvolve o pensamento abstrato, pois cria


mundos imaginários, estruturando os sons conforme sua intenção expressiva.
A ação de compor inclui desde a realização musical mais simples até a mais
elaborada em turmas numerosas, por exemplo, a composição musical pode
ser viabilizada em pequenos grupos, dentro dos quais os alunos podem tomar
decisões musicais. A modalidade composição pode dividir-se em processos
mais simples aos mais complexos, de acordo com as etapas: exploração,
improvisação e composição, propriamente dita. Além disso, há possibilidades
de ampliação das atividades, tais como: composição de letra, composição de
acompanhamento, composição musical, composição corporal, etc.

Atividade de Estudos:

1) Cante sua canção favorita e componha um acompanhamento


rítmico para ela. Desafio: o acompanhamento deve ser feito com
seu próprio corpo e deve ter três tipos de movimentos que façam
som (por exemplo: bater palmas, estalar dedos, etc.).
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Capítulo 1 O Corpo Musical

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Algumas Considerações
Portanto, caro aluno, é a partir da nossa expressão corporal na música é
que teremos a possibilidade de desenvolver nossas habilidades musicais. Dessa
forma, vivenciaremos concretamente os elementos musicais e poderemos estar
cada vez mais aptos a aprofundar conceitos sobre música, os quais anteriormente
pareciam tão distantes de nossa razão. O mais importante é que haja a ligação
entre música, corpo e movimento, explorando os benefícios característicos de
cada um deles e relacionando-os na musicalidade do gesto, na reconstrução do
movimento pulsante que é o nosso corpo musical.

Após essas explanações, reflexões e atividades práticas espero que você


tenha envolvido seu corpo e sua mente nesse tema. Finalizo este capítulo com
a seguinte frase para ser refletida: nosso corpo vive socialmente o paradoxo de
ser único e individual e, ao mesmo tempo, coletivo. A unicidade é encontrada ali
e naquele momento e o coletivo manifesta-se concomitantemente, pois possui
todas as características e necessidades inerentes ao grupo social e cultura nos
quais está inserido.

Referências
ALMEIDA, Maria Berenice de; PUCCI, Magda Dourado. Outras terras, outros
sons. São Paulo: Editora Callis, 2003.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre


música e educação. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Editora
FUNARTE, 2008.

GALLO, Silvio. Ética e Cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1997.

29
Expressão do corpo e musicalidade

GREEN, Lucy. Music in society and education. In: PHILPOTT, Chris;


PLUMMERDIGE, Charles (Orgs.). Issues in music teaching. USA: Routledge,
2001. p. 47-60.

HALLAM, Susan. Music Psychology in Education. 1. ed. London: Institute of


Education, University of London, 2006.

IWANOWICZ, Barbara. A imagem e a consciência do corpo. In: BRUHNS,


Heloisa Turini. Conversando sobre o corpo. Campinas, SP: Papirus, 2003.
p.63-81.

RODRIGUES, Márcia Cristina Pires. Apreciação musical através do gesto


corporal. In: BEYER, Esther; KEBACH, Patrícia (Orgs.). Pedagogia da Música:
experiências de apreciação musical. Porto Alegre: Mediação, 2009. p. 37-50.

SACKS, Oliver. Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro. São


Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Editora


Moderna, 2003.

30
C APÍTULO 2
Corpo, Música e Sociedade

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Estabelecer a relação entre o corpo e a música, a partir do estudo do sujeito e


do meio em que ele está inserido.

99 Conhecer manifestações do corpo na música que estão presentes no cotidiano


musical dos alunos.

99 Identificar exemplos dessas manifestações como meio de expressão ou meio


de comunicação.
Expressão do corpo e musicalidade

32
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

Contextualização
Caro pós-graduando, este capítulo trata, fundamentalmente, da relação
entre o corpo e a música, sob dois enfoques: o estudo do sujeito, desde que
começa a ouvir (na gestação) até a fase adulta; e o estudo do meio ambiente e as
características que podem influenciar a relação corpo e música do sujeito. O texto
ganha vida, pois, de alguma forma, você se reconhece como o sujeito e como
participante de uma sociedade que está mergulhada na nova era digital. Ao final
do capítulo, você conhecerá dois tipos de manifestações corporais-musicais do
cotidiano musical, a expressão e a transmissão; As atividades de estudo são mais
desafiadoras e construtivas. Tenha uma ótima leitura!

Relação Entre Corpo e Música


Para iniciarmos este capítulo, é importante relembrarmos que é O corpo se
através do corpo que se dão as ações construtivas do saber e do fazer expressa na música
musical. Partindo-se deste princípio, temos o corpo como estrutura em diferentes
fundamental para o entendimento musical, desde os conceitos mais modalidades –
simples aos mais complexos. Também é importante retomarmos a ideia por exemplo,
de que o corpo se expressa na música em diferentes modalidades – por quando ouvimos
uma canção
exemplo, quando ouvimos uma canção (apreciação), quando tocamos
(apreciação),
um instrumento musical (execução) ou quando criamos uma letra de quando tocamos
música (composição). Todas essas formas, portanto, envolvem o corpo um instrumento
e uma totalidade de suas funções: memória, sensações, respiração, musical (execução)
movimentos musculares, entre outras. ou quando
criamos uma
Atualmente, grande parte das sociedades está envolvida por uma letra de música
(composição).
intensa massa sonora, que cobre nosso ar e nossos ouvidos com
música, sons, ruídos, bips, máquinas e vozes. Estamos cotidianamente
imersos nessa massa sonora, a qual Schafer (1991, p. 123) denominou como “nova
paisagem sonora da vida contemporânea”. Independente do lugar que estivermos,
estamos expostos a mais sons do que a silêncios.

Temos pouco tempo para fazer ou agradarmo-nos com as tarefas que


executamos; o tempo passa rápido; as relações e as experiências mais profundas
parecem raras. Você consegue responder quanto tempo você reserva para si
mesmo? Durante o dia, você já conseguiu parar somente para escutar a sua
respiração? Para ouvir uma canção?

Vivemos um período em que exercitarmos pouco a escuta, a apreciação.


O desenvolvimento acentuado das tecnologias de informação, de comunicação

33
Expressão do corpo e musicalidade

e dos meios eletrônicos acelera a pulsação de nossas vidas e do nosso ritmo


corporal. Por causa disso, algumas pessoas têm procurado desacelerar
seu cotidiano, a fim de conhecer melhor seu corpo e sua mente, em meio ao
movimento caótico e barulhento do cotidiano atual. Em contrapartida, o corpo
no cotidiano entra como parte dessa aceleração e também da busca pela arte
de parar, ouvir, escutar e apreciar.

Nas próximas seções, a relação corpo e música será aprofundada sob dois
grandes aspectos: sujeito e meio social. Em relação ao sujeito, a próxima seção
apresenta como se dá essa relação desde a gestação até a idade adulta. Na
seção seguinte, a relação corpo e música é tratada acerca dos elementos sociais
do meio que influencia a relação corpo-música nos dias de hoje.

Corpo e Música – Desde a Gestação


(Sujeito)
Sujeito é um ser humano aberto a um mundo que possui uma
historicidade; é portador de desejos, e é movido por eles, além
de estar em relação com outros seres humanos, eles também
sujeitos (CHARLOT, 2000,p.15).

Querido aluno, a seguir, você irá desvelar os caminhos musicais que todos
nós temos a oportunidade de traçar durante a nossa vida, desde o nascimento
até a vida adulta. Conforme estudamos no capítulo 1, podemos fazer um paralelo
entre a nossa trajetória com a música na origem dos tempos, desde a música
primitiva, e a trajetória que percorremos, desde o período intra-uterino. Você irá
conhecer a relação entre corpo e música sob o enfoque do estudo do sujeito e
suas características, de acordo com cada período de vida.

ILARI, Beatriz Senoi. Bebês também entendem de música:


a percepção e a cognição musical no primeiro ano de vida.
Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 7, 83-90, set. 2002.

Aos quatro meses de gestação, o bebê já possui seu aparelho auditivo


formado. Ele pode ouvir e responder a esses sons, podendo se comunicar com as
pessoas que fazem parte de sua vida, mesmo ainda sem vê-las. Nesse momento,
sua mãe é a pessoa mais importante para a sua formação musical, pois é ela que

34
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

estabelece os vínculos e os exemplos sonoros e musicais que o rodeiam. Por


isso, o contato da mamãe com esse universo musical irá possibilitar a preparação
do bebê para o contato com o mundo sonoro externo, auxiliando na sua rotina, no
seu desenvolvimento cognitivo-emocional e nos momentos de alegria e também
de desconforto do bebê.

Figura 13 - Música na gestação

Fonte: Disponível em: <bossavozeviolao.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

Após o nascimento, o bebê passa por um período de adaptação


Cantar para o bebê
ao mundo externo. Os sons, as vozes, as cores, os cheiros e os é muito importante
espaços fazem parte dessa nova vida, que vai conhecendo aos poucos nessa fase. Através
sua rotina e as pessoas que o amam. A música também faz parte de sua prática,
de sua vida e o bebê manifesta interação musical nos seus ruídos, o bebê identifica
sorrisos e choros. Seu corpo passa por transformações físicas diárias as pessoas e os
espaços e também
e, consequentemente, a música e os sons que o rodeiam passam a
pode ser utilizada
ter múltiplos significados. A voz da mamãe vai sendo reconhecida e o como elemento
canto do papai torna-se familiar. Cantar para o bebê é muito importante relaxante.
nessa fase. Através de sua prática, o bebê identifica as pessoas e os
espaços e também pode ser utilizada como elemento relaxante.

Após os seis meses, a relação entre corpo-sons-música é expressada


pelo bebê através de seus balbucios, tornando-os cada vez mais presentes em
sua comunicação. Dessa forma, as músicas cantadas podem se tornar cantos
espontâneos no bebê, que são suas primeiras manifestações musicais. Além de
cantar, a manipulação de objetos sonoros e instrumentos musicais apropriados
para essa faixa etária possibilitam o prazer de fazer música para o bebê. Os
momentos de expressão corporal coma música estimula-o a se movimentar e
fortalecer seus músculos. Os momentos de relaxamento com música continuam
auxiliando o bebê nos desconfortos e também possibilitam trocas de carinho entre
o bebê e sua família.

35
Expressão do corpo e musicalidade

Figura 14 - Música e relaxamento para os bebês

Fonte: Disponível em: <lucimariarangelpsicologa.blogspot.com>. Acesso em: 22 jan. 2012.

Ao completar o primeiro ano de vida, o bebê utiliza a música para se comunicar,


brincar, dançar e relaxar. A relação com a música perpassa pelas suas sensações
corporais e também por suas emoções. O bebê já é capaz de identificar músicas
calmas, alegres, tristes e pode reconhecer as diferentes funções da música (por
exemplo, música para dormir). O trabalho com corpo e música deve ser diversificado
– através de histórias sonorizadas, músicas com gestos, músicas com instrumentos,
pequenas coreografias – para que o bebê comece a estabelecer interações com
outras crianças e com os objetos que o rodeia.

Próximo aos dois anos de vida, ele já começa a se firmar para


A relação corpo e
música deve ser a ação do caminhar. Mexe em tudo, quer explorar tudo com a boca e
a mesma, com entende o mundo somente através de seu corpo (cheirando, tocando,
muitas danças, mexendo). Por isso, a relação corpo e música deve ser a mesma, com
sons e atividades muitas danças, sons e atividades que envolvem diretamente o corpo.
que envolvem
diretamente o Figura 15 - Instrumento musical para bebê
corpo.

Fonte: Disponível em: <labambolabrinquedos.com.br>. Acesso em: 22 jan. 2012.

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Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

Atividade de Estudos:

1) Faça um resumo sobre a relação entre corpo e música, da


gestação até os dois anos de idade.
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Na chegada da infância, a fala passa a ser o componente marcante do sujeito:


ele não se comunica somente através de sons e gestos corporais. A linguagem
verbal começa a se desenvolver e a música também é uma linguagem que pode
ser desafiadora para a faixa etária dos dois aos quatro anos de idade.

Uma das formas de relação do homem com os outros é a fala.


As línguas não são resultantes de uma simples convenção
para expressão do pensamento, mas nascem das várias
maneiras de o homem, como corpo, vivenciar e celebrar o
mundo. [...] A fala é, pois, a função do corpo que mais está
ligada à existência junto ao outro (GALLO, 1997, p. 64).

Cantar, dançar, tocar instrumentos ainda fazem parte da compreensão


musical. Lembre-se, caro aluno, a música precisa passar pelo corpo para ser
entendida pelo indivíduo. Quando entendida, os elementos musicais podem vir
cada vez mais complexos, chegando, após os quatro anos, em atividades de maior
abstração (como, por exemplo, ouvir uma música, falar sobre os instrumentos que
tocam e desenhá-la).

A música permeia a prática diária da criança. Para enriquecermos o universo


musical infantil é preciso que sejam oferecidos os mais diferentes contatos da
criança com a música: escutar, dançar, tocar, cantar, entre outros. Além disso,
o imaginário infantil deve ser facilitado através de histórias sonorizadas, em que
contamos, cantamos e sonorizamos o enredo.

37
Expressão do corpo e musicalidade

Primeiramente, devemos partir do “fazer musical”, em


Devemos partir do
“fazer musical”, em que a criança possui experiências concretas com a música,
que a criança possui desenvolvendo suas capacidades do fazer, expressar e conceituar.
experiências concretas Esse “fazer musical” envolve três categorias metodológicas
com a música, que devem permear equilibradamente seu planejamento e sua
desenvolvendo suas ação docente: apreciação, execução e composição, conforme já
capacidades do fazer,
estudamos no capítulo 1. Cada uma delas envolve procedimentos
expressar e conceituar.
e resultados específicos em relação à música enquanto discurso
simbólico, além de promover diferentes níveis de engajamento
cognitivo e afetivo.

“Canções de Brincar”, do grupo Palavra Cantada.

Atividade de Estudos:

1) Ouça a música “Sopa” (do cd “Canções de Brincar”, do grupo


Palavra Cantada) e proponha uma atividade em que haja relação
corpo-música, para uma turma de cinco crianças, na faixa etária
de três anos de idade.
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Com a chegada do pensamento abstrato, perto dos cinco anos de idade, a


criança se relaciona com o mundo através das brincadeiras de faz-de-conta, da

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Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

fantasia, da sua imaginação. Sua capacidade de criar e de entender situações


hipotéticas se desenvolve nas situações diárias e a língua falada aproxima-se da
língua escrita. A compreensão de símbolos (significantes e significados) faz
parte de seu interesse e de seu cotidiano escolar. A música pode ser trabalhada,
utilizando-se da relação corpo e música, no que diz respeito a aspectos mais
representativos e abstratos, como, por exemplo, a análise da letra de uma música
e a composição de uma nova letra.

Significantes são as coisas existentes no mundo externo.

Significado é a interpretação que damos a essas coisas.

Atividade de Estudos:

1) Exercite a sua criatividade, criando uma nova letra para a canção


folclórica “A Dona Aranha”. Eleja outro animal para compor
sua música. Faça esse exercício também com seus alunos
(independente da idade, os resultados são incríveis).

A Dona Aranha
Subiu pela parede
Veio a chuva forte
E a derrubou

Já passou a chuva
E o sol já está surgindo
E a Dona Aranha
Continua a subir

Ela é teimosa
E desobediente
Sobe, sobe, sobe
Nunca está contente

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Expressão do corpo e musicalidade

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Com a entrada da adolescência, o corpo começa a adquirir


As relações que
estabelecem com outros interesses e relações com o mundo. As capacidades mentais
as pessoas são adquirem rapidez e maturidade, fazendo com que o sujeito consiga
fundamentais para elaborar e prever melhor as situações. As relações que estabelecem
a busca de sua com as pessoas são fundamentais para a busca de sua identidade. O
identidade. adolescente busca relações fora de seu círculo familiar (OSTERMAN,
2000), as quais são representadas por colegas e amigos de dentro ou
fora do contexto escolar. Sua relação com a música é estabelecida através do que
seu grupo social se interessa, sofrendo, consequentemente, muitas influências da
mídia. Seu corpo experimenta variados estilos musicais, muito mais através da
escuta do que da dança.

Atividade de Estudos:

1) Discorra sobre a influência atual da mídia na relação corpo e


música dos adolescentes.
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Na fase jovem e adulta, há uma certa sensação de que já experimentamos tudo


e a tendência é de nos acomodarmos. A infância já passou, a adolescência também
e agora somos responsáveis por nossas próprias vidas e possíveis mantenedores
de futuras vidas. Em consequência disso, experimentamos menos e somos mais

40
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

resistentes ao novo. No entanto, é o momento desta maturidade que melhor


podemos compreender o que aprendemos e transformar os métodos de forma
consciente. A relação corpo e música reflete muitas das experiências anteriores,
mas isso não quer dizer que essa relação não pode ser refeita ou reinterpretada.
Às vezes, o trabalho com música pode ter cunho terapêutico, no sentido de rever
ou mesmo revelar sentimentos e ações humanas. A música tem o poder de acalmar
e resgatar males não tão bem curados. Assim como, a música pode restabelecer a
autoestima e mostrar que podemos aprendê-la em qualquer fase da vida.

Atividade de Estudos:

1) Aprecie uma música instrumental calma e do seu agrado. Feche


os olhos e respire calmamente. Ao terminar a música, anote em
um papel tudo o que sentiu e que lhe veio à mente no momento
da apreciação. Em seguida, faça uma reflexão sobre as suas
anotações e relate aqui como seu corpo se relacionou com essa
música.
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O Corpo no Cotidiano Musical (Meio Social)


Ao manter contato com outras pessoas, revelamo-nos
pelos gestos, pelas atitudes, pela mímica, pelo olhar,
pelos movimentos que expressam nossas manifestações
corporais. O movimento não é um simples mecanismo, mas
um gesto expressivo de significados, que transmite ao outro
nossa interioridade, tudo aquilo por que passamos: alegria,
saudade, dor, medo, ansiedade, desejos, afetividades, etc.
(GALLO, 1997, p. 65).

41
Expressão do corpo e musicalidade

O cotidiano representa o dia a dia das pessoas, seus hábitos,


A vida cotidiana
envolve, ao mesmo características e culturas tradicionalizadas, mas também modificadas de
tempo, um único geração em geração. Na manifestação do cotidiano, todas as pessoas
sujeito e todos os são importantes na manutenção e na transmissão dos valores sociais
outros. correntes. Ou seja, a vida cotidiana envolve, ao mesmo tempo, um
único sujeito e todos os outros, pois ela “é um atributo do ator individual,
porém ela se realiza sempre num quadro socioespacial. Seu estudo deve partir dos
homens, da sua vida real, a importância dos valores e do senso comum para revelar
as suas estruturas” (SOUZA, 2000, p. 37).

A reflexão dessa autora faz-nos refletir sobre o desafio de observar o singular e


o universal, o sujeito e o meio, o subjetivo e o objetivo. Em educação, é necessário
que entendamos nossos alunos como seres únicos, mas também integrantes
e formadores de um cotidiano cultural que se movimenta dia após dia. Você já
identificou que sua tarefa não será fácil, não é mesmo, caro pós-graduando? Como
saber o que ensinar ou aprender do cotidiano musical? Como trabalhar com as
diferentes manifestações corporais-musicais do cotidiano? As respostas para essas
questões não são limitadas, pois quando falamos em cotidiano, consideramos
elementos sociais e, consequentemente, passíveis de mudança. Para entendermos
o corpo no cotidiano musical devemos considerar o período histórico e a cultura que
vivemos. Portanto, nos próximos parágrafos, apresentarei a você como, atualmente,
o “corpo” está relacionado ao cotidiano musical. Mas, antes de passarmos para
essa explicação, proponho-lhe uma atividade de estudo.

Atividade de Estudos:

1) Imagine a situação seguinte – você está andando pelos corredores


da escola onde você trabalha e, antes de entrar em sala de aula,
observa que alguns alunos de sua turma estão brincando de
jogos de mãos e de palmas.

Figura 16 - Jogo de mãos

Fonte: A autora.
42
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

Neste momento, você acaba de experienciar a utilização do


corpo no cotidiano musical de seus alunos e quer aproveitar a
atividade para explorá-la em sua aula. Como você aproveitaria
essa atividade musical para o planejamento da sua aula?
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A relação entre o corpo e a música na sociedade atual pode se dar


A relação entre o
de duas maneiras: música e corpo como expressão, música e corpo corpo e a música
como transmissão. Na primeira forma, a relação entre música e corpo na sociedade atual
pode ser observada sob aspectos de livre expressão, contato natural e pode se dar de
possíveis manifestações corporais ao ouvir, fazer ou criar uma música. duas maneiras:
música e corpo
Atualmente, um dos elementos que podem gerar uma tendência como expressão,
música e corpo
sobre essa relação cotidiana corpo-música é a mídia. Muitas vezes, a
como transmissão.
mídia proporciona “influências que colocam o corpo como um objeto de
uso, um utensílio, uma ferramenta a ser usada conforme os interesses
econômicos, políticos e ideológicos de grupos que manipulam o poder na busca
de sua satisfação mercadológica” (GALLO, 1997, p. 66).

Os programas de televisão, as informações que circulam na internet ou


mesmo a frequência que algumas músicas são tocadas no rádio podem gerar,
principalmente entre o público adolescente, tendências e estereótipos de como é
”comum” relacionar-se com a música.

Isso significa, caro aluno, que, mesmo que você tenha um cantor ou banda
preferida, você não desconhece a música mais tocada no carnaval deste ano,
não é mesmo? Lembra do tema musical da última novela das nove? Sabe qual o
vídeo musical mais assistido no youtube? Caso você não souber essas respostas,
faça o exercício de pesquisa sobre as questões acima: entre na internet durante
dez minutos. Você, com certeza, descobrirá as respostas.

43
Expressão do corpo e musicalidade

Não só o público infanto-juvenil e o adulto estão imersos na difusão das


novas tecnologias e mídias de informação; o público infantil também sofre as
últimas tendências musicais e corporais que circulam nos meios de comunicação.
A maioria dos programas de televisão utiliza o corpo e a música para atrair
as crianças. O lúdico está impresso na relação corpo-música, com muitas
coreografias, roupas, acessórios, cores e imagens. Os recursos visuais chegam
a se sobrepor aos auditivos e as crianças tendem, cada vez mais, a dar mais
importância ao que vêem àquilo que ouvem.

Resolvi trazer essas constatações, caro pós-graduando, para que você reflita
sobre o trabalho responsável que deve ser feito ao aproximarmos o cotidiano
midiático dos alunos a sua proposta de sala de aula. Essa primeira relação entre
corpo e música, como expressão, deve ser trabalhada de maneira a utilizarmos o
cotidiano a favor dos objetivos de aprendizagem que queremos na nossa missão
docente. A seguir, apresento um trecho de um relato de experiência retirado do
livro de Souza (2000), da autora Adriana Bozzetto, que poderá clarificar melhor
nossa tarefa musical em relação a corpo-música como expressão:

O trecho a seguir refere-se ao contato de uma professora de


piano com um livro de partituras musicais de desenhos animados e
filmes da corporação Walt Disney que sua aluna de nove anos trouxe
consigo quando voltou de viagem para a Disneylândia.

“Quando tomei contato com aquele livro sedutor, colorido,


ilustrado, com músicas escritas para piano, cifras e letras de vários
filmes de sucesso da Disney, confesso que fiquei maravilhada:
caiu como uma luva num momento de tantas descobertas e
questionamentos que eu mesma estava vivenciando. Sentia-me
motivada e atenta ao que se passava com meus alunos de piano,
tendo em vista muitas discussões e leituras que vinham sendo
realizadas sobre o que estava acontecendo no cotidiano musical
das crianças e jovens, dos estímulos que recebem da televisão,
computadores, filmes, desenhos, do papel da mídia na formação
de gostos e interesses, da nossa postura como educadores perante
tantas inovações tecnológicas, “Xuxas” e inúmeros programas
destinados ao público infanto-juvenil” (BOZZETTO, 2000, p. 107).

Fazendo uma reflexão sobre esse texto, podemos esclarecer melhor nosso
papel educacional. O cotidiano está presente em todas as formas de manifestação

44
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

da cultura atual. Crianças e jovens possuem livre acesso a essas diferentes


manifestações e se relacionam com ela diariamente. Portanto, não há como evitar
que esses assuntos não entrem em nossas aulas. Nosso papel é de mediar essa
relação, trazendo o cotidiano no sentido de respeitarmos o que o aluno gosta,
de ampliarmos suas aprendizagens e de formarmos uma consciência crítica e
conceitual sobre aquilo que circula na mídia.

Partimos agora para o segundo tipo de relação entre o corpo e a música na


sociedade atual: música e corpo como transmissão. Essa é a maneira que ocorre
a transmissão de conhecimentos e valores músico-corporais entre as pessoas
que dividem uma cultura cotidiana, sem, necessariamente, a intervenção de um
professor-mediador. Para entender melhor como ocorre essa relação, partiremos
da seguinte atividade de estudo.

Atividade de Estudos:

1) É possível ocorrer aprendizagem musical sem que haja a relação


entre professor e aluno? Dê exemplos.
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Lembre-se de que estudamos no primeiro capítulo de que a música faz


parte de todos os povos e de todas as culturas: nenhuma cultura vive sem a
música. Desde os tempos mais primitivos, o ser humano faz música e a utiliza
em suas variadas formas. Partindo-se dessa constatação, poderíamos afirmar
que não há a necessidade de professor para que a relação entre corpo e música
aconteça. Aliás, muitas pesquisas na área da música defendem que a função
de professor surgiu efetivamente, e como uma função que envolvia número de
horas e pagamento combinados, no século XVII, período em que o ensino dos
instrumentos era frequente entre as classes mais ricas das sociedades européias.
Desde então, tem-se a função de professor de instrumento, assim como outros
papéis docentes nas áreas das artes. Mas será que essa era a única forma de

45
Expressão do corpo e musicalidade

se aprender um instrumento musical ou de se fazer música? A resposta é não!


Existiam muitas outras formas de transmissão de conhecimentos musicais,
principalmente aquelas relacionadas ao corpo, à dança.

A pesquisa realizada por Prass (1999) traz exemplos de como ocorre a


relação músico-corporal em forma de transmissão. Seu estudo tem o objetivo de
desvelar a pedagogia nativa de ensino e aprendizagem musical em uma bateria
de escola de samba. A autora partiu das seguintes questões de pesquisa: como
os autores sociais aprendem a tocar instrumentos de percussão? Como se
caracteriza o processo de seleção para integrar a bateria? Como é construída
a relação de trabalho entre os ritmistas e o mestre de bateria? Qual o perfil
requerido pelo grupo para ser mestre de bateria? Como as sessões de ensaio
são organizadas? Que procedimentos permitem que o ensino e a aprendizagem
musical se efetivem?

A partir dessas questões, Prass (1999) baseou-se no termo “etnopedagogia”


para compreender os processos de transmissão de conhecimentos musicais na
bateria de samba.

O termo “etnopedagogia” representa a fusão entre as


expressões etnografia e pedagogia. Isso significa que a autora realizou
um estudo etnográfico – método que utiliza um conjunto de técnicas
específicas com o intuito de conhecer os significados das ações que
constituem e são constituídas a partir da cultura do grupo em foco – a
fim de entender o processo de transmissão de conhecimento, ensino e
aprendizagem, que representa o estudo da pedagogia.

As formas de transmissão que ocorriam no ambiente observado pela autora


estavam baseadas no fazer coletivo e em diferentes faixas etárias. Não havia um
professor, propriamente dito; “[...] cada um, de certa maneira, inventa a técnica de
seu próprio aprendizado na medida em que vai tentando alternativas até encontrar
uma que funcione” (PRASS, 1999, p.12). Essa aprendizagem, transmitidas
intencionalmente entre as pessoas daquele grupo, estava também marcada por
processos de imitação de sons e gestos corporais.

Por isso, tanto a primeira relação – corpo e música como expressão – como
a segunda relação – corpo e música como transmissão – trazem importantes
elementos quando pensamos no ensino de arte e educação, partindo-se
do cotidiano dos alunos. Uma das formas de trabalharmos esse cotidiano é
desenvolver o planejamento de aula a partir da utilização das novas tecnologias

46
Capítulo 2 Corpo, Música e Sociedade

de informação e comunicação (internet, jogos computadorizados, músicas em


mp3 ou mp4, tablets, etc.). Iniciar um trabalho de estilos musicais diversificados
com a seleção das músicas mais ouvidas pela turma também pode ser geradora
de motivação entre alunos adolescentes. Aproveitar brincadeiras e jogos que as
crianças realizam no intervalo ou recreio escolar podem ser bem-vindos e bastante
didáticas para uma melhor aprendizagem. Essas, entre outras iniciativas, farão
com que nossa aula torne-se cada vez mais agradáveis e geradoras de satisfação
entre os alunos. Em consequência, os alunos se interessarão cada vez mais pelos
conteúdos aprendidos e terão uma aprendizagem mais eficaz.

TAPIA, Jesús Alonso; FITA, Enrique Cártula. A motivação


em sala de aula: o que é, como se faz. 7. ed. São Paulo: Loyola,
2006.

Atividade de Estudos:

1) Descreva duas experiências (reais ou possíveis) educacionais que


envolvam o aproveitamento do cotidiano dos alunos em sala de
aula, sob o enfoque da relação corpo-música como expressão e
da relação corpo-música como transmissão.
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47
Expressão do corpo e musicalidade

Algumas Considerações
Neste segundo capítulo, estabelecemos uma relação entre o corpo e a
música, a partir do estudo do sujeito e do meio em que ele está inserido, além
disso, conhecemos manifestações do corpo na música que estão presentes
no cotidiano musical dos alunos e por fim identificamos exemplos dessas
manifestações como meio de expressão ou meio de comunicação.

Referências
BOZZETTO, Adriana. A música do Bambi: da tela para a aula de piano. In:
SOUZA, Jusamara (Org.). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre:
Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UFRGS, 2000.
p. 107-118.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber, elementos para uma teoria. 1


ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

GALLO, Silvio. Ética e Cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus,


1997.

ILARI, Beatriz Senoi. Bebês também entendem de música: a percepção e a


cognição musical no primeiro ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 7,
83-90, set. 2002.

PRASS, Luciana. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba (ou por
que “ninguém aprende samba no colégio”). Revista Em Pauta, Porto Alegre, v.
14/15, novembro/98-abril/99, p. 05-18.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da


UNESP, 1991.

SOUZA, Jusamara. Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de


Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UFRGS, 2000.

TAPIA, Jesús Alonso; FITA, Enrique Cártula. A motivação em sala de aula: o


que é, como se faz. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2006.

48
C APÍTULO 3
Corpo, Música e Educação

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Compreender a situação atual do ensino de música no contexto educacional


brasileiro.

99 Identificar as diferentes funções da música em sala de aula.

99 Vivenciar atividades que explorem o corpo musical como parte do processo de


ensino e aprendizagem musical.
Expressão do corpo e musicalidade

50
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

Contextualização
Caro pós-graduando, esse capítulo representa o meio do caminho do nosso
curso sobre expressão do corpo e da musicalidade. Já estudamos sobre as
maneiras que o corpo revela suas sensações e relações com a música. Partimos
do entendimento sobre o corpo humano e seus movimentos; passamos pelo
reconhecimento dos diferentes papéis que a relação corpo e música possui em
nossa sociedade atual e agora iremos focar nosso estudo na música e nas ações
(práticas) que podem ser vivenciadas corporalmente através dela.

Para que você possa compreender melhor a importância da manipulação,


da livre expressão e do controle do próprio corpo na área educacional, é
preciso que você, caro aluno, conheça a situação do campo da música nessa
área. Primeiramente, será apresentada uma trajetória história, específica
sobre educação musical, no que diz respeito às conquistas de leis no contexto
educacional brasileiro. Em seguida, o corpo musical será tratado sob a perspectiva
do contexto escolar.

E, por último, serão expostas a você, as diferentes funções que a música


possui em sala de aula, segundo os resultados da pesquisa realizada por Souza
et. al (1995), juntamente com propostas práticas sobre como utilizá-la em sala de
aula. Boa leitura!

A Música na Educação e na Legislação


A música está
A música está presente no contexto das escolas brasileiras desde presente no
o século XIX. O ensino de música acontecia e ainda acontece das mais contexto das
escolas brasileiras
variadas formas e com os mais variados objetivos:
desde o século XIX.
a) música como atividade opcional ou extracurricular; b) aulas
de música constituindo uma disciplina específica, ministrada
por professores especialistas; c) aulas de música como
parte da disciplina de educação artística, ministrada pelos
chamados professores polivalentes; e/ou d) aulas de música
como parte das atividades do currículo das séries iniciais do
ensino fundamental, ministradas por professores unidocentes.
(SOUZA et al., 1995, p. 19-20).

No Brasil, a necessidade de se ter a música inserida, efetivamente, na


educação básica é uma situação que vem se delineando há muitos anos, desde
a implantação do Canto Orfeônico, por Villa-Lobos, nas décadas de 30 e 40. O
ensino de música daquele contexto estava voltado à teoria musical e à prática

51
Expressão do corpo e musicalidade

coral, em que se objetivava a formação do cidadão e o ensino mais formal da


música. Após o final da ditadura de Getúlio Vargas, a música passou a não ser
mais praticada daquela forma. O ensino de música obrigatório só retornou às
escolas na década de 70, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases nº 5692,
promulgada em1971.

Figura 17 - Canto orfeônico

Fonte: Disponível em: <francisco.paula.nom.br>. Acesso em: 22 jan. 2012.

A LDB 5692/71 instituiu a disciplina de educação artística no currículo


do ensino fundamental e médio, visando um ensino polivalente das artes, não
especificando, porém, o ensino da música: Art. 7º “Será obrigatória a inclusão de
Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programa de
Saúde nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus [...]”. Segundo
Hentschke e Oliveira (2000, p. 50),

[...] a criação da disciplina Educação Artística vem de uma


concepção de integração das artes que, antes de mais nada,
acabou gerando a confusão entre a noção de integração
e polivalência, em que ao invés de haver uma integração
das artes, cada professor trabalhou na área na qual a sua
formação foi mais concentrada (artes visuais, música ou artes
cênicas).

A lei trouxe perspectivas como a formação artística abrangente (tanto dos


professores quanto dos alunos) e a polivalência do ensino, ou seja, a integração
das artes (música, artes visuais e teatro), o que acarretou, no entanto, a falta
de especificidade de cada área artística. No caso da música, houve um
desaparecimento gradativo do seu ensino em sala de aula, “pela formação
precária em música dos educadores artísticos e pelo tempo disponível para as
artes nas escolas, uma hora/aula semanal a ser dividida entre as três artes”.
(IBID, p.48). Mesmo assim, pela primeira vez citou-se a música, na categoria Arte,
como parte do currículo escolar através de uma base legal, abrindo um espaço

52
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

em potencial para o ensino da música na educação básica.


O corpo passa a
ter um tratamento
Nesse sentido, o corpo passa a ter um tratamento diferenciado diferenciado pelos
pelos educadores: se antes ele era considerado uma simples educadores: se
ferramenta de trabalho, do qual se aproveitava principalmente a voz e a antes ele era
própria mente, após a década de 70 o corpo passa a ser o portador de considerado uma
simples ferramenta
conhecimentos e essencial nas reflexões sobre as experiências vividas
de trabalho, do
pelos alunos. qual se aproveitava
principalmente a
Assim como os mais variados segmentos da sociedade, a educação voz e a própria
vive em constante transformação e aperfeiçoamento. Para tanto, a mente, após a
legislação busca acompanhar e assegurar tais transformações à medida década de 70 o
corpo passa a
que especialistas e pesquisadores apresentam sua necessidade.
ser o portador de
conhecimentos
Desta forma, em 1996, foi sancionada a LDB 9394/96 a fim e essencial nas
de aprimorar a lei vigente até aquele momento: Art. 26, parágrafo reflexões sobre
2º, “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório as experiências
nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o vividas pelos
alunos.
desenvolvimento cultural dos alunos”. Esta lei trouxe o ensino de arte
ao currículo escolar, sendo facultativo o estudo de uma das seguintes
modalidades de arte: Música, Artes Visuais, Dança e Teatro. Segundo as autoras
Del Ben, Hentschke, Diniz e Hirsh (2006, p. 113):

A legislação educacional atual aponta para o fortalecimento


dos conhecimentos específicos que configuram tanto a área da
música na educação básica quanto a educação musical como
campo que sustenta a formação dos professores de música.

Figura 18 – A música

Fonte: A autora.

53
Expressão do corpo e musicalidade

Figura 19 – Teatro

Fonte: A autora.

Figura 20 – Dança

Fonte: A autora.

Figura 21 – Artes Visuais

Fonte: A autora.

54
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

A LDB 9394/96 previa a especificidade de cada ensino dentro


A carência de
das artes, no entanto, permanecia a falta de clareza quanto a sua professores com
exigência. Esse fato abriu espaço para múltiplas interpretações formação específica
permanecendo, assim, a inconsistência do ensino de música nas tornou-se, e é,
escolas. Mas, não foi somente a lei que foi incapaz de garantir presente, pois esses
a presença de professores de música nas escolas. A carência de profissionais preferem
atuar em escolas de
professores com formação específica tornou-se, e é, presente,
música, conservatórios
pois esses profissionais preferem atuar em escolas de música, ou escolas livres,
conservatórios ou escolas livres, justificando reconhecerem-se justificando
fazendo música e ensinando música, propriamente dita. Por causa reconhecerem-se
dessa ausência, muitas escolas acabam empregando bailarinos, fazendo música e
músicos, artistas plásticos, entre outros profissionais, para ensinando música,
propriamente dita.
ocuparem a função de professor de música, o que pode acarretar a
falta de qualidade na função.

Atividade de Estudos:

1) Faça um resumo sobre as leis relacionadas às conquistas da


área educacional musical, apontando seus aspectos positivos e
negativos.
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Como uma das principais mudanças ocorridas após a sanção dessa LDB, está a
criação de documentos curriculares de referência nacional como RCNs (Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil), PCNs (Parâmetros Curriculares
Nacionais) e DCNs (Diretrizes Curriculares Nacionais). Pela primeira vez na história
da educação brasileira, surgem documentos que possuem orientações pedagógicas
para todas as disciplinas a serem lecionadas na Educação Básica.

No intuito de fornecer um forte mercado de trabalho e valorizar a formação


específica do licenciado em música, discutiu-se muito sobre o ensino musical nas

55
Expressão do corpo e musicalidade

escolas, até culminar na aprovação da lei 11.769/2008, que acresce o 6º parágrafo


no artigo 26 da LDB 9394/1996 e passa a vigorar nos seguintes termos: “A música
deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do componente curricular de
que trata o 2º parágrafo deste artigo”.

2º Parágrafo: O ensino de arte constituirá componente curricular


obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos.

Esta alteração traz a presença efetiva do ensino de música na escola e,


dentro dessa perspectiva, Figueiredo (2007, p. 09) defende “Não é a legislação
sozinha que vai modificar a situação do ensino de música na escola. Mas é
necessário que haja uma legislação coerente e clara para orientar os profissionais
da educação com relação ao currículo escolar”.

Entretanto, não ficou garantido o espaço para os professores com formação


específica, após o veto desta proposta. O Congresso Nacional definiu as razões
do veto, ressaltando que “a música é uma prática social e que no Brasil existem
diversos profissionais atuantes nessa área sem formação acadêmica ou oficial em
música e que são reconhecidos nacionalmente” [...] “Esta exigência vai além da
definição de uma diretriz curricular e estabelece, sem precedentes, uma formação
específica para a transferência de um conteúdo”. Torna-se incoerente, no entanto,
a reforma que houve no ensino superior sobre a exigência quanto à reformulação
da educação superior, que prevê a extinção dos cursos de Licenciatura em
Educação Artística e a criação das Licenciaturas específicas para cada área,
visando a manutenção da identidade própria de cada modalidade de arte. Nesse
sentido, afirma Sobreira (2008): “a justificativa para o veto comprova que o ensino
de música e a educação musical no Brasil são vistos por nossos governantes sob
uma ótica estreita e desfigurada de seus reais propósitos” (p. 46).

Penso que, independente da área de formação profissional do


educador, será que ele está preparado mesmo para dar aulas de
música na escola? Mesmo sabendo tocar uma flauta ou um violão,
será mesmo que ele imagina o que é enfrentar uma turma com vinte
crianças? Caro aluno, o mais importante disso tudo é pensarmos
na nossa responsabilidade como educadores, seja qual for a área
de atuação. Ser professor não é ter um emprego qualquer: significa

56
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

sair da porta da escola, ou de qualquer instituição onde você leciona,


e continuar sendo professor; pensando em seus alunos, refletindo
sobre como você será melhor para seus alunos!

Mesmo assim, a conquista de um espaço no currículo escolar deve A conquista de


fortalecer a área músico-pedagógica e modificar algumas concepções um espaço no
equivocadas sobre o ensino de música, pois elas estão presentes, currículo escolar
mesmo depois de 10 anos das especificidades artísticas na educação. deve fortalecer
Uma pesquisa feita por Andraus (2007), em Uberlândia (MG), salienta a área músico-
pedagógica e
que a música ainda é vista como recurso para auxílio a outras
modificar algumas
disciplinas, ou como cantos de comando e ainda musiquetas para concepções
datas comemorativas, porém raramente é utilizada como linguagem equivocadas sobre
de ensino musical. Esse trabalho é geralmente desenvolvido por o ensino de música.
professores polivalentes, formados em Educação Artística, que utilizam
a música na aula apenas como meio de fixação de conteúdos, manutenção de
disciplina e atenção, ou para simples distração dos alunos. Em poucas palavras,
Penna (2008) resume essa nova realidade, traçada a partir da LDB 11.769/2008:

[...] a conquista de espaços para a música na escola depende,


em grande parte, do modo como atuamos concretamente
no cotidiano escolar e diante das diversas instâncias
educacionais. Este é, ao nosso ver, o grande desafio a
enfrentar: ocupar com práticas significativas os espaços
possíveis – e progressivamente ampliá-los. (p.63)

Por isso, caro pós-graduando, o mais importante é desenvolver a


consciência sobre o trabalho que você está realizando. Parar quando necessário,
estudar e se qualificar para melhorar suas ações pedagógicas e, antes de mais
nada, saber da sua responsabilidade social com seus alunos.

Atividade de Estudos:

1) Para finalizar essa seção, faça um levantamento das


características que você acha que não pode faltar em um
professor quando ele ensina música.
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Expressão do corpo e musicalidade

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O Papel do Corpo Musical na Escola


A escola é um ambiente social de aprendizagem que integra
A escola representa
um dos contextos alunos, professores e colegas. Por isso, a escola representa um
de interação mais dos contextos de interação mais importantes na vida de crianças e
importantes na adolescentes, “podendo fortalecê-los ou enfraquecê-los perante as
vida de crianças e dificuldades inerentes a essa etapa de desenvolvimento” (GUIMARÃES,
adolescentes. 2004, p. 179). Nesse sentido, podemos considerar os estudantes como
seres sociais presentes na escola, capazes de veicular e transformar
culturas, formas de pensar e agir em sociedade. Entretanto, a maioria das escolas
brasileiras não se guia por esse pensamento e tem gerado nos alunos, cada vez
mais, um distanciamento entre o que seu corpo vive na escola e o que seu corpo
vive fora da escola:

O corpo se desdobra, cria e recria formas de se expressar. Às


vezes, não são compreendidos, são excluídos, exterminados
pela escola, que ainda busca o modelo ‘perfeito’ de aluno. É
um olhar míope e ultrapassado, frente a corpos sedentos por
liberdade de expressão e carente de relações (AZEVEDO,
2009, p.20).

A partir dessa afirmação, caro aluno, como podemos pensar em outras


estratégias para trazer o corpo musical ativo dos alunos para nossa sala de
aula? Essa é uma tarefa árdua e requer muita observação do nosso grupo de
alunos, seu contexto social, sua faixa etária, suas preferências, o que pensam e
sabem sobre música, entre outras características. Se estivermos sempre abertos
para ouvi-los, descobriremos qual caminho seguir e como contribuiremos para a
expansão de conhecimentos musicais além do cotidiano deles.

As formas de se educar pela música – seu canto, sua dança e seus jogos –
são diversas e bastante capazes de aproximar a realidade vivida pelos corpos dos
estudantes com a realidade do ambiente escolar. Nesse caso, o mais importante
é valorizar as emoções, os sentimentos, as formas de pensar, as escolhas
pessoais, a criatividade, e principalmente, dar voz ao corpo, possibilitando-o falar
por ele mesmo.
Na escola, atualmente, a música é trabalhada de quatro maneiras. A primeira

58
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

delas é como uma disciplina específica, ministrada por professores especialistas


na área. No entanto, muitos estudos mostram que não há um número significativo
de profissionais especialistas, licenciados em música suficiente para ocupar
todos os possíveis espaços na prática escolar (PENNA, 2003). Esses professores
preferem dar aulas particulares ou individuais de instrumento em suas casas,
em escolas específicas de música ou em outros ambientes em que o número de
alunos não é tão grande como em escolas de ensino regular.

Atividade de Estudos:

1) Disserte sobre como o corpo musical pode ser ativado em uma


classe com quinze estudantes entre onze e doze anos de idade.
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A segunda forma que a música se mantém presente nas escolas é através


de atividades opcionais ou extracurriculares de música. Esse tipo de atividade
não faz parte da grade curricular da escola e, normalmente, o pagamento dessas
aulas é feito separadamente a um profissional que geralmente chega à escola
no contraturno escolar somente para dar essas aulas. As atividades opcionais ou
extracurriculares de música podem ser aulas de instrumento (individual ou em
grupo), formações de coros e bandas, entre outras.

Atividade de Estudos:

1) Agora comente as diferenças de fazer o trabalho da atividade de


estudo anterior com o corpo musical de alunos da mesma faixa
etária, mas com dois estudantes de flauta doce. Há diferenças?
Por quê?
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Expressão do corpo e musicalidade

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A música como parte da disciplina de educação artística, ministrada pelos


chamados professores polivalentes, ainda estão presentes na escola. Embora
essa disciplina já tenha sido substituída legalmente pelo ensino de artes –
conforme vimos na primeira seção deste capítulo – sua prática não caiu no
desuso e ainda é bastante praticada nos currículos escolares. Como também já
estudamos, caro aluno, o ensino de educação artística tem o objetivo de agrupar
as artes, tornando-o polivalente. As artes, nesse caso, não são vistas de forma
separadas e podem ser, de certa forma, trabalhadas juntas ou separadamente.

A quarta e última forma de a música estar presente nas escolas é a partir do


trabalho dos professores unidocentes, em que a música faz parte das atividades
do currículo das séries iniciais do ensino fundamental. O professor unidocente é
aquele que antigamente formava-se no magistério (hoje, conhecido como normal)
e que atualmente necessita do curso de licenciatura em pedagogia para atuar
nas escolas. Esse profissional leciona todas as disciplinas curriculares, desde a
educação infantil (0 a 6 anos) até o 5º ano do ensino fundamental (última série
dos anos iniciais do ensino fundamental). Você terá a oportunidade de aprofundar
esse tema na próxima seção, que revela a opinião desses profissionais sobre
como a música é vista e trabalhada nesse segmento. Aguarde!

Como já estudamos, então, caro pós-graduando a música aparece no


contexto escolar dessas quatro maneiras, podendo haver também outras formas.
Independente da forma, a música traz ludicidade ao ensino e, com isso, propicia
um corpo mais ativo e feliz em sala de aula. Acontece que isso não é o que ocorre
na maioria das escolas, as quais colocam o conteúdo em primeiro plano e não o
sujeito. Muitas vezes, a aprendizagem desses conteúdos é uma aprendizagem sem
corpo, e não somente pela exigência de o aluno ficar sem se movimentar, mas,
sobretudo, pelas características dos conteúdos e dos métodos de ensino sobre um
cotidiano diferente daquele no qual o estudante vive, pensa e conhece seu corpo.

Para finalizar esta seção, gostaria de mencionar a seguinte citação para


reflexão sobre o que acabamos de estudar:

A escola existe para o aluno e não para ela mesma e, a partir


60
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

dessa lógica, podemos começar a pensar em projetos que


coloquem o corpo como sujeito e não o conteúdo como sujeito.
Assim, novas formas de organizar os espaços e os tempos
escolares poderão surgir de forma que a escola se torne mais
social e principalmente mais humana (AZEVEDO, 2009, p.10).

As Funções da Música e o Corpo Musical


Ativo em Sala de Aula
Antes de iniciarmos esta seção, gostaria de lhe propor um desafio: pense
nas propostas de música que você assistiu ou ofereceu a seus alunos até hoje e
escolha duas atividades para fazer o estudo abaixo.

Atividade de Estudos:

Para refletir...

1) Qual era o objetivo dessas aulas? Que tipo de função elas tinham?
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Mas não passe adiante na leitura do texto sem antes responder essas

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Expressão do corpo e musicalidade

questões. Esse tipo de reflexão é de extrema valia para compreendermos qual


o papel da música em sala de aula. Como já vimos, caro aluno, independente do
profissional que leciona música na escola, o mais importante é como este educador
se prepara para os desafios diários do contexto escolar. Turmas numerosas,
questões de indisciplina, dificuldades de aprendizagem e de comportamento,
todas essas representam os desafios diários de quem lida na sala de aula.

Você também já sabe, caro aluno, que o profissional que ocupa a função de
professor de música na educação escolar é aquele se habilitou para o cargo e não
para a profissão. Isso quer dizer que muitos licenciados (em educação artística,
música, artes visuais, dança, história, etc.) dão aulas de música na escola. Além
desses profissionais, há um terceiro tipo de educador que é responsável pelas
aulas de música das crianças: a professora unidocente, também conhecida como
professora de classe. É aquela educadora que dá aulas educação infantil (0 a 6
anos) e nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano).

Nesse sentido, apresentarei a seguir como foi feita a pesquisa


O objetivo geral
da pesquisa foi de Souza, Hentschke, Oliveira, Del Ben e Mateiro (1995). As autoras
o de investigar realizaram sua pesquisa entre os anos de 1996 e 1998 e sua temática de
as formas pelas investigação foi o entendimento das concepções e vivências musicais
quais a música de professoras do ensino fundamental – as professoras unidocentes,
está presente nas conforme mencionei no parágrafo anterior. Além de professoras, foram
escolas.
entrevistados também diretores, vice-diretores, coordenadores e
supervisores de ensino. O objetivo geral da pesquisa foi o de investigar as formas
pelas quais a música está presente nas escolas. Os resultados da pesquisa foram
publicados no livro “O que faz a música na escola” e é através dele que iremos
conhecer as possíveis funções da música na escola. Primeiramente, explicitarei a
você, caro pós-graduando, o significado de “função” do qual iremos partir:

A função que a música tem no contexto escolar significa o papel


que ela desempenha no cotidiano escolar, seja dentro ou fora de
sala de aula. Concomitantemente a isso, o valor da música também
é identificado nas relações que os alunos irão estabelecer com a
música, pois a partir da utilidade ou da função que a música possui,
passamos a entender o valor – e quanto de valor – que ela carrega
em suas práticas sociais escolares.

Segundo Souza e colegas (1995), um dos efeitos que a música pode ter
na escola é o terapêutico. Isso significa que, pela possibilidade de expressar

62
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

emoções e diferentes sentimentos, a música pode ter a função de acalmar,


relaxar, tranquilizar ou mesmo liberar sensações dos alunos. A terapia também
pode ser atingida através da utilização da música para integrar e harmonizar um
grupo de estudantes.

Atividade de Estudos:

1) Você já observou por que as mães cantam para seus bebês para
eu eles durmam? Qual é o efeito terapêutico que está por trás da
ação de cantarolar?
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Uma segunda função que a música desempenha é como auxiliar no


desenvolvimento de outras disciplinas. As professoras pesquisadas por Souza
et al. apontaram a linguagem como a área mais favorecida pela música, por
exemplo, no ensino de idiomas e no processo de alfabetização. Além disso, o fato
de a música proporcionar atenção e concentração dos alunos, ela também pode
estar aliada à aprendizagem de outros conteúdos. Sobre essa segunda função, as
autoras mencionam que “Os depoimentos das professoras sugerem que a música
é concebida como meio e não como fim, ficando relegada à ferramenta de apoio
para o desenvolvimento de outras disciplinas” (SOUZA et al., 1995, p. 64).

63
Expressão do corpo e musicalidade

Confira abaixo a canção “Mané Pipoca” e entenda melhor a


utilização da música como uma ferramenta para aprender a formação
de fonemas (início da alfabetização).

M-A MA C-A CA
N-E NÉ, MANÉ P-O PO, CAPO
P-I PI, MANÉ PI P-I PI, CAPOPI
P-O PO, MANÉ PIPO N-E NÉ, CAPOPINÉ
C-A CA, MANÉ PIPOCA MA-A MA, CAPOPINÉMA

A música também pode servir como mecanismo de controle das ações, no


sentido de controlar certos comportamentos. Cantar uma música para escovar
os dentes, fazer uma refeição ou tomar banho são exemplos desse tipo de
concepção. Neste caso, o corpo não se mantém ativo durante a prática musical,
mas se torna reativo, pois, ao ouvir determinada música, é conduzido por ela.
Isso não quer dizer que não devemos utilizar esse tipo de canção, mas devemos
ter consciência de eu aqui não há presença do corpo musical criativo. Esse tipo
de canto é originário do “canto de trabalho”, que também é utilizado durante a
realização de uma atividade ou tarefa.

A prática do “canto de trabalho” é destinada a diminuir o esforço


e a aumentar a produção durante o trabalho exercido.

Atividade de Estudos:

1) Você conhece a canção “Meu lanchinho”? A seguir, apresentarei


a letra dessa música e logo você irá recordar:

Meu lanchinho
Meu lanchinho
Vou comer
Vou comer
Pra ficar fortinho

64
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

Pra ficar fortinho


E crescer
E crescer

Agora, a sua tarefa é criar outra letra para essa canção, com o
objetivo de realizar outra tarefa, tais como, escovar os dentes, tomar
banho, recolher os brinquedos, colocar a roupa, etc.
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
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A quarta função da música apresentada por Souza et al. (1995) é da música


como prazer, divertimento e lazer. Para as professoras entrevistadas, o principal
objetivo das suas propostas com música era fazer com que a rotina escolar das
crianças ficasse mais alegre, motivadora, divertida e atraente. O corpo musical,
neste caso, mantém-se ativo e parceiro da música que toca: movimenta-se
conforme seu ritmo e emociona-se segundo suas percepções.

Paralela a essa função, surge outro tipo de objetivo com a


Para que os alunos
música na escola: a música como meio de transmissão de valores venham a vivenciar e
estéticos. Sobre isso, uma das professoras afirma que “Para que os se conscientizar ‘do
alunos venham a vivenciar e se conscientizar ‘do belo, do sensível belo, do sensível e
e do poético’, é preciso ‘despertar [neles] esse gosto pela música’ do poético’, é preciso
[...]” (SOUZA et al, 1995, p. 68). A estética musical é frequentemente ‘despertar [neles] esse
gosto pela música’
trabalhada em sala de aula em atividades de audição, ficando
[...]” (SOUZA et al,
limitada a presença do corpo. É possível despertar e construir a 1995, p. 68).
linguagem estética da música através de experimentações corporais,
que podem envolver danças, gestos e criações de coreografias, de
acordo com a historicidade e características da música apreciada.

A música como cultura e resultante das práticas sociais dos alunos


surge como sexta forma de utilização da música na escola pelas professoras
unidocentes. Algumas delas falaram sobre a necessidade de um trabalho mais
próximo da realidade dos alunos, a partir da utilização de estilos musicais mais
familiares, os ditos populares, a esses alunos. Você lembra que esse tema foi
parte do nosso estudo no capítulo 2, caro pós-graduando? Portanto, a importância
de abordar música e sons do cotidiano dos alunos também é ressaltada na

65
Expressão do corpo e musicalidade

opinião dessas professoras. Elas ainda afirmam que, além de outros objetivos, a
educação musical deveria resgatar o lado cultural, a cultura do aluno, como meio
de ampliar suas práticas sociais e enriquecendo suas tradições culturais.

Resgatando o folclore...

O folclore é uma manifestação cultural de grande importância


para a história de uma sociedade. De geração para geração, o
folclore é passado através de histórias contadas, práticas musicais,
filmes, peças de teatro, encontros familiares, entre outros. A música
folclórica brasileira é bastante difundida no território nacional e,
normalmente, é passada de adultos para crianças. Dependendo da
região do país, uma canção folclórica pode ser cantada de forma
diferenciada, embora nenhuma delas esteja “certa” ou “errada”, pois
se trata da transmissão oral da cultura. Compare as duas formas
abaixo da canção folclórica “Sapo Jururu” ou “Sapo Cururu”:

Sapo Jururu, cantada na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul:

Sapo Jururu
Na beira do rio
Quando o sapo grita, ó maninha
É que está com frio

A mulher do sapo
Também está lá dentro
Fazendo rendinha, ó maninha
Pro seu casamento

Sapo Cururu, cantada na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro:

Sapo Cururu
Na beira do rio
Quando o sapo pula, ó maninha
É que está com frio

A mulher do sapo
Também está lá dentro
Fazendo rendinha, ó maninha
Pro seu casamento

66
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

Para entender um pouco mais sobre a transmissão do folclore


musical brasileiro, consulte os textos da pesquisadora Cristina Rolim
Wolffenbüttel.

Por ser um repertório conhecido e de fácil acesso a todos, o folclore pode


trazer o corpo musical ativo em sala de aula com muita naturalidade. Atividades de
dramatização com alguma canção, montar coreografias, recriar gestos e muitas
outras práticas podem ressignificar o folclore através de novas interpretações e
expressões corporais-musicais.

A música como disciplina autônoma também apareceu como uma função,


embora com menos freqüência. Isso revela que a música na escola tem sido
desenvolvida como um meio, como uma ferramenta de trabalho, mas não como
um fim em si mesmo. Cantar, dançar e tocar instrumentos tem funcionado como
auxiliares no desenvolvimento de outras disciplinas, na busca da terapia e da
diversão para os alunos, nos cantos para realizar atividades, entre outros. Porém,
a “música pela música” é praticamente inexistente como disciplina de estudo, no
sentido de que

As professoras parecem não reconhecer como algo valoroso o


desenvolvimento da capacidade de compreender e vivenciar a
música como uma dentre as várias atividades humanas, como
uma dimensão fundamental da cultura, algo que permeia a
vida de seus alunos [...]. (SOUZA et al., 1995, p. 70)

Essa função, caro aluno, deve nos fazer refletir o quanto é necessário a
aprendizagem da própria música, para que ela seja ensinada e disseminada de
maneira autônoma na escola.

Se um professor não estudou ou não conhece a música como


um campo de conhecimento, como ele irá passar adiante esse
conhecimento? Se um professor não experiência em seu próprio
corpo a dança, o canto e o movimento, como ele irá trabalhar com
seus alunos essas formas de relação com a música?

Destaquei, nesta seção, as diferentes funções que a música possui na escola,


segundo a pesquisa feita por Souza e colegas, no ano de 1995. Esteja certo, caro
aluno, que há muitas outras pesquisas realizadas na área sobre como a música é

67
Expressão do corpo e musicalidade

vista, utilizada e, consequentemente, valorizada. No entanto, julguei essa pesquisa


bastante próxima à nossa atual realidade escolar. Para finalizar este capítulo, elegi
um trecho do livro de Keith Swanwick para refletirmos sobre função da música e
função de educação musical. Isso também nos auxiliará a repensar como temos
utilizado a música em nossas aulas, além de trazer-nos à consciência o que ensinar
e para quem estamos ensinando música. Tenha uma boa reflexão!

Terry Gates insistiu para que olhássemos novamente para as


muitas funções da música, especialmente as colocadas por Alan
Merriam, que havia identificado e categorizado dez funções musicais
na sociedade (Merriam 1964: 219-27). Essa sugestão foi valiosa e
nos lembrou de que cada um usa a música de sua maneira particular.
Merriam lembra-nos a variedade de propósitos para os quais a música
“é boa para”. Em sua própria ordem, eles são os seguintes: expressão
emocional, prazer estético, diversão, comunicação, representação
simbólica, resposta física, reforço da conformidade a normas sociais,
validação de instituições sociais e rituais religiosos, contribuição para
a continuidade e estabilidade da cultura e preservação da integração
social. Essas categorias são realmente úteis. Em seu estudo sensível
os caminhos pelos quais as crianças usam a música e pensam sobre
ela, Patrícia Shehan Campbell relata que seus usos abrangiam “do
brinquedo ao sério, e do solitário ao social” (Campbell 1998: 175). Ela
encontrou uma conexão entre os vários mundos musicais das crianças
em seu estudo sobre a lista de Merriam. A música tem realmente várias
funções em diferentes épocas, e cabe às pessoas decidir por elas
mesmas que música é “boa para”. Entretanto, as funções da educação
musical são, de certa forma, diferentes das funções da música [...].
(SWANWICK, 2003, p. 47).

Algumas Considerações
Neste terceiro capítulo, compreendemos a situação atual do ensino de
música no contexto educacional brasileiro e identificamos as diferentes funções
da música em sala de aula, por fim vivenciamos as atividades que explorem o
corpo musical como parte do processo de ensino e aprendizagem musical.

68
Capítulo 3 Corpo, Música e Educação

Referências
ANDRAUS, Gisele Crosara. Um olhar sobre o ensino de música em Uberlândia
(MG). Revista da ABEM, Porto Alegre, V.19, 65-73, mar.2008.

AZEVEDO, Eduardo de Andrade. Corpo e música: presença na escola. 2009.


Monografia – Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

BEN, Luciana Del; HENTSCHKE, Liane; DINIZ, Lélia Negrini; HIRSH, Isabel
Bonat. Políticas educacionais e seus impactos nas concepções e práticas
educativo-musicais na educação básica. In: XVI Congresso da ANPPOM, 2006,
Brasília. Anais do XVI Congresso da ANPPOM. Brasília: UNB, 2006.

BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Brasília, 1971.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Brasília, 1996.

BRASIL. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Brasília, 2008.

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Figueiredo. A legislação brasileira para a educação


musical nos anos iniciais da escola. In: XVII Congresso da ANPPOM, 2007, São
Paulo. Anais do XVII Congresso da ANPPOM. São Paulo: UNESP, 2007.

GUIMARÃES, Sueli Édi Rufini. Necessidade de pertencer: um motivo


humano fundamental. In: BORUCHOVITCH, Evely; BZUNECK, José Aloyseo.
Aprendizagem: processos psicológicos e o contexto social na escola. 1. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. p. 177-199.

HENTSCHKE, Liane; OLIVEIRA, Alda de Jesus. A Educação Musical no Brasil.


In: HENTSCHKE, Liane (org.). A educação musical em países de línguas
neolatinas. Porto Alegre: Ed. Universidade, UFRGS, 2000. p. 47 a 64.

PENNA, Maura. Caminhos para a conquista de espaços para a música na


escola: uma discussão em aberto. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 19, 57-64,
mar. 2008.

PENNA, Maura. Apre(e)ndendo músicas: na vida e nas escolas. Revista da


ABEM, Porto Alegre, v. 9, 71-79, set. 2003.

69
Expressão do corpo e musicalidade

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas


públicas. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.

SOUZA, Jusamara; HENTSCHKE, Liane; OLIVEIRA, Alda de Jesus; BEN,


Luciana Del; MATEIRO, Teresa. O Que Faz a Música na Escola? Concepções
e vivências de professores do ensino fundamental. Porto Alegre, Série Estudos:
n.1, nov. 1995.

SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Editora


Moderna, 2003.

70
C APÍTULO 4
Corpo, Musicalidade e Motivação

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Recapitular temas dos capítulos anteriores que serão importantes para a


construção de uma proposta prática sob a perspectiva da expressão do corpo
e da musicalidade.

99 Conhecer a motivação de um aluno na prática com música e qual sua relação


com a expressão do corpo.

99 Compreender o trabalho do corpo e da musicalidade na prática.


Expressão do corpo e musicalidade

72
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

Contextualização
Caro aluno! Chegamos ao capítulo final desse caderno de estudos. Nesse
momento, recapitularemos os assuntos e conceitos mais importantes dos capítulos
anteriores, com o objetivo de fortalecê-los e utilizá-los na construção de situações
práticas, reveladoras da expressão do corpo e da musicalidade. Seguiremos o
capítulo com a abordagem de um tema essencial na educação atual: a motivação
dos alunos. O que seria de nossas reflexões e planos de aula se não percebemos
a motivação de nossos alunos? Você já se perguntou como identificar se um aluno
está motivado ou não? E quais estratégias seriam necessárias para motivá-los?
Em qualquer área, esse tema deveria ser considerado, no sentido de oferecer
ferramentas ao futuro professor, tal como você, caro pós-graduando. Ao final
deste capítulo, exemplificarei como pode ser feita uma proposta motivadora de
trabalho na prática para que você possa desenvolver a expressão do corpo e da
musicalidade com seus alunos.

Recapitulando
Partimos do princípio de que a música possui um cunho sócio- O corpo humano
cultural: a música faz parte de todos os povos e de todas as culturas está diretamente
– nenhuma cultura vive sem a música; um cunho histórico: desde relacionado à música
os tempos mais primitivos, o ser humano faz música e a utiliza em e que, através
suas variadas formas; e um cunho cognitivo: é através da música do movimento,
compreende e
que se exploram e se manifestam sentimentos, pensamentos e
desenvolve ações
ações. Desses três tipos de princípios – sócio-cultural, histórico e concretas e abstratas
cognitivo – vimos que o corpo humano está diretamente relacionado em música.
à música e que, através do movimento, compreende e desenvolve
ações concretas e abstratas em música.

Estudamos também que as características das pessoas, sejam individuais ou


sociais, definem a relação entre o corpo e o movimento na música. A pluralidade
de significados dado à música depende do seu contexto cultural, sua faixa etária,
sua classe social, suas práticas culturais, experiências educacionais, língua,
religião, nacionalidade, entre outras. Assim, cada indivíduo, grupo e sociedade
irão desenvolver a relação entre corpo, movimento e musicalidade a partir das
vigências e culturas vigentes naquela época. Vimos que a musicalidade brasileira,
por exemplo, é composta por diferentes heranças musicais culturais – indígenas,
portuguesas e africanas – e por ritmos mais dançantes e rápidos. A partir dessas
manifestações, foram criados métodos e abordagens sobre como a música pode
ser compreendida através da expressão do corpo. Esses estudos surgiram após a
metade do século XX e destacam-se os seguintes pesquisadores: Émile Jacques-
Dalcroze (1865-1950), Zoltán Kodály (1882-1967) e Carl Orff (1895-1981).

73
Expressão do corpo e musicalidade

No capítulo 2, caro aluno, estabeleci a relação entre o corpo e a música, a


partir do estudo do sujeito e do meio em que ele está inserido. Primeiramente,
apresentei como se dá essa relação desde a gestação até a idade adulta. Nesse
momento, estudamos mais aprofundadamente a fase da infância, aquela que é
primordial no desenvolvimento de toda a vida de um sujeito. Aprendemos que o
corpo faz parte de todo o processo de compreensão de mundo, principalmente
na área musical. Desde muito cedo, a criança estabelece contatos corporais com
a música, através de gestos, balbucios e cantos espontâneos. Mais tarde, ela irá
colocar em ação todas essas relações e poderá realizar tarefas cada vez mais
desafiadoras, tais como dançar coreografias, apreciar e analisar os instrumentos
tocados em uma música e inventar uma nova letra musical. As fases seguintes –
adolescência e fase jovem-adulta – servem para ampliarmos nossa sociabilidade
com música, sem esquecermos que a relação entre corpo,movimento e
musicalidade jamais deixa de existir.

Ainda no capítulo 2, fizemos um estudo sobre o meio musical e o que ele


oferece ao sujeito para facilitar o desenvolvimento musical das pessoas. Primeiro,
baseamo-nos no estudo do cotidiano e nas influências da mídia atual. Depois,
passamos a esclarecer as diferenças entre os dois tipos de relação entre o
corpo e a música na sociedade atual: música e corpo como expressão; música
e corpo como transmissão. Na primeira forma, a relação entre música e corpo
pode ser observada sob aspectos de livre expressão, contato natural e possíveis
manifestações corporais ao ouvir, fazer ou criar uma música. A segunda é a
maneira que ocorre a transmissão de conhecimentos e valores músico-corporais
entre as pessoas que dividem uma cultura cotidiana, sem, necessariamente, a
intervenção de um professor-mediador.

No início do capítulo 3, temos um levantamento sobre as leis educacionais


que organizam o ensino das artes nas escolas brasileiras. O mais importante
essa parte é sabermos que, cada vez mais, as artes conquistam espaço dentro
das escolas e, consequentemente, vão possuindo mais valor cultural perante aos
cidadãos. Em relação à música, nossa última conquista foi obtida em agosto de
2008, que exige a obrigatoriedade do ensino de música como conteúdo obrigatório
em toda a educação básica brasileira. Isso não significa que este conteúdo será
ministrado por um professor especialista, mas que a música deve estar presente
em todos os anos escolares (da educação infantil ao ensino médio). Isso quer
dizer, caro pós-graduando, que, assim como você, muitos profissionais da área
artística e educacional podem estar ocupando este espaço e que devem estar
conscientes de sua responsabilidade com a música.

Mais adiante, o capítulo 3 aborda a papel do corpo musical na escola e não


traz boas perspectivas sobre o assunto: a maioria das escolas brasileiras tem
gerado nos alunos, cada vez mais, um distanciamento entre o que seu corpo
vive na escola e o que seu corpo vive fora da escola. Nesse sentido, os alunos

74
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

estão cada vez mais desinteressados e desmotivados com o que é proposto


nas escolas, principalmente nas séries mais avançados (nas classes onde tem
adolescentes). A escola vive um momento crítico e é urgente pensar novas formas
de se pensar e ensinar, não só a música, mas outras disciplinas também. Na
próxima seção, caro aluno, você saberá mais sobre a situação da motivação dos
alunos em relação ao ensino musical brasileiro.

A finalização do capítulo 3 se dá pela explicação das possíveis funções que


a música tem no contexto escolar. Dentre elas, estão: a música como terapia; a
música como auxiliar no desenvolvimento de outras disciplinas; a música como
mecanismo de controle; a música como prazer, divertimento e lazer; a música
como meio de transmissão de valores estéticos; a música como meio de trabalhar
práticas sociais, valores e tradições culturais dos alunos; e a música como
disciplina autônoma.

A seguir, desenvolverei o tema sobre a motivação do aluno, para que você,


caro aluno, reflita e construa sua prática docente futura a partir de assuntos e
estratégias que realmente possam movimentar e interessar seus alunos.

A Motivação do Aluno
Desde o início do século XX, a motivação humana é um assunto estudado por
diversos campos do conhecimento, principalmente nas áreas de administração,
saúde, psicologia e educação. Na perspectiva da psicologia educacional,
pesquisas a respeito da motivação como componente essencial na condução das
atividades humanas têm sido desenvolvidas com o objetivo de entender ‘como’ e
‘por que’ professores e alunos sentem-se motivados em relação a seu trabalho e a
seus estudos. O estudo da motivação do aluno tem conquistado um espaço valioso
entre as pesquisas brasileiras, não só em relação à música, mas referente a várias
disciplinas, como a matemática, as línguas (portuguesa e inglesa) e a educação
física. Bzuneck (2001) defende a importância do conhecimento da motivação
discente, principalmente dentro do contexto escolar, e acredita que o assunto
é um problema real da educação no Brasil e que é preciso o desenvolvimento
de estratégias de ensino que contribuam e promovam a motivação dos alunos.
À medida que você compreender melhor o que está envolvido nesse processo,
caro aluno, você poderá desenvolver práticas mais interessantes e promotoras
de autonomia para seus alunos. Isso será muito importante para desenvolver a
consciência e o controle corporal de seus alunos.

Saiba que motivação não decorre de hábitos ou de conhecimentos adquiridos,


pois não é possível ensiná-la ou treiná-la para que se obtenham resultados concretos
de aprendizagem. A motivação é o resultado das interações do indivíduo com o

75
Expressão do corpo e musicalidade

ambiente, o qual integra pessoas, suas relações e suas experiências. Por


A motivação é
o resultado das isso, os estudos da área educacional, como um todo, consideram-na um
interações do assunto tão importante na atualidade. Eles alertam sobre as situações
indivíduo com o variadas em que a motivação pode ser estudada, abordando possíveis
ambiente, o qual estratégias de ensino que possam beneficiar ou prejudicar o estado
integra pessoas, motivacional de um aluno (GUIMARÃES, 2003). O ensino expressivo da
suas relações e
música com o corpo no sentido de desenvolver a motivação dos alunos
suas experiências.
ainda não foi estudado. Isso significa, caro aluno, que, a partir desse
trabalho, poderemos ampliar as perspectivas da área musical, não só no
sentido de criar práticas responsáveis e reflexivas, mas de contribuir para o avanço
das pesquisas sobre esse assunto.

As pesquisas sobre a motivação do aluno abordam as autopercepções e os


interesses discentes, bem como seus resultados no comportamento do aluno.
Na maioria delas, o contexto escolar é considerado objeto principal de estudo,
apresentando questões referentes às escolhas, à persistência e ao esforço
despendido pelo aluno. Em qualquer ambiente, a compreensão do processo
motivacional é considerada de muita relevância, pois conhecer os fatores que
levam os alunos a se motivarem pode contribuir para o alcance de altos níveis
de aprendizagem. Isso significa que um aluno motivado mostra-se ativamente
envolvido no processo de aprendizagem (GUIMARÃES; BORUCHOVITCH, 2004)
e que um aluno desmotivado apresenta uma “queda de investimento pessoal e
de qualidade nas tarefas de aprendizagem” (ZENORINI; SANTOS, 2010, p. 100).

Atividade de Estudos:

1) Releia o parágrafo anterior e reflita sobre o tema apresentado –


um aluno motivado pode aprender melhor. Após essa reflexão,
responda: você concorda com essa afirmação? Por quê?
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76
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

Os estudos sobre a motivação do aluno compreendem e explicam


Alguns
esse estado psicológico sob diferentes enfoques. De acordo com pesquisadores
Eccles e Wigfield (2002), estudar a motivação significa entender o consideram a
processo que envolve a ação dos indivíduos, o que destaca a ideia de motivação como
movimento e de dinamicidade desse fenômeno. Bzuneck (2001, p. 9) um processo, e não
também defende a motivação como algo que “move uma pessoa ou como um produto
a que põe em ação ou faz mudar de curso”. Da mesma forma, alguns da aprendizagem.
pesquisadores consideram a motivação como um processo, e não
como um produto da aprendizagem. No mesmo sentido, Hallam (2002) defende
que a motivação do aluno é um fenômeno complexo e multifacetado e, para maior
esclarecimento, devem ser admitidos os fatores que estão envolvidos e inter-
relacionados nesse processo.

Atividade de Estudos:

1) Agora você deve escrever uma possível conceituação sobre


motivação. Construa essa definição, baseando-se na área em
que estamos estudamos: corpo, movimento e musicalidade.
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Independentemente das definições construídas pelos estudiosos da


motivação, a função primordial desses estudos não é gerar um conceito pronto
e acabado sobre o significado de motivação. O objetivo maior é demonstrar que
a motivação integra um processo maior, o qual pertence à aprendizagem, e que
a própria aprendizagem é somente um dos indicadores da motivação do aluno.
Dessa forma, as propostas que o aluno dispõe para aprender, a adequação das
atividades para a sua faixa etária, a sua relação com os colegas e com o professor,
entre outros, são características do campo da aprendizagem que favorecem ou
não a motivação discente. Além disso, a motivação inicial que o aluno apresenta
– pois ele já a possui, a partir de outras experiências prévias – também pode
implicar em benefícios ou prejuízos a uma nova situação de aprendizagem.

77
Expressão do corpo e musicalidade

No caso da música, a motivação para aprender (ou motivação do aluno) pode


variar de acordo com o tipo de ensino (coletivo ou individual) oferecido. As aulas
de música na escola, por exemplo, são direcionadas a uma turma composta,
normalmente, de vinte e cinco até quarenta alunos. Nesse sentido, as propostas
tendem a ser mais teóricas, principalmente nos anos finais do ensino fundamental
(HIRSCH, 2007). Ao mesmo tempo, o trabalho coletivo de música, muitas vezes,
favorece o contato inicial com a música, podendo contribuir para que o aluno
escolha estudar um instrumento posteriormente. Por sua vez, o ensino individual
pode facilitar a percepção sobre se um aluno está motivado ou não com a aula de
música. Assim como, a facilidade de escolher um repertório baseado no interesse
de um aluno (ou poucos alunos) pode trazer benefícios ao desenvolvimento e
manutenção da motivação (TOURINHO, 1995). Em contrapartida, o feedback
dado pelo aluno nem sempre aparece mais rápido em uma aula individual, pois
em uma aula coletiva o aluno pode compartilhar suas experiências e dificuldades
com os colegas (OLIVEIRA, 1998).

No caso de propostas que objetivam desenvolver a expressão do corpo e


da musicalidade, defendo que as aulas em grupo são bastante favoráveis para
a aprendizagem. A percepção do corpo dos outros e do que está sendo feito
em grupo pode facilitar a descoberta do próprio corpo, causando um movimento
de fora para dentro – através da imitação, da relação, etc. O contrário também
pode acontecer, o movimento de dentro para fora, fazendo com que o sujeito, já
descobridor de suas capacidades, possa trocar e interagir com outras expressões,
ampliando suas experiências com a música e o movimento.

Adiante, você saberá como montar uma proposta prática sobre o tema que
estamos estudando desde o início desse caderno de estudos – expressão do
corpo e da musicalidade – além de conhecer alguns exemplos.

Proposta Prática: a Expressão do Corpo


e da Musicalidade

Atualmente, o país também vive um quadro educacional bastante complexo e


longe de ser satisfatório, principalmente em relação à rede pública de ensino. Como
reflexo dessa situação educacional, temas como violência, evasão, repetência,
vulnerabilidade, desinteresse e baixo desempenho estão entre os mais discutidos
entre os estudiosos da educação. Uma vez que a motivação é um assunto ligado ao
desempenho na aprendizagem, ao prazer em aprender e à formação da confiança
em si mesmo, é possível que a presença de muitos alunos desmotivados nas
escolas brasileiras esteja agravando a problemática situação atual.

78
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

A melhoria do ensino é uma questão complexa, que exige


O processo de educar
múltiplas soluções e ultrapassa o âmbito de ação da escola. É também perpassa por diversas
dever do Estado e da família o estabelecimento de condições para que instâncias sociais
crianças e adolescentes tenham a oportunidade de se desenvolver e culturais, como a
integralmente, através da contribuição de outras estruturas sociais além família, a escola e
da escola (BRASIL, 1988). Ou seja, o processo de educar perpassa o grupo de pessoas
com as quais o aluno
por diversas instâncias sociais e culturais, como a família, a escola e o
interage.
grupo de pessoas com as quais o aluno interage. Por isso, é importante
verificar o papel desses grupos na motivação dos alunos para aprender
ou para continuar seus estudos também fora da escola.

Ao saber de tudo isso, segue a questão: mas o que fazer com tudo isso? A
resposta é complexa e não é única. O mais importante é o que você está fazendo
agora, caro pós-graduando. Estudar para ensinar com cada vez mais qualidade
é um importante ponto de partida. Preparar-se para estar em uma sala de aula
requer tempo e muito esforço. Porém, a colheita é saborosa e, ao final de tudo,
saber que você multiplicou conhecimentos é muito prazeroso.

Agora, vamos conhecer como elaborar uma proposta que possibilitará que
você coloque em prática todos os conceitos aprendidos. A disciplina que você
vai dar – também pode ser um conteúdo dentro de sua disciplina – chama-se
Expressão do corpo e da musicalidade. Devemos lembrar que a musicalidade é
uma habilidade a ser desenvolvida e que o corpo pode ser utilizado como elemento
motivador da musicalidade, seja através da expressão da voz, dele mesmo e do
corpo produtor de sons. Essas reflexões devem representar a linha condutora de
todo o nosso trabalho daqui pra frente.

A seguir, você conhecerá, passo a passo, os elementos pertencentes a uma


proposta educacional :

a) Contextualização

• Cidade: você apresentará o nome e as características da cidade para onde


sua proposta é destinada. Mesmo que sua proposta possa ser utilizada em
outras realidades, lembre-se de que o Brasil é um país bastante diverso e,
para qualquer outra aplicação, haverá adaptações.

Exemplo: Esta proposta é destinada aos moradores de Porto Alegre,


RS, localizada no sul do Brasil. Porto Alegre é uma cidade composta por
várias heranças culturais. A primeira delas foi representada pela ocupação da
população indígena, que habitava este território antes da chegada dos tropeiros.
Com a vinda dos tropeiros, que levavam o gado até São Paulo, a cidade passou

79
Expressão do corpo e musicalidade

a ser um ponto de descanso para eles. Com a necessidade de povoar o território


brasileiro, o rei enviou um tropeiro, chamado Jerônimo D´Ornellas, para vir a
essas terras e trazer mais cem pessoas com ele, sendo que muitas delas vieram
como escravos. Mais tarde chegaram os açorianos, trazendo consigo toda a
sua tradição, costumes e cultura.

Com o passar dos anos, Porto Alegre foi crescendo e recebendo pessoas
de várias etnias, vindas do interior do estado, dos países vizinhos (Uruguai e
Argentina) e do resto do Brasil.

Hoje Porto Alegre é uma cidade com 4.063.886 habitantes, sendo a quarta
mais populosa do Brasil.

A partir dessas características percebemos que Porto Alegre preserva suas


tradições, em sua culinária, sua indumentária e em suas manifestações artísticas.

• Tipologia da escola: após a cidade, é importante você definir, caro aluno, a


qual realidade escolar essa proposta se destina: rede pública municipal de
ensino? Rede pública federal de ensino? Ou rede privada de ensino? Há ainda
a possibilidade de ele ser aplicado em outros espaços, tais como: espaços
alternativos ou informais, ONG’s, entre outros.

Exemplo: Esta proposta é destinada às escolas da rede pública municipal


de Porto Alegre. As noventa e duas escolas municipais de Porto Alegre estão
localizadas, principalmente, nas periferias da cidade e atendem as mais diferentes
culturas, relacionando-se com a comunidade onde estão inseridas. Atendem
o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos em
sedes próprias e, através de convênios, oferece auxilio na Educação Infantil de
algumas comunidades.

• Público-alvo: aqui é o espaço reservado a caracterizar o público a qual a


proposta se destina.

Exemplo: O público alvo deste currículo são os alunos das escolas municipais
que pertencem à cidade de Porto Alegre. O cotidiano musical desses alunos
apresenta uma diversidade cultural muito grande, passando por manifestações
musicais como o Samba, Pagode, Hip-Hop, Gauchesco e etc.

b) Fundamentação

• Fundamentos Filosóficos: neste momento, caro aluno, você mostrará a base


filosófica de sua proposta: quais são os conceitos norteadores sobre corpo,

80
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

musicalidade e outros que você irá abordar? De quais autores e crenças você
parte para construir sua proposta pedagógica? Qual é o pensamento que
permeia toda a prática desta proposta? É importante, caro aluno, que, tanto
nesta parte como nas outras sobre fundamentação, você utilize ao máximo de
recursos teóricos e pensadores/pesquisadores da área principal e de outras
relacionadas ao assunto.

Exemplo para introduzir a fundamentação filosófica: No decorrer da história


da humanidade, as manifestações musicais foram tomando marcas distintas,
definindo, aos poucos, o que seria música para uma sociedade ou outra, o que
significaria música de um tempo para o outro. Essas definições sugestionaram
seu tipo de caráter, ora mais subjetivo, ora mais objetivo. Por exemplo: a imitação
da natureza ou da vontade (caráter subjetivo); a organização de sons (caráter
objetivo); a agradabilidade da organização sonora (caráter subjetivo); a expressão
da vontade, dos sentimentos, etc. (caráter subjetivo) (NOCKO, 2007).

• Fundamentos Sociológicos: nesta parte, você irá abordar aspectos


referentes ao impacto social do seu tema e da sua proposta. Além disso, você
poderá mostrar a força e a responsabilidade social da sua área, baseando-se,
sempre, em autores e pesquisadores que lhe dêem suporte.

Exemplo: A diversificação, a acessibilidade e a democratização cada vez


maiores da música forçam-nos a repensar as suas funções sociais e psicológicas.
Segundo Hargreaves (1999), há questões sociais fundamentais a serem discutidas
na educação musical:

–– Papel incrivelmente poderoso da música na vida dos adolescentes: seu


estilo de vida, a distração de suas preocupações, um modo de lidar com o
humor e uma maneira de reduzir a solidão. “Em particular, a música serve
como um rótulo de identidade através da qual os adolescentes se definem
a si próprios e aos outros” (Idem, p. 8).

–– Funções sociais da música para o indivíduo: a música na educação pode


preencher três funções principais para o indivíduo: organização da sua
auto-identidade (por exemplo, gênero), das suas relações interpessoais
(formação e aceitação nos grupos, preferências musicais) e do seu humor
(por exemplo, influência do gosto musical), e na vida do dia a dia (papel e
utilização da música).

Não há dúvida que a música exerce uma influência cada vez mais poderosa
na vida e no comportamento diário dos indivíduos e este aspecto deveria refletir-
se na educação musical. Outra transformação necessária a respeito da educação
musical, sob a perspectiva da psicologia social, é o acesso e seleção do material

81
Expressão do corpo e musicalidade

disponível nos meios de comunicação, principalmente a internet. Uma vez que a


informação na Internet está, atualmente, disponível para todos, essa informação
é percebida como sendo neutra e livre de juízos de valor. Nesse caso, o papel
do professor é de formador de consciência crítica nos alunos, para que eles se
tornem ouvintes ativos, e não passivos, sem opinião ou capacidade crítica.

• Fundamentos Psicológicos: este tipo de fundamentação é reservado para


você conceituar especificidades do desenvolvimento cognitivo, intelectual e
emocional de seu tema. Nesta parte, é importante destacar os avanços de
sua área sobre a cognição humana e as características da faixa etária de seu
público alvo.

Exemplo: Como ponto de partida para fundamentar psicologicamente este


currículo, adotamos a perspectiva de “como se aprende”. Consideramos o modo
como os alunos constroem modelos mentais dos universos musicais que os
cercam e que lhes permitem mover-se, planejar, agir e expandir seu conhecimento
e sua compreensão sobre música. Para a orientação psicológica desta proposta,
utilizamos os estudos da psicologia cognitiva da música de John A. Sloboda e a
psicologia social da música de David Hargreaves.

Sob a perspectiva da aprendizagem musical e seu desenvolvimento, esta


proposta educacional considera que a habilidade musical é adquirida através da
interação com um meio musical, sem negar, no entanto, a existência da genética.
É importante ressaltar que uma e outra possuem seu grau de importância e essa
é uma questão bastante discutida pela psicologia do desenvolvimento: o que
é mais presente, as potencialidades inatas ou os conhecimentos adquiridos?
Consideramos essa realidade, mas a característica principal deste currículo
é ser um agente transformador e comprometido com o desenvolvimento e o
aprimoramento das habilidades musicais dos alunos, sem desconsiderar, de
forma alguma, suas facilidades em realizar uma tarefa ou outra.

• Fundamentos Pedagógicos: esta fundamentação destina-se à apresentação


da estrutura organizacional da sua proposta. De qual abordagem você irá
partir? Como ele pode ser construído?

Exemplo: Uma das abordagens possíveis para a organização pedagógica e


didática de um currículo é o planejamento através de projetos, como sugerem
Hernandes e Ventura (1998). Este tipo de planejamento, de acordo com os
autores, busca uma aprendizagem significativa, que procura fazer uma conexão
dos interesses dos alunos com aquilo que já sabem e com o que querem aprender.

Os projetos de ensino podem acontecer de duas formas. A primeira ocorre


quando os projetos são propostos pelo professor, principalmente no início de um

82
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

trabalho com uma turma. Ao conhecer a turma, os projetos serão construídos


juntos com os alunos, a partir de uma análise que o professor irá fazer sobre os
entendimentos e os interesses musicais presentes na classe.

c) Proposta Pedagógica: Expressão do Corpo e da Musicalidade

• Objetivos: representam suas metas com os alunos: onde eles irão chegar?

Exemplo:

–– Os objetivos devem ser pensados no sentido de proporcionar práticas


musicais diferenciadas e adequadas às diferenças cognitivas, sociais e
culturais dos alunos, possibilitando-os:

–– Perceber, diferenciar, categorizar e comparar os sons ou os elementos


musicais trabalhados;

–– Interpretar musicalmente, através da voz, do corpo e de instrumentos


musicais, de acordo com os objetivos do projeto proposto;

–– Explorar, improvisar, escolher e organizar os materiais necessários para


compor uma música;

–– Registrar sons e músicas, de maneira espontânea ou direcionada;

Compreender, diferenciar e conceituar as características culturais e o


momento histórico de uma peça musical.

• Repertório: representa o tipo de música escolhido para fazer parte das aulas
práticas de sua proposta.

Exemplo: É importante que no conjunto do repertório haja, ao mesmo tempo,


diversidade e coerência. Por diversidade entende-se pluralidade de estilos, por
coerência, que haja princípios artístico-culturais e pedagógicos norteando tais
escolhas. Não se limitar ao conhecido, nem temer o desconhecido. Não negar o
comercial, nem mitificar o erudito.

Desde a escolha até a utilização do repertório em sala de aula, o professor


deve estar consciente de que nenhum repertório é neutro e que cada música
trazida para o contexto educacional traz uma diversidade de significados culturais.

• Planejamento: esta parte consiste na explicação de como irá se dar a


proposta na prática e em qual regularidade isso se organizará.
83
Expressão do corpo e musicalidade

Exemplo: O planejamento das aulas de música deve considerar as


características e a progressão de cada turma. Sugerimos que o professor faça
o planejamento semanalmente, pois o projeto no qual está inserido é flexível e,
certamente, ocorrerão mudanças no percurso da sua prática.

Em cada planejamento, é preciso que o professor proporcione a diversificação


de atividades musicais, respeitando o andamento das aulas e o ritmo dos alunos.
Este currículo prevê aulas de música como um processo de construção conjunta,
resultando no equilíbrio daquilo que o professor planeja com as possíveis
modificações e preferências que os alunos ou a turma sugerem.

• Orientações ao professor: são algumas orientações didáticas pertinentes à


aplicação da proposta. Podem ser dadas de forma geral, como um item, ou
durante os exemplos de planejamentos.

Exemplo: É necessário que o professor esgote as possibilidades musicais


de cada atividade proposta; otimize a integração das modalidades de apreciação,
execução e composição; evite a fragmentação dos elementos musicais ao nível
dos chamados parâmetros do som; desenvolver vivências e conceitos musicais
através de projetos músico-pedagógicos, diversificando as temáticas e as
durações de cada um; propiciar a multiplicidade de conteúdos que se entrelaçam
e se encadeiam no planejamento; tomar como ponto de partida um assunto,
depois o repertório e, por fim, criar as atividades.

• Avaliação: depois de estabelecer os objetivos da proposta, talvez esta


parte seja a mais importante, pois ela define como será visto o percurso
de desenvolvimento do aluno. O estudante conseguiu atingir as metas
estabelecidas? Ele ainda necessita rever alguns conceitos? Ele vivenciou e
entendeu a proposta?

Exemplo: A reflexão ou a avaliação de uma proposta educacional representa


um exercício necessário no processo de consolidação da música na escola, de
maneira a repensar conteúdos a serem trabalhados e habilidades cognitivas
a serem desenvolvidas. A necessidade de uma avaliação constante destas
propostas de ensino, assim como de uma reflexão sobre os processos de ensino
e aprendizado se dão pelo caráter vivo deste currículo. No âmbito escolar, a
avaliação pode, e deve ser desenvolvida com diferentes enfoques. Podemos
avaliar a aprendizagem de alunos, o desempenho e a didática do professor, a
estrutura e a organização das escolas.

De acordo com a proposta de ciclos de aprendizagem e a proposta de


ensino através de projetos, a avaliação acontece de quatro maneiras diferentes:
Diagnóstica, Formativa, Somativa e Especializada.

84
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

d) Planejamentos

Neste momento, caro aluno, você irá visualizar alguns planejamentos, que
representam sua proposta em prática com os alunos. Como em todo decorrer
dessa organização, apresentei-lhe apenas exemplos, que servem como guia para
você criar sua própria proposta. A seguir, alguns exemplos de planejamentos, que
você também pode se basear para criar os seus. Fique atento à apresentação e
organização do planejamento, assim como seus títulos, subtítulos e informações
que não podem faltar.

Exemplo 1:

Planejamento pertencente ao Projeto


“Coisa de Criança”

1. OBJETIVO GERAL – Trabalhar musicalmente canções que


apresentem o mundo da criança, sua imaginação, seus assuntos
e brincadeiras.

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Explorar assuntos e brincadeiras que as crianças mais gostam;


- Dar valor à manifestação espontânea, musicais e criativas das
crianças;
- Dar espaço ao imaginário infantil, através da apresentação da
letra das canções;
- Relacionar músicas com fatos vivenciados no cotidiano infantil;
- Valorizar a sua participação no grupo, seja em sala de aula, na
escola ou na sociedade;
- Apresentar criações visuais (clipes em DVD) das músicas
trabalhadas.

3. EXEMPLOS DE ATIVIDADES:

- Executar com tambores a canção o “Pato”; no início, tocando


somente ao final de cada frase (“Lá vem o pato, pato aqui, pato
acolá” TUM TUM) e, na segunda parte da música, marcando o
compasso ternário.
- Apreciar “A Casa” e fazer um desenho coletivo dos objetos desta
casa que é muito engraçada.

CONTINUAÇÃO
85
Expressão do corpo e musicalidade

- Fazer uma coreografia para a música “Herdeiros do futuro”,


interpretando-a através do canto e do corpo.
- Executar instrumentalmente e vocalmente a música “Ora Bolas”,
dividindo as crianças em dois grupos, seguindo a forma da
música (pergunta e resposta).

4. EXEMPLO DE PLANO DE AULA (uma aula com duração de 50min):

Objetivos:
- Apreciar a canção “Sopa”;
- Identificar as palavras, que representam os “ingredientes” da
música da Sopa;
- Executar instrumentalmente, conforme o padrão rítmico da
música.

Desenvolvimento:

Em roda, iniciar a aula apreciando a canção “Sopa”. Ao final


da música, pedir que as crianças digam quais são os ingredientes
que apareceram na música e que compõe essa sopa, que parece
ser muito esquisita. Depois dessa discussão inicial, mostrar uma
panela com tampa (e com o nome dos ingredientes dentro) e orientar
as crianças que peguem seu “ingrediente” (uma palavra escrita
num papel ou num objeto) sem que os colegas vejam. Em seguida,
escutar a música novamente e dizer que a criança que escutar o seu
ingrediente cantado na canção, deve erguer o braço.

Como um segundo momento de atividade com os alunos, pode


ser proposta uma “sopa de instrumentos musicais”, em que os alunos
escolhem instrumentos bem diferenciados uns dos outros e tocam
com a música, seguindo seu padrão rítmico (especialmente na parte
cantada: “é 1, é 2, é 3 ” – pausa).

Fonte: A autora.

86
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

Exemplo 2:

Planejamento pertencente ao Projeto


“Canções do Brasil”

1. OBJETIVO GERAL – entrar em contato com a diversidade cultural


e raízes da música do nosso país, aprendendo não somente
músicas e brincadeiras novas, mas acessando novas formas de
cantar, dançar, tocar, enfim, viver a música do Brasil

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Conhecer a diversidade de manifestações culturais e musicais


brasileiras;
- Valorizar a produção musical infantil;
- Ouvir e decorar as letras das músicas;
- Ouvir e identificar os instrumentos musicais que estão sendo
tocados na música;
- Pesquisar sobre outras canções que tenham um mesmo tema/
assunto daquela ouvida em sala de aula;
- Pesquisar fatos ou elementos que são trazidos numa canção
específica;
- Criar gestos ou acompanhamentos para as canções, em sala de
aula ou em casa (com a família);
- Interdisciplinarizar o estudo das canções brasileiras com o que
estão aprendendo em outras disciplinas, através de atividades,
tarefas ou comentários.

3. EXEMPLOS DE ATIVIDADES:

- Apreciar a música “Sonho Bom” e falar sobre sonhos. Em


seguida, propor uma composição de letra de música (com
rimas), de acordo com o seu sonho, iniciando com a frase
“Estava dormindo e sonhei....”;
- Executar a canção “Xique-Xique” com dois grupos de
instrumentos musicais, tocando de acordo com as duas partes
da música;
- Apreciar a música “Cantiga de Penas”, acompanhando a sua
letra, sublinhando os nomes de pássaros que vão aparecendo;
- Criar uma coreografia para a música “Tatu de volta no meio”.

CONTINUAÇÃO

87
Expressão do corpo e musicalidade

4. EXEMPLO DE PLANO DE AULA (uma aula com duração de


50min):

Objetivos:

- Apreciar a canção “Sinhá Marreca”, prestando atenção em sua


letra;
- Identificar a história que está sendo contada nesta canção;
- Identificar a forma musical desta canção, que está dividida em
quatro partes.

Desenvolvimento:

Iniciar a aula dizendo às crianças que iremos ouvir uma canção


e que devemos prestar muita atenção, pois ela conta uma história.

Após a apreciação, perguntar a turma o que ouviram, tentando


colocar em ordem a história da Sinhá Marreca. Assim que as crianças
forem falando, ir colocando no quadro a ordem da história e, se for
necessário, escutar a música novamente.

Num segundo momento de audição, pedir às crianças que


ouçam novamente, mas agora com mais atenção, para verificar se a
ordem que colocamos no quadro é a ordem correta da música.

Depois disso, distribuir uma folha de ofício branca a cada criança


e pedir que esperem até todos os colegas receberem, pois vamos
fazer uma dobradura com a folha para podermos desenhar as quatro
partes da música.

Quando todas as crianças já estiverem com as suas folhas,


demonstrar a primeira dobra, dobrando a folha ao meio verticalmente.
A segunda dobra também é feita ao meio, mas na direção horizontal.
Ao final das marcações das dobras, pedir às crianças que abram
a folha e verifiquem se ela está dividida em quatro partes (quatro
retângulos do mesmo tamanho).

A atividade terminará com um desenho para cada parte, segundo


a forma da canção. Para turmas com crianças alfabetizadas, cada
parte da folha pode ter a frase correspondente copiada.

88
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

Exemplo 3:

Planejamento pertencente
ao Projeto “Rock”

1. OBJETIVO GERAL – entrar em contato com a história do rock e


as suas diferentes fases, compreendendo a importância social e
comercial da música em diferentes momentos históricos.

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Conhecer o gênero musical Rock;


- Ouvir e decorar as letras das músicas;
- Ouvir e identificar os instrumentos musicais que estão sendo
tocados na música;
- Pesquisar grupos de rock no Brasil e no mundo, identificando
características da música e de visão de mundo;
- Pesquisar fatos ou elementos que são trazidos numa canção
específica;
- Criar uma banda para executar músicas características e
marcantes na história do Rock;
- Interdisciplinarizar o estudo do rock com os conteúdos de história
para entender a cadeia de produção da música.

3. EXEMPLOS DE ATIVIDADES:

- Apreciar a música “Hello Goodbye” dos Beatles. Em seguida,


propor que os alunos identifiquem os instrumentos da música e
a forma.
- Executar a música “Ando meio desligado” dos Mutantes,
observando a instrumentação e os padrões rítmicos.

Em grupos, os alunos irão compor músicas observando a


trajetória histórica do Rock e os movimentos “contraculturais”, por
exemplo, o Punk Rock, Rock Psicodélico e o Heavy Metal.

4. EXEMPLO DE PLANO DE AULA (uma aula com duração de


50min):

Objetivos:

- Apreciar a canção “Hello Good Bye”, dos Beatles;


- Identificar a instrumentação da música;

CONTINUAÇÃO
89
Expressão do corpo e musicalidade

- Executar a música “Hello Goodbye” com o acompanhamento


instrumental de uma banda formada pelos alunos e com o vocal
realizado por vários alunos em uníssono.

Desenvolvimento:

Iniciar a aula com a audição da música “Hello Goodbye”.


Questionar os alunos sobre a autoria da música, se eles já conhecem,
se já ouviram falar nos Beatles e se conhecem outras músicas deste
mesmo grupo. Depois, escutar novamente pedindo para os alunos
identificarem os instrumentos utilizados e as características da
música em relação a sua forma.

Após, realizada a segunda audição, distribuir as cifras da


música para os alunos e pedir para que acompanhem a música
observando a sua harmonia. Quando esta análise for terminada,
pedir para os alunos organizarem uma banda, com os instrumentos
disponibilizados em sala de aula e executarem a música.

Depois desta primeira execução, entregar as partituras com


um arranjo pronto e pedir para os alunos cantarem a melodia com
o acompanhamento harmônico. Neste momento o professor poderá
tocar a harmonia para os alunos cantarem.

Ensaiar e fazer apreciações dos grupos, revezando os


instrumentistas e vocalistas e pedindo para eles darem sugestões
de como melhorarem a execução (ex. fraseado, dinâmica,
andamento, etc.).

Fonte: A autora.

e) Referências Bibliográficas e Bibliografia Consultada: nesta parte, caro


aluno, você deve citar todas as referências de autores e obras (conforme as
regras da ABNT) que você utilizou ao longo de sua proposta de trabalho sobre
a expressão do corpo e da musicalidade.

f) Discografia e Bibliografia Indicada: a proposta terminará, portanto, com


indicações de áudio (pode ter vídeo também) e outras leituras complementares
ao professor que irá se utilizar de sua proposta para sala de aula.

90
Capítulo 4 Corpo, Musicalidade e Motivação

Algumas Considerações
Caro pós graduando, neste último capítulo foi possível recapitular temas dos
capítulos anteriores que serão importantes para a construção de uma proposta
prática sob a perspectiva da expressão do corpo e da musicalidade, além de
conhecer a motivação de um aluno na prática com música e qual sua relação
com a expressão do corpo, e por fim, compreendemos o trabalho do corpo e da
musicalidade na prática.

Para finalizar, eu gostaria de agradecer a todo seu empenho nesta disciplina


e espero que você tenha aproveitado e se envolvido neste trabalho.

Até a próxima!

Janaína Condessa.

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Ordem Social. Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto. Seção I Da
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Expressão do corpo e musicalidade

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