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Através de alguns séculos, vêm coexistindo duas correntes diversas sobre o uso da
música como terapia. A primeira pressupõe o poder curativo dos sons e procura estudar os
efeitos de seus elementos constitutivos sobre o ser humano. Diferentes alturas, intensidades,
durações ou timbres teriam, por si, diferentes efeitos e seriam utilizados para curas diversas. A
segunda corrente advoga, embora nem sempre explicitamente, que estes elementos tornam-
se terapêuticos quando organizados como música, isto é, como linguagem musical. Apesar de
sabermos que os sons têm efeitos inegáveis sobre o ser humano, acreditamos que o grande
valor da música no processo terapêutico deve-se ao fato inconteste de constituir-se em uma
forma de linguagem.
O enfoque semiótico da linguagem musical é uma abordagem teórica que, a meu ver,
não é um dever do musicoterapeuta. No entanto, embora o musicoterapeuta não seja um
especialista em semiótica, deve aproveitar os inestimáveis subsídios que este estudo pode
oferecer ao seu ofício. Do mesmo modo, não se preconiza que o psicoterapeuta se dedique a
estudos de linguística, conquanto possa e deva utilizar estes conhecimentos para lançar novas
luzes à sua atuação.
A partir de Saussure, originaram-se numerosas teoria sobre linguagem, às vezes muito
divergentes entre si, mas aparentemente existe um consenso sobre o fato da linguagem
cumprir a dupla função de representar e comunicar. Cabe assinalar que a linguagem, conforme
Eco (1971), caracteriza-se por comunicar além de referências semânticas (isto é, conteúdos ou
significados), uma certa quantidade de relações sintáticas entre seus elementos. A linguagem
musical é não referencial, não denotando ou denominando significados, mas inegavelmente
comunica relações perceptíveis entre os diversos elementos sonoros que a compõem.
As funções da linguagem foram desdobradas por Jakobson (1963), de acordo com o
foco da comunicação, em:
Função expressiva – em que a atividade comunicacional está centrada sobre o
emissor.
Função apelativa – em que está centrada sobre o receptor.
Função conativa – centrada sobre o referente.
Função poética – sobre a mensagem em si.
Função metalinguística – sobre o próprio código utilizado.
No processo terapêutico, a comunicação por meio da música basear-se-á na função
apelativa, no caso da musicoterapia receptiva e basicamente na função expressiva, no caso da
musicoterapia ativa ou interativa.
Discutir a função expressiva da música nos transporta imediatamente para um campo
bastante controvertido. Stravinsky negou à sua música qualquer significado além de sua
própria existência musical. Juan Carlos Paz (1976) faz verdadeiras diatribes contra a
possibilidade da linguagem musical sugerir algo mais além de música. Segundo este autor, foi
tentada a experiência de uma música cheia de “paludismo sentimental e hipertrofia sonora”
que pretendeu substituir o drama, tendo como finalidade”despertar sensações puramente
físicas que ainda hoje são aceitas como emoções espirituais legítimas”. Critica esta tentativa
como fadada ao insucesso, dizendo que a linguagem dos sons não pode substituir os
elementos de expressão necessários a texto, cena ou ação. Acho esta crítica absolutamente
BIBLIOGRAFIA