Você está na página 1de 4

Fichamento História da Etnomusicologia

A bit of history - Thimoty Rice

The ancient literate cultures of China and Greece generated


philosophical treatises on music because they believed, like
modern ethnomusicologists, that music is an extraordinarily
important cultural expression with deep cosmological,
metaphysical, religious, social, and political implications. (Rice,
2013, p. 11)

O segundo capítulo do livro de Rice traz uma breve perspectiva histórica da


etnomusicologia e dos primeiros teóricos que pensaram a música, de onde viemos e onde
chegamos, assim como os principais autores que impulsionaram o campo de estudos.
Os primeiros relatos sobre pensar a música vem das culturas da China e Grécia
antigas, que desde lá percebiam que o comportamento musical era inerente ao ser humano
e que cumpriam papel importante na vida social. Na Grécia, temos filósofos como Platão
e Aristóteles, que fazem questionamentos sobre a essência da vida e que, dentro de suas
perspectivas, encontram a música como papel importante tanto na parte metafísica quanto
na vida política e social. Confucius, na China, já análise os diferentes papeis entre a
música para rituais e a música para entretenimento. Na India e na Roma Católica
apareciam os pensamentos sobre a música como uma espécie de ferramenta para atingir
a contemplação divina e a conexão com a energia do universo, bem como certas estruturas
musicais ou tipos de músicas que acompanhavam certas ações sociais. No mundo árabe,
temos o “The Great Book of Music” que compilou a cultura musical deste grande grupo,
relatos que antecipam que poderiam ser chamados, como na etnomusicologia
contemporânea, de etnografia. Nesta primeira etapa, podemos perceber os diferentes
pensamentos que permeiam a ideia de musica e que mais tarde levarão aos
questionamentos sobre os quais os etnomusicologos irão debruçar-se.
Muito dos estudos feitos no mundo medieval e antigo recaíam sobre suas próprias
culturas musicais. Contudo, a descoberta do “Novo Mundo” inverte a situação e os
musicólogos começam a indagar sobre as músicas dos povos nativos da américa, bem
como os da África colonial. Os jesuítas, por exemplo, estudaram as culturas musicais dos
povos da américa latina para que pudessem-nas utilizar como ferramenta para catoliza-
los. Assim o imperialismo e o colonialismo antecipam o que seriam o cernes da primeira
fase dos estudos etnomusicologicos. ("Sir William Jones (1746–94), an English colonial
judge in the Supreme Court in Calcutta, may have been the first European to write about
India’s classical music" [Rice, 2013, p. 13]). Também, o Iluminismo francês estimulou a
ideia de construção de conhecimento sobre as outras culturas:
European interest in the music of others was also stimulated in
eighteenth-century France by the Enlightenment, which was about,
among other things, the acquisition of universal knowledge
unfettered by dogma and tradition. (Rice, 2013, p. 14)

Pode-se citar Charles Burney como um dos primeiros a fazer o que seria chamado
hoje de etnografia, ao viajar pelo novo continente e escrever sobre estas culturas musicais.
Apesar disso, no final do século XVIII e início do XIX há uma ascenção do
nacionalismo romântico, o que leve os pensadores ocidentais a, novamente, tornarem-se
para suas próprias culturas. A edificação das nações pré primeira guerra mundial levam
os países a buscarem suas raízes nas expressões dos campos, na música folclórica [hoje
chamada tradicional] que identificaria a cultura do seu povo. Esta busca por uma
identificação nacional leva as primeiras coletas de música no meio rural, transcrições e
etnografias (impulsionadas também pela invenção do fonógrafo em 1877, possibilitando
a gravação do som).
Each nation had its indefatigable collectors and activists, among
the most famous of whom were Cecil Sharp (1859 1924), Ralph
Vaughan Williams (1872–1958), and Percy Grainger (1882–1961)
in England; Nikolay Rimsky-Korsakov (1844–1908) in Russia;
and Béla Bartók (1881–1945) and Zoltán Kodály (1882–1967) in
Hungary. (Rice, 2013, p. 15)

Após a Segunda Guerra Mundial, há a necessidade de uma cooperação


internacional, paralelamente a criação da ONU e da União Europeia, aparecem as
primeiras instituições de estudos musicológicos. A ascensão dos regimes ditatoriais
durante e no período pós guerra conduzem os estudos musicais a uma ideia de
musicologia comparada, de forma a colocar os povos nativos das colonias como
“primitivos” em comparação aos europeus, também influenciados pela ideia de
evolucionismo de Darwin, e assim comparar suas estruturas “já desenvolvidas” com as
“menos desenvolvidas” dos outros povos. As principais indagações destes musicólogos
eram, como coloca Rice:
the origins of music; (2) musical evolution; (3) understanding the
distribution of musical styles and artifacts around the world; (4)
musical style analysis and comparison; and (5) the classification
and measurement of musical phenomena such as pitch, scales, and
musical instruments. (Rice, 2013, p. 17)

Alguns dos métodos comparativos ainda são utilizados até hoje, como a
classificação dos instrumentos musicais (no sistema alemão Sachs-Hornbostel). Neste
caso, a classificação se dá nos diferentes tipos de materiais que produzem as vibrações.
Ainda há a classificação de intervalos, baseado na frequência ou, mais tarde, na escala
aritimetica de cents criada por Ellis para tornar a medida mais fácil de ser trabalhada.
Apesar de ter criado este sistema, Ellis, ao analisar as diferentes escalas, percebe que elas
não poderiam ser explicadas por uma teoria matemática, e dá os primeiros passos para a
entrada da etnologia na música.
Although Ellis did not employ a theory of culture, he demonstrated
that musical scales are “very diverse, very artificial, and very
capricious". They must result from human intervention and choice
rather than from nature, a position modern ethnomusicologists
share. (Rice, 2013, p. 19)

Na entrada da segunda metade do século XX, a musicologia comparada começa a


se desgatar quando os musicólogos enfrentam problemas ao analisar as diferentes culturas
muscias. É Jaap Kunst que sugere, pela primeira vez, a utilização do termo etno-
musicologia, ou seja, estudar a música dentro de um grupo cultural. A partir daí, a nova
área de estudos começa a se afastar da musicologia e se aproximar da antropologia,
gerando diversas definições para as diversas perspectivas e novos questionamentos
gerados.
Such studies view music as a human activity linked to other aspects
of culture such as religion, art, language, politics, dance, crafts, and
social institutions. The new discipline, with its roots in musicology
and anthropology, suggested new questions that the older discipline
had not asked. (Rice, 2013, p. 21)
A partir daí, diversas universidades começam a oferecer a nova disciplina e o novo
termo se difunde no mundo, que levam novos etnomusicologos a aprimorarem seu
questionamentos, afastando-se do estudo da música em si, e partindo para o
questionamento, como John Blacking coloca no título de sua tese – “How Musical is
Man?” – e com o modelo tripartido de Alan Meriam, aprimorado por Blacking, que
questiona quais processos determinam os produtos (musicais) de uma sociedade. Os
estudos neste momento debruçam-se tanto sobre as musicas tradicionais quanto a cultura
musical dos povos nativos.
A etnomusicologia contemporânea, cada vez, começa a se afastar da ideia da
música tradicional ou cultura musical do meio rural. Com os movimentos migratórios e a
globalização, surgem diversas novas expressões musicais no meio urbano, como o raggae,
o rap, o hip hop e outros. Desta maneira, mais uma vez os etnomusicólogos têm de
reinventar suas abordagens assim como essas novas subculturas e microculturas se
reinventam todos os dias.

Você também pode gostar