Você está na página 1de 6

1

Análise rítmica de excerto do segundo movimento do suíte sinfônica Sheherazade


de Nikolai Rimsky-Korsakov
Análise Musical III
2019/2020
João Pedro Schwingel Carada, 42295

1 Introdução

A suíte sinfônica Sheherazade foi composta em 1888 pelo compositor russo


Nikolai Rimsky-Korsakov. A obra é baseada nos contos de “The Arabian Nights” e tem
quarto movimentos, respectivamente: The Sea and Sinbad's Ship, The Legend of the
Kalendar Prince, The Young Prince and The Young Princess e Festival at Baghdad.
O segundo movimento é composto por um tema principal que se repete em várias
seções da orquestra, mudando o acompanhamento e o andamento em cada seção.
A parte analisada neste trabalho faz parte do solo de oboé, que é a segunda seção
exposta neste movimento.

2 Análise

Há dois níveis rítmicos a serem analisados neste excerto. O primeiro é o nível


mais baixo, levando em consideração os tempos. Por consequência da melodia em A
começar com uma anacruse do primeiro para o segundo compasso e a harmonia1 do
primeiro ser dominante com sensível do acorde de mi menor do segundo, temos uma
organização rítmica em anfíbraco – como pode ser visto na figura 1. Esta organização
se mantém até o décimo primeiro compasso de A, quando a harmonia muda e o mi
menor passa a ser dominante do acorde de lá maior, que vem a seguir. A ligadura do
compasso 11 até a primeira colcheia de 12 afasta-a dos outros dois tempos (além de
haver um tenuto escrito nestas notas), fazendo com que se tornem uma anacruse –
sendo o segundo tempo um pivot para a transição (como indicado na figura 1). Deste
modo, a organização acaba se tornando um anapesto, que, por causa dos padrões
de ligaduras e motivos musicais, se mantém até o fim.

1
Ver anexo 1.
2

No segundo nível, a análise se dá pelos compassos. A harmonia tem um padrão


de dominante, tônica, dominante no início, sendo que o sexto compasso, como a
dominante não se repete, torna-se pertencente a dois grupos (figura 2) que se
organizam na forma de anfíbraco novamente. No décimo primeiro compasso, pelo
mesmo motivo da mudança de harmonia analisada no primeiro nível, a organização
passa a ser iâmbica e o compasso pode ou não funcionar como pivot, dependendo da
interpretação feita. Então, a harmonia se organiza de dois em dois compassos, dando
tendência ao mesmo agrupamento até o fim.

Figura 1 – Excerto do solo de oboé do segundo movimento de Scheherazade

1 2 3 4 5 6 7 8

Figura 2 – Harmonia dos primeiros 8 compassos do excerto


3

Conclusão

Scheherazade é uma das peças mais tocadas no circuito das orquestras


sinfônicas e, portanto, a memória musical pode afetar o modo como o ritmo é sentido
por cada um. Apesar de ser um excerto relativamente simples, o segundo movimento
pode ser analisado ritmicamente de diversas formas, pois como a harmonia se
mantém muitas vezes estática e as ideias musicais se repetem, é escolha do intérprete
quais figuras valorizar mais, sendo as indicações na partitura apenas uma guia –
também podendo haver contrastes de organizações rítmicas entre as diferentes
seções.
4

Referências

COOPER, G.; MEYER, L. B. The Rythmic Strucutre of Music. London: The


University of Chicago Press, 1960.
PEREZ, K. R. O. “SCHEHERAZADE”, SUITE SINFONICA OP. 35 DE RIMSKY–
KORSAKOV: ANÁLISIS ESTRUCTURAL. Bogotá: UNIVERSIDAD NACIONAL DE
COLOMBIA, 2014.
RIMSKY--KORSAKOV, N. Scheherazade, Op. 35. Moscow: Ernst Eulenburg, 1931.
5

Anexo 1
6

Você também pode gostar