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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a primeira de três fases de um estudo sobre a peça Melodia para
Clarineta Solo de Osvaldo Lacerda. Ela foi escrita em 1974, revisada e publicada pela
Editora Novas Metas em 1980, gravada por José Botelho em 1996 e apresentada em
recitais no Brasil e exterior. Por não ser uma peça que exige grandes habilidades técnicas
e não se necessitar de acompanhamento para sua execução, tem feito parte de muitos
programas de ensino da clarineta no Brasil.
2. OBJETIVOS
Para cada uma das três fases do estudo estabeleceu-se um objetivo:
Fase I: Propor uma interpretação da variável dinâmica desta obra, fundamentando-a
numa interpretação de sua estrutura composicional.
Fase II: investigar se execuções desta obra concordam com a proposta da Fase I.
Fase III: investigar a concordância entre intérpretes quanto a coerência desta proposta de
execução com o gosto musical deles.
3. JUSTIFICATIVA
Suprir a necessidade de despertar o aluno ao exercício da reflexão sobre a execução.
5. PROCEDIMENTOS
a. Análise da estrutura composicional;
b. Estudo comparativo dos sete locais que estão indicados com f, na edição e no
manuscrito.
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BARBOSA, Joel Luís - MELODIA PARA CLARINETA SOLO DE OSVALDO LACERDA...
Quadro I
Exemplo 1
No compasso 21, a linha melódica atinge sua nota mais aguda, o fá 5, que é enfatizado
com a segunda indicação de forte e como sétima do acorde de dominante da mediante,
caminhando para a nota mi. Juntamente com o fá4 com valor de colcheia que o antecede,
eles se tornam o ponto mais enfatizado até aqui, pela função harmônica e duração (dois
tempos, ainda que intercalado por uma pausa de respiração). Em seguida, a progressão
de movimentos atinge o clímax da Seção A da obra com a seqüência melódica ré#3–mi3,
compassos 24-28. Essa seqüência é ressaltada com trilo sobre o ré#, com rall em direção
ao mi, com as notas mais longas desta Seção (mínima pontuada, ré#, e semínima
pontuada com fermata, mi), e com a indicação mais extensa de f, sete tempos (enquanto
a primeira durou cinco e a segunda três tempos). Dentro da progressão harmônica da
estrutura da peça, esse movimento melódico é mais significativo do que os anteriores,
sensível da dominante para dominante. Finalmente, a progressão harmônica caminha em
direção a tônica e, quando parece que a linha melódica repousará, é reiniciada em piano
(Seção A’), compasso 33, passando rapidamente pela tônica.
Apesar da linha melódica ser apresentada de maneira sintetizada na Seção A’, são
acrescentados alguns trechos à ela, indicando o movimento ré#3–mi3 desta seção como
clímax da obra. Além do trilo e do mesmo tratamento de dinâmica, o movimento ré#3–mi3
é antecedido e preparado por um movimento ascendente em mf e outro descendente com
accelerando e p crescendo, que volta a tempo no ré#3, compassos 47-54. O movimento
ascendente vai do sol#2 ao ré5 e o descendente do si bemol 4 ao ré#3. Comparando os
dois movimentos ré#3–mi3 da obra, compassos 27-29 e 54-56, na edição e no
manuscrito, pode-se notar que a dinâmica forte é mais prolongada na Seção A’ do
manuscrito. Na Seção A do manuscrito, ela perdura por sete tempos e na Seção A’ por
dez. Isto pode significar que o compositor desejava, antes da edição, que o trecho da
Seção A’ tivesse uma ênfase maior que o da Seção A. Na edição ocorre o contrário, sete
tempos na Seção A e seis na A’, que é a mesma duração do f anterior, compassos 45-46.
Contudo, o movimento de preparação mais prolongado para o ré#-mi da Seção A’ indica
que ele é mais significativo que o da Seção A.
Quanto a duração das notas, os rés# dos movimentos ré#-mi são mais longos que todas
as outras notas enfatizadas, mínima pontuada, sublinhando sua importância. Na Seção
A’, não há fermata sobre o mi, mas é acrescentado um outro episódio na seção, entre o
ré#-mi e a tônica, que realça ainda mais este clímax. Ele mantém a linha melódica
suspensa até sua conclusão no compasso 68, através da cadência interrompida dos
compassos 56-57, e da seqüência: sol#4, sol#4, ré#3 e ré#3, compassos 58, 60, 63-63 e
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BARBOSA, Joel Luís - MELODIA PARA CLARINETA SOLO DE OSVALDO LACERDA...
Quadro II
O quadro II é uma redução do Quadro I, onde são mantidos apenas os pontos mais relevantes:
o estabelecimento da tonalidade, os trechos indicados com f e a conclusão da obra.
Quadro III
7. RESULTADOS
a. A análise demonstrou que a peça constitui-se de uma linha melódica que se repete de
maneira semelhante, possuindo, após o estabelecimento de sua tonalidade, uma
progressão de movimentos melódicos que atinge seu clímax através da construção de uma
progressão harmônica, da expansão do registro e da duração de notas, e de intensificação
de sinais de expressão, e atingindo seu repouso nos quatro últimos compassos.
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ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM PERFORMANCE MUSICAL
8. CONCLUSÕES
a. Uma hierarquização nos níveis de dinâmica dos sete locais indicados com forte pode
reforçar o desempenho de suas diferentes funções na sucessão de movimentos
melódicos em direção ao clímax da estrutura composicional
b. Executar o forte dos compassos 54-55 com um nível de dinâmica maior que os demais
pode reforçar a ênfase dada a este local como clímax da obra.
c. Uma proposta que mantenha os sete trechos com um mesmo nível de dinâmica,
enquanto dando diferentes nuanças de dinâmica a eles, é tocar cada um deles com
diferentes quantidades e prolongações de picos de forte ao longo de sua extensão.
d. Por outro lado, pode ser que o próprio tratamento dado pelo compositor a esses pontos
já seja suficiente para que eles desempenhem com eficiência suas diferentes funções
na estrutura da obra. Confirmando isso, existe o fato dele não ter utilizado o ff e ter sido
meticuloso a ponto de usar ppp, pp, p, mp, mf e f.
e. A estrutura da obra aponta notas que servem de guia na condução para o clímax da
obra, podendo resultar numa execução que não fragmente seu propósito musical.
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