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Seminário de Análise musical – Emesp -1º semestre de 2016

Prof. André Ribeiro


Aluno: Rogério dos Santos
Obra: Suíte Retratos de Radamés Gnatalli, 1º Movimento: Pixinguinha
Gravação: Camerata Carioca. Adap. de Radamés Gnatalli para sexteto.

Suíte vem do francês e significa sucessão, seguimento. É uma forma de


composição que reúne peças e ritmos musicais ligados por algum elemento em
comum, como uma seleção de musicas de uma mesma tonalidade ou com
unidade temática. As suítes alemãs foram desenvolvidas no período barroco
com emparelhamento de danças, allemande, corrente, sarabanda e giga.
No caso da “Suite Retratos”(1956) de Radamés Gnatalli é um conjunto de 4
movimentos que tem por unidade temática as personagens dos compositores
de Choro e os diferentes ritmos representativos de cada compositor. Iº
Movimento Pixinguinha (choro), 2º movimento Ernesto Nazareth (valsa), 3º
movimento Anacleto de Medeiros(scottisch), 4º movimento Chiquinha Gonzaga
(maxixe). A designação “retratos” aparece nas composições por meio de
citações de trechos das obras dos músicos retratados. Radamés se apropria de
elementos típicos dos choros mais tradicionais, temas e cadencias por meio de
transformações melódicas e harmônicas.
Radamés Gnatalli (1906-1988), natural de Rio Grande do Sul veio para o Rio
de Janeiro na década de 20 como pianista, onde estudou composição e
orquestração. Em 1939 substituiu Pixinguinha como arranjador da gravadora
RCA Victor. Durante trinta anos trabalhou como arranjador na Rádio Nacional.
Foi o autor da parte orquestral de gravações de célebres cantores. A Suíte
Retratos começou a ser arquitetada por volta de 1956 e foi originalmente
composta para orquestra de cordas, conjunto regional e bandolim. Foi gravada
em 1964 por Jacob do Bandolim. Como conta o pesquisador Henrique Cazes,
no livro “Choro: do quintal ao municipal”, foi em 1978 que Joel Nascimento
pediu para Radamés escrever uma versão da Suíte Retratos para um conjunto
regional de choro, tradicionalmente formado por 3 violões, cavaco, pandeiro e
um solista, no caso, o bandolim. Esta versão para um conjunto sexteto não é
propriamente uma redução, mas sim uma transformação do original
orquestrado da Suíte Retratos. Radamés inseriu uma harmonia mais complexa
e densa, carregada de tensões e com intrincadas polirritmias no violão
acompanhador.
Análise macroesrutural
No movimento Pixinguinha da Suíte Retratos, Radamés utiliza como citação e
material de apropriação elementos melódicos e harmônicos de duas
conhecidas músicas do homenageado: “Carinhoso” e “Ingênuo”. A forma
tradicional do choro, inclusive estruturado pelo próprio Pixinguinha, é em 16
compassos cada parte A-B-A-C-A. A forma rondó é prototípica do choro. Nessa
peça da suíte, ela apresenta uma forma composta em intro-A-B-C-A-coda, mais
parecido com “Carinhoso” nesse sentido, na qual esta última possui uma
introdução que lembra a mesma intenção da suíte de Radamés e o coda final
com rallentando. A seção A possui uma forma estendida de 32 compassos,
pouco comum nas composições de choro, mas encontramos essa forma em
outra composição de Pixinguinha, na composição “Dominante”. O número de
compassos de cada parte fica assim:
Intro -11 compassos
A - 32 compassos
B - 16 compassos
C – 16 compassos
A - 32 compassos
Coda - 5 compassos

A introdução tem caráter de efeito orquestral, realizado pelos violões e


cavaquinho, priorizando uma condução das vozes em bloco sem harmonia
definida, assinalando assim uma instabilidade que se instaura no início. No
compasso 4, as vozes se dividem pelo movimento ascendente no cavaquinho,
enquanto os demais fazem o movimento descendente. A partir do 4º p/ 5º
compasso o pedal no baixo na nota Ré bemol fixa a região da sensível. Para
concluir a introdução e iniciar a seção A, o bandolim faz uma escala
cromatizando algumas das principais notas do arpejo G7(13) (compassos 12-
13), criando uma suspensão da função dominante que exerce.
Apresentamos o tema principal da peça “a” no final do segundo tempo do
compasso 13 começa o tema “a”, começando em anacruse.

O tema “a” tem nas notas Lá e Sol (intervalo diatônico) o seu DNA inscrito, e
seu movimento de ida e volta permeado de arpejo até chegar na nota Mi. No
compasso 18. A partir daí, também existe uma citação harmônica literal, como
nos compassos 18-19, em que Radamés utiliza-se de um clichê harmônico
caracterizado pelo movimento do acorde subindo meio-tom a partir da 5ª do
acorde, quinta aumentada [C(#5)], mais meio-tom para a sua sexta [C6] e
novamente sobe meio-tom para sua sétima menor [C7], acorde dominante que
prepara o quarto grau, igualmente ao movimento harmônico que ocorre no
tema A de Carinhoso.
O a’ aparece no compasso 19 e repete as mesmas figuras rítmicas e a melodia
modulada com a harmonia se encaminhando para a região do VIº grau (Am), a
melodia aparece transformada como uma espécie de variação por
desenvolvimento, carregado de mais informação musical do que sua matriz.

O tema b aparece no compasso 23 e se contrasta pela inversão rítmica do


segundo sistema da melodia em contraposição com o tema de a.

No compasso 27 aparece o primeiro Ab7M

Parte B

Lembra as relações intervalares da introdução

Parte C

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